2 minute read
USOS NÃO SEXUAIS
Além de trocas de mensagens eróticas, fotos íntimas e encontros marcados, as possibilidades de interações junto a interface do aplicativo semelhante a uma vitrine, permitem que os usuários se aproveitem de suas configurações para utilizá-lo de outras formas. O mais comum é a venda de serviços sexuais, os famosos GPs (garotos de programa), que se dedicam a mostrar seus corpos e atributos para quem possa interessar, mas “dispensam curiosos”. Em relação a mercadorias, é comum encontrar perfis que oferecem drogas ilícitas e em alguns casos, ainda oferecem serviços de entrega, e outro tipo, mas que raramente aparece, é a de artigos e roupas eróticas, que me parece mais propício para o contexto.
Por outro lado, a condição social do aplicativo promove encontros e conflitos políticos. Não é raro encontrar perfis que manifestam seus ideais e defendem seus partidos políticos, especialmente em épocas de eleição. No aplicativo ainda há apoiadores do atual presidente do Brasil, mesmo depois de ter feito diversas ameaças e desrespeitar à comunidade LGBTQ+. Sem surpresas, os homens que o apoiam são heteronormativos e se dizem conservadores, que tiram proveito da discrição do Grindr em conter seu espaço somente para quem participa do aplicativo, para permanecerem em sigilo (ao espaço real). Ser heteronormativo não é um problema mas pode ser, visto que em um mundo onde a masculinidade é exaltada, eles estabelecem uma hierarquia de importância onde a feminilidade é discriminada.
A facilidade de localizar e conversar com homens que você nunca viu pode ser perigoso visto que não se pode saber quem ela é de verdade e quais suas intenções. Em 2014, a polícia do Egito foi acusada de prender e multar homens localizados pelo aplicativo se passando por civis em busca de encontros. Na Rússia, nos últimos 5 anos, há diversos relatos de ocorridos da mesma natureza, promovido (não diretamente) pelo próprio governo e sociedade homofóbica que através da associação da homossexualidade à pedofilia, tem finalidade de violentar, extorquir e matar a população LGBTQ+.
Mas não só de pessoas de má fé vive o Grindr, a dimensão social permite a integração dos homens à localidade. É comum encontrar viajantes procurando dicas e informações a pessoas locais sobre a cidade, quando não somente encontros. E essa integração e sentimento de comunidade atinge outros níveis quando é relacionado a sobrevivência.
“Um refugiado chamado Fareed chegou a Idomeni após uma extensa jornada iniciada em Cabul em outubro de 2015. Ao longo do percurso, 15 usuários do Grindr o ajudaram a evitar a polícia e encontrar o campo. Com o aplicativo, Omar poderia encontrar estranhos próximos dispostos a ajudar com informações locais atualizadas, enquanto a maioria confiaria nas indicações de outros refugiados ou amigos distantes.”
17 Independent: Gay hunters, How criminal gangs lure men on dating apps before extorting cash and beating them https://www.independent.co.uk/news/ world/europe/gay-hunters-russia-moscow-apps-gangs-homophobia-a8865376. html 18 JAQUE, Andrés. Grindr Archiurbanism. Log 41. Working Queer. 2017. (Traduzido e adaptado)