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DONA RITA - _________________________________________ Tchesco de Sousa

DONA RITA

Thesco de Sousa

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Thesco de Sousa

Dona Rita

Quem ver dona Rita da Silva passar pelas ruas pintada com cabelo penteado, e bem vestida nem imagina o que essa mulher sofreu no passado. Rita tinha seus 1,75 de altura, mulher negra e forte, braços robustos, não tinha parentes por aqui e trabalhava ajudando no terreiro do seu Zé Professor, macumbeiro antigo no bairro Siqueira, Zé era gay, negro com seus quase 120 quilos, foi nessas festas que ela conheceu Zé do Manel, baixinho negro de bigodinho fino que só andava de branco, blusa e calças engomada e sempre perfumado, a colonia contouré era sua favorita. Com 18 anos, Rita se casou com Zé, tiveram 7 filhos homens, nenhuma mulher. Após se casarem, Zé do Manel não largou sua vida de raparigueiro, já dona Rita após o primeiro filho relaxou-se e não era mais a mesma. Ela parou de frequentar o terreiro do Zé Professor, pois o marido a proibiu de continuar indo para as baias; sendo que foi numa dessas baias que ele a conheceu e também foi lá que seu mestre Sibamba lhe alertou de um certo homem que ia estragar sua vida, mas Rita apaixonada e embriagada pelo cheiro de contouré não deu ouvidos.

Falando sobre seu Zé Professor, desde a década de 70, já se ouvia falar sobre seu trabalho, feitiços e amarrações, e muitos temiam entrar em sua propriedade que segundo os mais velhos, tinham crianças enterradas no quintal do terreiro, coisa que ninguém nunca provou, mais entrou para o imaginário popular e virou lenda no bairro, foi também lá no seu Ze Professor, que Rita antes de casar com o Zé do Manel, conheceu um jovem que batia tambor, Izaias, tiveram até um trelelê, mas quando Rita descobriu que ele a amava e todas as outras dezenas de filhas do pai Zé, ela desencanou do moço. Depois do nascimento do primeiro filho quando ele fez cerca de oito meses, ouvimos pela primeira vez os gritos de socorro vindo do quintal da Rita, seria a primeira de muitas surras ninguém se metia, pois, era aquele negócio, em briga de marido e mulher ninguém mete a colher, Rita apanhou muito do marido, chamavam polícia, mas não dava em nada. Foi assim com a segunda gestação, a terceira, e até a sétima; certa noite, nós ouvimos o grito e alguns pais de família resolveram intervir, foram até a casa dela bateram no portão ela assustada abriu, mas só a parte de enfiar o cadeado dizendo está tudo bem e era briga de casal.

O tempo foi passando os filhos foram crescendo e as agressões continuaram, no aniversário de 15 anos do filho mais velho uma das confusões da briga do casal na frente dele, o filho agrediu o pai com um soco no nariz e na boca que resultou em dois dentes quebrados, Rita também conta, que numa noite de peia sentou-se na beira da cacimba, pensando em tirar a vida quando recebeu a figura de uma entidade, segundo ela seu mestre Sibamba, lhe ofereceu um gole de pinga, para aliviar a dor, Rita lembrou de suas visitas ao terreiro do seu Zé professor e de quando seu mestre aparecia ela sempre tomava uns goles. O mestre também lhe alertou que em breve ela ia ver seu esposo pagar por todas as ruindades, de vera que o Zé do Manel nas andanças pelos cabarés da 24 de maio adquiriu uma doença que quase perde o que ele achava de mais precioso, a sífilis repassada para Rita e para seu filho recém nascido, desenvolveu na região do pescoço da criança uma enfermidade que via as veias do pescoço, Rita deu um, basta, quando viu ele entrando no quarto de enfermaria do hospital Gonzaguinha, esmurrou o marido e o acusou da grave doença do filho que não sobreviveu deixando a mãe voltar sozinha para casa e ainda tendo que cuidar da doença adquirida.

Rita mulher negra, que precisou sem empoderar, pela força do ódio, agora empoderada e dona de si, aguarda o reduzido Zé-ninguém aparecer, e ele voltou, com a maior cara lisa jurando mudar, e mudou sim, mudou de situação, pois agora a situação era outra, mudou de casa, pois na casa da Rita, Zé não tinha mais espaço. Rita voltou a frequentar o terreiro de seu Zé professor, que além das medicações ainda lhe recomendou uns chás, que só ele sabia fazer, também reencontrou seu amor do passado, agora segundo ele mais responsável e querendo reconstruir sua vida, mas tenho sete filhos falou Rita, daí também tenho três filhas, disse Isaías, conosco dois somos 12, minha casa ficou pequena após a partida dos meus pais e da mãe dos meus filhos além do espaço do sítio tenho um espaço enorme no meu coração que cabe você e seus filhos, falou Isaias. Isaías saia para trabalhar e deixava Rita cuidando de dez filhos incluindo suas três filhas, chegava embriagado aos sábados, mas o dinheiro da feira e das contas não faltava, foi numa dessas saídas que ela resolveu vasculhar a vida do companheiro e descobriu o que não queria, descobriu que ele tinha um caso com o dono do cabaré que frequentava seu Haroldo, um gay de 65 anos; ela parou e pensou um pouco sobre o quanto a vida era injusta, ela não poderia aceitar, não que ela tivesse algo contra gays, mas ela desejava ser amada e isso não era ser amada, Rita desejava o amor, mas ele sempre teimava em fugir dela.

Ela entendeu precisar da força de suas entidades, retorna ao terreiro do mestre Sibamba, lá não era perfeito, mas ela se sentia de alguma forma acolhida, por costume Sibamba bebia muito, mas nesta altura já era um grande catimbozeiro, culto fortemente enraizado no nordeste, trazido pelos negros e agregados aos cultos indígenas e outros costumes, da miscigenação cultural do nosso país, da linha nagô, que significa “rei de magias”, ele sabia usar as ervas para banhos de cura, fazia partos (era um ótimo parteiro) tirava costelas montadas, rezava as crianças de maus-olhados e tudo mais. Nesse dia de gira Rita entra em transe, ouvindo o ponto de mestre Sibamba, e de fato percebeu estar em casa.

Ele e sibamba bebe cana, não promete para faltar com seu garrafão de cana tomba aqui cai acolá.

Quebra o galho de Sibamba, quebra o galho, quebra o galho Sibamba quebra o galho, ele não é caranguejo nem anda de banda, mais olha a pisada do mestre Sibamba.

Já abalei sete cidades, já abalei sete cidades e mandei buscar mestre Preá.

Sentado em sua carroça cansado de trabalhar ele é Antônio Carlos da

Silva ele é conhecido como mestre Preá, se ele é bom na faca eu sou no facão, ele é bom na reza e na oração.

Camarada, camarada, camarada amigo meu, camarada, camarada quem engana o outro e judeus. hôôô meu irmão hôôô mano meu cadê meus irmão que não vem sambar mais eu. sibamba é um mestre falado a ele ninguém engana vamos salvar sibamba com uma garrafa de cana. meu mestre me chamou e eu vim foi trabalhar é com seu garrafão de cana tomba aqui, tomba acolá seu sibamba é beberrão mas sabe trabalhar na direita ele é bonzinho e na esquerda é de amargar ah sibamba, sibamba é cachaceiro sibamba só trabalha com seu ponto no terreiro

eu bato, sibamba eu bato, sibamba eu bato com nêgo no chão sibamba é rei dos bebo ô sibamba eu bato com nêgo no chão eu vou embora pra bahia vê as baianas de lá na bahia tem macumba e aqui só patuá eu bato, sibamba eu bato, sibamba eu bato com nêgo no chão sibamba é rei dos bebo ô sibamba eu bato com nêgo no chão"

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