Movimento do Espírito Santo

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«Tanto se fala entre os crentes acerca do Espírito Santo e tão pouco da sua experiência. Oxalá que o povo de Deus começasse a jejuar e a orar até que o Espírito Santo caísse sobre eles como no tempo primitivo da Igreja.» Tage Stählberg «Corremos o risco de ser rotulados de pentecostais, sem contudo estarmos vivendo uma verdadeira experiência pentecostal. Para que tal não suceda é necessário sentirmos sede pela água da vida. Não podemos descansar no passado, fazendo nós referência à história das Assembleias de Deus ou às boas experiências da nossa vida espiritual passada, nem tão pouco podemos viver no presente do nome que conquistámos, ainda que o mesmo seja pentecostal. Isso não passaria de cisternas rotas, onde a água acumulada no passado já se teria extinguido.» Luís Reis «A plena finalidade dos dons espirituais é assim patenteada: levar os homens até à realidade do Deus invisível.» Donald Gee «Crentes munidos dos dons do Espírito Santo (…) são tão indispensáveis para a obra de Cristo neste mundo como são necessários os braços e as pernas para o homem viver a sua vida física normal na colectividade.» Gordon Chowx «A Igreja sem os dons espirituais é pobre, fraca, morna e doente. Manda todos os doentes para o hospital, todos os endemoninhados para o psiquiatra e faz de todos os crentes pessoas religiosas e formais.» José António Lourenço



MOVIMENTO ESPÍRITO SANTO do

Os dons espirituais em acção e o culto pentecostal

Samuel Alexandre Martins


Movimento do Espírito Santo Os dons espirituais em acção e o culto pentecostal Samuel Alexandre Martins Direitos Reservados © Letras d’Ouro, editores, 2015 Editores Letras d’Ouro, editores Preparação do Original e Revisão José Manuel Martins Direcção de Arte e Design Pedro Martins Impressão e Acabamento www.artipol.net 1ª Edição, Novembro de 2015 ISBN 978-989-8215-53-6 Depósito Legal 401035/15

Letras d’Ouro, editores Sede Rua Quinta da Flamância, n.º 3, 3º Dt.º Casal do Marco 2840-030 Paio Pires, Portugal Tlm 914 847 055 Email livros@letrasdouro.com Web www.letrasdouro.com FB facebook.com/letrasdouro Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com a indicação da fonte.


DEDICATÓRIA

Aos pioneiros e pioneiras do Movimento Pentecostal em Portugal pelo seu trabalho, persistência e entrega abnegados, apesar das muitas lutas e provas, em favor da implantação do reino de Deus entre nós. Às igrejas que os comissionaram e aos crentes, em geral, que oraram e lhes garantiram o sustento.



APRESENTAÇÃO

O Movimento Pentecostal celebrou, em 2013, os seus cem anos de história em terras lusas. Não há dúvida de que esse foi um momento importante para a história do pentecostalismo em Portugal assim como do movimento protestante de matriz evangélica. Penso, no entanto, que essa efeméride foi uma oportunidade quase perdida, no que concerne à visibilidade dos pentecostais portugueses, por não se terem gerado condições para um maior entrosamento das comunidades dispersas pelo país. Poderia ter sido um tempo rico para a discussão teológica, filosófica, histórica e social do impacto deste movimento do Espírito na sociedade, em geral, no seio dos cristãos de matriz protestante e entre os evangélicos, em especial. Que mudanças teológicas trouxeram estes cem anos de história para o cristianismo em Portugal? Que impacto ético trouxe o pentecostalismo à vida dos portugueses, em geral? Que mudança operou o Movimento do Espírito na vida familiar daqueles que abraçaram a fé? Que resultados são visíveis em termos sociais da presença do pentecostalismo em Portugal? Estas e muitas outras perguntas semelhantes devem merecer a nossa atenção e reflexão. O Movimento Pentecostal, que chegou a terras lusas em 1913, foi ganhando força e expandiu-se, rapidamente, numa dinâmica de unidade, até aos anos 80. Nos finais dos anos 90, o Movimento aca-


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bou por sofrer profundas mudanças devido a dois factores fundamentais: o cisma que aconteceu na maior denominação pentecostal existente e, posteriormente, a chegada dos chamados movimentos neopentecostais. Mas que impacto tiveram esses dois acontecimentos no ensino, na doutrina, nas crenças pentecostais entre nós? Será que a multidão de pequenas comunidades pentecostais continua unida no essencial no que diz respeito às proclamações fundamentais do pentecostalismo que se afirmou entre nós? «Cristo salva! Cristo cura! Cristo baptiza com o Espírito Santo! Cristo em breve vai voltar!» era, no essencial, a mensagem dos pioneiros pentecostais.1 Qual é hoje a ênfase da mensagem do pentecostalismo depois de uma jornada de mais de uma centena de anos?

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Verdadeiramente, o esclarecimento dos fundamentos teológicos e doutrinários do Movimento Pentecostal só se tornou pertinente quando, de fora, os protestantes e evangélicos o catalogavam como se de uma nova seita se tratasse. Antes da realização da primeira convenção de pastores, da primeira Escola Bíblica em Lisboa e do início da publicação da revista Novas de Alegria — tudo isto depois da chegada ao país do missionário sueco, Tage Stählberg — o que se sabia, no exterior das comunidades existentes no Algarve, no Porto, no Alentejo e Lisboa, era pouco mais do que o conjunto das críticas «amargas» de quem há muito tempo não via tanto progresso na evangelização dos portugueses e não tinha sequer um vislumbre da acção do Espírito Santo na vida de um punhado de homens e mulheres, que se assemelhavam aos cristãos da Igreja primitiva e traziam consigo a experiência do avivamento pentecostal, ocorrida no Brasil e na Suécia, em particular. Com seriedade, não se importavam tais detractores com os fundamentos doutrinários dos pregadores pentecostais, antes os «desprezavam» como impulsionadores de uma qualquer seita, capaz de semear a discórdia «entre os irmãos». Coube a Lewi Pethrus dizer que o que estava a acontecer era obra do Espírito que o mundo não pode receber, o Espírito Santo, o Espírito da Verdade que conflitua com o mundo identificado com a mentira, mas enche os homens e mulheres nascidos de novo (com experiência da salvação e purificação do pecado), dando-lhe poder para cumprir, como nos tempo dos apóstolos, a grande comissão de evangelizar os pecadores com sinais, prodígios e maravilhas. (cf. O Espírito que o mundo não pode receber, Novas de… Alegria nº Extraordinário, pág. 3, nº 1, pág. Nº 2, pág. 4 e 7, de Novembro de 1942, Janeiro e Fevereiro de 1943, respectivamente) Era importante manifestar aos portugueses os fundamentos básicos no que se referia ao Espírito Santo, os quais sustentavam no novel Movimento do Espírito em crescimento a acção de mulheres e homens renovados. Em síntese, o famoso pastor sueco escreveu que a obra do Espírito Santo, como Espírito de Verdade, «consiste em declarar ao homem as coisas reais e dar-lhe completa compreensão da realidade» uma vez que é sua «a grande tarefa de revelar a


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Obviamente, o alvo deste pequeno livro, que agora vem à luz, não é o de responder a todas essas perguntas e a outras, porventura, de idêntica relevância e pertinência, mas pretende ser do ponto de vista teológico um pequeno contributo para lançar a reflexão e a discussão sobre o que se crê no Movimento Pentecostal nos dias actuais em Portugal. Desse ponto de vista, esperamos que este contributo possa ser o pontapé de saída para uma reflexão profícua sobre os cem anos de história pentecostal entre nós e de desafio para o que o futuro nos reserva. Abordaremos no nosso estudo, em essência, a importância do baptismo com o Espírito Santo, a actuação dos dons espirituais nas comunidades cristãs dos nossos dias (obviamente que sabemos que os carismas do Espírito não se limitam aos nove descritos por Paulo

Verdade ao homem (…) porque Ele é a Verdade». A acção do Espírito Santo é permanente, ao longo da História, e não fora ela o homem estaria condenado a viver na mentira. E fá-lo lembrando as palavras de Jesus Cristo: «Eu sou a verdade.» Portanto, «quando o Espírito Santo vem, a sua primeira obra é levar a verdade ao coração do homem.» E chamando a atenção dos cépticos, que apenas admitiam a intervenção do Espírito Santo no processo do novo nascimento e não a vivência do Pentecostes, dizia que o homem, «depois de ter nascido de novo, pode receber a plenitude do Espírito» como a receberam os discípulos no dia de Pentecostes. A Tage Stählberg coube a «defesa da honra e do bom nome» dos pentecostais que, à época, se confundiam com as Assembleias de Deus, e em relação aos quais se afirmava que eram uma seita e estavam em oposição aos outros crentes. No que agora interessa, para marcar os tempos primórdios da afirmação pentecostal, o missionário sueco, que estava na liderança do Movimento em Portugal, escreveu A verdade de Deus e o pentecostalismo em Novas de… Alegria, nºs. 6, 7, 8, 9, 10, 11, 13, 14 e 15, respectivamente de Junho, Julho, Agosto, Setembro, Outubro e Novembro de 1943 e Janeiro, Fevereiro e Março de 1944, querendo evidenciar, para que não restassem dúvidas, que não eram apenas as Assembleias de Deus que esperavam ver o cumprimento da promessa de Jesus, como no dia de Pentecostes, mas todos quantos ensinavam e esperavam, no tempo presente, «ver todos os dons como nos dias da Igreja primitiva» como já «temos visto e vemos frequentemente». Esta realidade vivida no seio das Assembleias de Deus alentava à busca do baptismo com o Espírito Santo e de «todos os dons». Muitos, por causa da acentuação dessa parte da mensagem Bíblica — o baptismo com o Espírito Santo —, no início, não quiseram qualquer relacionamento com os pentecostais, que consideravam «uma seita». Não muito depois da publicação desses artigos, Novas de Alegria voltou directamente ao tema e publicou É o Movimento pentecostal uma seita?, pergunta a que o articulista dinamarquês, pastor Sigurd Björner, antigo oficial do exército, cuja conversão impressionou a alta sociedade, respondeu, mostrando que «o alvo do Movimento Pentecostal é


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na I Carta aos Coríntios, mas foi sobre esses que resolvemos meditar em particular) e, por fim, como é que a ênfase pentecostal pode e deve ser vivida no culto. Estou certo que este Movimento do Espírito Santo — os dons espirituais em acção e o culto pentecostal não é uma obra acabada, nem tem esse propósito, mas será sem dúvida um contributo para, depois de termos celebrado o centenário, fazer uma avaliação das nossas crenças e nos desafiar à reflexão sobre a importância da acção do Espírito Santo em todas as dimensões da vivência colectiva. Ao escrevê-lo, o meu propósito não é atacar quem quer que seja, nem sequer salientar as diferenças que possam existir dentro do pentecostalismo português hodierno, mas — isso sim — animar e desafiar cada crente e, especialmente, cada líder a dar (ou voltar a dar) ênfase ao poder do Espírito Santo sempre e em qualquer circunstância da vida das comunidades cristãs em que se integram. Como também é óbvio, a minha matriz assembleiana vai estar presente e nem tenho intenção de esconde-la pois faz parte da minha vivência e da minha história. Isso não me impedirá de manter o alvo desta obra que é chegar a todos os pentecostais como um instrumento útil para a reflexão e ensino comum em todas as comunidades. Quando, como aluno, ingressei na antiga Escola Bíblica Nacional das Assembleias de Deus, não imaginava o quão ignorante era em

pecadores salvos» e correspondia, à época, a «uma das mais fortes reacções históricas contra um cristianismo sem vida», conduzindo os salvos a uma «individual e real experiência das verdades fundamentais do cristianismo bíblico», em que se incluía o «expulsar demónios e a cura dos doentes» por ser parte do Evangelho, não crido nem praticado pelos que hostilizavam o Movimento Pentecostal, bem como a pregação acerca da volta de Jesus que «voltará, mas não como Redentor e Carregador do pecado, mas como Imperador e Rei». A resposta era obviamente negativa pois o «reavivamento que anuncia Jesus como crucificado, morto, ressuscitado e ascendido, como o que dá o Espírito Santo, como o grande misericordioso Médico e como Rei Todo-poderoso, que virá para fazer tudo bem e restaurar tudo o que o diabo destruiu durante os séculos em que foi o Príncipe deste mundo» não podia corresponder a algo amputado ou cortado da videira verdadeira! Na verdade, dizia, «o Movimento Pentecostal é o cristianismo primitivo revivificado.» (Cf. NA, Ano IV, nº 37, Janeiro de 1946, pág. 7 e nº 38, Fevereiro de 1946, pág. 11)


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relação aos dons do Espírito Santo e ao ministério do Espírito Santo (apesar de ter crescido numa Igreja pentecostal e ser baptizado no Espírito Santo). Na realidade, pouco ou nada sabia sobre a acção do Espírito Santo, o que eram os carismas do Espírito e quão importantes eles eram para a vida da Igreja local. Ao estudar, em especial, os Fundamentos Pentecostais, a minha vida e a minha visão da Igreja local foram profundamente transformadas, até ao momento presente, e por isso resolvi escrever Movimento do Espírito Santo — os dons espirituais em acção e o culto pentecostal, também com o alvo específico de contribuir para ajudar muitos crentes a aceitar ser desafiados, tal qual eu fui, para uma maior dependência e entrega ao ministério do Espírito Santo. Quero deixar uma palavra de aplauso e gratidão aos professores daquela Escola que me abriram os olhos e me transmitiram a paixão para o ministério do Espírito. Nesse lugar, prometi a mim mesmo que, por onde passasse, servindo a Deus, ensinaria a Igreja local sobre estes assuntos e é também o resultado desse ensino que partilho com os leitores nesta obra. Ao olhar para muitas das comunidades ditas pentecostais parece-me que algumas são nominalmente pentecostais, não de vivência prática da acção do Espírito de Deus. É minha oração que a leitura deste Movimento do Espírito Santo — os dons espirituais em acção e o culto pentecostal possa trazer aos que nelas partilham a vida cristã um novo ânimo, um novo fôlego e um novo desejo de aprofundar a dependência do Espírito Santo e a busca do seu poder. E também (porque não?) que possa ser um instrumento de pregação e manual de estudo, seja na Escola Bíblica dominical ou nos cultos de estudo bíblico, ou em alguma escola bíblica local; e possa ainda ser usado por cada pastor, obreiro local, professor da Escola Dominical e cooperador para levar o fogo da mensagem pentecostal a outros. Oro também para que este Movimento do Espírito Santo — os dons espirituais em acção e o culto pentecostal possa servir para restabelecer e reforçar laços, contribuindo para o esforço de maior


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unidade teológica dentro do pentecostalismo na nossa nação e entre aqueles que falam a língua de Camões. O desejo da minha alma, em relação a todos os amados leitores, expresso-o dizendo que «precisamos de um avivamento do Céu que nos torne crentes mais puros de coração, mais firmes na fé, mais ardorosos no espírito, mais obedientes à Palavra do Senhor, mais zelosos na busca dos melhores dons, mais humildes e reverentes na presença do Criador, mais cheios do amor divino, esse amor “que tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”, afinal o caminho mais excelente»2 e deixando o desafio de que «não vos embriagueis com vinho em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito.» (Efésios 5.18) Paris, 2015

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Fernando Martinez, A experiência do Pentecostes, Novas de Alegria, Ano 49, nº 556, Maio de 1989, pág. 3.


O MOVIMENTO DO ESPÍRITO SANTO NA HISTÓRIA

A presença e acção do Espírito Santo são notórias, marcantes e de fundamental importância em toda a revelação Bíblica. Vemos que, logo no começo, a Bíblia nos fala na presença do Espírito Santo: «E o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas.» (Gn 1:2) Da mesma forma, uma das últimas expressões da Palavra de Deus mostra-nos a operação do Espírito Santo: «O Espírito e a noiva dizem: Vem.» (Ap 22:17)

ALGUNS EXEMPLOS DE MANIFESTAÇÕES DO ESPÍRITO SANTO NO ANTIGO TESTAMENTO O Espírito Santo manifestava-se claramente no período referente ao Antigo Testamento. No que se refere, em particular, aos nove dons do Espírito Santo referidos na I Carta de Paulo aos Coríntios, podemos dizer que, no Antigo Testamento, com excepção do dom de variedade de línguas e o dom de interpretação das mesmas, todos os dons são visíveis, abundantemente. A grande diferença está na presença do Espírito Santo na vida dos personagens bíblicos e na dimensão da acção do Espírito através dos


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servos de Deus. O Antigo Testamento revela-nos que a acção do Espírito, através dos homens, era esporádica e limitada a alguns escolhidos. O Espírito não vinha, por norma, fazer morada constante na vida dos homens de Deus no Antigo Testamento; antes nos parece que se manifestava quando havia um objectivo específico, mas não permanecia habitando nas pessoas que usava. Já no Novo Testamento temos uma verdadeira mudança de paradigma porque, além de usar os crentes em múltiplas e distintas situações, o Espírito Santo faz morada permanente nos crentes, nos salvos, tornando-os a sua habitação, o seu templo.3 Observemos alguns exemplos dessa acção do Espírito Santo no Antigo Testamento, para a compreender melhor. → MOISÉS E OS SETENTA ANCIÃOS DO POVO (NÚMEROS 11:25)

Temos aqui um exemplo claro, que queremos enfatizar. Moisés, o servo do Senhor, apresenta a dificuldade de continuar a exercer o seu ministério sozinho, ao que o Senhor responde que levantará mais setenta homens para o ajudarem e que colocará sobre esses novos colaboradores o Espírito que estava sobre a sua própria vida, que, embora prodigioso, era algo efémero, passageiro, não permanente: «Então o Senhor desceu na nuvem, e lhe falou, e tirou do Espírito que estava sobre ele, e o pôs sobre aqueles setenta anciãos. Quando o Espírito repousou sobre eles, profetizaram, porém nunca mais voltaram a faze-lo.»

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No sentido do texto, separando o tempo de Deus em Dispensações, o pastor Alfredo Rosendo Machado escreveu o seguinte: «Na antiga Dispensação o Espírito Santo operava sobre os crentes, mas não habitava neles nem neles permanecia. Aparecia aos homens, mas não se encarnava no homem. A sua acção era intermitente; Ele ia e vinha, como a pomba que Noé enviou da Arca, que ia e voltava por não encontrar descanso para a planta do seu pé. Na nova Dispensação, porém, mora permanente no coração, tal como a pomba, seu símbolo, que João viu pousar sobre a cabeça de Jesus. Sendo Ele prometido à alma, o Espírito vinha com frequência ver a sua desposada; todavia, não se pode dizer que era um com ele; o matrimónio não foi consumado até ao dia de Pentecostes, depois de Jesus ter sido glorificado (Jo. 7.39b).» (Cf. Jóias brihantes do Espírito Santo, pág. 22, Pró-Luz Editora, Torre da Marinha, 1ª edição, 2005.


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Vemos neste episódio que o Espírito de Deus baixou sobre aqueles homens e os usou. O poder de Deus baixou de tal maneira que eles tiveram de o exteriorizar, de deixar que o Espírito de Deus tomasse o controlo e, quando isso aconteceu, o texto bíblico diz que todos eles foram usados em profecia. Já no Antigo Testamento o Senhor queria ensinar que o seu Espírito é infinito, que pode manifestar-se abundantemente na vida de todos os seus servos, não está limitado e o seu poder e autoridade chega para todos. No entanto, o texto acrescenta algo de grande relevância: «Porém nunca mais voltaram a fazê-lo.» Vemos que o Espírito de Deus podia manifestar-se e usar o homem, mas não na plenitude. O Espírito Santo usava-os em casos específicos, não em todo o momento e em qualquer circunstância. Só o fizeram naquele momento. Nunca mais o puderam fazer. Nunca mais o Espírito se manifestou naquelas vidas, através da profecia e naquela dimensão espiritual. → SANSÃO E A ACÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NA SUA VIDA (JUÍZES 14:19)

Sansão é mais um exemplo da acção «limitada» do Espírito Santo na antiga aliança. O texto bíblico revela-nos que o Espírito Santo tomava conta da vida de Sansão sempre que desejava revelar algo ou manifestar o seu poder, mas depois «saía» da vida do juiz: «Então o Espírito do Senhor se apossou dele de tal maneira que desceu aos ascalonitas, matou deles trinta homens, tomou as suas vestes, e deu-as aos que declararam o enigma.» O texto dá a entender, mais uma vez, que o Espírito de Deus se manifestava com um objectivo específico. O Espírito de Deus baixou sobre Sansão, naquela ocasião, com poder. Não temos qualquer dúvida que o que acontecia com Sansão era uma manifestação do Espírito Santo — uma Operação de Maravilhas — mas esse apossamento de Sansão pelo Espírito era temporário até que o propósito divino fosse cumprido.


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Ou seja, esse poder sobrenatural era sempre manifestado com um propósito, com um alvo específico, para um determinado momento. → O REI SAUL (I SAMUEL 10:10)

Com o rei Saul sucede algo semelhante no começo do seu reinado e, para confirmar a escolha de Deus e a sua bênção sobre a vida do rei, a Bíblia relata-nos esta experiência de «submersão» no Espírito: «Espírito do Senhor se apoderou de Saul e ele profetizou no meio deles.» Saul, logo depois de ter sido ungido rei, depois de Samuel lhe ter declarado que tinha sido o escolhido do Senhor, foi tomado pelo Espírito do Senhor e profetizou. Foi a confirmação de Deus, que o tinha escolhido e iria estar com ele, dando-lhe graça e sabedoria. → O REI DAVID (I SAMUEL 16:13)

Com o rei David parece que temos um vislumbre daquilo que o Senhor queria fazer com o seu povo na nova aliança. A Bíblia informa que, quando Samuel o ungiu como o novo rei de Israel, o Espírito Santo se apoderou da vida de David. Parece que o texto quer dizer que aquela condição de David se tornou permanente: «Assim tomou Samuel o vaso de azeite, e ungiu-o no meio de seus irmãos, e daquele dia em diante o Espírito do Senhor se apoderou de David.»

AS PROFECIAS DO ANTIGO TESTAMENTO SOBRE O FUTURO DERRAMAMENTO ABUNDANTE DO ESPÍRITO SANTO O profeta Isaías foi profícuo no anúncio do abundante derramamento do Espírito Santo nos dias vindouros. Observemos alguns exemplos:


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«Derramarei água sobre o sedento, e torrentes sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade, e a minha bênção sobre os teus descendentes.» (Isaías 44:3) A profecia é clara: num tempo futuro, o Senhor derramaria sobre o povo o seu Espírito Santo e faria isso de forma abundante, porque as imagens usadas pelo profeta são as do sedento e da terra seca que, obviamente, seriam saciados pelo abundante derramamento do Espírito Santo. A mesma verdade é enfatizada neste outro texto de Isaías. E ideia é que o Espírito seria derramado lá do alto. Se seria derramado é porque até ali isso ainda não tinha ocorrido; porém, num futuro próximo, o Senhor cumpriria a sua promessa. Esse derramamento do Espírito seria tão abundante que o deserto se transformaria num campo de grande fertilidade, produzindo vida e abundante mantimento. Foi exactamente isso que o Espírito Santo veio operar: «Até que se derrame sobre nós o Espírito lá do alto, e o deserto se torne em campo fértil, e o campo fértil seja tido por bosque.» (Isaías 32:15) Também o profeta Ezequiel anunciou a chegada de um tempo em que a acção do Espírito seria diferente: «Então eu lhes darei um mesmo coração, e um espírito novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne, para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os executem; eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus.» (Ezequiel 11:19-20) Aquilo que devemos sublinhar é a informação que o profeta dá: o Senhor colocaria dentro do seu povo o seu Espírito, o qual passaria a viver e a agir nos escolhidos. Esta é uma verdade transformadora — Deus realmente quer pôr o seu Espírito Santo dentro de nós. No acto da salvação, o seu Espírito vem à nossa vida e dá-nos um novo coração, uma nova vida. Mas a obra do Espírito não fica por aí — é através do baptismo no Espírito Santo que o Senhor revoluciona a vida dos salvos e os


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capacita «para que andem nos meus estatutos», ou seja, a conformar-se e viver de acordo com os seus mandamentos. O texto mais conhecido no Antigo Testamento e usado pelos pentecostais talvez seja a profecia de Joel: «E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até sobre os servos e as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias.» (Joel 2.28-29) Esta promessa de Deus foi feita pela boca de Joel, muito provavelmente 770 anos antes do Pentecostes e do começo da chamada «Era do Espírito». Encontramos neste texto algumas verdades fundamentais que desejamos destacar: Em primeiro lugar, temos a promessa de que esta experiência seria universal, ou seja, nenhum ser humano dela devia sentir-se excluído: «Derramarei o meu Espírito sobre toda a carne.» O profeta quer com isto dizer que essa experiência, conhecida hoje por Pentecostes, revelar-se-ia abundante em contraste com a forma limitada como era revelada no Antigo Testamento. Uma outra verdade presente é que a promessa não seria limitada ao povo de Israel, como tinha sido até aí, antes seria um derramamento a nível universal. Além disso, esse novo tempo espiritual seria sem igual porque não se faria qualquer distinção de raça, cultura, género ou posição social. Tal como a chuva cai sobre a face da terra, para todos os homens em todos os lugares, assim seria o derramamento do Espírito Santo Em segundo lugar, o profeta diz: «Vossos filhos e as vossas filhas profetizarão»; ou seja, as barreiras do género e da idade seriam definitivamente abolidas na esfera espiritual, não haveria mais distinção de homem, mulher ou idade entre os beneficiários da promessa. A manifestação do poder de Deus é para todos: «Vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões.» Todos têm direito a receber de Deus essa promessa e Ele quer revelar-se a todos.4


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Por fim, o Pentecostes destruiria um outro paradigma civilizacional, pois o Espírito Santo não faria distinção entre escravos e livres, entre ricos e pobres, entre fracos e poderosos: «Até sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito.» De acordo com o profeta, o Senhor não faria acepção de pessoas e até para os escravos, que eram considerados seres humanos desprezados, o dom de Deus estaria disponível e acessível. Para os Judeus isso era inconcebível, impensável, mas Deus não faz, efectivamente, distinções.

PROFECIAS NO NOVO TESTAMENTO SOBRE O DERRAMAMENTO DO ESPÍRITO SANTO O último dos profetas da antiga aliança, João Baptista, fez uma declaração profética fantástica: «(…) Eu na verdade vos baptizo com água, mas vem o que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias; ele vos baptizará com o Espírito Santo e com fogo.» (Lucas 3:16) Depois de cerca de quatrocentos anos de reiterado silêncio profético, João Baptista surgiu com uma forte mensagem profética, voltada para o Messias vindouro; uma das declarações mais poderosas que deixou é sobre o facto de que o Messias baptizaria os seus segui-

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De facto, Deus «deseja manifestar o seu poder no mundo espiritual» à semelhança do que acontece na natureza. Desta maneira, «a manifestação do Espírito (…) agora é dada a cada um, para o que for útil». Há, porém, os que entendem que nada do que tem a ver com a manifestação desse poder na vida de cada um não é «para o nosso tempo». Como veremos no desenvolvimento do estudo, todo o ensino do Novo Testamento é para os dias que chamamos Hoje. Deus tem mostrado, no decorrer da história da Igreja, e sempre que os homens crêem e confiam n’Ele, que o Espírito operou, pode e quer operar nos dias presentes. Sustentar o contrário, representa ceder às pretensões de Satanás que teme e, por isso, quer que se ignore o poder de Deus. Os dons espirituais em acção são sinal da disponibilidade dos crentes para fazer, na obra de Deus, o «que for útil», permitindo que o Espírito Santo opere todas as coisas, repartindo tais dons «a cada um como quer». (Cf. Dons Espirituais Para Todos, Novas de Alegria, Ano XXVI, nº 305, Maio de 1968, pág. 63)


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dores com o Espírito Santo e com fogo. Um novo tempo estava às portas e o fogo de Deus iria incendiar o seu povo. Mas, sem dúvida, o mais importante sobre este assunto vem dos lábios do próprio Senhor que, entre as muitas coisas que ensinou sobre a Pessoa e obra do Espírito Santo, prometeu que enviaria a promessa do Pai, que era o revestimento de poder por acção do Espírito Santo: «E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.» (Lucas 24:49) É extraordinário verificar que as últimas palavras de Jesus aos discípulos foram relacionadas com o revestimento de poder, com a vinda do Espírito Santo, e como era importante eles aguardarem o cumprimento dessa promessa do Pai. Jesus recordou que o Pai tinha feito uma promessa — como vimos em várias profecias do Antigo Testamento — a qual seria cumprida, brevemente; essa promessa tinha grande importância e estava centrada num revestimento de poder sobrenatural, numa capacitação divina para realizar a obra de Deus: «Mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo.» (Actos 1:8) O evangelista Lucas compreendeu a importância de tal promessa que terminou o seu evangelho referindo-a e iniciou o relato do começo da Igreja, no livro de Actos, enfatizando novamente estas últimas palavras de Jesus aos seus discípulos. Sem dúvida, porque esse revestimento de poder era de grande e fundamental importância, os apóstolos não poderiam avançar na sua missão nem concretizar a sua tarefa sem ele.

FACTORES ESSENCIAIS PARA O CUMPRIMENTO DA PROMESSA Antes de salientar três factores essenciais, para que a promessa se cumprisse, não é demais voltar a sublinhar que a vinda do Espírito


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Santo é um acto absolutamente gracioso de Deus, que dá o Espírito Santo como acto de amor e bondade: «Considerando que a vinda do Espírito é um dom gracioso de Deus, a resposta humana apropriada é recebe-lo.»5 A promessa cumpriu-se em razão de três factores preponderantes: Primeiro, era a promessa do Pai. «Eu vos envio a promessa do meu Pai.» (Lucas 24.29); « (…) Não saiam de Jerusalém, mas esperem pela promessa de meu Pai.» (Actos 1.4) A vinda do Espírito Santo era uma promessa do Pai e o fundamento para o seu envio era o cumprimento dessa promessa. Pelas narrativas de Actos fica evidente que a vinda do Espírito Santo é uma ocorrência permanente, ou seja, a promessa não está de forma alguma limitada ao espaço e ao tempo dos discípulos reunidos no Cenáculo; na verdade, não estaria limitada ao grupo original de discípulos, pois aconteceria num número ilimitado de vezes no decorrer da expansão da Igreja de Jesus e, por isso, «podemos adequadamente afirmar que a mesma promessa do Pai permanece através dos tempos. As palavras de Jesus, conforme registadas em Lucas e Actos; a mensagem de Pedro de que a promessa é para as gerações futuras; as várias ocorrências que se seguiram em Actos; as muitas referências nas Epístolas — todos esses factos são evidências de uma promessa continua.»6-7

5 6 7

Williams, Rodmam. Teologia Sistemática — Uma perspectiva pentecostal, Vida, São Paulo, 2011, pág. 511 Ibidem, pág. 514 No debate sobre A verdade de Deus e o pentecostalismo, Tage Stählberg sustentou a continuidade do cumprimento da promessa em relação aos que crêem, tirando o argumento aos que queriam limitá-la ao dia de Pentecostes: « (…) temos encontrado muitos irmãos na fé, que durante anos, como Abraão, não duvidaram da promessa de Deus por incredulidade, mas foram fortalecidos na fé e, por fim, receberam esta experiência. (…) É verdade que o Espírito Santo foi derramado UMA VEZ PARA SEMPRE no dia de Pentecostes. Mas não se confunda este «uma vez para sempre» com «uma vez para nunca mais» porque a Igreja não absorveu


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Segundo, a exaltação de Jesus. O Espírito Santo foi enviado como consequência da exaltação de Jesus. Após a sua ressurreição, Jesus ascendeu aos Céus, sentou-se à direita do Pai, num lugar de exaltação absoluta, e enviou o Espírito Santo. Jesus tinha dito que seria Ele a enviar a promessa do Pai, mas que, para isso, era necessário que voltasse ao seu lugar de glória. Pedro anunciou: «Exaltado à direita de Deus, ele (Jesus) (…) o derramou (o Espírito Santo).» (Actos 2.33) E «João escreveu: “Até então o Espírito ainda não tinha sido dado, pois Jesus ainda não fora glorificado.” (João 7.39) Considerando que a palavra “glorificado” no evangelho de João significa exaltado, essa declaração mostra que a exaltação de Jesus deve preceder a dádiva, isto é, a vinda do Espírito Santo.»8 Terceiro, Ele vem para os que experimentaram a salvação. O último factor fundamental para a vinda do Espírito Santo é a ocorrência da salvação. Aqueles que nascem de novo, que colocam a sua fé em Cristo e se arrependem dos seus pecados podem receber o Espírito Santo nas suas vidas. Assim, «no dia de Pentecostes, depois

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essa promessa e ela é sem medida. E como tão preciso é ter uma experiência PARTICULAR da Páscoa para ser salvo, também é preciso ter uma experiência PARTICULAR do Pentecostes para receber o Poder do Alto.» (NA, nº 8, Agosto de 1943, pág., 32) E, na demonstração dessa evidência, são muitos os relatos na história da Igreja nos seus quatro primeiros séculos: Irineu, morto em 202, afirmou que «os perfeitos têm recebido o Espírito Santo e falam pelo Espírito todas as línguas, como também Paulo fez. Temos aqui muitos irmãos na Igreja que têm o dom da Profecia e falam em línguas…»; Orígenes, morto em 254, por seu lado disse: «Os cristãos fazem muitas curas, expulsam os demónios e predizem coisas futuras…»; Agostinho (354-430) escreveu: «Nós fazemos ainda o que os apóstolos faziam, que colocavam as mãos sobre os samaritanos chamando o Espírito Santo sobre eles pela imposição das mãos. Esperamos também que os convertidos falarão em novas línguas.» E «ainda mais tarde, no fim do século XII, os Valdenses criam na cura divina e entre os primitivos quacres, hernutes e huguenotes estavam os dons espirituais em uso e isto tão tarde como no século XVIII». (ver o citado artigo NA, nº 10, pág. 39, Outubro de 1943). Ademais, afirmou o afamado missionário sueco: «Dizemos e cremos que a doutrina dos Apóstolos nunca foi ligada a uma certa época da história da Igreja, mas dada à Igreja como regra para todos os séculos que ela peregrinar neste mundo.» (ver o citado artigo NA, nº 14, pág. 8, Fevereiro de 1944). Williams, Rodmam. Teologia Sistemática — Uma perspectiva pentecostal, Vida, São Paulo, 2011, pág. 514


MOVIMENTO DO ESPÍRITO SANTO

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que o Espírito Santo viera aos discípulos que o esperavam, Pedro afirmou que o mesmo dom do Espírito Santo foi prometido a todos que do mesmo modo se arrependessem e cressem.»9 A conversão a Cristo é então o fundamento para se poder receber, de seguida, a plenitude do Espírito Santo. O dom do Espírito Santo não era para a salvação, mas para os que já eram salvos. Todos os remidos podem receber o dom do Espírito Santo. Citando Rodman, «os Evangelhos, Actos e as Epístolas são da mesma opinião, ao afirmar que a vinda do Espírito Santo pressupõe a ocorrência da salvação (…).»10-11

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Williams, Rodmam. Teologia Sistemática — Uma perspectiva pentecostal, Vida, São Paulo, 2011, pág. 516 Ibidem, pág. 519. A resposta aos que diziam que o dom do Espírito Santo era necessário para alcançar a salvação ou qualquer um o podia receber, fosse qual fosse o seu estado espiritual, foi sempre consensual desde o primeiro escrito de Lewi Pethrus que afirmou não compreender o Espírito Santo quem é mundano, nunca nasceu de novo ou deixou-se apoderar pelo mundo e pelo ESPÍRITO que está nele — a mentira. Aliás, noutro texto (Condições para a experiência Pentecostal, NA, nº 21, Setembro de 1944, pág. 39-40) deixou bem claro que só aquele que nasceu de novo pode fruir dessa experiência porquanto é preciso crer no milagre (porque a experiência pentecostal é sobrenatural), que Jesus tenha o primeiro lugar na vida de quem a deseja, crer na revelação bíblica acerca do derramamento do Espírito Santo (crer nas Escrituras inspiradas é condição necessária e pelo «facto de muitos cristãos não crerem na Bíblia é uma das razões por que nunca obtêm a experiência pentecostal»), sentir necessidade do Espírito Santo para testemunhar de Cristo e perseverar na busca dessa experiência pentecostal. Do mesmo modo, Tage Stählberg (A verdade de Deus e o pentecostalismo, NA nº 6, Junho de 1943) assevera que «o baptismo com o Espírito Santo não se pode buscar nem receber sem anelar por pureza do pecado e iniquidade e procurar ter a (…) vida conforme o modelo contido na Bíblia e a imagem de Cristo». Nesse mesmo sentido, pode ler-se O Baptismo no Espírito Santo, Manuel Joaquim Fernandes, Avivamento, nº 7, pág. 22-23 («Como a salvação é oferecida a todos os homens e todos quantos crêem a experimentam, assim o baptismo do Espírito Santo é para todos os que crêem» e «(…) a evidência do baptismo no Espírito Santo é uma evidência sobrenatural.»); O Espírito Santo na Experiência Humana, J. do Cerro Guerreiro, Avivamento nº 23, pág. 4-6 («Para o crente que aceita Jesus como seu Salvador pessoal, segundo o Novo Testamento, há duas experiências distintas na sua conversão a Cristo: o novo nascimento e o baptismo do Espírito Santo. A primeira vem através do arrependimento; a segunda, por meio da oração e rendição total do crente ao Senhor.»); Doutrina do Espírito Santo, J. do Cerro Guerreiro, Avi vamento, nº 32, pág. 6-8 («Segundo a doutrina do Novo Testamento, todo o crente nascido de novo, o que já se arrependeu dos seus pecados e aceitou Jesus como seu Salvador, tem o


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EXPRESSÕES USADAS NAS ESCRITURAS PARA DESCREVER O PENTECOSTES A Bíblia usa pelo menos cinco expressões para descrever a vinda do Espírito Santo sobre os crentes. Passemos a observá-las, sucintamente: → DERRAMAR

O apóstolo Pedro, no dia de Pentecostes, quando descrevia para a multidão o que acabara de acontecer, referiu-se à experiência pentecostal como: «(Jesus) derramou isto que vós agora vedes e ouvis.». (Actos 2.33) Pedro fez uma citação directa do que profetizou Joel quando revelara as palavras do Senhor: «E depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne (…).» É de salientar a expressão «toda a carne». Isso «significa tanto homens como mulheres, jovens e velhos, mestres e servos. O Espírito de Deus já não viria apenas para alguns (como reis, sacerdotes e profetas), mas seria derramado até sobre o mais humilde dos servos.»12

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direito, por meio da expiação de Cristo, e receber também o baptismo do Espírito Santo, que é a confirmação ou selo divino de que tal pessoa foi salva pelo Senhor (Act. 2:39; Ef. 1:123). Só o crente nascido de novo tem o direito de receber o Espírito Santo (João 14:17); Baptismo no ESPÍRITO Santo, Elienai Cabral, Avivamento nº 34, pág. 48-50 (o autor responde à questão, afirmando o que o baptismo com o Espírito Santo não é a regeneração, não é o perdão dos pecados, não é o baptismo para arrependimento e não é o baptismo no Corpo de Cristo) e, ainda, O baptismo com o Espírito Santo, A.P. Vasconcelos, Avivamento, nº 65, pág. 5-7 («Uns crêem que o baptismo com o Espírito Santo é o novo nascimento. Outros crêem que a sua recepção dá-se quando recebemos o evangelho. Outros ainda crêem que é recebido no acto do baptismo nas águas, ao pronunciar-se a fórmula bíblica para este baptismo. (…) A nossa experiência no actual avivamento pentecostal é que Jesus baptiza com o Espírito Santo ao que crê antes e depois de baptizados nas águas, isto é, conforme a sua soberana vontade.») Williams, Rodmam. Teologia sistemática — Uma perspectiva pentecostal, Vida, São Paulo, 2011, pág. 520




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