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CARTOGRAFIA
O Grindr – assim como outros aplicativos com a mesma proposta – é o verdadeiro radar gay (gaydar), que é tanto um dispositivo que determina a posição e a distância de um objeto quanto, um equipamento de monitoramento. O compartilhamento de sua localização é a condição imprescindível para o seu uso; sem a sua permissão, o aplicativo não irá exibir ninguém, e ao consentir, a arquitetura é dissipada e a população é filtrada proporcionando uma transparência seletiva entre aqueles que participam de uma camada exclusiva de um urbanismo fragmentado. Jacque define:
“O Grindr é um espaço próprio. Não é uma cidade. Enquanto as cidades são frequentemente vistas como locais de convergência social, o Grindr é um dispositivo que classifica o social, uma infraestrutura que torna seus usuários membros selecionados de uma comunidade especializada na sociedade. “É mais propagado do que construído. Não é totalmente virtual nem físico. É um archiurbanism que reinventou o domínio offline, evoluindo das falhas tradições duradouras do queer urbano, onde a normatividade foi desafiada e encontrar estranhos se tornou possível.”
As ruas, as construções, a vegetação, tudo desaparece e dá lugar à uma seleção de fotos disposta em uma grade contínua. Somente a distribuição dos corpos importa. Esse tipo de visualização se apresenta como mais dinâmica, pois justamente por não mostrar o urbanismo, não exibe os possíveis obstáculos urbanos do trajeto, que poderiam limitar os encontros atuando como “corta-prazeres”, como relevos, transportes, a movimentação da localidade, criminalidade e etc.
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Ibid.
Quando não é explicitado em seu perfil de onde a pessoa é ou está, é possível estimar sua localização a partir da distância física que o aplicativo diz existir entre vocês. Cabe a você ter noção espacial para identificar a localização do outro no seu entorno. Quando os usuários ocultam esse dado ou não possuem noção de distâncias, o entendimento de onde o outro se localiza é a partir de conhecidos, que vou apelidar de Marcos. Os Marcos são homens que por trocas de conversas, encontros ou algum conhecimento, você sabe quais são suas localizações e por esse motivo atuam como um “checkpoint” de até onde a sua visão espacial atinge sem precisar necessariamente de um conhecimento cartográfico da cidade. A disposição dos homens em seu entorno se torna menos virtual e mais palpável; de uma foto entre outras em uma grade de perfis, para um corpo sexual que se localiza entre mim (x) e Marcos (y).
O mapa urbano (possibilitado pelo Google/Apple Maps) só aparece no Grindr quando você quer procurar por homens remotamente com base de sua localização. Dessa forma, a partir do movimento de pinça dos dedos, a visão do usuário eleva-se, se afastando do seu ponto de origem que gradativamente vai enxergando cada vez mais outras ruas, bairros, regiões, de modo a enxergar a cidade em sua totalidade (o céu não é o limite), para então entrar em queda e dar mergulhos abruptos retornando à escala humana, mas sem provocar uma colisão com o chão e sim uma leve aterrisagem. Com o movimento de mais um toque, você é transportado para outro lugar e a sua grade de perfis muda completamente de acordo com a localização escolhida. No Grindr é possível ser onipresente.