1 minute read
INTRODUÇÃO
O que é normal? E por que é normal?
Normal é um estado; uma palavra para categorizar o que é considerado natural, sem apresentar nenhum desvio de conduta socialmente aceitável. De acordo com a etimologia da palavra, “normal” vem do latim normalis que significa “de acordo com a regra” e, como qualquer tipo de regulador, é veiculado a um determinado ponto de vista. Essa visão cônica, que direciona seu olhar para o que considera importante, é imposta por grupos com interesses em comum que se instituem como um padrão. Foucault diz que “[...] o grande fantasma é a ideia de um corpo social constituído pela universalidade das vontades. Ora, não é o consenso que faz surgir o corpo social, mas a materialidade do poder se exercendo sobre o próprio corpo dos indivíduos.” O poder parte dos corpos, que criam normatizações de comportamentos e pensamentos em diferentes instâncias de poder — o Estado, as crenças religiosas, a indústria, etc —, promovendo enquadramentos, levando os corpos à previsibilidade. Não há destaques no normal. A normatização é um dispositivo de controle.
1 FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 28. ed. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2014
Como diz Preciado:
“O corpo é um texto socialmente construído, um arquivo orgânico da história da humanidade como história da produção-reprodução sexual, na qual certos códigos se naturalizam, outros ficam elípticos e outros são sistematicamente eliminados ou riscados. [...]”
A homossexualidade, assim como outras identidades sexuais, ainda que privilegiada, é frequentemente atacada com esse processo de normatização pelas instâncias de poder citadas. O discurso principal relaciona o normal à natureza reprodutiva dos corpos, estabelecendo assim a heterossexualidade como o padrão sexual/comportamental. A maneira como o corpo homossexual se relaciona atualmente é uma consequência da formação dessa normatividade.
2 PRECIADO, Paul B. Manifesto Contrassexual. São Paulo: n-1 edições, 2017.