SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS
07 À 09 DE MAIO DE 2016
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Mercado melhora projeção para o PIB pela 1ª vez desde outubro de 2014 FONTE BERNARDO CARAM – JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 09 Maio 2016 às 10h 00
Perspectiva de retração da atividade para este ano passou de 3,89% para 3,86%; mesmo com piora na projeção de inflação, mercado reduz estimativa para a Selic e espera juros a 13%
Previsão para a produção industrial de 2016 foi revisada de -5,83% para -5,95% RELACIONADAS:
Sem obras, construtoras cortam custos e funcionários Recuperações judiciais crescem 83% de janeiro a abril ‘Bolsa empresário’ chega a R$ 270 bilhões neste ano
BRASÍLIA - Pela primeira vez desde 17 de outubro de 2014, analistas do mercado financeiro melhoraram suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2016. De acordo com o Relatório de Mercado Focus divulgado nesta segunda-feira, 9, pelo Banco Central, a perspectiva de retração da atividade para este ano passou de 3,89% para 3,86%. Uma revisão para cima do número não era feita há 81 edições do documento. A projeção vinha piorando desde a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Há um mês, a mediana das projeções estava negativa em 3,77%. No Relatório Trimestral de Inflação divulgado em março, o BC revisou de -1,9% para -3,5% sua estimativa para a retração econômica deste ano. Para 2017, a previsão de crescimento do PIB teve uma nova melhora, de um crescimento de 0,40% para 0,50% - um mês antes, a expectativa era de uma alta de 0,30%. Já a mediana das expectativas para a produção industrial de 2016 foi revisada de -5,83% na última semana para -5,95% - um mês antes estava em -5,60%. Para 2017, passou de um crescimento de 0,50% para 0,74%. Há quatro semanas, estava em 0,69%. No caso da relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB de 2016, a projeção dos analistas ficou mantida em 41,40% - quatro edições antes estava em 41,20%. Para 2017, a taxa passou de 46,15% para 46,65% - um mês antes estava em 46,20%. Para o dólar, o mercado espera que a moeda americana chegue em 31 de dezembro comercializada a R$ 3,70, ante R$ 3,72 do levantamento da semana passada. Um mês antes, 2
a mediana das previsões estava em R$ 4,00. Para o encerramento de 2017, a mediana das estimativas para o dólar ficou em R$ 3,90, ante R$ 3,91 da semana passada - estava R$ 4,10 há um mês. Inflação e juros. Depois de oito semanas consecutivas em queda, a mediana das projeções para a inflação medida pelo IPCA de 2016 teve alta no Relatório de Mercado Focus. Agora, a taxa está em 7,00% ante 6,94% da semana passada, mas ainda abaixo dos 7,14% projetados quatro semanas atrás. O foco do Banco Central para alcançar a meta de inflação de 4,5% não é mais 2016, mas sim 2017. No caso do ano que vem, a mediana caiu de 5,72% para 5,62%. Há quatro semanas estava em 5,95%. No Top 5, grupo de analistas que mais acerta as projeções, o ponto central da pesquisa para 2016 registrou queda, passando de 7,05% para 6,92%. Há quatro semanas, essa mediana estava em 7,06%. Para 2017, o grupo revisou a perspectiva para o IPCA de 5,90% na última semana para 5,50%. Há quatro edições atrás do boletim Focus, estava em 6,20%. No Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado em março, a estimativa do BC para o IPCA de 2016 estava em 6,6% no cenário de referência e 6,9% no cenário de mercado. Mesmo com a piora na perspectiva de inflação para este ano, os analistas do mercado esperam que a taxa básica de juros encerrará 2016 em 13,00% ao ano, contra 13,25% da semana passada - há quatro semanas, estava em 13,75%. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o colegiado manteve a Selic inalterada em 14,25% a.a., em decisão unânime. Para o ano que vem, o mercado espera que a taxa Selic termine o ano em 11,75% ao ano, mesmo valor projetado na semana passada - há quatro documentos estava em 12,25%. Entre os economistas que mais acertam as projeções para o rumo da taxa básica de juros, o grupo Top 5 no médio prazo, a estimativa para 2016 subiu de 13,38% a.a para 13,88% a.a.. Um mês atrás, a mediana das projeções estava em 13,75% a.a. Já para 2017, a previsão é que a taxa encerre o ano em 12,63% a.a., ante 12,25% a.a. do último documento - há quatro semanas estava em 12,25% a.a.
Novo governo vai tentar 'quebrar' programas sociais, diz Dilma
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FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, FELIPE BÄCHTOLD ENVIADO ESPECIAL A PALMAS (TO) 07/05/2016 às 14h 33
Às vésperas da votação que pode selar seu afastamento, a presidente Dilma Rousseff disse neste sábado (7) que seus adversários "jamais seriam eleitos" com promessas de redução de gastos, como vem sendo defendido pelo grupo político do vice Michel Temer, e que haverá diminuição de programas sociais, como o Bolsa Família, em um eventual novo governo. Em discurso em Palmas (TO), a presidente disse que está em processo de impeachment por causa das "escolhas" que fez para gastos públicos e que os opositores usam termos como "revisitar" e "rever" despesas para disfarçar a intenção de cortes. Ela lembrou de uma proposta de focar o Bolsa Família nos 5% mais pobres, o que, diz, significaria um corte de 36 milhões de cidadãos beneficiados. Ao citar o Plano Safra para agricultura familiar, disse: "Acredito que vai ser muito difícil eles conseguirem quebrar todos esses programas. Mas que vão tentar, vão." Também mencionou o Minha Casa, Minha Vida e falou para a plateia "lutar pelos interesses de vocês". "Querem fazer economia com o dinheiro dos mais pobres? Jamais se elegeriam. O caminho mais fácil é o da eleição indireta e é isso que está em curso no Brasil." Dilma também citou decretos editados no governo Fernando Henrique Cardoso, em 2001, para argumentar que é acusada de cometer um ato que outros governos também adotaram. "Atos praticados por ex-governadores [também] passam em brancas nuvens." REMANESCENTE Dilma foi ao Tocantins para inaugurar uma unidade da Embrapa na capital do Estado. O projeto é de responsabilidade do Ministério da Agricultura, comandado por Kátia Abreu, que se elegeu senadora no Estado. Peemedebista, Kátia Abreu é uma das últimas integrantes de partidos que eram aliados do governo Dilma a permanecer na Esplanada. A ministra disse que um dos motivos do impeachment foi o apoio de Dilma a agricultores familiares. Também criticou ministros que saíram do governo na última hora. "Enquanto alguns dessa área [agricultura] viram as costas, a ingratidão não faz parte do meu vocabulário político." Dilma retribuiu afirmando que a peemedebista é exemplo de valores morais e "lealdade". No evento, diante de uma plateia de simpatizantes, Dilma foi recebida com gritos de "não vai ter golpe". Militantes de movimentos sem-terra, estudantil e de moradia vaiaram a vicegovernadora do Estado, Cláudia Lélis (PV), chamada de "golpista". O governador Marcelo Miranda, do PMDB, não compareceu. A presidente reafirmou que irá "resistir até o fim" e disse contar com seus apoiadores. Também voltou a mencionar indiretamente o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao dizer que não tem contas no exterior e não recebeu dinheiro de corrupção. 4
Nos últimos dias, Dilma também já foi ao interior do Pará e de Pernambuco, onde também discursou para militantes e criticou o impeachment.
Reformas econômicas da Grécia são 'pouco confiáveis', diz FMI Fabrice Coffrini/AFP
A diretora-gerente do FMI Christine Lagarde no Fórum Econômico Mundial em Davos (Suíça)
FONTE AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS 06/05/2016 às 15h 36
A diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Christine Lagarde, disse não ser "confiável" a maneira como a Grécia pretende responder às novas exigências de seus credores (UE, FMI) em caso de desvio orçamentário, informou nesta sexta-feira (6) o jornal "Financial Times". Lagarde escreveu uma carta ao Eurogrupo (os 19 ministros de Finanças da zona do euro) à qual o jornal britânico teve acesso. A carta menciona o "segundo bloco" de reformas que seria imposto ao governo grego, caso ele não respeite a meta de superavit primário (antes do pagamento dos juros da dívida) de 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2018. A diretora do FMI reafirma que considera essa meta muito ambiciosa, salvo se a Grécia realizar reformas ainda mais profundas em seu sistema de aposentadorias e no regime fiscal.
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"Infelizmente, o mecanismo que Atenas propõe [para o segundo bloco de reformas] não inclui essas reformas e, sim, medidas não muito confiáveis nem desejáveis, pois acrescentam a incerteza", diz Lagarde. Uma reunião extraordinária dos ministros das Finanças do Eurogrupo, entre eles o grego Euclides Tsakalotos, voltará a discutir na segunda-feira em Bruxelas as reformas gregas e uma redução da dívida do país (de quase 180% do PIB). No dia 22 de abril, em Amsterdã, o Eurogrupo abriu, na presença de Lagarde, o debate sobre a dívida, como Atenas desejava, e ameaçou com novas reformas se em 2018 houver desvio no orçamento. Os credores ainda devem validar formalmente um primeiro pacote de medidas de austeridade em troca do terceiro programa de resgate, aprovado em 2015. GREVE GERAL Nesta sexta, a Grécia iniciou uma greve geral de 48 horas contra as reformas tributária e previdenciária do país para se qualificar a mais um resgate de bilhões de euros assinado no ano passado. Convocada pelos maiores sindicatos dos setores público e privado, a greve deixou navios ancorados nos portos, paralisou o transporte público e manteve os funcionários públicos e jornalistas fora do trabalho.
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Ministro grego diz que medidas do FMI são impossíveis de sancionar
FONTE REUTERS 07/05/2016 às 12h56
A Grécia está fazendo as reformas para cumprir as promessas em troca do resgate do país, mas as medidas de contingência extras exigidas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) são impossíveis de sancionar, afirmou o ministro das Finanças grego, Euclid Tsakalotos, em carta para os ministros das Finanças da zona do euro que vazou antes da reunião do Eurogrupo de segunda-feira (9). Ministros das Finanças da zona do euro se reunirão em Bruxelas na segunda para discutir o programa de reforma da Grécia e um novo conjunto de medidas de contingência que o governo grego terá que adotar para garantir que o país possa atingir as metas fiscais acertadas até 2018. Embora o governo de esquerda da Grécia tenha em grande parte chegado a um acordo com seus credores oficiais sobre um pacote de € 5,4 milhões de medidas para atingir uma meta de 3,5% de superavit primário em 2018, o FMI acha que isso será difícil de alcançar. O Fundo diz que o pacote seria suficiente se a meta de superavit primário fosse cortada para 1,5%, mas que economias extras são necessárias para atingir a meta de 3,5%, pressionando por medidas de contingência no valor de € 3,6 bilhões. "Qualquer pacote acima de € 5,4 bilhões está condenado a ser visto pelos cidadãos gregos e analistas financeiros...como socialmente e economicamente contraproducentes", disse Tsakalotos, na carta. 7
"Não há nenhuma maneira de tal pacote passar pelo atual governo, ou por qualquer governo democrático que eu posso imaginar." Neste sábado (7), o vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, pediu que os ministros das Finanças da zona euro deem início a negociações sobre alívio da dívida grega, dizendo que não fazia sentido esmagar o início de uma recuperação econômica com medidas adicionais de austeridade. "A reunião do grupo do euro na segunda-feira deve encontrar uma maneira de quebrar o círculo vicioso", afirmou Gabriel, que também é ministro da Economia, em comunicado enviado por email à Reuters neste sábado. "Todo mundo sabe que este alívio da dívida terá de vir em algum ponto", acrescentou.
Lagarde diz que FMI pode não emprestar mais dinheiro à Grécia FONTE JORNAL O ESTADO DE S. PAULO 06 Maio 2016 às 22h 05
Órgão está incomodado com o longo adiamento das discussões sobre a reestruturação dos empréstimos de resgate da Grécia RELACIONADAS:
Sindicatos da Grécia realizam greve de 48 horas contra lei de austeridade União Europeia já tem desemprego inferior ao do Brasil Alívio à dívida grega volta a ser negociado
Uma carta da diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, aos ministros de finanças da zona do euro mostra o quão distante estão Grécia e seus credores internacionais de um fim para o impasse que os une. A carta, divulgada em primeira mão por Peter Spiegel, do Financial Times, defende conversas simultâneas sobre o peso da dívida da Grécia e suas medidas fiscais de contenção. O FMI está claramente incomodado com o longo adiamento da Europa das discussões sérias sobre a reestruturação dos empréstimos de resgate da Grécia. Na verdade, a Europa já cedeu neste ponto pela realização de uma reunião especial do Eurogrupo, o comitê de ministros de Finanças da zona do euro, na segunda-feira. A agenda da reunião inclui um debate sobre a dívida grega. Alemanha e outros países insistem que a Grécia não precisa de alívio de dívida porque ela é sustentável se forem cumpridas as metas fiscais. A carta de Lagarde, também vista pelo Wall Street Journal, é um ataque sustentado à ideia de que a Grécia pode alcançar e manter um superávit primário, que exclui pagamentos de juros, de 3,5% do produto interno bruto. Essa meta exige um grau de austeridade extra na Grécia que não é desejável nem realista a partir do ponto de vista econômico, social ou político, argumenta Lagarde. Ao mesmo tempo, ela salienta que, se a Europa insiste na meta de 3,5%, então as propostas da Grécia para a reunião não são boas o suficiente. O FMI está mantendo uma linha dura tanto com Berlim quanto com Atenas. A combinação de medidas fiscais gregas e alívio da dívida europeia tem de somar, o FMI gosta de dizer. E se isso não acontecer, então o fundo não vai concordar em emprestar mais dinheiro à Grécia. Isso colocaria a chanceler alemã, Angela Merkel, que tem insistido há muito tempo que o FMI é vital para a credibilidade do resgate da Grécia, em uma posição desconfortável. Fonte: Dow Jones Newswires.
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Fatia dos 10% mais ricos tinha 36% dos bens declarados em 2014 no Brasil Marlene Bergamo/Folhapress
Conjunto habitacional popular no Morumbi, São Paulo; fatia dos mais ricos tem maioria dos bens no país
FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDUARDO CUCOLO DE BRASÍLIA 07/05/2016 às 02h 00
A Receita Federal passará a divulgar informações do Imposto de Renda que vão ampliar os dados disponíveis sobre a distribuição de renda no Brasil. A falta desses números foi motivo de crítica feita em 2014 pelo economista francês Thomas Piketty, autor do livro "O Capital no Século 21", que analisava indicadores de vários países do mundo. Outros pesquisadores também fazem a mesma crítica. Nesta sexta-feira (6), o órgão apresentou alguns dos números sobre 2014. Dentro de 180 dias, deverão ser conhecidos os dados para 2015, com base nas declarações de Imposto de Renda entregues até o mês passado. 10% MAIS RICOS Os dados mostram, por exemplo, que os 10% mais ricos da população brasileira detinham, em 2014, 38% da renda tributável, 39% da renda bruta e 36% dos bens e direitos líquidos. Esses números de concentração de renda dos brasileiros estão próximos dos verificados em países 9
como Alemanha, Reino Unido e Japão, países que possuem renda média bem superior à do Brasil. Os dados apresentados pelo governo mostram ainda que, nos Estados Unidos, os mais ricos respondem por 47% da renda. Países Baixos, Itália e França, por outro lado, estão na faixa entre 31% e 34%. Anualmente, a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda apresentará o "Relatório sobre Distribuição da Renda e da Riqueza da População Brasileira", uma análise do governo sobre os números da Receita. Uma análise sobre os dados de 2014 deverá ser divulgada a segunda-feira.
Sem reformas, Brasil poderá ser rebaixado novamente, diz Fitch Luis Ushirobira/Valor/Folhapress
Shelly Shetty, diretora sênior de ratings soberanos para a America Latina da agencia Fitch
FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER DE NOVA YORK 07/05/2016 às 02h 00
A transição de governo, caso o Senado vote pelo afastamento de Dilma Rousseff, será "pacífica e suave" e pode representar uma "oportunidade" de melhorar a performance econômica do país, mas não renderá a Michel Temer um cheque em branco. 10
Essa é a avaliação da Shelly Shetty, diretora sênior de ratings soberanos da Fitch, agência de classificação de risco que rebaixou na quinta (5) a nota de crédito brasileira de "BB+" para "BB", com perspectiva negativa –ou seja, a classificação brasileira pode sofrer nova redução nos próximos meses. Para Shetty, ainda mais importante do que Temer formar "um bom gabinete econômico", é assegurar um Congresso coeso o bastante para aprovar reformas necessárias para a reestruturação de um país ameaçado por recessão profunda e prolongada. A agência estima que o PIB brasileira vai encolher 3,8% neste ano e vai crescer 0,5% no ano que vem. "Claramente, uma coalização se formou no Congresso a favor do impeachment. Mas pode ou não se formar a favor das reformas". Segundo a diretora da Fitch, o país pode sofrer um novo rebaixamento nos próximos meses caso a eventual nova administração falhe em promover reformas essenciais para estabilizar os gastos públicos do país, como a previdenciária. MEIRELLES Questionada sobre que sinais a escolha de Henrique Meirelles (mais cotado para dirigir a Fazenda sob Temer) transmitiria, Shetty afirma que a agência não pode comentar potenciais ministros. Ressalta que "candidatos [à equipe econômica de Temer] já se engajaram no mercado antes e navegaram o Brasil por tempos difíceis no passado". Meirelles comandou o Banco Central nos anos Lula (2003-2010). Mas insiste: de nada adiantará "um bom gabinete" se o chefe de Estado não tiver apoio do Congresso para aprovar reformas. Em outubro de 2015, a diretora da Fitch disse à Folha que o impeachment de Dilma só representaria um risco para a classificação do Brasil caso prejudicasse a continuidade do ajuste fiscal. A economia, contudo, teria derretido com velocidade acima do esperado, o que colaborou para que a Fitch se juntasse a Standard & Poor's e Moody's e colocasse o país dois degraus abaixo do grau de investimento (que reúne os países considerados menos arriscados de dar calote). Na decisão da Fitch pesam temas como a recessão, a crise política e o aumento da dívida pública (que pode chegar a 80% do PIB em 2017). A tempestade derivada da Operação Lava Jato também afeta a avaliação da agência. Novas investigações podem ter desfechos "imprevisíveis" para o quadro político –vide o afastamento do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da Câmara a dias da votação que selará o destino de Dilma. Segundo Shetty, a agência em geral demora de 12 a 24 meses para reavaliar a classificação de risco de um país. "É muito difícil dizer quanto tempo vai demorar para o Brasil [voltar ao primeiro escalão]." 11
O Brasil começou a ser avaliado pela Fitch em 1994 e só obteve o selo de "bom pagador" 14 anos depois, em maio de 2008.
Meirelles define 3 prioridades na Fazenda para governo Temer
FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, VALDO CRUZ DE BRASÍLIA 07/05/2016 às 02h 00
Classificado pela equipe de Michel Temer como um dos "principais esteios" de um futuro governo do vice-presidente, Henrique Meirelles definiu com o peemedebista os três eixos das primeiras medidas econômicas a serem tomadas à frente da Fazenda: 1) um projeto fixando um teto para o crescimento dos gastos públicos, com o fim de boa parte das vinculações de receitas, 2) uma reforma da Previdência e 3) a racionalização do sistema tributário. Em reuniões com assessores do vice, realizadas durante esta semana, o ex-presidente do BC disse que o lema do governo Temer na economia vai ser "vamos devagar, mas estamos com pressa". Traduzindo: o desequilíbrio das contas públicas impede que a situação seja revertida de imediato, mas as medidas para resolver o problema terão de ser aprovadas no curto prazo, de preferência todas neste ano. "Precisamos sinalizar que daqui a dois anos poderemos ter superavit primário de novo, mas isso não significa deixar para depois a aprovação. Tem de acontecer agora", disse Meirelles a assessores de Temer. O vice assume a Presidência se o Senado abrir o processo de impeachment de Dilma, na próxima semana. Em paralelo, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), cotado para o Ministério do Planejamento, adotará ações em dois sentidos: animação econômica, com projetos para estimular o 12
investimento, e gestão e governança, com corte de gastos e melhoria do funcionamento da máquina. Meirelles e Jucá disseram a Temer que essas iniciativas serão montadas para recuperar a credibilidade da política econômica, reduzir o risco do país e garantir a volta do crescimento ainda em 2016. Nas palavras do provável novo ministro da Fazenda, o governo Temer vai criar condições para que a dívida pública caia no médio prazo. "O importante é dar aos investidores não a previsão, mas a segurança e a certeza de que o endividamento será reduzido e o risco do país vai diminuir", disse Meirelles a interlocutores do vice. REVISÃO DA META Confirmado o afastamento de Dilma, Temer pretende nos primeiros dias aprovar no Congresso a revisão da meta fiscal deste ano, autorizando um deficit de R$ 96,7 bilhões. "Esta é a realidade que a Dilma está nos deixando, um rombo enorme nas contas públicas, que teremos de reverter no médio prazo", tem dito Jucá. Outra missão de curtíssimo prazo será aprovar a DRU (mecanismo que desvincula 30% das principais receitas da União). Em seguida, o governo irá se dedicar ao projeto que fixa um teto para os gastos públicos. A ideia é que, além do limite, eles não subam mais do que o crescimento do PIB. A reforma da Previdência deve ser apresentada no curto prazo, votada depois das eleições municipais, por etapas, aprovando algumas ainda neste ano. Um assessor de Temer diz que aumentos de impostos não serão propostos nos primeiros dias e toda medida nessa área será discutida antes com o Congresso.
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Por atraso na BR-153, Galvão é autuada 28 vezes FONTE RENÉE PEREIRA - JORNAL O ESTADO DE S. PAULO 06 Maio 2016 às 22h 55
Envolvida na Operação Lava Jato, empresa não conseguiu nem mesmo empréstimo-ponte do BNDES
Trecho da BR-153, quase sem asfalto, passa por operação tapa-buraco RELACIONADAS:
Acordo entre construtoras e governo pode ter efeito limitado para consumidor Bancos públicos liberam R$ 2,4 bi para casa própria
Na lista das construtoras envolvidas na Operação Lava Jato, o Grupo Galvão já recebeu 28 autuações da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) por descumprimento do contrato de concessão da BR-153, entre Anápolis (GO) e Aliança do Tocantins (TO). Sem crédito para tocar as obras, a empresa aguarda há meses uma posição da agência para saber se poderá vender a concessão ou se perderá a rodovia. A Galvão venceu o leilão de 624 quilômetros (km) da rodovia em maio de 2014, quando o escândalo de corrupção ainda estava em fase inicial e nem se cogitava a participação das mais renomadas empreiteiras do País. Na época do leilão, uma das condições oferecidas pelo governo federal para atrair investidores era o financiamento – mais barato – do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Inicialmente, o banco estatal concederia um empréstimo-ponte de R$ 798 milhões até estruturar o crédito de longo prazo. O dinheiro seria usado para os serviços iniciais, como a duplicação de 10% da rodovia no primeiro ano de concessão. Sem essas obras, a empresa não pode cobrar o pedágio. Com a prisão do principal acionista do Grupo, Dario de Queiroz Galvão Filho, a situação se complicou. A empresa não teve o empréstimo-ponte, não fez as obras exigidas e não pôde iniciar o pedágio. Em março de 2015, a Galvão entrou com pedido de recuperação judicial. “Hoje estamos mantendo a rodovia com recursos próprios. Já investimos R$ 200 milhões na compra de equipamentos operacionais, como guinchos e caminhões de combate a incêndio”, afirma o diretor-presidente da Concessionária de Rodovias Galvão BR-153, Jean Alberto Luscher Castro. Segundo ele, no entanto, como a estrada é antiga e tem tráfego pesado, no período de chuva a condição do pavimento fica pior.
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A empresa tem feito operação tapa-buraco para evitar uma deterioração maior da rodovia, que tem recebido muitas reclamações por parte dos usuários. Por dia, passam nesse trecho da rodovia 60 mil veículos. Desse total, diz Castro, 18 mil são caminhões acima de quatro eixos, carregados de grãos ou produtos acabados que seguem para abastecer o Norte do País. Venda. De acordo com o edital, durante os 30 anos de concessão, a empresa teria de investir R$ 4,31 bilhões na rodovia. Hoje, no entanto, o futuro da BR-153 é uma incógnita. Procurada, a ANTT afirmou que está em fase de instrução processual a ser encaminhada ao Ministério dos Transportes para que o órgão decida sobre as penalidades e o que fazer com a concessão, se autoriza a venda ou retoma a rodovia. Segundo fontes, a Galvão tem três propostas de venda da concessão. Uma delas seria da Progen, empresa de engenharia e gerenciamento de projetos. A companhia não retornou ao pedido de entrevista. Os chineses também teriam apresentado uma proposta pela rodovia. O processo de venda da concessão também está em análise na ANTT há alguns meses, sem uma sinalização do que pode ocorrer. Em nota, a agência afirmou que, junto com o processo que será entregue ao ministério, é possível que apresente a documentação completa das propostas de transferência societária da concessão.
Bovespa acumula queda de 4% na semana; dólar subiu 1,92% FONTE AGÊNCIA ESTADO - JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 06 Maio 2016 às 19h 23
Balanços trimestrais de bancos influenciaram o mercado financeiro durante a semana; intervenção do BC puxou alta da moeda americana
Ações de bancos puxaram queda do Ibovespa RELACIONADA:
IBOVESPA. Acompanhe as cotações
SÃO PAULO - O Ibovespa encerrou a primeira semana de maio com uma desvalorização de 4,07%, aos 51.117,82 pontos. A queda foi puxada, principalmente, pelos papéis de bancos privados e públicos, que desde a semana passada vêm divulgando seus balanços trimestrais. Já
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o dólar subiu 1,92%, com destaque para os dias em que o Banco Central efetuou leilões de swap cambial reverso (equivalente à compra de dólares no mercado futuro). Itaú PN, a ação de maior peso no Ibovespa, fechou a semana em queda de 7,2%. Os papéis de outros bancos também acumularam queda na semana, apesar da maioria ter fechado a sextafeira estável. As ações do Bradesco caíram 2,73% (PN) e 2,91% (ON) na semana, enquanto Santander desvalorizou 1,83%. Banco do Brasil teve retração de 5,92%. Nesta sexta, o Ibovespa fechou praticamente estável, com ações ligadas a commodities em valorização. Petrobrás ON e PN subiram 2,29% e 2,75%, respectivamente, acompanhando a alta dos preços do petróleo. Já Vale ON (+1,32%) e PNA (+1,88%) avançaram mesmo com uma nova queda dos preços do minério de ferro. A explicação, segundo operadores, é que as ações responderam a uma melhora generalizada das commodities metálicas ao longo do dia. Câmbio. O dólar acumulou alta de 1,92% nesta semana, influenciado pelos leilões de swap cambial reverso realizados pelo BC na segunda e na terça-feira. No entanto, na sexta-feira a moeda fechou em queda de 1,05%, cotada a R$ 3,50. No início do dia, o dólar exibiu ganhos firmes ante o real, em sintonia com o exterior. Aos poucos, porém, foi perdendo força. O fortalecimento do petróleo, tanto em Londres quanto em Nova York, acabou abrindo espaço para a divisa migrar para o negativo e se firmar em baixa. Mesmo com o dólar abaixo dos R$ 3,50 em alguns momentos da tarde, o Banco Central se manteve distante dos negócios e, pelo terceiro dia consecutivo, nenhum leilão de swap cambial reverso foi convocado.
‘A aviação virou o nosso plano B’, dizem pilotos desempregados FONTE MARINA GAZZONI – JORNAL O ESTADO DE S. PAULO 07 Maio 2016 às 14h 55
Sem emprego, irmãos abriram hamburgueria Os irmãos Marcelo e Andreas Schlüter, de 26 e 21 anos, queriam seguir a profissão do pai, que foi piloto da Varig e atualmente é comandante da Gol. O pai investiu R$ 140 mil em horas de voos para preparar os dois filhos para a atividade. O mais velho, Marcelo, tem licença de piloto privado e comercial, foi aprovado na prova da ICAO (Organização da Aviação Civil Internacional, na sigla em inglês) e finalizou o treinamento para jatos da Boeing. Depois de oito meses procurando emprego na aviação, decidiu empreender. “Tinha todos os requisitos para entrar em uma linha aérea. Mas não tinha vaga, então abri um negócio para não ficar parado.” Marcelo convenceu o irmão mais novo a lhe ajudar numa nova empreitada: vender hambúrguer gourmet. Os dois comeram o “hambúrguer dos sonhos” em uma viagem de família para os Estados Unidos. Conseguiram convencer o dono do restaurante a lhes ensinar a receita. Voltaram para Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, e começaram a The Bronx Burger na cozinha de casa, em setembro do ano passado. O delivery dos irmãos Schlüter deu certo. Hoje, vendem em média 140 sanduíches por dia e estão prestes a abrir uma lanchonete. “Começamos como algo provisório, até a aviação melhorar, mas o negócio tomou uma proporção que não esperávamos”, disse Marcelo. “Hoje, a hamburgueria é o nosso plano A e a aviação é o plano B. Se a hamburgueria não der certo, podemos voltar a procurar emprego como piloto”, disse Marcelo.
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Marcelo e Andreas começaram negócio em casa e vão abrir lanchonete
Andreas parou o curso de piloto quando viu que o irmão mais velho não conseguia emprego na área e decidiu empreender junto com ele. Com a loja física, que deve ser inaugurada nos próximos dias, eles esperam ganhar mais do que ganhariam no início de carreira da aviação, como copilotos um salário estimado em R$ 7 mil. O pai dos meninos, o comandante Cesar Schluter, diz que jamais largará a aviação, mas apoia os filhos na hamburgueria. Além do curso de piloto, insistiu para que eles também fizessem faculdade de Administração, conselho que foi atendido. “Aviação é uma área cativante, mas tem seus altos e baixos. Na época que a Varig quebrou, fiquei meses sem receber salário e minha família viveu um período muito difícil. É bom que os meninos tenham alternativa”.
A rotina das construtoras sem obras FONTE RENÉE PEREIRA – JORNAL O ESTADO DE S. PAULO 08 Maio 2016 às 15h 43
Com queda de até 90% do faturamento, empresas enxugam estruturas e tentam mudar o perfil para conseguir sobreviver Com dois novos contratos em mãos, a construtora Geosonda acreditava que 2015 seria um ano de faturamento gordo, apesar de a Operação Lava Jato já ter mostrado a sua cara ao setor naquela época. Especializada em fundações e rebaixamento do lençol freático, a empreiteira não pensou duas vezes antes de se endividar e importar um guindaste para tocar a obra. Após meses de espera, o equipamento chegou. Mas, do Porto de Santos, foi direto para um galpão da empresa em Cotia, na Grande São Paulo, e está até hoje parado. A obra onde o guindaste seria instalado foi suspensa por falta de verba. RELACIONADAS:
Recuperações judiciais crescem 83% de janeiro a abril no setor Sem crédito do BNDES, Odebrecht usa recursos próprios para concluir obras
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A partir daí, a companhia, que tem 70 anos no mercado, entrou numa maré de notícias ruins. Além do empreendimento suspenso, até hoje não recebeu pelos serviços prestados a uma empresa que rescindiu contrato com o governo do Estado de São Paulo. De 2015 para cá, o faturamento da construtora caiu pela metade, e o quadro de funcionários também. “Atualmente somos mais uma empresa de renegociação com bancos do que uma construtora”, afirma o presidente da companhia, Clovis Salioni. Para o executivo, que já passou por várias crises e planos econômicos no País, a situação atual do setor é a pior. “Hoje vivemos a impossibilidade de planejar o amanhã.” Do ano passado para cá, casos como o da Geosonda se espalharam por todos os cantos do País. Sem obras para tocar, cada uma faz o que pode para continuar com as portas abertas. Algumas enxugaram a estrutura e demitiram parte dos funcionários. Outras nem isso podem fazer, pois não têm dinheiro para pagar as indenizações trabalhistas. A lista de estratégias usadas pelas empresas para reduzir custos inclui ainda mudança da sede para imóveis menores.
De acordo com Clovis Salioni, a Geosonda se transformou em uma empresa de renegociação com bancos
Há também aquelas que recorrem até aos famosos precatórios para dar um pouco de fôlego ao caixa, bastante combalido com a escassez de obras. No ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor da construção caiu 7,5%, a pior taxa desde 2001, segundo Boletim Trimestral da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop). Neste ano, o segmento deve recuar outros 2,6%. Para algumas empresas, no entanto, a sensação é de que a situação é ainda pior. A Ellenco, por exemplo, viu suas receitas despencarem quase 70% em 2015. De repente, o tamanho da construtora, com sede em Sorocaba, no interior de São Paulo , já não era mais compatível com o volume de obras em carteira. Enquanto os contratos antigos iam minguando, novas obras não surgiam para repor as perdas. Diante da sangria, a primeira iniciativa foi cortar mais de 200 funcionários (40% do quadro total), afirma o diretor Décio Maluf. A crise também mudou o perfil da empreiteira, de 65 anos e que está na terceira geração familiar. Antes focada em contratos públicos, agora ela quer ampliar a fatia de projetos privados na carteira. “Decidimos focar mais no cliente privado, como as concessionárias de rodovias, que têm planos de investimentos a cumprir”, diz Maluf. Segundo ele, a companhia já 18
conseguiu inverter as posições. Até 2014, a carteira era formada por 60% de contratos públicos e 40% privados. “Hoje, essas participações se inverteram.” A situação crítica enfrentada pelas empresas é o retrato dos números negativos da indústria da construção. No ano passado, os investimentos em obras caíram R$ 51 bilhões – 7,62% inferior a igual período de 2014, segundo cálculos da Ex Ante Consultoria Econômica, feitos a pedido da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Sem novas obras no radar, a tendência é essa queda se aprofundar nos próximos meses. “A maior parte dos projetos está parada por falta de verbas do poder público. Não tem empenho (fase de execução do orçamento), não tem pagamento e, nesse ritmo, ficamos sem faturar”, afirma Bruno Freitas, da Villanova Engenharia e Desenvolvimento Ambiental. Ele brinca que, para superar a paradeira do mercado, tem de ter muita criatividade. As práticas tradicionais, como corte de pessoal e redução da estrutura física, já foram adotadas. Agora vem um trabalho ainda mais difícil, que é tentar encontrar formas de aumentar a receita. Na atual situação vale qualquer negócio, até receber precatórios de 10, 15 anos atrás. “É o que está salvando o caixa da empresa”, diz Freitas, destacando que a construtora sempre teve no seu DNA receitas oriundas do setor público. “Hoje temos três contratos parados, o que foi responsável por uma queda no faturamento de 25% a 30%.” A rotina das construtoras no meio dessa crise tem sido fazer contas e cortar na carne. “Fazemos reuniões todas as semanas para avaliar a situação. Trabalho há 40 anos no setor e nunca vi nada parecido. Não há oferta de obras e os pagamentos estão atrasados há mais de 80 dias, caminhando para 90 dias”, diz o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São Paulo, Silvio Ciampaglia. A dúvida é saber quem vai sair dessa turbulência vivo. “Tem gente no mercado que não vai aguentar muito tempo”, diz Bruno Freitas.
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Exportações e importações na China recuam acima do esperado em abril 15.out.2012/Reuters
Carros em porto de Dalian, na província de Liaoning, China
FONTE REUTERS 08/05/2016 às 11h 49
As exportações e as importações da China caíram mais do que o esperado em abril, ressaltando a demanda fraca internamente e no exterior e esfriando expectativas de uma recuperação da segunda maior economia do mundo. As exportações caíram 1,8% na comparação anual, disse a Administração Geral de Alfândega neste domingo (8), revertendo a breve recuperação do mês anterior e endossando preocupações do governo de que o ambiente global de comércio será desafiador em 2016. As importações caíram 10,9% em abril em relação a um ano antes, no 18º mês seguido de queda, sugerindo que a demanda doméstica segue fraca apesar de uma recuperação nos gastos com infraestrutura e crescimento recorde de crédito no primeiro trimestre. O saldo da balança comercial somou US$ 45,56 bilhões no mês passado, contra expectativa de superavit de US$ 40 bilhões.
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Economistas consultados pela Reuters aguardavam queda de 0,1% nas exportações em abril após uma alta inesperada de 11,5% em março; e esperavam um recuo de 5% nas importações, após declínio de 7,6% em março.
AOL se reinventa e volta ao Brasil após 10 anos Peter DaSilva/The New York Times
Tim Armstrong, presidente e presidente-executivo da AOL
FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, NELSON DE SÁ ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK 08/05/2016 às 02h00
Dez anos depois de deixar o país, a AOL volta ao mercado brasileiro na terça (10) com o lançamento de ferramentas de publicidade digital para publishers e anunciantes. A empresa, que não oferece mais acesso à web, assumiu também as operações publicitárias da Microsoft. Comprada em 2015 pela Verizon, a maior empresa americana de telecomunicações, a AOL iniciou expansão mundial via acordos e aquisições. Segundo seu presidente e presidenteexecutivo, Tim Armstrong, o retorno ao Brasil espelha essa estratégia, resultado da "pressão positiva" de parceiros também globais como Procter & Gamble. "Os clientes que temos querem essencialmente solução de escala, especialmente diante da situação da economia global hoje", diz Armstrong. "Quando você começa a pensar na equação de escala, vê entre 9 e 13 países no mundo que realmente importam. E o Brasil é um deles." O objeto da AOL é alcançar mensalmente 2 bilhões de consumidores digitais até 2020, ante perto de 700 milhões hoje. Para tanto, fechou acordo com a Microsoft para nove mercados 21
(EUA, Alemanha, Japão, Brasil e outros) e adquiriu plataformas para publicidade mobile como a Millennial Media, um dos lançamentos desta semana. Já anunciou também que fará uma oferta para aquisição do Yahoo!, se este de fato for colocado à venda. E Armstrong adianta que na América Latina, Brasil inclusive, espera "mais acordos de relacionamento [como o da Microsoft], com empresas de telecomunicação e mobile". A ambição é abrir uma alternativa ao duopólio atual. "Um dos principais retornos que temos [dos clientes] é que Google e Facebook ergueram incríveis usinas globais, mas eles querem mais concorrência. Estão à procura dos lugares com que podem fazem parcerias no futuro, contra os lugares em que estão hoje." A AOL, que abandonou o nome America Online e manteve apenas a sigla, descreve-se agora como uma empresa de tecnologia por um lado, oferecendo ferramentas de conexão para publishers e anunciantes, priorizando aparelhos móveis, e de conteúdo por outro, com sites como "TechCrunch". 'FORÇA INEGÁVEL' Antes da AOL, Armstrong, 44, foi diretor do Google durante quase uma década e é creditado por parte de seu avanço mundial em publicidade. Entre outros postos, foi diretor de Américas no Google, área que abrange o Brasil, mercado que visitou diversas vezes e conhece bem. Mas ele é cauteloso ao falar do país, hoje. "Você pode ter uma visão de longo prazo do Brasil ou de curto prazo", diz. "Adotamos a visão de longo prazo, de que o Brasil, entre os países grandes, tem alguns dos melhores recursos naturais, uma indústria realmente diversificada, ótimas relações comerciais com a Ásia." Menciona que todos os países passam por quedas "dramáticas", como os EUA em 2008/09, e que a hora é boa para a AOL no Brasil, onde só pode crescer. "Se estabelecermos nossas raízes corretamente, no lançamento, estaremos numa posição boa quando a economia se recuperar." Questionado sobre a crise política, declarou-se "desqualificado" para comentar, mas acrescentou: "Passei um bocado de tempo no Brasil, ao longo dos anos, e creio que o que aconteceu nos anos 2000 foi realmente extraordinário, ver o quanto a economia simplesmente levantou voo". Para Armstrong, "existam ou não desafios políticos, as razões fundamentais para o crescimento dos anos 2000 ainda estão lá: grande mercado, comércio internacional, grandes indústrias, muitos investimentos de empresas estrangeiras. O Brasil é uma força inegável, a maior economia da América Latina". E a política não importaria tanto: "Os EUA tiveram desafios de liderança [política] ao longo do tempo. De modo geral, penso que liderança é menos importante que a robustez em população, recursos. Minha aposta é que o Brasil volta, não sei quando". O jornalista viajou a convite da AOL
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Conheça os 4 alvos de Temer para reativar a economia brasileira FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, MARIANA CARNEIRO DE SÃO PAULO 08/05/2016 às 02h 00
Como transformar a mais profunda recessão econômica da história do país em crescimento, em um curto intervalo de tempo, recuperando a confiança e os investimentos? E combinar tudo isso à redução da inflação e ao resgate indispensável da saúde financeira do governo? Parece missão impossível, mas é isso que está por trás das análises otimistas que muitos economistas e investidores desenham para um governo Michel Temer, caso o vice seja alçado à Presidência nesta semana. No cenário superpositivo, em que Temer anunciaria iniciativas "em semanas" ou "dias", segundo disseram à Folha economistas e gestores de investimento, o crescimento no ano que vem poderia alcançar até 2%, após uma queda acumulada do PIB de 8% em 2015 e 2016. DISTRIBUIÇÃO DAS DESPESAS DO GOVERNO CENTRAL EM 2015 Despesa
Valor, em R$ bilhões
Benefícios da seguridade social
436
Custeio com educação e saúde
108
Despesas correntes com ministérios, legislativo, judiciário e BC
115 23
Valor, em R$ bilhões
Despesa Investimentos
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Pessoal e encargos
238
Seguro-desemprego, benefícios assistenciais, abono salarial e Bolsa Família
90
Sentenças judiciais e outras despesas obrigatórias
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Subsídios e subvenções
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Transferências para Estados e municípios
205
Fontes: Tesouro Nacional, Ministério do Planejamento, elaboração Credit Suiss
No receituário dos economistas, as iniciativas imediatas do eventual presidente devem ter como alvo uma saída para o deficit das contas públicas -que tem tirado o sono dos que fazem contas e preveem uma espiral de alta para a dívida do governo. "Mas, se não crescer, não haverá ajuste fiscal possível", Tiago Berriel, professor da PUC-Rio e economista da gestora Pacífico. Se confirmado presidente, Temer terá de lidar com quatro desafios incontornáveis, dos quais o ajuste das contas públicas será apenas o primeiro a se enfileirar. O mais visível e politicamente sensível é o aumento da taxa de desemprego. Para os economistas, vai piorar até o fim do ano por inércia, seja quem for o presidente. Dos atuais 10,9%, a taxa poderia escalar a 13%. "O mercado de trabalho funciona a partir das expectativas de empregados e empregadores e vai depender do ambiente que o governo Temer criar", diz o especialista João Sabóia, da UFRJ. "Já se percebe que ele está tendo dificuldades em montar seu governo, dificilmente recuperará a economia rapidamente e sem crescimento não há emprego." FUNDO DO POÇO O desemprego mina uma retomada por meio do consumo e do crédito. Sobram, portanto, os investimentos como único meio para resgatar o PIB do fundo do poço -ponto que, com sorte, deve ser alcançado no segundo semestre. Segundo cálculos de Castelar, o investimento terá encolhido cerca de 30% no triênio encerrado em 2016. "As concessões são algo que ninguém é contra e é uma boa oportunidade de negócios, há muitos investidores que gostariam de tocar a infraestrutura do país", diz. Berriel observa, porém, que serão embutidos prêmios de risco mais elevados o que se traduz em pedágios ou tarifas mais caras devido a distorções criadas no governo Dilma Rousseff, 24
como mudanças de regras e interferências nos negócios. Esses riscos não se desfazem sem ações na direção oposta. "Temos de fazer o melhor para convencer o setor privado a voltar a investir." CONCESSÕES E PRIVATIZAÇÕES Sem a ajuda do consumo e do crédito, resta acionar o crescimento por meio dos investimentos. A saída será entregar a tarefa ao setor privado. Para tanto, será necessário atrair investidores para a empreitada, criando um ambiente de menos risco e com horizonte de retorno. Solange Srour, da gestora ARX, afirma que ajustando as contas públicas é possível atrair financiadores estrangeiros. "As taxas de juros de longo prazo já recuaram neste ano e podem cair mais", diz. "A animação do mercado gera condições favoráveis ao crescimento e há muitos recursos por vir." SUBSÍDIOS Empréstimos do BNDES, incentivos a setores "eleitos", como o Simples e o desconto na folha de pagamentos, são passíveis de corte ou de redução. "O desconto em folha foi um 'trem da alegria' que retirou R$ 25 bilhões do Orçamento e sem nenhum efeito positivo", diz Tiago Berriel, da PUC-Rio e da gestora Pacífico. Com menos recursos, o BNDES deve murchar. "O Brasil investia 20% do PIB antes de o BNDES crescer e isso não se alterou depois disso", diz Armando Castelar, da FGV. A receita aqui é rever distorções que retiram eficiência da economia. DESEMPREGO O desemprego está aumentando rapidamente e não há previsão de reversão neste ano, mesmo com mudança na condução política do país, avalia o economista João Sabóia, da UFRJ. "A única saída é a economia se recuperar", afirma. O economista não prevê alteração do quadro até meados de 2017 ou início de 2018. "Primeiro, os empregadores e empregados têm que acreditar que a situação no futuro será mais favorável, para em seguida passarem a contratar", diz. "Não há mágica." É preciso reencontrar o crescimento. PREVIDÊNCIA Colocar as contas do governo nos trilhos é tarefa número 1 para espantar o risco de insolvência ou calote. E a Previdência -por ser o principal gasto público- é o primeiro item da revisão. Segundo estimativa do economista Juan Jensen, da consultoria 4E, a dívida do governo alcançará 80% do PIB e só mudará a tendência na virada da década. Hoje, a cifra é de 67% do PIB. A projeção prevê avanço na reforma da Previdência, mas não basta. "É preciso também fazer um ajuste de curto prazo", diz, referindo-se a aumentos de tributos, como a Cide e a CPMF. Na pesquisa Focus, feita semanalmente pelo Banco Central, há otimistas com incríveis 3,3% de previsão de crescimento em 2017. Para chegar até lá, porém, Temer e sua equipe terão de enfrentar problemas que podem desviar o caminho ou alterar o ritmo da marcha.
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"Não é só sentar na cadeira que o crescimento vai acontecer", afirma Armando Castelar, economista da FGV. "A recuperação será proporcional ao que for feito."
Fabricado no Rio, jipinho Nissan Kicks será produto mundial FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, FERNANDO VALEIKA DE BARROS COLABORAÇÃO PARA A FOLHA 08/05/2016 às 02h 00
Com uma fábrica em Resende (RJ) e vendas ainda abaixo das expectativas no país, a Nissan investe no segmento da moda para ganhar mercado, o de SUVs compactos. O principal executivo da marca no país fala sobre a expectativa com a chegada do SUV Kicks, que começará a ser vendido no dia 5 de agosto, data de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio.
Nissan tem promovido aparições do Kicks em pontos turísticos do Rio
Folha - O que significa o lançamento do Kicks para a Nissan? José Luís Valls - A marca vai começar uma nova etapa no Brasil. Trata-se de um produto mundial, que será feito no país. O carro foi pensado por designers brasileiros.
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Mas as primeiras unidades serão produzidas no México. A linha de montagem mexicana, em Aguas Calientes, foi renovada recentemente e tem mais experiência do que a fábrica brasileira para a arrancada da produção. Não fazia sentido queimar etapas e antecipar o início da montagem brasileira. Mas o primeiro país em que este carro será vendido é o Brasil. Todos os Kicks que estão sendo produzidos no México, desde março deste ano, começarão abastecendo as concessionárias brasileiras. Há alguma diferença entre os modelos produzidos no México e os feitos no Brasil? Eles terão as mesmas configurações, o mesmo padrão de qualidade e os mesmos equipamentos. O carro tem vocação mundial. O que o Kicks oferece, na comparação com a concorrência? O carro será equipado com câmeras com visão 360°, conectividade e sistema de partida por botão, [sem a necessidade de colocar a chave no contato]. Ainda não anunciamos todas as versões e seus preços, mas modelo tem bastante espaço interno, é confortável e bem equipado.
Lucro da Caixa Econômica Federal desaba 45,9% no 1º trimestre Ganho líquido no período foi de R$ 838,7 milhões FONTE O GLOBO GABRIELA VALENTE 09/05/2016 ÀS 09H 10
Agência da Caixa Econômica Federal - Nadia Sussman / Bloomberg
BRASÍLIA - A Caixa Econômica Federal registrou lucro líquido de R$ 838,7 milhões no primeiro trimestre deste ano: aumento de 31,7% na comparação com os três últimos meses do ano passado. Já ante a mesma etapa de 2015, houve uma queda de 45,9%. O resultado operacional, que mede o desempenho recorrente do banco, teve queda ainda maior, de 52,2% 27
na comparação anual, para R$ 385 milhões. As informações foram divulgadas pela assessoria do banco na manhã desta segunda-feira. Segundo comunicado da instrução, o índice de inadimplência caiu 0,04 ponto percentual e ficou em 3,51% no primeiro trimestre. Na média de mercado, o índice de calote é de 3,55%. Veja também:
Bancos voltam a elevar os juros de suas linhas de crédito
Lucro líquido do Itaú cai 9,6%, para R$ R$ 5,184 bi no 1º tri
Lucro do Bradesco recua, mas soma mais de R$ 4 bi no 1º tri
Lucro do Santander cresce 1,7% no primeiro trimestre, para R$ 1,66 bi
O texto ressalta pontos positivos do balanço. Entre eles o fato de 90% da carteira de crédito estar classificada nos ratings de melhor qualidade, de AA até C, as despesas com provisão para crédito de liquidação duvidosa terem diminuído 24,2% em 12 meses e 3,6% em relação ao trimestre anterior. Foram R$ 3,8 bilhões no período “refletindo o contínuo aprimoramento nos modelos de riscos e nas políticas de recuperação de crédito”, de acordo com o comunicado. Segundo a instituição, as ações para racionalização de gastos e aumento da produtividade geraram reduções de 3,6% nas despesas de intermediação financeira, 8,1% nas despesas com pessoal e de 2,9% nas outras despesas administrativas em relação ao quarto trimestre de 2015. O aumento do relacionamento com os clientes gerou alta de 8,3% nas receitas com prestação de serviços e tarifas bancárias, mas esse percentual informado pela caixa é na comparação com o primeiro trimestre de 2015. O comunicado divulgado pelo banco não segue um padrão de comparação dos dados. Dependendo do número, a comparação é feita com o trimestre imediatamente anterior ou com o primeiro trimestre do ano anterior. De acordo com a instituição, a carteira de crédito ampla avançou 9,2% em 12 meses e 0,7% no trimestre. O saldo alcançou R$ 684,2 bilhões: 21,5% do mercado, aumento da fatia de 1,2 ponto percentual em 12 meses. O crédito habitacional continuou a ser o principal destaque, com ampliação de 9,8% em relação ao primeiro trimestre de 2015, e de 1,2% no trimestre. A carteira de financiamento imobiliário tem saldo de R$ 388,9 bilhões e 66,9% de participação no mercado. A base de clientes da instituição alcançou 83,5 milhões de correntistas e poupadores em março de 2016, alta de 4,6% em 12 meses. A carteira de pessoas físicas atingiu 81,2 milhões, e a de pessoas jurídicas, 2,3 milhões.
Equipe econômica deixa pronto pacote para crédito Proposta pode injetar até R$ 500 bi e facilitar renegociação de dívida de empresas FONTE O GLOBO GABRIELA VALENTE 09/05/2016 ÀS 07H 54
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Propostas têm capacidade de colocar em circulação até R$ 500 bilhões - Adriano Machado / Bloomberg
BRASÍLIA - A atual equipe econômica (que será substituída num eventual governo Michel Temer) deixará pronto um pacote de medidas para facilitar a renegociação de dívidas de empresas e destravar o crédito no pais. As propostas, que têm capacidade de colocar em circulação até R$ 500 bilhões, poderiam ser adotadas imediatamente, mas ficarão sobre a mesa de Henrique Meirelles, possível novo ministro da Fazenda, para que ganhem seu aval e, consequentemente, legitimidade caso assuma a pasta após a votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Veja também:
Plano de crédito prevê incentivo a empréstimos para estatais
Pavote de crédito do governo beneficiaria setor automotivo
Como realizar o sonho de consumo a custo menor
Conta de R$ 1,65 bi por antecipação de royalties de petróleo chega ao estado
Sem caixa para bancar estímulos para tirar a economia da recessão, a atual equipe econômica usaria novamente o crédito como arma para tentar amenizar a crise. Por isso, os técnicos desenharam mudanças em regras bancárias dos depósitos compulsórios (parte dos depósitos dos clientes que fica retida no Banco Central), de exigibilidade de capital e de provisionamento (guardar dinheiro para prevenir calote), para estimular a renegociação de dívidas de grandes empresas, investimentos de empresas estatais, financiamento de veículos e novos contratos de microcrédito. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, o Banco Central poderia alterar o fator de ponderação de risco em novas operações de renegociação de dívidas. E os bancos poderiam abater 100% de novos contratos dos cálculos de exigibilidade de capital. Na prática, isso liberaria capital que antes ficava preso para fazer esse tipo de financiamento. — As mudanças beneficiam empresas bem estruturadas, mas que estão com problemas de liquidez por causa do cenário atual. A preocupação maior de todo sistema financeiro hoje em
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dia é o endividamento e a saúde financeira de grandes empresas. É nisso que vamos atuar — disse uma fonte da equipe econômica. Medidas como essa não precisam de aprovação no Congresso e podem ser adotadas com atos administrativos, como circulares do Banco Central ou portaria do Ministério da Fazenda. No entanto, a equipe econômica resolveu não colocar as mudanças em prática sem o aval de Meirelles. Na sexta-feira, o governo anunciou aumento de tributos para arcar com a correção da tabela do Imposto de Renda. No entanto, as medidas foram ridicularizadas por parlamentares que classificaram como “deprimente” o governo tentar enviar ao Congresso antigas promessas — como taxar herança — dias antes de o Senado votar o impeachment. No caso das mudanças de regras bancárias para incentivar o crédito, há expectativa de apoio da eventual nova gestão porque trata-se de recuperar empresas. Meirelles é um nome do setor produtivo e adepto do uso de medidas macroprudenciais.
País pode fechar 150 mil restaurantes FONTE CÁTIA LUZ - JORNAL O ESTADO DE S. PAULO 09 Maio 2016 às 08h 13
O motivo para a decisão, em 84% dos casos, é o prejuízo acumulado diante do aumento de custos e da queda no faturamento A contenção de gastos dos brasileiros fez encolher o movimento em bares e restaurantes e está levando empresários a considerar a possibilidade de fechar as portas. Um levantamento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) obtido com exclusividade pelo Broadcast, serviço em tempo real daAgência Estado, mostra que um a cada seis empresários avalia dar fim ao negócio ou repassar o ponto nos próximos meses. São 150 mil pontos em todo o País que correm o risco de não resistirem à crise. RELACIONADA:
Crise chega aos restaurantes da classe A
O motivo para a decisão, em 84% dos casos, é o prejuízo acumulado diante do aumento de custos e da queda no faturamento. “São números assustadores, com reflexos dramáticos. Isso vai impactar a economia e pode gerar mais demissões”, diz o presidente da Abrasel, Paulo Solmucci Jr. A vontade de trocar de ramo ou de arrumar um emprego também são motivações citadas. CRISE NOS RESTAURANTES DE LUXO DE SÃO PAULO
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Sergio Castro/Estadão Crise afeta restaurantes
Rua Amauri, no Itaim Bibi, vazia em pleno horário de almoço; quatro restaurantes fecharam as portas Em 2015, esses estabelecimentos acabaram sofrendo um baque nas contas. A tarifa de energia elétrica, uma despesa básica, subiu mais de 50%. Taxa de água e esgoto e alimentos também ficaram mais caros. Houve ainda, no início do ano, o reajuste de 11,68% no salário mínimo, para R$ 880, remuneração base para muitos trabalhadores do ramo. “Conta de energia não fecha loja, mas, quando soma tudo e ainda tem perspectiva de retorno pequeno, complica. Boa parte dos empresários não está com fôlego para esperar a crise passar”, diz o economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). “A perversidade não é o tamanho do tombo, mas sim a duração da crise”. Aline Bronzati, Clarice Couto, Fernando Scheller e Renée Pereira
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Previdência pode gerar economia de IR FONTE YOLANDA FORDELONE – JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 09 Maio 2016 às 05h 00
Nos planos de previdência privada, o Imposto de Renda varia de zero a 35%; na renda fixa, a menor alíquota é de 15%
Se a primeira regra para o investimento em previdência privada é a aplicação com objetivos de longo prazo, o segundo conselho mais dado por especialistas é que os planos só devem entrar no radar dos investidores se forem acompanhados de um planejamento tributário. Com tarifas que variam de zero a 35%, a depender da tabela de Imposto de Renda escolhida, os planos devem ser selecionados cada vez mais com foco no prazo de resgate e no valor do benefício. Se o modelo de previdência é o regressivo, quanto maior o tempo da aplicação, menor é o IR. A alíquota cai a 10% após dez anos de investimento. Já na progressiva, o que vale é o valor resgatado: quanto menor a quantia, menos imposto. Se o benefício for de até R$ 1.710, o investidor cai na faixa de isenção. “Por vezes, o cliente nem terá a opção dos dois tipos de tabela, pois a indústria oferece mais a regressiva, mas é bom se planejar”, diz o superintendente de produtos de previdência da Icatu Seguros, Felipe Bottino, ao lembrar que a tabela regressiva é muito mais usual. Ainda que caia na segunda faixa, dos 7,5%, o porcentual é menor que o mais baixo da tabela regressiva (10%). Quando comparadas a produtos de renda fixa, como fundos e títulos públicos, do ponto de vista tributário e pensando no longo prazo, ambas as tabelas oferecem vantagens. Isso porque, na renda fixa, o IR chega a no mínimo 15%, após dois anos de aplicação. “Pode parecer fácil, mas não é tão trivial imaginar como será a sua vida e a sua renda daqui a 20 anos, quando se aposentar”, afirma o diretor da Rio Bravo, Júlio Ortiz, ao dizer que a pessoa pode contar com uma renda e ser surpreendido negativamente ou, pelo contrário, achar novas formas de remuneração e precisar sacar valores menores do que o imaginado. Outro ponto para o qual especialistas chamam a atenção é quanto à opção entre o Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) e o Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL). A sugestão é que 32
o primeiro seja escolhido pelas pessoas que declaram o IR pelo modelo completo. Isso porque, das aplicações feitas, a pessoa pode abater até 12% da renda tributável. Ou seja, se recebeu R$ 100 mil de salário no ano e investiu R$ 12 mil em um PGBL, irá “declarar” R$ 88 mil à Receita. Para investimentos acima de R$ 12 mil já vale a pena ir para o VGBL. Nesta opção, o IR é cobrado sobre o rendimento e não sobre o valor sacado, como é no PGBL. “O benefício de abatimento só é uma postergação do imposto”, comenta Ortiz. O VGBL é recomendado para a declaração simplificada de IR.
SÓ 6% SE PLANEJA PARA A APOSENTADORIA COM PLANOS DE PREVIDÊNCIA PRIVADA Maioria dos aposentados do INSS (63%) ganha um salário mínimo e poucos investem; novas regras devem diversificar carteira da indústria Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, Yolanda Fordelone 09 Maio 2016 às 05h 00
Enquanto quase 63% da população aposentada recebe do governo uma previdência pública de um salário mínimo, apenas 6% planeja complementar o benefício investindo em fundos de previdência privada. Para especialistas, a indústria ganhou fôlego em um período recente, nos últimos 20 anos, mas ainda é baixa a porcentagem de pessoas que consegue se planejar para o futuro. A partir desta quarta-feira, porém, o mercado passará a contar com mais opções na indústria de previdência. Entrará em vigor a resolução 4.444 do Conselho Monetário Nacional (CMN), que permite que fundos de previdência do varejo comprem fundos de índice (os chamados ETFs), Certificados de Operações Estruturadas (COE) ou mesmo apliquem um porcentual de até 70% em ações (antes o limite era de 49%). A medida é importante porque, segundo especialistas, um dos erros na hora de escolher a previdência é se considerar muito conservador. “Deve-se ter clareza dos objetivos. Se a pessoa quer realizar um projeto no curto prazo, talvez a previdência nem seja o produto ideal”, diz o superintendente de produtos da Brasilprev, Sandro Bonfim. Já se o interessado tem um prazo maior, pode buscar opções mais sofisticadas, fundos que não aplicam só em títulos de renda fixa.
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O planejamento da aposentadoria tem ganhado importância no debate econômico. “Não só o Brasil, mas o mundo todo discute o ajuste previdenciário, a ideia do Estado como provedor de todo o benefício. Cada vez mais se caminha para um modelo no qual a previdência pública garanta um salário base e haja necessidade da complementação”, afirma o vice-presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi) e presidente da BrasilPrev, Paulo Valle. Repensar o futuro se tornou necessário à medida que a expectativa de vida aumenta. “A notícia boa é que o jovem vai viver mais. A ruim é que, se não estiver preparado, não vai ter como arcar com os custos”, diz o superintendente de produtos de previdência da Icatu Seguros, Felipe Bottino. Gastos com saúde, por exemplo, que somam R$ 1 mil por ano para pessoas com menos de 18 anos, sobem para R$ 1 mil por mês para quem tem mais de 80 anos, aponta uma pesquisa do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS). O arrependimento de não ter poupado mais vem depois. Oito em cada dez aposentados lamentam não ter guardado mais dinheiro, segundo estudo do HSBC. A poupança, lembram especialistas, pode ser feita em outros produtos diferentes de fundos de previdência, desde que o investidor mantenha o hábito de aplicar constantemente. “Gosto da previdência privada no sentido da disciplina. Muita gente começa a fazer investimentos por conta própria para economizar a taxa de administração cobrada nos fundos, mas não mantém a regularidade. Inventam uma desculpa para parar”, diz o professor do Instituto Educacional da BM&FBovespa Arthur Vieira de Moraes. Como escolher. Por ser um investimento indicado para o longo prazo, na previdência vale a regra de quanto mais cedo o início, melhor. Para ter R$ 1 milhão aos 60 anos, por exemplo, investindo a um juro real de 4,5% ao ano, seria preciso guardar R$ 586 por mês caso o plano fosse iniciado aos 15 anos. Se começar com 45 anos, a quantia sobe para R$ 3.915 por mês, calcula a BrasilPrev. 34
O custo dos planos é um dos pontos a serem observados. “Com os juros elevados, as pessoas ficaram menos preocupadas com a taxa de administração. Como a tendência agora é de queda, o investidor vai voltar a olhar melhor o custo”, diz o diretor da Rio Bravo, Julio Ortiz. No fundo de previdência de renda fixa, em geral com gestão mais passiva, recomenda-se que a taxa seja de, no máximo, 1% ao ano. Em fundos com uma gestão um pouco mais ativa, como multimercados, é aceitável pagar até 2%. A taxa de entrada dos fundos hoje está quase extinta. A maioria não cobra mais a tarifa, que funciona como um pedágio na entrada do investimento: se for de 5% e o investidor aplicar R$ 100, por exemplo, na verdade só alocará R$ 95 no fundo. A taxa de saída ainda é cobrada em alguns planos, no momento do resgate. “É aceitável para inibir a saída no curto prazo, mas deve zerar em algum momento, senão penaliza a rentabilidade”, diz Bottino. Taxas elevadas, porém, sempre devem ser contrastadas com o histórico de retorno do fundo. Por vezes, a taxa pode ser alta, mas o desempenho do gestor é muito acima da média do mercado. Histórico bom não é garantia de futuro rentável, mas é um indicador. Como escolher um plano 1. Objetivo Defina o que será feito com o dinheiro e em quanto tempo. Se pretender resgatar a quantia no longo prazo, a previdência que envolva um pouco mais de risco pode ser uma opção 2. Taxa de carregamento A maioria dos fundos não cobra o pedágio de entrada. O ideal é pesquisar as alternativas 3. Taxa de administração Para fundos conservadores, como os de renda fixa, cobrar 1,5% é o limite recomendado. Em carteiras que assumem um pouco mais de risco, o teto é 2%, indicam especialistas 4. Histórico de rentabilidade Como o investimento em previdência dura alguns anos, recomenda-se observar se o gestor conseguiu no longo prazo bater semelhantes da categoria 5. De olho no mercado Mesmo para quem já tem um fundo é indicado sempre olhar o mercado. Se achar produtos mais baratos e rentáveis, use a portabilidade de carteira 6. Planejamento tributário Por oferecer benefícios fiscais, como abatimento da base de cálculo do Imposto de Renda, a previdência privada torna-se interessante somente se aliada a um planejamento tributário, defende parte do mercado
PREVIDÊNCIA PODE GERAR ECONOMIA DE IR Nos planos de previdência privada, o Imposto de Renda varia de zero a 35%; na renda fixa, a menor alíquota é de 15% Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, Yolanda Fordelone 09 Maio 2016 às 05h 00
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Se a primeira regra para o investimento em previdência privada é a aplicação com objetivos de longo prazo, o segundo conselho mais dado por especialistas é que os planos só devem entrar no radar dos investidores se forem acompanhados de um planejamento tributário. Com tarifas que variam de zero a 35%, a depender da tabela de Imposto de Renda escolhida, os planos devem ser selecionados cada vez mais com foco no prazo de resgate e no valor do benefício. Se o modelo de previdência é o regressivo, quanto maior o tempo da aplicação, menor é o IR. A alíquota cai a 10% após dez anos de investimento. Já na progressiva, o que vale é o valor resgatado: quanto menor a quantia, menos imposto. Se o benefício for de até R$ 1.710, o investidor cai na faixa de isenção. “Por vezes, o cliente nem terá a opção dos dois tipos de tabela, pois a indústria oferece mais a regressiva, mas é bom se planejar”, diz o superintendente de produtos de previdência da Icatu Seguros, Felipe Bottino, ao lembrar que a tabela regressiva é muito mais usual. Ainda que caia na segunda faixa, dos 7,5%, o porcentual é menor que o mais baixo da tabela regressiva (10%). Quando comparadas a produtos de renda fixa, como fundos e títulos públicos, do ponto de vista tributário e pensando no longo prazo, ambas as tabelas oferecem vantagens. Isso porque, na renda fixa, o IR chega a no mínimo 15%, após dois anos de aplicação. “Pode parecer fácil, mas não é tão trivial imaginar como será a sua vida e a sua renda daqui a 20 anos, quando se aposentar”, afirma o diretor da Rio Bravo, Júlio Ortiz, ao dizer que a pessoa pode contar com uma renda e ser surpreendido negativamente ou, pelo contrário, achar novas formas de remuneração e precisar sacar valores menores do que o imaginado. Outro ponto para o qual especialistas chamam a atenção é quanto à opção entre o Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) e o Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL). A sugestão é que o primeiro seja escolhido pelas pessoas que declaram o IR pelo modelo completo. Isso porque, 36
das aplicações feitas, a pessoa pode abater até 12% da renda tributável. Ou seja, se recebeu R$ 100 mil de salário no ano e investiu R$ 12 mil em um PGBL, irá “declarar” R$ 88 mil à Receita. Para investimentos acima de R$ 12 mil já vale a pena ir para o VGBL. Nesta opção, o IR é cobrado sobre o rendimento e não sobre o valor sacado, como é no PGBL. “O benefício de abatimento só é uma postergação do imposto”, comenta Ortiz. O VGBL é recomendado para a declaração simplificada de IR.
‘Esqueletos’ deixados pelo governo Dilma podem passar de R$ 250 bilhões FONTE ALEXA SALOMÃO – JORNAL O ESTADO DE S. PAULO 08 Maio 2016 às 21h 10
Eventual governo Temer vai herdar uma conta ‘oculta’ que inclui possíveis capitalizações de estatais, perdas na negociação da dívida dos Estados e em fundos públicos; estimativas menos conservadoras apontam que buraco chegaria a R$ 600 bi Já se sabe que um eventual governo de transição terá de administrar um déficit monumental para ajustar o orçamento público. O buraco pode ir a R$ 360 bilhões. Quem acompanha o funcionamento da máquina pública, porém, lembra que há outra conta, essa oculta, mas igualmente expressiva, de “esqueletos” que podem ser herdados da gestão de Dilma Rousseff. Como se tratam de gastos desconhecidos até que sejam devidamente contabilizados, vivem no terreno das estimativas. RELACIONADAS:
Estatais precisariam de, no mínimo, R$ 150 bilhões Ajuda para a Caixa seria de, pelo menos, R$ 40 bi ‘Bolsa empresário’ chega a R$ 270 bilhões neste ano e pode ser revista por Temer
Numa projeção conservadora, feita por especialistas de diferentes áreas, a pedido do Estado, a conta pode passar de R$ 250 bilhões. Mas há quem diga que pode ser ainda maior. Em relatório, a agência de classificação de risco Moody’s estimou que, no pior cenário, a conta vai a R$ 600 bilhões. O que popularmente se chama de esqueleto, na literatura econômica é chamado de gasto contingente: despesa excepcional gerada por derrapadas na gestão da política econômica que fica escondida até que exploda ou que alguém jogue luz sobre ela. Para os especialistas em contas públicas, essa despesa tende a proliferar. “Tem uma coisa que precisa ficar clara: a dinâmica do gasto social, do gasto com previdência, do gasto com pessoal, tudo isso, é muito previsível. Não há surpresa. A gente conhece e não deixou esqueletos. Mas a política setorial deixou”, diz o economista Mansueto Almeida, especialista em contas públicas. As estimativas de gastos extras feitas a pedido da reportagem incluem eventuais capitalizações que o Tesouro tenha de fazer nas estatais Petrobrás, Eletrobrás e Caixa Econômica Federal, a negociação das dívidas dos Estados, que vão gerar perdas para a União, o risco de inadimplência com o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), e a manutenção do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
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Petrobrás pode precisar de R$ 100 bilhões para reduzir endividamento
Estimativas. A agência de risco Moody’s dedicou um relatório inteiro à discussão dos passivos contingentes no Brasil observando apenas os grandes desembolsos que podem vir pela frente. Pelas suas estimativas, ao longo dos próximos três anos, os gastos extraordinários podem variar entre 5% e 10% do PIB, o Produto Interno Bruto: algo entre R$ 295 bilhões e R$ 590 bilhões. Como esse tipo de gastos afeta o fôlego financeiro da União, a Moody’s estimou que os gastos levariam a dívida – hoje perto de 70% do PIB para 90% do PIB em 2018. A agência avaliou que há possibilidade de o governo socorrer tanto a Petrobrás quanto a Eletrobrás, porque ambas estão sob pressão financeira (leia mais abaixo). Entre 2016 e 2018, apenas a Petrobrás demandaria cerca de R$ 300 bilhões – mais de R$ 100 bilhões apenas para pagar dívidas. A agência analisou também a saúde dos bancos públicos: Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Considerou que a Caixa é a instituição mais sensível a um eventual socorro (leia abaixo). Hoje, a Moody’s não vê risco no segmento, mas, se houver deterioração e estresse das instituições, o passivo contingente tende a explodir, indo a R$ 600 bilhões. A agência considerou também o custo da renegociação da dívida dos Estados. Apesar de tecnicamente não serem enquadrados como passivos contingentes, no sentido mais clássico do conceito, as dívidas estaduais vão gerar uma conta extra para o governo federal que vai impactar a formação de superávit e pesar sobre a dívida. Neste momento é muito difícil prever o tamanho da conta dos Estados. Pedro Jucá Maciel, assessor parlamentar de Assuntos Econômicos no Senado, lembra que ela pode ir a R$ 402 bilhões se o Supremo Tribunal Federal aceitar a tese de que é preciso trocar o indexador da dívida de juro composto para juros simples. O julgamento está suspenso até junho. A secretária de Fazenda de Goiás, Ana Carla Costa, lembra que nesse meio tempo a União já está perdendo. Os estados que ganharam liminares vem reduzindo os pagamentos à União. Apenas em abril o governo não recebeu R$ 2,6 bilhões. “Se prevalecer o que consta no Projeto de Lei Complementar que trata do tema (e inclui alongamentos para pagar a União e o BNDES, mais desconto temporário), o caixa federal deixaria de receber R$ 51 bilhões entre 2016 a 2018”, diz ela. A situação econômica do País é tão crítica, que os economistas têm dificuldade de bater o martelo até para qual será o tamanho do buraco nas contas conhecidas. O economista Samuel 38
Pessôa lembra que para cobrir o déficit do ano passado e fazer um superávit, para que a dívida fique estável, seriam necessários R$ 360 bilhões. “Mas alguns colegas dizem que se fosse descontada a piora do cenário, bastariam R$ 150 bilhões”.
Ajuda para a Caixa seria de, pelo menos, R$ 40 bilhões FONTE ALEXA SALOMÃO - JORNAL O ESTADO DE S. PAULO 08 Maio 2016 às 22h 00
Entre os bancos públicos, o que mais preocupa o mercado, de longe, é a Caixa Econômica Federal. A instituição foi usada para impulsionar o crédito na baixa renda, segmento que está sendo castigado pela queda na renda e pelo desemprego. Desde 2011, a Caixa dobrou a participação em crédito comercial: foi de 6% para 12%. “Do jeito que cresceu, é muito provável que parte do crédito não vai ser recuperado”, diz o economista Mansueto Almeida. Segundo Sebastian Maus, especialista em setor financeiro da consultoria internacional Roland Berger, os números que se conhecem da Caixa são preocupantes. Entre 2013 e 2015, a inadimplência no total da carteira de crédito passou de 2,3% para 3,6%. “Pode parecer inexpressivo, mas para uma carteira com R$ 700 bilhões, são perdas superiores a R$ 7 bilhões”, diz.
Na Caixa, 75% do crédito é imobiliário
O consultor reforça ainda que, nos informes do Banco Central, a inadimplência da Caixa é mais alta que a dos concorrentes em todas as linhas de produtos. “As que são voltadas à pessoa física chegam a ser cinco vezes maior”, diz. Cresceram também os atrasos de pagamento entre 15 e 90 dias. Como boa parte não evolui, significa que a Caixa tem evitado a inadimplência. Mas o dado não chega a ser tranquilizador. Há dois tipos de negociações nesse caso: conseguir um pagamento à vista, dando em contrapartida um desconto; ou ampliar o prazo para o devedor quitar o financiamento. “Nesse caso, não se resolve o problema, porque ele pode voltar lá na frente”, diz Maus. Há outro dado muito preocupante, segundo João Mello, professor do Insper e especialista em finanças. Cerca de 75% do crédito é imobiliário. Na média do mercado, o índice de inadimplência no segmento é baixíssimo: 0,2%. O da Caixa é o triplo: da ordem de 0,6%. “Se a 39
maioria do crédito é imobiliário, ela não poderia ter índices de inadimplência tão altos”, diz Mello. Desde 2013, Caixa já vendeu cerca de R$ 22 bilhões da carteira de empréstimos por R$ 2 bilhões – desconto de 91%. Como por volta de R$ 15 bilhões já estavam registrados como perdas na carteira, na prática, o desconto seria de 71,4%. Ainda muito alto. “Se uns R$ 100 bilhões dos R$ 700 bilhões forem créditos podres, e fossem vendidos com o mesmo deságio, seria uma perda de R$ 71 bilhões: acabaria com o capital da caixa”, diz Mello. Diante de tais números, analistas estimam que, por baixo, a Caixa precisa de uns R$ 40 bilhões apenas para recuperar o fôlego. Procurada, a assessoria de imprensa do banco não retornou até o fechamento dessa edição.
Estatais precisariam de, no mínimo, R$ 150 bilhões FONTE ALEXA SALOMÃO – JORNAL O ESTADO DE S. PAULO 08 Maio 2016 às 22h 00
No mercado, já é dado como certo que Petrobrás e Eletrobrás vão precisar de aporte do Tesouro. As estimativas em relação às cifras, porém, não são nada consensuais, especialmente para a petroleira. A estatal teve várias perdas. Perdeu com a corrupção, investigada na Operação Lava Jato. E viu o caixa sangrar no período em que o governo de Dilma Rousseff, para controlar a inflação, impediu os reajustes do combustível no mercado interno, enquanto pagava caro por ele no mercado internacional. Com a queda no preço do petróleo, os custos para a exploração do pré-sal vão se tornando impeditivos. Alguns acreditam que Petrobrás vai precisar ao menos de R$ 100 bilhões para quitar as dívidas que vencem neste ano e no próximo. Entre 2016 e 2019, vencem R$ 252,9 bilhões em dívidas. Outros projetam que a conta vai passar de R$ 200 bilhões para que a estatal consiga estabilizar a relação entre dívida e Ebitda (índice que mede o peso do endividamento olhando quantos anos de geração de caixa são suficientes para quitar os débitos). No último balanço, estava em 5,3 anos, mais que o dobro dos 2,5 palatáveis para uma companhia de seu porte. A Moody’s, em relatório que avalia eventuais passivos contingentes no Brasil, estimou que nos próximos três anos a Petrobrás pode demandar aportes equivalentes a 5,6% do Produto Interno Bruto (PIB): cerca de R$ 330 bilhões. Fontes próximas à diretoria, que não querem ter o nome revelado, afirmam que a Petrobrás tem condições de seguir adiante “sem um tostão do Tesouro”. O argumento: implementou um agressivo plano de vendas de R$ 14 bilhões em ativos e tem “convicção” de que vai conseguir cumpri-lo. Na semana que passou, a empresa anunciou a venda de US$ 1,3 bilhão em participações em subsidiárias no Chile e na Argentina. Energia. O valor da capitalização da Eletrobrás seria mais baixo, mas não menos expressivo: ficaria próximo de R$ 50 bilhões, estimam fontes ligadas à empresa. A estatal já vai receber R$ 1 bilhão e pleiteia outros R$ 5,9 bilhões de aportes previstos no orçamento. A Eletrobrás tem perdas recorrentes com distribuidoras no Norte e Nordeste. Os acionistas minoritários querem que elas sejam vendidas, mas a proposta não avança porque o acionista controlador, a União, é contra. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Petrobrás preferiu não se manifestar. A assessoria da Eletrobrás disse que a estatal não comenta especulações.
Crise na aviação força pilotos a buscar alternativas FONTE MARINA GAZZONI - JORNAL O ESTADO DE S. PAULO 07 Maio 2016 às 18h 00
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Com empresas aéreas cortando voos e frota, aviadores ficam sem emprego; caminho é mudar de carreira, voar no exterior ou esperar O gaúcho Cássio Ávila, de 39 anos, tem licença de piloto comercial, foi instrutor de voos no aeroclube do Rio Grande do Sul e acumula mais de 1,2 mil horas de voo, uma experiência que o habilitaria a uma vaga de copiloto nas grandes empresas aéreas brasileiras. Mas só não está na lista de desempregados porque trabalha por conta própria, fazendo sites para empresas. Deixou pela metade a faculdade de Economia para investir no sonho de ser aviador – e chegou a gastar em torno de R$ 3 mil por mês para pagar pelo treinamento. “A promessa de emprego era ótima. Falavam que ia faltar piloto no Brasil. Mas não tem vaga.” RELACIONADAS:
Companhias aéreas estrangeiras recrutam brasileiros ‘A aviação virou o nosso plano B’, dizem pilotos desempregados
Ávila está no grupo de pilotos recém-formados, que precisam de uma primeira oportunidade para entrar na aviação. Muitos começam na aviação executiva e depois viram copilotos de linhas aéreas – e dentro da empresa crescem até chegar a comandante. “Até na aviação executiva está difícil. Os donos de aviões particulares pararam de voar para economizar”, diz. Outro caminho é trabalhar como instrutor de aeroclube, uma função com remuneração “simbólica”, mas que é interessante para acumular horas de voo e tentar ingressar diretamente em uma companhia aérea. “Achava que o problema era comigo, mas dos 12 que terminaram o curso comigo, só um trabalha na aviação”, diz Ávila. A estudante Laura Falkowski, de 20 anos, espera, neste momento, por uma vaga de instrutora de voo. Ao estudar aerodinâmica na faculdade de Física, se apaixonou por aviação. Mudou a graduação, para Letras-Inglês, e passou a dedicar mais tempo ao curso de formação de pilotos. Do primeiro voo ao simulador de jatos foram dois anos de dedicação e um investimento em torno de R$ 100 mil. “Por causa da crise, vários instrutores estão sem emprego e o aeroclube não pode absorver todo mundo. Estou na fila”, disse. Para ficar próxima da aviação, Laura trabalha voluntariamente na área de manutenção do aeroclube do Rio Grande do Sul.
Laura Falkowski conclui o curso de piloto, mas trabalha voluntariamente na área de manutenção do aeroclube até abrir vaga de instrutor de voos
A aviação brasileira reverteu um processo de crescimento acentuado e deve ter em 2016 a primeira retração desde 2003. Para se ajustar à uma demanda menor, as empresas estão 41
cortando voos e reduzindo sua frota. Só a Gol e a Azul pretendem reduzir neste ano, cada uma, cerca de 20 aviões da frota. Em meio a esse processo, vão sobrar pilotos e comissários. No fim do ano passado, 5.935 pilotos estavam empregados nas empresas aéreas brasileiras, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil. São 21 posições a menos do que em 2014 e 458 abaixo de 2011, último ano em que o setor registrou expansão de dois dígitos. De acordo com o Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), foram demitidos cerca de 150 pilotos desde o início do ano e há cerca de 400 pilotos desempregados. O número de demissões só não é maior porque as três maiores empresas – TAM, Gol e Azul – abriram programas de licença não remunerada para pilotos. Muitos profissionais vão tentar trabalhar em empresas estrangeiras. O presidente do SNA, Adriano Castanho, ressaltou que mesmo quem está empregado foi prejudicado pela crise. O motivo é que cerca de 50% da remuneração dos pilotos é atrelada às suas horas de voo. “As empresas sempre voam menos na baixa temporada. Mas, neste ano, a retração foi o dobro do usual. O salário chegou a cair 30% em alguns casos”, afirmou. O presidente da Azul, Antonoaldo Neves, diz que a empresa ficou com um excesso de pilotos quando a crise se agravou e obrigou a companhia a reduzir sua oferta de voos para não perder dinheiro. “A estimativa é um corte de 7% a 8% (em assentos) neste ano. O excedente de pilotos é proporcional”, explicou. Em vez de demitir, Neves diz que a Azul lançou um programa de intercâmbio para uma empresa aérea chinesa do grupo HNA, que é dono de 23,7% da Azul, para cem pilotos. “Eles vão ficar fora por até três anos e quando voltarem terão emprego garantido na Azul. A crise vai passar”, disse. A empresa abriu também um programa de licença não remunerada, que teve adesão de 208 pilotos e comissários. A Gol, que já tinha um programa de licenças, ampliou o prazo de dois para cinco anos. A TAM, que tem um programa permanente, disse que está avaliando os impactos da retração da oferta no seu pessoal. Já a Avianca está com a oferta de voos estável e não prevê mudanças no quadro de funcionários. Previsão de contratar, nenhuma empresa tem. “Hoje é quase impossível para um piloto recémformado conseguir emprego”, disse Castanho.
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O empreendedorismo e a maternidade FONTE JORNAL O ESTADO DE S. PAULO, CRIS OLIVETTE 08 Maio 2016 às 07h 08
Mães criam negócios para conquistar autonomia financeira e independência para adequar horário de trabalho com criação de filhos
Vanessa Wander, fundadora do Emoda
Em um universo com mais de cinco milhões de mulheres empreendedoras, que comandam 43% dos negócios em atividade no País, selecionamos as histórias de algumas que também são mães como forma de celebrar este Dia das Mães. Viúva aos 21 anos e com dois filhos para criar, um com dois anos e outro com 40 dias, Vanessa Wander viu no empreendedorismo uma alternativa para enfrentar a nova realidade. “Fui morar em Maringá (PR), onde havia um polo de confecção e minha irmã atuava com organização de desfiles. Chegando lá, descobri que ela cobrava R$ 3 mil para organizar os eventos. Achei muito pouco pelo trabalho que demandava”, recorda. Vanessa propôs à irmã que oferecesse o serviço para empresas maiores. “Em duas semanas, vendi um desfile por R$ 100 mil”, afirma. Assim como tantas outras mães empreendedoras, a sua decisão de criar um negócio teve como objetivo obter autonomia financeira e liberdade para acompanhar o crescimento dos filhos. “Entrei no setor de moda e me apaixonei. Fiz de tudo. Dei consultoria, montei showroom, realizei eventos, organizei feiras, vendi, fui representante. Boa parte dessas empresas tinham como sede a minha casa. Meus filhos foram criados na cultura empreendedora obrigatoriamente”, brinca. Tanto ela quanto a irmã tiveram a ajuda da mãe para cuidar das crianças quando precisavam viajar. “Nos finais de semana, quando estávamos fora, as crianças viajavam sozinhas para nos encontrar. Elas se acostumaram com essa vida. Acho que por ser viúva, não sentia muita culpa. Mas é claro que perdi algumas coisas. Hoje, 20 anos depois, eles já estão adultos, tanto que na semana passada, contra a minha vontade, o mais velho foi morar sozinho”, reclama.
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A empresária conta que desde 2014 está com negócio novo. “Resolvi digitalizar o segmento de moda e criei, junto com outras mulheres, a plataforma Emoda. É um shopping de venda online para varejistas.” No momento, está finalizando tratativas para receber investimento. “O projeto está crescendo e nosso tíquete médio é de R$ 9 mil, sendo que alguns varejistas já compraram cinco coleções no Emoda. Estou feliz por estar transformando um sonho em realidade.” Outra mãe empreendedora que batalhou para criar quatro filhos é Leila Oda, fundadora da marca Terra Madre – Orgânicos e Saudáveis. Antes de lançar o negócio de produtos naturais, administrava seu consultório de psicologia e dava plantão em uma clínica. “Com 24 anos já tinha três filhos”, diz. O quarto filho foi adotado alguns anos depois. “Sempre arrumei tempo para ser mãe, ajudar nas tarefas da escola e dedicar um cuidado especial com o preparo de uma alimentação saudável. Tenho orgulho em dizer que eles nunca precisaram ser internados.”
Leila Oda, dona da Terra Madre – Orgânicos e Saudáveis
Hoje, com 55 anos, Leila usa sua experiência para dar dicas a mulheres mais jovens que estão construindo um negócio. “É preciso saber administrar o tempo para dar conta de cuidar da família e fazer networking. Uma coisa que aprendi é ter disciplina. Outra, foi fazer com que meus filhos fossem independentes. É muito gratificante vê-los administrando suas próprias vidas atualmente.” A empresária afirma que erros e pontos fracos têm de ser transformados em pontos positivos. “Primeiro, é importante admitir que errou. Além disso, é necessário ter muita criatividade para administrar tudo isso e ainda lidar com os imprevistos, com o relacionamento com familiares e funcionários. O jeito é tomar decisões rápidas, enfrentar os problemas e não deixar nada para depois.” A psicóloga ressalta que mulher gosta de controlar tudo. “Mas temos de conter esse desejo porque muitas vezes não damos conta de cuidar de tudo sozinhas. Delegar é uma coisa que nós mulheres precisamos aprender, porque nos ensinam exatamente o contrário. Na família, a responsabilidade maior sempre é da mulher. Mas nos negócios temos de delegar a parte operacional para que seja possível cuidar das demais tarefas”, recomenda.
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Ela diz que a marca virou franquia no final de 2015. “Neste mês, vamos inaugurar uma unidade em Goiânia e já assinamos contratos para a instalação de unidades no Rio de Janeiro e Brasília. Estamos fechando negócio em São Paulo e mais outro em Brasília. E até setembro abriremos mais duas lojas próprias, em Goiânia.” Aos 39 anos, a administradora Daniela Marchini tem especialização em logística, é mestre em engenharia de produção e doutoranda em engenharia mecânica. Mãe de dois filhos, ela atua como professora da Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (Fatec), em Americana (SP), tem um consultório de coach e acaba de se tornar franqueada do CERS – Centro de Estudos – braço de franchising do CERS Cursos Online, que oferece cursos preparatórias para candidatos que irão participar de concursos para a carreira jurídica. Ela conta que para empreender reduziu a carga horária das aulas. “Decidi montar o consultório e a franquia para ter flexibilidade de horário. Assim, posso estar presente nos momentos importantes da vida de meus filhos. Isso eu valorizo muito e faz muita diferença na formação deles. Não quer dizer que eu esteja trabalhando menos. Pelo contrário, muitas vezes a carga horária é maior. Mas posso conciliar os meus horários de acordo com a agenda das crianças.”
Daniela Marchini, franqueada Cers
Daniela ressalta que no dia a dia tem a ajuda do marido. “Ele me dá muito apoio. Estamos dividindo a administração da unidade do Cers para que um de nós sempre possa estar em casa com as crianças. Moldei minha vida para ter tempo de me dedicar à família.” CEO cria empresa em busca de liberdade para cuidar de gêmeas Mãe de gêmeas que estão com seis anos, a CEO da Timokids, Fabiany Lima, conta que se tornou empresária quando as meninas estavam com dois anos. “Tomei a decisão de empreender quando era diretora de uma startup e vivia uma situação conflitante com a questão da maternidade. Saía de casa quando elas estavam dormindo e voltava quando já tinham ido pra cama. Resolvi deixar o emprego e montar um negócio para ficar mais em casa.” Fabiany conta que a Timokids desenvolve aplicativos de livros e jogos educativos para smartphone e tablet. “Nossos produtos podem ser usados por crianças que falam português, inglês, italiano e espanhol. Já estamos em 190 países. Nossa proposta de oferecer uma 45
ferramenta de suporte para pais e professores está sendo entendida e valorizada.” Entre funcionários e terceirizados a empresa conta com 22 pessoas. Segundo ela, ao se tornar empreendedora conquistou liberdade de horário, apesar de trabalhar mais do que trabalharia se fosse funcionária e cumprisse horário convencional. “Hoje, posso trabalhar em qualquer horário e de qualquer lugar”. A empresária também é autora de 17 livros com temática socioeducativa para o público infantil. “Na verdade, faço várias coisas. Sou palestrante e mentora de empreendedorismo em startups. Estou indo para o meu quarto programa de aceleração, já participei de programas no Brasil e no exterior, recebi investimento anjo, participei de programa de governo, enfim, tenho bastante bagagem e posso ajudar quem está começando”.
Recuperação do preço das commodities é incerta FONTE MÁRCIA DE CHIARA – JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 09 Maio 2016 às 10h 15
Alta das commodities que ajudou a balança comercial é baseada em especulação; matériasprimas não agrícolas subiram mais de 20% nos últimos dois meses e as agrícolas tiveram alta de 7% Um saldo comercial de US$ 13,2 bilhões acumulado até abril, o maior para o período em quase 30 anos, é um dos poucos bons resultados que o novo governo vai herdar do atual. Na semana passada, quando foi conhecido o superávit da balança comercial de abril, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior chegou a projetar que o saldo deste ano poderá bater o recorde de US$ 50 bilhões. Mas atrás desses números favoráveis há muitas incertezas. Primeiro porque o efeito da recessão, por meio da queda nas importações, foi o fator que mais pesou para saldo comercial robusto do primeiro quadrimestre. O segundo fator, que foi a recuperação dos preços das commodities e que ficou nítido na balança comercial em abril, ainda é incerto. Só nos últimos dois meses as commodities não agrícolas, capitaneadas pelo petróleo e minério de ferro, tiveram uma valorização superior a 20% em dólar, segundo índice de preços calculado pela MacroSector Consultores. No caso das matérias primas agrícolas, que incluem soja, carnes, açúcar e café, por exemplo, a alta acumulada foi de 7% em igual período. O índice é apurado levando-se em conta o peso de cada matéria prima na balança comercial.
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“Essa alta de preço das commodities é fundamentalmente financeira”, afirma Fabio Silveira, sócio-diretor da consultoria e responsável pelos índices de preços das commodities. Em razão dos resultados recentes, ele ampliou de US$ 32 bilhões para US$ 40 bilhões a estimativa de saldo comercial para este ano e considera a previsão de US$ 50 bilhões “um pouco forte”. Silveira explica que, diante do grande volume de dinheiro disponível para investimentos circulando na economia mundial e da indicação de que o banco central dos Estados Unidos, o Fed, não suba os juros tão cedo por conta do fraco desempenho da economia americana, os investidores decidiram apostar nas commodities. E essa grande demanda por papéis atrelados a esses produtos elevou os preços das matérias primas. Avaliação semelhante é feita pelo presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. “O que se sabe é que a alta das commodities é especulação. Agora, até onde vai não se sabe”, ressalta o economista. Segundo ele, o resultado positivo das commodities que apareceu na balança comercial de abril deve continuar em maio e junho, por causa da defasagem que há entre o fechamento dos negócios e o resultado efetivo nas exportações. “O segundo semestre será uma incógnita porque não se sabe o que vai acontecer principalmente com a China, que é uma grande compradora de matérias-primas”, diz Castro. O presidente da AEB espera que o ano encerre com saldo comercial de USS$ 42 bilhões, no mínimo. Para o economista da Tendências Consultoria Integrada, Silvio Campos, o Fed deve voltar a subir os juros no segundo semestre e isso deve impor limite à recuperação dos preços das commodities. “A China é um fator que deve provocar alguns sustos”, alerta. Ele acrescenta que, além do fator especulativo que pesou na alta das commodities nos últimos meses, o fato de o governo da China ter dado alguns estímulos à economia, via crédito, reduziu temporariamente a preocupação com a demanda de matérias-primas por parte daquele país. 47
Por causa do desempenho do primeiro quadrimestre, a consultoria está revisando para cima a projeção de saldo comercial de US$ 41,8 bilhões para 2016. Inflação. O impacto favorável do avanço dos preços das commodities na balança comercial e nas contas externas do País também tem um lado desfavorável, que é a pressão nos preços do mercado interno e, por tabela, na inflação. “Tem uma lenha na fogueira da inflação, que deve aparecer no segundo semestre”, prevê Silveira. Segundo ele, o benefício da baixa de preços proporcionado pela recessão não será atingido plenamente por causa da pressão das cotações das commodities. A sua projeção inicial, de que a inflação neste ano ficaria entre 6,5% e 7%, deve ser superada. “O IPCA deve ficar entre 7% e 7,5% em 2016. Tem petróleo e derivados subindo, além preços agrícolas.”
Taxa de juros média no cartão de crédito atinge 435,6% ao ano em abril FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, 09/05/2016 às 11h 25
A taxa média de juros no cartão de crédito subiu para 435,6% em abril e se manteve no maior patamar desde outubro de 1995, segundo levantamento da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) divulgado nesta segunda-feira (9). Em março, o juro médio era de 432,2%. Ao mês, a taxa aumentou de 14,95% para 15,01%, diz a associação. O aumento da inadimplência e a inflação pressionada, que corroi a renda das famílias, são alguns dos fatores que contribuíram para a elevação dos juros no mês de abril, de acordo com a Anefac. Complementam o cenário o aumento de impostos e a crise econômica do país, diz a associação.
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Com o panorama deteriorado, as instituições financeiras aumentam as taxas de juros para "compensar prováveis perdas com a elevação da inadimplência", afirma a Anefac. E o calote em alta já afeta o lucro dos bancos, como mostra reportagem daFolha. Aumento das despesas contra calotes de grandes empresas, inadimplência em alta e redução nas carteiras de crédito minaram os lucros de Itaú, Bradesco e Santander. Para tentar se precaver, as instituições financeiras elevaram as provisões contra créditos de liquidação duvidosa. Editoria de Arte/Folhapress
"As perspectivas para os próximos meses não são animadoras, tendo em vista o cenário econômico atual, que aumenta o risco de elevação dos índices de inadimplência, a tendência é de que as taxas de juros das operações de crédito voltem a ser elevadas nos próximos meses", explica Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor da Anefac. No cheque especial, os juros passaram de 263,7% para 267,6% ao ano, maior nível desde julho de 1999. Ao mês, a taxa foi elevada para 11,5%. Os juros médios para pessoa física chegaram a 7,95% em abril (ou 150,4% ao ano), maior nível desde novembro de 2003. As seis linhas de crédito pesquisadas pela Anefac tiveram aumentos nos juros em abril (confira abaixo): TAXA DE JUROS PARA PESSOA FÍSICA EM ABRIL
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Linha de crédito
Taxa em março ao mês
Taxa em abril, ao mês
Juros no comércio
5,80%
5,82%
Cartão de crédito
14,95%
15,01%
Cheque especial
11,36%
11,46%
CDC -bancos- financiamento de automóveis
2,34%
2,35%
Empréstimo pessoal (bancos)
4,58%
4,64%
Empréstimo pessoal (financeiras)
8,30%
8,41%
Taxa média
7,89%
7,95%
EXEMPLOS DE IMPACTO EM EMPRÉSTIMOS Empréstimo pessoal de R$ 5.000 em banco em 12 parcelas Juro mensal, em %
Valor da parcela, em R$
Total pago, em R$
4,64
718,1
8.616,7
Uso de R$ 3.000 no rotativo do cartão de crédito por 30 dias Juro mensal, em %
Valor dos juros pagos, em R$
Total pago, em R$
15,01
450,3
3.450,3
Uso de R$ 1.000 por 20 dias no cheque especial *Juro mensal, em % *
Valor dos juros pagos, em R$
Total pago, em R$
11,46
76,40
1.076,40
PESSOA JURÍDICA Os juros médios cobrados de empresas registraram alta em abril, passando para 4,58% ao mês (ou 71,15% ao ano).
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As três linhas de crédito analisadas viram seus juros subirem. No capital de giro, os juros subiram de 2,66% ao mês em março para 2,68% em abril. Já a taxa de desconto de duplicatas avançou para 3,10% ao mês. A conta garantida passou de 7,75% ao mês em março para 7,95% ao mês em abril.
Grécia aprova reformas nas aposentadorias e Imposto de Renda FONTE KERIN HOPE DO "FINANCIAL TIMES" 09/05/2016 às 10h 25
O Legislativo da Grécia aprovou amplas reformas no sistema de pensões e no Imposto de Renda do país, antes da reunião de emergência que acontecerá na segunda-feira com os ministros de finanças da zona do euro e representantes do FMI (Fundo Monetário Internacional), com o objetivo de concluir a primeira revisão no pacote de resgate de € 86 bilhões concedido a Atenas. O projeto de lei foi aprovado por 153 a 144 votos, em votação nominal depois de dois dias de debate feroz. O Syriza, o partido governante, e seu parceiro de coalizão, o Gregos Independentes, de direita, têm maioria de apenas dois assentos na câmara baixa do Legislativo, que tem 300 membros. Mas o medo de que alguns deputados de extrema esquerda votassem contra as medidas se provaram infundados. "A missão [de nosso governo] é reerguer a Grécia e colocá-la no caminho do crescimento", disse o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, atraindo aplausos dos integrantes da coalizão. Manifestantes protestando contra as medidas de austeridade estavam reunidos diante da sede do Legislativo, no terceiro dia de uma greve nos transportes coletivos convocada por 51
sindicatos que se opõem às novas medidas —parte de um pacote fiscal de € 5,4 bilhões que resulta de um acordo com os representantes da União Europeia e FMI para as negociações de resgate. "Essa lei pode ser aprovada pelo Legislativo, mas não será colocada em prática", disse um ativista. Mas mesmo os legisladores da esquerda dura defenderam o projeto de lei para as aposentadorias, afirmando que ele protegia as pensões atuais e introduzia uma nova aposentadoria "nacional" de € 384 depois de 20 anos de trabalho. "Isso [a aposentadoria nacional] é uma realização que nenhum governo anterior havia conseguido aprovar, e aconteceu mesmo que os credores se opusessem a ela", disse o ministro da Indústria Panos Scourletos, de extrema esquerda, ao Legislativo. As medidas em debate no Legislativo grego são parte de um núcleo central de reformas econômicas que Atenas aceitou em acordo com os credores internacionais como parte da primeira revisão, postergada muitas vezes, de seu pacote de resgate de 86 bilhões de euros. Em uma carta aos ministros de finanças da zona do euro e lida pelo "Financial Times" na semana passada, Christine Lagarde, a diretora executiva do FMI, afirmava que todos os envolvidos estavam perto de um acordo quanto ao pacote, que poderia ser assinado em uma reunião ministerial em Bruxelas na segunda-feira. Mas antes de concluir a revisão e liberar verbas de resgate muito necessárias para Atenas, o FMI e o governo alemão estão insistindo em que a Grécia vá um passo além e aprove três bilhões de euros em "medidas de contingência" caso os cortes que constam do acordo se provem insuficientes para atender à meta de superávit orçamentário do programa. Atenas afirmou que era politicamente impossível legislar futuros cortes específicos, e a Comissão Europeia apoiou uma contraproposta grega de cortes gerais que só seriam implementados caso o programa saísse do rumo. O FMI e Berlim rejeitaram o plano, afirmando que cortes genéricos são contraproducentes. Autoridades da zona do euro afirmaram que o impasse sobre as medidas contingenciais tornavam improvável que um acordo para concluir a primeira revisão fosse atingido na reunião da segunda-feira. DEMORA A Grécia precisa das verbas adicionais de resgate até julho, quando vencem € 3,5 bilhões em dívidas do país. O governo grego tentou culpar o FMI pela demora, e um importante funcionário do país declarou no domingo que a Comissão Europeia e o BCE (Banco Central Europeu) acreditam que Atenas fez o suficiente para que a revisão seja concluída. "Existem algumas medidas que ainda precisam ser adotadas, mas os europeus agora parecem estar satisfeitos", disse o funcionário. Lagarde afirmou em sua carta que não estava solicitando novas medidas de austeridade, mas ela precisa que a zona do euro conceda perdão de dívidas a Atenas - algo a que Berlim vem resistindo - antes de concordar em participar do programa.
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Uma primeira discussão do perdão parcial da dívida grega, uma demanda já antiga do governo do Syriza em troca da implementação de novas medidas de austeridade, consta da agenda da reunião dos ministros das finanças segunda-feira. Dirigentes do FMI e do Mecanismo Europeu de Estabilidade, o fundo de resgate da União Europeia, vão apresentar propostas separadas para alongar o vencimento e oferecer novos cortes dos juros que incidem sobre a imensa dívida pública grega, afirmou um membro do governo da Grécia. Tradução de PAULO MIGLIACCI
Petroleira francesa Total vai comprar fabricante de baterias Saft FONTE REUTERS 09/05/2016 às 10h 55 Martin Bureau/AFP
Plataforma de petróleo da Total na costa angolana
A petrolífera francesa Total pretende comprar a fabricante de baterias Saft, ampliando sua investida no segmento de novas tecnologias de energia, afirmaram as companhias em comunicado conjunto. Após a assinatura de um acordo entre ambas as empresas, a Total entrou com uma oferta pública de aquisição para as ações da Saft junto ao regulador do mercado francês AMF.
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A Total oferecerá € 36,5 por ação da Saft, excluindo dividendo de € 0,85, avaliando a Saft em € 950 milhões. A empresa disse que o preço da oferta representa um prêmio de 38,3% sobre o valor de fechamento da ação da Saft de € 26,40 em 6 de maio. "A combinação da Saft e da Total permitirá que a Saft se torne a ponta de lança do grupo em armazenamento de eletricidade", disse o presidente-executivo da Total, Patrick Pouyanné. Ele acrescentou que a aquisição faz parte da ambição da Total de acelerar seu desenvolvimento nos campos de energia renovável e eletricidade, iniciada em 2011 com a aquisição da SunPower.
Japão está pronto para intervir se iene ficar volátil demais, diz ministro FONTE REUTERS 09/05/2016 às 08h 57 Shohei Miyano/Reuters
Ministro das Finanças japonês prometeu agir para conter volatilidade do iene
O ministro das Finanças do Japão, Taro Aso, afirmou nesta segunda-feira (9) que o governo japonês está preparado para intervir no mercado cambial se o iene se tornar volátil demais a ponto de afetar o comércio e a economia do país. 54
Aso, que foi primeiro-ministro japonês entre 2008 e 2009, também afirmou não achar que os Estados Unidos consideram a política cambial do Japão inapropriada, mas reconheceu que os dois países têm visões diferentes sobre o que seriam altas excessivas do iene que justifiquem uma intervenção. "Para o Japão, volatilidade excessiva nas movimentações do iene que afetem o comércio e as políticas fiscal e econômica do Japão sejam altas ou quedas do iene é indesejada. Se tais movimentações ocorrerem, o Japão está preparado para intervir no mercado", disse Aso ao Parlamento. O dólar atingiu a mínima de 105,55 ienes na semana passada após os EUA acrescentarem o Japão a uma lista de país que está monitorando devido às políticas cambiais. Alguns investidores interpretaram a ação como um alerta a Tóquio contra intervenções no mercado. O dólar retomou algum terreno e era negociado em torno de 107 ienes na Ásia nesta segunda-feira.
Preço em alta e boa safra animam cafeicultores FONTE RENE MOREIRA - ESPECIAL PARA JORNAL O ESTADO DE S. PAULO, 09 Maio 2016 às 10h 31
A Alta Mogiana, região entre São Paulo e Minas, deve ter uma das melhores safras em 20 anos A chuva ajudou, caiu na hora certa e a lavoura cafeeira floresceu e deu frutos bonitos na região da Alta Mogiana, formada por 15 municípios paulistas e oito mineiros, sendo conhecida por produzir café de excelente qualidade. As lavouras estão carregadas e alguns fazendeiros esperam uma das melhores safras em mais de 20 anos. RELACIONADA:
Recuperação do preço das commodities é incerta
Muitos investiram para ter um produto especial, garantindo mais lucro até mesmo para suprir um pouco das perdas dos últimos anos. Há lavouras com pés de café com mais de três metros de altura e cheios de grãos prontos para a colheita. "Está bonito de se ver", falou o fazendeiro Alcides Presotto, que tem propriedade rural no município de Ribeirão Corrente (SP). Ele contabiliza em torno de 200 mil pés de café em produção e se diz feliz com a boa qualidade dos grãos. Outro cafeicultor, Zulmiro Ferreira, de Pedregulho (SP), também está confiante e espera contabilizar em sua propriedade 6 mil sacas de café limpo, ou seja, já beneficiado -após toda a etapa de perda no preparo do grão. "Faz bastante tempo que não temos um resultado assim", disse. Boa parte do café colhido nesses municípios deve ir para o exterior através de empresas exportadoras do produto. Consultores de uma delas, a Brazil Cofee, disseram que a produção na região de Franca (SP) pode chegar a 2,2 milhões de sacas, o dobro da safra passada (1,1 milhão). "A florada do último semestre pegou, a chuva ajudou muito", disse Airton Rodrigues, que junto com o irmão Nivaldo cultiva café em Pedregulho (SP). São 360 hectares que devem render uma produção de 18 mil a 20 mil sacas de café já beneficiado. Bolsa. Muitas fazendas já começaram a colher o café e se no campo todos esperam uma boa safra, fora dele também. A expectativa é de que as commodities do café tenham grande recuperação neste ano e que o VBP (Valor Bruto da Produção) suba 18% em relação à safra anterior.
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Dívida vencida pode parar na mão de novos credores FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, DANIELLE BRANT DE SÃO PAULO 09/05/2016 às 02h 00
A dívida era com o banco, mas as ligações de cobrança agora são feitas por uma empresa desconhecida. É golpe? Não necessariamente. Grandes lojas e bancos vendem dívidas em atraso para outras companhias, chamadas de empresas de recuperação de crédito. Assim eles recuperam uma parte do dinheiro e tiram o prejuízo de seus balanços. Em geral, as dívidas são vendidas por um valor menor para essas empresas de cobrança. Quanto menor a chance de recuperação, menor é o valor pago. Depois da venda, o banco ou a loja retira o nome do consumidor da lista de devedores. O alívio dura pouco: assim que compram essas dívidas, a maioria das empresas de recuperação de crédito volta a negativar esse inadimplente. E a ligar para cobrar o dinheiro. Godofredo Barros, presidente da empresa Ipanema Credit Management, especializada em cobrança e recuperação de crédito, diz que compra dívidas atrasadas entre 180 dias e quatro anos. A companhia que adquire uma carteira de crédito sempre notifica o inadimplente. "Mas às vezes o consumidor não recebe a carta ou não entende a notificação, o que dificulta nosso trabalho", diz.
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Assim que a dívida troca de mãos, para de vigorar o juro da instituição financeira ou loja e começa a valer a taxa do código civil, que é de 1% ao mês. Os juros são simples -ou seja, incidem somente sobre o principal. Antes de começar a negociar com a nova dona da dívida, a recomendação é que o consumidor entre em contato com o credor antigo e confirme a transação ou consulte os birôs de crédito. Isso evita, por exemplo, que alguma empresa cometa fraude.
Queda no preço de commodities pressiona ações da Vale e Petrobrás e Bolsa cai FONTE ANA LUÍSA WESTPHALEN E KARLA SPOTORNO – JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 09 Maio 2016 às 11h 20
Ações ordinárias da mineradora brasileira caem quase 10% diante da queda do preço do minério de ferro no exterior e de dados fracos da economia chinesa; dólar sobe
Ações da Vale caem puxadas por dados fracos de importação da China RELACIONADAS:
Recuperação do preço das commodities é incerta Mercado melhora projeção para o PIB pela 1ª vez desde outubro de 2014 Acompanhe as maiores altas e baixas do Ibovespa
SÃO PAULO - Em queda desde a abertura dos negócios desta segunda-feira, 9, a Bovespa ampliou mínimas em sintonia com o início dos negócios em Wall Street. Às 10h36, o principal índice da Bolsa recuava 1,65%, aos 51.833 pontos, penalizado pelas fortes perdas dos papéis da Vale, em baixa de 9,36% (ON) e -7,40% (PNA), e da Petrobrás, com quedas de 4,95% (ON) e -3,97% (PN). De forma geral, pesa sobre as decisões de investimento nesta segunda-feira a cautela em torno do futuro governo Michel Temer e da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre 57
mandados de segurança pedindo que a votação do impeachment no plenário da Câmara dos Deputados seja anulada. Os desdobramentos da nova fase da Operação Zelotes também estão no radar. Por conta dessa operação, o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi conduzido coercitivamente para prestar depoimento na manhã de hoje. Por enquanto, notícias vindas do exterior pesam sobre os negócios. As ações da mineradora Vale reagem a uma nova desvalorização do preço do minério de ferro no mercado à vista chinês, de -3,6%, para a US$ 55,6 a tonelada seca, de acordo com o The Steel Index. A perspectiva de enfraquecimento da economia chinesa, principal mercado das exportações da Vale, também estimula as vendas dos papéis da companhia, depois da divulgação de dados fracos de importação e exportação neste fim de semana. Na comparação anual de abril, as exportações do gigante asiático caíram 1,8%, revertendo alta de 11,5% em março, enquanto as importações recuaram 10,9%, ante queda de 7,6% no mês anterior. No caso da Petrobrás, as ações da estatal brasileira refletem a queda no preço da commodity no exterior, após a substituição do ministro do petróleo na Arábia Saudita, Ali al-Naimi, por Khalid al-Falih, da Saudi Aramco. Segundo os profissionais, al-Falih deve dar continuidade à política da Arábia Saudita de manutenção da participação de mercado e não congelar a produção, mesmo diante do excesso de oferta global. Dólar. No mercado de câmbio, o dólar à vista no balcão segue em alta, negociado a R$ 3,5200 (+0,49%). A moeda renovou máximas em meio a um movimento de recuperação técnica na esteira da alta do dólar e da queda do petróleo e de metais básicos no exterior. A divisa dos EUA também exibe ganhos em relação às principais divisas emergentes e ligadas a commodities. Com informações de Marcelle Gutierrez
Ruínas como exemplo FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@uol.com.br 07/05/2016 às 02h 00
Começam a aparecer melhorias mínimas em algumas medidas de confiança do consumidor quanto ao futuro próximo. Certos indicadores de expectativas empresariais, embora consolidados em níveis baixos, deixaram de piorar. Economistas do setor privado revisam projeções de crescimento para o ano que vem. Em vez de estagnação, os primeiros laivos de otimismo indicam expansão de pouco mais de 1%, embora a mediana das estimativas recolhidas semanalmente pelo Banco Central esteja ainda em 0,4%. Os números, a rigor, não importam tanto. Prognósticos para daqui a um ano costumam ser imprecisos mesmo em circunstâncias normais; são ainda mais precários na ausência de verdadeira política econômica e na incerteza quanto aos planos do Executivo. De todo modo, é impossível negar uma discreta renovação da esperança decerto estimulada pela iminente mudança de governo, e a melhora de ânimos tende a ser fator importante no início de um longo caminho de recuperação. Longo e penoso: a economia brasileira terá encolhido cerca de 8% de 2014 até o final deste ano. É crucial, assim, que o futuro governo não dissipe esse capital tão volátil: confiança, crédito. O anúncio informal do possível ministério de Michel Temer (PMDB), porém, suscita dúvidas não só a respeito da habilitação técnica de setores da nova administração mas também, e 58
sobretudo, acerca de sua estabilidade política e, por que não, judicial. Há implicados em escândalos; partidos associados têm mau histórico ético e administrativo. O governo Temer precisará dar explicações imediatas sobre seu plano de reformas. Terá de demonstrar capacidade de logo reerguer as instituições responsáveis por políticas públicas essenciais. Daí virão as primeiras medidas com vistas a atenuar a recessão e, assim, confirmar e reforçar a modesta melhora de ânimos. Há muito a fazer na área de concessões de infraestrutura e de privatizações; em relação à Petrobras e ao setor elétrico; no campo do entulho burocrático que emperra investimentos e no da simplificação tributária, para citar poucos casos. São algumas tarefas essenciais que apenas pessoal tecnicamente qualificado e com autonomia operacional pode levar a bom termo, mas a barganha política dificulta a formação de equipes adequadas. A degradação do governo de Dilma Rousseff é exemplo presente do resultado do loteamento irrestrito que se deu, aliás, entre muitos dos partidos que ora integram a coalizão de Michel Temer. Não se pode dizer que esse seja um alerta: as ruínas estão evidentes.
Lista de lições FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@uol.com.br 07/05/2016 às 02h 00
A queda expressiva da USP na classificação anual de universidades com melhor reputação no mundo, passando da faixa 51-60 para a 91-100 é uma notícia bastante ruim. O resultado, porém, traz lições que o país não deveria ignorar se quiser se colocar melhor na arena mundial da educação e da produção de conhecimento. Em que pese seu retrocesso, deve-se observar que não é desprezível que a USP se mantenha desde 2012 entre as cem mais reputadas nessa lista do grupo THE (Times Higher Education). Com a exclusão da Universidade Autônoma do México neste ano, a brasileira figura como a única entidade latino-americana na relação. Cumpre lembrar, ademais, que esse ranking mede sobretudo a percepção de acadêmicos a respeito da reputação de universidades. Pouco mais de 10 mil pesquisadores de prestígio, oriundos de 133 países, apontaram as 15 instituições por eles consideradas as melhores em ensino e pesquisa. Não faz feio uma instituição que, como a USP, se encontra no mesmo patamar de centros tradicionalíssimos como as francesas École Polytechnique e a Universidade Paris 1 PanthéonSorbonne. Há muito a avançar, porém. Na Europa e na Ásia, o movimento de internacionalização acelerou-se nos últimos anos. Investe-se, por exemplo, nas disciplinas ministradas em inglês, na atração de professores estrangeiros –por meio de melhores salários e condições de trabalho– e na inserção em redes mundiais de pesquisa. No ranking THE, as duas principais universidades da China já alcançaram a 18ª e a 21ª posição. Outros três centros do país passaram a integrar a lista neste ano. No total, a Ásia passou de 10 para 17 instituições na classificação. 59
Enquanto isso, USP e outras universidades brasileiras se mantêm presas a um modelo engessado, que não reconhece o mérito nem cobra aquele que, acomodado com a estabilidade do emprego público, é pouco produtivo, como apontou a neurocientista e colunista da Folha Suzana Herculano-Houzel, em entrevista a este jornal. Essa é, aliás, a principal razão citada pela pesquisadora para sua decisão, anunciada nesta semana, de se mudar da UFRJ para uma universidade norte-americana. Acrescentem-se ainda amarras burocráticas para a compra de equipamentos e insumos para pesquisas, bem como a quase ausência de disciplinas em inglês. Sem modificar esses parâmetros, não será surpresa se a USP continuar a regredir neste e em outros rankings nos próximos anos.
Caça ao privilégio FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@uol.com.br 08/05/2016 às 02h 00
Enquanto sofre os efeitos mais lancinantes da bebedeira populista ocorrida de 2009 a 2014, o Brasil tem a melhor oportunidade em 16 meses de submeter-se a uma terapia eficaz de reabilitação. O PT, artífice da farra e algoz da errática tentativa da presidente Dilma Rousseff de corrigir a rota no segundo mandato, está de saída. Uma nova maioria, em tese menos avessa à dieta prescrita contra a ressaca, aos poucos se consolida em torno de Michel Temer (PMDB). Mudanças de hábito na política e na economia, entretanto, deixam de ser consenso à medida que suas consequências práticas começam a ser imaginadas pelos pacientes. Esse fato se torna dilema numa sociedade que ficou viciada em privilégios conferidos pelo Estado. Se era vasta a rede de proteções casuísticas e exageradas no país, ela foi reforçada nos últimos anos. Começa no empresário beneficiado por crédito subsidiado, bloqueio de concorrentes e facilidades tributárias e chega ao profissional liberal favorecido por taxação amena. Estende-se do estudante agraciado com meia-entrada e gratuidades ao servidor imune a demissões cujo salário é garantido a despeito de seu desempenho. Envolve do trabalhador estimulado a aposentar-se ainda relativamente jovem ao artista renomado que se financia com renúncia de impostos. Até mesmo a mais eficiente política compensatória brasileira, o Bolsa Família, tem gorduras, segundo opinam pesquisadores associados à concepção e à implantação do programa. Poderia dar mais dinheiro a quem mais precisa se desligasse uma fatia de beneficiários em melhores condições de caminhar com as próprias pernas. Fortaleceu-se a fantasia de um Estado paternalista e pleno provedor a disfarçar a essência do contrato social, que é a obrigação mútua entre os indivíduos. Quando um cidadão recebe um direito (ou um privilégio), outros são compelidos a custeá-lo. Na sociedade nascem e são consumidos os recursos materiais, e não no ente abstrato
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chamado governo, que não passa de um intermediário, embora crucial para o progresso ou para o fracasso dos povos. A terapia para desamarrar o nó do desenvolvimento brasileiro exige, portanto, um programa geral de caça aos privilégios. Todos os atores, na proporção de seu poderio e de suas benesses, deveriam perder um pouco, em nome do bem coletivo que é a recuperação do crescimento e dos empregos. Michel Temer, conhecedor dos percursos labirínticos do Congresso Nacional, precisa transmitir à nação a mensagem dura, mas leal, de que os sacrifícios necessários para essa transição serão democraticamente partilhados.
Contagem final FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@uol.com.br 08/05/2016 às 02h 00
Num resultado sem surpresas, a comissão especial do Senado encarregada de avaliar o impeachment de Dilma Rousseff (PT) aprovou por 15 votos a 5 o relatório de Antonio Anastasia (PSDB-MG), que recomenda a admissão do processo contra a presidente. A decisão passa agora ao plenário, onde também se prevê a derrota do governo. Sendo necessária apenas a maioria simples dos senadores presentes à sessão para que tenha início o processo, tudo indica que o afastamento da presidente se efetivará nesta semana. Do ponto de vista formal, trata-se ainda de uma suspensão temporária, a perdurar pelo prazo máximo de 180 dias. Somente depois de concluído o julgamento, com a devida observância da ampla defesa, será enunciado o veredito. Do ponto de vista prático, não parece plausível que nessa altura, com o atual vice Michel Temer (PMDB) exercendo a Presidência, uma reviravolta venha a determinar o retorno de Dilma à cadeira que mal ocupa nestes dias. Em outras situações, talvez fosse possível imaginar que um processo no Senado aduzisse evidências e argumentos novos a favor ou contra o impeachment. O caso de Dilma não apresenta, a rigor, dúvidas factuais em relação aos decretos não autorizados ou às chamadas pedaladas fiscais. É sobretudo quanto aos aspectos conceituais ou teóricos que se pode observar, como esta Folha tem feito, um descompasso entre a tecnicalidade dos fatos apontados e o que há de drástico, traumático e divisivo na punição que estes podem acarretar. Ao longo desta crise, certos pormenores de gestão orçamentária e fiscal ganharam vaga familiaridade entre os setores mais vigilantes da opinião pública. Ao mesmo tempo, solidificase com insistência, na menor parcela dos que ainda defendem o atual governo, o discurso de que a presidente estaria sendo vítima de um golpe. Dilma está sendo vítima, antes de tudo, da inabilidade, da incompetência e da obstinação no erro com que conduziu o seu governo. A mesma obstinação, agora inflamada por uma aposta na retórica do golpismo, levou-a a recusar a alternativa da renúncia. 61
Paradoxalmente, a atitude permite a Michel Temer prosseguir na montagem de um governo que se fundamenta muito mais na lógica do fato consumado do que em indubitável legitimidade popular. Por que haveria ele de renunciar, em prol de novas eleições, se o gesto não parte da própria presidente? A "realpolitik" afasta, por certo, hipóteses dessa natureza. A crise prossegue. Seu final está praticamente anunciado -e, ainda assim, nenhum futuro se deixa entrever.
A inflação ainda não cede Não se repetiu em abril a inflação mais fraca de março, quando o IPCA havia avançado 0,43% e parecia definir um novo padrão para os preços no varejo FONTE JORNAL O ESTADO DE S. PAULO - Celso Ming, 06 Maio 2016 às 21h 00
A inflação de abril ficou mais alta do que o esperado. Ficou em 0,61%, o que surpreendeu os analistas que trabalhavam com a expectativa de uma alta restrita à faixa do 0,48% a 0,55%. Ninguém contava com o reajuste de 4,0% nas tarifas dos celulares e houve, também, as correções dos serviços de saúde. RELACIONADAS
Inflação acelera alta para 0,61% em abril, puxada por alimentos e remédios BC reduz previsão de inflação e reforça que não há espaço para cortar juro Leia aqui outras análises do colunista Celso Ming
Assim, não se repetiu em abril a inflação mais fraca de março, quando o IPCA havia avançado 0,43% e parecia definir um novo padrão para os preços no varejo.
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IPCA No entanto, medida em 12 meses, a inflação caiu mais alguma coisa, de 9,39% em março para 9,28% em abril. Desta vez, está menos espalhada. Há menos itens da cesta de consumo que acusaram alta de preços, ou 67,7% deles, em abril. Em março o índice de difusão foi de 70,1%. A aposta predominante no mercado financeiro é a de que a inflação deste ano ficará abaixo dos 7%, no entanto, ainda acima do teto da meta (6,5%). Mas há certas razões para contar com que esse número acabe sendo mais baixo. Como é altamente provável que a presidente Dilma seja afastada, é de supor que a inflação seja influenciada pelas mudanças que virão com a política econômica do novo governo. O provável futuro ministro da Fazenda do governo Temer, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, não mais esconde que deverá atacar o problema de base, ou seja, deverá atacar a desordem das contas públicas, com metas realistas e muita disciplina. Se for assim, poderá ser recuperada boa parte da confiança que foi por água abaixo ao longo da administração perdulária e escamoteadora do governo Dilma. E isso já será um bom caminho andado, não só para conter o avanço da dívida pública, mas também para melhorar o controle da inflação, como o Banco Central deixou claro na última Ata do Copom divulgada. Na quinta-feira, a agência de classificação de risco Fitch voltou a rebaixar a qualidade dos títulos de dívida do Brasil, de BB+ para BB e, ainda, a manteve em perspectiva negativa (tendência a novo rebaixamento). A explicação para esse passo é a inconsistência da política econômica do governo no combate ao rombo de maneira a abrir caminho para a volta do crescimento. A inflação alta demais também faz parte desse quadro, que, espera-se, seja revertido pelo próximo governo.
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Isto posto, o que esperar da política monetária (política de juros) nos próximos meses? O Banco Central mandou seu recado por meio da última ata: ainda não estão dadas condições técnicas para puxar os juros para baixo. É uma afirmação que tem de levar o desconto de que a mudança de orientação da política econômica deve alcançar também o Banco Central, no sentido de que uma política fiscal mais consistente terá tudo para criar condições para que, mais adiante, os juros possam cair mais rapidamente. Mas, no que ficou avançado aqui na Coluna da última terça-feira, ninguém deve esperar por pressões do novo governo para que o Banco Central se apresse a derrubar os juros sem que haja contrapartida de ordenamento das contas públicas. CONFIRA:
Evolução dos preços
No gráfico, a evolução dos preços livres e administrados. Continua pesando As estatísticas de abril levantaram dúvidas sobre a duração do processo de realinhamento dos preços administrados, ou seja, das tarifas e preços determinados por lei ou vontade de quem manda. E nessa lista estão a conta de luz, os preços dos combustíveis, da telefonia e as tarifas da condução urbana. Quando se imaginava que a maior parte do ajuste estava feita, eis que, em abril, os preços administrados subiram bem mais do que os preços livres: 10,69% ante 8,85%.
Coragem para mudar FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, RONALDO CAIADO 07/05/2016 às 02h 00
Mais que de transição, é de emergência o futuro governo de Michel Temer. Herdará um país em frangalhos, com tudo por fazer e refazer: na economia, na política e na autoestima do Brasil. 64
Não há tempo a perder e não há espaço para errar. O país já esperou, sofreu e errou demais. A força capaz de nutri-lo –e é essencial que não se perca isso de vista– não virá das cúpulas partidárias nem dos arranjos, por mais engenhosos, de bastidores ou do atendimento a interesses corporativos. Virá das ruas, da fonte e origem de todo esse processo, que levou ao fim a Era PT. É esta a peculiaridade deste momento histórico: não foram os partidos que moveram a população, mas o contrário. Foi o clamor das multidões que levou os partidos a agir. Temer, embora detentor de prestígio no campo jurídico e de densa bagagem política, chega ao poder sem o lastro de uma eleição nele focada. Foi eleito como vice; teve, portanto, votos, mas por tabela. Terá de compensar buscando interpretar as multidões que apearam a presidente. Tancredo Neves viveu, em outra circunstância, essa realidade. Capitalizou a frustração das Diretas Já e arrastou ao colégio eleitoral a expectativa popular. Itamar Franco fez o mesmo: governou para a sociedade, e não para os partidos. Esse gesto deu-lhe a força moral de que carecia para cumprir a missão. Cabe ao futuro presidente dar sinais claros de que não fará dessa ocasião singular mera reprodução do modelo que acaba de ruir. Não pode fazer do Estado e de seus cargos moeda de troca política, buscando nessa prática, variante do mensalão, a fonte da governabilidade. Não funciona, como constatou tardiamente a presidente Dilma Rousseff. Deve, isso sim, pautar-se em dois exemplos que nos vêm da Argentina: o presidente Mauricio Macri e o papa Francisco. O primeiro enfrenta, sem hesitar, o populismo institucional dos Kirchner, adotando medidas amargas, corajosas e necessárias à reconstrução do país; o segundo, ciente da eficácia e da força do exemplo e a política move-se também em torno de símbolos, abdicou de luxos pessoais e adotou hábitos simples, que o identificam com a realidade sofrida em que vive o povo. E o que querem os milhões que foram às ruas? Um Estado mais eficiente e enxuto, mais transparente. Um Estado em que a sociedade se veja refletida. Deve, portanto, cortar mordomias, a começar pelas de seu próprio cargo. Menos promessas e mais ação, eis, em síntese, a receita. Nada de comitivas gigantescas em viagens ao exterior ou de cargos inúteis em profusão; trocar o caríssimo Airbus por um jato da Embraer. Numa palavra, aproximar-se do povo, reduzir o abismo que o separa dos governantes; munir-se de autoridade moral para pedir sacrifícios a uma sociedade que já contabiliza mais de 11 milhões de desempregados. Os primeiros sinais não são alentadores. Temer, ao que parece, recuou do anúncio de que cortaria à metade os ministérios –e já discute com os partidos o seu loteamento. Repete aí o PT. São hoje 32 ministérios. Oscar Niemeyer projetou a Esplanada com 17 prédios; Juscelino, que a inaugurou, governou com 12 ministros. E há ainda os milhares de cargos em comissão, criados não para atender o público, mas à militância.
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É preciso sinalizar desde o início que se inaugura de fato uma nova etapa, com mudança radical de rumo. Para tanto, é preciso coragem, ousadia. Temer precisa deixar claro que não postula reeleição, que fala para a história, e não para os partidos. Coragem, presidente. Se a demonstrar, terá o povo a seu lado e, tendo-o, nada será capaz de ameaçá-lo.
Cooperativa cria 'MBA' do leite no Brasil
Terra onde ser· semeado trigo, em Tibagi (PR) FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, MAURI ZAFALON 07/05/2016 às 02h 00
Aos 91 anos, a Frísia Cooperativa Agroindustrial (ex-cooperativa Batavo) se reinventa, amplia a área de atuação no campo e verticaliza a industrialização de seus próprios produtos. Tradicional na região de Campos Gerais (PR), a cooperativa tem como base a colonização holandesa, iniciada há 105 anos no Paraná. Voltada para leite e grãos, a Frísia tem também uma presença forte nas carnes e, agora, avança para os setores de florestas e de energia eólica. Com a ampliação e a diversificação das atividades, a gestão das propriedades passou a ser extremamente importante, diz Renato Greidanus, presidente da entidade.
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"É preciso trazer o produtor para um novo patamar profissional para que ele consiga cada vez mais bons resultados técnicos." MBA EM LEITE A cooperativa leva tão a sério a questão da gestão que instituiu um MDA (Master Dairy Administration), uma espécie de MBA focado na gestão da produção de leite e voltado para os cooperados. Para Greidanus, os conhecimentos adquiridos por produtores e técnicos da cooperativa nesses estudos vão se espalhar para toda a região, melhorando a gestão e elevando a produtividade. A gestão moderna deve ser integrada. Tem de incluir conhecimentos que vão do rebanho aos sistemas financeiro e ambiental, além da busca de uma elevação técnica na propriedade, segundo o presidente da cooperativa. "E preciso rastrear toda a cadeia, do milho ao frigorífico. Isso permite ganho interno e agregação de valor à produção." A Frísia se une à Castrolanda e à Capal na industrialização de leite, uma associação chamada de intercooperação. Dentro dessa "cadeia fechada", que vai da semente à industrialização dos produtos, dá para criar nichos de atuação, diz Greidanus. Ele cita o exemplo do primeiro leite longa vida do Brasil sem aditivos, lançado pelas cooperativas. A capacidade de processamento de leite dessas cooperativas é de 3,8 milhões de litros por dia. Processam 3,3 milhões, segundo Rogério Marcus Wolf, coordenador de comercialização de leite da cooperativa Castrolanda. Pelo menos 95% da industrialização é feita para terceiros, inclusive multinacionais que se interessam pela boa qualidade da matéria-prima obtida nessa bacia leiteira. "O mercado de alimentos está exigente. Ganhamos os parceiros devido à qualidade do nosso produto", diz Wolf. FLORESTAS A Frísia está incorporando uma nova atividade no seu portfólio: o cultivo de florestas. Greidanus diz que a atividade é importante porque o produtor utilizará áreas inaproveitadas da propriedade. A cooperativa utilizará parte da lenha para geração de energia em suas atividades e o excesso será repassado paras indústrias da região, que são carentes desse produto. A cooperativa avança também em um projeto de geração de energia eólica. Ela busca um parceiro para o projeto, estimado em R$ 300 milhões e que está na fase de licenciamento ambiental.
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O produtor poderá participar desse projeto ou apenas ceder o espaço para as torres de captação de energia. "A intenção é oferecer o máximo de opção de atividades na propriedade", diz Greidanus. Com investimentos de R$ 580 milhões de 2011 a 2015 –na industrialização de trigo, frigorífico e armazenagem–, o presidente da entidade diz que a cooperativa já coloca outros produtos na lista para 2018/19. Ele não adiantou, porém, quais seriam essas novas áreas de atuação. A cooperativa atua em leite e derivados, carne "in natura" e industrializada e grãos. Anualmente promove uma exposição de vacas leiteiras para troca de conhecimentos entre produtores. Esse sistema de intercooperação com as cooperativas Castrolanda e Capal permite "uma escala maior na industrialização da matéria-prima e redução de custos", diz o presidente da Frísia. O sistema permite que o produtor seja sócio na industrialização e garante uma oferta maior de matéria-prima para as cooperativas. O jornalista viajou a convite da Frísia Cooperativa Agroindustrial
Entrevista. Mansueto Almeida Para o economista, o maior desafio da nova equipe econômica é fazer um ajuste rápido, para ganhar a confiança dos investidores
'Se Temer fizer um terço do prometido, já será positivo', diz Mansueto Almeida FONTE ALEXA SALOMÃO – JORNAL O ESTADO DE S. PAULO 07 Maio 2016 às 16h 07
O economista Mansueto Almeida tem uma convivência tão próxima e regular com as contas públicas que cita de cabeça os números das despesas e das receitas. Com base no que vê lá – e não é nada bom –, avisa que um eventual governo de transição do vice-presidente Michel Temer não tem chance de colocar a contabilidade da União no azul. “O desafio é não deixar o déficit aumentar e reduzi-lo para que, em 2017 e 2018, seja menor”, diz ele. Na sua opinião, no contexto de recessão, não há como cumprir a tarefa sem a ajuda de mais impostos: “Alguns amigos não concordam comigo, mas, no curto prazo, será preciso aumentar a carga tributária”. O mais importante, na avaliação dele, é que uma eventual nova equipe econômica seja ágil. “Os analistas vão ficar esperando uns quatro meses para ver qual vai ser a cara de um novo governo. Quanto mais medidas conseguirem tirar do papel, melhor. Vai estendendo a lua de mel”, diz. Não será fácil, porque há muito trabalho a fazer e pouco tempo. “Basicamente, a agenda que o Brasil precisa fazer é quase voltar atrás em tudo que foi feito nos últimos sete anos.” A seguir, os principais trechos da entrevista que concedeu ao Estado. RELACIONADAS:
Contas públicas têm déficit de R$ 10,6 bilhões, pior resultado para março desde 2001 Pela primeira vez, Governo Central tem déficit no primeiro trimestre do ano
O que um eventual governo de transição vai encontrar ao tomar pé das contas públicas? 68
Vai encontrar uma piora do resultado fiscal muito maior do que qualquer um esperava. No ano passado, cortaram investimento, controlaram gastos de saúde e educação e tiveram uma grande despesa extra – pagar cerca de R$ 55 bilhões das pedaladas. Veio um déficit de quase 2 pontos porcentuais do PIB (Produto Interno Bruto). O que assusta é que neste ano, que não tem pedalada, o buraco será praticamente o mesmo. As despesas não param de crescer acima da receita, em especial as despesas obrigatórias. O grande desafio do governo Temer é mudar essa dinâmica. Não deixar o déficit aumentar e depois reduzi-lo, para que em 2017 e 2018 seja consideravelmente menor. Então, é esquecer tentar tirar as contas públicas do vermelho neste ano? Esquece. Neste e no ano que vem. O importante é sinalizar que o governo está tentando reduzir desequilíbrios. Quais medidas o sr. priorizaria? É preciso fazer acertos de curto e longo prazos. No longo prazo, iniciar um ciclo de reformas, e a reforma mais importante é a da Previdência. O ideal é estabelecer uma idade mínima de aposentadoria por meio de emenda constitucional. Se não conseguir, pode inventar coisas mais simples, como elevar o tempo de contribuição com lei ordinária. Alguma coisa na Previdência precisa ser feito. É a despesa que mais pesa e agora piora numa conjuntura anormal. De recessão. De 2002 a 2014, em 12 anos, a despesa do INSS cresceu 1 ponto do PIB. No ano passado e neste, vai crescer outro 1 ponto de PIB – em dois anos. Todos os benefícios são indexados à inflação. As pessoas vão se aposentando e há crescimento no número de beneficiários. O PIB, por sua vez, é negativo. A receita está caindo. Assim, a despesa da Previdência explode.
A agenda que o Brasil precisa adotar, diz Mansueto Almeida, significa voltar atrás em tudo o que foi feito nos últimos sete anos
Interlocutores de Temer têm ventilado a possibilidade de a reforma da Previdência ficar para depois. O ideal é agir o mais rápido possível. Se empurrar for esperar dois meses, tudo bem. Mas eles precisam lembrar que a janela para fazer qualquer coisa é curta. A lua de mel com o mercado é de uns cinco, seis meses. Por que esse prazo curto?
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Porque há uma grande expectativa em relação a um governo Temer: se vai ou não deslanchar a agenda de concessão e mudar marco regulatório, que medidas vai levar ao Congresso, quais vai conseguir aprovar. Isso até já está incorporado às projeções dos analistas. Eles vão ficar esperando uns quatro meses para ver qual vai ser a cara do novo governo. Quanto mais medidas conseguir tirar do papel, melhor. Vai estendendo a lua de mel. O problema do País é o buraco fiscal. É muito grande. Sinaliza que a nossa dívida vai continuar crescendo. É isso que o mercado está olhando. E no curto prazo? Na área fiscal, tem pouca margem para cortar. Talvez seja possível cortar uns R$ 5 bilhões ou R$ 10 bilhões em investimento. Já reduziram o que se podia de educação e saúde no ano passado e neste. O gasto de ambos deve ficar perto do limite constitucional. Teoricamente, podiam cortar desonerações. A desoneração da folha de pagamento teve um custo de R$ 25 bilhões no ano passado. Neste ano, vai fechar perto do mesmo valor. Mas reverter desoneração depende do Congresso. O ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy tentou e não conseguiu totalmente. Será que o Congresso, com um governo novo, estaria disposto a reverter uma desoneração que ele não aprovou antes? Há quem diga que poderia postergar reajustes do funcionalismo. O governo que está saindo fez um acordo que, até 2019, garante um reajuste de, mais ou menos, 27,5% para algumas carreiras. Alguns vão receber mais. Em tese, como ainda não foi aprovado em lei, poderia ser revertido, mas politicamente seria difícil. Mas tudo o que se tem à mão é muito pouco comparado ao tamanho do buraco, que deve ir a uns R$ 120 bilhões. Como resolver, então? Alguns amigos não concordam comigo, mas, no curto prazo, para reduzir o déficit, será preciso fazer uma relação custo-benefício e avaliar se não é melhor ter aumento de imposto. Pode recriar a CPMF com alíquota regressiva – vai caindo ao longo dos anos até zerar. Enquanto isso, o governo ganha tempo para mudar a estrutura do gasto público com reformas de impacto no longo prazo. Precisa de mais imposto? Privatizações e concessões não resolvem? Ajudam. Mas receitas de privatização e de concessão ocorrem apenas no ano. Vamos fazer a seguinte foto: o governo decide não aprovar um centavo de carga tributária, porque a sociedade não quer e não passa no Congresso, e consegue R$ 100 bilhões neste ano e mais R$ 100 bilhões no outro. Isso reduz o déficit, ganha tempo, mas não leva ao superávit. Não cobre o rombo. Não. Por ano, o déficit é maior que R$ 120 bilhões. O governo precisa de R$ 70 bilhões a R$ 80 bilhões de recuperação de receita nesse período. Não há muito o que fazer no curto prazo, então? Não, dá para fazer muito coisa, em muitas áreas. Nos primeiros 45 dias, vai ser preciso sanar a questão da dívida dos Estados. É preciso atrelar o ajuste fiscal dos Estados a privatizações, reformas. Isso é essencial. Dá para avançar na estruturação do marco regulatório. Os investidores não reclamam que as regras são boas ou ruins. Se são ruins, colocam no preço. Eles reclamam das mudanças constantes. O governo precisa estabelecer regras que sejam atrativas ao investidor internacional, em especial na área de infraestrutura, fortalecer as agências reguladores, correr com a agenda de concessões, melhorar a governança e o balanço financeiro das estatais. Essa é uma agenda positiva que já dá para iniciar agora. Na verdade, a agenda que o Brasil precisa adotar é quase voltar atrás em tudo o que foi feito nos últimos sete anos: reduzir a exigência de conteúdo nacional, fazer acordos comerciais, reduzir tarifa de importação. Se o governo Temer conseguir fazer um terço do que está prometendo, já vai ser muito positivo. O sr. conversa muito com parlamentares. Eles estão dispostos a aprovar as medidas impopulares do ajuste? Alguns parlamentares dizem que têm disposição, mas é assim: um grupo quer que o outro grupo vote primeiro a medida impopular. Se você conversa com o pessoal ligado à saúde, eles 70
querem que o corte impopular comece pela Previdência. Se conversa com quem representa a Previdência, eles querem o corte comece em outro lugar. Eu não consigo ver ainda qual será o apoio para essa pauta. No período recente, você teve um movimento multipartidário, que nem era contra a Dilma, para aumentar gasto. Há um mês, uma nova PEC (Proposta de Emenda Constitucional), que aumenta o gasto com saúde, foi submetida à Câmara. No plenário havia 403 deputados e 402 votaram a favor. Se essa PEC passar, vai significar, nos próximos cinco, seis anos, um aumento de gasto equivalente a 1 ponto porcentual do PIB. No mesmo momento em que você discute a necessidade de acabar com vinculações, eles aumentam a vinculação? O sr. conversa com muitos investidores estrangeiros também. Como tende a ser a reação deles? Estão dando ao eventual novo governo o benefício da dúvida. Vão esperar para ver o que acontece ao longo do segundo semestre. Se ele conseguir avançar nas reformas estruturais, mesmo que entregue pouco no curto prazo, a coisa vai. O grande desafio é avançar rápido no ajuste, conseguir cortar gastos, ser audacioso no programa de concessões e nas privatizações, para ganhar a confiança, sair da recessão e buscar o crescimento. Se não conseguir fazer as reformas, o otimismo dos investidores acaba. Esse governo tem dois grandes desafios: avançar, mesmo que pouco, numa agenda de reformas estruturais, que sinalize que o gasto vai cair lá na frente. E evitar que a economia piore. Ele vai precisar de muita receita extraordinária. Sua tarefa é preparar o terreno para o próximo governo e tocar a grande agenda de ajustes. Um governo Temer não tem tempo hábil para fazer tudo, mas pode facilitar o início do processo que vai avançar e se consolidar no próximo governo. O sr. foi convidado para ser secretário do Tesouro Nacional? Não recebi nenhum convite. Fui procurado para falar sobre as contas públicas.
Danos ao consumidor em pacto com setor imobiliário FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, MARIA INÊS DOLCI 08/05/2016 às 17h 20
Oferta de imóveis desocupados só tem crescido com a crise.
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Por conta de prejuízos ao consumidor no pacto que a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) fez com o setor de incorporação imobiliária a Associação Nacional do Ministério Púbico do Consumidor se recusou a assiná-lo. A situação dos consumidores que compraram imóveis na planta e tentam se desfazer dos contratos, no chamado de distrato, ficará mais difícil com o acordo, pois há desrespeito à jurisprudência dos tribunais. Até agora o entendimento era que o consumidor, de acordo com o artigo 53 do Código de Defesa do Consumidor não poderia perder tudo o que pagou. Nos novos contratos, em caso de desistência da compra, haverá previsão de multa fixa de até 10% sobre o preço do imóvel, além de perda integral do sinal e de até 20% dos demais valores pagos pelo comprador. E a incorporadora terá seis meses para devolver os valores a serem ressarcidos, a não ser que a revenda da unidade ocorra antes disso. Ou seja, atende-se os interesses do setor imobiliário, sem levar em conta que o consumidor é a parte vulnerável nessa relação de consumo. Pretendem preestabelecer os custos no caso de cobrança extrajudicial e judicial, em 10% e 20%, respectivamente, sobre o valor total do débito. Isso caracteriza-se uma situação que coloca o consumidor em desvantagem exagerada, assim como tira a opção de reembolso da quantia paga ao consumidor (artigos 51, II e IV, do CDC). Também querem “legitimar” a cobrança do condomínio antes da entrega das chaves, o que é totalmente contrários aos direitos do consumidor. Ou seja, perdas e mais perdas. Agora pelo pacto firmado foi legitimada a taxa de corretagem, quando ela somente seria cabível nas hipóteses em que existe de fato um trabalho desenvolvido pelo Corretor de Imóveis, quando esse é procurado pelo consumidor. Ou seja, não naquelas situações em que o consumidor simplesmente comparece ao stand de vendas da empresa, pois nessa situação não há que se falar no trabalho desenvolvido pelo corretor. Nossa esperança é que MPCON possa ajuizar ação para barrar o acordo de abrangência nacional, assinado no Tribunal de Justiça do Rio, em que a Senacon, do Ministério da Justiça, representou (?) os consumidores.
Evolução do desemprego FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, SAMUEL PESSÔA 08/05/2016 às 02h 00
Na última década, a taxa de desemprego apresentou forte queda. De acordo com a Pesquisa Mensal do Emprego (PME) do IBGE, iniciada em março de 2002 e finda em fevereiro de 2016, a taxa de desemprego recuou de 11,7% em 2002 para 4,8% em 2014 e elevou-se para 7,1% em 2015. Todos esses dados são médias dos dados mensais ao longo do ano. Os dados para 2002 iniciaram-se em março. Aparentemente há, portanto, fortíssima queda de 6,9 pontos percentuais do desemprego no período petista até 2014. No entanto a queda do desemprego é muito menor do que se imagina. Os dados da PME referem-se ao desemprego médio nas seis principais regiões metropolitanas do Brasil: Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Recife.
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Para todo o território nacional, temos a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), também do IBGE, que pesquisa 300 mil domicílios em todo o território nacional no mês de setembro. A queda da taxa de desemprego medida pela Pnad naquele mesmo período é bem menos expressiva. De 9,1% em 2002 para 6,2% em 2012. Pela Pnad, o desemprego em 2013 e 2014 aumenta para, respectivamente, 6,5% e 6,9%. Assim, considerando o mínimo medido pela Pnad, em 2012, a queda máxima no petismo foi de 2,9 pontos percentuais (basta subtrair 6,2 de 9,1), menos da metade da queda de desemprego de 6,9 pontos percentuais que houve para o mesmo período se considerarmos as regiões metropolitanas. Ou seja, o desemprego no final do governo Fernando Henrique Cardoso era um fenômeno essencialmente metropolitano. O desemprego no resto do país não era tão elevado. Sob esse ponto de vista, as taxas previstas de desemprego para o final do ano e para 2017, por volta de 12%-13%, serão as mais elevadas que observaremos em nossa história. De fato, dos anos 1980 até 1990, a Pnad registra taxas bem menores, em torno de 3,7%. Com a abertura da economia com Collor, o desemprego sobe para 6% e, no primeiro mandato de FHC, para 9% em 1998 e 9,6% em 1999, o máximo valor da série, que veio em seguida à alteração do regime cambial. Como vimos, de 1999 até 2012 cai para 6,2%. Toda essa chatice de números é para mostrar ao leitor que o desemprego que já estamos enfrentando e, que, provavelmente, enfrentaremos até o final de 2017 é "nunca antes visto na história deste país". E, adicionalmente, argumentar que a queda do desemprego no período petista foi muito menor do que se imagina. PRODUTIVIDADE Na noite de sábado da semana retrasada, tomei um táxi. Sentei no banco de trás e procurei a fivela do cinto de segurança. Não estava lá. Após avisar o motorista, este, muito a contragosto, parou para resgatá-la debaixo do banco (em geral faço isso, mas dessa vez estava bem difícil). O carro reiniciou seu movimento. Quando puxei a cinta, ela estava presa entre o encosto e a trava do banco. Nova parada, aumenta o mau humor do motorista. Ele baixa o encosto do banco, libera a cinta e voltamos a rodar. Quando tento prender o cinto, a fivela não trava. O motorista havia soltado da parte de baixo do banco a fivela errada. Desisti. Após duas paradas, e enorme mau humor do motorista, trafeguei sem cinto. Infelizmente a experiência não é episódica.
O que pode unir o país FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, HENRIQUE MEIRELLES 08/05/2016 às 02h 00
A principal missão de um administrador é definir e priorizar o que precisa ser feito de forma realista e sustentável.
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A lista de problemas atuais do Brasil é extensa. O país vive uma crise que talvez seja a pior da história recente. Para colocar a economia novamente em trajetória de crescimento é necessário ter o diagnóstico correto e atuar nas causas dessa dinâmica negativa. Essas medidas devem ser realistas e apresentadas de forma clara para que possam ser entendidas por toda a sociedade. É importante ter em mente que não há soluções fáceis e instantâneas. Desequilíbrios acumulados ao longo de anos não serão revertidos em poucos meses. Mas retomar imediatamente o rumo correto deve afetar de maneira favorável e com relativa rapidez a confiança e as expectativas de investidores, empresários e consumidores. Com isso, será possível retomar investimentos, voltar a gerar empregos e elevar renda e consumo, criando dinâmica nova e positiva na economia. O Brasil já provou ser capaz de resolver grandes problemas atuando com foco e consistência. Temos instituições sólidas, Judiciário independente, eleições livres e regulares, mecanismos que proporcionam a resolução pacífica de conflitos e uma imprensa livre e vigorosa. Além disso, dispomos de um mercado consumidor o oitavo do mundo que propicia a escala necessária para produzir com maior eficiência em grande número de setores. A existência de capacidade ociosa nas empresas e a disponibilidade de mão de obra, que representam hoje problemas muito graves, podem viabilizar o início de retomada um pouco mais rápida da economia já nos próximos trimestres, desde que o equilíbrio macroeconômico comece a ser restabelecido imediatamente. Em paralelo, a adoção de uma agenda mais ampla, que aumente a produtividade, contribuirá para que a recuperação cíclica evolua para crescimento sustentável. Mas o passo primordial neste momento é estabelecer uma trajetória sustentável para as contas públicas, eliminando qualquer percepção de risco de insolvência. Com ações efetivas apontando tendência mais virtuosa e consolidada do endividamento público, haverá redução nos custos e aumento da confiança e dos investimentos, que também serão estimulados com reformas que melhorem o funcionamento da economia. Há demanda e ampla disponibilidade de capital, por exemplo, para investimentos privados em infraestrutura, desde que em condições adequadas. Em resumo, com foco e trabalho duro o Brasil terá todas as condições de sair dessa grave crise e retomar o caminho do desenvolvimento sustentável que todos desejamos e merecemos. Isso, sem dúvida, pode e deve unir o país.
DNA FONTE JORNAL O ESTADO DE S. PAULO, Amir Khair* 08 Maio 2016 às 03h 00
Será que as mudanças na política econômica já anunciadas pelo futuro governo do PMDB vão permitir uma saída para a crise que afunda o País? Em caso afirmativo, vai demorar pouco para retomar o crescimento e melhorar o ambiente social? Essas duas perguntas é que merecem a reflexão crítica das análises econômicas. Em primeiro lugar, algumas considerações que emolduram a política. O novo ou o velho. Vale destacar como bem fez em artigo desta segunda-feira o colunista do Estadão José Roberto de Toledo. “A turma do PMDB nunca morreu. Ao contrário. Está 74
encastelada na Esplanada desde o fim da ditadura militar. Se a era tucana levou oito anos, e a petista deve acabar com 13 incompletos, a peemedebista já vai para o 31.º aniversário: cinco anos de Sarney, dois anos de Itamar, oito anos de Fernando Henrique, oito anos de Lula, além de cinco anos e meio de Dilma.” Assim, para querer se apresentar como o novo trazendo esperança de mudança, o PMDB não serve. Para agravar essa esperança do novo há forte suspeita de corrupção na cúpula desse partido, e se não ocorrerem julgamentos seletivos na Justiça, alguns personagens da proa peemedebista podem ser presos. Embora com atraso, Eduardo Cunha caiu, o que pode ser um perigo até maior do que Delcídio do Amaral foi para o PT, e a tesoura do Supremo Tribunal Federal (STF) parece que vai continuar. Se há pouco a esperar desse quadro político com um Congresso que atua irresponsavelmente na questão fiscal e um Judiciário que quer ampliar os salários já elevados de sua cúpula, o que esperar do que vem emoldurando o debate econômico? Vejamos. Qual mudança. Há uma espécie de lugar comum nas análises econômicas, que foi adotada pelo PMDB. Em síntese é o seguinte: o problema central da crise é o desajuste fiscal do governo federal, que historicamente vem gastando mais com a área social do que o crescimento da economia. Trata-se de despesas obrigatórias como a Previdência Social e todos os programas de renda atrelados ao salário mínimo. Para conter essas despesas, principais causas do déficit fiscal, são necessárias reformas que: a) desvinculem todos os programas existentes do salário mínimo; b) criem novas regras na Previdência como idade mínima, desvinculação do piso previdenciário do salário mínimo e acabem com as vantagens concedidas às mulheres e trabalhadores rurais e; c) ampliem a Desvinculação de Receitas da União (DRU) dos atuais 20% para 25% criando o mesmo para Estados e municípios. Isso estaria sinalizando aos empresários perspectivas favoráveis a seus negócios. Assim, voltariam a investir e, com os investimentos, o País voltaria a crescer. Essa análise é uma espécie de wishful thinking. Seria tudo uma maravilha. Basta Michel Temer mandar meia dúzia de projetos de lei com mudanças constitucionais para conter as despesas sociais, e como provavelmente vai ter maioria no Congresso, este as aprovará. Então, voltará a saúde fiscal perdida desde 2013. Mas aonde a coisa pega? Principalmente, ao tentar resolver a crise em cima da classe média e de menor renda, que sofre mais com a crise. Falha na estratégia da retomada do crescimento, por achar que é suficiente a sinalização dada ao mercado para os empresários saírem de sua posição de cautela para se lançar no risco de novos investimentos. Não é assim que as coisas funcionam. É necessário, é claro, melhores perspectivas que podem vir com o novo governo, mas não só. É necessário esgotar antes a elevada capacidade ociosa, fruto de dois anos de recessão, e perspectivas de elevação do consumo, o que ainda está bem distante face ao elevado endividamento das famílias, taxas de juros ao consumidor elevadas e alto nível de desemprego. Falha na questão fiscal, pois as mudanças pretendidas têm baixo impacto imediato e, no caso da Previdência Social, as mudanças podem ampliar as despesas nos cinco a dez próximos anos, pela antecipação de solicitação de aposentadoria da faixa de pessoas que pode se sentir prejudicada com as novas regras, como já ocorreu no passado. Falha, pois só enxerga um lado da moeda: a possível redução/contenção de despesas. Não enxergam a consequência, pois as despesas sociais se destinam às camadas de média e menor renda, que pouco poupam e mais usam os recursos que recebem do governo para comprar suas necessidades. Essas compras irrigam a economia gerando empregos, renda e arrecadação. Assim, cortar despesas sociais tem verso e reverso da moeda. Outra questão do debate econômico que vale destacar é a substituição nos meios de comunicação da proposta de melhoria de gestão, que sumiu, pela proposta da reforma, pois há “rigidez” orçamentária nas chamadas “despesas obrigatórias”, que não permitem reduzir despesas. É sabido que o setor público tem baixa eficiência de gestão, ou seja, é possível fazer 75
mais com os mesmos recursos. Assim, tais despesas podem e devem ser reduzidas pela gestão competente. Voltando à proposta para a economia do PMDB, vale destacar a tremenda dificuldade de tentar dar resposta ao grave problema fiscal. Argumentar que a herança recebida do governo Dilma foi péssima, embora verdadeira, só serve para justificar que a sangria fiscal só vai diminuir depois de 2018. Mas quanto mais tempo demorar para segurar a relação dívida/PIB maior será o esforço fiscal a ser usado. Tentativas de solucionar a debacle fiscal não podem apenas apostar em saídas de longo prazo. O ataque ao curto e médio prazos é fundamental até para viabilizar medidas de longo prazo. Algumas mudanças simbólicas certamente o governo Temer vai fazer. Por exemplo, tentar reduzir o número de ministérios e outras relativas a despesas na máquina pública. O impacto fiscal é pequeno. Enquanto todas essas iniciativas podem propiciar economias anuais, se tudo der certo, de alguns bilhões de reais, tem a pressão de governadores e prefeitos que podem retirar boa parte dessa economia, fora os riscos de julgamentos do STF contra a União em várias demandas de forte impacto fiscal. Mas o que mais causa impacto nas finanças públicas no curto e médio prazos é a perda de arrecadação e a despesa com juros. Ambas foram responsáveis por 95% (!) do déficit público em 2015. Neste ano, não será diferente. Recuperar a arrecadação pode demorar mais de dois anos, e reduzir as despesas com juros, que alcançam cerca de R$ 50 bilhões (!) por mês, depende de mudanças difíceis de ocorrer na mentalidade do Banco Central como: a) operar com Selic ao nível da inflação; b) vender o excesso de reservas internacionais e; c) substituir a emissão de títulos pela monetária. Assim, acho difícil sair desta crise com as medidas já anunciadas. E apostar que vão dar resultado no longo prazo não cuidando do curto prazo (Selic e juros ao tomador) só agrava a dificuldade no longo prazo. Finalmente, não creio que seja melhor para o País entregar o comando da economia a banqueiros. Têm o DNA da taxa de juros elevada, que segura o crescimento e causa o rombo fiscal. A conferir. * MESTRE EM FINANÇAS PÚBLICAS PELA FGV E CONSULTOR. ESCREVE QUINZENALMENTE
Na saúde e na doença FONTE JORNAL O ESTADO DE S. PAULO, Celso Ming 08 Maio 2016 às 03h 00
São Paulo é hoje referência no setor de saúde no Brasil. Desde a doença terminal do então presidente eleito Tancredo Neves, em 1985, por exemplo, corre de boca em boca o quase ditado de que o melhor atendimento médico de Brasília é a ponte aérea para São Paulo. Esse bom conceito da cidade atrai cada vez mais visitantes à procura de tratamento médico. Os números que atestam esse movimento nunca foram submetidos a critérios uniformes de aferição, mas são suficientemente sólidos para comprovar essa percepção. Uma pesquisa feita no segundo semestre de 2015 pela São Paulo Turismo (SPTuris, empresa de turismo e eventos da cidade de São Paulo) verificou que 5% dos entrevistados em aeroportos, rodoviárias e rodovias se dirigiam a São Paulo em busca de melhores condições de tratamento médico. A cidade dispõe de 193 hospitais, dos quais 26 recebem certificados internacionais de qualidade da Joint Commission. Mas o que mais conta é o fato de que se difunde no Brasil o conceito, que se espraia para os países vizinhos, de que São Paulo proporciona padrões de excelência em serviços de saúde, internação hospitalar, centros de diagnóstico e serviços cirúrgicos de alto nível.
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O superintendente comercial do Sírio-Libanês, Clebio Garcia, conta que as receitas do seu hospital geradas por estrangeiros subiram 16% de 2013 para 2014 e 43% de 2014 para 2015. Encabeçam a lista angolanos, uruguaios, paraguaios, argentinos e venezuelanos. Além do bom conceito, Garcia credita essa procura à proximidade entre os países. Mas ele acrescenta a observação de que a crise econômica do Brasil tem sido fator determinante: é mais barato pagar por tratamento aqui do que, por exemplo, na Flórida. O Hospital Samaritano realizou mais de 24 mil internações em 2015, das quais 21% foram de pessoas de outras cidades. Os atendimentos a moradores de fora de São Paulo também chegaram a 13 mil entre os 116 mil realizados no pronto-socorro para adultos e 7,5 mil das 54,6 mil emergências do pronto-socorro infantil. O Hospital Osvaldo Cruz apresenta números reunidos de outra forma: 3% dos pacientes são de outros Estados e 2%, estrangeiros. Nos últimos três anos, houve aumento de 71,6% no número de atendimento de pessoas de outras cidades do Estado de São Paulo. O urologista Marco Antonio Arap avalia que em torno de 50% das cirurgias feitas por meio de sua clínica são realizadas em pacientes que vêm ou do exterior ou de fora de São Paulo. O mesmo movimento pode ser notado no caso dos exames de diagnóstico. A doutora Jeane Tsutsui, diretora executiva médica e técnica do Grupo Fleury, reconhece que os novos serviços de medicina integrada, que alcançam simultaneamente vários campos da medicina e avaliam previamente a eficácia dos procedimentos médicos, passaram a atrair cada vez mais gente de fora em busca de diagnósticos mais precisos. Ela explica que hoje não basta saber que uma paciente tem câncer de mama. Precisa saber que tipo de tratamento é o mais adequado a seu caso, se uma cirurgia simples, se quimioterapia ou radioterapia. Mas Jeane não adianta números mais consistentes. Só acrescenta que, em 2015, 13,3 mil atendimentos foram feitos a clientes de fora de São Paulo, número próximo do registrado no ano anterior. Outros segmentos da área de serviços, como hotéis, comércio de equipamentos ortopédicos e tudo o que vem junto também tiram proveito dessa maior procura. O hotel Blue Tree 77
Premium, por exemplo, próximo aos hospitais 9 de Julho e Sírio-Libanês, calcula que o chamado turismo médico, de pacientes, acompanhantes e participantes de fóruns e conferências, é responsável por 30% de sua receita total. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) de São Paulo, Bruno Omori, estima que esse tipo de visitante é responsável por alguma coisa entre 10% e 15% da busca por hospedagem na capital paulista. O Ministério do Turismo fez um levantamento que apontou que, em 2014, ano da última pesquisa desse tipo, 10,5 milhões de viagens foram feitas no País por razões médicas e 32 mil estrangeiros desembarcaram para tratar de saúde. Enfim, São Paulo é o que é não apenas na alegria e na tristeza, mas também na saúde e na doença. COM FERNANDO ARBEX
Como criar um ignorante FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, PAUL KRUGMAN 09/05/2016 às 10h 14
A verdade é que Donald Trump nada sabe; ele é mais ignorante sobre políticas públicas do que você poderia imaginar, mesmo que você leve em conta o fato de que ele é mais ignorante do que é possível imaginar. Mas sua ignorância não é assim tão única: de muitas maneiras, ele está simplesmente trabalhando aos tropeços para canalizar besteiras amplamente populares em seu partido, e em certa medida nas classes falastronas de uma maneira mais ampla. Na semana passada, o virtual candidato à presidência do Partido Republicano —difícil acreditar, mas é isso por fim revelou seu plano para recuperar a grandeza dos Estados Unidos: envolve administrar o país como alguém administraria um cassino a caminho de falir. Trump afirmou que ele seria capaz de "chegar a um acordo" com os credores para reduzir a carga de dívida, se suas promessas absurdas de crescimento não funcionarem. A reação de todo mundo que sabe alguma coisa sobre finanças ou Economia foi uma mistura de horror estupefato e de estupefação horrorizada. Ninguém sugere jogar casualmente no lixo a cuidadosamente cultivada reputação dos Estados Unidos como o mais escrupuloso devedor do planeta, uma reputação que remonta aos dias de Alexander Hamilton. A solução de Trump entre outras coisas privaria a economia mundial de seu mais importante ativo de segurança: os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, em um momento em que ativos seguros já estão bastante escassos. É claro que podemos estar certos de que Trump nada sabe sobre isso, e ninguém em seu círculo de assessores vai informá-lo a respeito. Mas antes que simplesmente o ridicularizemos —ou, na verdade, enquanto o ridicularizamos—, cabe perguntar de onde realmente vêm as suas más ideias. Primeiro, é óbvio que Trump acredita que os Estados Unidos poderiam facilmente se ver diante de uma crise de dívida. Mas por quê? Afinal, os investidores, que estão dispostos a emprestar dinheiro aos Estados Unidos por juros incrivelmente baixos, evidentemente não estão preocupados com a nossa dívida. E há bons motivos para sua calma: os pagamentos de 78
juros do governo federal respondem por apenas 1,3% do PIB (Produto Interno Bruto), ou 6% dos desembolsos totais do governo. Esses números significam tanto que a carga da dívida é bastante pequena e que mesmo repudiá-la integralmente teria efeito menor sobre o fluxo de caixa governamental. Assim, porque é que Trump está falando sobre esse assunto? Bem, uma possível resposta é que muitas pessoas supostamente sérias vêm insistindo sobre a ameaça que a dívida federal representa há anos. Por exemplo, Paul Ryan, o presidente da Câmara dos Deputados, alertou repetidamente sobre uma "crise iminente da dívida". Na verdade, até não muito tempo atrás, toda a elite de Washington parecia estar sofrendo do Mal de Bowler-Simpson, e não se cansava de repetir que a dívida é a maior ameaça que o país enfrenta. Boa parte dessa histeria quanto à dívida na verdade era um esforço para nos intimidar a um corte nos gastos com a previdência e o programa federal de saúde Medicare, o que explica por que tantas pessoas que se declaravam parte da linha dura fiscal também estavam ansiosas por cortar os impostos dos ricos. Mas Trump aparentemente não foi informado sobre essa farsa específica, e leva a sério a falsa ameaça da dívida. Ainda assim, mesmo que não compreenda corretamente a situação fiscal, como pode imaginar que seria aceitável para os Estados Unidos dar o calote em suas dívidas? Uma resposta é que ele está extrapolando com base em sua carreira pessoal nos negócios, na qual se saiu muito bem ao acumular grandes dívidas e depois abandoná-las. Mas é igualmente verdade que boa parte do Partido Republicano compartilha de sua leviandade quanto a um calote. Lembre-se de que a ala legislativa do partido tentou deliberadamente extrair concessões do presidente Obama usando a ameaça de um calote gratuito, por meio da recusa em elevar o limite máximo da dívida federal. E diversos legisladores republicanos defenderam essa estratégia de extorsão argumentando que um calote não seria tão ruim, e que mesmo com seu acesso a fundos bloqueado o governo dos Estados Unidos poderia "priorizar" pagamentos, e as perturbações financeiras causadas não seriam grande coisa. Dado esse histórico, não é difícil compreender por que o candidato Trump acredita que não pagar dívidas faça completo sentido. O fato mais importante a perceber, portanto, é que quando Trump fala asneiras ele usualmente está só oferecendo uma versão bombástica de uma posição generalizada em seu partido. Na verdade, é notável o número de absurdos proferidos por Trump que já haviam sido defendidos anteriormente por Mitt Romney em 2012, de sua afirmação de que o desemprego é muito maior que os números oficiais à sua afirmação de que pode trazer prosperidade ao país iniciando uma guerra comercial com a China. 79
Nada disso deveria ser tomado como desculpa para Trump. Ele é realmente mal informado, a um ponto assustador; pior, não parece saber disso. O ponto, na verdade, é que sua desavisada falta de conhecimento em geral deriva da atitude desinformada do partido que ele agora lidera. Oh, e vale registrar: as coisas não são iguais do outro lado da divisa partidária. Você pode não gostar de Hillary Clinton, pode discordar seriamente de suas propostas políticas, mas a candidata e as pessoas que a cercam conhecem os fatos. Ninguém tem monopólio sobre a sabedoria, mas na atual eleição um dos partidos parece ter dominado o mercado da ignorância bruta. Tradução de PAULO MIGLIACCI
Mantega usou BNDES para pedir doação, diz Odebrecht FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, MARINA DIAS e VALDO CRUZ DE BRASÍLIA 08/05/2016 às 02h 00
Marcelo Odebrecht relatou a procuradores da Operação Lava Jato, em roteiro para negociar sua delação premiada, que o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega eram os responsáveis por cobrar doações para a campanha de Dilma Rousseff em 2014. Segundo o empreiteiro, ex-presidente e herdeiro do grupo que leva seu sobrenome –e que está preso desde junho de 2015 no Paraná, Coutinho e Mantega dividiam a tarefa de obter o compromisso de doações entre empresários que tinham financiamento do BNDES para projetos no exterior. As declarações de Odebrecht são uma tentativa de fechar acordo de colaboração com o qual conseguiria benefícios, como a redução de pena. Ele já foi condenado a 19 anos e 4 meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e por integrar organização criminosa.
A DELAÇÃO DA ODEBRECHT Executivos da empresa presos em 19.jun.15 e suas respectivas penas
X.1
X.2
Marcelo Odebrecht
19 anos e 4 meses
Márcio Faria
19 anos e 4 meses
Rogério Araújo
19 anos e 4 meses
Cesar Ramos
9 anos, 10 meses e 20 dias
Alenadrino Alencar
15 anos, 7 meses e 10 dias
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Apesar das revelações, a Lava Jato ainda não fechou o acordo de delação premiada. Os procuradores cobram que o empresário explique como funcionaria o esquema de financiamento de projetos no exterior de empreiteiras brasileiras por meio do BNDES. A Folha apurou que a Lava Jato acredita que Odebrecht pode trazer novidades nesta área, na qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendia interesses de construtoras brasileiras na disputa de projetos na América Latina e na África. As obras financiadas pelo banco de fomento no exterior e executadas pela Odebrecht tiveram um salto a partir de 2007. De 1998 a 2006, a média anual de financiamento de obras da empresa fora do Brasil era de US$ 166 milhões. De 2007 a 2014, passou para US$ 1 bilhão. PROPINA Por meio da delação de executivos da Andrade Gutierrez, os investigadores da Lava Jato já sabem que o PT cobrava 1% de propina de empréstimos concedidos pelo BNDES para financiar obras fora do país. A empresa, porém, isentou o banco de participar de um esquema de corrupção. Coutinho e Mantega negam qualquer conversa sobre doações de campanha. Segundo a Folha apurou, um ex-executivo de uma construtora envolvida na Lava Jato disse que, em agosto de 2014, ouviu de Coutinho, ao final de reuniões técnicas sobre financiamentos do BNDES, perguntas sobre a relação da empresa com o então tesoureiro da campanha de Dilma, o hoje ministro Edinho Silva (Comunicação Social). O empresário, que à época discutia sobre os valores a serem doados para a campanha à reeleição da petista, entendeu as perguntas do presidente do BNDES como uma forma de pressão. O acordo para a doação foi fechado nas semanas seguintes. Mantega já havia sido citado na Lava Jato como responsável por negociar doações para a campanha dilmista, inclusive com intermediação de pagamentos de caixa 2. Mulher do marqueteiro João Santana, Monica Moura, também em tentativa de fechar colaboração premiada, disse que o ex-ministro se reuniu com ela por mais de uma vez para indicar executivos de empresas, inclusive da Odebrecht, que deveriam ser procurados para receber contribuições em dinheiro que não foram declaradas à Justiça Eleitoral. Relatos de empresários dão conta de que Mantega e Coutinho eram responsáveis, em 2014, por receber grandes empreiteiros e pedir que eles se reunissem com Edinho para que "continuassem a ser ajudados" pelo governo. Perguntado pelos investigadores, Odebrecht confirmou ainda que Dilma deflagrou uma ofensiva para garantir a liberdade de empreiteiros presos na Lava Jato, inclusive a dele. A trama teria contado com a nomeação do ministro Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça, como revelou o senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) em sua delação premiada. A delação de Delcídio já foi usada de base pela Procuradoria-Geral da República para pedir ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito para investigar a presidente. Dilma nega as acusações e diz que as declarações de Delcídio são "mentirosas" e "levianas".
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OUTRO LADO Procurados pela reportagem, o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega afirmam que "nunca" trataram de doações para campanhas eleitorais. Em nota, Coutinho afirmou que "este tema [as doações] jamais foi abordado durante qualquer contato com executivos da Odebrecht ou de qualquer outra empresa" e que "os financiamentos para a exportação de bens e serviços de engenharia brasileiros em obras de infraestrutura obedecem a uma governança baseadas em órgãos colegiados". "Os desembolsos ocorrem, exclusivamente, no Brasil, em reais, e mediante a efetiva comprovação, por empresas de auditoria independente, da realização das exportações financiadas", completa a nota. Por meio de seu advogado, José Roberto Batochio, o ex-ministro Mantega afirmou que "jamais tratou de assunto de campanha de quem quer que seja" e que "rechaça essa insinuação". "Como ministro da Fazenda, Guido Mantega se ocupava de outras políticas públicas e, como membro do PT, jamais teve a incumbência de tratar de doações de campanha", afirmou Batochio. Então tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República em 2014, Edinho Silva afirma que as doações foram legais e que as contas da campanha da petista foram aprovadas pela Justiça Eleitoral. O PT e o tesoureiro João Vaccari Neto negam que o partido tenha feito cobranças de propina em relação a empréstimos concedidos pelo BNDES a empreiteiras referentes a projetos financiados no exterior. Vaccari e a sigla afirmaram que todas as doações realizadas para a campanha foram legais.
Guido Mantega é alvo de condução coercitiva em nova fase da Zelotes Polícia investiga relação entre ex-ministro e um dos dirigentes da Cimento Penha FONTE O GLOBO JAILTON DE CARVALHO 09/05/2016 ÀS 08H 59
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Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda - André Coelho / O Globo
BRASÍLIA - O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega foi alvo de condução coercitiva nesta segunda-feira em nova etapa da Operação Zelotes. A Polícia Federal tenta cumprir nesta segunda-feira 15 mandados de condução coercitiva de lobistas, advogados e empresários acusados de envolvimento em fraudes no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), do Ministério da Fazenda. A polícia investiga a natureza das relações entre o ex-ministro e um dos dirigentes da Cimento Penha. Dirigentes da empresa são acusados de tentar fraudar decisões do Carf para se livrar de uma multa de R$ 57 milhões. Veja também:
Zelotes: MPF denuncia banco Santander, Qualy Comércio e Brazil Trading
MPF vai recorrer da condenação na Operação Zelotes
Justiça Federal condena nove pessoas na Operação Zelotes
CPI do Carf aprova convocação de Joseph Safra
Policiais também estão fazendo buscas em 12 endereços dos suspeitos em Brasília, São Paulo, Recife, Olinda e João Pessoa. Um dos alvos centrais da 7ª fase da Operação Zelotes é a empresa Cimento Penha. Em novembro de 2015, o juiz da 10ª Vara Federal de Brasília, Vallisney de Souza Oliveira, autorizou a quebra de sigilo bancário e fiscal do ministro, ao lado de outros investigados na Operação Zelotes. A investigação busca apurar as circunstâncias de nomeações de conselheiros do Carf órgão vinculado ao Ministério da Fazenda responsável pelo julgamento de recursos de empresas contra multas aplicadas pela Receita Federal.
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É investigada, também, a relação do ex-ministro Mantega com o empresário Victor Sandri, um dos donos do Grupo Comercial Cimento Penha, beneficiado por decisões suspeitas do Carf. A Polícia Federal apurou que o grupo se livrou de uma dívida fiscal milionária graças à ação de uma empresa de consultoria. Não há indicativos de que Mantega tenha recebido qualquer tipo de vantagem material das empresas, mas o entendimento do Ministério Público Federal e da Polícia Federal era que as investigações deviam ser aprofundadas. O ex-ministro nega qualquer irregularidade.
Comissão do Senado aprova abertura de processo de impeachment de Dilma Alan Marques/Folhapress
Dilma durante cerimônia programa Minha Casa, Minha Vida, no Palácio do Planalto
FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, MARIANA HAUBERT, LEANDRO COLON e DÉBORA ÁLVARES DE BRASÍLIA 06/05/2016 às 13h17
A comissão especial do Senado aprovou nesta sexta-feira (6) o relatório a favor do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Foram 15 votos a favor e cinco contrários ao parecer do relator, o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), que aponta a existência de elementos suficientes para a petista ser afastada e julgada por crime de responsabilidade. O presidente da comissão, Raimundo Lira (PMDB-PB), não votou sob a alegação de que, pelo regimento, só deveria se manifestar em caso de empate. O resultado era previsível diante da minoria governista de apenas cinco membros no colegiado. Durante os trabalhos, autores da denúncia e a defesa de Dilma foram ouvidos, além de especialistas a favor ou contra o impeachment. 84
A votação foi eletrônica, mas antes os líderes puderam se posicionar. "O impeachment é um remédio amargo para punir o mau governante com seu afastamento", afirmou o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), pela oposição. A petista Gleisi Hoffmann (PR) rebateu: os que votam a favor, segundo ela, são "golpistas da Constituição". Discurso seguido pelo líder do governo, Humberto Costa (PT-PE). "Não há crime cometido pela presidente. O relator teve que se armar de uma lupa, fazer contorcionismo jurídico", afirmou. A presidente Dilma é acusada de editar, em 2015, decretos de créditos suplementares sem aval do Congresso e de usar dinheiro de bancos federais em programas do Tesouro, as chamadas "pedaladas fiscais". Agora, o caso vai ao plenário do Senado na próxima quarta (11). São necessários os votos da maioria dos presentes na sessão para que o relatório seja aprovado e Dilma afastada por até 180 dias. Até agora, 51 dos 81 senadores já se manifestaram a favor da abertura do processo, conforme levantamento da Folha. Confirmado o resultado em plenário, o próximo passo é o processo contra Dilma. Nesta etapa, exige-se o mínimo de 54 votos para afastá-la definitivamente do cargo - até agora, 41 declararam voto neste sentido. Em nome da bancada do PMDB, partido do vice Michel Temer, o senador Waldemir Moka (MS) defendeu o parecer de Anastasia na comissão especial. "Não nos cabe outra alternativa a não ser votar pela abertura do processo", disse. Como nos demais dias de comissão, deputados favoráveis ao afastamento da presidente apareceram para assistir aos trabalhos. A abertura do processo foi aprovada na Câmara, no dia 17 de abril, com 367 votos. Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ) e Marcos Rogério (DEM-RO) estiveram no colegiado e gravaram vídeos. Um dos principais articuladores do impeachment, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que deve ser ministro do Planejamento de um eventual governo de Temer, também compareceu. COMISSÃO DO IMPEACHMENT NO SENADO Como foram os votos dos senadores
Senador
Partido
UF
Voto
Aloysio Nunes Ferreira
PSDB
SP
Sim
Ana Amélia
PP
RS
Sim
Antonio Anastasia
PSDB
MG
Sim
Cássio Cunha Lima
PSDB
PB
Sim
Fernando Bezerra Coelho
PSB
PE
Sim 85
Senador
Partido
UF
Voto
Gladson Cameli
PP
AC
Sim
Gleisi Hoffmann
PT
PR
Não
José Maranhão
PMDB
PB
Sim
José Medeiros
PSD
MT
Sim
José Pimentel
PT
CE
Não
Lindbergh Farias
PT
RJ
Não
Raimundo Lira
PMDB
PB
Romário
PSB
RJ
Sim
Ronaldo Caiado
DEM
GO
Sim
Rose de Freitas
PMDB
ES
Sim
Simone Tebet
PMDB
MS
Sim
Telmário Mota
PDT
RR
Não
Vanessa Grazziotin
PCdoB
AM
Não
Waldemir Moka
PMDB
MS
Sim
Wellington Fagundes
PR
MT
Sim
Zeze Perrella
PTB
MG
Presidente
Sim
PGR denuncia Gleisi e Paulo Bernardo ao STF na Lava Jato FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, MÁRCIO FALCÃO DE BRASÍLIA 07/05/2016 às 10h 49
A Procuradoria-Geral da República denunciou ao STF (Supremo Tribunal Federal) a senadora Gleisi Hoffman e o ex-ministro Paulo Bernardo, seu marido, por corrupção e lavagem de dinheiro. A acusação é que a campanha de Gleisi ao Senado, em 2010, teria recebido R$ 1 milhão do esquema de corrupção da Petrobras. O ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF, analisará a denúncia e levará o caso para a segunda turma do tribunal, composta por cinco integrantes. 86
Franklin de Freitas - 31.out.10/Folhapress
Gleisi Hoffman e Paulo Bernardo nas eleições presidenciais de 2010
Se os ministros aceitarem a denúncia, os dois serão transformados em réus. Não há data prevista para essa análise acontecer. Gleisi é uma das principais lideranças do PT no Senado e foi chefe da Casa Civil no governo da presidente Dilma Rousseff entre junho de 2011, quando Antonio Palocci deixou o cargo, e fevereiro de 2014 -ela deixou o cargo para concorrer ao governo do Paraná e ficou em 3º lugar na disputa. Advogado da senadora e do ministro, Rodrigo Mudrovitsch afirmou à Folhaque a denúncia traz uma narrativa completamente inverossímil e não se funda em elementos sólidos de prova. "Declarações desencontradas de delatores não devem permitir a instauração de uma ação penal. Acredito que isso será reconhecido pelo STF", disse. A denúncia também envolve o empresário Ernesto Kugler Rodrigues. A participação da senadora e do ex-ministro no esquema foi apontada pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e também pelo doleiro Alberto Youssef, em suas colaborações premiadas. A acusação da Procuradoria surge após a delação premiada do advogado Antonio Carlos Brasil Fioravante Pieruccin, que confirmou repasses de dinheiro para a campanha da petista.
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Segundo Pieruccini, em 2010, ele foi orientado por Youssef a fazer quatro viagens de São Paulo a Curitiba (PR) para entregar dinheiro à campanha de Gleisi, ex-ministra da Casa Civil (20112014). Ele contou ter ouvido de Youssef que os valores "tinham sido acertados com Paulo Bernardo", marido de Gleisi e ex-ministro do Planejamento (2005-2011) e das Comunicações (2011-2015), e se destinavam à campanha eleitoral da candidata ao Senado. Pieruccini disse que as entregas ocorreram em uma sala no PolloShop, localizado na rua Camões, em Curitiba, pertencente ao empresário Ernesto Kugler Rodrigues. Pieruccini levou uma caixa lacrada com a inscrição "P.B./Gleisi". Na sua frente, segundo o advogado, Kugler contou as notas, em um total de R$ 250 mil, mas fez duas reclamações: o primeiro valor "não dava nem para o cheiro" e a etiqueta da caixa não deveria mais aparecer nas próximas entregas -houve mais três, de mesmo valor, de acordo com ele. Em relação a Gleisi, a Polícia Federal indiciou a senadora, mas o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao STF para anular o ato. Ele alega que, em 2007, o Supremo proibiu a PF de fazer, por conta própria, o indiciamento de autoridades com foro privilegiado, como o presidente da República, ministros de Estado, senadores e deputados. OUTRO LADO Em nota, a defesa da senadora afirmou que recebeu o oferecimento da denúncia com "inconformismo". "Todas as provas que constam no inquérito comprovam que não houve solicitação, entrega ou recebimento de nenhum valor por parte da Senadora. A denúncia sequer aponta qualquer ato concreto cometido. Baseia-se apenas em especulações que não são compatíveis com o que se espera de uma acusação penal", diz o texto assinado pelos advogados Rodrigo Mudrovitsch e Veronica Abdala Sterman. "São inúmeras as contradições nos depoimentos dos delatores que embasam a denúncia, as quais tiram toda a credibilidade das supostas delações. Um deles apresentou, nada mais, nada menos, do que seis versões diferentes para esses fatos, o que comprova ainda mais que eles não existiram". Segundo os advogados, a delação de Pieruccini demonstra a fragilidade das acusações. "Ao apagar das luzes, depois de um ano e meio da abertura do inquérito, uma terceira pessoa aparece oudisposta a dizer que teria realizado a suposta entrega de valores, numa nova versão que foge de qualquer raciocínio lógico. Vale lembrar que esta pessoa é amigo/sócio/ funcionário de Alberto Youssef, o que comprova ainda mais a fragilidade das provas e se vale do mesmo advogado de Alberto Youssef para fazer sua delação." Sobre o ex-ministro, os advogados afirmam que "as referências ao ex-ministro Paulo Bernardo na denúncia baseiam-se em declarações contraditórias e inverossímeis. Não houve qualquer
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envolvimento dele com os fatos narrados na denúncia. Demonstraremos isso com veemência e acreditamos que a denúncia não pode ser recebida". Em depoimentos prestados à Polícia Federal, Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo negaram quaisquer irregularidades na campanha de Gleisi em 2010 ao Senado. Bernardo disse que o empresário Ernesto Kugler já atuou, no passado, na "mobilização do empresariado para participar de reuniões no período eleitoral", mas não teve "nenhuma participação direta na campanha". Gleisi afirmou à PF que conhece Kugler há "cerca de dez anos", que ele "participou de alguns eventos da campanha de 2010, mas não atuou na captação de recursos". Kugler afirmou à PF que "nunca obteve" de Youssef "ou de emissário dele algum valor destinado à campanha" de Gleisi. Ele diz que não arrecadou recursos para a campanha de 2010.
'Não vamos incendiar o Brasil', afirma líder do governo no Senado FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, LEANDRO COLON, MARIANA HAUBERT e DÉBORA ÁLVARES DE BRASÍLIA 09/05/2016 às 02h 00 Evaristo Sá/AFP
O senador petista Humberto Costa
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A poucos dias da votação da abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff no Senado, o líder do governo na Casa, Humberto Costa (PT-PE), já adota um tom de oposição ao eventual governo do vice Michel Temer. Em entrevista à Folha, Costa reafirma o discurso de golpe e de que o governo de Temer será ilegítimo. Diz, entretanto, que, na opinião dele, o PT deve evitar oposição radical. "Não vamos incendiar o Brasil", afirma. O senador, ex-ministro do governo Lula, faz ainda uma autocrítica em relação a erros cometidos pelo partido e pela presidente. "Dilma é uma pessoa que tem uma dificuldade de dialogar, de ouvir. Ela não se adaptou a um modo de fazer política que existe no Brasil." Folha - Em relação ao Senado, a previsão é de derrota na quarta-feira (11). Há uma esperança de que Dilma volte após o processo ou é irreversível? Humberto Costa - Depois que sai [a presidente] e o cara [Temer] tem a caneta, apoio da mídia, não é muito fácil ela voltar, mas é um cenário novo. Acho que dependerá muito de como vai ser o governo dele, a reação dos movimentos sociais, da sociedade. Como presidente da República, não era o que as pessoas queriam. Quem foi para a rua não foi para tirar Dilma e botar Temer. Setores do PT e de movimentos sociais defendem um comportamento radical em relação a um governo Temer. O senhor concorda? Primeiro, a gente tem que dizer que vai fazer oposição, não faz nenhum sentido imaginar que o PT vai colaborar com um governo que é fruto de um golpe contra o PT. Não há essa hipótese de sentar para conversar com o Temer. Agora, eu acho que até pelo fato de que o PT foi governo por 12, 13, quase 14 anos, não pode fazer uma oposição como a oposição fez a nós, aquela coisa descompromissada, de quanto pior melhor. Eles vão propor mudar a política do salário mínimo? Fala-se da possibilidade de Temer procurar o PT para um diálogo após assumir o cargo. Há espaço para isso? Não vejo não. Não vamos incendiar o Brasil, mas não faz sentido isso. O cara fez parte do nosso projeto, do governo, exerceu influência dentro do governo, e, ao mesmo tempo, fez uma aliança com nosso maior adversário para nos derrubar, e isso cria uma situação muito difícil para diálogo. Não reconhecemos a legitimidade desse governo, que usurpou o poder, não vejo o PT se dispor a sentar com ele. Lógico que não vamos fazer oposição ao Brasil. Ninguém imagina, ou pelo menos eu defendo, que o PT vai propor pauta-bomba, nem fazer jogo de corporativismo. Mas o PT tinha um comportamento de "Fora FHC" no governo tucano. Não vai repetir com "Fora Temer"? Acho que o PT aprendeu com a experiência de governo. Eu defendo que a nossa oposição seja muito em cima de proposta. Não vamos fazer uma oposição em abstrato, como "ah, derruba o Temer". Se a gente quer avançar, vai ter que ser em cima das visões das concepções. A presidente Dilma propôs a CPMF. Se Temer tentar aprová-la, como vocês vão agir? 90
Só posso falar por mim, porque o PT vai discutir isso. Temos que denunciar a política que eles faziam antes: "está vendo como estávamos certo?". Entendíamos que, sem novos tributos, você não consegue estabelecer o equilíbrio. Então a oposição que eles fizeram foi hipócrita, irresponsável. Acho que a CPMF é uma contribuição que afeta menos os mais pobres, mas temos que ver para onde vai isso aí. Pessoalmente acho que a gente pode discutir e aprovar, dependendo para o que seja. Se for para fazer superavit primário, não foi isso que a gente defendeu. Vocês usam o discurso do golpe, mas onde o governo e a Dilma erraram para chegar a essa situação? Eu acho que tem os erros do PT. Acho que o PT surgiu do ponto de vista político para construir uma nova cultura política num país que sempre foi marcado pelo mandonismo, fisiologismo, assistencialismo. No entanto, o PT, ao chegar ao poder, de certa forma se adaptou à estrutura existente. Os governos viravam correias de transmissão dos partidos. No caso do PT, o partido virou correia de transmissão do governo, deixou de propor suas políticas, propostas. O partido foi pelo caminho mais fácil, não enfrentou outras coisas. A questão do monopólio da mídia, da democratização dos meios de comunicação. Mas o governo do PT se envolveu em escândalos de corrupção, como mensalão e Lava Jato. O tesoureiro e o marqueteiro do partido estão presos. Não houve desvio de conduta? Pode existir gente que se beneficiou pessoalmente. Ou gente que, mesmo no interesse do partido, possa ter concordado com algumas práticas que nunca foram as que o PT defendeu. Por isso que digo, do ponto de vista estrutural, a questão é essa. É o PT não ter entendido que tinha que ter patrocinado outro modelo, outra cultura. Quando o senhor fala PT, fala da presidente Dilma também? Dilma é uma pessoa que tem uma dificuldade de dialogar, de ouvir, é o perfil dela, com todo o respeito. Ela não se adaptou a um modo de fazer política que existe no Brasil. Não estou falando que tinha que fazer qualquer concessão à corrupção, nada disso. Mas no Brasil, nesse modelo de presidencialismo de coalizão, você tem que ter uma relação que tem que conviver e ter ao seu lado gente que pensa e age de maneira diferente. Tem algumas coisas que são simbólicas na política. Essa coisa de fazer o diálogo, de conversar. Ela não tem esse perfil. É muito diferente de Lula. E infelizmente isso vale muito mais do que a gente pensa. Mas a culpa não é só da presidente. Existe uma mea culpa da base do governo, não? Acho que talvez a gente não tenha sido incisivo o suficiente para fazer mudar a maneira de ela [Dilma] pensar. Talvez porque vocês não acreditavam em reverter o cenário e o PT nunca morreu de amores pela Dilma...
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Nós engolimos muita coisa em nome do governo, de apoiar o governo, de estar do lado do governo, de não criar cizânia para não aproveitarem uma eventual divergência. A nomeação do Lula para a Casa Civil foi um erro? Acho que foi correto e acho que essa vinda do Lula para o governo deveria ter acontecido há muito mais tempo. Na verdade, o que levou a um agravamento da crise foi tornar público aquelas gravações em relação a Lula, a delação do Delcídio do Amaral. Eu diria que Michel Temer tem que agradecer 50% a Eduardo Cunha e 50% a Sérgio Moro [juiz da Lava Jato] por ele ser presidente agora. O senhor é investigado pela Lava Jato. Indo para a oposição, não teme o aprofundamento das investigações? Para mim, não. Há um ano e dois meses uma investigação foi aberta contra mim. Já foram ouvidas dezenas de pessoas, não conseguiram provar nada contra mim, não consigo entender por que esse inquérito não termina. Lula é nome do partido para as eleições de 2018? Lula não tem nenhuma obrigação de ser o candidato do PT. Tem toda condição política de dizer que não quer. Foi presidente duas vezes, elegeu a sucessora duas vezes. Ele não tem obrigação. Lógico que uma pessoa que depois de sofrer o bombardeio que sofreu, ainda hoje ter percentuais nas pesquisas de opinião que são maiores que outros, não é um nome que vai se descartar, mas o PT tem que pensar em outras alternativas. Uma alternativa seria aliança? Até o momento não vejo um nome que desponte no campo da esquerda com capacidade de ganhar, mas tem gente boa aí na área, você pega um cara como o Fernando Haddad [prefeito de São Paulo], se ganhar a eleição em São Paulo, vai se tornar um nome nacional, principalmente num momento de dificuldade. Um nome que respeito na esquerda é o Ciro Gomes, mas não é o perfil que vejo para ganhar. Marina Silva não vejo no campo da esquerda.
Por mulheres no ministério, Temer convida Ellen Gracie e Renata Abreu FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, VALDO CRUZ e GUSTAVO URIBE DE BRASÍLIA 04/05/2016 às 15h 47 Sérgio Lima - 30.set.2010/Folhapress
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A ex-ministra do STF Ellen Gracie, cotada para a CGU em possível governo Temer
Em busca de incluir mulheres em sua equipe, o vice-presidente Michel Temer sondou para compor seu ministério a ex-ministra do STF Ellen Gracie e Renata Abreu (PTN-SP). A primeira para comandar a CGU (Controladoria-Geral da União) e a segunda para a pasta dos Direitos Humanos. Gracie foi sondada e ainda não deu resposta. Já Renata Abreu está praticamente acertada. Além destes nomes, Alexandre Moraes, secretário de Segurança Pública de São Paulo, pode ir para o Ministério da Justiça. Antes, ele estava cotado para a AGU (Advocacia-Geral da União). Sua indicação agradaria o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), que inicialmente se opôs à indicação de nomes de tucanos para a futura equipe do peemedebista. Outra novidade pode ser a indicação do advogado e amigo de Temer, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, para o Ministério da Defesa. Mariz era cotado inicialmente para a Justiça, mas seu nome foi descartado depois de criticar, publicamente, a Operação Lava Jato. Já está praticamente acertado ainda que Fernando Coelho, líder do PSB na Câmara, irá ocupar o Ministério da Integração Nacional. Temer não chegou, porém, a um acordo com o PSD de Gilberto Kassab.
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Eles jantaram nesta terça-feira (03) no Palácio do Jaburu. Kassab manifestou seu desejo de voltar a comandar o Ministério das Cidades, que Temer gostaria de entregar para o PSDB. O nome tucano cotado para a pasta é o do deputado Bruno Araújo (PSDB-PE). Outra novidade é a decisão, que também deve ser consumada, de não extinguir a Secretaria de Portos, com status de ministério, para a qual voltaria Helder Barbalho, filho do senador Jáder Barbalho (PMDB-PA). Na Saúde, o nome do médico Raul Cutait, dado como certo, agora está indefinido. O PP, que endossaria a indicação do cirurgião, estaria resistindo ao formato para a escolha de Cutait e pode mudar o nome do futuro ministro da Saúde. O PP deve ficar com a presidência da Caixa, que seria entregue a Gilberto Occhi, e ainda pleiteia o comando do Ministério da Agricultura, que pode ficar com um deputado da sigla. SEM ENXUGAMENTO Em relação às críticas sobre a montagem de seu ministério, que não terá o enxugamento previsto inicialmente nem será composto por notáveis, assessores de Temer argumentam que pode ser melhor ficar com o "ônus das críticas" e ter a garantia do "bônus" de uma base aliada com votos suficientes para aprovar medidas no Congresso, inclusive emendas constitucionais. Um auxiliar de Temer disse que o governo do peemedebista tem de partir da realidade que não sai com os votos das urnas, o que sempre dá a uma nova administração o capital político de conseguir aprovar suas medidas no Congresso. Na situação atual, diz ele, o vice-presidente, que assumirá se o Senado aprovar o afastamento de Dilma Rousseff na próxima semana, tem de ir atrás dos votos dentro do Congresso e precisa contemplar seus partidos aliados. Daí que o corte de ministério pode ficar entre três a cinco no máximo.
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