SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 20 DE MAIO DE 2014
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‘Existe um pessimismo muito acima do razoável’, diz Delfim Netto
O rebaixamento da nota do Brasil pela Standard & Poor's seria o início do que o senhor chamou há alguns meses de a "tempestade perfeita"? Quando eu me referi a tempestade perfeita no fim do ano passado, falava da coincidência do rebaixamento - que, naquele momento, era uma novidade - e a elevação da taxa de juros do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA). Naquele instante, quando o mercado ainda não tinha prefixado o rebaixamento, a coincidência dos dois teria sido uma tragédia. O rebaixamento agora é o que eu chamaria de tragédia anunciada. Você anunciou, o mercado absorveu, de forma que quando ele saiu já não teve nenhum efeito - pelo contrário. O câmbio se valorizou. Os juros subiram um pouquinho. A bolsa se valorizou. A própria redução do rating (nota de risco) das empresas não teve, nem terá, nenhum efeito porque tudo isso já estava antecipado pelo mercado. E a elevação dos juros americanos, talvez, vá ficar para o primeiro semestre de 2015. De forma que aquele fenômeno não aconteceu e não há razão para acontecer. Mas eu acho que a S&P não deu o voto de confiança. A priori, disse: eu conheço o teu passado, portanto eu determino o teu futuro - o que é uma grande idiotice porque, seguramente, o futuro não está contigo no passado. Nós aqui no Brasil colaboramos com isso. A receptividade à visita da S&P dava a impressão de que o papa estava chegando. O governo se mobilizou. Estenderam o tapete vermelho. Me disseram que cederam até automóveis para eles. Essa gente está em busca de
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credibilidade e, na minha opinião, com essa medida, conseguiu os seus 15 segundos de glória. Qual a perspectiva daqui para frente após o rebaixamento? Primeiro, se você ler com cuidado o relatório do S&P, verá que ele traz todos os problemas que já são apontados por todos nós aqui dentro. E pior - são exatamente os problemas que o governo já reconheceu que existem e em relação aos quais está tomando algumas providências. Peguemos o problema fiscal. A dívida bruta do Brasil não é um exagero. Está em 60%, um pouco menos até, nos últimos 10 anos. Os superávits primários dos últimos 10 anos têm sido suficientes para manter a dívida em torno de 57%. Ela é um pouco elevada quando você considera que o Brasil é um país emergente. Talvez fosse melhor ter 40%. Por que melhor? Porque se você tiver necessidade de fazer uma política anticíclica, com 40% pode chegar a 60% sem causar grandes perturbações. Mas com 60%, não pode chegar a 80% sem grandes perturbações. O governo entendeu isso. Tanto que não se pode considerar como teatro ele estabelecer 1,9% (de meta para o superávit primário deste ano). Na minha opinião, esse 1,9% se transformou em um compromisso sério para o governo. O segundo ponto que a S&P destacou foi a inflação. A inflação não está fora de controle. Não está ameaçando voltar para dois dígitos. Mas a política de combate a inflação foi muito ruim. Primeiro, usaram o câmbio. Isso é um erro. Desde 1984, o Brasil não resiste a essa tentação. Cada vez que há uma melhoria nas relações de troca, usam o câmbio para combater a inflação - e foi o que aconteceu agora. Com isso, você destruiu a indústria nacional - essa é a verdade. Não temos que ficar discutindo se câmbio é ou não importante. É evidente que o câmbio é importante. Essa discussão é completamente fora de propósito. Não é só câmbio, obviamente. Também quando se faz isenções para combater a inflação, você não combate a inflação. Você está empurrando a inflação com a barriga. O velho Gudin (economista Eugênio Gudin Filho) já dizia que uma pequena inflação é como uma pequena gravidez - inevitavelmente é posta para fora. Também não existe nenhuma dúvida do que o País precisa voltar a crescer. Precisa de aumento de produtividade. Esgotou-se a possibilidade de crescimento pela simples expansão da mão de obra. O que significa que é preciso aumentar a quantidade de capital por unidade de trabalho - e é isso que o governo está fazendo. O governo levou três anos para aprender como fazer concessões, como atrair o setor privado, mas aprendeu. A prova disso é o sucesso dos leilões. Leilão é coisa para profissionais e o governo não acreditava nisso. Tinha muito amador nesse negócio. Concessão pública é injeção na veia do investimento. Eleva a produtividade do sistema brutalmente. Basta ver o seguinte: para levar uma tonelada da soja do Mato Grosso para Paranaguá você gasta 400 quilos de soja. Sai de lá com mil quilos e chega com 600. Quando essas concessões estiverem prontas, não vão ser gastos 100 quilos - será como ganhar 300 quilos de soja em produtividade.
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Pensando junto com o sr.: o governo empurrou o reajuste da energia elétrica para 2015. Isso foi um sinal que o aprendizado ainda não foi concluído? Você está apontando um fato que na minha opinião foi decisivo para antecipar a decisão da S&P. O governo não demonstrou nenhuma segurança no que vai fazer. Na minha opinião, deu um sinal ruim. Esse problema de energia elétrica é extremamente técnico. Tem opiniões de todas as formas. O governo diz que não tem nenhum problema. Profissionais do setor privado dizem que têm todos os problemas. Vamos ficar no meio. Realmente há um estresse no setor. Estão usando as térmicas no limite. Qual é a forma mais fácil de reduzir o estresse? Provavelmente não é tentando elevar a oferta em três meses - é reduzindo a demanda. Ora, mas qual é o único instrumento para reduzir demanda? O preço. Mas o governo se recusa a dar uma oportunidade para que o sistema de preços funcione. Precisa aumentar, mesmo, a tarifa. Logo depois que S&P saiu do Brasil, houve essa discussão no governo. A essa altura, no último ano de mandato, já dá para ter uma ideia do governo Dilma. Como esse período, na sua opinião, vai ser lembrado? Toda intervenção do governo foi feita na direção certa, mas sempre de forma muito complicada. Portos. É óbvio que estava na direção correta. Mas é óbvio também que se tivesse ouvido o setor privado poderia ter feito tudo de forma mais eficiente e mais rápida. Os leilões hoje são muito profissionais. Mas o governo demorou para entender. Em um bom leilão, você convoca os competidores e eles fixam a taxa de retorno. Ou você fixa a taxa de retorno e o leilão estabelece a porcaria que eu posso oferecer para essa taxa de retorno. O que não é possível é controlar os dois - a não ser por uma divina coincidência. Como Deus não se envolve nisso, é difícil de acontecer. Mas isso criou uma enorme desconfiança entre o setor privado e o governo. Ainda sobre o governo Dilma, qual a sua opinião sobre o que chama de nova matriz econômica? Eu acho isso um jogo de palavras. É uma conversa mole para boi dormir, do mesmo jeito que é o tal tripé. São coisas óbvias. Quem é que propõe alguma coisa fora disso? Todo mundo sabe: é preciso uma política fiscal razoável. Ou seja: não posso ter dívida pública crescendo permanentemente, não posso ter déficits permanentemente porque isso acaba tendo consequências, não posso deixar de prestar atenção para esse equilíbrio. Eu preciso de relativa estabilidade de preços - coisa que não consigo obter se não tiver uma política fiscal adequada. Portanto, a política econômica envolve uma coordenação entre política fiscal, monetária e cambial. O que me parece é que existe um pessimismo muito superior ao que seria razoável. Há uma diferença inegável entre o setor privado empresarial e o governo. É um absurdo acreditar que a Dilma queira chegar ao socialismo. Seria a única vez na história que fariam socialismo 4
destruindo empresa estatal. O mesmo vale para o governo achar que o setor empresarial só olha para o seu umbigo. É uma meia verdade. O sr. falou bastante da presidente Dilma, mas como o sr. vê Aécio Neves e Eduardo Campos? São pessoas competentes e acho que têm lá as suas oportunidades, mas até agora não vi nada, vi um pouco mais do mesmo. Seguramente, dariam um pouco mais de espaço para o mercado funcionar. Mas deixa eu dizer uma coisa: eu tenho uma inclinação, um viés. Tenho admiração pela Dilma porque ela é absolutamente correta. Como o senhor está vendo o cenário eleitoral? É difícil dizer, mas eu acho que ainda hoje ela leva uma vantagem. Isso pode mudar. Falar hoje que não vai ter segundo turno é palpite. A única coisa que eu digo é o seguinte: o andar de baixo está muito mais satisfeito do que parece. Não adianta se apropriar do andar de cima. É precisa se apropriar do andar de baixo se quisermos manter o processo civilizatório do Brasil. Segunda-feira são 50 anos do golpe. O sr. foi influente na economia daquele período. Olhando para trás, quais foram os erros, os acertos, o que faria diferente se tivesse a oportunidade? Deixa eu explicar: você só faz em cada momento o que tem na cabeça e conhece, em certas condições objetivas. Uma decisão só vai se mostrar certa ou errada depois, pela qualidade do seu conhecimento e pelo ambiente em que você está. Eu fico muito entusiasmado quando vejo um sujeito se tornar um grande sábio quando o futuro já virou passado - daí emerge a sapiência. Quando o futuro ainda é futuro, isso nunca acontece. Por isso, eu digo: eu não me arrependo de nada. O que fiz foi baseado naquilo que eu achava que sabia, naquele momento e nas condições que me circundavam. É o velho José Ortega y Gasset (filósofo e ensaísta espanhol): "Yo soy yo y mi circunstância". E qual era a teoria econômica nos anos 70? O intervencionismo. O controle de preço. Nós aprendemos, aprendemos apanhando, que esse não era um caminho adequado. Na minha opinião essa ideia é uma coisa preposta - se eu soubesse, teria feito diferente, mas aí seria com c cedilha.
Futebol que gera exportações (Agência ANBA) Além dos turistas que virão ao Brasil para acompanhar as partidas da Copa do Mundo, o torneio trará ao País 2,3 mil importadores, investidores e formadores de opinião estrangeiros interessados nas exportações brasileiras. Eles participam do Projeto Copa 5
do Mundo, organizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX - Brasil) em parceria com 708 empresas e entidades setoriais. "O projeto faz com que os compradores internacionais tenham uma experiência única no Brasil, fazendo contato com diversas empresas. Isso forma uma plataforma de relacionamento única. É uma maneira de melhorar a imagem do produto e da empresa brasileira", explica Jacy Braga, gerente de Marketing de Relacionamento da APEX. O projeto Copa do Mundo inclui compradores de 76 setores, entre os quais se destacam casa e construção, alimentos, bebidas e agronegócios. De acordo com Braga, os visitantes vêm de mais de 100 países, sendo que Estados Unidos e Argentina terão mais representantes. A agenda dos importadores inclui ações como rodadas de negócios, visitas a fábricas, feiras, fazendas e laboratórios, além de reuniões, palestras e seminários. No total, as empresas e entidades parceiras da APEX estão organizando 837 agendas de negócios, ou seja, programações para serem realizadas com os visitantes internacionais durante o período do torneio. O ambiente de negócios irá se estender às partidas do mundial que os compradores estrangeiros vão assistir. A APEX montará um espaço exclusivo para promover o relacionamento entre os empresários brasileiros e os importadores. "O foco será na tecnologia brasileira, com tablets com jogos brasileiros, um pinball (fliperama) e jogos interativos brasileiros", conta Braga. A expectativa de geração de exportações e atração de investimentos durante a Copa do Mundo é superior a R$ 3 bilhões, valor obtido com um programa semelhante durante a Copa das Confederações, em 2013. Braga destaca que, além do volume de vendas gerado neste tipo de ação, o relacionamento e o conhecimento dos produtos e das empresas brasileiras também melhoram muito com a aproximação promovida pela ocasião do torneio. "Na Copa das Confederações perguntamos aos compradores internacionais sua percepção de como eles encaravam o Brasil como parceiro de negócios. Antes do evento, aqueles que deram nota alta ou muito alta foram 58%, depois da viagem as notas altas ou muito altas subiram para 84%", revela o gerente da APEX. A imagem do Brasil melhorou em outros fatores durante a competição do ano passado. Perguntados sobre a percepção da qualidade dos produtos e serviços brasileiros, as notas altas e muito altas somavam 56% antes do torneio e passaram a 87% após a vinda dos estrangeiros ao País. Sobre a percepção do profissionalismo do
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empresário brasileiro, as notas altas e muito altas eram 40% antes e 87% após o evento. Empresas grandes e pequenas irão participar do Projeto Copa do Mundo. Entre as marcas mais conhecidas estão Bauducco, Garoto, Piccadilly, Marcopolo, Randon, Portobello e Cecrisa. Árabes em campo Compradores de países do Oriente Médio e Norte da África estarão entre os participantes do Projeto Copa do Mundo. Nove companhias árabes, por exemplo, irão negociar em rodadas que serão realizadas na sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, uma das entidades parceiras da APEX. "O projeto vai permitir também que os árabes possam visitar empresas e fornecedores para ver in loco suas instalações e determinar as perspectivas de negócios com essas companhias", destaca Michel Alaby, diretor-geral da Câmara Árabe. O executivo ressalta ainda que esta é uma oportunidade para se mostrar de fato o País aos árabes, em vez de somente falar sobre o Brasil, e também para que os compradores possam desfrutar do esporte nacional. "Os árabes são aficionados por futebol e pela Seleção Brasileira", afirma. As rodadas na Câmara Árabe serão realizadas em três fases diferentes. Nos dias 08 e 09 de junho ocorrem as negociações com empresas de alimentos da região do Golfo; nos dias 25 e 26 de junho as reuniões são com as empresas do setor de construção; e nos dias 02 e 03 de julho, com as empresas de alimentos do Norte da África. "É também uma oportunidades para os árabes conhecerem o papel e as atividades da Câmara Árabe como apoiadora desse projeto e como entidade séria que pode dar continuidade aos contatos entre árabes e brasileiros", aponta Alaby. Os árabes que estarão nas rodadas da Câmara Árabe são parte de um grupo maior de compradores do Oriente Médio que virão ao País durante a Copa. Segundo Braga, a APEX está trazendo 68 importadores da região, de países árabes, como Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Kuwait, Omã, Iraque, Líbano, Palestina, Jordânia e Líbia, e não árabes, como Irã e Turquia. Importadores do Sudão, país do Norte da África, também participam do projeto. Estes compradores participarão de agendas promovidas por diferentes parceiros da APEX. Eles vêm ao país para fazer negócios em 18 setores, como alimentos, construção, calçados, farmoquímico, higiene pessoal e perfumaria, máquinas e implementos agrícolas, equipamentos médicos e produtos têxteis, entre outros. 7
"Os países árabes são muito importantes para as exportações brasileiras. Eles são fundamentais para o projeto e contamos com eles para fazer negócios nos eventos que vamos realizar com a Câmara Árabe e com outros parceiros", completa o gerente da APEX.
Presidente do Brasil: deixou-se pouco espaço de manobra econômica à frente de uma campanha de reeleição difícil
Se os brasileiros se encontram em um local apertado, eles dizem que eles estão em uma saia justa (a saia apertada). Embora ela geralmente prefere terninhos, que é precisamente onde Dilma Rousseff se encontra. No final deste mês, ela vai lançar sua campanha para ganhar um segundo mandato em uma eleição presidencial devido em 5 de outubro .Normalmente nesta fase do ciclo político, como na corrida para as eleições de 2006 e 2010, o governo estaria aumentando a despesa. Mas quando Dilma falou com o Fórum Econômico Mundial em Davos, no mês passado, com a bolsa de São Paulo ea imersão real junto com outras economias emergentes, ela se sentiu impelido a enfatizar seu compromisso de ser puritano. A economia do Brasil tem decepcionado desde que ela assumiu o cargo em janeiro de 2011 o crescimento foi em média apenas 1,8% ao ano.; inflação tem sido em torno de 6%;eo déficit em conta corrente inchou, para 3,7% do PIB. Seu governo tem algumas boas desculpas. Ela herdou um sobreaquecimento da economia, o mundo tem 8
crescido lentamente, e dinheiro barato nos Estados Unidos e na Europa levou a uma valorização exagerada do real. Mas Dilma já marcou algumas metas próprias também. Seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, deixou a política monetária do Banco Central e principalmente preso a limpar as metas fiscais. Por outro lado, Dilma chivvied o banco em cortar as taxas de juros; seus funcionários tentaram administrar meticulosamente as decisões de investimento com subsídios e para encobrir o dano fiscal através de truques de contabilidade. Mais do que a recuperação prometida de crescimento, o resultado foi que os empresários brasileiros e investidores estrangeiros perderam a confiança na equipe e econômico apenas na hora errada Quando Federal Reserve dos Estados Unidos no ano passado anunciou um possível "afinando" de seu de compra de títulos, o real começou a deslizar. Em relação ao dólar, é agora 17% abaixo do seu valor em maio. Uma moeda mais fraca é apenas o que o Brasil precisa se é para equilibrar suas contas externas e seus fabricantes estão a prosperar. Mas também corre o risco de acrescentar à inflação, a constante subida dos quais foi um fator (junto com os serviços públicos pobres) em protestos de massa que abalaram o governo de Dilma Rousseff no ano passado. Isso fez com que uma mudança de mente. Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, foi autorizado a aumentar as taxas de juro (de 7,25% para 10,5%). Em Davos, Dilma Rousseff, pela primeira vez, disse que o seu objectivo era o de trazer a inflação para baixo, para 4,5%; ela já parecia contente apenas para que ele fique abaixo do teto da meta de 2,5-6,5%. Lula, seu mentor político ", disse Dilma, certamente que as taxas de juros não vai perder a eleição, mas a inflação pode", diz um economista sênior da oposição.
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O Partido dos Trabalhadores, que já governou o Brasil desde 2003, espera para lutar e vencer a eleição em seu recorde de criação de emprego e de levantamento de 40m de brasileiros da pobreza. O desemprego é baixo e os salários reais continuam a subir (ver gráfico). Isso explica por que Dilma continua a ser o claro favorito para outubro. A pesquisa Datafolha no final de novembro deu-lhe 47% dos votos, em comparação com 19% para Aécio Neves e 11% para Eduardo Campos, seus principais adversários. Alguns analistas de mercado incluem o Brasil como uma das cinco economias emergentes "frágeis", mas o governo contrapõe com razão, que não pertencem à mesma empresa como Argentina ou Turquia. Como o senhor Tombini ressalta, o Brasil tem um sistema bancário forte e as reservas (376.000 milhões dólares) para suavizar um ajuste gradual da taxa de câmbio. Ao falar da responsabilidade fiscal, os sinais são de que o governo acha que pode ir longe com o adiamento apertar o cinto até depois da eleição. Mas e se uma mistura de eventos externos e falsificação fiscal em casa (e até mesmo um possível rebaixamento pelas agências de classificação de crédito) solicita um declínio maior na real? Até agora, o repasse da desvalorização para os preços internos 10
tem sido baixa, mas a história de fixação de preços no Brasil sugere que isso pode mudar de repente se a moeda enfraquece ainda mais, diz Monica Baumgarten de Bolle, economista da Universidade Católica do Rio de Janeiro . "Isto é o que realmente preocupa o Banco Central", diz ela. Ele teria que responder com um aperto monetário, matando o crescimento. Na mesma pesquisa Datafolha 66% dos entrevistados disseram que querem que o próximo presidente a agir de forma diferente de Dilma, um desejo genérico de mudança que sugere o seu apoio pode ser menos sólida do que parece. Ao permitir que a inflação se tornar um tema de campanha, ela se afastou para o terreno da oposição.
Semelhanças e diferenças na economia dos candidatos Existe mais proximidade entre os economistas que assessoram os três principais candidatos presidenciais do que se pode julgar pelos fatos que se tornam públicos. Como explica um deles, “as manchetes de jornais interditam o debate e o que se discute entre quatro paredes é muito diferente do que se deixa divulgar”. Assim, há cuidados especiais quando se fala de temas como o ajuste difícil da economia previsto para 2015, ou sobre a regra de reajuste do salário mínimo. O consenso é que os problemas fiscais e de inflação são sérios, e exigirão correção no próximo ano. As variações aqui ficam por conta do quão doloroso será o ajuste – os economistas do governo acham que os da oposição, especificamente os ligados à candidatura tucana, exageram. Mas ninguém acha que será indolor. Para além do terreno comum, no entanto, as eleições deste ano trazem algumas diferenciações de plataforma econômica relevantes. Aécio Neves, por exemplo, está apostando numa orientação bastante ortodoxa e liberal ao apontar o ex-presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, como futuro ministro da Fazenda. É bom lembrar que o PSDB tem matizes desenvolvimentistas, representadas principalmente por José Serra, que teve alguma influência em determinados momentos do governo de Fernando Henrique Cardoso, e que foi o candidato presidencial tucano em duas das três derrotas recentes. Mesmo que Serra venha a ser apontado vice-presidente, é bem possível que os resquícios heterodoxos num eventual governo Aécio sejam totalmente eliminados, como talvez não tenham sido nem na era FHC. E a razão é simples: a percepção no campo do candidato tucano é que o fracasso da “nova matriz econômica” da presidente Dilma tirou qualquer prestígio ou possibilidade de defesa do intervencionismo desenvolvimentista tal como praticado nos últimos anos. A julgar pelos economistas a quem Aécio tem dado ouvido, ele comprou essa tese, mesmo que 11
a “interdição ao debate” mencionada acima possa fazer com que isso não fique 100% claro no discurso de campanha. A posição de Eduardo Campos e Marina Silva é mais complexa. A candidatura comum dos dois nasceu muito mais de uma crítica política à adesão do PT ao fisiologismo tradicional dos governos brasileiros do que de qualquer diagnóstico sobre problemas econômicos. Campos e Marina, porém, perceberam rapidamente o potencial da crítica aos erros econômicos de Dilma, e buscam uma versão “light” da ortodoxia tucana, apostando em conselheiros que reúnam liberalismo e um “algo mais” para além da aridez econômica: André Lara Resende, às voltas com temas ambientais e de sustentabilidade, e Eduardo Giannetti da Fonseca, com seu lado filósofo. Mas, um pouco como nas últimas candidaturas tucanas, Campos e Marina não se desvencilharam totalmente da tensão interna entre ortodoxia e desenvolvimentismo. O conselheiro Paulo Sandroni, economista da FGV-SP, que participou do governo Erundina em São Paulo como presidente da CMTC, é percebido como heterodoxo pelo campo liberal. Dilma, finalmente, é curiosamente – já que está no governo – a candidata que mais levanta dúvidas em relação à plataforma econômica. Existe dentro do PT um pensamento econômico articulado e influente, aparentemente sancionado por Lula, que vê a necessidade de um ajuste em 2015 e um recuo discreto da experimentação com a nova matriz. Por outro lado, a própria presidente tem visão heterodoxa e o que não falta, dentro do PT, são correntes em favor de uma ruptura mais radical com qualquer postura que remeta ao pensamento tucano. É essa incógnita, aliás, que está por trás da má vontade do mercado em relação à candidatura Dilma.
Balança comercial tem superávit de US$ 563 milhões na terceira semana de maio (Agência Brasil) Depois de registrar resultado negativo de US$ 20 milhões na semana retrasada, a balança comercial (diferença entre exportações e importações) recuperou-se na terceira semana de maio e voltou a ter superávit. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as exportações superaram as importações em US$ 563 milhões na semana passada. No mês, a balança comercial acumula superávit de US$ 789 milhões. Apesar do resultado positivo em maio, o indicador, no entanto, continua negativo em 2014, acumulando déficit de US$ 4,777 bilhões no ano, um pouco menor que o de US$ 5,089 bilhões registrado no mesmo período de 2013. 12
A melhora do saldo da balança comercial é mais resultado da queda das importações do que do desempenho das exportações. No acumulado do ano, as vendas para o exterior totalizam US$ 80,691 bilhões, queda de 2,1% em relação ao mesmo período de 2013 pela média diária. As compras externas, no entanto, somam US$ 85,468 bilhões, recuo de 2,2% também pelo critério da média diária. Nas três primeiras semanas de maio, as exportações acumulam queda de 0,5% em relação ao mesmo período de 2013 pela média diária. As vendas de produtos básicos (bens agrícolas e minerais) cresceram 7% nesse tipo de comparação, impulsionadas por minério de cobre, petróleo bruto, carne bovina e suína e pelas safras de café e de soja. No entanto, as exportações de manufaturados caíram 7,8%, principalmente por causa da redução da venda de veículos e aviões, e as de semimanufaturados recuaram 13,5%, puxadas pelo açúcar bruto. As importações registram queda de 4% pela média diária nas três primeiras semanas do mês em relação ao ano passado. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as maiores retrações foram registradas nas compras de combustíveis e lubrificantes (-27,6%), borracha usada em obras (-10,1%) e farmacêuticos (-7,1%).
Brasil tem carga tributária de país desenvolvido e baixo IDH, diz Marcos Lisboa SÃO PAULO - O ex-Secretário de Política Econômica e atual vice-presidente do Insper, Marcos Lisboa, afirmou que a falta de transparência na distribuição dos tributos para setores específicos da economia não trouxe benefícios sociais ao País. "O Brasil tem carga tributária de país desenvolvido, mas tem um IDH muito baixo para esse padrão", comentou. Lisboa participou do "Fórum Estadão Brasil Competitivo- Uma agenda tributária para o Brasil", realizado realizado na manhã desta terça-feira, 20, pela Agência Estado, em parceria com o Estadão e com patrocínio da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ele citou como exemplo que na década de 1960, o Brasil era mais rico que a Coreia do Sul, mas o país asiático adotou políticas que viabilizaram uma melhora expressiva do nível educacional, fato que não foi seguido pelo governo brasileiro, pelo menos até a Constituição de 1988. Hoje, os cidadãos na Coreia do Sul tem um padrão de vida de país avançado, enquanto o Brasil está na 85ª posição entre 187 países no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), de acordo com as Nações Unidas (ONU).
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Segundo Lisboa, a concessão de benefícios para setores específicos da economia gerou distorções significativas no País. "A indústria automobilística no Brasil tem 60 anos e é um setor infante que pode se aposentar", destacou. "Política de proteção dedica verbas crescentes para setores, mas falta avaliação de resultados. E a concessão de benefícios deveria ter a transparência do programa Bolsa Família", apontou. "A reforma tributária é complexa, mas precisa de enfrentamento para viabilizar melhor distribuição de renda", comentou. Tributação sobre a renda. Lisboa afirmou que o Brasil tributa muito a produção, mas por outro lado, a tributação sobre a renda é relativamente baixa. "A agenda brasileira deve garantir ainda a transparência sobre o uso dos recursos. Parte dos impostos sobre folha de pagamento, por exemplo, não vai para o governo mas para o sistema S, que é privado. Outro exemplo é o FGTS, que é retirado do trabalhadores e há alguns anos passou a financiar um private equity, o FGTS FI. Não seria melhor que FGTS ficasse direto com o trabalhador?", questionou ele no Fórum Estadão Brasil Competitivo "Uma agenda tributária para o Brasil", realizado pela Agência Estado, em parceria com o Estadão e com patrocínio da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para Lisboa, é preciso garantir a transparência dos dados para que a sociedade decida qual políticas ampliar ou reduzir. Ele defendeu ainda que a proposta de criação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) deva ser sobre o crédito financeiro ou não produtivo. "Mas a transição do sistema tributário é muito complexa. O Brasil acumulou passivos tributários relevantes e mudanças bruscas podem ter custo de transição elevado." Exportações. "A complexidade do sistema tributário brasileiro traz custos elevados de recolhimento dos impostos para as empresas, incertezas quanto a regras, gerando contenciosos, e dificuldade de harmonização com outros sistemas tributários causando bitributação." A avaliação é de Flávio Castelo Branco, gerente-executivo de políticas econômicas da CNI, que também participou do debate realizado pelo Estadão. De acordo com ele, isso provoca distorções e dificuldade de harmonização dos tributos com os parceiros internacionais. "No Brasil, ao contrário dos outros países, temos dois tributos sobre a renda, o IR e a CSLL, o que dificulta muito a harmonização", diz. Ele criticou ainda o grande número de regimes especiais, como Simples, Repes, Repetro, Reidi. "A excepcionalidade acaba sendo a regra, mostra a irracionalidade do sistema e gera obstáculos a avanços na reforma tributária." Outro problema do sistema tributário nacional, segundo ele, é o excesso na aplicação da substituição tributária. "Ela se justifica em alguns setores para agilizar e viabilizar a tributação, mas os excessos geram insegurança grande e custos para as empresas."
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Para Dilma, aeroportos estão preparados para atender bem na Copa BRASÍLIA - Apesar dos atrasos em obras de diversos aeroportos do País, a presidente Dilma Rousseff disse nesta segunda-feira, 19, em seu programa semanal de rádio que os terminais estarão preparados para oferecer um bom atendimento aos passageiros em trânsito durante a Copa do Mundo, que começa daqui a 24 dias. Dilma destacou, no entanto, que mais importante que atender o Mundial será absorver a crescente demanda dos brasileiros pelo transporte aéreo. "Nossos aeroportos estão preparados para oferecer um bom atendimento a todos que vierem assistir a Copa do Mundo. O mais importante é que eles estão ficando prontos para oferecer a nós mesmos, brasileiras e brasileiros, bons serviços, como merecemos e queremos", disse Dilma hoje no "Café com a Presidenta". Na semana passada, o governo já havia afirmado que a mobilidade durante a Copa do Mundo não é uma preocupação. Dilma, que irá inaugurar nesta terça-feira, 20, o novo terminal do Aeroporto de Guarulhos, citou as ampliações em diversos aeroportos de capitais dos Estados, mas admitiu que as obras ainda estão em curso. "Quem passar hoje pelos aeroportos da maioria das nossas capitais vai notar que a poeira e o barulho estão diminuindo, e os tapumes estão sendo retirados para dar lugar a instalações modernas e confortáveis. É claro que eles vão servir à Copa, mas, além de tudo, eles são investimentos no bemestar do nosso passageiro, no bem-estar desses milhões de brasileiros que passaram a ter renda suficiente para comprar sua passagem de avião e viajar", completou. Além de Guarulhos, a presidente elencou os investimentos feitos nos aeroportos de Brasília (DF), Galeão (RJ), Confins (MG), Cuiabá (MT), São Gonçalo do Amarante (RN) e Manaus (AM). Para ela, a concessão de aeroportos para a iniciativa privada em parceria com a Infraero tem gerado "resultados muitos bons". Dilma destacou o crescimento do número de passageiros nos aeroportos brasileiros, que saltou de 33 milhões em 2003 para 111 milhões no ano passado. "Até a década passada, os aeroportos só serviam a uma pequena elite, a uma pequena parcela da população, uns poucos privilegiados que andavam de avião. Agora não.", avaliou. Por fim, a presidente também abordou os investimentos de R$ 7,3 bilhões prometidos para expansão dos aeroportos regionais. "Nós já concluímos os estudos de viabilidade de 163 aeroportos, e agora estamos na fase de elaboração dos projetos de engenharia. Os demais estudos vão prosseguir. No total, temos R$ 186 milhões em contratos de projetos já assinados e em execução"m detalhou. 15
Países da OCDE crescem 0,4% no primeiro trimestre Valor Econômico Online SÃO PAULO - O Produto Interno Bruto (PIB) real dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aumentou 0,4% no primeiro trimestre de 2014, de acordo com estimativas preliminares divulgadas pela entidade. Nos três meses anteriores, o crescimento havia sido de 0,5%. A OCDE é uma organização de 34 países, majoritariamente desenvolvidos. O Brasil não faz parte do grupo. As taxas de crescimento, porém, foram bem diferentes entre os países. O crescimento real do PIB se acelerou fortemente no Japão, de 0,1% para 1,5%, na comparação entre os dois trimestres. Na Alemanha, a taxa passou de 0,4% para 0,8% e, no Reino Unido, de 0,7% para 0,8%. Nos Estados Unidos e na França, por outro lado, as economias ficaram praticamente estacionadas, depois de crescerem 0,7% e 0,2%, respectivamente, no último trimestre de 2013. E na Itália, o PIB diminuiu 0,1% nos três primeiros meses de 2014, em comparação a um crescimento de 0,1% no trimestre anterior. Na zona do euro, a taxa de crescimento do PIB manteve-se estável em 0,2% no primeiro trimestre de 2014. Na União Europeia, houve leve queda, de 0,4% para 0,3%. Na comparação entre os primeiros trimestres de 2014 e 2013, a expansão da economia dos países da OCDE foi de 2,1%. Entre as sete maiores economias, o Reino Unido registrou a maior taxa de crescimento, de 3,1%, seguido pelo Japão, com 2,7%. A Itália foi o único país a ter contração, de 0,5%.
Para economistas do FMI, Brasil deve avaliar despesas obrigatórias Por Sergio Lamucci | Valor 20/05/2014 às 12h20 WASHINGTON - Para aumentar a flexibilidade orçamentária, o governo brasileiro deve considerar fortemente reduzir as vinculações e o tamanho relativo das despesas obrigatórias, diz a equipe de economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em relatório divulgado nesta terça-feira, o grupo do FMI recomenda também que a Comissão Mista de Orçamento vote um “teto firme” para o total de despesas, baseado na meta de superávit primário, e detalhe as contas por ministério ou setor. 16
O documento do FMI analisa as instituições fiscais dos países do G-20, fazendo algumas sugestões para melhorar o arranjo orçamentário dos membros do grupo. Ao falar do Brasil, o relatório destaca que a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), aprovada em 2000, é a pedra fundamental da reforma das contas públicas no país. Apesar de avanços como esses, o FMI nota que alguns desafios permanecem, como a ampla rigidez orçamentária, causada por uma grande fatia de despesas obrigatórias e de receitas vinculadas. Também seria importante para o Brasil desenvolver um foco estratégico de médio prazo para a elaboração do orçamento, afirma o staff do FMI. Os economistas do Fundo notam ainda que os poderes do Congresso para elevar as estimativas de receita e os poderes do Executivo para reduzir despesas levam a um processo orçamentário “ineficiente” e demorado. Em algum momento, eles terão de ser redefinidos, para garantir tanto a disciplina fiscal quanto a eficiência das decisões de como al ocar os recursos, diz o relatório. Outra sugestão é que, se não aceitar as estimativas de receitas do Executivo, o Congresso deveria ter que usar previsões feitas por partes independentes, para assegurar que as projeções são objetivas. “O uso de informações sobre os programas e a avaliação dos resultados deveriam ser mais sistematicamente incorporados ao processo de decisão orçamentária”, aponta a equipe do FMI, para quem também é importante adotar um arranjo do orçamento móvel e de médio prazo. Segundo o estudo, há evidências substanciais de que o arranjo institucional para as decisões orçamentárias é um fator importante para o sucesso ou fracasso do ajuste fiscal. Entre outras conclusões, os economistas ressaltam que as instituições fiscais melhoraram nos países do G-20 desde 2010, mas as reformas ocorreram principalmente nas economias desenvolvidas, especialmente na Europa. “Isso está criando uma distância crescente entre a força institucional entre os países avançados e os emergentes no G-20”, dizem os economistas do FMI.
Bancos iniciam corrida por capital Por Carolina Mandl | De São Paulo Os bancos brasileiros começam uma corrida atrás de capital para reforçar seus balanços até 2019, quando as regras de Basileia 3 estarão 100% em vigor. Simulações preliminares apresentadas a investidores pelos maiores bancos do país mostram que Banco do Brasil (BB), Bradesco, Itaú Unibanco e, principalmente, a Caixa Econômica Federal terão de adotar ações para reforçar seus níveis de capitalização.
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Se a totalidade das normas de Basileia 3 já estivesse vigente hoje, só o Santander se encontraria em um patamar bastante confortável, com 16,4% de capital de nível 1, aquele de melhor qualidade. Os demais bancos não alcançariam o teto do mínimo de capital que pode vir a ser demandado. Em 2019, o Banco Central (BC) exigirá que os bancos tenham um mínimo entre 8,5% e 11% de seus ativos em capital de nível 1, aquele composto por recursos dos acionistas, lucros retidos e alguns tipos de dívida que não oferecem muitos privilégios aos credores. Para suportar eventuais turbulências ou plano de expansão, dois bancos de grande porte relataram ao Valor que querem alcançar um patamar de capital de nível 1 entre 1 e 1,5 ponto percentual acima do mínimo requerido. Hoje, mais branda, a regra demanda 5,5% dos ativos em capital de nível 1. Diante do tempo de adequação que os bancos têm, a situação está longe de ser catastrófica. Mas estratégias já são elaboradas e postas em prática. Vendas de negócios, redução de dividendos e captação de dívidas são opções. Além disso, recursos que já estão dentro de casa também podem fortalecer o capital. Os bancos contam com um bilionário colchão extra de provisão para créditos de má qualidade. Como esse dinheiro ultrapassa o volume mínimo exigido pelo BC, as instituições podem reverter essas provisões. Transformados em lucro, esses recursos voltam para o patrimônio. O maior colchão pertence ao Itaú, cujas provisões adicionais somam R$ 5,2 bilhões, enquanto a Caixa não conta com esse tipo de ativo. Os bancos chegaram a discutir com o BC a contabilização desses recursos no índice de Basileia sem a necessidade de desfazer as provisões, mas a autoridade não permitiu, para evitar que as normas brasileiras tivessem "jabuticabas". Bastante comum no exterior, a venda de carteiras de crédito para investidores deve ser outro recurso. A chamada securitização de ativos bancários ainda é incipiente no Brasil, principalmente, porque antes de Basileia 3, os bancos tinham folga nos balanços para reter os empréstimos. Dois bancos afirmaram ao Valor que devem vender suas operações como forma de abrir folga de capital para gerar novas transações. O BB já informou que estuda uma redução do percentual do lucro distribuído. Ao reter mais lucro, o banco reforça o capital. Hoje o BB paga aos acionistas 40% do resultado. É um patamar acima dos 35% de Bradesco e Itaú, que não pretendem mexer nos dividendos. Medida semelhante à do BB será tomada pela Caixa, que reduzirá o dividendo entregue ao Tesouro, para algo entre 40% e 50% do lucro. No ano passado, destinou 70%. 18
"Não tem nenhum problema de necessidade de capital para este ano. Para 2015, vai depender de como vai ser nosso planejamento", diz Márcio Percival, vice-presidente da Caixa. Questionado sobre um novo aporte do Tesouro no banco em 2015, o executivo afirmou que a Caixa ainda está em fase de avaliação das medidas que tomará. Vendas de ativos começam a surgir. O Itaú quer vender sua seguradora de grandes riscos. Para fortalecer o nível 1, os bancos também emitirão mais dívidas conversíveis em capital, os chamados "CoCo bonds" ("Contingent Convertible bonds"). Esses novos títulos permitem aos bancos levantar recursos elegíveis a compor seu capital dentro de Basileia 3. Por enquanto, apenas BB e Santander testaram o instrumento, mas todos os grandes bancos devem acessar esse mercado em breve. Um empurrão fundamental para o reforço de capital virá do próprio negócio. Quanto mais rentáveis os bancos forem, menor será a necessidade de encontrar outras alternativas para se capitalizar. O lucro retornará naturalmente para o capital. "A rentabilidade de Itaú e Bradesco neste ano e em 2015 deve ser alta. Isso mais do que compensa o consumo de capital vindo da expansão do crédito", diz Carlos Macedo, analista do Goldman Sachs. No primeiro trimestre, o retorno sobre o patrimônio do Itaú ficou em 22,6%, e o do Bradesco, em 20,5%. (Colaborou Fabiana Lopes)
Copa deve deixar um legado de insatisfações No gramado, é impossível dizer se o Brasil sairá vitorioso na Copa do Mundo, que começa dentro de 23 dias. No campo político, a batalha parece perdida pelo governo. Nunca na história do país do futebol houve tantas pessoas enfurecidas ou indignadas com os gastos feitos para a realização de um Mundial, ainda mais no Brasil. Que a Copa seja motivo de polêmicas já é algo antes inimaginável, que revela, talvez, mudanças profundas em direção a uma cidadania reivindicativa - este, seria, sem dúvida, um bom legado da Copa. E, no que se refere à preparação técnica e organizacional para o evento, o Brasil corre não só para entregar obras que já deveriam estar prontas, como para evitar desastres que prejudiquem a sua imagem. Para ser escolhido como país sede da Copa, o Brasil enviou à Federação Internacional de Futebol (Fifa) um cartapácio com 3,5 mil páginas onde relacionava todo o necessário para o evento. Confirmada a escolha, que se deve à popularidade do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aos bons resultados que sua administração colhia em 2007, a bola passou para o país. Já se previa, embora o ufanismo o camuflasse, que 19
os preparativos não fugiriam à tradição brasileira de falta de planejamento, atrasos, improvisação, estouro de custos e baixa qualidade. Como propaganda era a alma para vender aos brasileiros a realização do Mundial, o governo cruzou as obras necessárias ao evento com as do Programa de Aceleração do Crescimento e tudo, de obras de mobilidade urbana a estádios, entrou no tal "legado da Copa", que seria fatalmente positivo. Não há jogo sem estádio e eles tiveram a prioridade. Ainda assim, a um alto custo e com desperdícios. Para a Fifa, oito sedes seriam suficientes. O governo emplacou 12, talvez para atender interesses de sua enorme base aliada, em conta que pode atingir R$ 8 bilhões. A melhoria dos infernais transportes coletivos foi apresentada como um dos subprodutos mais valiosos da competição. Ao choque de realidade, o discurso mudou. Primeiro, os projetos de mobilidade urbana ficaram para trás dentre as obras da Copa. A tempo, ao que parece, só o VLT de Fortaleza foi concluído. Os demais entraram então no cronograma mais moroso do PAC, do qual constavam originalmente. Membros do governo agora dizem que esses empreendimentos nunca estiveram ligados ao Mundial. Não só em grandes obras de engenharia os atrasos se tornaram preocupantes. Em fevereiro, há quatro meses dos jogos, auditoria do o Tribunal de Contas da União (TCU) revelou que nenhum dos contratos para implantar estrutura de apoio a turistas estava sendo executado. De hotéis a aeroportos, quase nada do que foi planejado ficará pronto no momento adequado. Vieram as manifestações de junho e sua cobrança por melhores serviços públicos e, entre outras coisas, as perspectivas para o Mundial mudaram - ele se tornou símbolo de gastos supérfluos. Enquanto o governo perdia pontos com isso, a crônica incapacidade gerencial expunha o Brasil a cobranças vexatórias vindas da Fifa, um órgão manchado por denúncias de corrupção. Seu secretário-geral, Jerôme Valcke, chegou a dizer que os brasileiros mereciam um "pontapé no traseiro" por não realizarem os preparativos a contento. A arrogância dos cartolas internacionais subiu uma nota com as declarações infames do presidente Joseph Blatter, de que, para o país melhorar, é preciso a "vontade do povo de trabalhar". O governo brasileiro não protestou publicamente contra elas. Com a maior parte da população agora achando que a Copa no Brasil não foi uma boa ideia - 52%, segundo pesquisa mais recente do Datafolha - e as chances de reeleição da presidente Dilma Rousseff em baixa, o humor nas hostes governistas desandou. O expresidente Lula, que geralmente tem certeira intuição política, errou feio ao dizer que o desejo de ter metrô até os estádios era "babaquice" - isso, apenas um dia depois de ocorrerem protestos em várias cidades do país contra a Copa e por melhores transportes. 20
Haverá, assim, Copa, do jeito brasileiro, improvisada e sujeita aos azares. Ela já desagradou a uma multidão de brasileiros e corre o risco de não cativar milhares de turistas estrangeiros esperados. Não há dúvidas de que, com a seleção em campo, o Brasil vestirá a camisa, mas fora dele prevalecerá uma forte e difusa insatisfação com as mazelas sociais do país.
Renda da nova classe média muda todo mês, diz pesquisa São Paulo - Um estudo detalhado sobre os ganhos e os gastos das classes C, D e E trouxe um dado novo sobre a classe C, considerada a nova classe média do País: a renda dessa parcela da população não é tão estável quanto se pensa. Na verdade, tanto o valor quanto as fontes de rendimento tendem a mudar, às vezes drasticamente, mês a mês. "Podemos dizer que a classe C é classe média quando dá", diz Luciana Aguiar, sócia diretora da Plano CDE, consultoria especializada em baixa renda, responsável pelo estudo. A pesquisa foi feita com 120 famílias, de 64 comunidades de centro urbanos em quatro capitais - Salvador, na Bahia, Recife, em Pernambuco, São Paulo e Rio Janeiro. O estudo foi encomendado e pago pelo CGAP (sigla em inglês de Consultative Group to Assist the Poor), um organismo internacional, baseado no Banco Mundial. Como a Plano CDE realizou todo o levantamento, pode divulgar parte dos dados financeiros, aos quais o Estado teve acesso. Diários financeiros Por causa do número reduzido de entrevistados, a pesquisa não tem valor estatístico. O seu grande diferencial é a profundidade. Os pesquisadores tiveram acesso irrestrito à contabilidade das famílias por seis meses, o que faz com que os resultados tracem uma radiografia fidedigna dos padrões de comportamento dessa parcela da população. "A pesquisa é baseada no que se chama de Diários Financeiros, que acompanham as fontes de receita e os gastos", diz Luciana. "É um tipo raro de acompanhamento, que permite uma investigação do orçamento familiar e de como as pessoas lidam com o dinheiro e as dívidas."
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O orçamento de todas as famílias pesquisadas variou ao longo dos seis meses. Uma delas atravessou quase todas as classes. Foi pobre, vulnerável, passou três vezes pela classe C e, por fim, entrou na B. Segundo Luciana, isso ocorre porque apenas uma parte da renda é certa - e nem sempre por causa de um emprego com carteira assinada. Aposentadoria, pensão, bolsa família, bolsa carioca e outros benefícios sociais, muitas vezes, são a única parcela fixa da renda. O restante - que não raro responde pela maior parcela do ganho - é coberto por bicos e atividades paralelas, como venda de cosméticos ou fazer salgados para fora. Mobilidade mensal Cristiano Ipaves Lacrose, 36 anos, de Itaquera, na zona leste da capital paulista, convive com essa flexibilidade desde que começou a ajudar o pai, aos dez anos. Microempreendedor, ganha por mês, como ele mesmo diz, "algo entre nada e R$ 5 mil". Para garantir nem que seja um mínimo, aprendeu a fazer de tudo - serviços hidráulicos, elétricos, marcenaria, pintura. Sua mais recente atividade é ser chaveiro em domicílio. "Não dá para adivinhar quando e quanto vai entrar", diz Lacrose. "Há um ano, ganhava bem sempre, mas, desde o fim do ano passado, os clientes ficaram mais inseguros e as coisas, imprevisíveis." Em casa, quem tem renda certa é a esposa. São R$ 900 como auxiliar de serviços. É dela a conta bancária, que garantiu o empréstimo para os documentos da moto e os dois cartões de crédito, que ele utiliza como fonte de capital de giro. Quando Lacrose tem um bom mês, a renda familiar passa de R$ 6 mil. Pelos padrões de ganho no País, a família, com uma filha, vai ao topo da pirâmide. Encosta na classe A, alta renda. Em um mês ruim, porém, os R$ 900 da esposa os colocam no piso da classe C. Por pouco não escorrega para a D. Como a renda muda, a família Lacrose transita entre as classes C, B e A. "Essa camada da população é mais vulnerável do que parece e precisa de apoio para se consolidar", diz Luciana. "Apenas a renda não é capaz de lhe garantir estabilidade." No longo prazo, a nova classe média precisa acumular ativos - educação, qualificação profissional, acesso ao sistema financeiro, um espaço para empreender, já que a maioria não tem trabalho formal. "A questão que se coloca é como ajudá-la nessa transição." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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Faturamento dos serviços desacelera e cresce 6,8% em março, diz IBGE Folha Online O faturamento do setor de serviços, o de maior peso no PIB do país, cresceu 6,8% em março frente ao mesmo mês de 2013, num ritmo menos acelerado que a taxa registrada em fevereiro - 10,1% (dado revisado para baixo em 0,2 ponto percentual na informação original apresentada no mês passado. Os resultados foram divulgados pelo IBGE na manhã desta terça-feira (20). Com o desempenho de março, a receita das empresas do setor subiu 8,7% no acumulado dos últimos 12 meses. Já no primeiro trimestre, a taxa também ficou positiva em 8,7%. Todos os dados divulgados pelo IBGE, porém, apontam a chamada a receita nominal do setor, sem descontar a evolução da inflação no período. Desse modo, não é possível mensurar o real crescimento das atividades que integram o setor. A alegação é que a pesquisa é recente e não é possível ainda fazer esse cálculo. Também por esse motivo não há comparação com o mês imediatamente anterior por meio do processo de ajuste sazonal (que elimina as oscilações típicas de cada período do ano), indicador presente nas pesquisas mais antigas do IBGE como comércio e indústria. Para economistas, o forte desempenho do setor de serviços apontado pela pesquisa é mascarado pela inflação elevada dos itens que integram os serviços. Nos últimos meses, a inflação dos serviços tem girado em torno de 8% no acumulado em 12 meses pelo IPCA –embora muitos itens pesquisados não entram no índice como transporte de cargas e outros. Apesar disso, o setor ainda apresenta pequeno crescimento, mesmo descontando a inflação, diante do maior consumo de serviços graças ao avanço da renda nos últimos anos, a falta de concorrência externa (já que a importação praticamente inexiste no setor), a taxa de desemprego ainda em patamar baixo e o lançamento de diversos
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novos serviços em áreas como tecnologia de informação e outras.
Dados do IBGE apontam que serviços prestados às famílias, como alimentação, expandiram 10% SEGMENTOS Pelos dados do IBGE, a maior alta em março ficou com os segmentos de serviços prestados às famílias (alimentação, hospedagem, lazer e outros), com expansão de 10%. Essa atividade é que tem maior relação com a inflação medida pelo IPCA, que apura preços aos consumidores finais. Também se destacou o transporte, com alta de 8% –em especial o aéreo, cuja expansão foi de 12,9% já está ligada à compra de passagens antecipadas para a Copa a um custo maior. Os serviços de informação e comunicação (TV, informática, telefonia e outros) tive um resultado modesto, com alta de 4,4%. O ramo puxou o setor como um todo para baixo ao lado do segmentos de outros serviços (3,3%). IMPACTO NO PIB Para a LCA, a perda de ritmo de fevereiro para março na taxa comparada com iguais meses de 2013 se deve ao fato de o Carnaval ter caído em março neste ano, o que reduziu o número de dias úteis. 24
Apesar de o IBGE não fazer a comparação com fevereiro livre de efeitos sazonais, alguns consultorias fazem esse cálculo. A LCA estimou um recuo de 0,5% de fevereiro para março e uma perda de fôlego do setor nos três primeiros meses do ano. O setor de serviços cresceu 1,5% de janeiro a março, abaixo dos 2,8% do quarto trimestre. Ainda sem sinalizar se irá reduzir sua projeção –como indica o menor ritmo dos serviços no primeiro trimestre–, a consultoria diz que vai atualizar a previsão para o PIB. Atualmente, prevê alta de 2% neste ano. Para a Rosenberg & Associados, o cenário dos últimos meses é de "um setor de serviços relativamente estagnado". "A Copa do Mundo poderá trazer algum impulso ao setor, porém ainda não deverá se constituir em grande fator impulsionador do PIB", diz a consultoria, em nota.
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