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LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

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FERNANDO BRAGA

FERNANDO BRAGA

ALUÍSIO AZEVEDO

Por Leopoldo Gil Dulcio Vaz Sócio efetivo do Instituto Histórico e geográfico do Maranhão Cadeira 40 – Patrono: Dunshee de Abranches

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Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo, nasceu em 14 de abril de 1857 em São Luís do Maranhão. Em sua infância e adolescência foi caixeiro e guarda-livros, demonstrando grande interesse pelo desenho. Torna-se caricaturista, colaborando em “O Fígaro”, “O Mequetrefe”, “Zig-Zag” e “A Semana Ilustrada”, jornais do Rio de Janeiro. Obrigado a retornar ao Maranhão, em 1878, pela morte do pai, abandona a carreira de caricaturista e inicia a do escritor.

Publica em 1879, “Uma lágrima de mulher”. Com a publicação de “O Mulado”, em 1881, introduz o Naturismo no Brasil. Publica, ainda : Memórias de um condenado (1882); Mistério da Tijuca (1882); Casa de Pensão (1884); Filomena Borges (1884); O Homem (1887); O Coruja (1890); O Cortiço (1890); Demônios (1893); A Mortalha de Alzira (1894); Livro de Uma sogra (1895). Em 1895, abandona a carreira de escritor e torna-se diplomata (AZEVEDO, 1996). Um dos fundadores de “O Pensador” (1879), jornal anticlerical, publica várias crônicas onde traça o perfil da mulher maranhense, comparando-as à lisboeta desocupada e denunciando o ócio em que viviam. Considerava que todo o mal vinha do ócio e da preguiça das mulheres e apenas uma mudança na educação e na concepção do casamento poderia permitir a realização da mulher: "Do procedimento da mulher (...) depende o equilíbrio social, depende o equilíbrio político, depende todo o estado patológico e todo o desenvolvimento intelectual da humanidade (...) Para extinguir essa geração danada, para purgar a humanidade desse sífilis terrível, só há um remédio: é dar à mulher uma educação sólida e moderna, é dar à mulher essa bela educação positivista, que se baseia nas ciências naturais e tem por alvo a felicidade comum dos povos. É preciso educá-la física e moralmente, prepará-la por meios práticos e científicos para ser boa mãe e uma boa cidadã; tornála consciente de seus deveres domésticos e sociológicos; predispor-lhe o organismo para a procriação, evitar a diásteses nervosa como fonte de mil desgraças, dar-lhe uma boa ginástica e uma alimentação conveniente à metiolidade de seus músculos, instruí-la e obrigá-la principalmente a trabalhar... “. (Aluísio AZEVEDO, Crônica, "O Pensador", São Luís, 10.12.1880, citado por MÉRIEN, 1988:166, 167).

O mesmo tema é retomado quando da publicação de "O Mulato", criando-se enorme polêmica na imprensa, ora acusando o autor, ora vozes se levantando para defendê-lo acerca de sua posição sobre a condição feminina. Dois amigos de Aluísio Azevedo, Paulo Freire e Luís de Medeiros, fazem publicar cartas sob pseudônimo - Antonieta (carta a Julia, "Diário do Maranhão", São Luís, 6.6.1881) e Júlia (carta a Antonieta, "Pacotilha", São Luís, 9.6.1881), respectivamente - falando “de suas impressões e do impacto que o livro lhes causara" (MÉRIEN, 1988:291). Julia/Luís de Medeiros faz longas considerações sobre a condição da mulher maranhense, "lastimando-se da educação retrógrada que recebera em sua família e no colégio" (p. 290), onde fora do português, não se ensinava mais nada às moças além de algumas noções de francês, de canto, de piano e de bordado. Para ela, "a falta de exercícios físicos é a origem das perturbações do sistema nervoso que atingem a maioria das moças maranhenses" (p. 290). A preocupação social é um traço marcante na obra de Aluízio, que buscava, com aguda capacidade de observação, compreender científicamente os elementos determinantes da realidade do Brasil. Em "O Mulato",

faz uma descrição permenorizada dos costumes da São Luís nos idos de 1880, época em que aparece seu romance: "As crianças nuas, com as perninhas tortas pelo costume de cavalgar as ilhangas maternas, as cabeças avermelhadas pelo sol, a pele crestada, os ventres amarelentos e crescidos, corriam e guinchavam, empinando papagaios de papel." (p. 9).

O "SPORTISTA" Aos doze anos, estudante do Liceu, havia uma coisa verdadeiramente série para Aluísio de Azevedo: "era brincar, estabelecendo-se entre minha divertida pessoa e a pessoa austera de meus professores a mais completa incompatibilidade". Narra as estripulias da época, em companhia dos amigos de infância:

"Criado a beira-mar na minha ilha, eu adorava a água. Aos doze anos já era valente nadador, sabia governar um escaler ou uma canoa, amarrava com destreza a vela num temporal, e meu remo não se deixava bater facilmente pelo remo de pá de qualquer jacumariba pescador de piabas." (citado por MÉRIEN, 1988: 47). Aluísio Azevedo, aos 38 anos de idade, submete-se a concurso para a carreira diplomática e torna-se cônsul (1895), abandonando a carreira de escritor. Exerce suas atividades em Vigo, um porto europeu - março 1896 a julho de 1897; em Yokohama (setembro 1897 a 1899); em La Plata, de janeiro de 1900 a março de 1903; Salto Oriental, no período de junho de 1903 a janeiro de 1904; em Cardiff, permaneceu por quase três anos, de abril de 1904 a fevereiro de 1907; de lá, foi para Nápoles, assumindo em março de 1907 e permanecendo até outubro de 1910. Após algum tempo no Rio de Janeiro, assumiu o consulado de Assunção em janeiro de 1911, permanecendo naquela cidade até outubro, indo para Buenos Aires em novembro, ai ficando até sua morte, em 21 de janeiro de 1913. Apesar de suas andanças pelo mundo, vamos encontrá-lo, em 1907, na sua querida São Luís, participando do grupo de Nhosinho Santos, quando da inauguração do Fabril Athletic Clube. Pertencia ao team "Red and White", formado por João Alves dos Santos; Izidoro Aguiar, Alcindo Oliveira; Afonso Guilhon, José Ramos Bastos, Antero Novaes, Ernesto Dobler, Carlos Neves, Manoel Alves dos Santos e Antero Serejo (MARTINS, 1989 : 285). Aluísio não praticava só o "foot-ball association", certamente aprendido durante sua estada na Inglaterra, onde permaneceu de 1904 a março de 1907. Nesse mesmo mês, estava em São Luís, e o encontramos participando de uma partida de "law-tennes", defendendo as cores do "Red & White". Muito embora seu biógrafo o dê como tendo assumido seu posto em Nápoles no mês de março de 1907 (MÉRIAN, 1988: 618), vamos encontrá-lo participando da partida inaugural do futebol no Maranhão18, em 27 de outubro de 1907. Seu "team", o "Red & White", ganhou por 2 x 0, do "Black & White", ambos, equipes internas do Fabril Athletic Club (MARTINS, 1989) Em setembro de 1908, durante as festas do primeiro aniversário dessa agremiação, lá estava novamente, desta feita defendo as cores do F.A.C, contra o Maranhense Futebol Club. A formação foi: João Alves dos Santos; Aluísio Azevedo e José Ramos Bastos; M. Matias, Afonso Gandra e Manoel Alves dos Santos; A. Vieira, Carlos Nina, Antero Novaes e Joaquim Ferreira Belchior. Aluísio jogava como "full back". Como o jogo terminou empatado em 0 a 0, isso exigia uma nova contenda. A 15 de novembro de 1908, as duas equipes voltaram ao campo da Rua Grande para o desempate. O FAC, com: João Alves dos Santos; Manoel Alves dos Santos e Waldemir Araújo; J. Bastos, J. Mário e Aluísio Azevedo; A. Vieira, J. Santos Sobrinho, Antero Novaes, Carlos Neves e A. Gandra. Aluísio jogou como "Half back". Em dezembro de 1908, o Fabril elegia nova diretoria, e Aluísio é eleito como suplente. No dia 31 de janeiro de 1909 ocorre um encontro entre o Maranhão Foot-Ball Club e o F.A.C., como partida preparatória para o festival de inauguração daquele club:

"Fabril Athletic Club "Match de Foot-ball em 31 de janeiro de 1909 "Team do 'Fabril Athletic Cub - Goal - J. Santos / Full backs - A. Azevedo, E. Simas / Half backs - A. Vieira, A Soeiro, J. Alvim/ Forwards - A.Neves, Ary Faro, T. R. Dowey, João Baptista, J. Santos, J. Santos Sobrinho /Reserve - R. Martins, F. Ribeiro, M. Neves / "Team do Maranhense Foot-ball Club - Goal - J. Mario / Full backs - J. Torres, J. Ferreira / Half backs - J. Santos, B. Queiroz, D. Rodrigues / Forwards - A. Lobão, R. Nunes, J. Gomes, S. Bello, A. Santos / Reserve - A. Figueiredo, A. Gonçalves... " (O MARANHÃO, 30/01/1909, grifos nossos)

No período carnavalesco, as partidas eram interrompidas, voltando somente após a quaresma, conforme chamada de maio de 1908, conclamando os sócios a comparecerem ao clube, para reiniciarem-se as atividades: "Fabril Athletic Clube "Depois de uma pequena interrupção, haverá uma partida de Foot-ball, para isso estão inscritos os seguintes sócios: "Moraes Rego Junior - W. Reis - J. Moon - J. Shipton - A. Vieira - J. Prado Costa - A. José Rego Serra - J. Mário - C. Guilhon - Raul S. Martins - Aluízio Azevedo - Antero Novaes - José A. Santos - Alcindo

Oliveira - M. Neves - A. Gandra "Começará às 4 1/2 hora da tarde". (O MARANHÃO, 23 de maio de 1908, grifo nosso).

Essas jornadas esportivas não se limitavam à prática do "foot-ball association", apenas:

"Fabril Club "Esteve brilhante a partida realizada hontem. Além de inúmeras famílias e cavalheiros, compareceram à festa a Escola de Aprendizes Marinheiros, que sob o comando de seu hábil instructor sr. David Santos realisou exercícios de fogo e esgrima de baioneta. "Foi este o esplendido programa cumprido à risca: "Os jogos realisados foram os seguintes: "1.- Corrida com ovos em colheres pelos sócios J. Mário, J. Moon, A. Vieira, J. Shipton, sendo vencedor A. Vieira. "2.- Corrida para enfiar agulhas executadas por C. Neves, J. Mário, A. Santos e A. Azevedo, sendo vencedor C. Neves e seguido por J. Mário. "3.- Execício de fogo, bayoneta e esgrima pela Escola de Aprendizes Marinheiros. "4.- Crors Cutrey (cross-country) - corrida pedestre com obstáculos por J. Mário, J. Moon, C. Neves, A. Vieira, A. Novaes, J. Shipton, J. Bastos, M. Neves, sendo vencedor J. Mário, seguido muito de perto J. Moon em terceiro logar A. Novaes, C. Neves. "5.- Match de Foot-Ball infantil havendo resultado negativo, por se acharem organizados os teams com força igual. Tomaram parte as seguintes creanças: team Bladi & Whate: Fausto Seabra, José Seabra, Frederico Perdigão, José Lopes, Celso C. Rodrigues, Sylvio Rego, Ruy C. Rodrigues, Antonio Rego, Antonio Santos, José M. Lobo, Lucio Bauerfeldt. "Team Red & White: João Paixoto, Braulio Seabra, Luiz Santos, Pedro Paulo R. Araujo, Ivar C. Rodrigues, Acyr Marques, Carlos Perdigão, Gastão Vieira, Justo M. Pereira, Celso Pereira, José Vieira. Servio de Refere M. Shipton". (O MARANHÃO, Segunda-feira, 08 de junho de 1908, grifos nossos).

"Estrella Preta" -e o "Team Humaitá" - "Estrella Branca"-, ambos da Escola de Aprendizes Marinheiros, marcada para as 3:45 horas, seguida de outros jogos, como o Concurso gaiato, marcado para as 4:20 horas, sendo concorrentes: A. Novaes, J. Santos Sobrinho, A. Azevedo, A. Vieira; já o Concurso gaiato infantil seria disputado por: Ivar, Luiz, Celso, Bráulio, Soeiro Filho; para a quarta prova do programa, Concurso de Agilidade, estavam inscritos: Franklin, Zuza, Maneco Neves, Gui e Aluísio. Para o "match foot-ball", entre o FAC e o Maranhense, estavam inscritos: F. A. Club M. Foot-ball Club J. A. Santos A. Santos A. Azevedo - J. Bastos J. Torres - J. Ferreira

J. Santos - M. Mathias – A. Gandra - E. Souza - R. Nunes - B. Queiroz -

M. Santos A. Vieira - C. Neves - A. Novaes - J. Mario A. Lobão - A. Guterrez - A. Silva - J. Gomes - I. Meireles - J. Belchior - R. Serra Martins - J. Santos - M. Amorim Captain - C. Neves Captain - A. Silva Referee - J. M. A. Santos

após a a partida de futebol, seria realizada a "Tug of War" (cabo de guerra), inscritos: Fausto - Antoninho Ruy - Zeca - Carlos Alberto - Soeiro Filho - Gastão - Yoyô - Lady - Lucio - José - Adolpho Salles (O MARANHÃO, sabbado, 26 de setembro de 1908). Na edição da Segunda-feira seguinte - 28 de setembro de 1908 - esse jornal apresenta o resultado dos "matchs" ocorridos: o jogo entre as duas equipes da Escola de Aprendizes Marinheiros terminou empatado em 1 x 1. Ficamos sabendo o que eram aqueles "concursos gaiatos", em que participaram os "sportemen" ludovicences, a elite econômica e intelectual da Atenas brasileira, Aluísio Azevedo, dentre eles: o primeiro deles - para adultos - foi vestir bonecas, saindo vencedor Anthero Novaes e J. Santos Sobrinho; o concurso infantil - enfiar agulha - foi vencido pelo menino Soeiro Filho, enquanto o concurso de agilidade consistiu de abrir garrafas de cola e beber o conteúdo, obtendo o primeiro lugar Manuel Neves. O jogo de futebol entre os dois clubes também terminou empatado, enquanto no Cabo de Guerra - "Tug of War" - o vencedor foi o lado encarnado. O ano de 1908 é encerrado com um jogo entre o F.A.C. e o Maranhense, em comemoração à proclamação da República, terminando em 2 x 0 para a representação fabrilense. Aluísio Azevedo não participa desse jogo, sendo substituído por J. Alvim. Certamente ainda de luto por seu irmão, Arthur Azevedo, ocorrido trinta dias antes, no Rio de Janeiro.

Fonte: O "SPORTMAN" ALUÍSIO AZEVEDO. Por Leopoldo Gil Dulcio Vaz e Delzuite Dantas Brito Vaz. Publicado em "O Imparcial", São Luís, Domingo, 16 de julho de 2000, Caderno Impar, p. 5.

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