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O TEMPO DA LIBERDADE - ___________________________ Lee Haney Cavalcanti

O TEMPO DA LIBERDADE

LeeHaney Cavalcanti

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O TEMPO DA LIBERDADE

Lee Haney Cavalcanti

O TEMPO DA LIBERDADE

Lee Haney Cavalcanti

Tudo estava lindo, garrafas alinhadas e empilhadas, copos guardados junto aos talheres de prata, os panos brankkkos sobre as mesas brilhavam com os reflexos que as luzes do teto irradiavam — todos que entravam ficavam encantados com essas luzes, nunca se viram lustres flutuantes, nem luzes das estrelas, as paredes coloridas e enfeitadas com quadros dos libertadores, aqueles que emanciparam do sistema.

Todo o corpo de funcionários estavam ansiosos, pois aquele momento iria transformar a história e o setor social, aquele bar que parecia por fora ser somente um espaço qualquer, dentro era um espetáculo de cores, bebidas e objetos futuristas de personagens, ali surgia uma pluralidade de aquilombamentos. Alguém chegando correndo em direção ao balcão do bar e grita: — Ela está chegando! Todos começaram a se organizar e ficar nos seus postos, foi quando um cheiro de lavanda subiu no espaço, uma pele brilhante se achega no meio do salão do bar, com um cabelo negro longo, com comprimento abaixo dos quadris, um vestido lilás feito a mão e sinais pelo corpo, não eram sinais de carne ou de velhice,

eram lembranças do custo da liberdade familiar, onde se teve que enfrentar o machismo e o racismo devastador e sozinha — eram formas de se lembrar que para se ter liberdade o valor seria caro — os dentes muito brankkkos, refletia um sorriso encantador. Por onde passava Mãezinha, sim, com todas as características de uma super-heroína, era uma mulher, velha e graciosa que tinha se libertado do falecido esposo, onde nunca deixara ela ser quem ela queria ser, porém como o tempo é justo, ela conseguiu e, além disso, conseguiu montar o maior espaço de tinha como propósito trazer ideias e liberdade. Ela começa a falar enquanto todos que olhavam: — Estão ansiosos para a abertura? Todos começam a falar e estampar a felicidade daquele momento. A chegada do anoitecer vinha e com ele, a chegada dos frequentadores do bar: eram negros e negras de todas as formas, tamanhos, tonalidades e falas, lá onde acontecia todas as noites o encontro do afro futurismo, onde se encontravam e atravessavam na construção de ideias e comunidade para se reinventar e se ajudar como um só.

Mãe começou a falar para umas amigas que assistiram, uma delas, Maria Augusta, uma de suas melhores amigas:

— Trouxe bebidas mais modernas que minha memória me fez lembrar, desde a América Latina até o Continente Africano: Licor de Marula, Alomo Bitter, Rum, Pisco Sour, Doogh e entre outros. O valor para se consumir qualquer coisa do bar era você ser liberdade ou libertador dos seus, o único propósito era gerar esses encontros e para quando saíssemos daquele espaço, pudéssemos proporcionar esse sentimento. Passou décadas e o Bar Liberado funcionou e resistiu com seus principais propósitos, porém em um dia qualquer de funcionamento do bar, mãezinha pediu para chamar seu neto — rapaz negro, alto e sorridente igual a ela — logo ele chega até ela — Me aconteceu algo meu neto, que não consigo lembrar, eu sei que aconteceu e não sei o que foi... o que é a liberdade? Seu neto ficou olhando se questionar varias vezes e falou com espanto: — Vó, liberdade é tudo aquilo que a senhora fez, ensinou e faz, buscar e deixar ser quem somos...

— Será que vou esquecer um dia o que é minha liberdade?

Ele olhou-lhe com muito afinco, pegou em suas mãos com muita firmeza e dizendo que nunca deixaria ela esquecer a liberdade dela. O tempo foi se passando e acontecia o evento do ano, um baile com todos os ritmos de música, do ‘soul’ ao ‘funk’. Nesse dia teria sido inaugurado a invenção da energia vegetal para todos daquela época, estavam todos animados e comemorando pelo avanço da comunidade, os impactos eram altos para os espaços sócias, mãezinha dançava muito no meio do salão, quando rápido sentiu uma sensação estranha, nada entre esses 78 anos já teria sentido alto parecido, mexia com todo seu corpo — ela rodopiava olhando para o tempo do bar, enquanto todos estavam dançando e tentava lembrar de todos os bailes, amores e emoções que um dia já tive, contudo, aquele era diferente. Ela falou, olhou para todos que comemoravam e começou a gritar segurando a ponta do seu vestido:

— QUANTO TEMPO VALE A NOSSA LIBERDADE?

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