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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS

09 DE JULHO DE 2014

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Juros do empréstimo pessoal estão maiores em julho

A taxa média de juros do empréstimo pessoal aumentou 0,07 ponto percentual no início de julho na comparação com igual período do mês anterior, mostra pesquisa divulgada hoje, dia 8, pela Fundação de Proteção de Defesa do Consumidor de São Paulo (Procon-SP). O levantamento, que apura taxas de sete instituições financeiras, mostra que os juros nessa modalidade passou de 5,54%, em junho, para 5,61% ao mês. A taxa média do cheque especial, por sua vez, manteve-se em 9,17%. De acordo com Cristina Martinussi, assessora técnica da fundação, as taxas estão seguindo a tendência da Selic, que é de estabilidade. “No caso do empréstimo pessoal, só teve esse aumento em função de uma única instituição que aumentou os juros nessa modalidade, de 6,49% para 6,99%. Isso refletiu esse pequeno aumento na taxa média”, explicou. Esse altafoi observada no Banco Santander. A pesquisa de taxas de juros foi efetuada em 2 de julho de 2014 e envolveu as seguintes instituições financeiras: Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, HSBC, Itaú, Safra e Santander. O levantamento considerou o período de 12 meses, tendo em vista que a taxa pode mudar em função do prazo do contrato. Os dados referemse às máximas pré-fixadas para clientes não preferenciais. Para o cheque especial foi considerado o período de 30 dias. A Caixa Econômica Federal é o banco que oferece as menores taxas de juros: 3,75% para empréstimo pessoal e 6,33% para cheque especial. O Santander apresenta as maiores taxas de juros: 6,99% para empréstimo pessoal e 10,89% para cheque especial. A taxa média equivalente ao ano resulta em 92,61% de juros no empréstimo pessoal e 186,67% no cheque especial. “É muito elevado. O consumidor tem que ficar muito atento e evitar essas linhas de crédito. Na situação em que ele realmente precise de empréstimo, deve verificar quais são as mais favoráveis”, sugeriu Cristina. Ela aponta como uma boa opção, por exemplo, os empréstimos consignados. “As taxas são mais atrativas do que as apontadas nesta pesquisa”, destacou.

Florianópolis tem a segunda cesta básica mais cara entre capitais do país Florianópolis teve a segunda cesta básica mais cara entre as capitais brasileiras em junho. De acordo com pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a capital catarinense registrou média de R$ 353,76 (0,98% de aumento em relação a maio) e ficou atrás apenas de São Paulo, que, mesmo em queda (-3,25%), apresentou o custo médio de R$ 354,63. Porto Alegre ficou como terceiro colocado, com R$ 351,36 (-4%). De acordo com as variações de preços de produtos da cesta básica nos últimos 12 meses, Florianópolis registrou aumento no feijão preto (22,93%), óleo de soja (2,18%), banana (12,52%), tomate (0,91%) e leite in natura (21,06%). O levantamento leva em conta 18 capitais do país. O preço da cesta básica diminuiu em 10 delas. As maiores quedas entre maio e junho foram registradas em Belo Horizonte (-7,33%), Campo Grande (4,55%), Porto Alegre (-4,00%) e São Paulo (-3,25%). Na contramão, as maiores altas partiram de Manaus (6,08%), João Pessoa (3,43%), Aracaju (2,45%), do Recife (1,53%). Os menores valores médios da cesta foram verificados 2


em Aracaju (R$ 247,64), Salvador (R$ 278,97) e João Pessoa (R$ 281,70). No mês passado, os recuos dos valores da cesta básica foram influenciados, principalmente, pela variação de preços de feijão, batata, óleo de soja, banana e tomate. Carne, leite e arroz ficaram mais caros na maioria das capitais. Nos últimos 12 meses - entre julho de 2013 e junho deste ano -, 16 cidades tiveram aumento na variação do preço da cesta básica, com destaque para Florianópolis (15,07%), Curitiba (12,84%) e Rio de Janeiro (10,79%). As retrações ocorreram em João Pessoa (-1,32%) e Aracaju (-0,17%).

Veja os preços das cestas e a variação entre maio e junho: São Paulo: R$ 354,63 (-3,25%) Florianópolis: R$ 353,76 (0,98%) Porto Alegre: R$ 351,36 (-4%) Vitória: R$ 345,98 (-1,92%) Rio de Janeiro: R$ 343,44 (-1,32%) Curitiba: R$ 332,30 (-2,61%) Manaus: R$ 332,15 (6,08%) Brasília: R$ 324,07 (-2,15%) Belo Horizonte: R$ 319,84 (-7,33%) Belém: R$ 318,46 (1,07%) Campo Grande: R$ 309,09 (-4,55%) Recife: R$ 307,44 (1,53%) Fortaleza: R$ 298,01 (-1,99%) Goiânia: R$ 295,12 (-0,56%) Natal: R$ 292,49 (1,18%) João Pessoa: R$ 281,70 (3,43%) Salvador: R$ 278,97 (0,52%) Aracaju: R$ 247,64 (2,45%)

Consumidor pode cancelar serviços de teles automaticamente a partir de hoje A partir desta terça-feira (8), empresas de telefonia, TV por assinatura e internet passam a seguir novas regras, que incluem a obrigação de permitir que o usuário cancele seu serviço sem ter de passar pelo atendimento de um funcionário da companhia. O novo regulamento da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que também traz mudanças sobre o vencimento dos créditos de celulares pré-pagos, já passou por um período de 120 dias de adaptação das teles. Com o cancelamento automático, o cliente pode solicitar o fim da contratação por meio da página da empresa na internet ou pela central de atendimento da empresa, em umas das opções do menu. De todas as regras tratadas pelo novo regulamento, essa é a de maior impacto para as empresas, que mantêm uma área específica para retenção de clientes em suas centrais. Em nota, o Sinditelebrasil, que representa as maiores empresas de telefonia do país, afirmou que o setor está promovendo, desde março, "profundas alterações em seus sistemas operacionais" para colocar as regras em prática, o que demandou treinar as áreas de operação, gestão e atendimento ao cliente. O presidente da Anatel, João Rezende, afirmou à Folha que a agência trabalhou com as empresas nesse período para auxiliar a implementação das mudanças, e que as companhias que deixarem de cumprir as novas normas sofrerão as "medidas cabíveis". "É difícil saber se o número de queixas vai aumentar ou diminuir", disse. "Recebemos 22 mil ligações por dia. Esperamos que elas [empresas] cumpram as medidas."

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Entre as novas regras, está ainda a obrigação de o callcenter retornar a ligação ao consumidor, caso a chamada caia durante atendimento. Também foi fixado um prazo mínimo de 30 dias para a validade dos créditos de telefones pré-pagos. Questionamentos sobre cobranças indevidas terão que ser respondidas dentro de até um mês. As ofertas de promoções também foram afetadas. A partir de agora, todas as que forem lançadas terão que ficar disponíveis para novos e atuais clientes. Outras mudanças, que exigem maior adaptação das empresas, entrarão em vigor a partir de março de 2015. É o caso, por exemplo, da disponibilização do contrato, de faturas antigas e de históricos de consumo detalhado pela internet; do acesso online aos protocolos de atendimento e gravações e da disponibilização, padronizada, dos preços por serviço, para facilitar a comparação dos produtos pelos usuários.

Governo estuda ajudar bens de capital, mas sem corte de taxa

O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Ricardo Schaefer, disse que o governo segue estudando medidas para ajudar os produtores de bens de capital, mas descartou que o 4


auxílio virá por meio de taxas de financiamento mais baixas que as atuais do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que variam de 4% a 6% ao ano. "O PSI já tem taxas competitivas e juros negativos. Acho que não é por esse caminho que vamos evoluir. Por enquanto, os debates estão dentro do governo", disse Schaefer. Segundo o secretário, um grupo de técnicos - formado por especialistas dos ministérios do Desenvolvimento e da Fazenda e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - trabalha no formato do programa de auxílio ao setor. Não há prazo para o programa ser lançado. Ao analisar a situação da produção industrial, que em maio amargou seu terceiro resultado negativo consecutivo, o secretário-executivo do Mdic afirmou que o Brasil sofre com contexto desfavorável internacional, sobretudo, com as dificuldades econômicas dos EUA, Europa, Argentina e Venezuela. "Creio que a nossa indústria nos últimos anos mostrou uma certa resiliência. O que estamos assistindo atualmente é um ajuste das economias dos Estados Unidos e da Europa, o que afetou as relações comerciais com o Brasil", disse Schaefer. O secretário negou ontem que haja atrasos nos pagamentos do governo a bancos privados para a linha de apoio à exportação Proex-Equalização. "Não há atrasos. Estamos fazendo um trabalho para melhorar a gestão dos recursos do Proex-Equalização. Existem muitos projetos de longo prazo e os recursos normalmente são alocados nesses projetos. Vários outros, com menor maturação, ficam de fora. O que queremos é não alocar eventualmente todo o recurso nesses projetos de longo prazo, para permitir a entrada de outros projetos", afirmou Schaefer. De acordo com ele, as exportações não estão sendo nem serão afetadas. Na edição de ontem do Valor, o colunista Sergio Leo informou que Ministério da Fazenda havia começado a atrasar o pagamento aos bancos referente ao Proex-Equalização e que as empresas estavam recebendo carta do Banco do Brasil, comunicando que, "por falta de orçamento", estavam suspensas as operações com a linha. Fontes do Tesouro Nacional disseram ontem que os pagamentos aos bancos estão em dia, mas confirmaram o envio da carta. Segundo as fontes, a suspensão de operações tinha como objetivo fazer um levantamento dos contratos realmente firmados pelas empresas.

Economia da Alemanha deve perder força nos próximos meses, nota OCDE PARIS - OCDE: Indicadores antecedentes apontam retomada na Índia e desaceleração na Alemanha Dow Jones Newswires de Paris. O crescimento econômico deve se fortalecer na Índia nos próximos meses, e desacelerar na Alemanha, de acordo com indicadores antecedentes divulgados nesta terça-feira pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Segundo a organização, o ritmo de atividade nas economias desenvolvidas permanecerá em torno dos níveis atuais e os grandes países em desenvolvimento darão uma contribuição menor para o crescimento mundial do que a observada nos anos que se seguiram à crise de 2008. Como resultado dessa combinação de fatores, é improvável que o crescimento global avance de forma significativa neste ano. A perspectiva para a Índia, contudo, parece ter melhorado com a eleição do primeiroministro NarendraModi, com uma plataforma de reformas que favorecem a atividade empresarialem maio, pelo segundo mês consecutivo, os indicadores antecedentes do país apontaram alta, um desdobramento que a OCDE considera como “um ponto de inflexão positivo”, em direção a um ritmo de expansão mais acelerado. Embora a OCDE tenha destacado que os indicadores antecedentes continuam apontando aceleração do crescimento nos próximos meses, o dado referente à Alemanha caiu pelo terceiro mês consecutivo, em um sinal de “perda de dinamismo” do país. A Alemanha foi a propulsora do pequeno crescimento na zona do euro no primeiro trimestre e, até o momento, há poucos sinais concretos de que outras grandes economias do bloco da moeda única, como França e Itália, consigam suprir esta lacuna, caso a maior economia europeia desacelere significativamente. Em maio, os indicadores antecedentes para o conjunto da zona do euro permaneceram em 100,6. O indicador seguiu estável para o Reino Unido e a França, acelerou-se para os Estados Unidos e a Itália, e recuou para o Canadá e o Japão. Entre os emergentes, China e Rússia tiveram um pequeno avanço em maio, enquanto o indicador para o Brasil recuoutodos, neste grupo, permanecem abaixo da linha de 100, o nível que indica crescimento em conformidade com a tendência histórica.

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Banco de investimento dos Brics está quase pronto, diz brasileiro O subsecretário para Assuntos Políticos do Itamaraty, José Alfredo Graça Lima, afirmou nesta terça-feira que os textos finais para a criação do banco de investimentos dos Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e do Arranjo Contingente de Reservas (ACR, uma espécie de fundo) estão "praticamente sacramentados" e passam agora apenas por revisão da área jurídica dos países-membros. A VI Cúpula dos Brics será realizada nos dias 14, 15 e 16 de julho em Fortaleza e em Brasília. Ao participar de coletiva de imprensa no Centro Aberto de Mídia da Copa, no Forte de Copacabana, o embaixador disse não prever dificuldades nesse sentido e destacou que os dois instrumentos são uma demonstração de que esses países não dependem das instituições internacionais. Ele revelou que o nome provisório da instituição financeira é Novo Banco de Desenvolvimento, mas que também está em discussão o nome Banco de Desenvolvimento dos Brics. Falta definir ainda, segundo Graça Lima, a sede do banco e também a presidência provisória. Os textos estão praticamente sacramentados. O que está pendente é a sede do banco, sendo que foi amplamente noticiado que Xangai concorre na frente, e a presidência rotativa. Não antecipo nenhuma dificuldade que não possa ser superada: tanto o banco quanto o arranjo de reservas já têm textos praticamente acabados — disse o embaixador. O banco será criado com capital de US$ 50 bilhões, podendo chegar a US$ 100 bilhões. Do capital inicial, cada membro responderá por US$ 10 bilhões. Essas cotas iguais, segundo o embaixador, são justamente para evitar uma influência maior de algum membro. Já o Arranjo Contingente de Reservas (ACR) terá US$ 100 bilhões. Ele funcionará como uma espécie de fundo no caso de crises no balanço de pagamentos de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Neste caso, a China terá uma contribuição maior, de US$ 41 bilhões, enquanto Brasil, Rússia e Índia vão responder por US$ 18 bilhões cada um. A África do Sul, por sua vez, fará aporte de US$ 5 bilhões. Graça Lima destacou que o banco e o fundo podem ser vistos como uma resposta à falta de reformas nas instituições multilaterais, mas que não são só isso. Ele explicou que esses novos instrumentos são como "instituições espelho" do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, embora não haja interesse em concorrer ou confrontar as instituições já existentes. Neste sentido, afirmou que seria um exagero falar em Bretton Woods do século XXI – encontro de líderes que culminou na criação do FMI e do Banco Mundial -, mas que a comparação não é absurda. O banco tem como objetivo financiar projetos de infraestrutura e sustentáveis dos cinco países-membros, mas também será aberto a outros países em desenvolvimento. As condições da liberação dos recursos para outros países, no entanto, ainda devem ser discutidas, segundo Graça Lima. Questionado sobre a falta de consenso em questões como candidatura a presidências do Banco Mundial e do FMI, Graça Lima reconheceu que há falta de consenso entre os países-membros dos Brics em alguns pontos, mas disse que isso não afeta o bloco. Segundo ele, os integrantes são países com potencial e que podem contribuir para uma nova ordem econômica e política internacional: É mais fácil dizer o que o Brics não é do que o que é. Não é uma organização multilateral, não é uma união aduaneira, tampouco uma área de livre comércio. Mas é um mecanismo de consulta entre os cinco países membros. Até hoje pode ser que haja dúvida sobre sua utilidade. Para que serve? O Brics serve para os países se conhecerem melhor. São países-baleia, com enorme potencial e que podem ter muitos benefícios e contribuir para uma nova ordem econômica e política internacional, servir como um polo, um elemento capaz de prover maior interdependência global. Ele citou ainda outras 30 áreas de colaboração entre os países do Brics, em áreas como comércio, energia e educação. Para o embaixador, é "um pouco excessivo fazer cobranças até certo ponto indevidas" sobre a falta de consenso e citou o fato de China e Rússia serem membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, enquanto os demais não são. Sua avaliação é de que isso não afeta a operacionalidade do bloco: É preciso ter um pouco de paciência e confiança de que o bom senso acabe no fim das contas prevalecendo e nós possamos realizar esse ideal de um mundo mais multipolar em que o Brics pode ser um elemento no mundo multipolar. O texto final da Cúpula está em revisão pelos negociadores dos cinco países em Brasília e deve ser concluído até sexta-feira para depois ser encaminhado aos ministros de Economia e presidentes de bancos centrais, que se reúnem em Fortaleza na segunda-feira. Na terça-feira, será o encontro dos chefes de Estados, que serão os responsáveis pela divulgação desse documento final do encontro. Segundo Graça Lima, são cerca de 50 parágrafos e é possível que a questão da Ucrânia seja citada no texto, tema sensível para a Rússia. A vertente mais visível do Brics tem sido a econômica financeira, (...), mas é evidente que existe a vertente política e não ignoram os acontecimentos da realidade. (...) Por isso é possível que haja menção à crise ucraniana. Minha suspeita informada é que venha em linha de manifestações pregressas. Os quatro países do Brics, com exceção da Rússia, se abstiveram da votação da ONU (sobre o referendo da Crimeia sobre a secessão da Ucrânia) — apontou. Foram confirmadas as presenças dos cinco chefes de Estado na cúpula de Fortaleza: o presidente da China, Xi Jinping, da Rússia, 6


Vladimir Putin, da África do Sul, Jacob Zuma, e o primeiro-ministro indiano, NarendraModi, além da presidente Dilma Rousseff. Putin e Zuma acompanham a final da Copa do Mundo no Maracanã, no domingo, ao lado de Dilma, e depois seguem para Fortaleza, enquanto os demais devem ir direto para a capital do Ceará. A cúpula será realizada nos dias 14 e 15 de julho em Fortaleza e depois continua em Brasília no dia 16. Neste dia, Modi tem um encontro particular com a presidente Dilma. E, à noite, começa a visita de Estado do presidente chinês, Xi Jinping, que se estende pelo dia 17. Está previsto um discurso de Jinping no Congresso Nacional e um encontro com os quatro países do quarteto da Comunidade de Estados Latino-americanos (CELAC) – Costa Rica, Cuba, Equador e São Vicente e Granadinas.

Atrasos nas usinas de Jirau e Santo Antônio geram prejuízo de R$ 1 bilhão Os atrasos nas entregas de 18 unidades de geração de energia das usinas de Santo Antônio e Jirau, ambas no rio Madeira, em Rondônia, causaram um prejuízo próximo de R$ 1 bilhão às distribuidoras no mês de maio. Caso a previsão para o início de operação dessas usinas se realize (em setembro), o prejuízo estimado será de R$ 5 bilhões. As usinas estão deixando de entregar cerca de 1.300 megawatts por hora e, como possuem liminares que as isentam de honrar os compromissos comerciais, as distribuidoras de energia precisam comprar esse volume, equivalente a US$ 1 bilhão, no mercado de curto prazo para compensar o deficit. As duas hidrelétricas foram as principais responsáveis pelo rombo de R$ 1,9 bilhão, em maio, que as distribuidoras terão de arcar no mercado de curto prazo.

É nesse mercado em que são contabilizadas as diferenças entre o volume de energia que as distribuidoras entregam aos consumidores e o que recebem das geradoras. Nessa situação, na qual o consumo supera o que elas recebem, as distribuidoras precisam cobrir a diferença. O restante do deficit de R$ 1,9 bilhão refere-se principalmente à chamada exposição involuntária, quando se encerraram contratos entre geradoras e 7


distribuidoras em 2013 e que não foram repostos nos leilões organizados pelo governo. Outros atrasos, nas linhas de transmissão que ligam parques eólicos aos centros consumidores, também têm influenciado no aumento do prejuízo das distribuidoras.

Previsão errada O início da operação das usinas do Madeira deveria ter sido em maio, segundo comentário do secretárioexecutivo do Ministério de Minas e Energia (MME), Márcio Zimmermann, em leilão realizado em 30 de abril deste ano. Ele disse que a conclusão das obras dessas usinas ajudaria a tapar o rombo das empresas. No entanto, as usinas atrasaram novamente -o cronograma original previa a entrega em março de 2014. Os consórcios responsáveis por Jirau (Energia Sustentável do Brasil) e Santo Antônio (Santo Antônio Energia) deveriam arcar com a perda bilionária, mas possuem liminares que os isentam das obrigações comerciais. Com isso, a conta sobra para as distribuidoras, que repassarão o custo às tarifas cobradas dos consumidores. O consórcio Energia Sustentável do Brasil afirma que um incêndio causou os atrasos, mas que a empresa tomou medidas para reduzilos. Santo Antônio Energia está em período de silêncio devido ao período de divulgação de balanços. Questionada sobre se alguma medida será tomada para reduzir os efeitos desses atrasos, a Aneel afirma que o rombo das distribuidoras diz respeito somente ao MME. Já o ministério disse que atrasos em usinas são de competência da agência. A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, que contabiliza o mercado de curto prazo, por sua vez, não fala sobre agentes do setor.

Marx, hoje Desde a crise econômica de 2008, voltamos a discutir as ideias de Marx. Relembro aqui texto que escrevi em 2007 com algumas adaptações: Marc Bloch, um dos maiores historiadores franceses, disse a um amigo, pouco antes de ser fuzilado pelos nazistas em 1944: "Eu também sou marxista, mas não tenho nenhuma necessidade de dizê-lo; sou marxista como sou cartesiano". Hoje somos todos "marxistas", exatamente como somos cartesianos, kantianos, weberianos, keynesianos, einsteinianos e assim por diante. Para qualquer animal inteligente na segunda década do século 21, Marx é necessário, mas não suficiente. Os dois gigantes que estavam em Marx, o teórico e o revolucionário vão pouco a pouco tomando distância entre si. De sua imensa obra teórica ficarão sólidos resíduos, incorporados definitivamente à consciência da humanidade e que irão perdendo a sua identidade por submergirem no que se supõe ser o estoque das "verdades" que conhecemos. A sua obra revolucionária, ao contrário, continua a empalidecer porque a experiência mostrou que o "marxismo" implementado distingue-se muito pouco da "ditadura dos intelectuais proletarizados", como queria Bakunin. É ridículo pretender que Marx não existiu, ou que não tem importância. Ele foi um dos contrapontos com que dialogaram (às vezes até inconscientemente) os construtores da teoria econômica a partir do final do século 19. Por outro lado, o potencial criado pela hipótese do materialismo histórico acabou aprisionando, numa órbita em torno de Marx, quase todos os construtores da sociologia. Eles tentaram fugir à imensa força de atração de Fausto dialogando com ele! Essa tradição continuou até nossos dias. Como se pode entender diferentemente a obra de Croce, Raymond Aron, de Wright Mills, de Mannheim, de Ortega y Gasset ou mesmo de Schumpeter? A obra de Marx só não conheceu a mais completa absorção pela corrente do pensamento universal porque, depois de 1917, foi falsificada e transformada na religião oficial do Império soviético. Em lugar da sociedade sem classes, eles construíram um mundo fantástico de opressão e de obscurantismo, como só intelectuais sabem fazer. A experiência mostrou que a vontade de poder, o desejo de submeter o outro homem, está no próprio homem e que ele só pode ser controlado por um regime autenticamente político. A miséria humana não é produto da 8


propriedade privada, pelo menos não exclusivamente. Os "intelectuais proletarizados" nunca entenderam, de fato, as dificuldades que cercam a organização de uma economia moderna. É por isso que o mundo comunista se dissolveu. A "Igreja" faliu. Agora qualquer um de nós pode ser "marxista", sem medo de ser feliz!

Goleada: inflação 6% x PIB 1% A inflação passou do limite maior da folgada meta brasileira de variação de preços, soube-se ontem. Foi a 6,52%, dois centésimos além. Está por aí faz tempo, não faz lá grande diferença prática. Deve terminar o ano perto disso, 6,5%, assim como o crescimento da economia, do PIB, deve ficar perto de 1%. Os resultados do último ano do governo de Dilma podem ser atribuídos à política econômica da presidente. Para o bem ou para o mal, nem sempre os governos são capazes de influenciar o desempenho da economia de modo relevante, no curto prazo (um, dois anos), a não ser em casos de incompetência extrema ou de fraude inesperada (estímulos econômicos loucamente insustentáveis). Governos sobem no bonde andando, caso de 2011, para Dilma. Enfrentam infortúnios de crises externas, como a piora mundial de 2012. Em 2014, porém, não há como não dizer que Dilma colheu o que plantou: uma espécie algo exótica de estagflação (inflação relativamente alta com crescimento baixo). Exótica porque o desemprego é baixo. Durante os anos de Dilma Rousseff, portanto, a tendência terá sido de piora do PIB e da inflação. Nos anos de Lula da Silva, a tendência foi de melhora do PIB e melhora da inflação, mesmo ainda quando os resultados eram horríveis, em meados de 2003. Esse progresso foi interrompido, temporariamente, apenas pelo colapso mundial de 2008. Apesar do mau estado da economia mundial e de seus efeitos nocivos no Brasil, Dilma não teve de lidar com os efeitos de colapsos externos, como secas de capital e desvalorizações extremas da moeda. Evidente foi a deterioração lenta, gradual e seguramente daninha da administração macroeconômica que solapou as bases do crescimento possível, que era pouco e se acabou. A poupança do governo baixou a cada ano (o déficit nominal subiu progressivamente). Em suma, o governo gastou além da conta. O consumo do país cresceu continuamente, o que em parte se refletiu no aumento do deficit externo (a diferença entre o que o Brasil exporta e importa, vende e compra no exterior, em bens e serviços). O consumo cresceu continuamente por causa de gastos diretos do governo e endividamento extra, dívida feita para carrear dinheiro para que os bancos públicos emprestassem mais dinheiro, quando os bancos privados julgavam mais prudente pisar no freio. O investimento do governo não cresceu, o investimento privado foi crescendo cada vez mais devagar e passou a minguar. Sim, o desemprego está baixo (embora a quantidade de gente empregada cresça de modo cada vez menor), mas a produção brasileira não cresce, não oferta produtos a bom preço –a produtividade não cresce. Ou compramos lá fora (deficit externo) ou temos inflação. O PIB não cresce. No entanto, difundiu-se a ideia entre demagógica, oportunista e ignorante que "não se come PIB, mas alimentos". Mas o PIB é simplesmente a renda nacional. Sem renda não se consome nada, a não ser com empréstimos, dívidas. Toda a agitação desordenada do governo Dilma Rousseff produziu, em termos macroeconômicos, sinais de estresse e dissipação inútil de energia, inflação, déficits, dívidas, descrédito, empecilhos à retomada do crescimento nos próximos anos.

Desperdício O Banco Central anunciou a continuação de seu programa de intervenção sobre a taxa de câmbio iniciado em agosto do ano passado. Naquele momento o Federal Reserve emitira os primeiros sinais que poderia alterar sua política, perspectiva que elevou o rendimento dos títulos de dez anos do Tesouro norte-americano para quase 3% ao ano, fortalecendo o dólar relativamente às demais moedas, entre elas o real. Em resposta à elevação do dólar, que chegou a valer quase R$ 2,45, o Banco Central passou a intervir nos mercados futuros de câmbio. A 9


justificativa para a intervenção, apesar do regime de câmbio flutuante, era a necessidade de prover proteção ("hedge") aos agentes econômicos, assegurando que o Banco Central não tinha um objetivo no que diz respeito ao nível da taxa de câmbio, mas que procurava apenas reduzir sua volatilidade. Desde então, a taxa de câmbio passou quase 90% do tempo no intervalo de R$ 2,20 a R$ 2,40, resultado que pode tanto sinalizar sucesso na moderação da volatilidade como a adoção implícita de uma banda cambial naquele intervalo, isto é, um dólar nem tão barato que prejudique as contas externas nem tão caro que ameace o já precário controle da inflação. Já eu estou convencido que a segunda hipótese oferece uma explicação melhor do que se passa no mercado brasileiro de câmbio. Houve, é claro, redução expressiva da volatilidade. No período entre agosto e setembro do ano passado, essa chegou a ficar algo como duas vezes superior à sua média histórica recente; já nos últimos meses tem ficado em torno da média, fenômeno que a análise mais apressada tenderia a atribuir à intervenção do BC. Ocorre que outras moedas sul-americanas, notadamente as da Colômbia, do Peru e, em menor medida, do Chile, passaram por processo semelhante, tanto a elevação da volatilidade em relação a seu padrão histórico no terceiro trimestre de 2013, como a reversão à média no segundo trimestre deste ano. E, é bom notar, não houve nestes países intervenção tão pesada como a promovida pelo BC, que vendeu no período pouco mais de US$ 90 bilhões no mercado futuro. Tal fato sugere, portanto, que a volatilidade excessiva, motivo alegado pelo BC para iniciar o processo de intervenção, já não é tão sério quanto foi no terceiro trimestre do ano passado. Ainda assim o BC se decidiu pela continuação do programa, cujo anúncio chegou a levar a taxa de câmbio brevemente abaixo dos R$ 2,20/US$. Isso sugere que, a despeito de eventuais protestos de lealdade por parte do Banco Central ao regime de taxas flutuantes, não é o excesso de volatilidade que o induz a intervir no mercado de câmbio. Pelo contrário, por mais que não admita isto publicamente, fica claro que o Banco Central tem, sim interferido, para manter o real dentro de patamares que julga confortáveis. E "conforto" nas condições atuais significa essencialmente manter a taxa de câmbio em níveis que o Banco Central acredita serem compatíveis com o controle da inflação, aqui entendido como a manutenção desta pouco abaixo do limite superior do intervalo de tolerância ao redor da meta (que, não esqueçamos, é 4,5%). Dado que o BC abriu mão da política monetária – muito embora suas próprias projeções sugiram inflação próxima ao teto da meta nos próximos 12 a 15 meses–, só lhe resta administrar a taxa de câmbio para tentar evitar que até mesmo este limite seja ultrapassado, ainda que para isto tenha que vender mais US$ 25 bilhões a US$ 30 bilhões até o fim deste ano. Isso dito, como o próprio BC parece (ou deveria) saber, há o risco da calmaria na frente externa ser temporária, em particular caso a recuperação americana seja mais forte do que hoje se imagina. A munição hoje empregada para manter a taxa de câmbio artificialmente valorizada, e assim atenuar os riscos inflacionários, poderá fazer falta num cenário de maior turbulência no mercado global de câmbio, mas pensar lances à frente não é o forte deste BC.

IBGE: Safra agrícola de 2014 deve somar 192,5 milhões de toneladas SÃO PAULO - A safra brasileira de grãos deve alcançar 192,5 milhões de toneladas em 2014, conforme a sexta estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, o volume da produção de cereais, leguminosas e oleaginosas vai superar em 2,3% aquele obtido no ano passado, de 188,2 milhões de toneladas. Além disso, o montante é 0,1% maior do que o volume previsto em maio. Com relação à área a ser colhida, o levantamento de junho aponta um crescimento de 6,6% em comparação com 2013, alcançando 56,3 milhões de hectares. Representa ainda um acréscimo de 0,2% em relação ao previsto em maio para 2014. O IBGE destacou que arroz, milho e soja, os três principais produtos, somados, representaram 91% da estimativa da produção e responderam por 85,1% da área a ser colhida.

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Serviços de energia melhoram, aponta estudo Apesar da percepção predominantemente negativa dos consumidores, os indicadores de qualidade na prestação de serviços de energia elétrica apresentam "expressivas melhorias" na última década e meia. Ainda há espaço, no entanto, para avançar na "dosimetria" das punições e incentivos às empresas concessionárias. Essa é uma das conclusões do Instituto Acende Brasil, observatório do setor elétrico, em estudo que será divulgado nos próximos dias. Entre os indicadores analisados, o instituto demonstra que a frequência das interrupções no fornecimento de energia diminuiu 52% entre 1996 e 2013. No mesmo período, a duração dos cortes de luz foi reduzida em 30%.

O estudo "Qualidade do Fornecimento de Energia Elétrica: Confiabilidade, Conformidade e Presteza" avaliou informações nos três segmentos da cadeia - geração, transmissão e distribuição. Em síntese, reconhece-se a "suscetibilidade conjuntural" do sistema, ilustrada pelo fato de que o Brasil figura duas vezes - em março de 1999 e em novembro de 2009 - entre os cinco maiores blecautes já registrados no mundo. Em termos de população afetada, esses dois episódios só foram superados por outros dois apagões na Índia e um na Indonésia. No caso brasileiro, esses eventos deixaram no escuro 95 milhões e 65 milhões de consumidores, respectivamente. "O sistema elétrico brasileiro é mais suscetível a blecautes de larga escala devido ao fato de o suprimento depender de energia proveniente de grandes hidrelétricas muito distantes dos centros de carga", afirma o estudo. "Essa configuração exige que grandes quantias de energia sejam deslocadas por longos trechos de transmissão." Para defender a qualidade da rede básica de forma "sistêmica", o relatório demonstra a evolução no indicador de robustez. Esse dado reflete a relação percentual entre o número de perturbações (ocorrência no sistema interligado nacional) sem cortes de carga e o número total de perturbações. Quando o indicador está alto, mostra que a rede aguenta o desligamento de um ou mais componentes sem gerar apagões de média ou grande proporção. Entre 2005 e 2013, segundo números compilados pelo instituto, o índice de robustez evoluiu de 84,1% para 88,2%. Ou seja, em 88,2% das ocorrências, não houve cortes no sistema interligado. Em relação à quantidade de reclamações aos órgãos de defesa do consumidor, há uma queda desde 2010. "A revisão dos diversos indicadores de qualidade ao longo das três dimensões (confiabilidade, conformidade e atendimento comercial) indica que houve melhorias substanciais na qualidade do fornecimento de energia elétrica nas últimas décadas." O estudo chega às vésperas de uma definição, pelo governo, de como vão ficar as concessões das distribuidoras prestes a expirar: mais de 40 empresas têm contratos vencendo até 2015 e o governo ainda não definiu os critérios de renovação. Até agora, só houve indicações de que os indicadores de qualidade serão determinantes. E parte das distribuidoras, como as controladas pela Eletrobras, supera as metas de duração e frequência dos apagões fixadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Para o Acende Brasil, a Aneel já dispõe de mecanismos "em operação" ou "em processo de implementação" para estimular a melhoria dos indicadores. Uma das sugestões do instituto, entretanto, é abrir discussões com conselhos de consumidores. "Os resultados indicam que há relação positiva entre os investimentos e o nível de qualidade, mas que os retornos dos investimentos em qualidade são decrescentes: cada real adicional investido no aprimoramento da qualidade obtém um incremento cada vez menor."

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Real lidera ganho com moedas O real passou a liderar o retorno obtido pelos investidores com as chamadas operações de "carry trade", estratégia em que o investidor toma dinheiro em uma moeda com baixa taxa de juros para aplicar em outra com taxas de juro maiores. Uma conjunção de fatores colocou a moeda brasileira na dianteira: o aumento da taxa Selic em maio, o corte da taxa básica de juros da Turquia, em 24 de junho, a volatilidade controlada da taxa de câmbio e a extensão do programa de intervenção no câmbio pelo Banco Central até 31 de dezembro. O real oferece atualmente uma taxa anualizada de cerca de 11%, ante 8% da rentabilidade de Turquia, Rússia e Índia, e 7% pela Indonésia. O real lidera os ganhos neste ano diante de um grupo de 17 moedas emergentes, com alta de 6,36% no ano. O índice MSCI de moedas emergentes tem valorização de 2,81% no período e de 6% desde a mínima de agosto. O rali das moedas de países emergentes neste ano tem sido sustentado pelas operações de "carry trade". Para analistas, essa estratégia continua atrativa no curto prazo, com a sinalização de uma política monetária ainda acomodatícia nos Estados Unidos e na Europa. No entanto, dados econômicos mais fortes nos EUA aumentam o risco de o Federal Reserve (banco central americano) elevar a taxa básica de juros mais cedo que o esperado, o que diminuiria o apetite por economias emergentes.

"O volume de fluxo para mercados 'high yield' [que oferecem elevadas taxas de juros] continua firme. A reversão ainda não ocorreu e, enquanto não houver uma ideia clara de que o Fed vai começar a apertar sua política monetária, não acho que esses fluxos para emergentes mudem radicalmente", diz o estrategista do Citi em Londres, Luis Costa. Para o estrategista de câmbio para mercados emergentes do Brown Brothers Harriman, Ilan Solot, a baixa volatilidade nos mercados de câmbio, nas mínimas desde 2007, é outro elemento que ampara a demanda por operações de "carry trade". "Se você tem um diferencial de juros alto num cenário de volatilidade baixa, é difícil não ficar atraído pela arbitragem, porque o ganho é quase certo. Essa história não mudará substancialmente nas próximas semanas." Além disso, problemas específicos em alguns países emergentes como Ucrânia, Turquia e Rússia não devem afetar a classe de ativos emergentes como um todo, destaca Viktor Szabo, gestor sênior de investimentos da Aberdeen Asset Management. O gestor da Aberdeen, no entanto, vê como principal risco para os mercados emergentes o aumento dos juros dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) em função de dados econômicos melhores da economia dos Estados Unidos, que podem levar o Fed a antecipar a alta da taxa de juros. Para o chefe para mercados emergentes em juros e câmbio do Standard Bank, em Londres, Cleber Trindade, o momento não está mais tão atrativo para as operações de "carry trade" com a discussão sobre a elevação da taxa de juros nos EUA voltando à tona nos mercados e a compressão das taxas de juros em muitos emergentes. Ele vê uma discrepância entre o discurso ainda "dovish" [tendência de afrouxamento monetário] da presidente do Fed, Janet Yellen, e os dados econômicos nos EUA, com a taxa de desemprego em queda e a inflação se aproximando da meta de 2%. "Ou o Fed vê uma desaceleração lá na frente ou deve manter esse discurso para não atrapalhar a recuperação da economia americana." Apesar disso, o executivo do Standard Bank não vê uma reversão dessas operações pelo menos até o fim do verão no Hemisfério Norte, em 23 de setembro. Nesse cenário, ele vê mais oportunidade de ganho com estratégias relativas entre o 12


real e outras moedas emergentes como a lira turca e o rand sul-africano, apostando que, em uma guinada de cenário, esses países devem sofrer mais que o Brasil. O executivo do Standard Bank destaca que, apesar dos problemas macroeconômicos do Brasil, o país está melhor posicionado que outros emergentes. A África do Sul enfrentou uma greve nas minas de platina que afetou o humor dos investidores, enquanto a Turquia se depara com um risco político, além do recente corte da taxa básica de juros, de 9,5% para 8,75% em junho. Do mesmo modo, a Rússia, apesar de ter um quadro melhor em relação à questão fiscal e à conta corrente, vem enfrentando problemas com as sanções impostas pelos EUA e Europa pela anexação de territórios na Ucrânia. A gestora Aberdeen está com uma posição comprada em taxa de juros no Brasil, mas tem recomendação 'neutra' em termos de exposição à moeda. "Os fundamentos apontam para uma depreciação do real, mas o retorno com carry trade ainda é muito alto", destaca Szabo. Apesar dos problemas fiscais e da inflação alta, o gestor da Aberdeen vê a aplicação em juros no Brasil como opção atrativa comparada a outros emergentes. A percepção é que o próximo governo deve promover reformas, com a continuidade do ciclo de aperto monetário após as eleições. Apesar de não ver a possibilidade de um "sell-off" (venda generalizada de ativos no curto prazo), o gestor da Aberdeen destaca que em um cenário de maior aversão a risco, países com problemas no balanço de pagamentos e altos déficits em conta corrente como Turquia e Brasil são os mais vulneráveis. "No entanto, as pesadas intervenções dos bancos centrais de muitos mercados emergentes, como Brasil, Turquia, Índia e Indonésia, devem conter uma depreciação muito acentuada dessas moedas", destaca Szabo.

Balança tem superávit de US$ 1,28 bi em sete dias A balança comercial brasileira teve superávit de US$ 1,289 bilhão na primeira semana de julho, o melhor resultado semanal em 2014. Foram US$ 4,234 bilhões em exportações e US$ 2,945 bilhões em importações. No ano, a balança apresenta déficit de US$ 1,202 bilhão, segundo dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). A média diária das exportações subiu 17% na primeira semana de julho quando comparada com todo o mês de 2013, passando de US$ 904,7 milhões para US$ 1,059 bilhão. Esse resultado se deve à alta nas vendas de produtos básicos e semimanufaturados, que cresceram 31% na média diária na primeira semana de julho quando comparada com todo o sétimo mês de 2013, e 32,9%, respectivamente. Os principais crescimentos em produtos básicos foram em soja em grão, petróleo bruto, minério de cobre, café em grão, carne bovina e bovinos vivos. A alta dos semimanufaturados foi puxada por ferro/aço, açúcar bruto e couros e peles. Os bens manufaturados tiveram queda de 3,9% na mesma comparação. As maiores queda foram em plataforma de produção de petróleo e gás, automóveis de passageiros, óleos combustíveis, veículos de carga, autopeças e etanol. As importações diminuíram 25,4% na primeira semana de julho (US$ 736,3 milhões) quando comparada com a média de julho de 2013 (US$ 987,2 milhões). Recuaram as importações, principalmente, de combustíveis e lubrificantes (-58,1%), veículos automóveis e partes (-32,6%), equipamentos mecânicos (-25,1%), borracha e obras (-23,2%), siderúrgicos (-21,1%) e aparelhos eletroeletrônicos (-18,5%).

As 4 crises políticas que mais preocupam o mundo atualmente

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São Paulo - Alguns conflitos e crises atuais podem impactar radicalmente o modo como vivemos agora e como viveremos no futuro. Uma análise preocupante do Global Post mostra que ao menos quatro crises podem causar problemas para a economia gobal e para a sociedade de modo geral. É bom prestar atenção no desenrolar dessas histórias:

Rússia x Ucrânia (e o resto da Europa)

Fora do radar da mídia global e das manchetes principais nas últimas semanas, a crise na Ucrânia continua intensa. Primeiro vieram as revoltas populares no país, que foram se tornando cada vez maiores e mais sangrentas - com número de mortos, feridos e presos aumentando a cada dia. Em seguida, o presidente ucraniano apoiado pela Rússia fugiu. Uma vitória relativa dos ucranianos pró-Europa. Vladimir Putin, então, tratou de interferir, anexando a Crimeia após um referendo. Foi o ápice aparente da crise na região. Mas o conflito, violento, persiste. Em várias regiões da Ucrânia, principalmene no leste pró-Rússia, milícias a favor da integração com a Rússia entram em confrontos diários com os nacionalistas. O país tem um novo presidente, PetroPoroshenko, mas muitos ucranianos não o reconhecem como líder legítimo e torcem para que Putin integre às suas terras a metade leste do país. Os novos rompantes imperalistas de Putin preocupam as potências europeias, que temem que ele esteja tentando "recriar" um novo império soviético. Mais assustados estão os países que outrora ganharam liberdade após o desmantelamento soviético nos anos 1990. Polônia, Moldávia, Estônia, Belarus, Letônia: todos temem se tornar "a próxima Ucrânia".

Iraque e Síria

Nos últimos quatro anos, a Síria era o ponto mais sensível e preocupante do Oriente Médio(claro, em paralelo, as coisas pioravam na Palestina, Israel, Afeganistão...), com sua longa e sangrenta guerra civil. O ditador Bashar alAssad resiste. Os rebeldes continuam a atacar. Assad chegou a usar armas químicas. O número de mortos e refugiados só cresce. Já o Iraque, desvastado por Saddam Hussein, pela guerra e ocupação americana e pelo domínio de grupos terroristas, agonizava em segundo plano. Contudo, já dava sinais de que estava piorando: após anos em queda, a violência no país tinha batido um recorde em 2013, com 7818 civis mortos - 8868 mortes, no total. Nas últimas semanas, ele voltou a ser o protagonista da região, quando o EIIL (Estado Islâmico do Iraque 14


e Levante), grupo jihadista que surgiu de uma dissidência da Al Qaeda iraquiana, começou a atacar cidades sírias e iraquianas. No último dia 29, o grupo conseguiu o que queria, proclamando um Estado Islâmico em terras tomadas da Síria e Iraque. O novo califado islâmico será guiado por ideais "dos primeiros muçulmanos" e seguirá a sharia. O líder supremo desse califado é Abu BakrAl-Baghdadi. O surgimento do grupo preocupa. Com muito dinheiro e muitas armas, conseguiu ocupar rapidamente pontos importantes de dois países. Suas táticas extremas assusta os governos locais e a própria Al Qaeda. As potências europeias e os EUA só assistem de longe os conflitos nos dois países. Os EUA não quer interferir novamente no Iraque e entrar em mais uma guerra. Já na Síria, China e Rússia defendem Assad e ameaçam retaliar qualquer interferência ocidental.

O legado deixado pelo Mundial para a inflação do país A Copa do Mundo de futebol respondeu por metade - ou 0,20 ponto percentual - da alta de 0,4% registrada no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Desse total, 0,11 ponto veio do expressivo aumento de 25% no preço das tarifas de hotéis e 0,09 ponto veio do aumento de 21% nas passagens aéreas. Também se poderia colocar nessa conta o aumento de 0,82% no preço da alimentação fora do domicílio, que veio na contramão do preço dos alimentos (que registraram deflação de 0,6%) e aumentaram a inflação do mês em mais 0,07 ponto. Se a Copa representou inflação de 0,20 ponto, então sem ela o governo poderia ter uma inflação de 0,2% em junho para comemorar, percentual que permitiria não estourar a meta de inflação, como aconteceu. Duas questões ficam: quanto da inflação gerada pela Copa pode ser devolvida e, sem a Copa, como fica a inflação de meados de julho em diante.

Uma parte da alta dos preços dos hotéis certamente será devolvida. Quando se olha para as quatro capitais sem Copa, os preços dos hotéis não subiram tanto, eles variaram de 0,28%, em Belém, até 2,47%, em Campo Grande. Já nas capitais com Copa, as altas foram de 16,13% em São Paulo até 43,5% no Rio de Janeiro. Então, uma parcela do impacto de 0,11 gerado pela hospedagem da Copa do Mundo deve ser devolvida, passado o evento e o período de férias. Já o aumento das passagens aéreas é mais incerto, pois no ano o item ainda acumula deflação de 20% - apesar da alta registrada em junho. Na outra fonte de pressão - a alimentação fora do domicílio - é muito menos provável que ocorra uma devolução. Mesmo em outros momentos em que os alimentos tiveram deflação na série recente do IPCA, como nos quatro meses seguidos de junho a setembro de 2013 (quando a queda acumulada foi de 1,46%), a alimentação fora do domicílio nunca reduziu seus preços. Eles desaceleraram a alta, mas não baixaram os valores cobrados do consumidor. Se o fim da Copa pode trazer alívio, os meses pós-evento trarão de volta impactos que deram uma trégua em junho, como a energia elétrica, cuja alta de 3,71% em maio cedeu lugar a aumento de apenas 0,13% no mês passado. Para julho, agosto e setembro, entram os impactos dos expressivos aumentos da Copel (Curitiba), Eletropaulo (São Paulo), Escelsa (Vitória) e CEB (Brasília), esse último com maior impacto na inflação de setembro. Também está na conta da ajuda a expectativa de nova deflação em alimentos (a queda dos produtos agrícolas no atacado já acumula 5,5% em dois meses), a estabilização ou nova queda no preço dos combustíveis (a safra do etanol derrubou o preço desse produto em 3,42% e o da gasolina em 0,72%), e o fim da pressão de taxas de água e esgoto, já reajustadas na 15


maioria das capitais. Entre Copa, energia e alimentação, o que deve mesmo definir o rumo da inflação nos próximos meses (e o estouro ou não da meta no fim do ano) é ainda uma aposta, mas que já entrou na conta dos analistas: o ritmo de atividade. Com a desaceleração desenhada na indústria (cuja previsão de pequena alta cedeu lugar a uma pequena queda na produção do ano), com o consumo perdendo força no varejo e com o encolhimento da renda disponível, talvez possa se esperar uma moderação em preços livres e serviços. Serviços pessoais subiram 0,54% em junho, depois de uma alta média de 0,88% de janeiro a maio. Em consertos e manutenção domésticos, a alta de junho foi de 0,19%, bem abaixo da média de 1,15% de janeiro a maio. São preços voláteis, mas pode ser um sinal de moderação diante de um consumidor mais contido. A notícia ruim para o crescimento parece ser mesmo o único alento para a inflação.

Até quando? Entre 1991 e 2013 a despesa primária do Governo Central, incluindo as transferências a Estados e municípios, passou de 13,7% para 22,8% do PIB, como mostra o gráfico. É uma variação espantosa, que implica uma média de 0,41% do PIB a mais do PIB de gasto público a cada ano por um período de 22 anos. Isso seria muito bom se o Brasil tivesse se convertido em um canteiro de obras, nossa educação tivesse a qualidade suíça e o atendimento à saúde um padrão escandinavo. Sabemos, porém, quão distantes estamos de tudo isso. O padrão fiscal mudou após o ajuste fiscal de 1998, quando a percepção de que era necessário colocar limites ao déficit público levou o país a adotar metas relativamente rígidas de superávit primário, após o que a expansão da dívida foi contornada e o país efetivamente se ajustou em termos do resultado fiscal. O problema é que trocamos uma flexibilidade por outra: se antes o crescimento do gasto público era financiado por uma inflação elevadíssima até 1994 e pela expansão da dívida pública nos primeiros anos depois do Plano Real, estabelecido o "tripé" de metas de superávit primário/metas de inflação/câmbio flutuante vigente desde 1999, a variável de ajuste passou a ser a carga tributária federal: a receita do Governo Central, incluindo a Previdência, passou de 18,7% do PIB em 1998 para 24,4% do PIB em 2013. Isso dá uma média de 0,38% do PIB de carga tributária a mais na economia a cada ano durante 15 anos. Não é de estranhar que o Brasil tenha problemas de competitividade, resultantes entre outras coisas da combinação de uma carga tributária elevada com distorções do sistema de arrecadação. Estas e outras questões que dizem respeito à avaliação dos problemas enfrentados pela economia brasileira encontramse no meu capítulo de abertura, "A economia brasileira na segunda metade da década: riscos de esgotamento do ciclo de expansão iniciado em 2004" escrito com Marcelo KfouryMuinhos, no livro "Propostas para o Governo 2015/2018", que organizei recentemente com Cláudio Porto e foi publicado pela Ed. Campus. No capítulo, mostramos que, como os gastos do Governo têm crescido ao longo dos últimos 20 anos e como parte desses gastos se traduzem macroeconomicamente em maior dispêndio em consumo das famílias - como no caso do componente da Previdência Social associado ao INSS - o financiamento do investimento, tendo menos espaço para ser coberto por poupança doméstica, se tornou progressivamente mais dependente da poupança externa. Anos atrás, escrevendo para o livro que organizei com Octavio de Barros, "Brasil globalizado" (Ed. Campus), os professores Affonso Pastore, Maria Cristina Pinotti e Leonardo Almeida já tinham constatado que "uma importante regularidade empírica brasileira é a elevada correlação positiva contemporânea entre as importações e os investimentos: aumentos na formação bruta de capital fixo são extremamente dependentes de aumentos de importações" (página 296/297). Os resultados econométricos que identificamos no artigo com Marcelo K. Muinhos sugerem que essa relação entre o nível do investimento e a poupança externa se acentuou.

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Nos 5 anos entre 1999 e 2004, a poupança doméstica aumentou 6,4 pontos percentuais do PIB, de 12,1% para 18,5% do PIB. Nesse período, o PIB cresceu 3,0 % a.a. e o consumo cresceu menos: 2,1% a.a. Já na média dos 9 anos de 2004 a 2013, o crescimento anual do PIB foi um pouco maior, embora não tenha mudado drasticamente (3,5%), mas foi no crescimento anual do consumo total que houve um salto: 4,3%. Em contrapartida, a poupança doméstica cedeu 4,7 pontos do PIB, caindo de 18,5% para 13,8% do PIB. No primeiro período, o país estava fazendo o que era certo, mas todo ajuste dói. No segundo, sacou contra o futuro e os governos compraram popularidade. A consequência se vê no resultado em conta corrente do balanço de pagamentos nas Contas Nacionais do IBGE: entre 1999 e 2004, passou de um déficit de 4,3% do PIB a um superávit de 1,4% do PIB quase 6 pontos do PIB de ajustamento. Já em 2013, foi deficitário em 4,1% do PIB - uma piora de 5,5 pontos do PIB em 9 anos. Gasto público crescente, consumo crescente, poupança doméstica declinante, déficit em conta corrente em aumento. A pergunta que cabe é: até quando? Esperemos que cedo ou tarde o país encare estas questões. Caso contrário, como diria Ancelmo Gois... Deixa pra lá.

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