SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS
11 à 13 DE JUNHO DE 2016
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Tem sido uma guerra', diz Michel Temer sobre 1º mês no poder
FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, VALDO CRUZ e GUSTAVO URIBE DE BRASÍLIA 11/06/2016 às 17h 00
"É uma guerra, tem sido uma guerra", disse o presidente interino, Michel Temer, à Folha sobre seu primeiro mês de governo, que se completa neste domingo (12). A frase revela seu estado de espírito por enfrentar mais dificuldades do que antecipava. Em 30 dias, perdeu dois ministros, recuou em decisões e encontrou situação fiscal pior que imaginava. Alojado no gabinete presidencial, dando sinais de cansaço diante de mais uma noite de poucas horas de sono, Temer diz não se incomodar com as batalhas diárias. "Apesar de todas as turbulências, críticas e pressões, foi um mês de sucesso", afirmou o peemedebista na quinta (9). Faz questão de enumerar o que classifica de "saldo positivo", listando as medidas aprovadas no Congresso que a "Dilma não conseguia", como a mudança da meta fiscal, a prorrogação da DRU (mecanismo que desvincula receitas da União) e a aprovação do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. "Restabelecemos a interlocução com o Congresso, votamos projetos com ampla maioria e estamos retomando a confiança no país, não é pouca coisa para um começo de governo", afirmou, buscando rechaçar as críticas de início de administração marcado por idas e vindas. Criticado por montar um ministério sem mulheres e integrado por políticos citados na Lava Jato, o peemedebista prefere dizer que "montei um time de primeira grandeza na área
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econômica", citando Henrique Meirelles (Fazenda), Pedro Parente (Petrobras), Maria Silvia Bastos Marques (BNDES) e Goldfajn. Ele gosta de repetir que, numa hipótese de não permanecer no governo, o país estará "salvo" se a equipe econômica for mantida. Indagado se seu comentário revela temor de volta de afastada Dilma Rousseff, ele diz preferir não avaliar: "Eu não tenho feito nenhum gesto contra ela. Respeito quem passou". A interlocutores, contudo, demonstra confiança na permanência. Nem mesmo as ameaças de senadores nos últimos dias de mudar de lado e votar contra o impeachment abalam a crença de Temer de que ficará até 2018. Sobre a tese de plebiscito para convocar novas eleições, encampada pela petista como estratégia para tentar ganhar o julgamento do impeachment no Senado, Temer, antes de tudo, lembra: "Primeiro, eu preciso renunciar". Em seguida, diz. "Depois, digo com toda tranquilidade, temos tido mais de 300 votos, às vezes mais de 340 na Câmara. Isto reflete confiança neste governo. Nossas vitórias no Congresso mostram que não tem espaço para a Dilma voltar." Provocado a citar a maior surpresa negativa neste primeiro mês de governo, ele não aponta as demissões de ministros provocadas pela delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, mas a situação fiscal do país. "Foi surpreendente, de forma negativa, o que encontramos aqui. As contas muito piores do imaginávamos, a Petrobras quebrada, os Correios quebrados, a Eletrobras quebrada. E eles ainda ficam numa campanha agressiva contra mim", diz, em tom de desabafo.
Governo Temer - linha do tempo
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MAIO 11 de maio - Após votação no Senado, Dilma Rousseff é afastada 12 de maio - O vice-presidente Michel Temer assume como presidente interino, reduz número de ministérios e nomeia equipe de ministros, todos homens e, em sua maioria, parlamentares. 12 de maio - Durante discurso, Temer engasga e mudança de voz vira piada na internet. Interino lembra de placa em posto na Castello Branco que diz "Não pense em crise, trabalhe" 12 de maio - A nova gestão adota logotipo com os dizeres "Ordem e Progresso" e apenas 22 estrelas representando os Estados, 5 a menos do que a bandeira brasileira 12 de maio - Na primeira entrevista internacional como interino, Temer confunde o jornalista argentino com o presidente Maurício Macri 13 de maio - O ministro da Fazenda Henrique Meirelles admite recriar CPMF, gerando reclamaçõs de parte da base aliada e empresários 16 de maio - O novo ministro da Justiça e Cidadania sugere, em entrevista à Folha, que presidente não escolha o mais votado de lista tríplice para Procuradoria-Geral da República e é desautorizado por Temer 16 de maio - Imprensa descobre que autor de frase "Não pense em crise, trabalhe" citado por Temer em discurso, está preso por homicídio 17 de maio - Ministro da Saúde diz que SUS (Sistema Único de Saúde) precisa ser reduzido e é forçado por Temer a voltar atrás 17 de maio - Temer escolhe André Moura (PSC-SE), aliado de Cunha e alvo da Lava Jato, para ser líder do governo na Câmara 18 de maio - Após recusas de mulheres, Temer escolhe Marcelo Calero para secretaria da Cultura 19 de maio - Artistas fazem série de protestos e ocupações contra extinção do Ministério da Cultura 20 de maio - Governo passa a prever meta fiscal de R$ 170,5 bilhões, R$ 66 bilhões maior do que o previsto pela equipe de Dilma 21 de maio - Sob pressão, Temer recua e recria Ministério da Cultura 23 de maio - Em gravação revelada pela Folha, ministro Romero Jucá sugere que havia um pacto entre políticos para deter Lava Jato e pede exoneração no dia seguinte: "Tem que estancar essa sangria", disse Jucá 24 de maio - Temer propõe teto de gastos para União. Durante discurso, interino bate na mesa e diz que "sabe governar". "Já tratei com bandidos"
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29 de maio - Em gravação, ministro da Transparência, Fabiano Silveira, critica Lava Jato. No dia seguinte, ele pede exoneração foi a segunda queda de um ministro em 19 dias de governo. JUNHO 1º de junho - Com aval de Temer, Câmara aprova criação de 14 mil cargos públicos 1º de junho - Temer indica ex-deputada Fátima Pelaes, que é contra a legalização do aborto, para Secretaria de Políticas para mulheres. Ela é suspeita de desviar dinheiro de emendas parlamentares 3 de junho - Temer limita voos e corta até gastos com comida da presidente afastada Dilma Rousseff 3 de junho - Em entrevista à Folha, que seria publicada três dias depois, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirma que quem estiver envolvido na Lava Jato sairá do governo 4 de junho - Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, diz em delação que pagou R$ 70 milhões em propinas para Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney 5 de junho - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirma ao STF que o ministro Henrique Eduardo Alves (Turismo) se beneficiou do petrolão; Temer decide mantê-lo 6 de junho - Governo recua e diz que não aceitará criação dos 14 mil cargos públicos 7 de junho - Janot pede prisão de Renan Calheiros, Romero Jucá, José Sarney e Eduardo Cunha, acusando-os de obstruir a Lava Jato
Governo não avalia efeito de programas de isenção fiscal, diz TCU
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FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, JULIO WIZIACK e MARIANA CARNEIRO DE SÃO PAULO 12/06/2016 às 02h 00
Cinco dos principais programas de estímulo à indústria brasileira, que vão consumir R$ 52 bilhões em recursos públicos até o fim deste ano, estão sendo mantidos sem a garantia de que as contrapartidas em investimentos para o desenvolvimento tecnológico são cumpridas. Foram analisados pelo TCU as leis de informática, a Lei do Bem, o Padis (semicondutores e displays) e PATVD (TV digital), e o Inovar-Auto. Desde o início do governo Dilma Rousseff até o fim deste ano, esses programas permitiram às empresas deixar de pagar tributos que somam cerca de R$ 52 bilhões, em troca de investimentos em pesquisa e tecnologia. O objetivo é fortalecer a indústria. CONCORRÊNCIA DESLEAL Os técnicos do TCU concluíram que não é possível avaliar se os incentivos ajudaram na política industrial ou se, simplesmente, colaboraram com o aumento das vendas (e dos lucros) de fabricantes de computadores, eletroeletrônicos e veículos -o que teria provocado distorções competitivas entre as empresas do setor. O TCU exigiu em 2013 mudanças no controle das contrapartidas. Até hoje, elas não foram atendidas pelos ministérios da Ciência e Tecnologia e da Indústria. "Esses incentivos são injustificáveis", afirma Marcelo Sobreiro Maciel, especialista em tributação da Consultoria Legislativa do Congresso Nacional. "As empresas já fariam esses investimentos [sem os benefícios]." O caso mais gritante é o da lei da informática —programa voltado aos fabricantes de computadores. Entre 2006 e 2014, foram mais de R$ 25 bilhões em incentivos por meio de descontos no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e as empresas deveriam ter investido 5% disso como contrapartida. Esses números só foram auditados uma vez, em 2010, e se descobriu que metade das 510 empresas beneficiadas não tinha efetivado as contrapartidas. No fim de 2015, o Ministério Público Federal (MPF) em Campinas abriu inquérito para investigar o caso. Segundo o procurador Aureo Makiyama Lopes, o problema desse programa é que "as informações são meras declarações das empresas e os dados raramente são checados". Tampouco existe fiscalização do cumprimento dos investimentos em projetos de pesquisa. No início deste ano, a Receita Federal foi consultada sobre o assunto, mas afirmou que não é sua atribuição fiscalizar programas dos ministérios. O órgão afirma que seu papel é o de autuar as empresas que forem apontadas pelos ministérios como em situação irregular -o que nunca aconteceu até hoje. EFETIVIDADE E PROPORÇÃO
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Além dos riscos de as empresas terem recebido benefícios fiscais sem as devidas contrapartidas, o Tribunal de Contas da União também detectou problemas na efetividade dos programas. "[Os ministérios] não mensuram o "[impacto no setor industrial, que, em geral, é o único objetivo das políticas públicas", diz o TCU, que identificou mecanismos de controle só na Suframa (da Zona Franca de Manaus). Não se sabe, por exemplo, se os programas fortaleceram as cadeias produtivas, se as empresas atraíram profissionais mais graduados, se registraram patentes ou se houve ganho de produtividade em relação a importados. Esse problema, comum a todos os programas, é mais grave na área de informática, afirma o TCU. As empresas habilitadas declararam investir muito menos do que os benefícios recebidos. Segundo o TCU, em 2012, para cada R$ 1 em isenção do imposto, o setor só aplicou R$ 0,34 em pesquisa. No mesmo período, as empresas contempladas pela Lei do Bem -que fez explodir as vendas de computadores e notebooks desde 2005- aplicaram R$ 5,69 em pesquisa para cada real de incentivo. Essa média foi mantida até 2014, dado mais recente disponível. A Abinee, que representa o setor, discorda. A associação diz que a lei permitiu o surgimento de empresas, que geraram cerca de 130 mil empregos e mais de R$ 100 bilhões em receitas no período. A Abinee afirmou que não tomou conhecimento da investigação do MPF e que não se pronunciaria "a respeito de assuntos que envolvem empresas individualmente". No caso do Inovar-Auto, uma das dificuldades apontadas pelo TCU é o controle das cotas de importação, que são consideradas no desconto do imposto (IPI) a ser dado à empresa. COBRANÇA Hoje, a Receita Federal não tem como recuperar os impostos de empresas que não cumpriram as contrapartidas. Pela legislação, as dívidas tributárias caducam com mais de cinco anos. No entanto, as pendências não tributárias -os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (contrapartidas)- continuam válidas e precisam ser depositadas em um fundo específico. Em maio, o procurador do MPF em Campinas Makiyama Lopes concluiu que, para o período entre 2006 e 2010, essa dívida das empresas de informática seria de, no mínimo, R$ 10 bilhões. "Os responsáveis terão de se explicar", disse Lopes. "Os cofres públicos devem ter perdido bilhões e isso não pode continuar." OUTRO LADO Os ministérios envolvidos na fiscalização dos programas de benefícios fiscais na área de informática e de inovação automobilística afirmaram que as fiscalizações são feitas regularmente.
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O Ministério da Ciência e Tecnologia informou que, apesar de não ter concluído a análise dos relatórios das empresas beneficiadas pela Lei de Informática, realiza fiscalização por amostragem. "São basicamente 3.000 projetos por ano", afirma. Sobre as irregularidades e riscos apontados pelo TCU, o ministério afirmou que já atendeu algumas delas e que "todas as empresas que não depositaram [o que devem] são cobradas". VEÍCULOS O Ministério da Indústria informou que as metas do Inovar-Auto vêm sendo atingidas. Segundo a pasta, investimentos em 17 novas fábricas e projetos para linhas de montagem ultrapassam R$ 4,6 bilhões, com aumento da capacidade produtiva em 374 mil unidades e geração de 7.000 empregos diretos. Até 2017, quando termina o programa, há previsão de investimentos de R$ 2,7 bilhões para 110 mil unidades adicionais. Para o ministério, "os veículos são menos poluentes, mais econômicos e seguros". "Sobre as metas para os compromissos de engenharia, capacitação de fornecedores, etapas fabris, etiquetagem veicular, eficiência energética e P&D, previstas na legislação, os ministérios envolvidos no programa utilizam informações enviadas pelas empresas e fornecidas pelos sistemas oficiais." O fornecimento de informações pelas próprias empresas é um dos pontos criticados pelo TCU. O ministério afirma, porém, que "os compromissos das empresas são monitorados em visitas técnicas periódicas e sujeitos a auditoria independente." O Ministério da Fazenda informou que, por ora, não iria fazer comentários sobre esses programas. PROGRAMAS DE INCENTIVOS FISCAIS NA MIRA TCU detecta irregularidades e riscos de danos aos cofres públicos 1) Lei de Informática Nacional Benefício: redução ou isenção de IPI Contrapartida: investir anualmente no mínimo 5% do faturamento bruto em pesquisa e desenvolvimento no país, diretamente ou por terceiros 2) Lei de Informática da Zona Franca de Manaus Benefício: isenção de IPI e redução do Imposto de Importação para bens de informática industrializados na Zona Franca Contrapartida: investir anualmente no mínimo 5% do faturamento bruto em pesquisa e desenvolvimento no país, diretamente ou por terceiros 3) Padis (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores) Benefício: isenção de IR e isenção de IPI e de contribuições para o PIS/Pasep, Cofins e Cide Contrapartida: investir no mínimo 5% do faturamento bruto por ano em pesquisa e desenvolvimento no país, diretamente ou por terceiros
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4) PATVD (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Equipamentos para a TV Digital) Benefício: isenção de IR e isenção de IPI e de contribuições para o PIS/Pasep, Cofins e Cide Contrapartida: investir no mínimo 2,5% do faturamento bruto por ano em pesquisa e desenvolvimento no país, diretamente ou por terceiros 5) Lei do Bem Benefício: dedução dos gastos em pesquisa e desenvolvimento no cálculo do IR e da CSLL, além de redução de IPI na compra de máquinas destinadas a pesquisa e desenvolvimento Contrapartida: optar pelo regime de tributação com base no lucro real 6) Inovar-Auto (Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores) Benefício: crédito de IPI de até um terço do valor devido gerado por investimentos em tecnologia nas fábricas Contrapartida: compromisso de atingir níveis mínimos de eficiência energética (redução de consumo de combustível), entre outros QUAL O PROBLEMA? Os órgãos envolvidos não têm como fiscalizar o cumprimento das contrapartidas nem avaliam os efeitos das isenções para a política industrial do país QUAL O PIOR PROGRAMA? Um estudo feito pelo TCU em 2012 mostrou que a Lei de Informática Nacional é a que gera mais renúncias e menos investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Para cada R$ 1 renunciado pelo governo só R$ 0,34 foi investido pelas empresas O QUE DIZ A LEI DE INFORMÁTICA? As empresas com projeto de produção local (com conteúdo nacional) devidamente habilitadas podem obter isenção de até 70% do IPI desde que apliquem cerca de 4% de seu faturamento em pesquisa e desenvolvimento QUAL A DÚVIDA? As informações das contrapartidas são prestadas pelas empresas e desde 2006 não foi feita auditoria para saber se os recursos em pesquisa foram realmente investidos
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Especialistas temem efeito de concentração na educação Marisa Cauduro/Folhapress
Alunos do curso de administração do Grupo Anhanguera de Educação, em aula em SP
FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, JOANA CUNHA DE SÃO PAULO 12/06/2016 às 02h00
O recente movimento de fusões e aquisições no mercado educacional pode elevar a concentração das instituições de ensino superior no país, com consequências sobre preços e qualidade, segundo consultorias especializadas no setor. Nos últimos dias, a Kroton, líder do setor, e a Ser Educacional, uma das dez maiores, tornaram públicos seus interesses em se juntarem à fluminense Estácio. EDUCAÇÃO Iniciativas bem-sucedidas no Brasil
Escolas e universidades escapam da crise com inovação e gestão
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Grupos de ensino enfrentam desafio de se adaptar à crise e à queda do Fies Fundações investem na formação de gestores de escolas públicas Softwares permitem avaliação mais precisa do desempenho dos alunos
Analistas do setor consideram que a fusão da Estácio com a Kroton enfrentaria restrições do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A expectativa de que o órgão imponha entraves é menor se o acordo for fechado com a Ser. Cálculos da CM Consultoria, indicam que, com 2,7 milhões de matrículas, os dez maiores grupos concentram 46% do volume total do setor privado. E o número de alunos da Kroton supera em 25% os do segundo e do terceiro grupos (Estácio e Unip) no ranking da consultoria. Segundo estudo da consultoria com base em dados do MEC de 2014, a união com a Kroton geraria uma instituição com mais de 1 milhão de matrículas de graduação. No caso da Ser, seria menos expressivo, com aproximadamente 500 mil alunos. "No cenário de fusão com a Kroton, o grupo Kroton/Estácio deteria 5 de cada 10 alunos, ou seja, fazer frente em volume de alunos a esse gigante significaria fundirem-se todas as demais companhias do ranking das dez maiores", diz Carlos Monteiro, presidente da CM. Na hipótese de fusão com a Ser, segundo Monteiro, a Kroton continuaria no domínio, mas com uma diferença de apenas 10,5% em relação ao total de alunos do segundo e do terceiro maiores. INFLUÊNCIA AUMENTADA "Se houver um único grupo educacional com mais de 1 milhão de alunos, considerando que o Brasil tem cerca de 8 milhões de alunos públicos e privados, este grupo terá uma influência muito grande nos rumos da educação no Brasil", afirma William Klein, CEO da consultoria Hoper Educação. "Visto por esse ângulo, é importante que o Cade e o MEC observem bem", diz. Do ponto de vista da qualidade, os benefícios do negócio também são questionados. Os ganhos de escala podem ser interessantes para os resultados financeiros, mas comprometer o acompanhamento individualizado dos alunos, valioso na educação. Para Klein, da Hoper, também prejudicam a qualidade os movimentos de compra e venda de empresas dentro de prazos muito curtos, porque os projetos de melhoria de ensino carecem de ciclos longos. Um exemplo de venda rápida foi a operação de ensino a distância Uniasselvi. Como condição do Cade para aprovar a compra da Anhanguera anunciada em 2013, a Kroton vendeu a Uniasselvi, adquirida em 2012.
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Uma pesquisa de maio do departamento de estudos econômicos do Cade conclui que, embora os ganhos de escala permitam redução de custos, essa queda só será repassada na forma de diminuição de preços se após a fusão o mercado "mantiver níveis razoáveis de rivalidade e possibilidade de entradas suficientes para estimular a concorrência e distribuição". O Cade não comenta negócios em andamento. Para Monteiro, da CM, a concentração acabará com as instituições de menor porte, que são maioria no país, prejudicando ainda mais a competitividade. "Das pouco mais de 2.000 instituições do país, cerca de 1.800 têm menos de 3.000 alunos. É difícil competir com as grandes." A Kroton diz que em 2014, após a fusão com a Anhanguera, a companhia registrou 98% de conceitos satisfatórios no indicador de desempenho IGC, valor 1% superior ao ano anterior. Ser e Estácio não quiseram comentar.
Ipiranga compra concorrente por R$ 2,2 bilhões e encosta na líder BR Divulgação
Posto de gasolina Ipiranga
FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, NICOLA PAMPLONA DO RIO 12/06/2016 às 21h 54
A distribuidora de combustíveis Ipiranga anunciou a compra, por R$ 2,168 bilhões, da concorrente Ale, quarta maior empresa do setor.
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O acordo foi assinado neste domingo (12), segundo comunicado divulgado pelo grupo Ultra, controlador da Ipiranga. Com a aquisição, a Ipiranga passa a deter 18% dos postos de gasolina do país, encostando na líder Petrobras Distribuidora, que tem 19,4%, de acordo os últimos dados divulgados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), referentes a maio. "A rede Ale complementa a rede Ipiranga geograficamente, em especial na região Nordeste, onde a Ipiranga possui menor participação de mercado e tem focado seus investimentos", diz o grupo Ultra, no comunicado. Fundada há 20 anos, a Ale tem cerca de 2.000 postos no país, além de dez bases de distribuição (instalações para armazenagem e transferência dos combustíveis para o varejo). Em 2015, vendeu 4,3 bilhões de litros, gerando receita de R$ 11,4 bilhões. De acordo com o grupo Ultra, a empresa tem uma dívida de R$ 737 milhões, que será deduzida do valor total da operação. O valor a ser pago aos vendedores dependerá também da posição de caixa da companhia e do endividamento na data de fechamento da operação. A Ale é controlada pelo grupo mineiro Asamar, pelo empresário Marcelo Alecrim e pelo fundo americano Darby. A empresa vem sendo cortejada desde o início da década, mas desentendimentos entre os acionistas impediram a venda. O próprio grupo Ultra, a Raízen e a francesa Total já chegaram a negociar com a companhia. PREÇOS A Ipiranga tem hoje 7.241 postos. Em 2015, a companhia vendeu 25,7 bilhões de litros de combustível. A empresa vem se beneficiando da política de preços da Petrobras. Com a queda do preço do petróleo, tem conseguido trazer para o país combustíveis mais baratos do que os vendidos pela estatal. As melhores margens de venda ajudaram o indicador Ebitda da companhia, que mostra a geração de caixa, a crescer 21% em 2015, chegando a R$ 2,769 bilhões. O grupo Ultra ressalta que a compra da Ale depende ainda de aprovações de órgãos de defesa da concorrência. O mercado brasileiro de combustíveis é dominado por apenas três empresas: BR, Ipiranga e Raízen que opera a rede de postos Shell controlam 67,1% das vendas de gasolina e 77,1% das vendas de diesel.
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Petrobrás pode vender fatia da BR Distribuidora FONTE FERNANDO SCHELLER – JORNAL O ESTADO DE S. PAULO 12 Junho 2016 às 20h 37
Estatal quer se desfazer de fatia minoritária do negócio, mas fundos e concorrentes só teriam interesse no controle
BR Distribuidora faz parte do plano de desinvestimentos da Petrobrás RELACIONADAS:
Ipiranga, do Grupo Ultra, bate rivais e acerta compra da rede Ale por R$ 2,17 bilhões Ultra investe em varejo para reforçar rede de postos
Na esteira da queda do petróleo no mercado internacional e da Operação Lava Jato, que apura um esquema organizado de corrupção na Petrobrás, a estatal montou um plano de desinvestimentos para reforçar seu caixa e compensar parte do prejuízo recorde sofrido em 2015, quando a empresa perdeu R$ 34,8 bilhões. Um dos ativos que podem ser incluídos nessa temporada de vendas é a líder em distribuição de combustíveis no País, a BR. Segundo o Estado apurou, tanto empresas do ramo como a Cosan, sócia da Raízen, que opera a marca Shell no País e fundos de investimento internacionais teriam interesse no ativo, considerado de qualidade tanto pela posição de liderança quanto por estar presente de forma homogênea em todas as regiões do País. Existe, no entanto, um descompasso entre o que a Petrobrás está disposta a fazer e o que seria suficiente para atrair compradores. A estatal afirmou que pretende se desfazer de uma fatia minoritária do negócio. No entanto, vários fundos ouvidos pelo Estado afirmaram que a BR Distribuidora só atrairia interesse caso o sócio tivesse o controle. Isso ocorre porque, segundo fontes, especialmente depois da crise de imagem sofrida pela Petrobrás, os investidores estão pensando duas vezes antes de ficarem subordinados ao conselho da empresa ao definir estratégias de negócio.
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Ultra investe em varejo para reforçar rede de postos FONTE FERNANDO SCHELLER – JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 12 Junho 2016 às 20h 34
Companhia adquiriu a rede de farmácias paraense Extrafarma e reforçou as lojas de conveniência AM/PM
Meta do grupo é agregar serviços aos postos RELACIONADA:
Ipiranga, do Grupo Ultra, bate rivais e acerta compra da rede Ale por R$ 2,17 bilhões
A rede de postos Ipiranga é uma peça fundamental para o Grupo Ultra, já que o negócio de combustíveis representa cerca de 85% de seu faturamento, que foi de R$ 75,6 bilhões no ano passado. Uma das estratégias do grupo para engordar ainda mais o retorno de seu negócio de distribuição de combustíveis é agregar serviços aos seus mais de 7 mil postos em todo o Brasil. Na prática, isso significa usar as redes de lojas de conveniência AM/PM, o serviço de troca de óleo Jet Oil, o programa de fidelidade KM de Vantagem e o Connect Car sistema pré-pago para pedágios e estacionamentos que concorre com o líder deste mercado, o Sem Parar como chamariz de público. Diante das diferentes possibilidades de serviço disponíveis em seus pontos de venda, foi criado o slogan de marketing da rede: “Passa lá no posto Ipiranga”. No fim de 2013, a empresa pagou R$ 1 bilhão pela rede de farmácias paraense Extrafarma e pretende expandir os pontos em seus postos – um processo que ainda está sendo formatado. Um dos entraves para a abertura de drogarias nos postos é o fato de que são os Estados, e não o governo federal, que definem o que pode ser vendido nesses estabelecimentos e onde eles podem ser abertos. Outro desafio da empresa é o fato de que tanto os postos de combustível quanto as lojas AM/PM são operados por parceiros. A modernização dos postos, com a instalação de lojas de conveniência de melhor qualidade – com serviço de panificação, por exemplo – e da inclusão de outros serviços além dos combustíveis depende da capacidade do grupo de convencê-los de que o investimento vale a pena. 15
Banco usado por Cunha na Suíça diz que reforçou controles depois da Lava Jato FONTE JAMIL CHADE - JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 12 Junho 2016 às 20h 12
Julius Baer garante que modificou seu sistema de controle para evitar que, no futuro, a identificação de clientes problemáticos seja realizada de forma mais eficiente GENEBRA - O Julius Baer, banco usado pelo deputado Eduardo Cunha na Suíça, garante que modificou seu sistema de controle para evitar que, no futuro, a identificação de clientes problemáticos seja realizada de forma mais eficiente. Em uma entrevista publicada neste domingo, o CEO do banco, Boris Collardi, apontou que os escândalos como o da Petrobrás e mesmo da Fifa não podem voltar a ocorrer. "Na condição de um banco ativo globalmente, existe um certo risco", disse Collardi ao jornal Schweiz am Sonntag ao ser questionado sobre seu envolvimento em transferências de dinheiro oriundo da corrupção. No caso da Petrobrás e da Fifa, porém, ele garante que "colabora com as autoridades para esclarecer os fatos e comportamentos" das pessoas implicadas.
Cunha (PMDB-RJ) mantém contas no valor de US$ 2,4 milhões no banco
"A Petrobrás é um caso complexo", disse. "Estamos falando de uma das maiores produtoras de petróleo do mundo, mostrando interesse com muitos parceiros pelo mundo", explicou. "O fato de um executivo nos deixar uma fortuna de 2 milhões de francos suíços para que administremos não é suspeito por si mesmo", disse. "Mas se surge o fato de que um ator é corrupto, precisa-se determinar em qual contexto os controles de due dilligence deveriam ser reorganizados", admitiu o executivo. "Olhamos a esse contexto e também no papel de gestores independentes de ativos, de onde muitos desses ativos vieram", explicou. Esses operadores foram amplamente mencionados nos processos no Brasil. "Administradores externos são parceiros de negócios que tem um papel 16
específico, diante dos clientes. Hoje, estabelecemos processos com claras exigências e uma cooperação regulada", garantiu Collardi. O Julius Baer foi uma das principais instituições financeiras citadas em acordos de delação premiada na Operação Lava Jato. No Brasil, o banco é citado em diversas suspeitas sobre depósitos de propinas e hoje tem diversas contas bloqueadas. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por exemplo, mantém contas no valor de US$ 2,4 milhões. Quem também era cliente do Julius Baer era o ex-gerente Executivo de Engenharia da Petrobrás, Pedro Barusco. Em março de 2014, suas contas foram bloqueadas. Barusco, assim como Cunha, criou empresas off shore para tentar esconder o dinheiro. Em 2013, Barusco abriu uma conta em nome de uma empresa de fachada, a Canyon Biew, no banco RBC da Suíça e transferiu do Julius Baer cerca de US$ 7,1 milhões. Barusco ainda indicou que, para a abertura das contas na Suíça, utilizou os serviços do mesmo intermediário que ajudou Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás e que tem US$ 23 milhões bloqueados nos bancos suíços. O intermediário era Bernardo Friburghaus, com escritórios no Rio de Janeiro e que desde a eclosão da operação se mudou para Genebra. Os ex-diretores da petroleira Renato Duque e Jorge Zelada também contrataram o banco Julius Baer para investir propina recebida de fornecedores da Petrobrás em Mônaco e na Suíça. Em Berna, fontes confirmam que o banco Julius Baer está colaborando e que foi do banco que veio em abril um informe apontando para suspeitas de lavagem de dinheiro sobre Cunha. Nos EUA, porém, o banco é uma das instituições financeiras suíças processadas por ajudar clientes americanos a retirar dinheiro do país e abrir contas secretas em Genebra ou Zurique. O banco, para evitar multas ainda maiores, anunciou que chegou a um "acordo de princípios" com a Procuradoria-Geral de Nova Iorque e que isso envolve uma "solução compreensível" do caso.
Alternativas para se manter no mercado FONTE JORNAL O ESTADO DE S. PAULO CRIS OLIVETTE 12 Junho 2016 às 07h 10
Profissionais contam o que fizeram para superar ou evitar o desemprego e especialistas dão dicas para enfrentar esse momento difícil
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Cleber Lusvordes e Rogério de Jesus, sócios na Lyncis Sistemas
Ao ser demitido em 2007 e perder o cargo de gerente comercial, Cleber Lusvordes se uniu a três colegas na mesma situação para criarem a Lyncis Sistemas. “Fomos dispensados inesperadamente e tivemos de nos reinventar para sobreviver no mercado”, relembra. No Brasil, abrir um negócio próprio é uma das medidas mais adotadas por quem perde o emprego. No início, a empresa de Lusvordes e colegas possuía apenas os quatro notebooks dos sócios e a expertise que tinham no desenvolvimento e comercialização de sistemas. “Fizemos o negócio vingar na marra. Foi muito difícil. Nossa primeira retirada ocorreu depois de um ano. Nesse período, usamos o dinheiro da rescisão para mantermos nossas famílias”. A Lyncis desenvolve sistemas para automação de equipes de vendas. Segundo o agora empresário, para retomar a remuneração que tinha no emprego ele demorou quatro anos. “Hoje, ganho mais do que se estivesse na antiga empresa e neste ano, nosso planejamento estratégico prevê que iremos dobrar nossa remuneração”. Lusvordes conta que ele e os sócios fizeram cursos no Sebrae e na Associação Comercial para aprenderem a administrar o negócio. “Sabíamos, por exemplo, que não poderíamos misturar a conta da pessoa física com a jurídica, mas tivemos de aprender gestão financeira e de pessoas. Nosso primeiro planejamento estratégico foi feito em 2015”. O plano prevê crescimento de 40% neste ano. “Até abril, crescemos 15% e cumprimos a meta, mas perdemos clientes. Um deles, chegou a ter 70 funcionários e fechou as portas. Atribuo esse fato, em parte, à crise, mas acredito que também houve má gestão. Nós, por exemplo, demitimos sete pessoas para cumprir a meta. Hoje, estamos com 14 funcionários”. O empresário conta que a Lincys já contratou terceiros para tocar dois ou três projetos. “Essa alternativa está se tornando uma tendência no mercado. Pela experiência que tive, posso dizer que ao estabelecer a data de conclusão a pessoa cumpre e não dá desculpas, como algumas vezes os funcionários contratados fazem para justificar atrasos. Além disso, a qualidade do trabalho pode ser superior”. Satisfeito com a nova realidade, Lusvordes tem orgulho pelo patrimônio que conquistou. “Ocupamos espaço com mais de 300 m², temos três carros, estrutura de servidores, computadores, móveis etc”. A diretora geral da Outliers Careers, a coach Madalena Feliciano considera que em momentos de crise, superação e coragem andam juntas. “Para conquistar um objetivo o principal componente é a coragem. Encarar a demissão é uma tarefa necessária, por mais difícil que seja. É claro que existe um período no qual a pessoa sente tristeza pela perda do emprego, mas deve encontrar forças para buscar outras oportunidades”.
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Diretor da Greif, Omar Mattar Grandi
Para preservar sua empregabilidade, o diretor comercial e de marketing da Greif Packaging no Brasil e América Latina, Omar Mattar Grandi, está desenvolvendo novas competências e assumindo mais funções. A multinacional americana atua no ramo de embalagem industrial. Administrador com MBA em gestão de negócios, Grandi está na empresa há seis anos. “A Greif comprou a companhia na qual trabalhei por 12 anos. Ao todo, estou no negócio há 18 anos. Entrei como vendedor, fui supervisor, gerente de vendas e hoje ocupo a diretoria comercial e de marketing no Brasil e, recentemente, também na América Latina”. Com a queda da receita decorrente da redução do número de clientes em consequência da crise, o negócio e ele estão passando por transformações para permanecerem no mercado. “Em dezembro, comecei a fazer coach justamente para repensar a minha forma de trabalhar. É um treino diário. Tenho de buscar novas formas de canalizar minha energia produtiva, principalmente agora que atuo diretamente com o presidente da empresa no Brasil”. Também assumiu o papel de facilitador entre a presidência e demais áreas. “Tenho de tirar o máximo dos setores. É complexo por termos 490 pessoas entre as nove plantas que temos no Brasil. Mas as ações estratégicas que implementei estão surtindo efeito pois atingimos e até superando as metas”. Gestora empresarial e de carreiras, Andrea Deis diz que para não fazer parte da crise o profissional tem de transcender suas competências e colocar amor no que faz. Paixão. “Cumprir tarefas qualquer um cumpre. Criar, desenvolver, inovar e reinventar somente os apaixonados pela profissão são capazes. Este, hoje, é o profissional desejado pelas empresas, é o profissional que irá sobreviver neste momento de crise”. Porém, caso o desemprego bata à porta, Andrea também aponta formas para se manter no mercado. “Criei alguns passos para ajudar quem quer começar essa transformação”. (leia abaixo) “Nos últimos três ou quatro anos está ocorrendo uma ruptura do vínculo de trabalho. O mercado formal com CLT, horário para entrar e sair e com benefícios está se extinguindo por conta dos altos custos”.
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Gestora de carreiras e empresarial, Andrea Deis
Andrea Deis aponta que há um movimento na direção da prestação de serviço como autônomo, como pessoa jurídica (PJ), ou como microempreendedor, o que pode ser uma alternativa a quem perdeu o emprego. “Fico inconformada com pessoas que não criam um plano B. Faço questão que todos os meus clientes tenham um plano B, mesmo que estejam no mercado formal”, diz. Tornar-se um prestador de serviço pessoa jurídica (PJ) foi a saída encontrada pelo hoje diretor da SAS Stup Sistemas de Protensão, Otávio Antônio Trindade Pepe, se manter no mercado. Ele conta que ao ser demitido da Nemetschek do Brasil, companhia europeia de softwares para engenharia e arquitetura, iniciou contato com a alemã SAS, que procurava um executivo para implantar a filial no Brasil. “Ao iniciar as tratativas precisei apresentar um plano de viabilidade apontando o que seria necessário para abrir a operação. A diretoria, no entanto, ficou surpresa com o custo de um funcionário no País”. A organização recuou, ele conta, ao saber que teria de pagar benefícios como 13º salário e férias remuneradas, que não existem na Alemanha. Enquanto as negociações continuaram, Pepe tocou dois projetos como autônomo. “Com esses trabalhos consegui me manter no mercado até a minha entrada na SAS, em 2014”. Ele afirma que para conquistar a vaga, a sua proposta de atuar como prestador de serviço pessoa jurídica (PJ) foi determinante. “ Hoje, temos sete funcionários com faixa salarial mais baixa que são contratados como CLT, mas os nossos serviços financeiro e contábil, por exemplo, são terceirizados. Esta é, sem dúvida, uma saída que ajuda a baratear os custos da empresa e uma alternativa para quem está desempregado”.
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Otávio Pepe, diretor da SAS Protensão
O diretor conta que no antigo emprego, ocupava a função de gerente comercial. “Agora, além da possibilidade de em tempo de crise estar conseguindo viabilizar a atividade da empresa no Brasil, também dei um upgrade em minha carreira e consegui aumentar o valor líquido que recebo”. Ele tem um salário fixo e parte variável em função do resultado da empresa. Pepe afirma que no início ficou um pouco inseguro com esse modelo de atuação. “Com o tempo, aprendi a me regrar. Hoje, tenho previdência privada e a faço reserva para cobrir necessidades futuras”, conta. Com relação àqueles que optam por se tornarem autônomos, a gestora Andrea recomenda: esse profissional tem de aprender a controlar a ansiedade quando um projeto está chegando ao final. “Com o tempo, conforme ganha autoconfiança e desenvolve a capacidade de gerir a própria vida, ele e se sente mais seguro. Claro que não deve esperar terminar um projeto para buscar outro. Dá para tocar vários conjuntamente”. O pulo do gato neste modelo de atuação, segundo ela, é saber gerir o tempo, ter paciência e disciplina. “É imprescindível. Tem também de controlar o senso de liberdade. Se achar que poderá ir à academia, ao shopping e almoçar na casa da mãe, não vai dar certo. A qualidade e a prioridade de seu tempo são o grande pulo para se manter neste novo mercado”. Dicas para recomeçar Vocação - Atue na área para a qual tem talento. Quem faz isso obtém resultados com menor esforço Competências - Potencialize suas forças e neutralize suas fraquezas, para isto, o primeiro passo é identificá-las Seja integro - Integridade não deve ser questionada mas preservada. Viva pelos seus valores, mas não esqueça que os outros também os têm Networking - Não basta ter uma rede de relacionamentos, promova encontros e deixe claro o que faz 21
Bem-estar - Promova sua saúde física e mental. Faça seu check-up e desenvolva sua inteligência emocional Renda - Tenha outras alternativas e idealize um plano B. Viva o hoje e projete o amanhã. Promova sua segurança tendo reserva financeira Autoconfiança - Não fique só desejando o que o vizinho tem ou o que é, acredite em você e faça o seu melhor Inove - Faça coisas diferentes, se reinvente. Mude o prisma, amplie a visão e ache outros caminhos Escolha - Opte pela vida e não pela sobrevivência. O mundo é para todos, mas nem todos conseguem ocupar o seu devido lugar
Uber passa a oferecer viagem de helicóptero em SP Danilo Verpa/Folhapress
Uber faz projeto piloto e oferece helicópteros pelo aplicativo
FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, FERNANDA PERRIN DE SÃO PAULO 13/06/2016 às 12h 11
O Uber começa a operar nesta segunda (13) no céu. A partir das 14h, será possível pedir um helicóptero pelo aplicativo de carona. O projeto é piloto e deve durar um mês. Ao clicar na opção UberCOPTER, o usuário será redirecionado para o site da Airbus para fazer um cadastro, em que deve preencher informações como RG, CPF, celular e peso. O algoritmo da plataforma vai calcular o heliponto mais perto do usuário —-são cinco helipontos e quatro aeroportos cadastrados até agora— e enviar um UberBLACK para buscar o usuário. O serviço ficará disponível das 7h às 20h todos os dias. Uma mensagem de texto é enviada com informações sobre o voo.
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O carro atrasou 20 minutos para buscar os repórteres da Folha. Foram mais 15 minutos de Perdizes, na zona oeste, até o Campo de Marte, na zona norte. Já o voo até o Instituto Tohmie Ohtake, na zona oeste, durou sete minutos. Não é a primeira vez que a Uber entra no ramo dos táxis, mas o modelo de São Paulo —com diversos pontos pela cidade— é inédito. A tarifa é cobrada por assento, mais o valor da corrida de UberBLACK. Um voo entre o hotel Blue Tree Faria Lima e o aeroporto de Guarulhos custa R$ 271 e dura 13 minutos. Para fazer o mesmo trajeto, por volta das 12h, o passageiro levaria cerca de 50 minutos e desembolsaria aproximadamente R$ 63 (UberX) ou R$ 87 a R$ 114 (táxi), de acordo com estimativa do Google Maps e do app 99. Já para ir do Campo de Marte até o aeroporto Viracopos, em Campinas, o valor é de R$ 750, de acordo com a assessoria da empresa. Uma viagem do helicentro Morumbi, na zona sul, até o Blue Tree Faria Lima sai por R$ 66. Os valores são promocionais e valem até quinta (16). A aeronave comporta cinco passageiros, respeitando o limite de peso de cerca de 500 kg no total. Há limitações de bagagem também: até 5 kg de mala de mão e 25 kg no bagageiro. Os helicópteros têm licença de táxi aéreo de três operadoras parceiras da Airbus: AirJet, Helimarte e UniAir. A empresa não revela a frota total disponível. SEM BRIGA Diferentemente dos táxis, o Uber entra agora em um mercado já regulamentado em parceria com as empresas de táxi aéreo. O objetivo é popularizar o acesso ao serviço, segundo Guilherme Telles, diretor-geral da start-up no Brasil. Do lado da Airbus, a ideia é ampliar o uso dos helicópteros em São Paulo, cidade com o maior número de aeronaves por pessoa no mundo. Em média, um helicóptero voa 400 horas por ano em São Paulo, mas tem capacidade de voar até 2.000, diz Uma Subramanian, chefe de projetos especiais da A3, do Grupo Airbus.
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Teto para gastos deve ser votado até julho FONTE ADRIANA FERNANDES E IGOR GADELHA DE BRASÍLIA – JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 13 Junho 2016 às 03h 00
Temer planeja entregar proposta pessoalmente a deputados ainda nesta semana; único partido que já anunciou oposição ao texto foi o PT
Trâmite. Proposta vai à Câmara esta semana, diz Padilha
O governo do presidente em exercício Michel Temer quer votar até o fim de julho no plenário da Câmara a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que cria um teto para o crescimento do gasto público, atrelado à inflação do ano anterior. A matéria é considerada a principal proposta do pacote fiscal anunciado pela equipe econômica. A expectativa é de que a proposta seja levada ainda esta semana aos líderes da base aliada pessoalmente por Temer. Mas, segundo o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, não será mais amanhã, como previsto inicialmente. “O prazo (de vigência da medida) terá de ser maior do que o mandato presidencial”, disse Padilha ontem ao Estado. O desenho da proposta ainda será apresentado ao presidente. Segundo interlocutores de Temer, o prazo de vigência da PEC deverá ser uma média entre cinco e dez anos. A equipe econômica, que fará a justificativa da proposta, defende que o período de vigência do teto seja condicionado a uma trajetória definida de queda da dívida pública em relação ao PIB em conjunto com outras variáveis macroeconômicas. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se reuniu no fim de semana para discutir o texto que será encaminhado ao Congresso. Segundo fontes, Meirelles tem como objetivo que o teto seja suficientemente claro para que os agentes econômicos se antecipem e comecem a tomar decisões de investimento baseadas nos efeitos futuros do limitador de despesas. Ele prevê que os gastos podem cair entre 1,5 a 2 pontos porcentuais na relação com o PIB em três anos após a implementação do limite do teto. Fontes da área econômica frisam, porém, que será necessária a adoção de outras medidas para que as contas públicas voltem, com maior rapidez, a registrar resultados superavitários.
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“É uma questão complicada, temos de ver quanto o País vai crescer, a queda da taxa de juros real de equilíbrio da economia e outras variáveis”, disse um integrante da equipe econômica envolvido nas discussões. Temer pretende ir ao Congresso acompanhado do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Depois de protocolada a proposta, a primeira etapa será aprovar a admissibilidade na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde apenas a constitucionalidade é analisada. O líder do governo na Câmara, deputado André Moura (PSC-SE), disse já ter recebido pedido de parlamentares da base aliada para relatar a matéria, mas ainda analisa que quem será o relator. A ideia é escolher um deputado da base que tenha domínio sobre matérias econômicas e com perfil conciliador. Passo a passo. Depois de aprovada a admissibilidade, a PEC seguirá a uma comissão especial, que analisará o mérito. Pelo regimento, o colegiado tem até 40 sessões para votá-la, ou cerca de 13 semanas, nas contas do líder do governo. Esse prazo, porém, nem sempre é seguido. A PEC da DRU, por exemplo, ficou parada por quase seis meses na comissão especial. Daí, a proposta pode seguir para o plenário, onde precisa ser votada em dois turnos por 308 deputados. “Nossa ideia é levar a PEC até o final de julho para ser votada no plenário’, diz Moura. O único partido que já anunciou oposição a matéria foi o PT. A legenda pretende obstruir as tentativas de votação da PEC por meio de sucessivos requerimentos de retirada de pauta.
Investimento chinês atinge mínima em 15 anos e acende debate sobre estímulo Reuters
FONTE REUTERS 13/06/2016 às 10h 58
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O aumento dos investimentos em ativos fixos da China desacelerou para menos de 10% pela primeira vez desde 2000 entre janeiro e maio uma vez que o impulso do crescimento recorde do crédito parece estar desaparecendo rapidamente, trazendo de volta expectativas de mais estímulos. Analistas dizem que a forte desaceleração no investimento privado poderia colocar em risco a meta de crescimento da China de 6,5% a 7% neste ano, a não ser que o governo injete ainda mais dinheiro na economia, apesar dos crescentes temores globais de que o país já está acumulando dívida demais. Dados divulgados nesta segunda-feira mostraram que o crescimento do investimento em ativo fixo —importante motor da economia chinesa— desacelerou para 9,6% entre janeiro e maio na comparação com o mesmo período do ano anterior, contra expectativa de 10,5%, o mesmo que entre janeiro e abril. Ainda mais preocupante, o investimento de empresas privadas desacelerou para mínima recorde, com crescimento de 3,9% contra 5,2% entre janeiro e abril e dois dígitos no ano passado. O investimento privado responde por 60% do investimento total na China. A fraqueza do investimento privado sugere que o crescimento da China é cada vez mais dependente dos gastos do governo através de empresas estatais, cujos investimentos subiram 23,3% entre janeiro e maio. Também significa que as autoridades podem ter que adotar medidas mais fortes para sustentar a economia se mantiverem a meta de expansão de 2016. Outros dados de maio foram mistos, sugerindo que embora a economia possa estar se recuperando, ainda tem dificuldades para ganhar força. A expansão da produção industrial em maio foi de 6% sobre o ano anterior, informou nesta segunda-feira a Agência Nacional de Estatísticas da China, contra projeção de analistas de 5,9%. As vendas no varejo em maio cresceram 10,0% na comparação anual, contra estimativa de alta de 10,1%.
Reajuste de planos de saúde individuais supera inflação pelo 8º ano consecutivo FONTE HUGO PASSARELLI E LUIZA FREITAS, ESPECIAL PARA O ESTADO – JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 13 Junho 2016 às 05h 00
Alta dos custos pressiona o orçamento das famílias; com aumento do desemprego, planos empresariais perderam 887 mil clientes em um ano
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Caro. Família de Henriette não tem mais plano de saúde
Em meio ao aumento do desemprego e elevação do custo de vida, os gastos com saúde estão fazendo peso extra no orçamento do brasileiro. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) autorizou, na semana passada, um reajuste de até 13,57% nos planos de saúde individuais, a oitava alta seguida acima da inflação. Paralelamente, os remédios subiram 9,55% nos últimos dois meses, resultado do reajuste autorizado de até 12,5% em vigor desde abril. “Os preços dos planos de saúde estão subindo acima do custo de vida do consumidor. Isso mostra que é necessário que a ANS passe a regular todos os tipos e não só os individuais”, opina Joana Cruz, pesquisadora em saúde suplementar do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Apesar das queixas dos órgãos de defesa do consumidor, o reajuste está dentro das normas. A ANS determina teto para o reajuste dos planos individuais com base na média das altas aplicadas nos coletivos, que têm livre negociação de preço. Qualquer que seja o tipo do plano, a escalada do custo de vida está forçando os brasileiros a rever os gastos nessa área. Em um ano, do primeiro trimestre de 2015 ao mesmo período deste ano, 1,3 milhão de consumidores abandonaram a saúde suplementar. Dois terços (ou 887 mil) eram clientes de planos empresariais, uma indicação de que o aumento dos custos penaliza principalmente os desempregados. Os planos individuais ou familiares também encolheram: 224 mil saíram de circulação, ou quase 17% dos cancelamentos. “A precificação dos planos de saúde deveria ser melhor. Um cliente com histórico saudável e que faz exercícios físicos, por exemplo, poderia pagar menos pelos planos de saúde”, afirma Renata Vilhena Silva, especializada em direito à saúde do escritório Vilhena Silva.
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Na família da empresária Henriette Ferrer Alves, 48 anos, moradora da zona leste de São Paulo, o custo mensal de R$ 2,1 mil para os planos de saúde dela, do marido e dos três filhos não cabia mais nas contas. Por isso, eles não contam mais com plano de saúde há oito meses. Dona de uma empresa que compra e revende material reciclável, Henriette viu seu faturamento cair 60% no ano passado. “Em 30 anos nunca passamos por isso”, conta. Com dois filhos (de 18 e 25 anos) estudando em faculdades particulares e mais uma filha de 8 anos em uma escola particular, a prioridade foi a educação. O relações públicas Leonardo Vinhas, 37 anos, abriu mão de seu plano no início de 2015. Demitido em 2013, ele teve o direito de permanecer no plano pagando o mesmo valor – R$ 380. Por determinação da ANS, quem é demitido pode manter o plano por mais dois anos. “Desde o início do ano passado estou vivendo como freelancer. As contas não fecham”, diz. A decisão de deixar o plano não foi trivial. Vinhas tem catarata de nascença, agravada por um forte astigmatismo. No segundo semestre do ano passado, sua visão começou a piorar. Os médicos indicaram a realização de uma cirurgia, ao custo de R$ 16 mil. Receoso sobre a qualidade do SUS, ele considera duas opções: poupar o máximo para pagar a cirurgia ou contratar um novo plano. Se a decisão de Vinhas for a segunda alternativa, novos obstáculos podem estar à frente. Uma pesquisa do Idec mostrou que, no ano passado, metade dos planos individuais anunciados pelas operadoras de saúde e registrados na ANS não estava disponível para venda. “As regras estabelecidas pela ANS tornaram esse produto pouco interessante às empresas e a oferta desapareceu”, diz Luiz Augusto Carneiro, superintendente do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), ligado às operadoras. Nos cálculos da entidade, os reajustes não compensam a escalada de custos do setor. Em 2015, o índice de custos médico-hospitalares subiu 19,3%, ante uma inflação de 10,67%.
Casal deve ter diálogo objetivo sobre renda
FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, DANIELLE BRANT DE SÃO PAULO 13/06/2016 às 02h 44
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Você não sabe mais que mágica fazer para fechar as contas do mês, mas recebe pitacos de pais, sogros e até o vizinho acha que pode ajudar. Antes que a situação piore, saiba que pode ter chegado aquele momento considerado tabu por muitos casais: sentar e conversar sobre dinheiro, mas de uma forma que nenhum dos dois sinta que vai ser controlado. Há formas de tornar o diálogo objetivo. A primeira dica é colocar sobre a mesa quanto cada um recebe. Considere o ganho líquido, após descontos como INSS e FGTS, no caso de assalariados. Para trabalhadores autônomos ou empresários, calcule quanto foi recebido nos últimos três meses e tire uma média da renda, para que meses fortes compensem aqueles mais fracos. A partir daí, o casal deve passar para os gastos. E é aí que costuma haver conflitos, pois é comum os parceiros não abrirem totalmente as despesas, com receio de serem recriminados. "Entre marido e mulher não pode ter segredo. Diversos casais não têm abertura financeira completa, mas isso é um erro", diz William Eid, professor da FGV. "Às vezes, a gente vê homens que não contam para mulher ou filho que estão em situação difícil, que trocaram de emprego e estão ganhando menos ou que foram demitidos. Coloca a confiança em jogo", diz a planejadora financeira Annalisa Dal Zotto, da Par Mais, empresa de gestão de finanças pessoais. Na hora de organizar os gastos da casa, a alternativa mais recomendada pelos planejadores financeiros é fazer a divisão proporcional do salário. Se o marido ganha R$ 4.000 e a mulher recebe R$ 3.000, ambos poderiam acertar um percentual de contribuição para o orçamento doméstico. Se for 80% do valor, por exemplo, cada um usaria os 20% restantes como desejar, sem precisar detalhar os gastos ao parceiro. "Se a mulher gosta de comprar roupa, paga à vista e não parcela, por que não? Se está dentro do orçamento dela, nada impede que ela gaste. O mesmo para o marido, se quiser sair com os amigos", diz. Há casais que optam por dividir as despesas ao meio, mas especialistas avaliam que a separação proporcional é mais justa. "Pode haver situações em que quem ganha mais vai querer impor a vontade. Quero sofá novo, eu ganho mais, então vou pagar do meu bolso. Isso vai desgastando o casal", exemplifica o planejador Adilson Marcio Garcia. Escolhida a forma de divisão, o dinheiro deveria ser depositado em uma terceira conta, sugere. Além do dinheiro das despesas, essa "conta da casa" também deve receber recursos para objetivos em comum do casal –viagens, filhos, casa própria–, a reserva de aposentadoria e a de emergência, que deve cobrir seis vezes o custo mensal da família. É preciso contemplar também os investimentos para alcançar esses objetivos. Isso não significa que cada um deve abrir mão de suas aplicações –até porque o perfil de investimento pode ser diferente. Vale manter os dois.
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Montar orçamento doméstico é primeiro passo de educação financeira FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, VINICIUS PEREIRA DE SÃO PAULO 13/06/2016 às 02h 40
Em épocas de crise, otimizar os ganhos e ter controle sobre os gastos é ainda mais importante. Uma simples gestão dos recursos da casa pode colocar as contas em dia e trazer a tão sonhada estabilidade financeira. Na prática, muitas pessoas não sabem efetivamente quanto ganham –depois dos descontos no salário, como INSS e Imposto de Renda, por exemplo– ou gastam por mês. Por isso, montar o orçamento doméstico é o primeiro passo de uma educação financeira que realmente altere o estilo de vida. "Assim fica mais fácil tomar decisões, segurar o impulso pela compra e ainda nos ajuda a alcançar sonhos", afirma Cíntia Senna, do Dsop, site de educação financeira. A contabilidade doméstica deve seguir a receita de qualquer empresa, segundo especialistas: mensurar ganhos e despesas, estudar maneiras de otimizar custos e planejar objetivos, detalhando como conseguirá atingi-los. Os planejadores financeiros ressaltam que a contabilidade mental é uma pegadinha, já que é praticamente impossível obter um controle dos gastos confiando apenas na memória. Cadernos, programas em computadores, como o excel, ou aplicativos no celular (veja quadro) podem ajudar na tarefa. "Coloque o valor que cai na sua conta-corrente por mês, o chamado ganho líquido. Se não souber, faça um levantamento e procure por uma média, que será sua base." O próximo passo é descobrir para onde o dinheiro vai. "Liste todos os gastos fixos, como escola, empregada, aluguel, condomínio. Reserve também 20% para os variáveis, como uma ida ao cinema ou uma necessidade não pensada anteriormente. Com isso, terá um relato aproximado de quanto gastará por mês", diz Márcio Gabrielli, professor da FGV. O empresário Fernando Bardusco, 24, começou a fazer um orçamento há um ano e meio, quando percebeu que gastava muito, sem saber como. "Isso me ajuda a mapear onde estou gastando mais e a analisar como posso economizar." E vale ressaltar que, para ter êxito, isso deve ser feito todos os meses.
Analistas aumentam projeção para inflação e preveem menor retração do PIB FONTE CÉLIA FROUFE – JORNAL AGÊNCIA ESTADO 13 Junho 2016 às 11h 18
Novo presidente do BC, Ilan Goldfajn, já apresentou um discurso duro em relação ao cumprimento da meta de inflação, mas não estabeleceu prazos para entregar a tarefa BRASÍLIA - Depois da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) comandada por Alexandre Tombini, o mercado financeiro revisou suas projeções para o IPCA de 2016 para cima, saindo de 7,12% para 7,19%. Um mês atrás estava em 7,00%. Por outro lado, os analistas 30
voltaram a apresentar otimismo sobre a contração da economia brasileira. As previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2016, a mediana das projeções continua em queda de -3,60% ante -3,71% da semana passada. RELACIONADAS:
Teto para gastos deve ser votado até julho Empresas tentam contornar baixa produtividade nacional
O novo presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, já apresentou um discurso duro em relação ao cumprimento da meta, mas não estabeleceu prazos para entregar a tarefa. Até então, a cúpula do BC mirava o centro em 2017 e se comprometia a entregar o índice dentro da banda de tolerância este ano. A inflação suavizada 12 meses a frente também teve leve recuo pela 10ª vez seguida, passando de 5,94% para 5,91% de uma semana para outra - há um mês, estava em 6,09%. Depois do resultado mais alto do que o previsto da inflação de maio, as estimativas do mercado para o índice de junho permaneceram em 0,33% (quatro semanas antes estavam em 0,31%).
Novo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn
Além da inflação, Goldgajn também afirmou que haverá "respeito ao regime de câmbio flutuante", o que levou operadores a apostarem que o BC deve ser menos propenso a intervir no câmbio. Diante disso, as estimativas para o dólar caíram a 3,65 reais e 3,81 reais para 2016 e 2017 respectivamente, contra 3,68 e 3,85 reais na semana anterior. Juros. O relatório também passou a apresentar uma expectativa de baixa mais certeira, e menos intensa, da Selic para este ano. No documento, a mediana das expectativas para a taxa básica de juros de 2016 saiu de uma divisão de 12,88% ao ano (aa) para 13,00% aa, o mesmo patamar observado na pesquisa Focus um mês atrás. Atualmente, a taxa está em 14,25% ao ano, como ratificado pela diretoria do BC na semana passada. COM INFORMAÇÕES DA REUTERS
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Bancos estudam acabar com rotativo do cartão de crédito
FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, EDUARDO CUCOLO DE BRASÍLIA 13/06/2016 às 02h 00
A Abecs (associação das empresas de cartões) deve apresentar nos próximos meses uma proposta para diminuir gradativamente o uso do rotativo do cartão de crédito e até extinguilo. A linha é utilizada quando o cliente não paga o total da fatura mensal. A avaliação é que a modalidade traz mais perdas do que ganhos para as empresas. Além de despesas e prejuízos com a inadimplência, o produto prejudica a imagem dos bancos e o relacionamento com o cliente. A má fama do cartão está na taxa de juros do rotativo, de 450% ao ano, em média, o que leva a uma alta inadimplência, de 36%, segundo a Abecs. Já considerando todas as linhas de crédito para pessoa física, a taxa é de 4,3%, segundo o Banco Central. O crédito rotativo responde por 20% dos recursos movimentados pelos usuários de cartões, diz a associação. Outra opção para quem não pode pagar toda a fatura, que responde por menos de 10% das concessões, é definir com a administradora a quantidade de parcelas em que o débito será quitado, com juros menores do que no rotativo, em torno de 150% ao ano. O patamar é próximo de uma linha de crédito pessoal, mas bem superior ao crédito consignado, por exemplo.
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Marcelo Noronha, presidente da Abecs, afirma que entre as iniciativas em estudo está limitar o prazo em que o cliente pode ficar no rotativo e, a partir daí, migrá-lo para uma linha de crédito com juro menor. A solução pode ser definitiva ou vigorar por um período de transição, depois do qual o produto acabaria. ESTRATÉGIA O mais provável é que o setor proponha três ou quatro opções que serão adotadas pelos bancos de acordo com a estratégia de cada um. "Você poderia eliminar o rotativo. É uma possibilidade em discussão", diz Noronha. As mudanças não dependeriam do governo, embora devam passar pelo crivo do Banco Central. "Se for num caminho que atenda ao desejo da sociedade e do setor, então talvez isso seja suficiente para virar essa página." Na prática, uma parte das propostas da Abecs já tem sido adotada pelos bancos, que, com o agravamento da crise e do desemprego, temem perder clientes. O vice-presidente de Negócios de Varejo do Banco do Brasil, Raul Moreira, diz que a ordem é não deixar ninguém pendurado por mais de 30 dias. Após 15 dias, o BB passa a oferecer opções com juros mais baratos. Segundo a instituição, cerca de 20% dos clientes nessa linha são pessoas de alta renda. Outros 60% têm linhas com taxas menores à disposição, como o consignado, mas desconhecem a opção ou resistem em fazer a troca. Os que realmente não têm outra opção são cerca de 20%. "Não adianta ter lei se o cliente tiver uma percepção errada sobre o produto", afirma Moreira. Marcos Magalhães, diretor da área de cartões do Itaú Unibanco, afirma que o banco sempre incentivou o uso do parcelado com juros, que até supera as suas operações com rotativo. "Como estamos vivendo uma época de crise, a gente está sendo ainda mais incisivo com os clientes", diz. "A gente indica outras linhas mais baratas. A receptividade é altíssima." Rodrigo Cury, superintendente executivo de cartões do Santander, afirma que o banco incentiva os clientes a trocarem essas dívidas por produtos da linha "crédito sob controle". "O cheque especial e o rotativo são créditos emergenciais, para quando há um problema de dias ou de uma semana. Não deve financiar o dia a dia", completa. POR DENTRO DO CARTÃO DE CRÉDITO O que é o rotativo do cartão? É uma linha de crédito pré-aprovada, contratada pelo cliente quando ele paga um valor abaixo do total devido no cartão de crédito. Tem taxa de juro de 450% ao ano, a mais cara entre todas as linhas
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Por que esse crédito é tão caro? Quanto mais fácil pegar o empréstimo, mais caro ele vai custar. Isso porque a facilidade de contratação do crédito aumenta a chance de o cliente não conseguir pagar a dívida. Como o calote é um custo para o banco, ele cobra mais para compensar esse risco O que é o parcelamento de fatura? Quando o consumidor percebe que não vai conseguir pagar o valor integral da fatura, ele pode optar por parcelar o valor devido. Nessa linha, os juros médios são de 150% ao ano Parcelar a fatura é vantajoso? A linha é mais barata que as taxas de juros do rotativo, mas ainda é um crédito caro. Se o cliente está endividado no cartão, o melhor é negociar com o banco um empréstimo pessoal mais barato. Algumas opções são o crédito consignado ou o empréstimo com bem como garantia (como o imóvel ou o carro) Por que os bancos querem acabar com o rotativo? Eles alegam que, além do custo para o banco com a inadimplência, as altas taxas de juros sujam a imagem da instituição financeira. Na prática, a tendência é que o cliente que tenha aumentado muito sua dívida no cartão nunca volte a usar o produto. A instituição também corre o risco de perder o correntista para um concorrente após a experiência ruim
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Microsoft anuncia compra do LinkedIn por US$ 26,2 bilhões Divulgação
Weiner, presidente do LinkedIn, Satya Nadella, da Microsoft, e Reid Hoffman, cofundador do LinkedIn FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, 13/06/2016 às 12h 35
A gigante de tecnologia Microsoft anunciou nesta segunda-feira (13) acordo para comprar a rede social LinkedIn por US$ 26,2 bilhões, ou US$ 196 por ação da empresa. Pelos termos do acordo anunciado, o LinkedIn vai manter a marca, cultura e independência, segundo comunicado divulgado. Jeff Weiner continuará no cargo de presidente-executivo da rede social e se reportará a Satya Nadella, presidente da Microsoft. A transação foi aprovada por unanimidade pelos conselhos de administração do LinkedIn e da Microsoft. A expectativa é que o negócio esteja concluído até o final deste ano. A operação ainda depende da aprovação dos acionistas do LinkedIn e de órgãos reguladores. A Microsoft vai financiar a operação principalmente pela emissão de novas dívidas. O valor supera os US$ 22 bilhões pagos pelo Facebook na compra do Whatsapp em 2014.
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Às 12h30, as ações do LinkedIn avançavam 46,95%, para US$ 192,62, enquanto os papéis da Microsoft caíam 1,94%, a US$ 50,48. "A equipe do LinkedIn desenvolveu um negócio fantástico centrado em conectar profissionais do mundo", afirmou Nadella no comunicado. "Juntos nós podemos acelerar o crescimento do LinkedIn, assim como do Microsoft Office 365 e Dynamics enquanto nós buscamos empoderar cada pessoa e organização do planeta." "Hoje é um momento de refundação para o LinkedIn. Eu vejo oportunidades incríveis para nossos membros e consumidores e apoio esse negócio novo" afirmou Reid Hoffman, presidente do conselho de administração do LinkedIn e também cofundador e acionista controlador da rede social. O LinkedIn é a maior rede social para profissionais do mundo, com 433 milhões de membros. No ano passado, a empresa lançou um aplicativo para smartphone que elevou o número de membros, além de ter implementado um feed de notícias de negócios. RAIO-X MICROSOFT (1º tri.2016) Receita líquida: US$ 20,531 bilhões Lucro líquido: US$ 3,756 bilhões Ativos totais: US$ 181,869 bilhões Dívida total: US$ 107,063 bilhões Número de funcionários: 118.000 (30.jun.2015) RAIO-X LINKEDIN (1º tri.2016) Receita líquida: US$ 860,650 milhões Prejuízo líquido: US$ 45,316 milhões Ativos totais: US$ 7,209 bilhões Dívida total: US$ 2,569 bilhões Número de funcionários: 9.372 (31.dez.2015)
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Financiamento de veículos novos cai 25,7% em maio, diz Cetip FONTE ANDRÉ ÍTALO ROCHA – JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 13 Junho 2016 às 11h 40
No acumulado de janeiro a maio, o financiamento de veículos chega a 729,8 mil unidades, queda de 28,4%
Baixa demanda deve-se principalmente ao aumento do desemprego RELACIONADAS
PPE precisa de mais flexibilidade, diz Anfavea Em pesquisa, 41% dizem que querem comprar carros
SÃO PAULO - O número de veículos novos que foram comprados por meio de financiamento caiu 25,7% em maio deste ano ante igual mês do ano passado, para 145.498 unidades, informou nesta segunda-feira a Cetip, que compila dados das instituições financeiras que operam no País. O volume, no entanto, representa alta de 1,9% na comparação com abril. No acumulado de janeiro a maio, o financiamento de veículos novos chega a 729.866 unidades, queda de 28,4% sobre o resultado alcançado em igual intervalo do ano passado. As contrações nos financiamentos acompanham o fraco ritmo na venda de carros no Brasil, uma vez que, historicamente, algo entre 50% e 60% das compras de veículos são financiadas. A baixa demanda deve-se principalmente ao aumento do desemprego, que reduz a renda e a confiança do consumidor, e à restrição do crédito por parte das instituições financeiras, que estão mais rigorosas na aprovação de financiamentos para a aquisição de veículos. Segundo a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), apenas três em cada 10 pedidos de financiamentos têm sido aprovados pelas instituições financeiras. Os financiamentos para veículos usados caem em ritmo mais lento. Em maio, foram 231.037 unidades financiadas, queda de 3,7% em comparação com igual mês do ano passado. A alta em relação em abril também foi mais intensa, de 4,2%. No acumulado de janeiro a abril, os financiamentos somaram 1.309.024 unidades, retração de 8,7% sobre o resultado de igual período do ano passado.
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Nomeações políticas Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, Suely Caldas* 12 Junho 2016 às 05h 00
Na última segunda-feira Michel Temer anunciou a suspensão de contratações políticas em estatais e fundos de pensão. Três dias depois nomeou o ex-deputado e presidente do PSD Guilherme Campos Júnior para a presidência da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Sai PDT entra PSD na gestão de uma estatal quebrada, que nos últimos três anos apresentou persistentes prejuízos e agora, com o caixa zerado, terá de recorrer a empréstimos bancários para pagar salários dos funcionários. O que esperar de uma empresa que no governo Dilma teve seis diretorias entregues ao PDT, mais três ao PT, PMDB e PCdoB e nenhuma a um gestor profissional qualificado e preocupado em salvar a empresa e não dela tirar lascas para seu partido político? E o que esperar agora com a gestão entregue ao partido do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab? Apresentando-se como protetor de empresas estatais, o governo Dilma vai entrar para a história como impiedoso triturador delas. Conseguiu quebrar a Petrobrás, a Eletrobrás e até os Correios, que atuam em monopólio absoluto, com o mercado inteiro só para eles. A razão principal da quebradeira foi o farto e ruinoso uso das três estatais para atender a dois objetivos de Dilma: 1) Dar alívio à inflação (que seu governo não conseguia controlar) com a redução ou o congelamento de tarifas de combustíveis, energia elétrica e comunicação; e 2) lotear cargos entre partidos aliados em troca de apoio político no Congresso e nas eleições. O resultado está aí: empresas quebradas, destruídas e desmoralizadas por tanta corrupção que a Operação Lava Jato mapeou na Petrobrás, mas com a certeza de que uma investigação séria vai reprovar também as outras. Das três a Petrobrás parece estar livre de nomeações políticas. Pelo menos foi a condição imposta por Pedro Parente para aceitar a presidência e até agora respeitada por Temer. A Eletrobrás é hoje uma encrenca gigante, para sobreviver, é indispensável uma gestão profissional competente e com poderes para livrá-la de interferências políticas, que há anos a corroem. Riscada dos negócios na Bolsa de Nova York, com dívidas crescentes (só para a Petrobrás deve R$ 13 bilhões pelo fornecimento não pago de gás e óleo combustível), prejuízos seguidos no balanço (desde a luminosa ideia de Dilma de reduzir a tarifa na conta de luz em 2013) e obrigada a engolir distribuidoras do Norte e Nordeste, que ajudam a inflar seu prejuízo, a Eletrobrás ameaça desmoronar. Vai receber agora um socorro de R$ 5 bilhões do Tesouro, para garantir sua sobrevivência. Mas será por pouco tempo, se os 40 cargos de primeiro escalão, dela e de subsidiárias, forem ocupados por indicados políticos viciados em tirar proveito e vantagens financeiras para seus partidos. Se Michel Temer ceder a pressões e entregar aos partidos diretorias de Furnas, Eletronorte, Eletrosul e Chesf, terá de novamente tirar dinheiro da área social para dar um segundo socorro ao Grupo Eletrobrás. Empresa estatal não é hospital público nem escola, tampouco presídio alimentados com dinheiro público para servir à população. A função da estatal é vender serviços, faturar, gerar lucros e recolher dividendos aos cofres públicos, não o contrário. Por isso seria inaceitável socorrer também os Correios. Mas 2015 será o terceiro ano seguido de prejuízo bilionário (R$ 2,121 bilhões) de uma empresa que o monopólio deveria garantir lucro certo. Se os Correios terão de recorrer a empréstimos para pagar salários, seu fundo de pensão, o Postalis, acaba de impor sobretaxa a todos os funcionários ativos e aposentados para cobrir o rombo acumulado em três anos de corrupção e péssima gestão entregue a políticos e dirigentes sindicais. Por último, falta nomear dirigentes para os fundos de pensão de estatais. Como Postalis, Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobrás) e Funcef (Caixa Econômica) acumulam prejuízos que beiram a insolvência, deverão também punir funcionários com sobretaxas. Mas os políticos
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não desistem, pressionam. Com a palavra, Temer! *Jornalista e professora de comunicação da PUC-Rio E-mail: sucaldas@terra.com.br
Em meio à destruição, certas empresas crescem Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, José Roberto Mendonça de Barros 12 Junho 2016 às 05h 00
Argumentamos em nosso último artigo que a economia brasileira ainda vive um trimestre de crescimento negativo, que deverá se estabilizar nos próximos meses, retomando o crescimento em 2017. Os impactos dessa evolução sobre as empresas que operam no Brasil devem ser muito amplos. Não se pode perder de vista que não tivemos apenas uma troca de presidente, mas que vivemos uma mudança estrutural profunda centrada em dois pontos: o fim de um sistema de poder que governa o Brasil desde 2003 e o simultâneo fracasso de um modelo de crescimento fechado e com comando de um Estado excessivamente grande e ambicioso. Como consequência, estamos vendo o fim de um determinado sistema de incentivos (até porque o Tesouro está esgotado), o colapso de um sistema de compadrio e de escolha de vencedores e a utilização da corrupção em larga escala como forma de exercer o poder. Tudo isso em meio a uma recessão profunda.
Agricultura de precisão: segmento do agronegócio é um dos destaques
Como essa situação tem impacto nas empresas? (1) Crise profunda no sistema estatal, que pretendeu puxar o crescimento. Falamos, especialmente, da Petrobrás e da Eletrobrás. Seu esfacelamento financeiro e a péssima regulação em curso estão afetando negativamente o sistema de fornecedores e, praticamente, todas as empresas elétricas. (2) Virtual desaparecimento das empresas que mais se abraçaram ao projeto do lulopetismo, começando pelo grupo de Eike, passando pelas empreiteiras e chegando aos estaleiros. (3) Como sempre acontece em grandes recessões, todas as empresas muito alavancadas financeiramente estão pagando um pesado preço. Isso vai de campeões nacionais da telefonia até mesmo a certas empresas do agronegócio, único setor que está atravessando bem a crise. Veremos, ainda, muitas falências, recuperações judiciais e consolidações de ativos. Esse grupo de companhias é que vai explicar por que o desemprego ainda vai se elevar até o fim do ano. 39
Quais serão os ganhadores que poderão se aproveitar da perspectiva de recuperação da economia? (1) Empresas nacionais com estratégia definida e boa disciplina de capital. (2) Empresas do agronegócio e exportadores com projetos consistentes, o que inclui a perspectiva de internacionalização das companhias. (3) Empresas médias ou pequenas pouco alavancadas, que se beneficiarão especialmente da otimização de suas operações, da recuperação das vendas e da perspectiva de termos o juro básico da economia de um dígito, que veremos em 2017. (4) Multinacionais que operam há muitos anos no Brasil. Essas companhias dispõem de tecnologia, boa governança, baixo custo de oportunidade do dinheiro (o juro lá fora é zero) e têm perspectiva de longo prazo. Serão os grandes ganhadores na retomada. (5) Uma nova safra de empresas que nascem de inovações (tecnológicas, de modelo de negócios e outras) e que já têm desde o início uma perspectiva global. Nova geração. Um novo tipo de empresa está nascendo e se expandindo. O grupo não é especialmente grande e, como tal, não é capaz de, isoladamente, se contrapor à avalanche recessiva. Entretanto, num cenário de estabilização e reinício do crescimento, elas deverão jogar um papel de crescente relevância. A desvalorização cambial tornou a mão de obra qualificada muito mais competitiva em relação ao mundo desenvolvido. Muitas dessas companhias nascem de esforços de poucos jovens, no mais das vezes com ideias e experiências desenvolvidas no exterior, seja em universidades ou empresas. No Brasil dos últimos anos, um ambiente propício está se desenvolvendo rapidamente, em lugares como parques tecnológicos, incubadoras, universidades, aceleradores de startups e organizações de suporte ao empreendedorismo. Nesse novo mundo, há grande variedade de setores em desenvolvimento. Dois, especialmente, chamam a atenção: serviços e agronegócio. Na área de serviços, dois segmentos têm destaque: empresas de tecnologia da informação, especialmente dedicadas à gestão de empresas, que se encontram num ativo e avançado processo de internacionalização. Nessa área, nem todas as empresas são muito novas, mas buscam exercer essa visão global com razoável sucesso. Outro segmento bastante relevante é o das inovações financeiras, nas chamadas fintechs. Estima-se que existam hoje mais de 300 empresas nessa área, algumas das quais já atingindo porte razoável. Aqui, o centro da competitividade são as plataformas tecnológicas e o forte uso de grandes bancos de informação, computação em nuvem e outras inovações. O sistema bancário tradicional já percebeu que tem nessas startups uma ameaça importante. Além disso, existe grande variedade de outras empresas que vão da gestão de frotas à manutenção de aeronaves. O segundo segmento que chama atenção é aquele ligado ao agronegócio. Aqui também a lista é ampla: sistemas de gestão de empresas agrícolas, de plantel de animais, insumos biológicos etc. Em particular, chama muito atenção o conjunto de empresas e sistemas ligados à chamada agricultura de precisão. Todas essas iniciativas e ferramentas resultam em expressivas elevações da produtividade nas suas respectivas áreas e é, por isso, que chamam tanto atenção. Afinal, estamos num País no qual a tradição de inovação tecnológica está essencialmente ligada à aquisição de equipamentos. Sistemas e plataformas poderão, mesmo, revolucionar muitos segmentos de produção, como acontece em outros lugares do mundo. *ECONOMISTA E SÓCIO DA MB ASSOCIADOS
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Temporada de greve na USP FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, SAMUEL PESSÔA 12/06/2016 às 02h 00
Como ocorre todo ano neste período, a USP decretou greve. O professor da Faculdade de Educação da USP César Minto, presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp), explica em coluna nesta Folha, na seção "Tendências e Debates" de quarta-feira (8), que um dos motivos da greve é "o governo não honrar a sua palavra de aumentar o percentual de repasse em razão da ampliação dos campi e do incremento expressivo de graduados de 75% em relação a 1995". O país passa pela maior perda de PIB per capita dos últimos 120 anos. A taxa de desemprego caminha para 12% até o fim do ano. A receita de ICMS entre janeiro e março de 2016 cresceu em termos nominas 2,2%, o que significa queda real de 7,2%, ante igual período de 2015. A crise é fiscal, consequência da enorme incerteza que um setor público à beira da insolvência produz em todos os agentes econômicos. Todas as empresas estão revendo seus planos de negócios e orçamentos, alterando seus processos com vistas à redução dos custos. Nada disso importa. A Adusp deseja que São Paulo aumente a proporção do ICMS -por volta de 5,9% da quota parte recebida pelo Estado desse imposto- que transfere mensalmente para a universidade. Segundo o presidente da associação, a USP "devolve à sociedade um número expressivo de professores de educação básica, de mestres e doutores que abastecem universidades estaduais e federais Brasil afora". O problema é que qualquer rubrica do orçamento público devolve algo à sociedade. Ou seja, de quem devemos tirar recursos para aumentar os repasses para a USP? A grande dificuldade do gestor público é essa. Se tomarmos qualquer linha do orçamento público, no final dela estará o cidadão. Em particular, se descuidarmos do equilíbrio fiscal, produziremos inflação, o que também gera custos imensos para a sociedade. Qualquer pessoa que viveu o período dos anos 80 até meados dos anos 90 conhece muito bem essa realidade. O presidente da Adusp tem todo o direito de olhar o mundo a partir do seu interesse particular e de não se preocupar com os impactos que o aumento de recursos para as universidades paulistas teria sobre o orçamento do Estado e todas as demais políticas públicas. Por outro lado, a obrigação do governador é olhar o orçamento do Estado de forma global e certamente não há menor condição de aumentar-se a proporção do ICMS repassada para as universidades. Tira-se de onde? Da educação básica, da saúde, da expansão do metrô, aumenta-se o deficit público? As universidades públicas precisam melhorar a gestão. Há muito espaço para aumentar a eficiência. No entanto, para tal, será necessário pensar fora da caixa. Considerar cobrança de mensalidade de aluno, formas de aumentar a rentabilidade do enorme potencial imobiliário que o campus oferece, novas formas de contratação e gestão de pessoal, além de critérios mais rígidos para efetivação de professores no modelo americano do "tenure track".
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As universidades públicas são só um pequeno exemplo de que não é possível mais atacarmos todos os problemas do Estado brasileiro aumentando a carga tributária e mandando a conta para a sociedade. O modelo esgotou-se. A economia já cai do abismo em direção ao desastre da década de 80. Se não segurarmos no cabo que Temer tentará nos jogar com suas medidas de ajuste fiscal, chegaremos lá.
Ponto de equilíbrio FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@uol.com.br 12/06/2016 às 02h 00
O governo de Michel Temer (PMDB) promete em breve enviar ao Congresso a proposta de inscrever na Constituição um limite imediato para o crescimento da despesa federal. Mais do que peça central do programa econômico do presidente interino, trata-se da maior tentativa de reforma do Estado em três décadas. A fim de que o plano se torne viável, não basta escrever em pedra que os gastos serão reajustados apenas pela inflação do ano anterior, sendo na prática congelados. Algumas cláusulas adicionais precisam ser bem lapidadas. A primeira diz respeito às regras que impedirão o crescimento da rubrica social. A segunda, à duração desse congelamento. O dispêndio se expande sem limite devido ao aumento vegetativo de certos desembolsos (número de beneficiários da Previdência), a indexações (reajustes de benefícios sociais ou de salários) e a vinculações orçamentárias (por lei, a verba para saúde e educação aumenta junto com a arrecadação). Ou seja, se for mantido tudo o mais constante após a criação do teto, essas rubricas logo asfixiarão as demais obrigações do governo, tornando a administração inviável. A duração do congelamento, por sua vez, tem pelo menos duas implicações essenciais: define o tamanho do Estado e o rumo da política econômica e da recuperação nos próximos anos. Quando o país voltar a crescer, o gasto se retrairá paulatinamente em relação ao tamanho da economia. Não diminuirá em termos absolutos, mas constituirá fatia cada vez menor de um PIB maior. É difícil estimar a proporção desse encolhimento. Mas, mesmo com um desempenho econômico modesto, haverá drástica redução do Estado depois de uma década. Quanto à política econômica, trata-se de fazer com que as receitas ultrapassem o teto da despesa. Considerando-se o deficit e as projeções atuais, isso não ocorrerá em menos de quatro anos sem aumentos adicionas na arrecadação. Torna-se central, portanto, a tarefa de encontrar um ponto de equilíbrio. Dadas as carências sociais e as necessidades de investimento, o país não pode se furtar por muito tempo de destinar parte da expansão do PIB ao uso do Estado.
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Por outro lado, diante do risco de colapso das finanças públicas, o congelamento precisa durar o suficiente para permitir a geração de superavit e dar credibilidade ao programa de ajuste. O plano econômico decerto não se limita ao teto. A obtenção de receitas extras, por meio de privatizações ou de aumentos de impostos, permitirá antecipar o superavit. Ademais, o gasto deve se tornar mais eficiente, a fim de que não se reduzam os serviços. O teto, porém, é essencial. Dificilmente poderá durar menos de quatro ou cinco anos e com certeza se mostrará drástico demais se perdurar por uma década.
Fora de hora FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@uol.com.br 13/06/2016 às 02h 00
Tiveram alguma expressão as manifestações contra o presidente interino, Michel Temer (PMDB), realizadas na sexta-feira (10) em pelo menos 34 cidades do país. Com o conhecido mote da resistência ao "golpe", entretanto, terão reunido os estratos mais renitentes dos que, desde sempre, se alinham partidária e ideologicamente aos círculos do PT, de seus sindicatos e seus movimentos sociais. A grande maioria da população, que não se deixa conduzir pelas organizações que quiseram sustentar o mandato de Dilma Rousseff (PT), mantém-se num estado de expectativa o qual não se confunde com qualquer sentimento de apoio autêntico ao governo Temer. Nesse contexto surgem promessas e sinais, apresentados pela presidente afastada, de um encaminhamento bastante criativo, e a esta altura puramente imaginário, para a situação em que se encontra. Em entrevista à TV Brasil em parceria com a Rede Minas, Dilma anunciou a disposição de uma vez reconduzida ao cargo, promover uma consulta popular sobre a convocação de novas eleições. Ainda que, em teoria, fosse desejável a realização de nova disputa presidencial com vistas a superar a crise política tese sustentada por esta Folha, a ideia tal como apresentada pela petista se reveste de fragilidades e inconsistências. A Constituição admite novo pleito apenas caso presidente e vice deixem o cargo antes do prazo, seja de modo forçado (impeachment de ambos, cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral, morte), seja de forma voluntária (renúncia). Ou seja, a sugestão de o Congresso aprovar lei ou emenda constitucional para convocar eleições esbarra em sua própria inconstitucionalidade, e a tal consulta popular se revela despicienda. Da intenção de Dilma, assim, resta somente um paradoxo: ela agora quer vencer a batalha do impeachment apenas para renunciar em seguida. Num volteio quase cômico, o plano teria como desfecho o retorno do mesmo Michel Temer à cadeira que ora ocupa.
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Como presidente interino, o peemedebista montou um gabinete que lhe tem ajudado a assegurar ampla maioria no Congresso, e este encontra em Temer um chefe do Executivo muito mais sensível aos caprichos parlamentares. A engenharia encetada por Dilma chega tarde. Ou, com alguma simpatia, seria possível dizer que talvez tenha chegado cedo demais. É improvável, mas não fora de cogitação, que dentro de algum tempo o governo de Michel Temer esteja mergulhado em contradições e crises que suscitem novas imaginações institucionais. Enquanto isso, entretanto, as atenções do petismo parecem mais fixadas no passado do que em qualquer avaliação sobre o futuro.
A fundo perdido FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@uol.com.br 13/06/2016 às 02h 00
No capitalismo de compadrio que se escancarou no Brasil nos últimos anos, os fundos de pensão das estatais adquiriram papel de destaque. Distanciaram-se ainda mais do interesse dos trabalhadores e se transformaram em mera fonte de recursos extraordinários para o governante de turno. Pior para os pensionistas, que viram desmantelar-se o resultado de anos de contribuições e economias. Tome-se o caso da Petros, que já apresentara rombos em 2013 e 2014. De acordo com estimativas extraoficiais, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras registrará em seu balanço de 2015 um deficit de cerca de R$ 20 bilhões. Era fácil supor que um buraco desse tamanho não teria sido cavado apenas por força das circunstâncias, como a mudança na conjuntura econômica e a queda do preço de ações da empresa. Uma auditoria realizada pela consultoria Ernest & Young parece comprovar as piores suspeitas. Em seu relatório, a empresa aponta falhas como compra de títulos por valor acima do de mercado, fragilidade na análise do risco de investimentos, conflitos de interesse e apresentação de garantias insuficientes para operações. Ou esses erros resultaram de grotesca incompetência, ou não foram propriamente um erro e sim má-fé. Espera-se que o assunto seja investigado com a devida seriedade. Resolver o caso concreto da Petros, contudo, fará pouco por seus assemelhados, como Postalis (Correios), Funcef (Caixa Econômica Federal) e Previ (Banco do Brasil). Todos tiveram perdas bilionárias e convivem com deficit gigantesco. O caminho para diminuir o espaço para tantos desmandos é conhecido: reduzir a influência política e profissionalizar a gestão.
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Daí por que o governo do presidente interino, Michel Temer (PMDB), acerta ao priorizar o projeto que altera regras para nomeações a cargos de direção nos fundos de pensão. Aprovado no Senado, o texto agora tramita na Câmara. A proposta tornará mais rigorosos os critérios de escolha, com exigência de formação superior e experiência comprovada. Para a diretoria e o conselho serão vedados, além disso, candidatos que tenham exercido atividade executiva em partidos ou ocupado cargos em comissão no governo nos dois anos anteriores à contratação. O legado de prejuízos nos últimos anos deveria bastar como prova da necessidade de aperfeiçoar a gestão e os controles qualquer resistência a avanços desse tipo, portanto, será incompreensível.
Leniência não é boia de salvação FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, MARCELO MUSCOGLIATI 12/06/2016 às 02h 00
Entende-se por leniência a tolerância, a brandura, a suavidade, a lenidade. Em matéria criminal ou administrativa infracional, leniência é a tolerância ou a lenidade com a infração, brandura ou suavidade na sanção. A leniência não é nova no sistema. Nem mesmo o acordo de leniência é novo. Desde os anos 1990, muitos países implementaram regras para estimular acordos desse tipo, motivados pelo sucesso do combate antitruste dos EUA. No Brasil, a introdução ocorreu no ano 2000. Inspirados pelos estudos de direito e economia, os acordos de leniência, juntamente com as delações premiadas e as transações penais, consolidaram-se como instrumentos eficazes à repressão das organizações criminosas, no cível e no crime (corrupção, fraudes financeiras e terrorismo). A novidade em relação ao acordo está na tentativa de utilizá-lo, como uma variação do termo de ajustamento de conduta com pressupostos frágeis, para salvar empresas, como se tem lido e ouvido em certos círculos de debates. O acordo de leniência, obviamente, não foi desenvolvido como instrumento para socorrer empresas. A finalidade instrumental é reprimir organizações criminosas e, com isso, contribuir para um ambiente de negócios sadio, com menores custos de transação, com mais competitividade e produtividade. É dessa maneira que sociedade e instituições se fortalecem e evoluem, não com operações de salvamento de empresas corruptas, ineficientes e não competitivas. Acordos de leniência são instrumentos de investigação e de repressão. A chave para um bom acordo é a cooperação. Só se deve conceder leniência a quem coopera, posto que o principal resultado a ser buscado é o desmantelamento das organizações criminosas. Fazer cessar a atividade ilícita é o primeiro escopo. O segundo é impor sanção. O terceiro é buscar a reparação. Atrelar o acordo de leniência unicamente à indenização ou a uma multa, sem respeito à necessidade de cooperação, como se pensou recentemente em nosso país, torna o instrumento ineficaz. 45
Como em qualquer outro grande negócio, a organização criminosa pode fazer um "fundo de contingência" para atenuar o seu risco e, com um grande pagamento formal, gozar de impunidade. Por isso, ser o primeiro a cooperar, e o quanto antes (teoria dos jogos e o dilema do prisioneiro), é de grande importância para os acordos. De nada adianta cooperar para informar aquilo que já é do conhecimento das autoridades. A disponibilidade para produzir documentos, responder honestamente às dúvidas e questões, prestar contas de tudo o que sabe e de todos os documentos e provas que podem servir ao caso concreto são obrigações que sempre devem ser impostas às pessoas, físicas ou jurídicas, que queiram fazer acordos de leniência. Um bom acordo é baseado em provas e documentos. Jamais em fofocas e opiniões. A mentira viola o acordo e pode colocar por terra qualquer benefício reconhecido à pessoa que é objeto de leniência. Se é possível resumir, pode-se indicar que a leniência pressupõe cooperação, honestidade, disponibilidade e responsabilidade. Jamais salvação. MARCELO MUSCOGLIATI, subprocurador-geral da República, é coordenador da Câmara de Combate à Corrupção do Ministério Público Federal
Um partido de picaretas FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, PAUL KRUGMAN 13/06/2016 10h 54
Esta coluna não é sobre Donald Trump. Não é sobre o esquema fraudulento que levava o nome de Trump University. Não é sobre seu histórico de não pagar empreiteiros, que resultou em centenas de processos judiciais. Não é sobre ele ter lucrado pessoalmente com cassinos que afundaram sob seu comando. Não é nem mesmo sobre as dúvidas persistentes quanto a ele ser mesmo tão rico quanto afirma, ou sobre saber ao certo se ele fez alguma coisa na vida a não ser viver dos ganhos de sua herança. Não, minha questão, enquanto os democratas desmantelam alegremente o histórico de Trump nos negócios, é por que seus adversários pela indicação no Partido Republicano jamais fizeram o mesmo. Como é que uma pessoa que parece mais e mais um trapaceiro barato conseguiu abrir caminho com tanta força no processo de indicação do Partido Republicano? Porque, afinal, nenhuma dessas sujeiras estava muito bem escondida. As histórias sobre a Trump University já circulavam muito antes de terem ganhado a importância que agora têm. Foi necessário algum esforço de reportagem para revelar os detalhes sobre outras das práticas de negócios de Trump, mas estamos falando de trabalho jornalístico comum, ainda que habilidoso, não de revelações ao modo Watergate. Assim, por que é que nenhum dos adversários de Trump nas primárias decidiu fazer de suas práticas enganosas de negócios uma questão política? Foi simples incompetência ou será que existe algo de estrutural no moderno Partido Republicano que impede a agremiação de confrontar picaretas? 46
Eu argumentaria que o segundo motivo é a resposta. Rick Perlstein, que documentou a ascensão do moderno conservadorismo em uma série de livros reveladores, aponta que sempre houve uma estreita associação entre o movimento e as operações de trapaceiros comuns, pessoas que usam as listas de doadores de verbas de campanha, os sites da direita, e assim por diante a fim de vender curas milagrosas e esquemas de enriquecimento rápido. Às vezes a conexão política é direta: alertas tenebrosos sobre a depressão/hiperinflação iminentes, das quais você só pode se proteger comprando DVDs de Ron Paul ("o currículo de Ron Paul") ou ações de minas de ouro promovidas por Glenn Beck. Às vezes ela parece ser apenas um reflexo da opinião dos trapaceiros: se pessoas se deixaram convencer de que o presidente Barack Obama é muçulmano, também poderiam ser convencidas de que existem oportunidades de ganhar dinheiro fácil que a elite mantém escondidas dos cidadãos comuns. Há também um padrão notável de astros do conservadorismo político envolvidos em supostas causas ativistas que na verdade são apenas um caminho para o enriquecimento pessoal. Por exemplo, o SarahPAC, comitê de ação política de Sarah Palin, só doa uma pequena porcentagem do dinheiro que arrecada a candidatos, e gasta pesadamente com as viagens de Palin e bancando seus consultores. E há a questão da ideologia. Se sua premissa fundamental é a de que o lucro é sempre um bom motivo e o governo é a raiz de todos os males, se você trata qualquer sugestão, digamos, de que os executivos financeiros se comportaram mal nos anos que antecederam a crise financeira como prova de que quem faz essa afirmação é inimigo da livre empresa, se não socialista escancarado, como será possível condenar as práticas de negócios de alguém? Pense nisso: ainda que os jornais estejam repletos de reportagens sobre alunos fraudados e empreiteiros que sofreram calotes, os republicanos do Congresso não estão medindo esforços para eliminar a chamada "regra fiduciária" que se aplica aos consultores financeiros de aposentadoria, uma nova norma que requereria que estes sirvam aos interesses de seus clientes e os impediria de receber comissão por encaminhar clientes a maus investimentos. Paul Ryan, o presidente da Câmara dos Deputados, fez da revogação dessa norma parte do "plano de combate à pobreza" de seu partido. Assim, o Partido Republicano na verdade está defendendo o direito do setor financeiro a iludir seus clientes, o que torna difícil atacar figuras como Donald Trump. Por fim, a trapaça que ocupa posição central em parte tão grande da política republicana torna difícil ao partido se opor a outras trapaças, mais comerciais. É interessante apontar que Marco Rubio de fato tentou transformar a Trump University em causa política, mas o fez tarde demais, depois que sua candidatura já havia virado piada por sua repetição incansável das mesmas queixas. E a verdade é que a queixa repetida por Rubio —insinuações de que o presidente estaria enfraquecendo deliberadamente os Estados Unidos— serve como exemplo das falsas poções políticas vendidas como se fossem poções mágicas que curam pressão alta em três minutos. A realidade é que Rubio era tão trapaceiro quanto Trump, mas não era tão bom na trapaça, o que explica que, sob pressão, ele se limitasse a repetir a mesma decoreba. Assim, ele, como os demais pré-candidatos à indicação republicana, não tinha como fazer das práticas 47
inescrupulosas de Trump uma questão política. Mas pelo menos até agora não parece que Hillary Trump e seus aliados terão o mesmo problema. Nos próximos meses, os republicanos afirmarão que existem escândalos semelhantes do lado democrata, mas nada do que conseguiram expor até o momento chega nem mesmo perto de qualquer uma das muitas trapaças de Trump que vêm ocupando as notícias. Eles também afirmarão que Trump não reflete de fato os valores do partido. Mas a verdade é que, no fundo, ele o faz. E foi por isso que seus adversários não foram capazes de detê-lo. Tradução de PAULO MIGLIACCI
Precisamos de mais produtos inteligentes, porque somos estúpidos FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, LUCY KELAWAY 13/06/2016 às 10h 50
Vinte anos atrás, fui informada de que não se não cuidasse melhor dos meus dentes, logo os perderia. Desde então, passei a escová-lo, a usar fio dental e a recorrer a três tamanhos diferentes de escovas interdentais o que deve me tornar a cliente ideal para a mais inteligente de todas as escovas de dentes inteligentes, a Oral B Genius 9000. Para usar essa escova, você precisa afixar seu celular ao espelho do banheiro, no nível da boca, para que a câmera fique de olho em sua escovação enquanto você empreende sua "jornada de 28 dias pela placa bacteriana". Enquanto eu escovo, a tela se acende para me revelar em que parte de minha boca estou trabalhando. Isso poderia ser inteligente —se eu já não soubesse a resposta. A escova cronometra meu tempo de escovação (algo que minha escova elétrica já faz eficientemente), e ao fazê-lo me distrai quanto à tarefa ao me informar (incorretamente) como está o tempo lá fora e o que está acontecendo no planeta. "Impressionante", a escova comentou quando acabei. A experiência pode mesmo ter sido agradável, é claro, mas já sou adulta e não preciso de congratulações por ter escovado os dentes. Os dados de escovação foram devidamente registrados, para permitir comparação com relação a futuras sessões de limpeza dos dentes —fazendo da rotina diária de higiene bucal uma divertida competição contra mim mesma. Nunca mais vou usar o app. Os cinco minutos diários que passo cuidando dos dentes são um momento de relativa calma, um oásis no qual estou protegida contra telefones. Vou mantê-los desse jeito. Mas essa escova de dentes inteligente quase certamente será um sucesso, como foram as versões precedentes do produto. De acordo com a Procter & Gamble, 250 mil pessoas usam seu app Oral B, e evidentemente acreditam que há uma relação entre usar o Bluetooth e ter dentes brancos. E não são apenas as escovas de dentes inteligentes que vêm conquistando as pessoas. Uma amiga me conta deliciada de que forma o Elvie, um aparelho de solo para promover contrações pélvicas que se define como "o seu personal trainer", mudou sua vida.
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Você faz os exercícios e o app que acompanha o aparelho informa como você está se saindo e permite que compita on-line contra os amigos. Produtos como as pulseiras Fitbit e Jawbone já transformaram metade da população do planeta em chatos que competem até ao caminhar. A Oral B e o Elvie levam o processo um passo adiante. Menos indelicado mas não menos inexplicável é o pregador de roupas inteligente, possivelmente a mais idiota das tecnologias inteligentes que vi até o momento. O Peggy, que está sendo testado na Austrália pela Unilever, é um pregador de roupas plástico que contém um termômetro e um higrômetro capazes de enviar mensagens ao seu celular dizendo "oi, Lucy, há nuvens de chuva a caminho, melhor secar as roupas amanhã". A companhia está fingindo heroicamente que o Peggy permitirá que pais passem mais tempo com seus filhos. Isso não faz sentido algum, já que a principal coisa que separa pais e filhos não é pendurar roupas em dias de chuva, mas passar o dia inteiro olhando para o smartphone. Superficialmente mais promissores são os guarda-chuvas inteligentes e as carteiras inteligentes que impedem que seus donos as percam ao lembrá-los a cada vez que esses objetos estejam a uma distância superior à estipulada do smartphone. Isso parece terrivelmente incômodo —sempre que você deixar o guarda-chuva ao lado da porta da frente e decidir se acomodar no sofá, seu celular enviará um aviso de guarda-chuva fora de alcance. O mais desagradável de todos esses "avanços" é o absorvente higiênico inteligente. Trata-se de um absorvente higiênico comum afixado a um cabo que se conecta a um sensor preso à calcinha. A cada vez que o sensor determinar que é hora de trocar o absorvente, ele enviará um alerta ao seu celular. Não consigo imaginar por que uma pessoa desejaria ver seu corpo conectado dessa maneira e, de qualquer jeito, não há necessidade. As mulheres já dispõem de dois métodos de saber quando é hora de trocar de absorvente: olhar seus relógios ou ouvir o que dizem seus corpos. Quanto mais aprendo sobre a Internet das coisas, mais acredito que caímos em um planeta de faz de conta. Acabo de assistir a um vídeo bacana da NotiFly, uma "interface invisível de usuário", que informará quando sua braguilha está aberta. Eu juraria que o vídeo era piada. Mas os créditos no final mencionavam a consultoria Accenture Interactive, que não é conhecida por seu senso de humor. O estonteante crescimento da tecnologia inteligente é tanto fácil de compreender quanto um mistério. A oferta cada vez maior não é surpresa. Os fabricantes produzem essas coisas porque podem produzi-las. A tecnologia existe. É relativamente barata. E graças ao Kickstarter e outros recursos semelhantes, não há escassez de otários dispostos a financiar esse tipo de projeto. Já a demanda por esses produtos continua a ser um mistério. O fato de que pessoas estejam dispostas a pagar mais do que poderiam por não soluções para não problemas é a melhor prova da irracionalidade dos consumidores que o mercado produziu até o momento. Se desejamos engenhocas inteligentes como essas, devemos ser burros. E não só isso: a tecnologia inteligente está nos tornando mais burros. Não precisamos mais nos lembrar de fechar a braguilha, ou de olhar para o céu antes de pendurar roupas no varal, e se o nosso tema favorito de conversa é quem andou mais, caminhou mais ou contraiu mais a pélvis,
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nossos cérebros em breve terão necessidade muito maior de exercício do que os nossos músculos pélvicos. Tradução de PAULO MIGLIACCI
País deve soltar investimento contratado, diz Abdib Bruno Santos/Folhapress
Presidente-executivo da Associação Brasileira da Infraentrutura e Indústrias de Base (Abdib), Venilton Tadini FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, MARIA CRISTINA FRIAS 13/06/2016 às 03h 00
O país tem cerca de R$ 35 bilhões de investimentos em contratos de concessão já assinados que poderiam ser destravados no curto prazo –R$ 15 bilhões em até seis meses, segundo a Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base). Com as exportações, as concessões em infraestrutura são as apostas do governo para impulsionar o crescimento, gerar empregos e melhorar a competitividade do Brasil. "Mais do que novas concessões, deve-se cuidar do que já existe", diz Venilton Tadini, presidente-executivo da entidade que representa o setor da infraestrutura. A associação listou contratos vigentes que têm dificuldades. Em parte deles, há relutância das agências de tomar decisões, principalmente em concessões mais antigas, segundo Tadini. Em um primeiro grupo de obras, que totalizam R$ 15 bilhões e podem começar até seis meses após a assinatura dos aditivos, há concessões rodoviárias fechadas entre 1994 e 1998, com serviços extracontratuais.
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"Esses adicionais atendem demandas não previstas nos contratos originais, como passarelas e vias secundárias", afirma Tadini. As próprias concessionárias, que já entregaram projetos executivos e esperam resposta dos reguladores, fariam as obras, diz ele. Um segundo grupo, de rodovias e aeroportos licitados de 2012 a 2014, que somam R$ 20 bilhões e estavam no antigo PIL 1 (programa federal), têm entraves como licenciamento ambiental e dúvidas regulatórias, afirma. "Há ainda de destravar novas concessões com estudos prontos e potencial de investimento de mais R$ 24 milhões", acrescenta Tadini. MÃOS À OBRA Investimentos em contratos já existentes que podem ser destravados > R$ 15 bilhões em aditivos em contratos entre 1994 e 1998. Aportes adicionais em concessões rodoviárias podem atender demandas que não estavam previstas originalmente, #para ampliar capacidade de tráfego e segurança > R$ 20 bilhões em concessões entre 2012 e 2014. Contratos de empreendimentos em rodovias e aeroportos enfrentam entraves variados que provocam atrasos ou interrupção nos aportes > R$ 24 bilhões em lançamentos de novas concessões com estudos prontos.Estudos e projetos para a 2º edição do Programa de Investimento em Logística já foram enviados após chamamento público de empresas privadas Associação sugere emissão de títulos lastreados em dívidas com a União Diante da dificuldade do governo de equacionar o quadro fiscal e a necessidade de o país investir em infraestrutura, a Abdib defende a securitização da dívida tributária parcelada com a União. Trata-se de emissão de títulos de dívida (debêntures) lastreados em recebíveis de fluxo financeiro desses débitos. Do total do estoque da dívida pública da União (R$ 1,5 trilhões), cerca de R$ 90 bilhões já estão parcelados. Descontados 67% dos repasses para Estados e municípios, sobram R$ 60 bilhões para a União. Aproximadamente R$ 35 bilhões são de empresas devedoras com bom rating, diz Venilton Tadini, presidente-executivo da Abdib. A União faria uma cessão dos fluxos da dívida tributária para uma securitizadora. "Os R$ 30 bilhões de debêntures subordinadas da União servirão de lastro do Fundo Garantidor de Infraestrutura e ou do Fundo Garantidor de Parcerias Público-Privadas", afirma. "O Estado simplesmente troca títulos por dinheiro imediato. Não é uma operação de crédito, nem de antecipação de receita do orçamento." Como forma de viabilizar a proposta de securitização, o executivo cita o projeto de lei no Senado (PLS 204/2016), de José Serra, atual ministro das Relações Exteriores.
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A margem foi engolida A receita das franquias de hambúrgueres e sanduíches foi a mais alta do setor de alimentação no ano passado, segundo pesquisa da ABF (associação de franquias). Uma lanchonete faturou, em média, R$ 2,75 milhões. Os restaurantes de massas ficaram em segundo lugar, com R$ 2 milhões de receitas. "Redes de produtos com tíquete médio baixos tiveram resultados bem maiores no ano passado", diz João Baptista, coordenador da ABF. Novo e barato Novos pratos, mais baratos, impulsionaram o faturamento do Giraffas, rede que oferece hambúrgueres e também refeições brasileiras. "Não são necessariamente promoções, mas novidades que entram no cardápio com preço médio mais baixo, que têm margem compatível com os outros itens", diz o diretor-executivo Alexandre Guerra. Esses produtos representaram 20% de tudo o que foi vendido pela marca em 2015. Tanto entre as redes de hambúrgueres como as de comida brasileira, os aumentos de preços foram de cerca de 8% -portanto, abaixo da inflação do ano, de 10,67%, segundo o IPCA. No Giraffas, o desempenho deste ano é parecido com o de 2015, e não caiu a demanda de franqueados. 52
*Pratos cheios * As franquias de pizzarias e as de cardápio de apelo saudável foram as que tiveram maior aumento de faturamento no ano passado, mas, ainda assim, ambas ficaram aquém da inflação, com cerca de 6,8%. *Mesa vazia * Já as de doces, bolos e chocolates tiveram a maior queda de receitas, de 3,9% em termos nominais. Na média, franquias de alimentação tiveram perdas reais, pois a receita cresceu 1,6%, bem abaixo da inflação. Longe de casa Nove de cada dez empresários se sentem estressados em algum momento de suas viagens de negócios, segundo o site de turismo Booking.com. O maior incômodo são atrasos e cancelamentos de voos (47%), seguido pela diferença de fuso horário (35%), distância de parentes e amigos, e filas nos aeroportos (ambos com 34%). De oito nacionalidades ouvidas no levantamento, os franceses são os que se dizem menos estressados.
Crowdfunding para financiar a política FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, RONALDO LEMOS 13/06/2016 às 02h 00
Em setembro de 2015 o Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucionais as doações empresariais para campanhas políticas. A essa altura já ficou suficientemente claro como essa decisão foi acertada, já que a democracia brasileira tornou-se refém desse tipo de doação. No entanto, o STF criou um problema que precisa ser resolvido. É preciso reinventar a forma como as doações de pessoas físicas podem acontecer. Pela lei eleitoral, indivíduos podem doar até 10% dos seus rendimentos anuais. No entanto, o mecanismo para isso acontecer no Brasil é arcaico e engessado. Pode ser facilmente aperfeiçoado em face da realidade tecnológica atual. Um caminho óbvio para isso é permitir o crowdfunding (financiamento coletivo) para campanhas eleitorais. Esse modelo já se mostrou bem-sucedido. Foi essencial para as campanhas presidenciais de 2008 e 2012 nos EUA. Nesta última, Barack Obama levantou US$ 118 milhões dessa forma. Desse valor, 72% corresponderam a doações individuais de menos de US$ 1.000; 48% vieram de doações de US$ 200 ou menos. Seu adversário Mitt Romney também levantou US$ 60 milhões pelo mesmo modelo. A grande vantagem do crowdfunding é que ele funciona por meio da construção de comunidades. É uma ferramenta que ajuda a unir pessoas em torno de causas. O dinheiro é consequência disso. Inverte, assim, a ordem tradicional. No modelo das doações empresariais, o poder do dinheiro cria falsas mobilizações de cima para baixo. Pilantras são artificialmente projetados pela força do dinheiro na campanha eleitoral –mesmo sem possuir base real na sociedade– e acabam eleitos. Isso explica muitos dos tipos que desfilaram em rede nacional na votação do impeachment na Câmara dos Deputados.
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No crowdfunding essa lógica se inverte. Grupos de pessoas se unem em torno de uma causa, um candidato ou um partido. O dinheiro arrecadado é o resultado dessa mobilização prévia. Quanto mais gente se mobiliza e se sente representado por uma causa, mais força financeira terá o candidato que a representa. O próprio processo de arrecadação converte-se em construção política legítima. Por isso, para o crowdfunding decolar, é essencial permitir não só a realização de doações de pessoas físicas, mas também a livre mobilização pela internet em torno delas, antes e durante o período eleitoral. Como acontece nos EUA. Foi preciso um cataclismo como a Lava Jato para deixar claro como certas estruturas que movimentam a democracia no Brasil –as doações empresariais, por exemplo eram essencialmente antidemocráticas. O crowdfunding é um bom primeiro passo para "democratizar" as engrenagens do sistema político. É uma ferramenta simples, transparente e capaz de produzir impacto positivo imediato. Sua adoção já para as eleições de 2016 seria uma resposta construtiva e inovadora a emergir deste momento sombrio do país. READER JÁ ERA Sequestrar a democracia por meio de doações empresariais JÁ É Fomentar doações de pessoas físicas organizadas por meio de crowdfunding JÁ VEM Usar blockchain como ferramenta de transparência e responsabilidade eleitoral
Grátis! Irresistível atração FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, MÁRCIA DESSEN 13/06/2016 às 02h 00
Não é segredo que ganhar alguma coisa é muito bom. Irresistível nos depararmos com uma oferta de custo zero, de graça! Na mesma hora um botão emocional é acionado e, irracionalmente empolgados, lá vamos nós recolher os presentes que nos são oferecidos mesmo quando não queremos, não precisamos e não temos a menor ideia do que faremos com aquilo. Você já comprou em dobro um produto que não teria escolhido só para ganhar o terceiro? Participando de um congresso, já pegou canetas, chaveiros e bloquinhos para jogar fora em seguida ou acumular em casa para descartar mais tarde? Já entrou em uma fila para ganhar um vale para café, mesmo não gostando de café? E as camisetas promocionais? O ursinho de pelúcia que veio com a caixa de bombons? As implicações do "Grátis!" não dizem respeito apenas a descontos ou promoções, mas nos ajudam a tomar decisões aparentemente vantajosas para nós e para a sociedade. Muitas vezes é perfeitamente sensato escolher um produto grátis. Se você encontrar meias esportivas gratuitas, por exemplo, não há desvantagem nenhuma em pegar quantas puder. Tudo muda quando o grátis se torna um dilema entre o objeto gratuito e outro objeto, dilema em que a presença do grátis nos induz a tomar uma decisão ruim. Suponha que você foi a uma loja de artigos esportivos comprar uma meia, especial para caminhadas e corridas, com reforço nos calcanhares e dedos. Poucos minutos depois, sai da 54
loja com um par mais barato, sem as características e qualidade desejadas, porém acompanhada de um segundo par gratuito! Você acaba de ser enganado pelo "Grátis!" e comprou um produto que não queria. O lojista, ciente dessa atração irresistível pelo gratuito, aproveita para montar uma promoção e desovar o estoque encalhado de meias de baixa qualidade. O que há de tão sedutor no que é grátis? Por que sentimos essa necessidade irracional de pular sobre uma oferta gratuita mesmo quando não é o que queremos? A maioria das transações tem aspectos positivos e negativos. Mas, quando algo é grátis, esquecemos o negativo. Não existe possibilidade visível de perda ou arrependimento quando alguma coisa é grátis. Afinal, não pagamos por ela! Comprar algo de graça é contraditório. Vamos a outro exemplo de como caímos com frequência em ciladas de comprar algo que você não quer por causa dessa substância pegajosa, o grátis. Uma grande marca de eletrônicos oferece sete DVDs grátis na compra de um novo aparelho de DVD de alta definição. Preciso de um aparelho de alta definição? Provavelmente não. Se precisar, não faz mais sentido esperar o preço baixar? Ele sempre cai, o aparelho de alta definição será rapidamente substituído por um produto de tecnologia mais avançada e o preço pode cair pela metade. O sistema de DVD usado por essa empresa está em concorrência predatória com outro sistema que tem o respaldo de muitos fabricantes e pode ficar obsoleto. São ideias racionais que podem impedir que sejamos rendidos pelo encanto do grátis. Mas, puxa, sete DVDs grátis parece tão bom! Escolha rápido: um vale-presente de $10 gratuito ou um vale-presente de $20 por $7? Se você agarrou o vale-presente grátis, agiu como a maioria das pessoas testadas em uma experiência acadêmica. Mas olhe novamente, o vale-presente de $20 por $7 proporciona um lucro de $13, claramente mais vantajoso do que ganhar um vale-presente de $10. Para reforçar o comportamento irracional, a experiência foi refeita com a oferta do valepresente de $10 por $1 e o vale-presente de $20 por $8, aumento de $1 no preço dos dois produtos. Dessa vez, a maioria escolheu rapidamente o vale-presente de $20. Os estrategistas das áreas de marketing sabem que o grátis é um trunfo nas mãos, uma arma poderosa para atrair o consumidor. Nós, consumidores, precisamos ficar alertas para decifrar o que há por detrás dessa oferta tentadora antes de cairmos de boca nela.
Redes sociais Hoje a nova ágora da rede engloba participantes de todas as culturas e lugares do globo
Fonte Demi Getschko * - Jornal O Estado de S. Paulo 13/06/2016 às 03h 000
Não foi a internet que inventou as redes sociais – elas sempre existiram, desde o momento em que houve comunidades – mas a internet deu a elas um poder e uma abrangência nunca vistos. Se, na velha Atenas, os cidadãos se reuniam na ágora para debater seus problemas e 55
tomar decisões, hoje a nova ágora da rede engloba participantes de todas as culturas e lugares do globo, cada um com as próprias e diferentes perspectivas e formações. E nessas “e-ágoras” ressaltam-se todas as características humanas, como o engajamento automático e imbuído de emoções intensas, que vão do apoio à oposição, do aplauso à raiva, da solidariedade ao preconceito. É certamente um ambiente libertário, revolucionário e poderoso, mas também preocupante. A pressa em tomar posição e expor o que pensamos, aliada à superficialidade da velocidade e da pouca precisão dos dados que nos chegam, faz com que o alinhamento se consiga rapidamente, mesmo que sem ter certeza do que buscamos. É o efeito de “grupo”, que nos fez tomar parte da manada. Chesterton, numa alegoria feita há mais de cem anos, descreveu uma “rede social” pequena e local mas que, prodigiosamente, lembra o que temos hoje, em escala muito aumentada, na rede. Transcrevo aproximadamente o caso do “monge e do lampião de gás”: “Imaginemos que, de repente, inicie-se uma grande discussão sobre um tema atual como, por exemplo, o do uso de gás na iluminação pública. Diversos oradores que se opõem ao uso do gás, reunidos sob um lampião, enfaticamente, passam a defender a derrubada daquele símbolo que representa o assunto em discussão. Um monge de uma ordem medieval, daquelas metódicas e minuciosas, propõe que se discuta previamente, a utilidade da luz em si. Claro que os manifestantes não têm nenhuma paciência com o monge e o despacham da discussão, além de, em minutos, colocar abaixo, o próprio poste. Todos se congratulam pela eficiência moderna e nada medieval com que lograram o resultado. Com o tempo, porém, as coisas não vão tão bem assim... Vários dos que derrubaram o poste queriam “luz elétrica” em seu lugar, outros apenas queriam apossar-se do ferro do poste, alguns poucos o fizeram por preferir a escuridão, que serviria melhor aos próprios objetivos obscuros. Alguns se interessavam pouco pelo poste em si, enquanto outros se interessavam muito. Alguns eram contra o poste, por ser ele propriedade municipal e a isso se opunham. Outros apenas queriam aproveitar a oportunidade para destruir alguma coisa. Lenta e inexoravelmente, passaram a perceber que quem estivera certo, afinal, era o monge, e que tudo deveria, antes, passar pela discussão sobre a luz em si. Mas o que poderia ter sido discutido sob o lampião de gás, agora teria que ser discutido no escuro...” Se, por um lado, é alvissareira a abertura e a amplitude de expressão que a internet trouxe a todos, por outro preocupa muito o risco de a utilizarmos de forma impensada, “justiçando”, rapidamente e sem distinção, inocentes e culpados. Com o tempo e passada a euforia, acostumados todos ao novo ambiente, deve voltar à moda a análise mais detalhada, a morigeração, a contenção. Há de decantar o ruído que temos hoje e a rede será límpida! * É ENGENHEIRO ELETRICISTA; ESCREVE QUINZENALMENTE
Entre esperanças e resultados Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, Jorge J. Okubaro* Opinião Economia, 13 Junho 2016 às 07h 58
O primeiro mês do governo interino chefiado por Michel Temer mostrou um abismo entre as expectativas de milhões de brasileiros que viam no afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República o início imediato de um período de esperanças e os resultados até agora alcançados. Reconheça-se que o pouco tempo transcorrido não permitiu a elaboração e proposição de soluções para os mais graves entre os imensos problemas que se criaram e se tornaram agudos no governo Dilma. Ademais, Michel Temer ocupa o cargo em caráter temporário, numa interinidade que lhe tolhe de alguma maneira o poder de decidir e implementar suas decisões e que persistirá enquanto o Senado não terminar o julgamento do 56
processo de impeachment da presidente afastada. A despeito dessas atenuantes, no entanto, era legítimo esperar que Temer errasse menos, sobretudo no terreno da política, que ele decerto conhece bem melhor do que aquela a quem substitui no momento – e, pelas indicações disponíveis, substituirá até o fim do atual mandato presidencial. Causou certa estranheza o anúncio de seu Ministério com a participação de políticos investigados na Operação Lava Jato. Era, supunha-se com condescendência, o preço da constituição, no Congresso, da base de apoio indispensável para a aprovação de propostas essenciais destinadas a recolocar a economia do País de volta aos trilhos, sobretudo no campo fiscal, devastado pela irresponsável utilização do dinheiro público durante o governo da presidente afastada. Esperavam-se também do novo governo iniciativas capazes de afastar da administração pública práticas ilegais e a corrupção que se entranharam em diferentes áreas da máquina do Estado – afinal, não era esse o clamor das ruas? Cercar-se de políticos com histórico como esse resultou em problemas para o presidente em exercício. A divulgação de gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado com importantes figuras do PMDB provocou a demissão de dois integrantes do governo Temer, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) do Ministério do Planejamento e Fabiano Silveira do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle. A composição e a estruturação do Ministério causaram outros problemas para Temer. Pressões variadas levaram-no a recriar o Ministério da Cultura, que, na primeira versão de sua equipe, tinha sido incorporado pelo Ministério da Educação. Criticado por não incluir nenhuma mulher entre seus ministros, Temer nomeou para a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres a ex-deputada federal Fátima Pelaes (PMDB-AP), que já havia se manifestado contra a descriminalização do aborto e fora citada em relatório da Procuradoria-Geral da República por suspeita de envolvimento em esquema de desvio de verbas públicas. A aprovação, sem dificuldades, de duas propostas necessárias para começar a pôr em ordem as finanças do governo federal – a revisão da meta do resultado primário para 2016, agora com previsão de déficit de R$ 170,5 bilhões; e a prorrogação da Desvinculação das Receitas da União (DRU) até 2023 e sua ampliação para até 30% das receitas (a proposta ainda precisa ser votada pelo Senado) – sugeria uma relação menos tensa, tranquila até, do governo interino com o Congresso, o que, por índole, arrogância e incompetência política, a presidente afastada jamais alcançara. A fragilidade natural decorrente da interinidade, porém, está sendo habilmente explorada pelo mesmo grupo que, ao constatar a corrosão da credibilidade da presidente afastada que antes apoiara, criou as condições para o início do processo de seu impeachment e vê agora aberto o caminho para extrair vantagens de um governo que julga ter tornado viável e do qual, por isso, pode desfrutar. É esse, lamentavelmente, o ambiente político pelo qual têm de navegar os interesses nacionais, por isso mesmo muito poucas vezes privilegiados em relação aos interesses pessoais dos que compõem tal mundo. Não se podia, sensatamente, esperar que o afastamento de uma presidente coberta de acusações de incompetência, irresponsabilidade e, agora, de prática de atos ilícitos na obtenção de dinheiro para sua campanha eleitoral resultasse, por si só, na súbita instituição da ética como padrão de comportamento do meio político. Nem se podia exigir de um presidente ainda interino que pusesse fim, em tão pouco tempo, a práticas arraigadas. Mas não era preciso que o presidente em exercício se rendesse tão fácil e rapidamente às exigências dos políticos, cujas carreiras, como regra, são marcadas pela obtenção de benesses em troca de apoios pontuais. Sua concordância tácita com a aprovação de projetos que elevam os vencimentos de diversas carreiras do setor público, em particular do Poder Judiciário, e aumentam os gastos federais em R$ 56 bilhões até 2018, agradou a boa parte de sua base no Congresso, mas ignorou o drama de mais de 11 milhões de brasileiros que, desempregados, não têm renda nenhuma. Num período de grave crise fiscal, que acabará impondo ônus aos contribuintes, cujo rendimento real está sendo corroído pela crise, medidas como essas soam como desrespeito. 57
De que adianta cortar gastos, sacrificando inclusive programas de grande importância para a sociedade e buscar fontes alternativas de recursos – mais impostos –, se de outro lado se aprovam aumentos para categorias que, em geral, estão protegidas do risco de desemprego e, em média, vêm obtendo ganhos reais consecutivos mesmo na crise? Pesquisas de opinião pública indicam que, embora seja pequena a porcentagem da população que declara apoio ao governo Temer, há uma grande fatia que o considera regular ou se diz indiferente a ele. É possível a conquista do apoio dessa fatia pelo governo Temer, o que lhe facilitaria a tarefa de negociar com decência no Congresso as medidas urgentes e necessárias para recolocar de pé um país atolado na crise. Mas, para isso, é indispensável que comece a agir – com presteza e correção. *JORNALISTA, É AUTOR DE O SÚDITO (BANZAI, MASSATERU!), ED. TERCEIRO NOME
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