Jornais e Revistas de 15 de julho de 2014

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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 15 DE JULHO DE 2014

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Porto de Itajaí embarca 83% das exportações de SC

O Complexo Portuário do Itajaí acumula crescimento de 1% na movimentação de cargas no primeiro semestre de 2014, em comparação com igual período do na o anterior, mesmo sem operar por 12 dias em junho. Foram operados 524,18 mil TEUs (Twenty-foot Equivalent Unit – unidade internacional equivalente a um contêiner de 20 pés) entre 1º de janeiro e 30 de junho, ante 517,88 mil TEUs em igual período de 2013. Nos últimos 12 meses, o Complexo Portuário movimentou 1,11 milhão de TEUs, com avanço de 6% em relação ao período compreendido entre julho de 2012 e junho de 2013. As exportações respondem pela maior fatia das operações, de 52%, enquanto as importações somam 48%. “Certamente não fosse a ocorrência de chuvas com volumes acima da média histórica, que ocasionaram a elevação no nível dos rios e consequentemente o aumento na correnteza, provocando a impraticidade da barra nos períodos de 07 à 14 de junho e de 27 de junho a 02 de julho, teríamos registrado um aumento significativo na movimentação de cargas registrada no semestre”, explica o diretor executivo do Porto de Itajaí, Heder Cassiano Moritz. “As operações em julho foram retomadas plenamente e a expectativa é de que a média mensal de crescimento, de 7%, seja recuperada a partir deste mês e que consigamos atingir nossa meta para 2014, que gira em torno de 1,2 milhão de TEUs”, diz o superintendente, engenheiro Antonio Ayres dos Santos Júnior. As exportações catarinenses cresceram 6,47 % em junho e elevaram para US$ 4,541 bilhões os embarques pelos portos do estado no primeiro semestre, valor 2,66% superior ao registrado no mesmo período do ano passado. Os desembarques também estão em alta em Santa Catarina no ano, acumulando US$ 7,740 bilhões, 13% a mais que nos seis primeiros meses de 2013. As informações são da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc). Do montante exportado por Santa Catarina, de US$ 4,541 bilhões, a fatia de US$ 3,791 bilhões, ou 83,48%, foram embarcada em Itajaí. Das importações do estado neste semestre, o Complexo Portuário do Itajaí responde por 58,36%, ou 4,517 bilhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

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Segmento atacadista cresce 3,51% em maio

O setor atacadista cresceu 3,51% no mês de maio, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. É o que mostra o estudo mensal da Abad (Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores). O dado de maio ficou bastante próximo ao de janeiro, que foi de 3,59%. A previsão do setor era de aumento de 3,5% em 2014. No acumulado do ano, o crescimento na comparação anual de janeiro a maio ficou em 2,66%, quase o mesmo percentual da evolução registrada sobre o mês anterior (abril), que foi de 2,67%. Com esses dados e com a diminuição do movimento do comércio, além da queda na intenção de consumo das famílias registrados em junho, não se descarta que futuramente a entidade revise as projeções do setor, em razão da crescente desconfiança do consumidor e de uma possível deterioração no mercado de trabalho. Contudo, a Abad se mantém otimista, já que os dados negativos de consumo não afetam as regiões Nordeste e Centro-Oeste, conforme divulgação recente da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). Além disso, em todas as comparações, os números apresentam melhora em relação aos dados de abril, quando o acumulado do ano chegou a 2,45%, o crescimento sobre abril de 2013 registrou 0,70% e o crescimento sobre o mês anterior (março) foi de 1,98%. “Sendo os dados do atacado antecedentes aos do comércio, nossa expectativa é ver essa melhora refletida no varejo nos próximos meses”, afirma o presidente da Abad, José do Egito Frota Lopes Filho.

Taxa de investimento pode cair até 5% neste ano Octavio de Barros, economista do Bradesco: o principal problema é a perda de confiança dos empresários na economia. O fraco desempenho do setor industrial e a deterioração da confiança dos empresários desde janeiro está levando economistas a revisar as projeções para o investimento em 2014. Algumas estimativas, que no início do ano eram de alta de até 4% para a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e equipamentos e na construção civil), se transformaram em queda de quase de 5% e ajudam a explicar a piora do cenário para crescimento do país no período. A redução, se confirmada, praticamente apagaria a alta de 5,2% observada no ano passado e só seria inferior, no período recente, à queda de 6,7% observada em 2009. Para alguns economistas, além do aumento do pessimismo entre os empresários, o fim de incentivos para aquisição de bens de capital também contribui para piorar os prognósticos para o investimento neste ano. Apenas entre janeiro e maio, a produção de bens de capital caiu 5,8%, enquanto a atividade industrial como um todo encolheu 1,6%, com retração em 15 de 24 setores. As compras de bens de capital do exterior também recuaram: até maio, o país reduziu esse tipo de importação em 3,32%, segundo a Funcex. O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, 3


foi um dos que revisaram a projeção para 2014. No início do ano, a expectativa dele era de crescimento de 4% da formação de capital fixo. Agora, prevê queda de 5%. De acordo com Barros, o principal problema não são mudanças nos fundamentos macroeconômicos, mas a perda de confiança na economia. A queda da confiança da indústria hoje, diz, já é metade da verificada em 2009, ano de encolhimento do PIB, quando o nível de confiança chegou a 74 pontos. Hoje, está próximo de 88 pontos, pelo sexto mês consecutivo abaixo de 100, o que indica empresários pessimistas. O quadro deve levar a uma piora tanto na construção civil quanto no ramo de bens de capital. Nas estimativas do Bradesco, o setor de construção no PIB deve mostrar queda de cerca de 3% no segundo trimestre, seguindo queda de 2,3% ocorrida no primeiro trimestre. Em relação aos bens de capital, destaca que o nível de produção já se encontra próximo ao de 2012 e, na comparação com igual período do ano passado, a queda atinge 7,6%. Em parte, essa retração é influenciada pelo desempenho ruim de caminhões e ônibus, que mostram recuo de 27,7% na mesma comparação. Para Marcelo Kfoury, do departamento econômico do Citi Brasil, há uma série de fatores que explicam o pessimismo crescente dos empresários. Além das incertezas naturais em ano de eleição, há a expectativa de ajustes em 2015, que costuma ser de "arrumação de casa", com o início de um novo mandato. O acúmulo de estoques, afirma, é outro fator importante para atrasar projetos de investimento. "Na indústria automobilística, os veículos parados estão quase em nível recorde. Com isso, não há incentivo para elevar a capacidade de produção". O economista estima retração de 3% dos investimentos neste ano, após alta de 5,2% em 2013. Em sua avaliação, há cerca de 30% de chance de que o país entre em recessão, com dois trimestres consecutivos de encolhimento da atividade econômica, embora este não seja seu cenário base atualmente. Ainda assim, Kfoury estima crescimento de apenas 0,9% em 2014. Ainda que fatores pontuais, como o acúmulo de estoques pela indústria e o aumento de juros em algumas linhas do Programa de Sustentação dos Investimentos (PSI), ajudem a explicar a expectativa de queda de investimentos em 2014, para Fernando Rocha, sócio e economista da JGP Gestão de Recursos, o quadro econômico atual é o mais relevante. Segundo Rocha, a política econômica aumentou o nível de incerteza, com inflação alta, limitações do lado fiscal e sinais mais evidentes de moderação da demanda doméstica e do mercado de trabalho. Sem perspectiva de alteração significativa do cenário no curto prazo, o setor produtivo prefere adotar postura mais cautelosa. José Márcio Camargo, economista da Opus Investimentos, afirma que os problemas no setor energético, com aumento do custo de energia, também fazem com que empresários coloquem o pé no freio. Em sua avaliação, a taxa de investimentos do Brasil pode ficar em apenas 16% ao fim deste ano, mesmo nível observado em 2006 e abaixo da do ano passado, quando o investimento como proporção do PIB ficou em 18,2%. Camargo avalia que o momento atual é curioso, porque há a percepção de que aumenta o grau de incerteza entre os agentes econômicos quando os sinais são de reeleição da presidente Dilma Rousseff. O crescimento da oposição, ao contrário do que costuma ser usual, anima empresários. Em sua avaliação, isso acontece porque os candidatos da oposição têm deixado mais claro qual será sua política econômica, inclusive anunciando alguns nomes para cargos importantes, como o Ministério da Fazenda. Já Dilma tem evitado falar sobre a política econômica no caso de um segundo mandato. Mansueto Almeida, especialista em contas públicas, avalia que o atual quadro de queda de confiança é preocupante, por se assemelhar ao de 2009, quando o PIB caiu 0,3%. Para Mansueto, o pessimismo, antes mais restrito ao mercado financeiro, agora parece ter contagiado os empresários das diversas atividades econômicas. "Hoje, nada joga a favor do investimento", disse Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, afirmando que o câmbio continua apreciado e mantido assim para resolver pressões inflacionárias internas e não para ampliar a competitividade industrial. O economista previa aumento de 4% na formação de capital fixo em 2014 e agora espera queda de 5%. Lacerda também cita a ociosidade nas fábricas como fator relevante para explicar o fato de que as empresas têm adiado desembolsos. Outro impedimento, diz, são os juros altos, que favorecem a aplicação de recursos das empresas no mercado financeiro e não em investimentos. As políticas de desoneração têm tido efeitos marginais reduzidos, afirma, tendo o país atingido um limite no modelo de crescimento do pós-crise de 2008 baseado no aumento do consumo e do crédito. 4


"Isso hoje não tem mais o mesmo potencial. Outro fator importante, segundo Lacerda, é que a Petrobras, grande indutora dos investimentos, "está com o pé no freio, porque não tem caixa". "Isso afeta muito sua capacidade de ativar a cadeia produtiva do petróleo que poderia ser um forte indutor dos investimentos." O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Gabriel Leal de Barros, entende que em ano de eleição é natural que os agentes estejam mais cautelosos pela incerteza sobre o que pode ocorrer no futuro, por isso a preferência por segurar decisões de investimento até obterem algumas respostas para suas expectativas. "Se o governo atual continuar, vai aprofundar as políticas econômicas que estão em vigor? Ou, se continuar, vai destravar outras agendas para a melhora do crescimento econômico?", destacou. "A deterioração de alguns dados econômicos foi bastante rápida", diz Leal de Barros. "O país piorou bastante. Do início do ano até agora, as revisões dos agentes [no boletim Focus] têm sido feitas sistematicamente para baixo em relação ao crescimento, e sobre a inflação as revisões têm sido para cima."

Estudo mostra baixo efeito do desconto no IPI de veículos sobre PIB e emprego Madruga e Porrse (à direita), da UFPR, observam alta de apenas 0,02% no PIB ao ano e de 0,04% no emprego. A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis teve impacto positivo, mas muito pequeno, sobre o Produto Interno Bruto (PIB) real e sobre o emprego na economia brasileira entre 2010 e 2013. Essa é uma das principais conclusões de um estudo recém-elaborado por dois economistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Alexandre Porsse e Felipe Madruga. Entre 2010 e 2013, a contribuição positiva da desoneração do IPI dos automóveis para o PIB foi de apenas 0,02% ao ano, e no emprego, de 0,04% ao ano. A interpretação no sentido oposto - o que ocorreria na ausência dessa política - é que o PIB e o emprego teriam redução de 0,02% e 0,04% ao ano, respectivamente, de 2010 a 2013, portanto um impacto limitado, segundo o estudo. Porsse, professor da UFPR, e Madruga, doutorando na mesma universidade, se concentraram apenas no IPI sobre automóveis, porque representa mais da metade das desonerações de IPI feitas, sendo o mais relevante. Porsse diz que o pequeno efeito da redução do IPI de automóveis surpreende pela ênfase que ainda é dada pelo governo federal a essa política. A análise, que parte de um modelo econométrico, tenta contribuir para a discussão sobre os efeitos de uma política industrial vertical (que elege alguns setores da indústria como prioritários para a política do governo) ou horizontal (na qual não há eleitos, mas a política abarca todos os setores da indústria), em um momento em que o governo federal tenta uma política industrial vertical e decide pela prorrogação do incentivo ao setor. O IPI de automóveis estava previsto para voltar no dia 1º de julho para sua alíquota cheia (4% a 13%, dependendo do modelo), mas foi prorrogado e continuará entre 3% e 10% até dezembro. "Se formos considerar hoje que o Brasil tem como principal gargalo para retomada do seu crescimento o desequilíbrio fiscal, o sinal que é passado com essa política de desoneração - embora se espere que ela estimule algum consumo - é que está sendo mantido o patamar de renúncia fiscal até o fim do ano", diz Porsse. "Para formação de expectativas, a manutenção dessa política sinaliza que uma deterioração das contas públicas tende a se manter durante mais algum tempo. Sua prorrogação pode mais comprometer do que estimular o crescimento", afirma. "Geralmente, quando têm foco setorial, as políticas de desoneração tributária são muito mais sensíveis a pressão de grupos, ao lobby, do que uma política de âmbito mais geral. Então, você tem uma certa resistência a retornar para os patamares anteriores das alíquotas", argumenta Porsse, sobre desvantagens da manutenção dessa medida. Os economistas também concluíram que um outro problema da medida foi se mostrar uma política tributária regressiva. Isso significa que a desoneração, implantada a partir de 2009 como medida anticíclica diante da crise de 2008, não beneficiou as pessoas mais vulneráveis, e sim atuou principalmente em favor das 5


classes de renda mais altas. De acordo com os pesquisadores, se houvesse a mesma desoneração dos automóveis para vários setores industriais, os ganhos econômicos para o país seriam similares (alta de 0,02% no PIB e de 0,04% no emprego). Porém, em relação aos efeitos distributivos, a política seria mais benéfica, porque o efeito distributivo tributário seria progressivo, beneficiando, portanto, especialmente as pessoas mais vulneráveis, com até um salário mínimo de renda. Gabriel de Barros pesquisador do Ibre-FGV concorda com os poucos efeitos sobre PIB e emprego da desoneração do IPI para automóveis e também critica as prorrogações, dado o limite que esse tipo de medida já atingiu. "Ninguém vai comprar carro novo todo ano. Não adianta reduzir IPI sistematicamente para estimular o consumo", disse, citando o comprometimento da renda de muitos consumidores que anteciparam compras usando financiamento para aproveitar o benefício da medida na ocasião de sua implantação. Entre os que defendem a desoneração de IPI, o argumento é que ela ajuda na manutenção e ampliação de empregos, além de ter efeitos indiretos sobre o recolhimento de outros impostos. Em janeiro deste ano, estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) apontou que, de 2009 a 2013, o governo abriu mão de R$ 6,1 bilhões de tributos devido à desoneração do IPI sobre automóveis. Mas, no mesmo período, houve incremento de arrecadação de R$ 11,8 bilhões de PIS e Cofins sobre a venda de automóveis e veículos leves. Em 2009, um estudo do Ipea concluiu que a perda de arrecadação com IPI naquele ano (o primeiro ano de vigência da medida) foi compensada, em grande parte, com aumento de recolhimento de outros tributos, como a arrecadação da Cofins e PIS-Pasep sobre fabricação de veículos automotores. Em relação ao emprego na cadeia automobilística, o estudo concluiu que, mesmo com a desoneração, o emprego manteve tendência de redução ao longo do primeiro semestre de 2009. Porrse destaca que, nos últimos anos principalmente, o impacto negativo da desoneração para a arrecadação do governo não tem sido coberto por esperados efeitos positivos do setor automobilístico sobre o restante da economia, a partir de um incremento da venda de veículos ou mesmo da produção, já que ambas têm se mostrado mais fracas. "Essa postergação pode servir para um cenário de manutenção dos empregos até o fim do ano. No segundo semestre, tem eleições, então uma trajetória de demissões e de retração econômica no setor acabaria sendo ruim", criticou o economista da UFPR. Algumas montadoras demitiram recentemente funcionários e outras colocaram parte da sua força de trabalho em licença remunerada, por conta da alta dos estoques, mesmo com o incentivo de IPI em vigor. O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, não comentou as conclusões do estudo. Defendeu, no entanto, que as políticas anticíclicas foram adotadas pelo governo em um período de crise internacional grave para mitigar os efeitos para a economia brasileira. Holland ressaltou ainda que a redução do IPI do setor automotivo, associada com outras medidas do governo, ajudaram o país a manter a taxa de desemprego em queda. Além disso, afirmou Holland, desde 2011 até hoje, foram criados mais de cinco milhões de empregos com carteira assinada, mesmo num período de crise. O secretário acrescentou que as medidas anticiclícas ajudaram ainda no crescimento de 5,2% (número revisado do IBGE) da taxa de investimento do país no ano passado. Nos últimos dias, foram divulgados dados desanimadores sobre o setor automobilístico e sobre a produção industrial. A menor produção de automóveis e caminhões foi uma das principais responsáveis para derrubar o resultado em maio da produção de bens de consumo duráveis e de bens de capital, segundo a pesquisa de Produção Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF). A Anfavea, entidade do setor automotivo, também revisou para baixo as expectativas sobre o desempenho da indústria automobilística em 2014. Na produção, o recuo deve ser de 10% e nas vendas é esperado recuo de 5,4%.

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Organização da Copa é bem avaliada por 83% dos estrangeiros A Copa do Mundo no Brasil surpreendeu positivamente estrangeiros que vieram ao país para assistir aos jogos, revela pesquisa Datafolha realizada entre visitantes de outras nacionalidades que acompanharam o Mundial. Em alguns quesitos, a aprovação foi quase total: 92% dos visitantes elogiaram tanto o conforto quanto a segurança dos estádios da Copa. Uma maioria absoluta de 76% também achou ótima ou boa a qualidade do transporte até as arenas do Mundial. A hospitalidade dos anfitriões da Copa é um dos grandes destaques: 95% dos estrangeiros avaliaram a recepção como ótima ou boa. A maioria (90%) acompanhou notícias sobre o Brasil antes de viajar. Metade deles (50%) disse ter ouvido mais relatos negativos do que positivos. Mas números contundentes mostram que eles acabaram bem impressionados. A organização da Copa foi avaliada como ótima/boa por 83% dos estrangeiros. Para 12%, foi regular; e apenas 3% consideraram ruim/péssima. Uma maioria de 51% achou a organização em torno do Mundial melhor do que a esperada. Alvo frequente de críticas e protestos entre os brasileiros, a mobilidade urbana foi avaliada como melhor do que o esperado para 46%, dentro do esperado para 40% e pior que o esperado para 11%. Sistemas de comunicação (telefonia e internet) e preços praticados em geral (alimentação, hotéis e transporte aéreo) tiveram avaliações negativas acima da média. Consideraram ruim/péssimo o custo de vida 29% dos entrevistados; e o preço dos hotéis, 27%. Os sistemas de comunicação foram aprovados por uma minoria de 41%. A segurança, ponto sensível para estrangeiros que visitam o país (e para brasileiros que vivem aqui), superou as expectativas de 60%. A pesquisa ouviu 2.209 estrangeiros de mais de 60 países nos aeroportos de São Paulo, Rio e Brasília e em Fan Fests e locais de grande concentração nas cidades de Belo Horizonte, Salvador e Fortaleza, além de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília entre os dias 1º e 11 deste mês. Esse universo não representa a totalidade de estrangeiros presentes no país. Segundo o Ministério do Turismo, cerca de 1 milhão de estrangeiros de 203 países vieram ao Brasil para a Copa. A pesquisa também procurou aferir a opinião espontânea dos estrangeiros. Para eles, hospitalidade, simpatia e amabilidade são que o país tem de melhor: 42% citaram as pessoas e características relacionadas a elas (entre argentinos, esse índice cai para 35%). A beleza das mulheres teve 11% das citações espontâneas. Os estrangeiros também opinaram sobre o pior: 18% citaram temas relacionados à pobreza, desigualdade social, favelas e moradores de rua. Uma parcela similar (16%) indicou a falta de segurança. Em seguida aparece o trânsito, com 8%. "Os turistas levam uma imagem positiva, mas perceberam o alto custo de produtos e serviços, assim como a desigualdade social e a insegurança", diz Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha. Questionados depois de alguns dias (de Copa) no país, 69% disseram que morariam no Brasil.

Brasil quer aproveitar visita para ampliar vendas de carne para a China Durante a visita de Estado do presidente da China, Xi Jinping, na quinta-feira (17), o governo brasileiro vai enfatizar a necessidade de aprimorar a pauta de exportações brasileiras para os chineses. Ele está no país para a cúpula dos Brics, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Apesar de a China ser o maior parceiro comercial do Brasil, as exportações hoje se restringem a commodities como soja, minério de ferro e petróleo. Xi deve anunciar na quintafeira a habilitação de mais frigoríficos brasileiros para vender carne bovina à China. Mas exportadores brasileiros pressionam para incluir no acordo também carne de frango e suínos. "Precisamos agregar valor, em vez de fazer todo o trajeto até o porto e depois até a China para vender só soja, ração que vai alimentar os animais de lá. Queremos vender efetivamente carne de frango e de suínos", diz Marcos Sawaya Jank, diretor global de assuntos corporativos da BRF Brasil Foods. A BRF também estuda opções para firmar uma joint venture com uma empresa na China para processar frango exportado do Brasil. Hoje, Hong Kong é o segundo maior 7


importador de carne bovina brasileira. Mas funciona apenas como entreposto, já que de lá o produto segue direto para a China. Há poucas exportações diretas para o país asiático porque a China impõe muitas barreiras à carne brasileira. Hong Kong é também o segundo maior comprador de carne suína e o quarto maior de carne de frango. Com a habilitação de mais frigoríficos, a esperança é facilitar e reduzir os custos da exportação de carnes. A promessa de abrir o mercado chinês para as carnes brasileiras é antiga, mas nunca saiu do papel. Em 2004, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o então presidente Hu Jintao para um churrasco na granja do Torto. O Brasil pedia a abertura do mercado de carnes na China, em troca do reconhecimento do país como economia de mercado. Há mais resistência por parte da China para importar mais frango e suínos porque o governo quer estimular produtores locais. Já no caso da carne bovina, há maior reconhecimento da necessidade de importação.

Recuperação dos EUA não está completa e Fed vai continuar dando apoio WASHINGTON - A recuperação econômica dos Estados Unidos ainda não está concluída e, por esse motivo, o banco central amercano pretende manter apoio significativo para impulsionar o crescimento e melhorar as condições do mercado de trabalho. A observação partiu da presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), Janet Yellen. Em apresentação de um relatório econômico ao Congresso americano, Yellen disse que as ações futuras do Fed vão depender do desempenho econômico. Ela comentou que, se as condições do mercado de trabalho continuarem melhorando mais rapidamente do que o previsto, a autoridade monetária dos EUA pode elevar a taxa de juro de curto prazo antes do que o projetado. Notou, porém, que condições fracas vão significar períodos mais longos de juros baixos. Muitos economistas acreditam que a taxa de juro dos EUA, que está próxima de zero desde dezembro de 2008, não deve subir até o próximo verão (meados de 2015). Yellen disse que as compras atuais de bônus mensais devem terminar em outubro.

'Elite' de analistas do Focus volta a ver IPCA superando a meta As expectativas dos analistas de mercado sobre a inflação e a atividade da economia se deterioraram mais uma vez, mostra o boletim Focus, do Banco Central (BC). Após permanecer durante três semanas em 6,46%, a mediana das estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2014 subiu para 6,48%, taxa mais próxima, portanto, do teto da meta perseguida pelo BC, de 6,5%. Esse limite, no entanto, voltou a ser superado nas projeções do grupo de analistas "Top 5", que são aqueles que mais acertam as estimativas. A mediana de médio prazo para o IPCA deste ano subiu de 6,41% para 6,51%, mas a de 2015 caiu de 7,03% para 6,75%. Para a Selic, a estimativa dos "Top 5" é que a taxa termine este ano no nível atual de 11%, mas agora veem o juro subindo mais 0,50 ponto até o fim do próximo ano. Na estimativa do mercado em geral, as apostas do Focus para a Selic continuaram as mesmas: 11% neste ano e 12% em 2015. Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que, após subir 0,40% em junho, o IPCA acumulou alta de 6,52% em 12 meses. No Focus, a estimativa da inflação em 12 meses subiu, de 5,89% para 5,92%; mas, para 2015, seguiu em 6,10%. Para o IPCA de julho, os analistas do Focus reduziram ligeiramente a aposta, de 0,25% para 0,24%. Uma mudança relevante foi feita nas estimativas para os preços administrados, cuja alta foi revisada para baixo. A mediana para 2014 saiu de 5,1% para 5% e a de 2015, de 7% para 6,5%. Quanto à atividade econômica, os analistas cortaram pela sétima vez consecutiva a projeção para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, desta vez de expansão de 1,07% para 1,05%. A estimativa para o desempenho da produção industrial piorou ainda mais, saiu de queda de 0,67% para retração de 0,90%. Para 2015, a estimativa do PIB ficou em 1,50%, enquanto a projeção de crescimento da 8


produção industrial agora é de 1,80% ante 2,10%. Os analistas reduziram suas estimativas para o saldo da balança comercial. A mediana das estimativas saiu de US$ 2,7 bilhões para US$ 2,01 bilhões, praticamente o mesmo valor estimado há um mês. No ano, até a primeira semana de julho, a balança ainda tem déficit de US$ 1,2 bilhão. As apostas para o déficit em conta corrente também pioraram depois de terem se mantido estáveis por seis semanas em US$ 80 bilhões. Os analistas esperam agora resultado negativo em US$ 80,75 bilhões neste ano.

Dilma manifesta otimismo com possíveis resultados do encontro do BRICS

FORTALEZA - A presidente Dilma Rousseff evitou dar qualquer sinalização sobre o que o Brasil está disposto a ceder nas negociações com os outros parceiros do Brics para viabilizar o acordo que criará o banco de desenvolvimento do grupo. A presidente, no entanto, acredita num acordo. “Estou otimista porque acredito que o Brics tem dado grandes passos no sentido de criar instituições que vão beneficiar os países emergentes e em desenvolvimento” disse Dilma ao deixar o hotel onde está hospedada em Fortaleza para a VI Cúpula do Brics. Segundo a presidente, o outro acordo que será assinado hoje e que prevê a possibilidade de os países fazerem empréstimos de suas reservas internacionais entre si “vai contribuir para que esse processo de volatilidade enfrentado por diversas economias quando da saída dos Estados Unidos da política de expansão monetária seja mais contido, seja mais administrável”. A definição sobre onde será a sede da instituição e quem será o primeiro presidente impediu que o acordo entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul fosse fechado ontem pelos ministros da Fazenda dos cinco países. China e Índia disputam a sede e o Brasil quer a presidência. O acordo de compartilhamento de reservas internacionais prevê empréstimos de até US$ 100 bilhões, mas exigirá que os países façam acordos de ajuste fiscal com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para que tenham acesso aos recursos.

Inadimplência com cheques fica estável no Primeiro semestre, diz Boa Vista SÃO PAULO - A proporção de cheques devolvidos por falta de fundos ficou estável em 2,04% no primeiro semestre deste ano, mesma taxa do mesmo período do ano passado, de acordo com dados nacionais da Boa Vista SCPC. A quantidade de cheques movimentados caiu 9,1% no período, enquanto a de cheques devolvidos recuou praticamente na mesma proporção, 9,2%. Separando-se os cheques devolvidos de pessoas físicas e jurídicas, na mesma base de comparação, a devolução foi 11,6% menor para as pessoas físicas e 2,7% inferior para as pessoas jurídicas. Tomando-se apenas o mês de junho, o percentual de cheques devolvidos de 1,85%, apresentando forte queda ante maio, quando a proporção foi de 2,07%. Os cheques devolvidos recuaram, assim como os cheques movimentados, exibindo variações de 15,7% e 3,3%, respectivamente, o que contribuiu para o recuo do índice no período. 9


Setor industrial perde força para competir com o exterior A análise detalhada da balança comercial de alguns segmentos econômicos mostra como é frágil a situação da indústria nacional quando se mede seu poder de competição no mundo. O panorama atual já é bastante ruim, mas o mais preocupante é que ele tende a se agravar, segundo os especialistas. Dados recentemente divulgados evidenciam esse problema - grave por exemplo no setor de plásticos. Segundo reportagem publicada pelo Valor no dia 7, no primeiro trimestre, foi registrado um déficit de US$ 678 milhões no segmento, com um aumento de 13,4% em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados são do Econoplast, boletim econômico da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). O valor registrado em apenas três meses deste ano já supera o déficit total de US$ 646 milhões registrado há sete anos pela indústria - desde 2007, o saldo negativo quase quadruplicou, diante da perda de competitividade do produto nacional. A principal explicação para esse resultado fortemente negativo é o avanço dos importados no mercado doméstico, que contribuiu para o déficit comercial de US$ 2,45 bilhões da indústria brasileira de transformação de plástico no ano passado. Neste ano, houve uma piora da balança comercial do segmento, refletindo não somente o aumento das importações, mas também o crescimento do valor das compras externas e o enfraquecimento das exportações em volume. A crise na Argentina, principal destino externo dos manufaturados plásticos brasileiros, tem agravado o cenário, ao mesmo tempo em que a - persistente - desaceleração das economias desenvolvidas levou os chineses a voltarem a atenção para mercados como o brasileiro. De janeiro a março, as importações brasileiras de transformados plásticos somaram US$ 977 milhões, com alta de 8,4% na comparação anual. As exportações, por sua vez, totalizaram US$ 299 milhões, com queda de 1,6%. Em volume, o saldo comercial no período é deficitário em 136 mil toneladas, 12% acima do registrado no primeiro trimestre do ano passado, com importações de 189 mil toneladas e exportações de 52 mil toneladas. A situação não é, obviamente, nova. O país vem perdendo competividade no que se refere às exportações de produtos industrializados há anos. Em parte, porque o governo tem usado a política cambial como um instrumento para segurar a pressão inflacionária. É frequente a observação de exportadores que uma cotação mais 'realista' do real em relação ao dólar ajudaria nas vendas dos seus produtos ao exterior. Outra razão para a dificuldade em exportar produtos industrializados, na observação de empresários e economistas, é o custo muito mais elevado do crédito no Brasil do que em outros país. De fato, o juros em termos reais praticadas no mercado doméstico levaram o país de volta à liderança da lista das nações com as taxas mais altas. Também o custo da energia é alvo de frequentes críticas das empresas. Diga-se, por oportuno, que o governo da presidente Dilma Rousseff tentou combater esses dois problemas - juros elevados e energia cara -, mas suas tentativas não foram exatamente bem sucedidas. Com isso, acentua-se a tendência de a pauta das exportações ser dominada por produtos básicos. No primeiro semestre de 2014, a concentração das exportações em primários atingiu o ponto mais alto em três décadas e meia. Pela primeira vez desde 1980 (último dado disponível), mais da metade dos embarques ao exterior no primeiro semestre foi de bens primários, como soja e minério de ferro. De janeiro a junho, os básicos representaram 50,8% do que o país exportou. Essa proporção era de 25% em 2002 e já havia subido para 47,5% no mesmo período de 2013. Enquanto isso, os produtos manufaturados encolheram sua participação para o menor nível também desde 1980 e hoje equivalem a 34,4% das vendas totais, em um movimento que o governo atribui à lenta recuperação econômica nos principais mercados. Dados do Ministério do Desenvolvimento que especificam a performance por produto, até maio, são expressivos o suficiente para dispensar qualquer comentário adicional. Nesse período, houve queda nas exportações de laminados planos (-34,8%), automóveis de passageiros (-30,0%), etanol (-29,8%), autopeças (-25,0%), veículos de carga (-18,9%), para citar alguns exemplos.

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Sobre a cana-de-açúcar e a descarbonização energética O economista Jeffrey Sachs, em seu artigo "Os limites das negociações do clima", publicado na edição de 27/6/2014 do Valor, afirma que os países precisam inspirar-se nos casos em que governos, cientistas e indústria uniram-se para produzir grandes mudanças para o mundo vencer a crise decorrente das mudanças climáticas. Nesse aspecto, o Brasil é frequentemente lembrado e elogiado com relação às emissões antrópicas associadas à matriz energética. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com relação às emissões por habitante, cada brasileiro, produzindo e consumindo energia em 2013, emitiu em média 2,3 t CO 2 equivalente (tCO2 -eq), ou seja, aproximadamente 8 vezes menos do que um americano e 3 vezes menos do que emite um europeu ou um chinês. O fator que possibilita esse desempenho brasileiro tem sido a elevada participação de energia renovável na matriz energética, e que se manteve entre as mais elevadas do mundo em 2013, mesmo com a redução de oferta de energia hídrica e o aumento da geração térmica mais poluente. De fato, até houve uma redução na participação das renováveis na matriz energética brasileira de 42,3% para 41%, mas que não foi maior devido ao aumento de quase 10% na oferta interna de energia pelos produtos da cana-de-açúcar, leia-se etanol e bioeletricidade. O aumento da oferta de cana e de etanol na safra passada na Região Centro-Sul, da ordem de 10%, ocorreu justamente em um período de falta de rentabilidade para os produtores, o que pode parecer um contrassenso, mas é reflexo do enorme esforço que tem sido realizado para reduzir a capacidade ociosa nas usinas instaladas. Também do lado da bioeletricidade não ocorreu cenário diferente. Dados apresentados pela EPE mostram que a fonte biomassa atingiu uma geração recorde total de 39.679 GWh, um valor 14% superior ao ano anterior e equivalente a 1/3 do consumo anual residencial no sistema interligado em 2013. Basicamente, o resultado dessa geração foi fruto do citado aumento da oferta de cana e da maturação de investimentos realizados em anos anteriores, sob um cenário institucional totalmente diferente do quadro adverso atual. Essa produção de bioeletricidade foi superior à geração de energia elétrica somada das fontes carvão, nuclear e eólica durante todo o ano, num momento em que a energia armazenada nos reservatórios das hidrelétricas apresentou os piores valores desde 2001, quando se decretou o racionamento de energia. Mesmo com esse desempenho estratégico dos produtos energéticos da cana causa extrema preocupação o futuro do setor sucroenergético na matriz elétrica brasileira. A preocupação reside na inexistência de uma política setorial clara, estruturante e capaz de estimular o investimento no etanol e na bioeletricidade, comprometendo o futuro desses produtos na matriz energética brasileira. Ao contrário, os incentivos decorrentes da política pública brasileira voltada para combustíveis e eletricidade têm estimulado o consumo de combustíveis fósseis por meio de subsídio e desoneração tributária da gasolina. O resultado tem sido desastroso. Segundo o Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (Ceise Br), em meados de 2013 cerca de 250 indústrias de Sertãozinho-SP, o "Vale do Silício da Indústria Sucroenergética", apresentavam ociosidade chegando a 60%. Desde 2010 empresas de bens de capital voltadas para a indústria canavieira registram queda de 50% no faturamento, com corte de milhares de postos de trabalho e 66 unidades produtoras de açúcar e etanol em recuperação judicial atualmente, considerando as unidades em operação e também as inativas. Outra consequência dessa conjuntura: em 2008, os desembolsos do BNDES em bioeletricidade sucroenergética chegaram a R$ 2 bilhões. Em 2013, foram de apenas R$ 200 milhões, reflexo de um cenário de incertezas quanto ao papel tanto da bioeletricidade quanto do etanol na matriz de energia do país. Nenhuma cadeia produtiva consegue sobreviver a uma política de stop and go como a que está vivenciando o portfólio de produtos do setor sucroenergético. Este é um péssimo sinal. É necessário estabelecer condições institucionais para que o etanol e a bioeletricidade sejam tratados como prioridade no planejamento energético brasileiro. O investimento em bioeletricidade será impulsionado de forma consolidada novamente quando voltarmos a expandir os canaviais. E essa expansão somente acontecerá se tivermos políticas públicas que estimulem o etanol hidratado e seu papel na matriz de energia do Brasil. Etanol e bioeletricidade são produtos sinérgicos e, portanto, precisam de políticas públicas concatenadas adequadas e de longo prazo. Na linha 11


do artigo do professor Jeffrey Sachs, para que etanol e bioeletricidade continuem sendo casos brasileiros de sucesso e possam servir de inspiração para o mundo quanto à "descarbonização" do sistema energético, o setor sucroenergético não pode continuar sendo penalizado por políticas públicas distorcidas que não reconhecem os atributos desses produtos e seu papel na matriz energética brasileira.

Imposto sobre grandes fortunas Graças ao bom Deus, o Brasil é um país onde qualquer pequeno problema pode transformarse numa grande paixão. Inventa (ou copia) uma ideia. Com um pouco de "bate caixa" transforma-a num modismo. Com um pouco mais de esforço consegue-se colocá-la na Constituição. Aí pronto. Está tudo resolvido! Basta uma lei complementar para regulá-la e a nação encontrará o caminho da felicidade. Se possível sem trabalho, como no "pays de Cocagne"... Talvez haja algum exagero nessa descrição. Mas não será muito. É o caso, por exemplo, do imposto sobre as grandes fortunas. O texto constitucional diz: "Art.153. Compete à União instituir impostos sobre: VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar". O cidadão brasileiro imagina que esse item (como tudo o mais do sistema tributário) foi produto de uma longa e meditada discussão, onde se ouviram professores de finanças, historiadores, economistas etc. Está convencido de que tal "proposição" foi produto de uma análise cuidadosa das experiências de outros países: que representa a "última palavra" em termos da justiça tributária. Tem certeza que os técnicos nacionais e estrangeiros convocados pela Constituinte foram ouvidos com atenção e mostraram conclusivamente que: 1) quase todos os países estão adotando impostos sobre as grandes fortunas; e 2) todo sistema tributário moderno se apoia sobre esse tipo de imposto. No Reino Unido, a mudança do sistema tributário levou três anos de intensos estudos da Câmara dos Comuns e foram ouvidos dezenas de especialistas ingleses, americanos, suecos e italianos. Nos EUA, a mudança do sistema tributário levou mais do que isso. Na Suécia, o problema foi tratado de forma quase religiosa. No Brasil não aconteceu nada disso. Em poucos dias um grupo de pessoas inteligentes, mas com pouca afinidade com qualquer sistema tributário, costurou o nosso. A coisa só não ficou pior graças à diligência e prudência do relator e do presidente da comissão. A verdadeira história daquele dispositivo é a seguinte: como não havia a menor certeza sobre ele; sobre o que significava; sobre o que pretendia; se era uma necessidade, ou um ato de vontade, estabeleceu-se uma polêmica. Para alguns, ele parecia um "avanço", pois um imposto sobre as grandes fortunas há de ser um avanço. Por outro lado, não parecia tão fácil saber em que direção era o "avanço". Logo, acordou-se o seguinte: como a Constituição não pode esperar, porque o povo está lá fora reclamando que aqui não trabalhamos, vamos acolher a ideia, mas acrescentar "de acordo com lei complementar", porque isso dará tempo para que se estude melhor a sugestão. Em poucas palavras: vamos empurrá-lo com a barriga para ver como é que fica... É claro que um imposto sobre o patrimônio pode ser um complemento para dar maior justiça tributária ao imposto de renda. Mas é claro, também, que ele apresenta problemas graves e sua implementação é duvidosa. Não há nada que uma regulamentação adequada do imposto de renda não possa fazer com maior justiça e com maior eficiência. O nível de renda pode não ser uma medida exata da capacidade de pagar. Um cidadão com uma renda de trabalho de 100 e outro com uma renda de capital de 100, obtida com um patrimônio de 1.000 não têm, claramente, a mesma capacidade de pagar, pois o patrimônio dá ao segundo maior segurança e maiores oportunidades. O que o imposto sobre o patrimônio líquido pretende é maior equidade horizontal. É por isso que nos países europeus onde ele tem tradição (Alemanha, Dinamarca, Noruega, Holanda, Suécia e França) a sua alíquota é extremamente baixa (a mais alta taxa marginal não passa de 2,5%) e a sua importância na receita geral é desprezível (em torno de 1%). Em 1974, o Partido Trabalhista tentou implementá-lo na Inglaterra. O resultado dos estudos foram muito duvidosos: depois de um ano de trabalho, a comissão apresentou um relatório em quatro volumes com mais de 2.000 páginas e as conclusões se resumem a dois parágrafos, porque não se chegou a um consenso. 12


O imposto foi esquecido. A confusão aumenta quando as pessoas imaginam que o imposto sobre as grandes fortunas vai cumprir um papel de distribuição da propriedade, pois seu pagamento obrigará a venda do patrimônio para satisfazê-lo. O imposto sobre o patrimônio líquido não tem essa função em nenhum país em que está instituído (menos de 20). Se esse for o objetivo, o imposto será um desastre, pois teria efeitos catastróficos sobre o nível de poupança e de investimentos privados. Acabará por prejudicar o desenvolvimento econômico e, portanto, tornando os pobres ainda mais pobres. Se o objetivo for diminuir as desigualdades, o que é muito saudável e civilizado, existem meios mais eficientes para fazê-lo e que não comprometem o processo produtivo.

O melhor do Brasil BRASÍLIA - Na hora dos balanços sobre a Copa, é necessário reconhecer: todo mundo (quase literalmente) achava que o Brasil levaria a taça nos gramados e daria um vexame fora deles, com manifestações, quebra-quebra, violência policial, aeroportos insuportáveis, estádios cheios de tapumes e uma onda de assaltos a nacionais e a estrangeiros. Ocorreu justamente o oposto. Se a expectativa era muito favorável à seleção e bem pessimista quanto à capacidade do país em recebê-lo, no fim o time do Felipão é que se revelou um fiasco histórico, enquanto a Copa se afirmava como um sucesso para brasileiros e para torcedores das mais diferentes nacionalidades. Como sempre se critica aqui o uso despudorado dos instrumentos e da visibilidade da Presidência da República para fazer campanha aberta, agora faça-se justiça: depois de meses engolindo críticas e dúvidas, Dilma, como presidente, acertou ao reunir uma penca de ministros para prestar contas, fazer um balanço, apontar o dedo na cara dos "pessimistas" e capitalizar o sucesso do maior evento desportivo do planeta. Vá lá que obras de mobilidade urbana ficaram para "depois" e que houve atrasos e improvisos, com tudo entregue em cima da hora, incompleto e com problemas, mas, no geral, os aeroportos e estádios funcionaram a contento e o esquema de segurança foi integrado e aparentemente impecável. E a "hospitalidade" do brasileiro, o clima do Brasil e o ambiente da festa fizeram o resto e definiram o êxito, como confirma o Datafolha. Podemos até estar perdendo o carimbo de "país do futebol", mas, ainda assim, um mês de Copa do Mundo fez mais pela diplomacia e pela imagem do Brasil no mundo do que os quatro anos de política externa do governo Dilma Rousseff. Conclui-se, pois, de uma vez por todas, que –apesar da corrupção, da violência, da malemolência e do espírito "macunaímico"–, o melhor do Brasil é mesmo... o povo brasileiro.

Energia pesa no bolso do brasileiro RIO - Os consumidores brasileiros estão pagando um preço muito alto pela redução de 20% nas tarifas de energia elétrica feita pelo governo federal no ano passado. O desequilíbrio financeiro no setor provocado pelas medidas impostas para forçar a queda nas tarifas, somado à operação a plena carga das termelétricas em decorrência da forte estiagem, está batendo nas contas de luz, cujos reajustes já chegam a dois dígitos. De acordo com cálculos feitos pelas consultorias especializadas em energia Safira e Thymos, os aumentos médios nas contas de energia dos consumidores residenciais neste ano devem ficar entre 16% e 17%, o que praticamente anula a redução do ano passado. E em 2015 será pior: o reajuste ficará entre 21% e 25%. Alguns analistas consideram que esses reajustes podem servir para pôr mais combustível na inflação e fazer com que ela feche 2014 acima do teto da meta perseguida pelo Banco Central (BC), ou seja, superior a 6,5%. Segundo a MB Associados, as contas residenciais de luz devem acumular avanço de 17,4% neste ano, o que faria o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado pelo BC, fechar 2014 com alta de 6,7%. Até junho, as contas de luz acumulam aumento de 4,98% e, nos últimos 12 meses, de 8,01%. Segundo o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, a energia se tornou o grande vilão dos preços no ano. Ele também endossa a avaliação das consultorias do setor e diz esperar aumentos ainda mais significativos ao longo de 2015. — Nós estamos com IPCA de 6,7% este ano porque os alimentos devem ajudar um pouco no segundo semestre, o que tem sido a grande sorte do governo depois do choque da seca no começo do ano. Contamos ainda com uma piora no câmbio caso a 13


presidente Dilma Rousseff seja reeleita, o que deve pressionar no último trimestre de 2014. Para o ano que vem, mantemos nossa projeção de IPCA de 6,8% — explica Vale. Já para o banco ABC Brasil, o IPCA deve terminar este ano em 6,4%, abaixo da meta. Porém, são esperados mais reajustes nas tarifas em 2015, o que deverá elevar o impacto da energia residencial no índice de preços. Pelos cálculos do banco, se a alta ficar em torno de 21% no ano que vem, as contas de luz devem pesar 0,6 ponto percentual no índice de preços. Este ano, a contribuição das tarifas deve ficar em 0,4 ponto. E o consumidor já sente no bolso o custo da energia mais cara. De acordo com levantamento feito pelo GLOBO na base de dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), das 34 concessionárias que já tiveram os seus reajustes autorizados entre janeiro e 4 de julho deste ano, 31 aumentaram seus preços. Desse total, 27 distribuidoras tiveram altas acima de dois dígitos, com percentuais que variam de 11% a 36,54%. Isso significa que, até agora, cerca de 43,2 milhões de residências já pagam mais caro pela conta de luz. Até dezembro, ainda haverá reajuste em outras 30 distribuidoras de energia. A Light só deve divulgar seu reajuste em novembro. Segundo a Aneel, os aumentos concedidos às distribuidoras estão atrelados aos “custos com compra de energia”. Por causa do baixo nível dos reservatórios, as usinas térmicas — que têm um megawatt/hora (MWh) mais caro em relação às hidrelétricas — vêm sendo acionadas desde o ano passado. Além disso, como algumas empresas de geração (Celesc, Cesp, Copel e Cemig) não aderiram ao processo de renovação das concessões, previsto na medida provisória 579, as distribuidoras ficaram com parte de sua energia descontratada, sendo obrigadas a recorrer ao mercado à vista, no qual os preços chegaram R$ 822 o MWh. — A desaceleração, tanto da economia como do setor de serviços, pode minimizar esse choque tarifário que vamos ter — afirma Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do ABC Brasil. Fábio Cuberos, gerente de Regulação da Safira, destacou que, apesar dos elevados aumentos que estão sendo concedidos pela Aneel neste ano — o reajuste médio entre as 31 distribuidoras está em 15,43% até julho —, as tarifas ainda estão represadas. O executivo explicou que os custos adicionais com as usinas térmicas em 2013, que seriam repassados ao consumidor neste ano, foram diluídos em quatro anos a partir de 2015. Além disso, o impacto nas tarifas do empréstimo de R$ 11,2 bilhões, feito por meio da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), via consórcio de bancos, para as distribuidoras em abril, só será repassado às tarifas em 2015 e 2016. — Os reajustes que vêm por aí a partir do próximo ano serão bem mais salgados, porque já vão partir de uma base muito elevada, fora o reajuste normal que seria dado — ressalta Cuberos. O executivo da Safira considera, no entanto, que o mais preocupante é o fato de que os problemas do setor continuam. As distribuidoras ainda têm dificuldades no fluxo de caixa e já usaram todos os R$ 11,2 bilhões disponibilizados pelo consórcio de bancos. Para arcar com os contratos de maio, as empresas não tiveram recursos suficientes, o que levou o governo a postergar para o fim deste mês o pagamento de R$ 1,3 bilhão. E já se pensa em um novo financiamento, no valor de R$ 2 bilhões. Cuberos ressalta que, apesar de as distribuidoras terem reduzido sua exposição ao mercado livre, ainda estão sendo obrigadas a comprar no mercado à vista cerca de 700 megawatts (MW) médios. — Um dos motivos das dificuldades financeiras das distribuidoras é o fato de comprarem essa energia no mercado à vista por um preço muito elevado, por causa dos reservatórios baixos. O custo da energia tem ficado alto no mercado livre — afirma Cuberos. Apesar de o preço no mercado livre ter caído para R$ 674 o MWh atualmente, os preços tendem a se manter em patamares elevados devido à falta de chuvas. Essa é a avaliação de Ricardo Savoia, diretor da Thymos, que lembra que haverá reajustes até 2018, já que o pagamento dos empréstimos foi escalonado para os próximos anos. Para 2015, Savoia diz que o aumento nas tarifas pode chegar a 25%. — A evolução das tarifas é crescente. Só entre 2019 e 2020 voltaremos para o patamar de preços de 2014. Nos próximos cinco anos estimamos um aumento de R$ 80 bilhões no custo de energia, com a falta de chuvas, os atrasos das obras e o processo de renovação das concessões. Mas os custos podem ser ainda mais significativos se as condições climáticas continuarem adversas, e as térmicas permanecerem operando a pleno vapor a partir de 2015 — afirma Savoia.

Veja quem ganhou e quem perdeu com a Copa na economia Ainda vai levar algum tempo para saber ao certo qual o impacto exato da Copa do Mundo para a economia brasileira. Vários indicadores apontam, no entanto, que o segundo trimestre do ano viu uma forte desaceleração da economia, com as previsões para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano recuando para algo em torno de 1%. Para consultorias e analistas consultados pelo G1, apesar das promessas do governo de que o 14


evento geraria milhares de empregos e ajudaria a impulsionar o crescimento, o mundial teve efeito praticante nulo ou insignificante para a economia. “A Copa é um evento que aumento muito o bem estar, mas tem impacto meio irrelevante na economia, sobretudo em países grandes como o Brasil. Se teve algum efeito, minha análise é que foi negativo. Foi como se tivéssemos tido um grande feriado prolongado. E se o país trabalhou menos, produziu também menos”, afirma o economista Celso Toledo, da consultoria LCA. Para Emerson Marçal, coordenador do centro de macroeconomia aplicada da FGV-SP, o efeito Copa ao término do ano deverá somar zero. “O país parou por vários dias. A produção caiu, as vendas no varejo caíram, mas as pessoas também se planejaram para fazer antes ou depois o que fariam durante a Copa. Muitos setores adiantaram o início do semestre; outros vão ter agora um dezembro mais longo. Mas ao fim do ano o efeito deve somar zero", avalia o economista. Na análise por setores, entretanto, houve quem faturou com a Copa, sobretudo os segmentos ligados ao turismo e lazer, como hotéis e bares. Por outro lado, a indústria manteve a trajetória de queda, por conta da grande quantidade de feriados e dias parados. (Veja ao lado o desempenho de diversos segmentos). “A indústria foi quem mais sofreu, pois a coisa já estava vindo ruim. Ocorreram dispensas e a produtividade, de fato, diminuiu. Talvez a indústria de lenços de papel pode ter ido bem após aquele dia fatídico”, brinca Marçal ao se referir à derrota do Brasil para a Alemanha por 7 a 1. O desaquecimento econômico, associado à fraca demanda e aos feriados, levou fábricas de diferentes áreas a dar férias coletivas ou a mudar a jornada de trabalho em junho. Embora ainda não tenham sido divulgados dados consolidados da indústria em junho, avaliase que tenha ocorrido um novo tombo. Aconfiança dos empresários caiu pelo 6º mêsseguido e atingiu o menor nível desde 2009. As vendas de papelão ondulado – que costumam ser vistas como um importante termômetro do comportamento da economia, uma vez que é utilizado em praticamente toda a cadeia industrial – caíram 3,38% em junho. Somente no setor automotivo, a queda na produção foi de 33,3% na comparação com junho do ano passado. Já as vendas de veículos caíram 17,27%. No acumulado até maio, a indústria brasileira acumula queda de 1,6% na produção e de 2,2% na geração de emprego, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já os setores ligados ao turismo comemoram o faturamento e o número recorde de estrangeiros no país: 700 mil apenas em junho – número 132% acima do mesmo mês do ano passado. O dinheiro deixado pelos "gringos" no Brasil durante o período da Copa foi 169% maior que o volume de dólares gasto no mesmo período de 2013, segundo levantamento da empresa de cartões de crédito MasterCard. Nos 21 aeroportos das 12 cidades-sede, a média diária de passageiros foi de 485 mil, número superior ao do carnaval e do último Natal. A taxa de ocupação nos hotéis das cidades-sede cresceu 24% na comparação com o mesmo período de 2013, estima o Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB). Em cidades como São Paulo, entretanto, o movimento caiu por causa da redução do turismo de negócios. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado de São Paulo (ABIH-SP), a ocupação ficou entre 58% e 62% durante a Copa, abaixo da média de 75% no ano passado. A entidade avalia, porém, que não ocorrem perdas, uma vez que houve uma transferência dos eventos corporativos e feiras para outras datas ao longo do ano para não concorrer com o período do mundial. “São Paulo não perdeu nada, pelo contrário, houve ganho porque a Copa trouxe uma demanda totalmente nova para a cidade. Tivemos queda em junho, mas em todos os outros meses do ano tivemos crescimento de mais de 10% e vamos crescer entre 4% e 7% no ano”, afirma o presidente da associação, Bruno Omori. Nos bares, estima-se que as vendas cresceram 25%, em média, segundo a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes). Já nos restaurantes houve queda de 10% no faturamento, em razão do menor número de eventos corporativos no período de Copa. Outra explicação é o perfil do turista de Copa, que geralmente viaja sem a família e vai pouco a restaurantes. A Abrasel calcula que o faturamento geral do setor chegou a R$ 11 bilhões em juho, uma alta de mais de 20% ante o ano anterior. Os produtores de cerveja também saíram ganhando. Em junho, a produção nacional foi de 1,04 bilhões de litros, o que representou uma alta de 6,3% ante junho de 2013. No semestre, o setor acumulou crescimento de 11,6%. A venda de televisores disparou, puxada pela Copa e pelas promoções. Segundo sondagem da consultoria GFK, a alta foi superior a 100% no início de junho. No acumulado entre janeiro e maio, o crescimento foi de 41% ante o ano passado, segundo os dados da GFK. Outro destaque no mês de Copa foi o setor de semiduráveis, que inclui vestuário, calçados e artigos esportivos. O IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo) estima um crescimento de 9,3% das vendas em junho. No comércio, em geral, entretanto, o termômetro é de desaceleração das vendas. O IDV calcula que as vendas cresceram menos em junho, 3,9%, ante alta de 5,4% em maio. Somente no Rio de Janeiro, o Centro de Estudos do Clube dos Diretores Lojistas (CDLRio) estima que o comércio deixou de ganhar R$ 1,2 bilhão durante o período da Copa, apesar da grande circulação de turistas na cidade. Na construção civil e no mercado de materiais de construção, a avaliação foi de estabilidade durante a Copa. Embora ainda não existam dados de junho do mercado imobiliário, a Caixa Econômica Federal informou que não foi observada alteração na 15


concessão do crédito imobiliário em decorrência da Copa. Já a inflação medida pelo IPCA desacelerou para 0,4% junho, mas acumulou alta de 6,52% em 12 meses, acima da meta do governo, de 6,5%. A balança comercial registrou em junho o melhor resultado do ano. No mês de junho, as exportações superaram as importações em US$ 2,36 bilhões, favorecidas pela alta das vendas de produtos básicos, que cresceram 9,5%. No ano, entretanto, o déficit está em US$ 2,49 bilhões. No mercado financeiro, a Copa reduziu o volume financeiro total negociado em razão dos pregões mais curtos em dias de jogos. O giro financeiro diário negociado na Bovespa, entretanto, ficou praticamente estável ante maio. O volume médio diário foi de R$ 6,33 bilhões em junho, apenas 0,5% inferior ao do mês anterior. No acumulado de junho, o Ibovespa avançou 3,76%. O Ministério do Turismo estimou em R$ 30 bilhões a injeção de recursos na economia provocada pela Copa. O valor corresponde a cerca de 0,7% de tudo o que foi produzido no país em 2013. Antes do início da organização do mundial, levantamento feito pela Ernst & Young (EY), em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), estimou que a Copa injetaria R$ 142,3 bilhões na economia brasileira entre 2010 e 2014, sendo cerca de R$ 30 bilhões em investimentos em estádios e obras de mobilidade urbana, podendo gerar cerca de 3,6 milhões de empregos em todo seu ciclo. Os números oficiais sobre criação de vagas no mercado de trabalho em junho só serão conhecidos no final do mês. Ainda que o cálculo não tenha sido refeito ou revisto, a Ernst & Young avalia que os números estão próximos da realidade do que se assistiu. “As projeções deveriam ser mensuradas agora ao término do evento, mas dado do sucesso da Copa acredito que os números estão bem próximos da realidade”, afirma Marcos Nicolas, diretor de Mercados Estratégicos da EY, destacado que o estudo levou em consideração um número de 600 mil turistas estrangeiros, abaixo dos 700 mil que vieram ao país. Parece ser consenso, entretanto, que as obras de infraestrutura ficaram abaixo do esperado, praticamente se limitando aos estádios. Levantamento do G1 mostrou que apenas 50% das obras de mobilidade previstas para os jogos foram entregues. “A grande decepção é que foi prometida uma agenda de obras não apenas ligadas ao evento e boa parte dela ficou pelo caminho”, avalia Emerson Marçal, da FGV. Nicolas lembra, porém, que muitas das obras prometidas e que não foram entregues continuam sendo tocadas e resultarão em investimentos concretizados. “Legado não é só o dia seguinte. A Copa serviu de catalisador para acelerar obras necessárias e este aspecto – de não ter sido completado os investimentos – irá contribuir para que essa questão ganhe ainda mais urgência”, avalia o diretor da EY. Para ele, o legado econômico da Copa precisa também contabilizar o sucesso do ponto de vista organizacional e o potencial de atração de mais turistas e investimentos no longo prazo. “Estamos dando um salto enorme em termos de projeção do país e de capacidade de atender o turista, o que gera círculo virtuoso para a atração de novos negócios”, opina Nicolas. Para Marçal, da FGV, independente das oportunidades perdidas e do baixo efeito do mundial no PIB, não é a Copa o principal fator para explicar o ritmo da economia no ano. “A economia não ia parar ou voltar a andar por conta da Copa. Foi mais como dar uma festa. A gente curtiu a festa, mas gastou também", compara o economista. "Em se tratando da economia do país, a questão é retomar uma agenda de pró-crescimento, pois a inflação está num nível preocupante, o país continua com uma série de gargalos como reforma tributária, integração comercial e problemas de infraestrutura que não são atacados", conclui.

Novo grupo de credores da dívida argentina quer pagamento integral Um novo grupo de credores que não aceitou a renegociação da dívida argentina quer o pagamento integral dos débitos com o país, orientado pelo escritório de advocacia Bingham McCutchen. De acordo com nota do escritório, o grupo tem quantidade relevante de títulos da dívida e quer ter o mesmo direito do fundo NML, que conseguiu na Justiça dos EUA o direito a receber integralmente o valor da dívida. O escritório diz que o grupo está crescendo e anuncia que interessados em fazer parte da ação devem entrar em contato. Mais de 92% dos credores do país aceitaram receber menos de 30 centavos para cada dólar nas restruturações realizadas em 2005 e 2010. Os demais credores, recusaram os termos da renegociação e reivindicam o recebimento de 100% do principal da dívida. A Argentina está à beira de um novo calote por uma série de decisões de tribunais dos Estados Unidos, que forçaram o país a negociar com investidores que não aceitaram participar das 16


restruturações da dívida após a crise de 2002. Após se recusar a saldar a dívida pública de US$ 100 bilhões, em 2001, o governo argentino negociou o pagamento com desconto e dividido em parcelas. Uma parte dos credores concordou, mas um grupo de fundos, a maioria nos EUA, exige receber de forma integral. O governo da presidente Cristina Kirchner tem até 30 de julho para alcançar um acordo com os chamados holdouts - credores que não aceitaram os termos das negociações da dívida argentina -, em uma disputa que levou a terceira maior economia da América Latina à beira do segundo calote em 12 anos. Na sexta, a segunda rodada de reunião entre a equipe do governo argentino e os fundos acabou sem acordo e é esperado um novo encontro para tentar uma negociação. Enquanto briga na Justiça americana contra esses fundos, a Argentina tem pagado as parcelas aos credores que aceitaram a renegociação. A mais recente parcela foi depositada no último dia 29 de junho, mas o juiz Thomas Griesa ordenou o bloqueio do montante – cerca de US$ 1 bilhão – porque, segundo ele, o governo argentino não pode pagar a nenhum credor enquanto não atender também à decisão dos EUA sobre os fundos. A Justiça dos EUA determinou o pagamento de US$ 1,33 bilhão a esse grupo. Em reunião na segunda-feira com os fundos, o ministro da economia argentino, Axel Kicillof, repetiu a portas fechadas o discurso que já havia feito na semana passada: disse que o país quer continuar renegociando, mas que é necessário suspender a decisão, já que ela poderia se estender aos credores que já haviam renegociado a dívida.

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