EUCREIO
Síntese doutrinária da nossa fé
EUCREIO Síntese doutrinária da nossa fé
FERNANDO MARTINEZ
VOLUME 2
JUNHO 2010
Título Eu Creio, vol. 2 Síntese doutrinária da nossa fé Autor Fernando Martinez Direitos Reservados © Letras d’Ouro, editores, 2010 Editores Letras d’Ouro, editores Preparação do Original e Edição José Manuel Martins Revisão José Manuel Martins / Fernando Martinez Direcção de Arte e Design Pedro Martins Impressão e Acabamento Publidisa, Publicaciones Digitales, SA 1ª Edição, Junho de 2010 ISBN 978-989-8215-17-8 Depósito Legal Letras d’Ouro, editores Sede Rua Quinta da Flamância, n.º 3, 3º Dt.º Casal do Marco 2840-030 Paio Pires, Portugal Tlm 914 847 055 Email livros@letrasdouro.com Web www.letrasdouro.com Blog letrasdouro.blogspot.com Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com a indicação da fonte.
NOTA EDITORIAL
Quedar-nos-íamos inertes, na hora de apresentar aos leitores o volume segundo de «EU CREIO, síntese doutrinária da nossa fé» e tendo presente o que escrevemos na NOTA EDITORIAL a abrir o primeiro volume dessa obra, não fora o frémito que nos perpassou a mente ao ler textos reportados a «temas antigos» que, para nós, nem na forma nem na substância envelheceram. O que é comum – com a pressa com que vivemos a vida, com a celeridade com que nos chegam as notícias do Mundo – é que tudo envelheça num ápice. Recusamo-nos a folhear o jornal de ontem porque, em regra, já não interessa o que lá está escrito – ou porque é efémero (valeu para aquele dia) ou porque já está seguramente desactualizado. Isso é verdade para o relato dos factos, mas também o é para as opiniões emitidas, para os juízos formulados, para os valores sustentados (tão depressa o que é verdadeiro se transforma em algo inverosímil ou simplesmente falso; tão depressa o que é negro, nefasto, repugnante, reprovável, se apresenta translúcido, benigno, aceitável, irrepreensível; tão depressa o que é absoluto se relativiza, o que é seguro se desmorona, o que é vantajoso passa a prejudicial, o que é amistoso se transmuda em hostil…). Vivemos numa sofreguidão confrangedora pelo novo constante, pela notícia ao minuto, ao segundo… Vivemos na ânsia da novidade, do que ocorrerá daqui a pouco, no próximo minuto, no próximo 7
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segundo, no futuro presente… Navegamos na Internet, usamos todos os motores de busca, exigimos maior velocidade de acesso aos dados, trocamos de canal televisivo num zapping incontrolável, ouvimos as notícias em vários idiomas, querendo sempre algo novo, algo diferente, algo que sustente este sentimento de que sem mudança a vida não flui. Corremos atrás do efémero convictos de que o futuro está no que ainda não foi dito, não foi descoberto, não foi comentado… De repente, como foi o nosso caso, parámos de correr e deixámos que as emoções se apaziguassem enquanto líamos as respostas dadas aos temas antigos e as compaginávamos com as respostas que vão sendo dadas aos anseios de hoje, que não mudaram, que se confundem, na essência, com os que estavam subjacentes àquelas. Ficámos diante do confronto nítido entre o que se escreveu sem pressa, reflectidamente, e o que agora se vai por aí escrevendo, ao ritmo da vida em aceleração, que responde apenas à momentânea necessidade de ter uma opinião com a qual nos identifiquemos, sem esforço de fundamentação, ter um apoio que nos assegure imediato bem-estar, ter a solidariedade instantânea de que precisamos para enfrentar um problema… Mas como são profundas as necessidades da alma, do espírito, dos seres humanos que somos, as mesinhas, as palavras ocas, vazias de substância, jamais nos livrarão da necessidade de aprofundar, questionar e procurar respostas para o nosso devir eterno, sem prejuízo de as procurar também para os assuntos que hoje introduzem o futuro e reclamam imediata solução, consubstanciadas no melhor que esta obra representa quanto à divulgação do plano de Deus. Esse frémito, esse bálsamo emocional, essa correnteza de convicção que nos advieram da leitura de tais coisas antigas, dão-nos o ânimo necessário para o desempenho desta tão exigente tarefa que 8
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é, sem nos repetirmos, apresentar esta segunda parte da obra do Pr. Fernando Martinez. Com efeito, somos dos que não se conformam com a minimização – sempre elaborada com laivos de sub-reptício despeito ou indícios de supremacia intelectual – do que foi escrito, em prol da divulgação do Evangelho, nos tempos idos em que a formação académica da generalidade dos autores pátrios era menor e quase sempre autodidacta. Inúmeros são os exemplos de autores marcados por esse estigma que se perpetuaram em páginas de suculentas lições de vida, cujo interesse manifesto, nalguns casos quase esquecido, se revivifica quando as relemos para suportar a análise dos mesmos temas e confrontar as nossas soluções com aquelas que então foram apresentadas. Pode parecer estranho (e sê-lo-á, seguramente, para os que leitores embevecidos pela espuma dos tempos, pela atractividade das formas, pela superficialidade dos modos), mas é saudável e enriquecedor voltar ao contacto com as coisas antigas, escritas para responder às necessidades específicas dos que, em tempos relativamente diferentes, se puseram a caminhar nas veredas da nova vida, saída da água e do Espírito. O valor das palavras então escritas avalia-se, agora, objectivamente, pelo número de leitores dos veículos que as divulgavam, pelo exemplo de vida renovada que eles, tais leitores, plasmavam no quotidiano, pelo testemunho destemido que davam, pelo número sempre crescente de novos discípulos que conquistavam. A esta distância, se quisermos engalanar o nosso discurso com berloques de objectividade, sinceridade e reconhecimento, temos que admitir que as palavras veiculadas respondiam às necessidades dos que caminhavam na fé que uma vez foi entregue aos santos, os quais se remoçavam, diariamente, para melhor reflectirem os efeitos dessa adesão espiritual espontânea, que vivenciavam em comunidades de homens e mulheres luzidios e salinizados… 9
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No nosso entendimento, e por causa dele, prosseguimos esta tarefa de apresentar EU CREIO, segundo volume. O que está nas mãos do leitor, constitui, em grande parte, o que foi escrito para os de antanho, cristãos evangélicos, como nós somos, uns interessados em conhecer o Evangelho numa perspectiva evangélica e pentecostal, outros, eventualmente muitos outros, apenas curiosos dum modus vivendi, só explicável na esperança de que o futuro é o céu, ou, ainda outros, na exploração das excentricidades de quem vive pela fé, absolutamente seguro de que, em todo o momento, só assim pode viver o justo. O que está nas mãos do leitor são palavras que, ainda hoje, abrem caminhos direitos, caminhos de reflexão, caminhos de positividade evangélica, quais sejam os de ter assentes os pés na rocha firme da verdade, de prosseguir a caminhada da fé sem tibiezas, medos, inseguranças, de olhar para o futuro prenhe de esperança no convencimento de que as promessas são certezas tão apreensíveis quanto as realidades vividas. As palavras, ditas antigas, surpreendentemente para alguns, para nós não, mantêm tal vitalidade que podem ser repetidas sem causar enfado ou marasmo, antes alentando, do mesmo modo, os que, sem preconceito, não lhes desdenham o mérito e valor contemporâneos, aprendendo-as como se só agora tivessem sido escritas e se lhes destinassem directamente. Esta é, evidentemente, a opinião de quem primeiro leu a obra e tem dela uma visão de conjunto. Admitimos que estar na primeira linha alarga o horizonte e permite ver para lá da biqueira das botas, isto é, adiante do momento histórico em que elas foram dadas à estampa e os respectivos temas magistralmente analisados e até adiante das experiências daqueles que, contemporaneamente, as vivenciaram, fazendo-as suas. A vez do leitor chegará também, após o desenvencilho desta Nota Editorial, e com rapidez alcançará a inteireza da obra, beneficiando da apreensão do conjunto, 10
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a qual constitui o prémio da perseverança que está precisamente na meta, na chegada, na última página. Tanto poderá ser assim – connosco sucedeu dessa maneira – que pressentimos, no início, que as causas que lhes justificaram a razão de ser e lhes estão na génese perduram. São palavras de sempre, coladas às necessidades cíclicas das pessoas. A persistência das mesmas causas não pode ter o significado de querer dizer que as palavras ditas então foram inúteis ou ineficientes. Não. São as mesmas causas mas de pessoas diferentes, que só agora estão confrontadas com as necessidades específicas que antes outros tiveram. As palavras para estes surtiram efeito, foram benéficas, foram pão, foram água, foram espírito, foram vida, afinal. Para aqueles (que somos nós, os leitores) sê-lo-ão da mesma forma, assim permitam que elas evidenciem, primeiro, o que pode e deve ser confrontado, melhorado, rejuvenescido, abençoado… Convictamente, metemos a foice nesta seara porque é preciso abrir janelas, arejar a atmosfera, acções essas que paulatinamente vão sendo desenvolvidas pelos que não recuam diante do campo florido, à espera de ser ceifado, abrindo profundos sulcos por onde, caminhando, se alcança o horizonte que as palavras, as de ontem, as de hoje, que são as mesmas ou da mesma matriz evangélica, estabelecem: o horizonte da esperança. Volvendo ao ponto de partida, agimos para escancarar as portas do futuro, seguro, conhecido, almejado, arrancando da já referida posição, que é a de sermos os primeiros a sorver a força das palavras escritas que tiveram, ontem, o mérito de apontar o caminho que nos trouxe até aqui, portadores das chaves que agora usamos. E fazemo-lo respaldados no testemunho convincente dos beneficiários delas, espalhados pelos quatro cantos do mundo, onde chegavam, periodicamente, a exalar, ainda, o odor a tinta como se fosse um ritual de entrega de pão fresco, sempre apetecível e esperado a cada manhã. 11
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Palavras feitas pão que alimentaram tantas vidas e as fizeram sonhar a esperança do tempo futuro, que antecipa sempre o descanso sem fim… Não se pode falar verdadeiramente de coisa antiga a propósito do legado espiritual do autor, quando, sem esforço, as palavras escritas se colam aos olhos, que as interiorizam em novidade, sem vestígios do tempo que por elas passou… Não há nelas erosão pois misturaram-se no tempo sem nele se diluírem; responderam aos anseios que as determinaram, mas saíram incólumes, sem perda de valor intrínseco e capazes de se soltarem cheias de vitalidade para germinarem noutros campos, noutros contextos sócio-culturais, noutros corações igualmente reclamantes de respostas, igualmente ansiosos de garantia para os sonhos de hoje e que amanhã, depois de terem produzido abundante fruto ontem, serão certezas tangíveis, moradas para sempre. Palavras para sempre por brotarem da Palavra que não muda, que é a inexorável referência de quanto se escreve com o propósito último de nos elevar à condição de participantes da natureza de quem, sendo o Verbo, entre nós incentivou o uso delas em fraterna comunhão. Palavras que já não pertencem ao passado (se as não tirássemos de lá seriam inúteis – no passado serviram a quem serviram e não têm mais valor senão para encher estantes, alimentar o bicho do papel…), nem todavia são pertença do autor enquanto fazedor da obra, enquanto escrivão do texto, enquanto pensador da mensagem, senão apenas como um qualquer de nós, que as lê hoje e as faz suas, como húmus de textura conseguida no remanso do tempo, mas que agora se mistura com a vontade de construir e sustentar o mesmo sonho, de garantir esperança de que há ainda moradas eternas para o nosso descanso. Palavras que são suas, nossas, sem resquícios da poeira do tempo, absolutamente actuais, prenhes de novidade, de força, capazes de responder aos anseios mais profundos das gerações actuais e vindouras. 12
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Afinal, depois de termos dado à estampa o volume primeiro desta obra, com a força própria dos temas prioritários de qualquer abordagem teológica (Deus – Pai, Filho, Espírito Santo; a Igreja e as Escrituras), que podemos esperar agora que justifique o que, apologeticamente, acima referimos? Podemos esperar muito da pena incansável do Pr. Fernando Martinez, que sublinhou, no seu percurso, praticamente todos os assuntos da fé cristã evangélica, que são os mesmos do tempo que se chama hoje, mesmo quando têm uma conotação eminentemente sócio-política, que décadas de convivência pacífica e democrática não mudaram em substância no nosso país. No decorrer da leitura ficarão para o leitor a descoberto tais assuntos e acerca dalguns reclamará por ter passado, entretanto, imenso tempo sobre o olhar que o autor deitou sobre eles e tudo esteja como está – na mesma! Se nos permite o leitor, «EU CREIO, síntese doutrinária da nossa fé», volume segundo, pode ser, como soe dizer-se em chã linguagem, a pedrada no charco que todos, o leitor e nós, os que amamos a causa evangélica, os seus valores, os seus objectivos solidários, em cada momento desejamos arremessar. Não como manifestação de clarividência quiçá acima da média, nem como gesto de protagonismo para simplesmente dizer que existimos, nem como forma de afirmação de que o que pensamos é melhor pensado do que aquilo que pensam os outros, mas como iniciativa simbólica de que não nos conformamos com o facilitismo morno de quem está bem posto na vida espiritual, aprendeu tudo desde menino e agora vive à sombra dessa bananeira de conforto espiritual. Mal de cada um se não agitar periodicamente as águas em que navega, em que atravessa o tempo com os olhos postos no horizonte onde, pela fé, vê Jesus nas nuvens ou se transforma em pó, para mais 13
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tarde ascender, com outros arremessadores de pedras, ao encontro d’Ele. Cada pedrada significará movimento, renovação, mudança de atitude, de estado espiritual, pois, sempre que se agitarem as águas, o barco baloiçará, significando que estamos vivos, que agradeceremos, que clamaremos por ajuda, que daremos oportunidade a outros remos, a outras mãos habituadas a agir, a mandar pedradas para o charco, de outros amantes da causa do Reino de Deus, capazes de vislumbrar réstias de esperança. Sem mãos ágeis, sem treino, não se vive senão a morte do marasmo próprio das águas paradas, silenciosas, estioladas, incapazes de levar o barco para diante em busca de alimento que escasseia ou inexiste naquele intermezzo que é viver estando morto ou em vias disso… Na obra do Pr. Fernando Martinez, as águas estão sempre agitadas, sempre separadas – dum lado as que correm, as que têm vida, do outro as que tendem a estagnar, a apodrecer, a feder. É frequente esse contraste tão vincado entre a morte (as águas fétidas onde navegamos em delitos e pecados, sem bússola, sem sinais celestes, sem meios outros de orientação, e também, tantas vezes, sem consciência do perigo iminente) e a vida – a palavra amiga, o conselho sábio, a virtude cristã que anuncia, com gritos de alma, a Salvação de Deus, o Caminho, a Luz, a mudança que pode acontecer na vida de cada um. Ah! Como tão bem e tão convictamente o Pr. Fernando Martinez fala desse Caminho, da Salvação de Deus, sempre tão insistentemente como quem fez o melhor seguro de vida, onde não há cláusulas desconhecidas, falaciosas, interesseiras para uma das partes, capazes de, na necessidade, anularem o prémio. Há um caminho a percorrer, sim, com início nessa mudança promissora de estado espiritual, em segurança, sustentado na manifestação da Graça, que é garantia única, dada sem contrapartida exigível. Há vida nova, com génese nela (na Graça manifestada), que vai marcar a existência de cada um. 14
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Para muitos de nós, leitores de EU CREIO, a pedrada ocorrerá, certamente, naquele charco da mera curiosidade acerca do plano de Deus, onde nos envolvemos em disputas estéreis, quiçá intelectualmente compensadoras, racionalmente estimulantes, mas que não nos colocam no patamar alto em que vislumbramos a nossa miséria espiritual e o afastamento maior da influência directa do que Ele revela. Andamos por aí, sempre ouvidores, sempre na crista das novidades, sempre relativamente bem informados sobre o que se passa nos areópagos dos curiosos virtuais, que muitas vezes se alimentam exclusivamente da emoção de encontrar explicação para mais um dilema que as mentes em busca equacionaram. E ocorrerá, ainda, pensamos nós, quando da curiosidade passamos à nebulosa dúvida, como diz o autor, caminhando às apalpadelas como se o caminho se cobrisse repentinamente de denso nevoeiro. O espaço para viver em certeza, em garantia, no absoluto também, desaparece pela inundação das águas infectas que deixamos escorrer enquanto nos entretínhamos a satisfazer curiosidades. Deixamos que se esvaziasse, entretanto, o sentido da vida nova, barrando ou desviando as águas da fonte da Graça, ficando a flutuar na religiosidade da curiosidade e da dúvida, quando não conformados com essa posição donde, em consciência, queremos sair mas a mão não age para arremessar a pedra, agitar o charco. O mérito imediato da obra de Fernando Martinez é que nela está sempre presente o acicate para mudar o estado de coisas, para viver expressando alegria e esperança! Os sinais da velha vida, as matrizes da morte espiritual, os fétidos odores de antanho vão desaparecendo da existência vivida na valorização constante do significado perene da morte e ressurreição do Messias, de que a Páscoa cristã é festividade representativa. 15
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Não há melhor seguro de vida do que aquele que resulta da aceitação plena de que a morte vicária de Cristo é suficiente para assegurar a salvação de Deus, que é a suprema e inadiável necessidade da criatura humana, sempre tão ciosa dos seus méritos, mas que não tem alternativa fora do favor imerecido, fora do alcance da Graça, mesmo que o acervo de obras meritórias feitas regularmente seja enorme, capaz de congregar centenas de pares de braços levantados em sinal de reconhecimento de tão caritativa vivência. O que vale, sabe o leitor, sabemos nós, saberão muitos mais, é a adesão voluntária, sem limitações, a essa acção divina, que a todos garantiu a perenidade da existência sem choro, sem lágrimas, sem pranto. Seríamos interesseiros e egoístas se valorizássemos o que valemos ao ponto de querer para nós, invocando apenas os próprios méritos, as obras independentes da graça, o que Deus oferece a todos! Essa relação não tem respaldo no ensino do autor que, cristalinamente, enfatiza que do favor de Deus dependemos para ser salvos, o que significa viver com Cristo, em Cristo e através de Cristo. Só há conversão, só nos viramos para caminhar no sentido de Deus, quando a nossa inteligência, emoções e vontade se conjugam para aceitar essa Graça tão maravilhosa, que infunde, nas profundezas da alma, a certeza de que somos salvos, que nada do que importa para a eternidade fica por resolver, quiçá entregue à vontade doutrem que resolverá por nós… Nada disso! Em EU CREIO encontramos, a par e passo, o repto do autor que interpela os leitores a responderem sobre a própria certeza da salvação, sobre a própria convicção da vida eterna. Não há indiferença que anule esse repto e, por isso, insistentemente, sempre com ousadia, sem temer o ónus da repetição, lá está o pregador, o evangelista, o mestre, a apelar para que a confiança em Cristo seja a razão que assegura a ligação que mantemos como discípulos obedientes, como filhos amados, que serão coroados como vencedores, não 16
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meramente escravos ou mercenários, pois estes se rebelarão ou fugirão quando a oportunidade ocorrer ou o perigo espreitar. Deus não se cala, antes fala aos seus, e não se pode ser discípulo e indiferente aos grandes temas sociais que preenchem o quotidiano dos povos, das famílias, dos que nos estão próximos. Deus fala! Fala através da Palavra pregada com entusiasmo e convicção de quem viu tudo e está disposto a ser testemunha, sem receio de desmentido, na senda do exemplo dos pescadores da Galileia que incendiaram o Mundo com o testemunho do que ouviram o Mestre dizer, mas também fazer. Pela pena do autor ouvimos o que Deus quer dizer porque ele ouviu o Mestre falar-lhe e também deixou as redes para atear a chama da Palavra salvadora, da Palavra sanadora, da Palavra que abre o caminho da esperança, da certeza da vida eterna em Deus. O Pr. Fernando Martinez assume em EU CREIO, neste segundo volume, como no primeiro, tudo quanto ele próprio ouviu de Deus, através do testemunho dos que o precederam, do que ele próprio estudou, reflectiu, aprofundou, através dos muitos exemplos de homens e mulheres que deram as suas vidas por essa convicção de testemunhas, por esse CREDO que os conduziu, passo a passo, na senda da fé e os depositou na Glória, nas moradas do Pai. Sim, porque EU CREIO, sendo o testemunho dum homem, é também o repositório dos que viveram, à letra e na substância, o seu conteúdo programático, divulgado por décadas a fio, escrutinado por milhares de almas, que o fizeram também por todas as paradas do Mundo, onde a língua de Camões chegou, veiculado pela revista Novas de Alegria, elo forte de união das testemunhas deste CREDO comum. Deus fala! Fala também pela acção directa do Espírito Santo na vida dos que, desde o início do século vinte, viram renovadas as suas 17
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existências pelo fogo do Céu, tal e qual aconteceu nos primórdios, quando os discípulos estavam reunidos para cultuar em Jerusalém. Sim, porque EU CREIO tem essa marca evidente da acção do Espírito Santo na comunidade lusa desde que por cá surgiram os primeiros arautos do pentecostalismo, que souberam, estoicamente, enfrentar a resistência dos mais conservadores ou indiferentes cristãos aos ventos de renovação que já sopravam pelo Mundo e aos quais queriam ficar imunes. Deus falou por meio de mulheres e homens simples que confiaram as suas vidas nas mãos d’Ele e fizeram sua essa preciosa vantagem que é servi-Lo sob a influência do Espírito Santo, o Consolador prometido, num contexto sócio-político-religioso cheio de escolhos, de incompreensões, de maledicência, de perseguições. À semelhança dos que enfileiram na galeria dos heróis da fé com lugar fixo no texto bíblico – deram testemunho almejando a revelação do Messias – todos aqueles que calcorrearam, nas últimas seis dezenas de anos, pelo menos, as fileiras da fé, ouvindo Deus falar, contribuíram para tornar audível a voz de Deus, que continuará, certamente, através da obra do Pr. Fernando Martinez e doutros discípulos, a falar com igual ou superior clareza. Assim as Escrituras Sagradas continuem a ser a fonte que sustenta tais discípulos e o Espírito Santo o dinamizador da sua acção proclamadora! São esses a quem Fernando Martinez se dirige assertivamente: É mister que os crentes conhecedores da Bíblia não desonrem Deus, não desacreditem a Igreja, não arruínem a sua família e a do semelhante, não fragilizem mais a sociedade. Pois que a vida de testemunho não se confina aos relacionamentos eclesiais, por mais desejáveis que eles sejam. As mulheres e homens que ouvem Deus falar e militam na Causa do Mestre sob a acção e dinâmica do Espírito Santo vivem 18
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para os outros, como luzeiros sempre acesos e colocados nos pináculos das montanhas da vida. EU CREIO é também um retrato da interacção dos crentes com a sociedade do seu tempo. Não basta chamar a atenção para o futuro, numa prognose para muitos meramente escatológica e não a antecipação da concretização das suas convicções, mas dar o exemplo de como deve ser o presente, vivido em função de valores afirmados na história e na vida de cada um, hoje. Onde estão as respostas para a crise do mundo ocidental, no qual a Cristandade se afirmou em dois milénios, que renunciou à ideia de família sustentada no vínculo conjugal firmado entre um homem e uma mulher? Onde estão as respostas para os que desistem da manter unida a família, reproduzindo nas consequências da separação o drama das crianças, condenadas a ter apenas pai, apenas mãe e, às vezes, um arremedo de pai e mãe, quando não atiradas para a esfera da responsabilidade social que, precariamente, toma e destino delas em mãos? Onde estão as respostas para a precariedade das relações conjugais de facto em nome da liberdade de cada um? Onde estão as respostas para as franjas sociais que assumem o homossexualismo como padrão afectivo do futuro, e ganham pontos na sua campanha de afrontamento aos valores incorporados na vivência cristã? Podendo parecer estranho, esses e outros assuntos foram tratados pelo Pr. Fernando Martinez e estão reflectidos neste segundo volume EU CREIO: lares desfeitos, crianças abandonadas, maltratadas, em consequência do desrespeito desse desígnio divino, que é o casamento, violência gratuita, raptos, sequestros, vilania, maldade a rodos, sem explicação aparente numa sociedade que parece avançar em termos 19
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civilizacionais, são sinais evidenciados recorrentemente para chamar os cristãos às suas responsabilidades cívicas. O silêncio, a atitude observadora e a passividade não se ajustam ao dever de serviço que vincula os cristãos em aplicação prática do seu credo, em particular os que se valem, para reflectir sobre o Mundo e a sua perspectiva, duma fé viva e dum pensamento estruturado nos valores bíblicos. A obra de Fernando Martinez acerca-se, também, como não poderia deixar de ser, dessa outra realidade que é o testemunho dos que lideram, dos que estão dedicados ao ministério do serviço cristão. Quem são esses que têm o ónus de ser testemunha entre testemunhas, a quem incumbe o dever de ser exemplo dos fiéis? Uns quaisquer, cheios de ética pessoal, cada um com a sua, que se afeiçoam à moral social dominante, tolerantes ao ponto de descrerem na acção dos valores que pregam por dever de ofício? Não, certamente. Quem são os que vão na frente apregoando, corajosamente, sede meus imitadores como eu o sou de Cristo, para parafrasear o apóstolo dos gentios, e dispostos a pagar o preço correspondente? A liderança pertence a quem? A um homem preparado, com santa coragem, que sabe defrontar a oposição, com reconhecimento sobre a sua chamada divina para o ministério da palavra, de comportamento amigável, afeiçoado, que trabalha denodadamente, que carrega o peso das almas em perigo e sabe conduzir-se a si e à sua família? Onde estão esses, que falam a todos com dignidade, humildade, seriedade, probidade, convicção, clareza e sobretudo com a graça divina? São estes últimos que, seguramente, nos guiarão quando tivermos que pagar o preço, como eles estão disposto a pagar, por agir em prol dos nossos contemporâneos, mesmos em ambientes de limitação 20
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da liberdade, de práticas de discriminação, em ambientes puxados pelo fanatismo religioso, em vez da visão estratégica de divulgação do Evangelho de Cristo e da fé depositada na obra do Calvário. São estes que têm o papel maior na condenação das práticas atentatórias da vida humana por razões risíveis ou menores do ponto de vista ideológico ou religioso, sabendo fazer a separação das águas mesmo nos debates e controvérsias necessárias com os que vivem mergulhados em óbvias orientações heréticas, ainda que apresentadas com participantes do ideário cristão, do nosso CREDO. São estes que nos guiarão na denúncia do espírito vingativo, do sentido da intolerância, que gera a violência e a perseguição, do vil fanatismo e do execrável ódio religioso. Claro que, como também está patente na obra do Pr. Fernando Martinez, na acção concreta, na interacção social, estarão os cristãos sempre avisados para a necessidade de manter o interesse pelo rigor da doutrina, de modo que esta corresponda ao CREDO da afirmação dos valores bíblicos. Mesmo que a discussão se faça entre cristãos que se reclamam herdeiros da tradição apostólica e se mantêm sob a liderança do Bispo de Roma e aqueles que se reconhecem nos pressupostos da Reforma e pugnam pela exclusividade da Bíblia como fonte da revelação de Deus, nada deve mudar na afirmação da diferença, na valorização do que faz a distinção, na exclusão das fontes de doutrina não bíblicas. Essa conflituosidade, como a que se verifica, igualmente, entre irmãos do mesmo credo, é aceitável num quadro de acção tolerante pela diferença, sem prejuízo da elevação, acima de tudo e todos, do nome de Cristo, o Senhor. Citando o autor, a propósito do confronto que marcou o século passado no nosso país, em especial envolvendo os grupos evangélicos mais progressivos e biblicistas, e que, embora atenuado, se mantém, entre catolicismo e protestantismo, reiteramos 21
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que não pretendemos acirrar os ânimos de quem quer que seja, nem asseverar orgulhosamente a anterioridade doutrinária do Protestantismo. O certo porém é que existe uma enorme diferença, que ainda separa, em matéria de teologia, protestantes e católicos no terceiro milénio depois de Cristo, como existem diferenças entre vários ramos do protestantismo, que faz sentido assinalar sem manifestação de espírito de guerrilha ideológica, mas através da exposição de argumentos que visem a melhor clarificação do plano de Deus para a salvação do homem. Alongámo-nos (não cuidem porém os leitores que fomos capazes de enunciar todas as ideias mestras em que assenta a obra do Pr. Fernando Martinez), contra a nossa expectativa inicial e ultrapassando o espaço disponível, e não vincamos a certeza que nos preenche o espírito desde que abraçámos o projecto de sintetizar, em dois volumes, o que de mais significativo escreveu o autor durante mais de meio século, sob o título «EU CREIO – Síntese doutrinária da nossa fé»: Revemo-nos no conteúdo da obra e reafirmámo-lo às gerações futuras! Para nós, as respostas às necessidades espirituais dos nossos contemporâneos, agora que estamos no século vinte e um, num contexto cultural dito pós-moderno e até pós-cristão, e às dos que nos sucederão, são aquelas que as gerações anteriores, durante mais de meio século, encontraram nos escritos que compõem esta obra! Na substância, propugnamos pelo seu aprofundamento; na forma de a apresentar, desejamos que vingue a criatividade; nos meios de a fazer chegar aos destinatários, que estejam disponíveis todos os que o engenho humano for capaz de desenvolver! Amora, Março de 2010 José Manuel Martins 22
DUAS PALAVRAS
Foi para mim um privilégio trabalhar no ministério da página impressa, durante três décadas, na Casa Publicadora das Assembleias de Deus em Portugal. Aí fui director de várias publicações periódicas e responsável pela edição do hinário Cânticos de Alegria, Coros de Alegria, Prontuário Pentecostal, Calendário Maná do Céu, bem como de muitos livros e folhetos evangélicos. Eu próprio corrigia as provas tipográficas e não só, o que resultava num trabalho cansativo mas abençoado, pois tinha em vista a edificação do povo de Deus e a conversão das pessoas a nosso Senhor Jesus Cristo. Além disso doutrinava e pregava o evangelho com regularidade nas congregações da Assembleia de Deus de Lisboa; anunciava a Palavra de Deus na Ibra Rádio (Tânger) e em emissoras portuguesas, como por exemplo a Rádio Comercial. Presidia às cerimónias normais da igreja que os pastores celebram. Era professor da Escola Bíblica Anual nos dias do missionário Tage Stählberg e outrossim ministrava Teologia Sistemática no Instituto Bíblico da Av. Almirante Reis, na capital. Leccionava ainda Escatologia Bíblica e Angeologia no IBAD, Foz do Arelho. No período em que estive na Casa Publicadora dei tudo quanto podia e sabia. Fi-lo com prazer e entusiasmo, até porque Deus me chamara para tal mister. Aí ganhei experiência, desenvolvi a minha capacidade e aprendi bastante. Como o trabalho era muito escasseava23
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-me o tempo para escrever a quantidade de livros que ambicionava. Agora reformado (todavia activo na Obra do Senhor) posso dedicar-me à feitura de livros de natureza bíblica, sem deixar de colaborar na Revista Novas de Alegria. No término destas linhas tenho o prazer de dedicar o segundo volume da obra Eu Creio à irmã na fé Maria da Encarnação Rebola, actualmente com 105 anos de idade, a qual foi minha professora da Escola (Bíblica) Dominical. Na altura eu era uma criança. A irmã Rebola, que se congrega na casa de ora de Sete Rios, Lisboa, está de tal modo lúcida que poderá ministrar um estudo bíblico na igreja da qual é membra! Dedico também este livro à minha mulher Cristeta Martinez, que tem sido de grande ajuda durante 38 anos de casamento, e à minha filha Isabel Clemente. Acima de tudo dedico este humilde trabalho ao meu Senhor, o Deus Eterno, que me inspira, estimula e fortalece na senda da fé. A Ele seja dada toda a glória! Fernando Martinez
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CAPÍTULO PRIMEIRO
A SALVAÇÃO DE DEUS
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PERGUNTAS
O orador, político e publicista do século dezanove, Emílio Castelar, que exerceu o cargo de presidente da República Espanhola, afirmou ser a Bíblia «a revelação mais pura que de Deus existe». Pois é das áureas páginas do Livro divino que transcrevemos três perguntas, formuladas em várias ocasiões, a propósito das quais faremos uma breve reflexão. Duas delas foram dirigidas ao Senhor Jesus Cristo, e a restante aos apóstolos Paulo e Silas. A primeira, que apelidamos de curiosa ou especulativa, é do seguinte teor: «Senhor, são poucos os que se salvam?» (1) A segunda, uma interrogativa incrédula, duvidosa, reza: «Quem poderá, pois, salvar-se?» (2) A derradeira questão consideramo-la decisiva, prática e sensata: «Que é necessário que eu faça para me salvar?» (3) Quem pergunta «Senhor, são poucos os que se salvam?» via de regra está mais interessado em quantidades, números, estatísticas. Tais pessoas impressionam-se com a multidão dos perdidos. A existência de inúmeros indivíduos que jamais ouviram falar da salvação de Deus preocupava a mente dos discípulos. Cristo não tergiversou, não alinhou qualquer fantasiosa hipótese tão do agrado dos rabis judeus. De maneira precisa, clara e directa exortou: «Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar e não poderão.» (4) Parafraseando o divino Mestre, o mesmo declarou de 27
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forma pragmática esta singela verdade: sejam muitos ou poucos os que se salvem, vós necessitais de estar entre eles! Noutra ocasião, o Salvador foi interpelado por um judeu importante que desejava saber como alcançar a vida eterna. Devidamente esclarecido, afastou-se cabisbaixo pelo facto de se sentir incapaz de seguir o conselho do Mestre. É que o seu coração achava-se dominado por Mamon, isto é, o jovem israelita confiava nas riquezas. (5) Jesus proferiu então as conhecidas palavras: «É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino dos céus.» Ao ouvirem isto, os seguidores de Cristo perguntaram-lhe: «Quem poderá, pois, salvar-se?» Claro que ninguém é capaz de salvar-se a si próprio. Num certo aspecto, o caminho estreito da salvação não é fácil. Reafirmou-o Jesus: «Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me.» (6) E acrescentou: «Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível.» (7) A Bíblia Sagrada ensina que o Criador anela salvar-nos: «Porque isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade.» (8) Por fim, na cidade macedónia de Filipos, anos depois, Paulo e Silas haviam sido presos injustamente pelas autoridades romanas. O testemunho dos apóstolos e a manifestação do poder de Deus, na prisão, foram de tal modo impressionantes que o carcereiro indagou com ansiedade: «Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?» Aí está uma pergunta importante, uma pergunta sensata, uma pergunta vital que tem a ver com a felicidade presente e eterna da alma humana. Essa é a interrogativa que leva à feliz experiência da conversão, da salvação, da vida eterna. A resposta divina é tão simples como isto: «Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo…» (9) Mediante o arrependi28
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mento e a fé viva em Jesus, somos salvos da penalidade do pecado, da escravidão do pecado, e, após a morte, no Céu, estaremos livres da presença do pecado. É reconfortante saber que o Senhor Jesus «pode salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus.» (10) Possa o distinto leitor deixar a fase da mera curiosidade ou nebulosa dúvida, de maneira a entrar no campo da sensatez, optando por Jesus. Evite trilhar a via sinuosa da especulação, da abstracção, da descrença, e avance em nome de Cristo, penetrando pela fé na região do Espírito onde se crê para ver: «Se creres verás a glória de Deus.» (11) Que o leitor possa ter a coragem, a determinação e a fé de se colocar ao lado de Cristo, o Filho de Deus, seguindo-o com fidelidade, e caminhando com a imensa mole humana de peregrinos rumo ao Céu, à vida eterna, a Deus!
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O CAMINHO DA SALVAÇÃO
Na Bíblia Sagrada estão escritas as seguintes palavras de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o Filho de Deus: «Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.» (1) Nesta conhecida e importantíssima asserção, o Divino Mestre e Redentor identifica-se com o caminho da vida eterna, o verdadeiro e único caminho da salvação, o caminho do Céu, o caminho de Deus. Caminho é uma via de ligação, de comunicação, de condução; é um meio que nos leva a determinado lugar. No sentido espiritual e bíblico, Cristo – o Filho do Deus vivo (2) – é o meio de ligação com o Céu, de comunicação directa com o Pai, (3) de condução segura à bem-aventurança eterna. O Senhor Jesus, isto é, a sua pessoa e obra, é a «escada de Jacob» (4) que o Eterno lançou na Terra a fim de o pobre pecador, destituído da glória de Deus,(5) atingir as célicas moradas. (6) Nos desertos infindáveis da vida existe uma vereda santa, um caminho glorioso. Entre tanta confusão e incerteza (o mundo é um labirinto de pretensos meios salvadores) descortina-se o estreito caminho da vida – Jesus Cristo. Muitos evitam-no por ser espiritualmente apertado e pedregoso, preferindo as largas e confortáveis avenidas do conformismo e do pecado, ignorando a advertência divina: «Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte.» (7) 31
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Regra geral, o ser humano é propenso a deixar-se influenciar pela aparência das coisas. Por esta razão e por amor à vida cómoda, fácil, despreocupada, busca as estradas amplas e bem pavimentadas da religião perfunctória ou as auto-estradas do materialismo e do indiferentismo para com as coisas espirituais. Com efeito, tudo quanto seja agradável à vista, satisfaça as concupiscências carnais ou excite meramente os sentimentos duma religiosidade superficial, é buscado por numerosas pessoas. Como as alamedas da voluptuosidade, da fama, da riqueza, do sucesso são vistosas e aprazíveis, o «homem natural», (8) por não poder discernir as coisas do Espírito de Deus, opta por elas. Não importa que o fim seja a infelicidade, o salto nas trevas eternas, o juízo divino, desde que se saciem os efémeros apetites da carne… Está comprovado que o homem sem Cristo não suporta a Lei Divina. Ele não quer sujeitar-se à «boa, agradável e perfeita vontade de Deus», (9) visto considerar o caminho do Senhor e os seus mandamentos pesados. (10) Finalizamos este apontamento com a prece sincera, piedosa e ardente do salmista: «Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos; e vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.» (11)
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