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BANHEIRO / BANHEIRÃO

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COMPORTAMENTO

COMPORTAMENTO

A partir da definição da palavra no dicionário, podemos observar que banheiro pode ser qualquer cômodo onde ficam instalados equipamentos sanitários, como vaso, bidê, chuveiro, banheira, mictórios, etc. No senso comum, refere-se a um lugar que abriga equipamentos para necessidades fisiológicas e de higiene do corpo; um espaço privado onde o ser humano lida com sua natureza revelada. É no banheiro onde ocorre uma inversão, e a importância dos membros são alteradas: a cabeça deixa de ser a parte mais importante e a relevância é voltada para os membros inferiores. Toda a atenção do momento retorna para si mesmo, para então o corpo pôr para fora tudo que não lhe coube absorver, em atos solitários, sujos, fétidos, mas que provocam alívio. Ninguém permanece no banheiro porque ele não é um espaço de abrigar, e sim de receber o que ninguém quer.

Historicamente, “Para os aristocratas do período barroco, o banheiro deveria ir a eles, e não o contrário. Não havia banheiros em Versalhes, e certo era que os criados deveriam trazer uma latrina móvel para os quartos, ou cadeira de retrete que, logo depois de usada, era recolhida pelos criados.” A criação de um lugar para abrigar tais atos fez com que esse exercício fisiológico fosse algo a ser encoberto, onde o usuário precisa se conter em um pequeno espaço e os demais respeitarem sua privacidade.

5 TEIXEIRA, Carlos M. História do corredor. Texto previamente publicados no livro (do autor) Entre, Instituto Cidades Criativas, 2009.

“O banheiro doméstico surge nessa época [séc. XVIII] com a função de ser um local para o exercício da privacidade das pessoas. As mesmas atribuem significados e ações que estão envolvidos com a noção de intimidade no cotidiano dos membros da família. Assim, as pessoas usam o banheiro doméstico com um sentido singular de privacidade. A partir do momento em que vão utilizar um banheiro público, ressignificamno; compreendem o encontro com os outros e também exercitam uma privacidade no coletivo. Portanto, o banheiro público torna-se um lugar ambíguo de ser: ao mesmo tempo um local de uso coletivo e privado da pessoa. Trata-se de um espaço cuja função de higiene remete ao uso dos órgãos genitais para a secreção e fluido, mas que podem tornar-se também de prática sexual.”

O que nos faz estranhar atividades sexuais em um banheiro é o senso comum de que o prazer não é uma necessidade do corpo que pode ser satisfeita de modo prático como as necessidades fisiológicas, que curiosamente, envolvem os mesmos membros em seus atos. Tudo isso, devido ao prazer ser reduzido apenas à reprodução, ele não deve ser visto nem ouvido, por isso é restringido aos quartos e relações heterossexuais. O banheirão, como são chamadas as práticas sexuais entre homens em banheiros públicos, é uma dupla subversão. Primeiro pois é um ato que não deve ser realizado em um banheiro segundo os usos que foram estabelecidos previamente para aquele lugar, e o senso comum de que práticas sexuais não devem se tornar públicas. Segundo, pelo casal do ato (ou mais), serem indivíduos do mesmo sexo, o que torna o prazer uma pura perversão.

6 COSTA NETO, Francisco Sales da. Banheiros públicos: os bastidores das práticas sexuais. UFRN. Natal, RN, 2005

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