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O ELO DO FUTURO ___________________________ Antônia Gabriela Araújo

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O ELO DO FUTURO

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Antônia Gabriela Araújo

O Elo do Futuro

Antônia Gabriela Araújo

Num futuro muito distante, por volta de 2080 vive um menino no meio de um deserto de coisas perdidas e velhas. Vídeo games, computadores, “tablets”, celulares, carros enferrujados, além de garrafas e sacolas envelhecidas pelo tempo. Tempos difíceis em algum lugar do futuro onde nem as plantas haviam suportado viver. Mas o menino chamado Okunrin vive ali a colecionar pedaços de discos de metal e pequenos sinos. A caminhada dele é longa e difícil. Okunrin tem que refazer o mundo que está todo destruído por vaidades dos homens que viviam antes dele. O pequeno menino tem uma missão difícil; recriar toda aquela cidade devastada e não será fácil, por isso Okunrin nunca poderá parar, nem sequer para beber água. Ele vive de comer gominhos de mandacaru que sua mãe deixa para ele. Sua mãe, Zilma, sendo uma mulher que leva consigo todos os segredos do mundo, é também fazedora de gominhos de mandacaru, ela prepara esses docinhos com muito carinho e cada bolinho ela vai tirando os espinhos da planta e separando somente a polpa. Mas, em um dia de muita confusão, ela sumiu, quando eles tentavam reconstruir o mundo com pedaços de retalhos de sua saia. Okunrin e sua mãe foram bruscamente separados um do outro. O menino não sabia ao certo o que aconteceu com ela, se ela havia sido abduzida, raptada ou morta. O menino só sabia que desde aquele dia não tinha mais sentido o cheiro de manga rosa da pele negra de sua mãe, nem o gosto de caju que tinha o seu beijo.

E o menino vive assim, de andarilhar sozinho em busca de consertar tudo que está devastado; Okunrin é forte e calmo, ele tem uma paciência do tamanho de sua vontade de reconstruir o mundo. Tudo que ele encontra naquele deserto de coisas perdidas, olha com cuidado, limpa, acaricia e coloca na sua bolsa.

E num dia de tanto andarilhar ele encontrou um oásis, um pequeno lago de águas claras e límpidas. Mal sabia o pequeno menino que ali vivia as mais misteriosas magias e forças da natureza, mas o menino de tanta felicidade pula que nem um peixinho na água e pensa: - Vou nadar e beber um pouco dessa água. Depois coloco um tanto dela na minha cabaça. Após tomar um banho refrescante, Okunrin pega a cabaça que ele leva consigo e enche de água, mas quando está fechando sente que alguém está o observando. Guarda rapidamente aquele seu instrumento de sobrevivência e já vai logo embora porque está com muito medo, na hora que ele bota o pé na estrada ele ouve uma voz chamando: - Okunrin, Okunrin, Okunrin…

O menino fica com mais medo ainda. Ele não poderia ter parado sua missão para beber água. Mas quem é aquele homem que observava Okunrin? Qual é o seu nome? O que ele quer com Okunrin?

Após passar um tempo com um medo do tamanho de um trovão em tempos de chuva, Okunrin olha para trás e nada ver, olha para os lados e nada ver. O menino volta a ter o medo do tamanho do trovão, mas quando menos espera escuta uma voz de passarinho dizendo. - Menino, por que tu paraste nesse Rio, tu bem sabes que precisa cuidar de refazer o mundo?

Okunrin, que é calmo e paciente, se concentra para responder aquela voz, mesmo sem poder ver de quem é. - Eu só quero conhecer as águas que ainda existem nesse mundo entre tantas coisas perdidas e devastadas… além disso, eu estou tão cansado… Okunrin está mesmo cansado e, além disso, sua curiosidade é enorme que até lhe coloca em apuros, outro dia o menino tentou descobrir o que tinha dentro de uma barata achada entre pedaços de “tablets” velhos. Ele quer saber como aquele bichinho sobrevive há tantos destroços e caos. Mas, naquele dia Okurin teve sorte, o menino fizera algo que ele não poderia fazer, mas só por sua curiosidade, coragem e ousadia, aquela voz que ninguém sabia de quem era deu-lhe o direito de se refrescar sempre que o cansaço chegasse. A voz disse:

Pois, escute bem menino, por sua curiosidade e por já está tão cansado de andarilhar vou te conceber o direito de sempre que estiver cansado vir tomar uns banhos por aqui. E num dos dias desses banhos, Okurin já mal-acostumado como estava de ir se banhar naquele Rio, nem se dá conta que havia deixado de ir recriar o mundo já fazia quatro dias. Ele conversa consigo mesmo, se perguntando: mas ora porque eu preciso refazer tudo isso sozinho? Porque só ficou eu aqui para recriar tudo que os homens destruíram com tanta rapidez e sem freios? Porque eu, porque eu? Okunrin foi ficando cada vez mais acomodado, apesar de se perguntar sobre tudo, mas bebia daquela água e tomava banho, mas nada mais fazia para mudar aquele caos que estava o mundo, até um dia que as águas que ele se banhava foram acabando e o Rio foi secando e secando.

Okunrin nada entendeu até um dia que a voz retornou e como um vento forte que sopra e logo se assenta a voz se apresenta na forma de uma mulher que num rodopio para na frente do menino e diz: Filho, eu te dei água, carinho e amor, mas tu precisas fazer tua parte, tu precisas recriar o mundo todo amor que te dei quando tu te banhavas, quando tu bebia da minha fonte, agora eu estou em você, correndo feito água em ti, no seu corpo, tempestade quando for preciso, sendo calmaria quando for preciso, mas você precisa ir e ser o que te ensinei nesses dias…

Amor, resguardo e coragem… vai e se sinta forte porque eu estou com você, dentro de você e sendo cura para o mundo que foi todo devastado pela vaidade dos homens.

Okurin, só não esqueça de uma coisa; dentro de ti existem as minhas águas, por isso nunca te esqueça que você é um cadiquinho desse meu ser, que você também é um pouquinho homem e um pouquinho mulher, você é o início e o fim de tudo.

Será que aquela mulher era a mãe de Okunrin, será que ela nunca havia saído dali daquele lugar? Será que ela havia escapado de possíveis raptores de humanos? Okunrin nunca descobriu ao certo, pois logo aquele vento forte bateu de novo e com um rodopio aquela mulher havia desaparecido. Mas daquele dia em diante Okunrin cuidava do seu corpo com um carinho e uma lembrança boa de sua mãe, sempre lembrando que dentro dele ela fazia morada, e que nunca ele poderia deixar de continuar sua missão.

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