Smart Women Know When to Say No Mulheres Inteligentes Sabem Quando Dizer Não Autor Kevin Leman
Impressão e Acabamento www.artipol.net
Direitos Reservados © Kevin Leman, 2008 © em Português para Letras d’Ouro, editores Publicado em Inglês sob o título Born to Win, por Revell, uma divisão de Baker Publishing Group, Grand Rapids, Michigan, 49516, USA. Todos os direitos reservados.
1ª Edição, Julho de 2011 ISBN 978-989-8215-26-0 Depósito Legal
Editores Letras d’Ouro, editores Tradução Maria Salomé Terraquente Preparação e Edição José Manuel Martins Revisão Lúcia Carrasqueiro Direcção de Arte e Design Pedro Martins
Letras d’Ouro, editores Sede Rua Quinta da Flamância, n.º 3, 3º Dt.º Casal do Marco 2840-030 Paio Pires, Portugal Tlm 914 847 055 Email livros@letrasdouro.com Web www.letrasdouro.com Blog letrasdouro.blogspot.com FB facebook.com/letrasdouro
Hannah Elizabeth
A sua pele de criança delicada, mimosa, suave e macia, sem defeitos ainda.
O pequeno corpo que ainda não experimentou vida — apenas nasceu. Mas esta é a Lei de Deus.
A inocência de uma criança, que todos devíamos ter, que nos devíamos empenhar em ter.
Uma criança inocente, nova aos olhos de Deus, conforme se aventura na experiência da vida.
Holly Leman, 14 anos
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Introdução
Conhece esta mulher? O seu lema de vida é manter a paz a qualquer custo. Esta é a mulher que dá um passo maior do que a perna. Responsável pelos fracassos e negligência das outras pessoas, podia ser uma benfeitora permanente porque é eficaz a livrar os outros das asneiras em que se metem. Ia gostar dela porque é uma excelente pessoa. Toda a gente gosta dela, uma vez que procura a harmonia e evita conflitos. Ri de uma piada mesmo quando não a entende. Parece que não se sente afectada quando a ofendem. É responsável por tudo. Se chover numa festa de família, a culpa é sua porque escolheu aquele local. Provavelmente, esta mulher é uma filha primogénita ou uma filha do meio. As outras pessoas reconhecem os seus pontos fracos. Sabem como pressionar os pontos certos. A maior parte dos dias, é movida por uma culpa monstruosa que dura uma semana de cada vez. Conduzida pela culpa que carrega pela vida fora, não sabe dizer não. Pergunto-lhe, novamente, conhece esta pessoa? Ela é a Mulher Amável e, nas próximas páginas, Mulheres Inteligentes Sabem
Quando Dizer Não vai ensinar esta mulher a desenvolver o seu poder «cognitivo». O que é que isto significa? Há algo de maravilhoso no
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ter uma personalidade amável e, certamente, não há nada de errado em querer agradar sempre aos outros. Sejamos honestos — o mundo seria um lugar bem melhor se tivéssemos mais pessoas que tentassem agradar aos outros. Mas a que custo para as Mulheres Amáveis e para aqueles a quem tentariam agradar? Talvez conheça esta mulher ou seja esta mulher. Mulheres
Inteligentes Sabem Quando Dizer Não é um livro escrito especificamente para si e para aqueles que a querem ajudar. Dessa mesma forma, este livro pode ajudá-la a tornar-se aquilo q que eu chamo uma Mulher Amável Positiva. Assim, pode dizer adeus ao seu 8
passado... àqueles dias em que costumava dizer sim quando na realidade queria dizer não.
1ª parte
Retrato da Mulher Amável
Como é esta mulher que quer ser amável? Ela é motivada pelo medo ou tem o complexo de Florence Nightingale?* É mau ser uma mulher amável? O agradar aos outros torna-nos necessariamente um capacho ou uma escrava à mercê de um controlador? Existem diferentes tipos de amabilidade? Como é que se tornou uma mulher amável? Acha que é genético, como os olhos azuis, ou aprendeu a sê-lo? Nos primeiros três capítulos, vai obter as respostas a estas perguntas assim como:
• O estilo de vida da mulher amável típica • Onde se encontra na Pirâmide das Mulheres Amáveis • Por que é que não é a palavra mais difícil que uma mulher amável tem de dizer
• As características-chave de todas as mulheres amáveis • Como é que as mulheres amáveis são treinadas desde a infância a serem «boas meninas» * Enfermeira britânica que recebeu a Cruz Vermelha Real pelo seu desempenho na Guerra da Crimeia e pela sua persistência, capacidade, compaixão e dedicação ao próximo, estabelecendo as directrizes para a enfermagem moderna. (N. do T.)
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• Como é que o «banco de amor» afecta os seus relacionamentos
• • • •
Que tipo de mulher amável é Por que é que a menina que foi um dia ainda se encontra em si Por que é que a relação com o seu pai é absolutamente crucial Por que é que não pode mudar a sua «essência», mas pode mudar
• Qual a ordem de nascimento com mais mulheres amáveis • Por que é que os membros mais novos da família são os menos prováveis de serem mulheres amáveis 10
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Que tipo de Mulher Amavél é? «Ela tenta fazer toda a gente feliz.»
Superficialmente, ela parece bastante confiante, mas, por trás daquele sorriso de «eu estou a trabalhar nisso», há uma mulher desmotivada. Não se sente à altura dos desafios que a vida lhe tem trazido e está no meu consultório para descobrir porquê. A sua história precede-a. É bem-sucedida como esposa, mãe e trabalhadora. Está sempre ocupada, bastante ocupada. O seu horário rivaliza com o do homem que se desloca no Air Force One. Parece que os seus filhos estão sempre envolvidos em todas as actividades e desportos e, por isso, ela também está. O marido? Ele também é um homem ocupado, mais ocupado do que ela. Trabalha das 7.30 às 21.45 e, às vezes, está tão cansado para comer que se estende no sofá a ver televisão. Claro que ela não diz nada, porque quando o faz, ele fica extremamente zangado.«Ele faz tudo por mim e pelas crianças», diz a si mesma. Esta mulher parece ter tudo. Então, «Por que é que estou tão deprimida? Por que é que os meus filhos não me ouvem? Por que é que não consigo dizer não? Eu até compro coisas que me impigem pelo telefone. Por que é que toda a gente se aproveita de mim? Esforço-me por agradar. Por que é que carrego o mundo às costas?»
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— Conte-me mais — peço-lhe, conhecendo já a resposta. E a história continua. Ela não é tão confiante quanto o seu fato de alta-costura, a sua cara bem maquilhada e as unhas e o cabelo arranjados sugerem. Tem tido um bom desempenho no seu emprego, mas não se sente assim tão bem quanto a isso. — Contradigo-me a mim mesma — diz penosamente. — Até duvido do meu sucesso quando o meu patrão me elogia. Sinto que devia ter feito melhor. Penso nas coisas novamente até descobrir as minhas falhas. Depois de sair do emprego, o seu número de malabarismo 12
continua. Corre para casa da mãe, onde as suas duas filhas a esperam depois de saírem da escola, e chega apressada. A mãe está sempre preocupada com a sua saúde, pois ela está a trabalhar demasiado. Como é que consegue cuidar da família e trabalhar tanto? Contudo, as filhas não estão muito preocupadas com o seu descanso. Na realidade, precisam que ela se apresse um pouco mais. Por que é que se atrasou novamente? O que vão jantar? Podem ver televisão até às 21:00? Vão ao Jardim Zoológico no sábado? A mãe arranjou o material para os disfarces para a sua festa? — Por vezes, sinto-me oprimida — admite. — Não acredito que vou ser capaz. Talvez a minha mãe tenha razão. Acho que não tenho o que é necessário para ter um bom casamento. Os meus amigos também não me parecem melhores, toda a gente se está a divorciar hoje em dia. — Como foi a sua infância, quando era menina? — pergunto e ela lembra-se de ter de acordar para a vida aos dez anos quando o pai se foi embora. — A minha mãe afastou-o — recorda. — Ele amava-me, sei que sim, mas não aguentou a pressão e, quando começou a beber, foi o
fim. A minha mãe disse que tinha de ir embora e ele foi. Depois disso, só o vi algumas vezes. Devia ter estado na minha festa de finalistas, mas algo aconteceu e… Conforme vai falando, o padrão mantém-se. Teve sempre boas notas e vinha para casa antes da hora de entrada estabelecida, tentou ajudar a sua mãe que nunca casou, mas tudo o que fazia nunca era suficientemente bom. — A minha mãe conseguia sempre deixar-me indecisa em relação ao que vestia e como parecia. Fazia-me compreender de uma forma ou outra que eu não estava bem. Tudo aquilo que eu podia aspirar era tropeçar num marido e, depois, nunca ter a certeza de que ele se manteria por perto. Obedientemente, tentou aprender todos os truques do ofício — como ser atraente, sexy e disponível. Essa era a única forma de algum dia vir a ser amada e, agora, ali estava ela a consultar-me porque o seu número de malabarismo estava a tornar-se cada vez mais difícil. Estava a sentir-se cada vez menos segura e confiante e a acreditar que a necessidade do marido de fazer horas extraordinárias nem sempre correspondia a uma necessidade financeira da família.
AS MULHERES AM˘VEIS T¯M MUITAS CATEGORIAS A mulher que eu descrevi é uma composição das várias pacientes que atendo semanalmente. Representa uma vasta variedade da espécie a que chamo «as amáveis»: podem ser solteiras, casadas, divorciadas, estar a pensar num segundo casamento ou terem casado uma segunda vez há pouco tempo e estarem novamente «numa situação má». Algumas livraram-se dos homens para sempre e estão
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a marinar na sua própria amargura, imaginando se algum dia virão a ser felizes. Independentemente da sua situação actual, todas estas mulheres querem saber por que é que as suas tentativas sinceras de agradar aos outros não agradaram a ninguém, especialmente a elas mesmas. As queixas são recorrentes: — Por que é que estão sempre a aborrecer-me? Estou sempre a tentar agradar-lhes e tudo o que oiço são disparates — dos meus filhos, do cão, da empregada do supermercado e, claro, do velho Harry, quando chega do trabalho. 14
— Por que é que não consigo dizer não? Deixo sempre os meus filhos vencer. Faço o peditório para a caridade, embora tenha sido sempre eu a fazê-lo nos últimos cinco anos, quando sei que há, pelo menos, três outras mulheres disponíveis na vizinhança que passam a vida no café ou a ver telenovelas. Sou sempre a presidente da Associação de Pais ou de alguma comissão na Igreja. Sou sempre eu quem compra três qualidades de bolachas diferentes aos Escuteiros ou algum tipo de doce para que a banda de alguma escola possa ir ao Havai. — Amo-o demasiado. Esta é uma das minhas deixas preferidas da mulher a quem chamo «Martha Luther» porque o seu objectivo de vida é reformar o seu marido: «Sabia que o Jim não era um bom partido. Ele bebia, não tinha um trabalho fixo e gostava de olhar para as outras — ainda gosta. Mas vi alguma coisa nele e quis trazer isso ao de cima. Neste momento, está a destruir-me por dentro, mas sei que algum dia vai mudar. Só tenho de tentar com mais empenho...» — Ele está a ter um caso... E depois de tudo o que fiz por ele. Ajudei-o a voltar à escola, criei os nossos quatro filhos sem qualquer
ajuda, mantive o seu jantar quente até ele chegar à noite e servi-lhe o café de manhã antes de sair de casa para se dedicar à sua carreira. Ele está concentrado — na Irene, na Alice e agora na Gerri... — Tenho de andar em sentido. E as crianças também, pois ele levanta a mão sem avisar. Grita e chama-nos nomes horríveis. Não é sempre assim. Às vezes, consegue ser encantador e até amoroso, mas, quando se sente pressionado no trabalho, sei que isso o afecta. Sei que consigo tocá-lo, tenho tanta sorte em estar com ele, mas posso perdê-lo... Efectivamente, a mulher amável está encurralada num casamento com um homem misógino — um homem que odeia mulheres. Ele pode abusar dela fisicamente, mas é mais provável que a ataque verbalmente e a ofenda de formas indescritíveis. A sua companheira amável sente-se ofendida pelos nomes obscenos que ele usou? Não, desculpa-o por ser uma «destrambelhada» ou uma «bruxa egoísta» que só pensa nela mesma.
AS MULHERES AM˘VEIS T¯M CERTAS CARACTER¸STICAS Como as situações descritas acima revelam, os problemas das mulheres amáveis variam, mas há elos comuns no seu contexto familiar. Eis algumas das características mais comuns à personalidade das mulheres amáveis: 1. Estas mulheres aprenderam a ser amáveis quando ainda eram meninas. As mulheres amáveis são, geralmente, perfecciistas, que foram bastante influenciadas pela pressão dos pais. Essa pressão pode ter sido activa e crítica («Por que
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é que nunca fazes nada bem?») ou pode ter sido um controlo passivo e subtil («Isso está bem, querida, mas eu vou fazer isso novamente. Um dia hás-de aprender.») 2. Geralmente, as mulheres amáveis vêm de famílias infelizes em que não tinham muita atenção, apoio ou amor dos seus pais. Com frequência, o seu pai saiu de casa cedo. Nunca aprenderam a relacionar-se com um homem numa base positiva e saudável e os seus casamentos anunciam desastre. Na maior parte dos casos, a relação do pai com a filha é 16
crucial. Este é um ponto que vou rever novamente ao longo deste livro. 3. As mulheres amáveis contentam-se com pequenas coisas. Não esperam muito da vida. Sentem-se frustradas, zangadas e deprimidas pela forma como são tratadas, mas sustentam a situação, pensando que podia ser pior. Não estão exactamente na mesma posição desgraçada em que a mulher do bêbado do bairro se encontra. Pelo menos, as suas vidas têm um padrão familiar tranquilo. Além disso, também não merecem mais do que têm, certo? 4. E isto conduz-nos à característica comum a todas as mulheres amáveis: baixa auto-estima. Muitas mulheres amáveis, especialmente aquelas que se encontram numa situação pior um grau abaixo ou acima, raramente sentem que valem alguma coisa, que são amadas, apreciadas ou que têm valor por si mesmas. Elas acreditam que têm de ganhar o seu valor e um preço e, por isso, estão sempre a tentar agradar. Outro
reflexo desta baixa auto-estima é o sentimento de que são sempre responsáveis. Estão sempre a desculpar-se. As mulheres amáveis sabem que «a culpa é delas». Se ao menos tivessem feito de outra maneira, se ao menos tivessem dito a coisa certa em vez da errada, então talvez toda a gente pudesse ter sido feliz. 5. Outra característica forte das mulheres amáveis é tentar manter toda a gente satisfeita. Tentam navegar cuidadosamente pelos oceanos da vida e acalmar as coisas para os outros a bordo. O seu lema é paz a qualquer preço e elas pagam-no com amor. 6. As mulheres amáveis sentem-se, geralmente, inferiores aos homens ou, pelo menos, têm uma necessidade de serem «boas meninas» para que o sexo oposto as aprove. Como os autores William Fezler e Eleanor Field indicaram na
Síndrome da Boa Menina, muitas mulheres cresceram num ambiente que as fez sentir não merecedoras ou, ligeiramente, inferiores «simplesmente porque são mulheres!» (itálico do autor).1 A «boa menina» trabalha bastante para ser obediente a figuras de autoridade, especialmente masculinas. Ela obedece «porque a crença de que as outras pessoas são melhores do que ela está inerente ao Síndrome da Boa
Menina. Isto cria um ciclo vicioso de frustração em que se sente não merecedora de valor porque os outros são melhores e acredita nisso porque se sente não merecedora de valor.»2
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O meu termo para essas figuras de autoridade masculina é controladores. Na minha prática, no meu consultório, aconselho muitas mulheres amáveis que casaram com controladores de um tipo ou de outro.
OS CONTROLADORES V¯M EM EMBALAGENS DIFERENTES Já falámos do controlador que é misógino — um homem que odeia mulheres, que mais do que controlar uma mulher, a domina 18
com um acesso constante de raiva, abuso e mudanças de humor. Ironicamente, arrepende-se com frequência das suas explosões, pede perdão e apregoa o seu amor imutável. A sua amável mulher não se deixa enganar com facilidade, mas tenta dizer a si mesma «Talvez lá no fundo ele sinta mesmo isso. Talvez ele possa mudar...» Outras mulheres amáveis têm maridos que se encaixam melhor na categoria «falhados dependentes». Os falhados dependentes controlam as suas mulheres através do sentimento de pena e do desejo de as ajudar. Os falhados dependentes acabam casados com as «Marthas Luther», que têm a certeza de poder transformar os seus maridos e trazer à superfície o seu lado melhor que eles têm escondido não se sabe muito bem onde. As mulheres casadas com misóginos e falhados são casos de estudo perfeitos para livros como Mulheres que Amam Demasiado (Robin Norwood) e Homens que Odeiam Mulheres e as Mulheres
que os Amam (Susan Forward e Joan Torres).3 As mulheres que amam demasiado, geralmente, estão a sofrer, pois a maior parte dos momentos que estão a viver são passados a falar sobre «ele». Desculpam o seu mau feitio, indiferença, e acham que as suas
ofensas são resultado de uma infância infeliz. Tentam ser terapeutas e lêem livros de auto-ajuda sublinhando as partes importantes para eles lerem. Outras mulheres estão casadas com controladores que abusam delas das formas mais subtis. Uma arma utilizada por muitos maridos é o controlo monetário. São sovinas na prosperidade e avarentos na pobreza. Por vezes, isto revela-se de formas estranhas. Lembro-me de uma esposa me contar que o marido costumava bater nas paredes da casa-de-banho quando ela ou as suas filhas usavam demasiada água ao tomar duche. Consigo distinguir quatro tipos de mulheres amáveis a interagir com o mundo dos controladores. Vamos analisar desde a mulher em verdadeiro sofrimento e problemas desesperantes até àquela que tem consciência de que dá mais do que recebe, mas suporta a situação porque acha «que é assim que as coisas são».
A Super Sofredora Suspeita ou tem mesmo a certeza de que o seu marido é misógino, um homem que odeia mulheres, que a controla com a sua raiva, abuso, ofensas e negligência. É raro usar armas físicas, mas os seus ataques verbais são mordazes, quase vis. A sua mulher faz tudo o que pode para o acalmar, para o fazer feliz, agradar-lhe, mas isso não está a funcionar. Quanto mais ela se desculpa, se rende e pede perdão, mais ele a trata como se fosse egoísta, pouco amorosa e estúpida. Está especializado em humilhá-la, especialmente à frente da família e amigos. Este tipo de relação é completamente negativa. A situação é desesperante e precisa de ajuda profissional.
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A Deprimida Casou com um homem que a controla com as suas fraquezas. Ela é carinhosa por natureza e está a tentar reproduzir na sua própria família o tipo de amor e carinho que não teve na infância. É uma «Martha Luther», que tenta reformar «Bill Bailey».* À sua maneira, é uma controladora de situações. Controla, indirectamente, fazendo tudo o que pode para agradar ao marido, enquanto tenta experimentar o amor e estabilidade que não conheceu em criança, de uma forma quase pecaminosa. Não se interessaria por um homem saudável ou normal, que a tratasse com amor e respeito, 20
se isso fosse enfadonho. Pelo contrário, prefere o «entusiasmo» de alguém distante, difícil de alcançar, alguém em quem não confia. Assim, trabalha o dobro para que a relação funcione. A esta parte, não acha tanta piada e sente-se ansiosa, preocupada e infeliz. Não está a funcionar, mas ela está obcecada, praticamente viciada neste homem e até o vai tolerar por algum tempo. Mas um dia as coisas não lhe vão parecer assim tão simples. Se não arranjar ajuda depressa, alguém vai ter de ceder, porque ela já cedeu tudo o que podia para aquela relação. As relações entre mulheres amáveis/controladores descritas, são aquilo a que os terapeutas chamam «patológicas» ou, em termos mais simples, doentias. Estas descrições podem não corresponder às suas circunstâncias. Não está nesse tipo de relação, mas, embora o seu barco não esteja a afundar-se, pode já ter alguns rombos. Talvez se identifique com as categorias seguintes.
* Comediante inglês contemporâneo. (N. do T.)
A Actriz (Exausta) A palavra «Actriz» descreve bem esta mulher. Por vezes, está fisicamente exausta, outras vezes mentalmente. O stress diário está a afectá-la, especialmente entre as 5:00 e as 19:00: aquilo a que chamo a «hora piranha», quando toda a gente parece querer o «colo da mãe». Ela gostava de ser mais respeitada pela sua família mais directa bem como pelos seus relacionamentos mais próximos. Toda a gente abusa dela, os filhos, o marido, os vendedores, os colegas, os outros pais da associação de pais, a igreja e outros. Toda a gente sabe que não consegue dizer não e não se atreve a defender-se, mesmo que queira. Gostava de fazer frente ao mundo, mas tem medo de ofender alguém e ser rotulada como agressiva, bruxa ou pior. No seu íntimo, está zangada e irritada, mas mantém uma cara alegre para o mundo, a maior parte do tempo.
A Ligeiramente Desencorajada Esta é a mulher que «se vai aguentando bem», mas ainda sente alguma ansiedade. Reconhece que está no mesmo patamar daqueles que nem sempre são tratados da forma mais justa e está a começar a ficar cansada disso. A sua vida não é tão agitada como a da Actriz, mas gostava de fazer algumas mudanças. Está interessada em fazer progressos no seu crescimento pessoal e na sua maturidade e anseia por uma vida melhor para si e para a sua família. Gostava de alterar as coisas em seu benefício e no deles. Ela gosta, verdadeiramente, de tomar conta dos outros e acarinhá-los, mas desejava ser amavelmente mais confiante e positiva, realmente segura de quem é e qual o seu papel na cultura «liberal» de hoje em dia.
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A Positiva As mulheres amáveis positivas estão focalizadas naquilo a que chamo a «visão equilibrada da vida». Elas gostam de quem são; gostam de cuidar dos outros e são carinhosas. Atingiram um bom equilíbrio entre o agradar às outras pessoas e o ter pessoas que as tratam com respeito e retribuem com um comportamento agradável. A Positiva pode ser: • assertiva sem ser desagradável • confiante sem ser arrogante 22
• cuidar de si própria sem se tornar egoísta Já ajudei muitas mulheres que julgavam ser mulheres amáveis Positivas, mas descobriram que estavam numa das outras três categorias. Um truque para saber se é uma mulher amável positiva é se põe as suas prioridades na ordem certa. A história seguinte é a de uma mulher que achava estar a agir da forma correcta. Todavia, acabou por se sentir desencorajada e magoada também.
A NADINE SEGUIU O SEU CAMINHO ATÉ QUE⁄ Nadine, uma atrevida e atraente morena de quarenta e três anos que lutava pelo seu sustento, era o exemplo clássico de uma mulher da velha escola que acreditava que o lugar da mulher era em casa e a casa de um homem o seu castelo. Ela permaneceu nesse castelo vinte e um dos seus vinte e dois anos de casamento. No último ano, mudou-se com a filha durante a separação que antecedeu o seu divórcio. É como as muitas outras mulheres amáveis que vêm ao
meu consultório porque cresceram com o pensamento de que «Assim que eu acabar a escola secundária, o meu único objectivo é encontrar um homem. Um curso superior também pode ser, mas o importante é encontrar um homem». Ela encontrou um. O Richard parecia enquadrar-se perfeitamente no molde. Queria que ela ficasse em casa e «criasse os filhos deles» e a Nadine saiu-se muito bem. Criou quatro filhos e, tal como outras mães que vejo no meu consultório, tomou como primeira prioridade as crianças e relegou o seu marido para segundo plano. As coisas começaram relativamente bem. O Richard e a Nadine pareciam dar-se e comunicar bem um com o outro, mas conforme ela foi tendo os seus filhos e lhes passou a despender mais tempo e atenção, o marido começou a achar que o seu negócio também exigia mais do seu tempo. Rapidamente, o Richard começou a ter menos energia ao final do dia para a esposa ou as crianças. Claro que a Nadine era uma super-mãe. Era sempre a primeira voluntária para a feira ou a angariação de alguma coisa. Na igreja, estava sempre disponível para dar a Escola Dominical.* Inevitavelmente, ambos foram crescendo em direcções diferentes. Começou a haver pouca comunicação entre eles, mas perante a comunidade era invejada pelas outras mulheres, que desejavam ter «uma família tão feliz» como ela. Viam-na como a mulher que tinha tudo. Ela própria também se via desta forma, até que descobriu as infidelidades do Richard, que tinham começado no sexto ano do seu casamento.
* É uma estrutura educacional de origem Protestante que ensina Bíblia e doutrina em cada igreja local. (N. do T.)
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— Como sempre, fui a última a saber — disse-me. — Não suspeitei de nada até que ele deixou de se preocupar em esconder o facto. Quando fez a sua descoberta, tendo inadvertidamente pegado na extensão do telefone quando ele falava com uma das suas «novas amigas», ficou destroçada. Todos aqueles anos, pensara que tinha estado a fazer «a coisa certa». Tinha desempenhado o seu dever. Tinha sido responsável e tinha confiado. Se o Richard não tivesse chegado ao ponto de já não ser discreto, ela teria continuado a pensar que o seu casamento estava bem indefinidamente. 24
Os seus quatro filhos já estavam criados e tinham saído de casa quando ela descobriu as traições. O choque foi estonteante e, com o ninho vazio, a Nadine não tinha nada por que lutar. Assim, partiu também. Quando me consultou, estava a trabalhar como empregada de uma loja de utilidades onde ganhava o ordenado mínimo. Nem ela nem o Richard tinham voltado a casar. A cara marcada e os seus grandes olhos azuis tinham adoptado a expressão de quem fora magoada e se tornara amarga. A sua história tinha sido exposta. A sua vida tinha sido totalmente injusta. Tinha jogado de acordo com as regras que acreditara serem as regras do jogo. Tinha feito o que toda a gente lhe dissera para fazer e onde é que isso a tinha levado?
A NADINE ERA AM˘VEL PARA TODA A GENTE MENOS PARA O RICHARD Quando sondei as prioridades da Nadine, de início, ela ficou ofendida. Em particular, não gostou da sugestão de que era errado
fazer dos seus filhos a sua primeira prioridade. Porém, depois de apenas algumas sessões, ela percebeu que se voltasse atrás, passaria mais tempo com o marido. Ela era uma mulher amável que passava demasiado tempo a agradar a toda a gente, mas nunca à pessoa com quem tinha casado. Admitiu que tinha tratado o Richard como se fosse um dos seus filhos. Nunca falei com ele, mas penso que se ele tivesse tido a palavra diria «Fui tratado abaixo dos meus filhos». Conforme fui conversando com ela, alguns factos foram reveladores: 1. Eles nunca tinham relações sexuais se a Nadine não tivesse a certeza de que as crianças estavam fora de casa ou completamente adormecidas; 2. As férias eram decididas pela vontade dos filhos; 3. A Nadine desautorizava o Richard em frente das crianças, com frequência inibindo o seu papel de macho sem o perceber; 4. Ela «deixava-se ir», mas nunca tomava a iniciativa ou dizia ao Richard que estava satisfeita sexualmente; 5. A relação sexual não era espontânea — o Richard tinha de ser paciente e esperar como um «bom menino». Vejo fins de relações como o deste casal a toda a hora e penso que isso é trágico, porque são desnecessárias. Eles tinham uma boa relação, mas não quiseram saber. Nadine, uma mulher amável, confessa que passou demasiado tempo com as coisas erradas. Pode pensar que estou a exagerar ao sugerir que as crianças eram a prioridade errada, mas eu não acho. Quando ela os colocou em primeiro lugar, relegando o marido para segundo, e, muitas vezes,
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para terceiro ou quarto consoante as suas actividades, só havia um cenário possível. Ela deixou que as suas prioridades saíssem da ordem correcta e pagou o preço. Claro que o Richard também teve culpa. As suas prioridades também se confundiram consoante foi tendo menos e menos atenção da Nadine. Aí, virou-se para os negócios e, depois, para outras mulheres que conhecia devido a responsabilidades profissionais. Não tenho uma forma melhor para descrever o que aconteceu com a Nadine e o Richard do que a analogia do «banco de amor» 26
usada pelo Dr. William Harley no seu prestimoso livro As Necessi-
dades Dele, as Necessidades Dela: Construindo um Casamento à Prova de Infidelidades. De acordo com o Dr. Harley, o «banco de amor» é um gravador mental/emocional, bem no íntimo de cada um de nós, que regista as experiências negativas e as positivas numa base diária de vinte e quatro horas. O «banco de amor» figurativo do Dr. Harley funciona num princípio de «depósitos» e «levantamentos» de uma certa quantia de «unidades de amor», dependendo do tipo de encontro que tem com a outra pessoa. Ele admite que este sistema não representa medidas científicas ou exactas, é, simplesmente, uma forma de olhar para as relações. O banco de amor funciona da seguinte forma: Depósitos
Levantamentos
+ 1 Encontro confortável
- 1 Encontro desconfortável
+ 2 Encontro agradável
- 2 Encontro desagradável
+ 3 Encontro bom
- 3 Encontro mau
+ 4 encontro fantástico
- 4 Encontro terrível, horroroso