Quando o ouvir, a sua vida nunca mais serรก a mesma.
B EC K Y T I RA BA SSI
DEIXE QUE
DEUS LHE
FALE Tradução JORGE PINHEIRO
Índice
9 | RECONHECIMENTOS 11 | INTRODUÇÃO Deixe que Deus lhe fale 15 | CAPÍTULO 1 Deus fala a todos 29 | CAPÍTULO 2 Porque é que Deus nos fala 49 | CAPÍTULO 3 Como Deus nos fala 95 | CAPÍTULO 4 O que Deus diz quando nos fala 117 | CAPÍTULO 5 Quando Deus fala consigo 135 | CAPÍTULO 6 Aumente o seu desejo de ouvir Deus falar 161 | CAPÍTULO 7 Desenvolva a disciplina de ouvir Deus falar 183 | CAPÍTULO 8 Estabeleça um plano diário para «Deus fala» 231 | NOTAS 237 | A AUTORA
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Becky Tirabassi
Na vida de cada autor há família, amigos e uma equipa de pessoas que se oferecem para dar uma ideia e ajudar a transformá-la em livro que, em última instância, mudará a vida dos outros para melhor e até mesmo para sempre. Sou muito afortunada por ter uma família que não só me dá tempo e espaço para escrever durante horas sem fim, como graciosamente permite-me contar as suas histórias. Obrigado, Roger, Jake e Khara Tirabassi, Rick Hunter, Reg Mantei e Mãe, pelo profundo carinho que têm por mim e por Deus. 6
Tenho também um fabuloso grupo de amigos. Alguns deles ofereceram-se para serem o tema de DEIXE QUE DEUS LHE FALE. Durante os muitos meses de Inverno em que escrevi este livro, contactavam-me com muita frequência (por vezes no espaço de minutos), mantendo-me centrada na tarefa. Foi um incrível presente que recebi. Obrigado, Matt Mancinelli, Brenda Haan, Kathy Nunamaker e (mais uma vez) Reg Mantei, por se preocuparem com este livro e os seus leitores. Por fim, quero agradecer a toda a equipa de editores profissionais que tornaram melhor este livro, colocando-me, incessantemente, questões desafiadoras e esperando de mim os mais elevados padrões, em especial Bob Zaloba de GRQ e Ellen Chalifoux e Kyle Duncan de Bethany House.
INTRODUÇÃO
Deixe que Deus lhe fale
Na primeira vez em que ouvi Deus a falar comigo, terminei uma relação de seis anos com o álcool — instantaneamente. Recordo-me com exactidão do local em que me encontrava e em que ano foi. Sou uma dessas pessoas que está convencida de que, assim que ouvimos Deus falar, nunca mais seremos os mesmos. Nessa primeira conversa, Deus provou-me que fala e ouve não só os que o conhecem bem, mas também à alma mais degradada. Desde esse dia, Deus fala-me, habitualmente, através da sua Palavra, seguido por simples pensamentos ou ideias — exigindo alguma acção, em geral muito prática, mas não necessariamente de fácil execução. A princípio, o que Ele me pede pode parecer invulgar ou mesmo impossível. Contudo, se eu não discutir nem procrastinar e se, voluntariamente, seguir as suas orientações, a sua voz torna-se cada vez mais clara. De facto, a sua voz quase sempre provoca em mim alguma emoção: o meu coração acelera, o meu rosto enche-se de vermelhidão ou os meus pés tremem rápida e ansiosamente até fazer ou dizer o que sinto estar a impelir-me a fazer ou dizer. Quando Deus me fala, sinto-me sempre motivada — física, emocional ou espiritualmente. De uma forma suave ou não, as suas
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palavras dão-me coragem para fazer ou dizer algo, em geral para ajudar outrem. Aprendi que nunca é boa ideia ignorar Deus quando Ele me fala. Quando não lhe dou ouvidos, fico sem norte e prejudico-me ou, pior, prejudico alguém. Numerosas vezes por dia, Deus fala-me e os outros acabam por confirmar que Ele está a falar! Por exemplo, quando digo o que ouvi Deus dizer, os seus olhos brilham em reacção. Em geral, choram, espontaneamente, ou os seus olhos esbugalhados confirmam que 8
concordam com o que acabo de dizer. Muitas vezes, limitam-se a baixar o olhar para não me fitarem, directamente — ficam envergonhados, embaraçados ou pensativos. Os seus olhos declaram-me que o que disse faz ecoar a sua dor, sentimentos ou emoções — algo que por mim só nunca poderia saber e que apenas Deus sabe. Claro que gosto quando Deus me fala nesses momentos altos, quando uma explosão de clareza, propósito, seguida de uma emoção incontida, que irrompe dentro de mim. Nesses momentos, sinto-me pronta para mudar, tão fortalecida e cheia de esperança. Contudo, por muito decepcionante que possa parecer, é depois da emoção se ter dissipado e da realidade se ter imposto que fico mais convicta de que de facto ouvi Deus falar. Deus fala-me numa variedade de formas — sempre através da sua Palavra escrita, consistentemente, ao longo do dia, tocando-me o coração ou estimulando-me com um pensamento e, por vezes, mesmo através do silêncio. A sua voz é tão distinta que me habituei a escrever de imediato o que penso ou sinto que Ele está a dizer. Ao longo dos anos, dia após dia, as minhas conversas manuscritas bidireccionais com Deus são prova indesmentível de que Ele conhece-
Deixe que Deus lhe fale
me muito bem, tão profundamente, e ainda me ama! O seu amor incondicional leva-me a querer continuar a ouvir o que Ele tem para me dizer. Com toda a honestidade, há momentos em que me sinto como se alguma coisa me quisesse distrair, afastar-me para longe das minhas «Conversas de Deus». Nesses momentos, tenho de me esforçar por ter os meus momentos a sós com Deus ou esses minutos rapidamente se desvanecerão, para serem consumidos por alguma interrupção urgente. Aprendi a reconhecer quando Deus me fala. E se o escutar com toda a atenção, quase que ouço um sussurro, depois uma impressão mais marcante, que me atrai a Ele, até ter a certeza de que está a falar. É sempre nessa conjuntura que tenho de tomar uma decisão com todo o meu coração, corpo, alma e espírito para crer que é a sua voz e não os meus pensamentos que estou a ouvir. Quando deixo que a minha fé responda ao som da voz de Deus, sinto-me «incendiada» e «cheia», revestida com poder e coragem e dedicada a deixar as nossas conversas biunívocas, pronta para mudar o mundo. Simplesmente, sei que, se de facto cremos que Deus quer falarnos, que Ele detém no seu coração todas as respostas às nossas perguntas, que Ele está sempre tão perto dos nossos pensamentos, que Ele nos ama tal como somos, que espera que acordemos pela manhã, não só o ouviremos, como descobriremos que é a nossa maior fonte de força e encorajamento. Por estas razões, e muitas mais, escrevi DEIXE QUE DEUS LHE FALE.
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CAPÍTULO 1
Deus fala a todos!
Deus fala de verdade.
Deus fala aos que estão desesperados A filha de uma amiga está muito doente. Não há muita esperança para ela, dizem os médicos. Ela é vítima de uma bactéria desconhecida que está a devastar-lhe o corpo. Estava junto do seu leito de doença enquanto o pai, de pé, ousadamente, derrama o seu coração e alma na presença de Deus. Não recua. Não receia o pior. Aguarda o miraculoso, a despeito dos relatórios médicos. Ele crê que Deus é capaz de fazer tudo em qualquer momento em favor de qualquer um. Por isso, pede a Deus que ajude. Sem vergonha, implora, sabendo que está a falar com um Pai amoroso. A sua conduta e confiança sugerem que na verdade ouve Deus a falar-lhe — pois continua a lutar, crendo e falando palavras de esperança em favor da filha. Os visitantes — com muita ou pouca fé — seguem a orientação do pai. Também falam a Deus em favor desta jovem e esperam que Deus responda. Não há fórmulas, apenas um rogo sincero e um queixume profundo.
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Contudo, Deus fala. Como? Ele dá uma espantosa coragem a uma família fortemente testada. Ele fortalece os pais cansados. Faz com que o coração da filha continue a bater, o ar a entrar e a sair dos pulmões. O sangue dela continua a correr. Um desmaiado sorriso no seu rosto diz-nos muito ao mesmo tempo que cresce e se torna cada vez mais vibrante com o correr das semanas. O seu «polegar para cima», em resposta às perguntas, os seus olhos fechados, quando alguém murmura uma oração, sugerem um progresso diário. Em cada novo dia, a cada novo obstáculo a ultrapassar, a família 12
encara as opções que se lhe colocam e discute-as com Deus. Depois, espera que Deus lhe fale, dando-lhe confiança para avançar numa direcção específica. Não dão um passo enquanto não sentirem a sua paz no coração e no espírito. Continuam a esperar que Deus fale. Estes pais compreendem que não há dinheiro, educação ou remédios capazes de fazer parar uma bactéria desconhecida, restaurar um coração e cérebro desgastados, ou reviver um período de vinte e quatro horas e magicamente eliminar os maus momentos. Apenas Deus pode fazer algo tão impossível. Apenas Deus pode ajudar a passar por cada vale e ultrapassar cada montanha. Assim, esperam, atentamente, que Deus lhes transmita os seus pensamentos, ideias e palavras de encorajamento — especialmente, quando quase todas as outras palavras que ouvem são negativas. Mantêm-se firmes às palavras de Deus — escritas na sua Bíblia, enraizadas no seu coração, sussurradas ao seu espírito. Dependentes e desesperados, os pais, contínua e corajosamente, clamam a Deus — na expectativa. Pedem-lhe que lhes fale, e aos médicos que ajudem a sua filha, que faça o impossível. São sustentados pela sua voz forte e poderosa.
Deixe que Deus lhe fale
As pessoas que não têm esperança querem que Deus lhes fale. Querem ouvir as boas notícias que são capazes de as arrancar ao desespero esmagador em que estão a afogar-se. As pessoas, verdadeiramente desesperadas, não ignoram nem subestimam o sobrenatural. Procuram-no. Não analisam, criticamente, o que os outros disseram sobre Deus nem desperdiçam tempo precioso a discutir o que elas acreditam em relação a Deus. A sua pronta reacção, a sua resposta imediata — se atingiram, verdadeiramente, o fim dos seus recursos — é clamar ao nome de Deus e pedir-lhe ajuda. Podem gritar a plenos pulmões, como que a querer romper o céu: «Deus, ajuda-me. Ajuda-nos. Deus… por favor. Por favor, Deus, fala comigo. Faz qualquer coisa!» Pessoas expectantes ouvem Deus falar — sejam elas seus devotos dedicados, sejam elas estranhas ao seu nome. Eu sei. Foi assim que decorreu o meu primeiro encontro com Deus. Após uma série dos mais autodestrutivos eventos imagináveis, eu — uma jovem mulher cuja vida de festas, abruptamente, se tornou em algo de muito perigoso — ouvi Deus falar. Nessa época, não estava numa posição de favor nem mesmo amizade com Deus. Não reconhecia a sua existência. Sem dúvida, não o amava, não o adorava, não o seguia. Não, estava a fugir de Deus, embora durante a minha infância tivesse ouvido falar muito sobre Ele. E se Ele era real, eu nada tinha senão vergonha para lhe oferecer. Depois, no dia mais desesperante da minha vida, num momento em que considerava o suicídio, dei voltas à cabeça, procurando encontrar as razões possíveis para viver ou uma simples ideia que me mantivesse viva mais uma dia. Mas o pensamento mais absorvente que me
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consumia era a sugestão de pôr fim à minha vida. Continuei a considerá-la como último recurso, esperando encontrar alguma forma — qualquer outra forma — de escapar à minha dor auto-infligida. Fiquei cada vez com mais medo de estar à procura de uma solução impossível. Estava desesperada, disso tinha a certeza — mas não à procura de religião. Fora educada numa época em que as tradições religiosas eram prontamente trocadas por atitudes não convencionais sobre experiências sexuais e todos os métodos de autocomplacência. Esta última 14
atitude encaixava-se, perfeitamente, na minha maneira de pensar. O movimento juvenil da década de 1970 oferecia uma liberdade desenfreada e atraiu a imaginação de muitos estudantes da minha geração e tornei-me um dos seus mais ávidos seguidores. Ao seguir um percurso hedonista, bastaram apenas seis anos para perder por completo a minha ligação com a realidade. Desprezei a minha educação, os laços familiares, a ética do trabalho, a moral, a fé da infância e todo o traço de auto-respeito. Daquele horrendo abismo, que incluía adição a drogas, sexo e álcool, olhei para o alto e clamei pelo nome de Deus. Não num culto na igreja ou sob a orientação de algum pastor; em vez disso, dei comigo num corredor, a falar com um zelador que me encontrou em lágrimas depois de uma audiência no tribunal por conduzir embriagada. O seu conselho? Falar com Deus. O que teria parecido uma ideia radical — mesmo repulsiva — a alguém tão irreligioso como eu, pareceu tanto aceitável como, vagamente, familiar. Sem muita hesitação, em voz alta e diante deste estranho, disse a Deus, como faria uma criança arrependida, perante a mãe querida,
Deixe que Deus lhe fale
que lamentava tudo. Então, pedi a Deus que me ajudasse a viver, que me transformasse. Desesperado é uma palavra que descreve os que não têm qualquer recurso; não conseguem descobrir uma saída do buraco, da confusão ou do beco sem saída em que se encontram. E com muita frequência chegam ao seu destino de desesperança sem mais ninguém, a não ser eles próprios, para culparem. Não têm qualquer outra opção, nenhum plano B. Ninguém mesmo se preocupa mais com eles. O seu poço secou. O seu tempo esgotou-se. Estão sozinhos no mundo e são os primeiros a admitir que nada merecem. Quando Deus fala a alguém desesperado, eis o que Ele diz (pelo menos foi isto que o ouvi dizer-me): «Estou mesmo aqui. Ouço-te a chamar por mim. Vejo as tuas lágrimas. É momento de deixares de correr para quem nunca te poderá satisfazer ou preencher o teu vazio. Sou o único que procuras. Sou tudo quanto necessitas. Vem a mim. Estou mesmo aqui, pronto a receber-te, querendo tomar conta de ti. Amo-te muito, mais do que podes compreender neste momento. E perdoo-te tudo. Sim, tudo. Sou teu, agora e para sempre. Coloca a tua mão na minha. Coloca a tua esperança em mim. Vem a mim agora. Não tenhas medo. Vem já.» Como sei que era Deus a falar? Começou com um sentimento, mas transformou-se em pensamentos mais intensos, mais dominantes e mais directos. Ouvi alguém a falar-me — não audivelmente, mas do exterior de mim — com palavras que era reconfortantes e plenas de compaixão. Durante anos, desesperei por possuir estes sentimentos, mas não conseguia abrigá-los por mais que me esforçasse. Durante meses, antes disso, consumira-me com a culpa — vinte e quatro horas por
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dia. Mas, como se apagasse, imediatamente, a minha vergonha, senti como que um amor líquido, quente a ser derramado sobre mim. Simultaneamente, senti-me perdoada e cheia de esperança. Antes disso, durante semanas, não conseguia olhar nem falar com os que me rodeavam sem ver o desapontamento estampado nos seus rostos ou percebê-lo nas suas vozes. Mas, neste momento de intenso desespero, ouvi Deus falar-me, amorosamente. E embora não visse a sua face, podia sentir o seu amor. Deus estava a convencer-me que eu podia ser amada, que a minha 16
vida valia a pena ser vivida. Sei que esses não eram os meus pensamentos ou emoções pessoais. Ninguém me amava. Mas os pensamentos eram imparáveis e acompanhados por uma paz que corria pelo meu coração e visivelmente suavizava a minha aparência exterior. Quase instantaneamente, o meu comportamento e semblante relaxaram perante os olhos do zelador. Ambos observámos algo muito real e inexplicável a acontecer-me. Ambos percebemos que, embora o homem no corredor não me conhecesse suficientemente bem, para provocar esta tremenda mudança no meu corpo, mente e espírito, havia uma outra possibilidade: Deus estava a falar-me. Nos minutos seguintes, era como se ondas silenciosas de coragem me convencessem de que tudo na minha vida iria tornar-se novo. Com esta convicção a apoderar-se de mim, senti uma outra impressão igualmente forte. Deus estava à espera que eu lhe respondesse! Como podia eu não responder ao pedido de Deus que me dizia «Vem», ao pedido para segurar a sua mão invisível e virar as costas a tudo quanto me prometera alguma coisa, mas nada me deu a não ser dores de cabeça?
Deixe que Deus lhe fale
A partir do momento em que ouvi a voz de Deus, a minha vida nunca mais voltou a ser a mesma. E ninguém jamais teve de me convencer de que Deus fala ou que Ele é real. Sei que Deus fala. Sei que Ele é real. Claro que desde esse dia aprendi muito mais sobre Deus. Contudo, toda a formação ou teologia no mundo jamais me fez amá-lo ou confiar n’Ele mais do que no dia em que, pela primeira vez, ouvi Deus falar-me. Ele amou-me quando eu não era amada — quem faz isso? Ele salvou-me e perdoou-me quando eu precisava de ser resgatada e perdoada e veio atrás de mim até que me virei para Ele. Todos os outros haviam desistido de mim. Descobri que nada me fará amar ou confiar em Deus mais do que quando Ele diz que me ama tal como sou. Se estiver a lutar por sobreviver, se se sente sem esperança e desesperado por encontrar um sentido na vida, Deus tem algo de específico para lhe dizer. Tenho a certeza disso. Espero que Deus lhe fale no meio do seu caos «descontrolado». DEIXE QUE DEUS LHE FALE. Se o fizer, prometo-lhe que a sua vida nunca mais será a mesma.
Deus fala aos que se sentem humildes com as suas circunstâncias Há mais de vinte e cinco anos, assisti a uma conferência em que cinco dos ex-presidentes de uma organização juvenil inspiraram as suas «tropas», falando-nos de Deus — não do que Ele fez, mas do que Ele lhes disse. Falaram-nos do seu relacionamento e das suas conversas com Deus — como Ele lhes falou, inspirando-os e refrigerando-
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os, mesmo quando estavam extremamente fatigados. Descreveram momentos de viragem em que optaram por crer no impossível, identificando como e quando Deus lhes disse que avançassem para territórios desconhecidos, convencendo-os de que iria à sua frente. Comparando a minha vida com a deles na altura parecia fútil. Mas a área que cada um considerava o bem mais importante de um líder era a sua disponibilidade de deixar que Deus lhes falasse, lhes desse poderosas ideias em momentos importantes. Isto era impositivo para mim porque não era atingível por ninguém. Ouvir Deus 18
falar, diziam, não dependia do género ou da idade, da escolaridade ou da posição. Deus fala aos que são humildes, suficientemente, para escutar conselhos sensatos, dispostos a trocar os seus planos pelos de Deus, capazes de esperar e não se lhe adiantar, impulsivamente. Este conceito foi revolucionário para mim. Mais importante ainda, tomou conta de mim. Convencida, comecei, imediatamente, a imitar a vida desses líderes, gastando, diligentemente, tempo todos os dias a ouvir Deus falar-me. Surpreendida, encorajada e excitada com a minha própria relação dialogal com Deus, queria mais. Com pouquíssimo esforço, descobri numerosos outros líderes históricos, políticos, empresariais e religiosos que falavam de uma relação dialogal com Deus como uma componente inegociável das suas vidas. Peter Marshall, capelão do Senado norte-americano na década de 1940, foi um desses humildes líderes que, regular e calorosamente, falaram sobre o seu companheirismo singular com Deus. Por exemplo, considerou as instruções específicas de Deus para cada dia semelhantes a um soldado que recebe «uma ordem de marcha da parte do Capitão». Como um líder espiritual de políticos, um excitante comu-
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nicador junto dos universitários e um pregador que falava em auditórios superlotados, as orações simples e sermões profundos de Marshall instilavam confiança na pessoa média, assegurando-lhe que Deus fala — quer o escutemos, quer não. Fazia, consistentemente, um forte apelo a todos os homens e mulheres para assumirem uma atitude de humildade, especialmente os líderes, destinando todos os dias algum tempo para ouvir Deus falar. De facto, a maioria dos seus sermões registados incluíam uma vívida instrução, pormenorizando formas práticas de comunicar com Deus num diálogo biunívoco. Peter Marshall encorajava, entusiasticamente, as pessoas a conhecerem Deus não por crescerem no conhecimento intelectual, mas através de uma familiaridade íntima com Ele. Tal como um filósofo contemporâneo, Dallas Willard, defendeu décadas mais tarde no seu livro Hearing God [Ouvindo Deus]: «As pessoas espirituais não são as que se envolvem em certas práticas espirituais; são as que alimentam a sua vida com um relacionamento conversacional com Deus.» 1 Ao falar dos seus modelos, Peter Marshall indicava sempre os que nos séculos anteriores se relacionavam, pessoalmente, com Deus: George Müller de Bristol, Dr. George Washington Carver, Thomas à Kempis, para nomear apenas alguns. Referia-se às suas cartas, diários e biografias. Os seus mentores da fé inspiraram-no com os seus registos pormenorizados, escritos do modo como Deus lidava com eles — quando e onde Deus lhes falava, professando publicamente o que acreditavam que Deus lhes dissera quando lhes falara. 2 Peter Marshall encorajou não apenas os líderes mas todos a falarem com Deus sobre tudo. «Sejam honestos com Deus», desafiou os estudantes, congressistas e membros da sua congregação a quem
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falou. «Escutem Deus», convidou. As suas orações públicas apresentavam, perfeitamente, o caminho para Deus: «Confessamos perante ti que os nossos ouvidos costumam estar surdos ao sussurrar do teu chamamento, os nossos olhos cegos aos sinais da tua orientação. Torna-nos dispostos à mudança, mesmo que isso exija cirurgia da alma e a terapia da disciplina.» 3 Deus fala aos que, humildemente, se lhe apresentam — jovens ou idosos — para ouvi-lo falar. Porque complicamos o que é tão simples? 20
O que perdemos por ouvir falar Deus, que ama e vive hoje, que criou o homem e a Lua e quer falar-nos? Encorajo-o a humilhar-se perante Deus. Abra os seus ouvidos e o seu coração à sua voz. Escute. Espere. Diga-lhe que precisa d’Ele. Peça-lhe que lhe fale. Peça-lhe coragem e esperança. Diga-lhe que está a lutar, que é fraco e medroso. Deixe que Ele lhe fale!
Deus fala aos que têm uma confiança simples e infantil A minha amiga e a sua neta estavam a falar do que fazer quando se está com medo. A avó disse: «Querida, se alguma vez sentires medo, clama a Jesus e Ele virá em teu auxílio.» A menina olhou para a avó, sorriu ligeiramente e corrigiu e idosa, dizendo: «Porque tenho de clamar a Ele, avó? Ele está sempre comigo.» Será, realmente, assim tão simples? Podem as crianças sentir ou experimentar a presença de Deus, apesar de Ele ser invisível? Pode uma criança ouvir Deus falar?
Deixe que Deus lhe fale
O primeiro livro de Samuel — um dos livros do Antigo Testamento, um relato histórico da nação de Israel, cerca de 1000 a.C. — começa com o pedido de Ana, que era estéril. Durante um queixume choroso no templo, durante a celebração religiosa anual, ela rogou a Deus que lhe desse um filho. The Message [A Mensagem], uma paráfrase da Bíblia, da autoria de Eugene Peterson, revela o seu angustioso apelo a Deus: «Esmagada na sua alma… ela fez um voto:… Se me deres um filho, eu dou-to… sem reservas.» (1 Samuel 1:10–11) Deus respondeu-lhe e, menos de um ano depois do seu emocionante encontro no altar, concebeu e deu à luz um filho. Em profunda gratidão, ela cumpriu a promessa feita a Deus e dedicou o seu menino ao Senhor, colocando-o a servir no templo. Chamou-o Samuel, que significa «Pedi a Deus por ele.» (1 Samuel 1:20) Não muito tempo depois de o jovem Samuel começar a servir no templo, despertou do sonho, a meio da noite, porque o seu nome fora chamado, audivelmente. Assumiu que era a voz de Eli, o sacerdote responsável pelo templo, que vivia numa ala distinta. Como a voz era audível e tão real, o rapaz levantou-se da cama e aproximou-se de Eli a perguntar-lhe a razão de o ter chamado. Eli não chamara o rapaz e disse-lhe que voltasse a deitar-se. Depois de Samuel ter ido ter com ele por duas vezes mais, Eli percebeu que este fenómeno podia de facto ser Deus a falar com o rapaz. Por isso, Eli instruiu Samuel a regressar ao seu quarto e a escutar, atentamente, a voz — dizendo-lhe que Deus lhe falaria. Esta teria sido uma intensa pressão para um jovem que foi dedicado ao serviço no templo pela mãe, não acham? Ele não era um adulto, um líder, um experiente servo do templo nem mesmo o filho do sumo-sacerdote — não passava de uma criança. Obediente, porém,
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Samuel regressou à solidão do seu quarto e, depois de voltar a ouvir a voz, percebeu que Deus estava a falar-lhe. Na manhã seguinte, a criança disse a Eli tudo quanto Deus lhe revelara, nada retendo. Era uma mensagem extremamente séria com consequências desastrosas para Eli e os seus filhos, que tinham negligenciado os seus deveres sacerdotais, chegando a envergonhar o nome de Deus. A partir desse momento, Deus usou Samuel continuamente para falar de forma directa em nome d’Ele para a nação de Israel, seus líderes e seguidores que, com muita frequência, pareciam esquecidos ou 22
em rebeldia contra a voz de Deus. Mas devemos notar que foi enquanto criança que Samuel desenvolveu a capacidade de diferenciar entre a voz de Deus e os seus próprios pensamentos ou vozes dos outros. Ouvir Deus falar não depende da idade, do género, da escolaridade ou do valor pessoal. Deus fala a qualquer um — seja uma criança, um pai, líderes ou liderados. Deus fala a quem tem fé e a quem não tem fé. Deus fala ao impotente ou ao desesperado. Deus fala tanto suave como poderosamente aos que são humildes ou se humilham perante Ele e perante os outros. E Deus fala, pessoalmente, aos que dependem d’Ele, tanto jovens como idosos. Deus fala aos que, profundamente, depositam a sua confiança no seu nome, no seu poder e na sua Palavra. E Deus fala aos que estão a fugir d’Ele. Precisamos de estar ou ser desesperados, humildes ou infantis para ouvir Deus falar? Claro que este não é um pré-requisito,mas uma lista comum de condições, através das quais a maioria de nós ouve Deus falar, estejamos ou não vazios ou cheios de nós próprios.
Deixe que Deus lhe fale
Conclusão? Deus pode falar e fala com quem quiser. A forma que Ele escolhe para atrair a nossa atenção varia de pessoa para pessoa. Claro que o modo como eu e você respondemos quando Deus nos fala pode complicar ou facilitar as nossas vidas e merece sem dúvida uma discussão aprofundada.
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A autora
Becky Tirabassi partilha o seu dramático testemunho pessoal, sempre que tem oportunidade para tal, incluindo nos seus livros e conferências, como a Grande Campanha de Billy Graham, em Cleveland, Enfoque na Família, Gozando a Vida do Dia-a-Dia com Joyce Meyer e Mulheres de Fé. A mensagem de Becky interessa a pessoas de todas as idades. É presidente de Becky Tirabassi Change Your Life, Inc. e fundadora de uma organização não lucrativa para estudantes chamada Burning Hearts, Inc. Os seus livros, que são best-sellers, incluem Let Prayer Change Your Life, My Partner Prayer Notebook e Change Your Life Daily Bible. Becky e o marido, Roger, vivem em Corona Del Mar, Califórnia.
Para saber mais sobre Becky Tirabassi, contactar: Change Your Life, Inc. P.O. Box 9672 Newport Beach, CA 92660 1-800-444-6189 or 1-949-752-6855 Fax: 1-949-752-6830 www.changeyourlifedaily.com www.beckytirabassi.com
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