O Pintinhas Azuis

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o PINTINHAS AZUIS

História de Ana Ferreira Ilustração de Maria João Fradique


Um dia, numa capoeira, onde viviam um galo e uma galinha, nasceram seis pintainhos no mesmo dia e à mesma hora. Os ovos eram do mesmo tamanho, da mesma cor e da mesma galinha, mas os pintainhos eram diferentes e havia um mais diferente que os outros… A todos a mãe galinha deu nomes: ao que tinha manchas castanhas chamou Julinho; à que era toda cinzentinha, Paulinha; ao acastanhado com o rabinho amarelo, Manelinho; ao amarelado, Carlitos; à que se vestia de branco, com manchas cinzentas, Joaninha; ao de penas amarelas, salpicadas de pintinhas azuis, Martim!

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Eles cresciam alegres, sob orientação da mãe. Eram amigos e brincavam com os pintainhos doutras capoeiras. Certa vez, quando corriam no terreiro, o Martim, que era sossegado e atencioso, adiantou-se ao grupo, feliz, de penas armadas, querendo debicar um grão de areia brilhante. Nessa altura, repararam nas pintinhas azuis que se destacavam das penas e o faziam diferente… Não se sabe se foi por causa do Martim


ter encontrado antes deles aquele grãozinho brilhante mas a partir daí viam-no apenas como o irmão das pintinhas azuis. Riam-se e zombavam dele, no início às escondidas, depois à descarada. Cada dia que passava, mais o Martim ficava triste com a atitude dos irmãos, que o deixavam sempre fora das brincadeiras… Em certa ocasião, a Paulinha, que se divertia a jogar à bola, pediu licença à mãe e dirigiu-se aos irmãos: – Julinho, Manelinho, Carlitos, Joaninha… vamos jogar à bola! Correram para junto dela, combinaram as regras, dividiram o campo… até que repararam no Martim, que, apesar de não ter sido chamado, se aproximou, desanimado, querendo participar do jogo. Mas a Paulinha, num piar irritado, exibindo as fartas penas cinzentas, disse: – Piu, piu, piu…Tu não, ó pintinhas azuis… Olhem, querem ver que o pintinhas ficou triste! Também queria jogar à bola… Como se pudesse fazer equipa connosco!

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Quanto mais olhavam para as pintinhas azuis do Martim, mais desdenhavam dele e se afastavam para a brincadeira. O Carlitos, com quem antes brincara nas folhas secas do chão, piando baixinho, como se falasse entre dentes, ia dizendo, olhando caprichoso para o irmão: – Não tem vergonha! Com aquelas pintinhas azuis queria fazer parte da minha equipa… A comidinha na capoeira era farta, viviam confortáveis e cresciam a olhos vistos, mostrando o esplendor das suas penas. O pior é que, para os irmãos, as pintinhas azuis do Martim eram motivo frequente de gargalhadas… Algumas vezes o Martim lamentava-se das suas pintinhas azuis, dizendo, aborrecido: – Riem-se de mim, não brincam comigo… só por causa destas minhas pintinhas azuis! Mas não reparam que somos todos diferentes! A Joaninha não tem manchas cinzentas? O Manelinho não tem rabo amarelo?! Procurava esquecer isso, pois gostava muito dos irmãos e das cores das penas deles. Mas não entendia por que o excluíam das brincadeiras e gozavam por causa das pintinhas azuis, que lhe brilhavam nas penas. A mãe tratava-os por igual, a todos achando bonitos e perfeitos, nas suas muitas diferenças, e repreendia–os quando, piando em coro a zombar, diziam: – Ó pintinhas azuis, ó pintinhas azuis…

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O que para eles fazia o Martim diferente era para a mãe um sinal de distinção, como o eram as manchinhas da Joaninha, o vestido cinzento da Paulinha… Todos tinham nascido dos ovos chocados por ela com tanto carinho!


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