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SE LIGA AÍ

JORNAL SANTUÁRIO DE APARECIDA • 3 DE JUNHO DE 2012

BEM-ESTAR | TRANSTORNO ATINGE ESPECIALMENTE JOVENS DO SEXO MASCULINO

juggernautjunction.wordpress.com

Vigorexia afeta saúde e é vilã nas academias Leonardo Meira leonardo.jornal@editorasantuario.com.br

Levantar cargas pesadas, passar horas a fio na academia e olhar-se no espelho a toda a hora não é garantia de bem-estar físico e mental. Na verdade, esse quadro pode indicar uma situação exatamente oposta, especialmente entre os homens. Quando o tempo dedicado à musculação passa da conta, é bom abrir o olho: é possível que a pessoa esteja acometida por um transtorno conhecido como vigorexia. Em resumo, é quando a pessoa, por mais massa muscular e força que possua, sempre pensa que continua magra e fraca. “Além disso, faz exercícios exageradamente, muito além do volume e intensidade ideais, procura usar suplementos sem orientação e recorre até a anabolizantes para atingir o resultado esperado, que nunca vem segundo a sua expectativa”, indica o especialista em Treinamento de Força e Musculação, Carlos Henrique Fernandes dos Santos Júnior. Aí entra também a questão do culto ao corpo e dos padrões estéticos tidos como “ideais”. “A busca pelo ‘corpo sarado’ ganha destaque, levando os jovens à busca incessante por esse padrão de beleza. Mas nem sempre o ‘corpo escultural’ é sinônimo de corpo saudável”, adverte o mestre em Promoção de Saúde e pesquisador na área de Fisiologia do Exercício, Daniel dos Santos. Já a doutora em psicologia clínica Dirce de Sá Freire é enfática: “Nossa cultura lipofóbica tem muita dificuldade de conviver com as diferentes formas de se estar no mundo. A tendência é que todos queiram ser iguais em tudo, sobretudo na força e na beleza que se acredita estar presente nos músculos. Como sempre, o problema reside no excesso”. A receita é simples: querer ficar mais forte e bonito não faz mal, mas pode se tornar um problema quando a preocupação com a saúde fica em segundo plano. O corpo com mais músculos e menos gordura é o que a sociedade atual considera “bonito” e “ideal”. Aí não é difícil entender o porquê de os jovens, que vivem imersos em expectativas de aceitação, não queiram ficar para trás de seus pares. “Isso

Vigorexia é mais comum do que se imagina, mas é difícil o portador do transtorno reconhecer que está com o problema

gera uma busca pela mesma aceitação, independentemente de comprometerem a sua saúde, seguindo uma alimentação e rotina de exercícios físicos excessivas, sem orientação e acompanhamento profissional”, alerta o professor Carlos Fernandes. A literatura científica sugere que a prática de exercícios seja em torno de 30 a 60 minutos diários. Na academia, o instrutor/professor deve sempre orientar em relação ao treino, principalmente quando perceber que o aluno está fazendo exercícios extras, ficando mais tempo do que o orientado e tendo um crescimento muscular muito rápido em um curto período de tempo. “Nesses casos, se a

orientação não adiantar, um acompanhamento psicológico será fundamental para reverter o processo”, esclarece Carlos. Perfeccionismo e apoio Sempre que a meta é a perfeição em alguma área, é preciso atenção. De acordo com o psicanalista junguiano e especialista em Dependências, Abusos e Compulsões, João Rafael Torres, a sociedade contemporânea está bem focada na busca pela saúde perfeita, e isso pode ser a “desculpa ideal” para confundir a obsessão com a dedicação pertinente ao bem-estar. “A estética tem forte apelo numa sociedade pobre em valores humanitários. Isso

está aliado a um imediatismo que pode levar jovens a uma suplementação que propicie um resultado mais rápido. O corpo é instrumento de expressão simbólica; assim, os jovens podem querer aparentar uma ideia de força, maturidade e beleza. Compensam assim a insegurança que habita o interior: a massa muscular dura e forte compensa e dissimula a instabilidade, fraquezas, inconsistência diante da busca por um sentido maior à existência”, avalia. Nesse contexto, a família, os amigos e outros círculos sociais próximos têm papel crucial em auxiliar no diagnóstico e tratamento. “Todos esses agentes devem ter atenção plena ao perceber que a preocupação com o corpo tomou proporções excessivas. Como medir? Basta analisar o quanto esse assunto domina o discurso, quantas outras atividades foram comprometidas pela dedicação aos exercícios. O mesmo vale para a alimentação”, sublinha João Rafael. Como as cobranças sociais costumam estar na origem desses transtornos é muito importante que os pais acompanhem os filhos para poderem avaliar a qualidade e a quantidade de exercícios que eles fazem. Também é fundamental encaminhar a pessoa para um bom psicólogo que possa ajudá-lo a rever as questões relativas a uma eventual distorção da imagem corporal.

Confira as entrevistas na íntegra. Acesse http://bit.ly/js_vigorexia

Saiba mais A vigorexia também é conhecida como complexo de Adônis, em referência ao deus grego que representa a beleza masculina. Engloba-se na classe dos transtornos obsessivo-compulsivos. Ela também pode ser pensada como uma patologia sociocultural, já que a medida do corpo perfeito muda de acordo com os contextos históricos

e de civilização. “A perfeição desejada é copiada a partir de parâmetros que são apontados como modelos. Perde-se, no entanto, a oportunidade de nutrir outros valores, que farão falta com o passar dos anos, quando o corpo não responder à altura a tais expectativas”, acredita o especialista João Rafael. Entre as inúmeras características encontradas em um indivíduo vigoréxico, pode-se destacar: – Prática excessiva de exercício associada a autoimagem distorcida, que o leva a pensar que sempre está fraco.

– Uso indiscriminado de suplementos sem orientação de nutricionista. Também é muito comum o uso de anabolizantes. – É notado um cansaço além do normal, que pode estar associado à síndrome de overtraining (treino além do limite corporal). – Depressão e isolamento social. – Restrições dietéticas severas, que tem como consequência uma diminuição excessiva do peso, associada à queda na imunidade.


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