Sร NTESE DE JORNAIS E REVISTAS
16 รก 18 DE JULHO DE 2016
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Tentativa de golpe aumenta incerteza sobre economia turca Lira, moeda local, despencou 5% na sexta-feira, maior queda desde 2008 FONTE JORNAL O GLOBO, 16/07/2016 ÀS 16H 46
Manifestantes pró-governo em Istambul: instabilidade política preocupa analistas - Emrah Gurel / AP
LONDRES E NOVA YORK - A tentativa de golpe que abalou o delicado cenário político na Turquia também gerou reflexos para a economia do país. A reação de investidores às primeiras notícias de mobilização de militares, no fim da tarde de sexta-feira, foi rápida. A lira turca, que tinha dia de estabilidade, despencou 5% a maior queda desde 2008. Segundo analistas ouvidos pela imprensa internacional, não se trata de pânico passageiro, mas sim um sinal de crescente incerteza em relação à economia turca, altamente dependente de fluxo de capital externo de curto prazo. Reportagem do jornal britânico "Financial Times" destaca que uma fuga da capital duradoura seria nociva para o país em várias frentes. O mais imediato seria o potencial efeito inflacionário, devido à moeda mais fraca. O mais preocupante, no entanto, é o volume de investimentos, que podem afetar diretamente a capacidade de crescimento do país. A nova onda de incerteza, causada não só pela tentativa de golpe, como também pelos recentes ataques terroristas, ocorre em um cenário de perda de confiança dos investidores. As projeções para o crescimento da Turquia deste ano estão entre 3% e 4%, contra um avanço do PIB de 4,5% em 2015. Veja também:
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— O desafio para a Turquia, e o governo esqueceu disso, é a necessidade de aumentar a produtividade. Sem investimento de longo prazo em educação... Ou uma economia baseada em exportação, você se condena a um crescimento econômico mais lento avalia Gultekin. Neil Shearing, economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, destaca que a situação se agrava diante da alta necessidade de financiamento turca, após um boom de crédito: “Um período prolongado de instabilidade política poderia desencadear uma séria baixa na economia”, escreveu Shearing em relatório, segundo a Bloomberg. A instabilidade política traz consequências para um dos principais setores da economia turca: o turismo. Segundo dados do governo citados pelo “FT”, o fluxo de turistas para o país já caiu 23% em maio, frente ao ano anterior. A sequência de ataques terroristas, a proximidade com a Síria e, agora, a tentativa de golpe, agravam a situação. Mais uma razão para que a capacidade de crescimento do país seja colocada em xeque. — Da perspectiva de investidor, a Turquia parece cada vez mais um caso perdido — resume Dami Rodrik, economista turco da Universidade de Harvard. IMPACTO MENOR QUE BREXIT A avaliação sobre o quão duradouro será o impacto econômico da crise política turca, no entanto, ainda é incerto. Alguns analistas destacam que é cedo para prever se os desdobramentos serão tão graves. — Não acho que isso (a tentativa de golpe) resultará em uma grande mudança de avaliação de risco nos mercados globais. Claramente, há um foco nessa parte do mundo em relação ao que está ocorrendo na Síria, mas não acho que é outro choque para os mercados como foi o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia). Considerando a história, é um evento muito menor ponderou Jeffrey Kleintop, estrategista global da Charles Schwap, em entrevista à Bloomberg.
Alta da desigualdade no Reino Unido influenciou voto pelo Brexit Analistas citam queda na renda do trabalho e políticas de austeridade FONTE JORNAL O GLOBO, LUCIANNE CARNEIRO 16/07/2016 ÀS 12H 36
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Pedestres caminham em frente ao Banco da Inglaterra, em Londres - NIKLAS HALLE'N / AFP
RIO - O baixo crescimento da renda em anos recentes e a elevada desigualdade do Reino Unido — quando se considera o padrão de países avançados — podem ser alguns dos motivos por trás do resultado do referendo que decidiu pela saída da União Europeia (UE), apontam especialistas. Um relatório recente do governo mostrou que, somente em 2014/2015, a média da renda se recuperou e ficou acima do nível de 2008. A desigualdade de renda, que é uma das maiores entre as nações avançadas, se mantém no mesmo nível nas últimas duas décadas, após uma forte expansão nos anos 80. Especialista em estudos de desigualdade, o professor da London School of Economics (LSE) Stephen Jenkins afirma que, quando se consideram os dados que levam em conta a renda dos mais ricos — usados por Thomas Piketty em “O capital no século XXI” —, a desigualdade vem se agravando no Reino Unido e teve influência no chamado Brexit. Outros estudiosos concordam com essa avaliação, destacando principalmente as diferenças entre a capital Londres, com mais oportunidades, e as demais regiões. Há quem argumente, no entanto, que não há elementos para confirmar essa relação. — O referendo foi um grito de angústia, não um voto contra a União Europeia. Na minha visão, a desigualdade está aumentando. Não só a desigualdade de renda, mas uma manifestação ampla de desigualdades em várias dimensões, como os contratos de curto prazo e os empregos de baixa qualidade — diz Jenkins. Mesma avaliação do grupo The Equality Trust, que defende políticas de redução de desigualdade. Para eles, o referendo foi além da migração. — Não se pode ter uma sociedade coesa de Ferraris e bancos de alimentos. O voto do Brexit não foi apenas sobre desigualdade econômica, mas ela desempenhou um grande papel. Há uma clara correlação entre as regiões com menor renda, que se sentem sem oportunidades, e os votos pela saída — afirma John Hood, diretor de comunicação do Equality Trust. Dados do governo mostram que a renda semanal das famílias entre abril de 2014 e março de 2015 ficou em £ 473 (R$ 2.040), atingindo assim um nível maior que antes da crise financeira internacional. Para o professor da UFRJ Luiz Carlos Prado, a sensação de insegurança econômica pode ter contribuído para o Brexit: — Apesar da participação grande do Estado na renda das famílias, com políticas de bem-estar social, o salário é fundamental para as famílias terem uma renda melhor. Um sentimento de insegurança pode ter afetado os trabalhadores. Prado cita ainda a transição da economia britânica, de um peso maior da indústria para a maior participação dos serviços de tecnologia, concentrados em Londres. Segundo ele, as diferenças regionais aparecem, assim, de forma mais intensa. LONDRES, MAIS DESIGUAL Mais cauteloso, o economista do Instituto para Estudos Fiscais (IFS, na sigla em inglês) Jonathan Cribb ressalta que cresceu o número de pessoas no mercado de trabalho, mas que a renda caiu. Ainda assim, diz, não há evidências que comprovem a relação entre a deterioração 4
econômica e o voto pelo Brexit. Para reforçar seu argumento, ele aponta o fato de Londres, com uma das maiores desigualdades de renda do país, ter votado por ficar na UE. Cribb admite, porém, que a queda da renda pode ter criado “um sentimento de frustração”. Diante das políticas de austeridade adotadas no Reino Unido, Jenkins diz não estar otimista: — Os cortes implementados pelo governo vêm afetando mais os pobres do que os ricos. As perspectivas de redução da desigualdade são muito pequenas. O Reino Unido está criando o Crédito Universal, que vai substituir outros seis benefícios, como seguro-desemprego e auxílio-moradia. Para John Hood, isso afetará ainda mais a renda dos mais pobres: — Estudos mostram que a política de governo prevista no Orçamento deve representar aumento da desigualdade, se os demais fatores permanecerem iguais.
Pela sexta vez seguida, BMG ocupa topo de ranking de reclamações Índice de queixas para cada um milhão de clientes ficou em 45,96 FONTE JORNAL O GLOBO, MANOEL VENTURA* 15/07/2016 ÀS 20H 38
BMG tem grande carteira de operações de crédito consignado - Agência O Globo
BRASÍLIA — Pelo sexto mês seguido, o banco BMG liderou o ranking de reclamações contra instituições financeiras elaborado pelo Banco Central (BC) e divulgado nesta sexta-feira. Em junho, o índice de queixas para cada um milhão de clientes ficou em 45,96. No total, o banco, com grande fatia do mercado de crédito consignado e que tem 2,6 milhões de clientes, foi alvo de 120 reclamações consideradas procedentes pela autoridade monetária. Em seguida, vem o banco Pan, que teve índice de 37,92, registrou 78 queixas procedentes e tem 2 milhões de correntistas. A lista do BC segue com o Itaú em terceiro lugar, com índice 5
9,45, sendo 572 reclamações para 60 milhões de clientes. Na quarta posição ficou o Banrisul, com 8,56 pontos e 34 reclamações para 3,9 milhões de usuários. O quinto pior resultado foi para o Bradesco, que sofreu 621 queixas para 78,2 milhões de clientes, resultando num índice de 7,83. O levantamento do BC mostrou ainda que os clientes bancários registraram 2.792 reclamações contra as instituições financeiras em junho. A principal reclamação envolve a oferta ou prestação de informação a respeito de produtos e serviços de forma inadequada. Em segundo lugar, ficaram as reclamações relacionadas a integridade, confiabilidade, segurança, sigilo ou legitimidade das operações e serviços relacionados a cartões de crédito. Por meio de nota, o BMG comentou que o BC promove a comparação de instituições financeiras com realidades distintas. E informou que o número de reclamações é muito inferior quando comparado às reclamações procedentes dos demais bancos que ocupam as colocações inferiores do ranking. “O BMG destaca que trabalha com transparência, respeito aos clientes e em acordo com a legislação vigente”. O Pan informou que todas as demandas dos clientes são tratadas visando a obter constantes melhorias nos processos e que vai continuar com os esforços para reduzir as reclamações. A instituição comentou que a comparação atual feita pelo BC é realizada entre instituições com atuações distintas. O Itaú informou que todas as manifestações levadas ao Banco Central são alvo de “profunda análise e atenção do banco” e que tem como propósito resolvê-las junto aos clientes. Também por meio de nota, o Bradesco informou que melhorou sua posição no ranking do BC e que isso “reflete as ações que vem sendo tomadas visando o constante aperfeiçoamento na qualidade de atendimento” aos clientes. Procurado, o Banrisul não se manifestou. *Estagiário, sob supervisão de Eliane Oliveira
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Gafes rotineiras no trabalho podem prejudicar carreira E-mails errados e exagero na bebida em festas da firma estão entre os erros FONTE JORNAL O GLOBO EDUARDO VANINI 17/07/2016 ÀS 04H 30
Festa com amigos de trabalho não é lugar para exagerar na bebida - Editoria de Arte
RIO - Você provavelmente já cometeu uma gafe no trabalho, da qual dá boas risadas quando se recorda. Mas a verdade é que, quando as trapalhadas são recorrentes, é hora de acionar o bom-senso. Situações do tipo são quase sempre evitáveis e podem virar uma mancha no currículo, caso se transformem em rotina. Veja também:
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— Chegar atrasado numa reunião é uma gafe. Mas, quando é um comportamento recorrente, cria uma percepção negativa nas pessoas. Da mesma maneira, um comentário descabido pode ser engraçado na primeira vez. Porém, se repetido, o funcionário vira uma pessoa inoportuna — ilustra o diretor-executivo da Michael Page, Roberto Picino. A melhor receita para evitar esses embaraços continua sendo pensar bem antes de agir. Isso se aplica muito bem no momento de clicar em “enviar”, para mandar um e-mail. Checar destinatários e conteúdo nunca é demais. Já falar de alguém da empresa por escrito — seja por qualquer canal de comunicação — é algo que jamais deve ser feito. — Para que você vai deixar registrado por escrito que você falou mal de um colega de trabalho? — Alerta Silmara Santos Adad, consultora de comportamento e etiqueta corporativa e social. — As pessoas se esquecem que informação é poder, e podem ser usadas contra elas posteriormente. Afinal, todos estão no trabalho para defender seu espaço. 7
Esses conselhos de Silmara, pelo visto, nem passaram pela cabeça da coach Andréa Batista, de 34 anos, quando ela resolveu falar mal da chefe com as colegas por e-mail. — Estávamos eu e mais duas analistas de recursos humanos falando dela via e-mail, porque ela estava na sala. Mas, erroneamente, mandei uma mensagem para a própria gestora. Dei uma desculpa e fiz de desentendida. Só que, pelo contexto da conversa, ela entendeu que estava falando dela. Nunca tocamos neste assunto, e seguimos em frente — recorda-se. Por falar em meios eletrônicos, um território que tem se mostrado bastante arenoso é o aplicativo WhatsApp. Se você é daqueles que não resiste a um grupo, cuidado com seu comportamento ao mandar mensagens. — Grupos da empresa são para assuntos profissionais. Então, nada de ficar enviando “bom dia, grupo” todos os dias — recomenda Silmara. Falar do chefe ou mal da empresa, então, nem pensar. A hashtag “#prontofalei” é cabeça na forca. COMBINAÇÃO ARRISCADA Essa máxima aliás, se aplica muito bem para aquele happy hour inocente, depois do trabalho. Como aconselha Silmara, não exagerar na bebida é uma etiqueta básica, mas muita gente se esquece disso e acaba falando demais nesses encontros.
Nunca deixe de checar conteúdo e destinatários dos e-mails - Editoria de Arte
— É comum as pessoas resolverem abrir o coração e revelar suas intimidades e sentimentos, esquecendo do dia de amanhã — diz ela. Isso sem falar das consequências mais extremas que o álcool pode provocar. A assessora de imprensa de 31 anos, que também prefere não se identificar, conhece bem o resultado da combinação entre drinques em excesso e turma do trabalho. 8
— Estava na empresa há apenas seis meses e fui convidada para o aniversário do dono do escritório, na casa dele. Na festa, também estavam vários clientes. Me excedi na bebida, vomitei no sofá e precisei ser cuidada pela empregada da casa — conta ela, que conseguiu manter o emprego após o episódio. Escorregões no português também costumam ser gafes recorrentes. Mesmo com tantos corretores nas ferramentas digitais, uma desatenção pode resultar numa falha embaraçosa, como a do produtor cultural, de 32 anos, que acha mais prudente manter a identidade em segredo. — Precisei enviar e-mails para os alunos de uma oficina, fiz um texto padrão e, na correria, não revisei. Escrevi curso com “ç” e, só após enviar uns dez e-mails, percebi o erro. Fiquei na dúvida se mandava uma mensagem corrigindo a gafe, mas achei que chamaria mais atenção para o erro. O pior que ainda assinava com o nome de um amigo de trabalho — conta ele. A professora de Recursos Humanos e Gestão de Pessoas da ESPM-Rio, Valéria Lima, observa que as gafes acontecem porque as pessoas estão distraídas. Entender isso, portanto, é fundamental para reforçar o foco e evitá-las. — É como se a pessoa estivesse distante de seu eixo e da sua própria essência. Quanto mais a gente se mantém presente, menores são as chances de cometer erros evitáveis — recomenda a professora.
Revisão de texto também é importante para evitar erros - Editoria de Arte
Distração, aliás, é a melhor definição para o episódio vivenciado pela empresária Heliana Queiroz, de 45 anos. — Trabalhava como diagramadora em um jornal e precisava pegar uma foto no arquivo. Para isso, tinha que passar pela portaria e, como estava sem crachá, resolvi pular a catraca de 9
identificação. Fiz isso distraidamente, sem perceber que os chefes e o dono do jornal estavam reunidos bem diante de mim. Ao voltar, eles ainda estavam reunidos e, mais uma vez distraída, fiz a mesma coisa. Achei que fosse ser sumariamente demitida, mas “apenas” tomei uma boa bronca do chefe — diverte-se. ETIQUETA INTERNACIONAL Os especialistas lembram também que gafe é gafe em qualquer lugar do mundo. E se as empresas estão cada vez mais internacionais, é bom estar em dia com as diferenças culturais dos parceiros de trabalho. — Os ingleses são pontuais. Então, um atraso soa muito mais grave para eles. Enquanto isso, os americanos gostam de objetividade. Por isso, embromações não são bem vistas. Cada país tem suas particularidades, e isso merece ser respeitado — indica a professora da ESPM-Rio, Valéria Lima. — E ainda tem uma regra básica que muita gente esquece, que é respeitar os fusos horários na hora de fazer telefonemas e marcar reuniões. Como agir após uma trapalhada dessas costuma ser uma grande dúvida entre os autores das peripécias. Para Roberto Picini, da Michael Page, manter a naturalidade e admitir a falha é sempre a via mais segura: — Depois que o erro já foi cometido, o caminho é voltar para o eixo e agir com profissionalismo. Deixe claro que reconheceu a gafe e não a subestimou, mas virou a página. E, se você já é um bom profissional, isso fica mais fácil ainda. Afinal, quem não erra? Na hora de fugir das gafes, lembrar das redes sociais é fundamental. Afinal, não é à toa que já foi cunhado o termo “netiqueta” para tratar dos bons modos no ambiente virtual. Para a consultora Silmara Santos Adad, as pessoas ainda têm muita dificuldade em enxergar como o limite entre vida privada e profissional ficou mais tênue com as redes sociais.
A distração pode levar a gafes constrangedoras - Editoria de Arte
— Elas se esquecem de que precisam ter coerência na imagem que passam por essas plataformas. Não adianta ter uma boa página no LinkedIn e um Facebook cheio de fotos com copo de cerveja na mão — ilustra a especialista.
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Os cuidados se aplicam também ao que as pessoas curtem e publicam nessas páginas. Como lembra Silmara, compartilhar um conteúdo tem o peso de fazer dele as suas palavras. — Respeitar a opinião dos outros também é fundamental. As pessoas ficam muito preocupadas em se expressar, e acabam se esquecendo de que menos é mais nessas situações — conclui Silmara. A editora de texto, de 28 anos, que prefere não ter o nome revelado, quase se meteu em apuros por causa do mau uso de redes sociais. — Trabalhava na assessoria de uma universidade e postei que “é muito difícil lidar com gente indecisa”. Minha chefe direta viu e me deu um toque, já que ela sabia que eu estava reclamado de uma professora da instituição — conta ela, que aprendeu uma lição com o episódio. — Apaguei a postagem e, desde então, procurei não publicar mais nada sobre meu trabalho, nem ter chefe adicionado.
Na palafita, à espera do Minha Casa, Minha Vida Contemplados pelo programa vivem em barracos enquanto 50 mil moradias tiveram obras paralisadas Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, Murilo Rodrigues Alves (texto) Dida Sampaio (fotos) ENVIADOS ESPECIAIS A SÃO LUÍS (MA) 16 Julho 2016 às 16h 28 Leia também:
Em Zé Doca, o mato já tomou conta das casas Obra parada deixa prejuízos em Imperatriz
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Genieli Ferreira, moradora das palafitas no bairro São Francisco, na capital maranhense
É em uma palafita, com esgoto que corre a céu aberto e sem água potável, que a pescadora Genieli Ferreira, espera pela casa própria. Ela se inscreveu no Minha Casa Minha Vida antes de ter o filho Carlos Daniel, hoje com quatro anos. Foi contemplada no programa de habitação popular, mas ainda não recebeu as chaves do imóvel. Grávida de cinco meses, Genieli tem esperança de se mudar antes do segundo filho nascer. “Só quem mora aqui sabe o que é viver com o medo de o filho cair em uma dessas pontes ou da maré derrubar sua casa”, diz a pescadora, referindo-se a uma das passarelas para a passagem dos moradores. A água do mar apodrece as estacas de madeira que sustentam as casas e obriga a troca de seis em seis meses. No mês passado, Geniele chegou a visitar a casa que receberá do programa, mas não sabe quando terá as chaves em mãos. “Tudo parou.” De acordo com o Ministério das Cidades, existem atualmente 50,1 mil moradias do Minha Casa com obras paradas em todo o País. A de Genieli é uma delas. O ministro Bruno Araújo disse que o governo está retomando a construção de 4 mil a 5 mil casas por mês. Um quinto dessas moradias paradas está no Maranhão, Estado com o maior déficit habitacional relativo entre todas as unidades da Federação, 22,1%, enquanto a taxa nacional é de 9%. Em termos absolutos, o Estado tem carência de quase 400 mil moradias, segundo os dados mais atuais, de 2014. A reportagem do Estado visitou São Luís, Imperatriz e Zé Doca e encontrou canteiros de obras que se transformaram em verdadeiras “cidades-fantasma”, enquanto famílias que se inscreveram há mais de três anos para serem contempladas pelo programa aguardam a sua vez de realizar o sonho da casa própria. Desde o início, o Minha Casa teve o propósito de favorecer em maior escala as áreas com grande carência de moradia e contribuir para a redução do déficit habitacional do País. A interrupção das contratações e a paralisia das obras tendem a reverter a evolução favorável dos últimos anos. Minha Casa, Minha Vida “Para quem mora em palácio, é fácil dizer: ‘calma, sua casa um dia sai’”, diz a pescadora, que recebe R$ 112 do Bolsa Família. Da janela da palafita onde mora, ela consegue ver os três mil metros quadrados do Palácio dos Leões, residência oficial e sede administrativa do governo do 12
Maranhão. Da sacada do palácio, a visão é a síntese do contraste social da capital maranhense: atrás das palafitas, na Ponta do São Francisco, está localizado a Ponta d’Areia, região nobre de São Luís, onde estão os condomínios de luxo que têm o metro quadrado mais caro da capital. Segundo a prefeitura de São Luís, 11 mil casas foram entregues nos últimos três anos e meio e outras sete mil estão em construção. Uma das contempladas foi Josilene Pereira Coelho, que atualmente mora em um dos empreendimentos do programa, com o marido e duas filhas. A palafita dela, vizinha à de Genieli, foi colocada à venda, por R$ 1 mil. Subsídio. Sem dinheiro no caixa, o governo da presidente afastada Dilma Rousseff suspendeu definitivamente em 2015 as contratações de moradias da chamada faixa 1 do programa, a que contempla as famílias mais pobres, que ganham até R$ 1,8 mil por mês. Para esse público, o subsídio chegava a ser de 95% do valor imóvel. Além de não contratar novas casas, as construções pararam por causa dos atrasos do pagamento às construtoras. O ano passado foi o ano que teve o pior resultado de contratações do programa, desde que foi criado em 2009, ainda no governo Lula. Foto: Arte/Estadão
Nesses sete anos, o MCMV contratou mais de 4,3 milhões de moradias e entregou 2,8 milhões. O pico das contratações foi em 2013, um ano antes da campanha à reeleição, quando a maior parte das casas foi inaugurada. O custo do programa aos cofres públicos já ultrapassou os R$ 300 bilhões. Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos de construção da FGV, diz que um dos aspectos negativos do Minha Casa foi ele não ter sido transformado em uma política de Estado, que tornasse o programa perene, com fontes de recursos definidas. Ela acredita também que faltou inseri-lo num contexto mais amplo de desenvolvimento urbano, com mobilidade e infraestrutura. Para Ana Maria, é de se esperar que a interrupção do programa implique em uma “piora significativa” do déficit habitacional.
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Pelos números mais atuais, o déficit por moradia alcançou 6,1 milhões de famílias em 2014. O estudo “Perenidade dos programas habitacionais” da Fundação Getúlio Vargas mostra que, entre 2009 e 2012, período em que foram contratadas 56% das moradias do MCMV, o déficit habitacional registrou queda de 9,5%. O componente com maior redução foi a coabitação, ou seja, caiu o número de famílias que compartilham o mesmo imóvel por falta de condições de adquirir outra moradia. Déficit. Do total de 6,1 milhões, segundo Ana Maria, 62% das famílias têm renda familiar de R$ 1,6 mil (valor da renda máxima do faixa 1 nas duas primeiras etapas MCMV). Essas famílias, segundo ela, não conseguem se inserir no mercado de crédito tradicional e precisam de subsídios para adquirir uma moradia. Na comparação entre os números de 2009 e 2014, observa-se forte queda no número de domicílios rústicos, aqueles sem paredes de alvenaria ou madeira aparelhada, com risco de contaminação por doenças. Aumentou, porém, o peso excessivo do custo do aluguel nas grandes cidades, índice medido pelo número de famílias com renda de até três salários mínimos que gastam 30% ou mais de sua renda com aluguel. O déficit relativo – relação entre o déficit absoluto e o número de domicílios do País – caiu de 10,1% para 9,1% nesses cinco anos, o que reflete o crescimento expressivo da oferta habitacional. Entre 2009 e 2014, enquanto o número de famílias aumentou 17%, o total de domicílios adequados cresceu 21%. “Pior que fazer habitação distante e de má qualidade, é não fazer”, afirma Luiz Alberto de Campos, professor da Faculdade de Arquitetura da UnB. “A moradia digna se reflete na saúde, na segurança, na educação. Sem ela, o País não tem futuro”.
Incompleto, MCMV deixa de gerar R$ 70 bilhões Esse será o impacto no PIB, até 2018, provocado pela interrupção no programa habitacional do governo das faixas voltadas para os mais pobres Fonte Murilo Rodrigues Alves de BRASÍLIA, Jornal O Estado de S. Paulo 17 Julho 2016 às 21h 55
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Minha Casa, Minha Vida Com a suspensão das faixas que atendem os mais pobres, o Minha Casa Minha Vida (MCMV)vai deixar de gerar R$ 70 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) em três anos, até 2018. Desde que a terceira etapa do programa começou, em janeiro de 2016, a população que mais precisa ficou de fora. As contratações da faixa 1, que beneficia as famílias que ganham até R$ 1,8 mil, estão suspensas desde 2015 e não foram retomadas. A faixa 1,5 – que contemplaria famílias que ganham até R$ 2.350 por mês – sequer chegou a sair do papel. O Estado mostrou, na edição de domingo, que a suspensão de novas contratações e a paralisia das obras do programa atingem 6,1 milhões de famílias em todo o País, número estimado para os que precisam de moradia digna. O MCMV foi criado, em 2009, justamente para combater o déficit habitacional, mas a interrupção do programa deve reverter a tendência favorável dos últimos anos.
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Além do aspecto social de atendimento da demanda habitacional da população de baixa renda, a paralisia do programa tem efeito econômico. No caso do emprego, se o programa seguir sem as duas faixas vão deixar de ser geradas 1,3 milhão de vagas, das quais 660 mil diretamente nas obras e outras 682 mil ao longo da cadeia, segundo o estudo “Perenidade dos programas habitacionais”, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em momento de frustração de recursos para o cumprimento das metas fiscais, a descontinuidade dessas duas faixas também afetaria a arrecadação em R$ 19 bilhões nos três anos. Se o programa todo parasse (incluindo as faixas 2 e 3, direcionadas para famílias com renda de até R$ 3,6 mil e R$ 6,5 mil, respectivamente), o impacto total seria da ordem de R$ 145,7 bilhões ao longo do período das obras, estimado em três anos. Esse valor corresponderia a 2,5% do PIB. A meta do governo da presidente afastada Dilma Rousseff era contratar 2 milhões de moradias até 2018 – número que foi revisto de 3 milhões de unidades da promessa de campanha à reeleição. O ministro das Cidades, Bruno Araújo, disse que não assumiu a meta do governo anterior. Segundo ele, em 2016, devem ser contratadas 400 mil unidades das faixas 2 e 3. O ministro prometeu lançar a faixa 1,5 em agosto deste ano e contratar entre 40 mil e 50 mil unidades neste ano. As contratações da faixa 1, porém, só vão retornar quando as obras já contratadas forem concluídas. Obras. Com o MCMV, o setor da construção se transformou em um dos protagonistas da economia. No entanto, em 2015, o impacto do programa na geração de renda e emprego diminuiu com o fim de parte significativa das obras e o reduzido número de contratações. O PIB da construção registrou retração de 7,6% e o total de empregos com carteira assinada atingiu 2,9 milhões de trabalhadores, patamar semelhante ao do início de 2010. A projeção da FGV para o PIB da construção neste ano é de nova retração, da ordem de 5% ao ano. “As construtoras especializadas na faixa 1 estão encolhendo”, afirma José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção. Para ele, o programa não voltará a contratar no mesmo ritmo, dada à situação fiscal. A aposta dele é que a faixa 1,5 – prometida como a grande novidade do MCMV 3 e que não saiu do papel – consiga alavancar as contratações, com menos gastos para o governo, já que a faixa utiliza recursos do FGTS. As empresas desses empreendimentos que beneficiam os mais pobres – com subsídio de até 95% do valor do imóvel – precisam seguir exigências distintas do que é pedido nas outras faixas. As construtoras vendem ao governo federal um empreendimento completo, por meio dos bancos oficiais que fazem os pagamentos de acordo com a construção. Os beneficiários são escolhidos pelas prefeituras. Nas outras faixas, as construtoras usam recursos próprios ou outros tipos de financiamentos, seguindo as características e preços do programa.
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Otimismo com economia tem melhor patamar desde 2014, diz Datafolha FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, FERNANDO CANZIAN DE SÃO PAULO 16/07/2016 às 16h 06
As expectativas dos brasileiros sobre o futuro da economia do país e em relação à sua situação pessoal deram um salto nos últimos meses e atingiram o maior patamar desde dezembro de 2014. Segundo nova pesquisa Datafolha realizada nos dias 14 e 15 de julho, os brasileiros estão mais confiantes em relação à queda da inflação, à diminuição do risco de ficar desempregados e ao aumento do poder de compra. Na comparação com fevereiro, antes do início do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e da posse do governo interino do presidente Michel Temer (PMDB), o Índice Datafolha de Confiança (IDC) registrou melhora em cinco dos sete indicadores que compõem o índice geral. No conjunto, o IDC registrou 98 pontos, uma alta de 11 pontos em relação a fevereiro. Esta é a melhor pontuação desde o final de 2014, quando chegou a 121 pontos. Este foi o terceiro levantamento consecutivo em que o índice apresentou melhora. O maior salto, de 34 pontos entre fevereiro e agora, foi em relação à expectativa de avanço da situação econômica do país, que passou de 78 para 112 pontos. Em relação à perspectiva pessoal dos entrevistados, o aumento foi de 17 pontos, passando de 128 para 145. Pela metodologia do Datafolha, índices acima de 100 são considerados positivos e abaixo disso, negativos. RECESSÃO A melhora na percepção dos brasileiros em relação à economia no geral e à sua situação pessoal coincide com uma expectativa de agentes do mercado financeiro, do comércio e da indústria de que o pior da recessão possa estar ficando para trás. Nas últimas semanas também foram registradas quedas contínuas na cotação do dólar frente o real e valorização do índice Bovespa, principal termômetro do mercado de ações no país. A pesquisa mostra que os indicadores mais próximos do dia a dia dos brasileiros (relativos ao emprego, poder de compra e inflação) continuam no campo negativo (abaixo de 100 pontos). Mas todos apresentaram melhora na comparação com o levantamento realizado em fevereiro deste ano. No caso da inflação, a alta foi de 18 pontos (para 40). Em relação ao desemprego, de 17 (para 50). Já em relação ao poder de compra dos entrevistados, a variação foi de 10 pontos, passando a 54. 16
Depois de atingir 10,67% no ano passado, o mercado prevê uma variação de preços pouco superior a 7% em 2016, o que significará uma melhora no poder de compra dos consumidores. Mas, com exceção das boas notícias na inflação e do dólar em queda, o governo Temer ainda não produziu mudanças profundas na economia que justifiquem o otimismo dos brasileiros revelado na pesquisa. Para serem atacados, os grandes problemas macroeconômicos de fundo, como o insustentável aumento da dívida pública provocado por deficits fiscais crescentes, além do rombo na Previdência, ainda dependem de medidas impopulares a serem aprovadas no Congresso. E embora a pesquisa mostre algum otimismo em relação ao futuro do mercado de trabalho, a taxa de desemprego atingiu 11,2% no trimestre encerrado em maio e é provável que continue a subir mais nos próximos meses antes de começar a cair. BRASIL EM BAIXA Enquanto os indicadores econômicos melhoraram e alcançaram as pontuações mais altas desde dezembro de 2014, o Índice Datafolha de Confiança aponta que a avaliação dos entrevistados sobre o Brasil como lugar para se viver e o sentimento de orgulho de ser brasileiro foram os únicos indicadores que apresentaram quedas. Embora ainda se mantenham acima da média geral do índice (98 pontos), os dois indicadores desceram às pontuações mais baixas de toda a série histórica: 145 e 138, respectivamente. A pesquisa mostrou também que uma parcela de 32% dos brasileiros cita espontaneamente a corrupção como o principal problema do país. Na sequência aparecem a área da saúde (17%), desemprego (16%; índice mais alto desde março de 2009), violência e falta de segurança (6%) e educação (6%). Em dezembro de 2014, após a reeleição de Dilma, apenas 9% viam a corrupção como o principal problema.
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Brasil perde talentos para outros países
FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, ÉRICA FRAGA e MARIANA CARNEIRO DE SÃO PAULO 17/07/2016 às 02h 00
No início de 2015, a arquiteta Christiane Roy, 39, e seu marido, o engenheiro Gustavo Taglianetti, 40, se sentiam na corda bamba. Profissional liberal, ela começou a ver o volume de trabalho aumentar e os ganhos encolherem porque seus clientes queriam gastar menos, o que demandava extensas pesquisas de preços. Ele foi absorvendo tarefas dos colegas que eram demitidos na empresa para a qual trabalhava e vivia a ameaça constante de corte. "Nosso estresse aumentou muito", diz Roy. A crise econômica precipitou uma decisão que já consideravam tomar por causa da violência em São Paulo: mudar para o exterior. Em setembro do ano passado, o casal deixou o Brasil e foi viver em Toronto, no Canadá, com as duas filhas. Em dois meses, Taglianetti conseguiu uma vaga como engenheiro. Roy se dedica à adaptação das filhas, antes de tentar um emprego. Ela diz que a família perdeu um pouco o padrão de vida, não tem empregada, algo incomum no mundo desenvolvido. Mas acredita que ganharam em segurança e na qualidade da escola das filhas. Um número crescente de profissionais qualificados tem seguido a mesma trilha, o que se traduz em uma forte onda de emigração que ganhou velocidade com a recessão econômica no Brasil.
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SAÍDA No ano passado, 2.500 brasileiros obtiveram visto de imigração para os EUA, número superior aos 1.605 de 2014. O crescimento de 55% foi o décimo maior entre 138 países, segundo estatísticas do governo americano. O Reino Unido emitiu 945 permissões de trabalho para cidadãos do Brasil nos primeiros nove meses do ano passado, maior patamar desde 2006. O número de vistos para brasileiros entrarem no Japão (incluindo todas as categorias, como turismo, negócios e trabalho) retornou em 2015 ao patamar anterior a 2008 —ano em que o mundo rico entrou em crise e muitos brasileiros deixaram o país. A economia brasileira chegou a sentir os efeitos negativos, mas reemergiu com força em 2010, quando cresceu vigorosos 7,5%. A combinação atraiu brasileiros que viviam fora e estrangeiros. Não faltava emprego, e o mercado de trabalho disputava profissionais qualificados, que recebiam remuneração mais alta. O real forte e a crise externa tornavam esses salários ainda mais competitivos em relação aos pagos em outros países. Porém, uma combinação de gastos públicos excessivos, inflação alta e fraqueza da economia mundial fez o Brasil mergulhar, em 2014, em uma forte recessão que já dura dois anos. Embora economistas digam que o país está perto do fundo do poço, as consequências da talvez pior recessão da história republicana do país tendem a se estender por muitos anos. CLIMA DE OBA, OBA O caso da fuga de profissionais e empreendedores para o exterior ilustra bem essa questão. MARCAS DA CRISE Veja últimas notícias da série
Mesmo quem está empregado sonha em deixar o país Estrangeiros que vieram ao Brasil no auge viram trabalho minguar
O empresário Geraldo Rodrigues, 52, tinha vendido 70% de sua empresa de gerenciamento de carreiras esportivas e estava bem financeiramente na bonança. 19
Mas diz que viu semelhanças com este período e o que sucedeu a implantação do Plano Cruzado. "Comecei a sentir um clima de 'oba, oba'. A hiperinflação dos anos 1980 me quebrou e me deu uma úlcera. Não queria passar por isso de novo", conta Rodrigues, que se mudou para Miami, nos EUA, em 2009. Preferiu investir lá os recursos que angariou: comprou imóveis e começou um novo negócio, de equipamentos de audiovisual. No longo prazo, algumas consequências desse movimento migratório podem até ser positivas. Mas, até lá, os efeitos negativos predominam, e o balanço final, segundo especialistas, é de difícil mensuração. Se esses profissionais retornam ao país, trazem mais experiência e qualificação. Ex-aluno da Universidade da Califórnia (EUA), o sociólogo Simon Schwartzman, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e da Sociedade (Iets), concorda com a possibilidade. Mas ressalta que, no curto prazo, o efeito é negativo, e os ganhos futuros, incertos. "Estamos perdendo talentos, pessoas muito qualificadas, que podem voltar ou não porque muitas vezes, quando saem, também buscam melhor qualidade de vida, menos violência, melhor educação para os filhos." Para João Amaro, professor da FGV-SP e da Nova School of Business and Economics, em Portugal, o movimento é positivo no longo prazo. "É bom para o país que as pessoas saiam, cresçam profissionalmente e culturalmente, e depois voltem." Representações diplomáticas do Brasil nos EUA têm, desde 2015, relatado ao Itamaraty o desembarque, cada vez mais frequente, de famílias brasileiras no país. As estatísticas oficiais sobre esse fluxo mais recente só devem sair no fim do ano. SEM VOLTA Muitos dão sinais de que não pretendem voltar. A empresária carioca Vivian Mayrink Cirillo, 38, mudou-se com o marido e os três filhos para Weston, na Flórida, no início do ano passado. Ela diz que percebeu os efeitos da crise econômica no aumento da violência no Rio. Isso fez ela e o marido optarem por deixar o país. Nos EUA, ela diz que encontrou boas escolas e segurança. "Percebemos que chega uma família brasileira aqui por semana", diz ela, que manteve no Brasil sua empresa de gestão de marcas. "Não penso em voltar, não. Aqui temos tranquilidade e não me acostumaria a viver novamente no clima de eterna vigília e de medo que tínhamos no Rio."
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Incertezas regulatórias travam venda de ativos de gás natural da Petrobras
FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, NICOLA PAMPLONA DO RIO 17/07/2016 às 02h 00
Incertezas regulatórias vêm emperrando a venda de ativos da Petrobras no setor de gás natural. A empresa negocia hoje gasodutos, térmicas e terminais de importação de gás, mas os interessados aguardam a definição de temas como tarifas de transporte e livre acesso aos mercados para apresentar suas propostas. As negociações fazem parte do processo de desinvestimento da estatal, iniciado em 2015 com a meta de arrecadar US$ 15,1 bilhões. Até o momento, porém, foram concretizadas três operações, no valor de US$ 2,1 bilhões. Na semana passada, a empresa anunciou a prorrogação, por 30 dias, das negociações, iniciadas em maio, para a venda da malha de gasodutos do Sudeste para a canadense Brookfield. A Folha apurou que a definição de regras para tarifas de transporte do gás é um dos entraves para o fechamento do negócio. O tema vem sendo tratado com a ANP (Agência Nacional do Petróleo) e deve resultar na mudança da sistemática de tarifas.
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O objetivo é passar do valor único que se cobra hoje para um que considere a distância entre os pontos de entrada e de entrega do gás. Segundo uma fonte envolvida no processo, a definição tem impacto no valor de venda do ativo. Na área de gás, a Petrobras já iniciou também processo para a venda de dois pacotes que incluem terminais de importação de gás natural e usinas térmicas —um no Rio e outro no Ceará. Nesse caso, há dúvidas com relação à capacidade dos compradores para colocar o gás importado nos mercados consumidores, uma vez que a capacidade dos gasodutos brasileiros está tomada por contratos da estatal. CLAREZA O setor pede maior clareza com relação ao livre acesso aos gasodutos e transparência na divulgação do uso da capacidade dos dutos. Esta última questão também está na pauta da ANP, que estuda uma portaria para tratar do tema. Especialistas dizem que as dúvidas refletem a perspectiva de fim do monopólio natural no setor após a venda dos ativos. Até hoje, a Petrobras opera praticamente sozinha na cadeia do gás natural. Com a transferência dos ativos para outras empresas, a regulação terá de ser fortalecida para garantir a competição entre diversos agentes. Segundo projeção do banco Itaú BBA, a estatal poderia levantar até R$ 50,6 bilhões com a venda de gasodutos, terminais e todas as suas térmicas. Nem todos os ativos desses segmentos, porém, estão à venda neste momento. Em entrevista na quinta-feira (14), o presidente da Petrobras, Pedro Parente, admitiu que o processo de venda de ativos está mais devagar do que o esperado. NEGOCIAÇÕES INICIADAS BR Distribuidora Estatal analisa três propostas para venda direta de participação Gasodutos Negociações com a Brookfield para a malha do Sudeste foram prorrogadas Térmicas e terminais de gás natural Investidores cobram regulação que permita acesso ao mercado de gás Campos de petróleo Venda de campos de águas profundas e no pré-sal travaram à espera de melhora da economia e de mudanças regulatórias
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OPERAÇÕES CONCLUÍDAS Gaspetro Venda de 49% à japonesa Mitsui concluída em dezembro, por US$ 700 mi Petrobras Argentina Venda de sua fatia à Pampa Energia concluída em maio, por US$ 892 milhões Petrobras Chile Venda ao Southern Cross Group concluída em maio, por US$ 490 milhões EM AVALIAÇÃO Fertilizantes Conversas com possíveis interessados na fábrica de fertilizantes de Três Lagoas
Antes do primeiro Copom de Ilan, mercado mantém projeção dos juros em 13,25% No câmbio, mesmo com as sucessivas intervenções do BC, relatório Focus volta a mostrar queda das estimativas para o dólar deste e do próximo ano
Fonte Célia Froufe, Jornal O Estado de S. Paulo 18 Julho 2016 às 10h 02
Notícias relacionadas: Prejuízo do Petros com investimentos em empresas chega a R$ 6,7 bilhões Vender ativos do BNDES está mais difícil
BRASÍLIA - Em semana de estreia da nova cúpula do Banco Central na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) sob o comando de Ilan Goldfajn, o Relatório de Mercado Focus trouxe estabilidade em praticamente todos os itens revisados semanalmente pelo mercado financeiro. A Selic para 2016 continuou em 13,25% ao ano como na semana passada (estava em 13,00% um mês atrás) e a para 2017 prosseguiu em 11,00% ao ano pela terceira semana consecutiva. Quatro edições atrás da pesquisa Focus estava em 11,25% a.a. Ainda de acordo com o documento, a mediana para a inflação de 2017 saiu de 5,40% para 5,30%. Há um mês estava em 5,50%. Para o IPCA deste ano, as estimativas ficaram congeladas. A mediana para 2016 ficou estacionada em 7,26% de uma semana para outra - a taxa estava em 7,25% quatro semanas atrás. A meta de inflação deste e do próximo ano é de 4,50% com tolerância de 2 pontos porcentuais em 2016 e de 1,5 pp em 2017 (também em 2018). No Relatório Trimestral de Inflação de junho, o BC informou que projeta inflação de 4,7% para 2017 no cenário de referência e de 5,5% pelo de mercado. Já no caso de 2016, as estimativas são de, respectivamente, 6,9% e 7,00%.
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Foto: ANDRE DUSEK|ESTADÃO
Decisão do primeiro Copom de Ilan será divulgado na quarta-feira
Câmbio. Mesmo com as sucessivas intervenções do BC no mercado de câmbio por meio de leilões de swap cambial reverso, que, na prática, evitam uma queda maior do dólar, o Focus voltou a mostrar queda das estimativas para o câmbio deste e do próximo ano. O documento divulgado pelo BC apresentou que a cotação da moeda estará em R$ 3,39 no encerramento de 2016 ante R$ 3,40 do levantamento anterior - um mês atrás, estava em R$ 3,60. Apesar disso, o câmbio médio de 2016 continuou em R$ 3,47 de uma semana para a outra - um mês antes, estava em R$ 3,62. Para 2017, a mediana recuou de R$ 3,55 para R$ 3,50 de uma divulgação para a outra - quatro semanas atrás estava em R$ 3,80. Já o câmbio médio do ano que vem caiu de R$ 3,53 para R$ 3,46 de um levantamento para o outro - estava em R$ 3,75 um mês atrás. PIB. Mesmo depois do resultado do Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) de maio pior do que as estimativas do mercado financeiro, o Relatório de Mercado Focus voltou a mostrar alívio para o Produto Interno Bruto (PIB). Pelo documento, a projeção passou de 3,30% para -3,25%. Esta é a terceira semana em que há uma melhora das previsões, que estava em -3,44% um mês atrás. Para 2017, a mediana das previsões do mercado também melhorou. Estava em +1,00% e agora passou para 1,10% de um levantamento para o outro. No mês passado, o BC informou no Relatório Trimestral de Inflação que a sua nova estimativa para o PIB deste ano é de uma retração de 3,3% ante baixa de 3,5% vista na edição anterior do documento. As estimativas para a produção industrial mostraram tendências diferentes na pesquisa Focus para este e o próximo ano. Para 2016, a queda prevista ficou mais acentuada agora, passando de uma queda de 5,80% para uma baixa de 5,95%. Já para 2017, a projeção melhorou, passando de uma alta de 0,67% (onde já estava há quatro semanas) para um avanço de 0,77%. 24
Passageiros enfrentam filas em Congonhas após mudanças na fiscalização de aeroportos No aeroporto da capital paulista, movimento foi mais intenso das 6h às 9h; cinco voos atrasaram e um foi cancelado Fonte Luciana Amaral e Marcel Hartmann, jornal O Estado de S. Paulo 18 Julho 2016 às 10h 22 Notícias relacionadas: Anac reforçará inspeção, mas nega ligação com Olimpíada Anac quer que passageiros paguem para despachar mala Concessões de novos aeroportos poderão ter operação terceirizada
Passageiros enfrentaram filas e lentidão para conseguir embarcar no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, na manhã desta segunda-feira, 18, devido a mudanças estabelecidas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) na fiscalização de bagagens. A fila para entrar na área do raio-x chegou até o saguão do aeroporto no andar de baixo. Internautas em uma rede social afirmaram que a demora durou até duas horas. A região do check-in também ficou lotada de passageiros. Ao todo, cinco voos atrasaram e um foi cancelado. O fluxo de pessoas foi mais intenso das 6h até as 9h. No período, a previsão era de 63 decolagens no terminal da capital paulista. Aeroportos de SP. Segundo a GRU Airport, empresa que administra o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, não houve filas grandes nem atrasos por causa das mudanças. Às 10h, o movimento era considerado "tranquilo". No Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, não houve atrasos ou problemas, conforme a Infraero. Brasília e Rio. No Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, na capital federal, e no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, o embarque de passageiros não foi afetado, informou a Infraero. O que muda. A Anac determinou que, a partir desta segunda-feira, todo passageiro de voo doméstico, incluindo crianças, pode passar por revista física feita por um agente do mesmo sexo. O exame pode ser feito de forma aleatória em local público ou reservado, a critério do passageiro e de agentes, e com a presença de uma testemunha. Se o passageiro se recusar, o embarque poderá ser proibido. Além disso, notebooks e outros dispositivos eletrônicos devem obrigatoriamente ser tirados de malas e mochilas. Bagagens de mão também podem ser abertas e inspecionadas no momento da passagem pela máquina de raio x.
Como aproveitar o Tesouro Direto antes que a taxa de juros comece a cair Depois de um pico de rentabilidade, títulos prefixados e atrelados à inflação ainda têm boas oportunidades; simulador será lançado até outubro
Fonte Hugo Passarelli e Natália Cacioli, Jornal O Estado de S. Paulo 18 Julho 2016 às 03h 00
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Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Tesouro Direto vai lançar simulador com comparação entre investimentos
Em meio às turbulências na economia e na política, o primeiro semestre foi agitado no Tesouro Direto. A boa notícia para quem apostou nesta aplicação foi que a percepção do risco brasileiro, mais elevada no começo do ano do que agora, turbinou a rentabilidade dos títulos. O Tesouro Prefixado chegou a ser negociado a uma remuneração perto de 17% ao ano e hoje está em 12%. Ainda assim, segue como opção para se proteger da inflação. “No começo do ano, as perspectivas eram outras e havia muita incerteza. Deve ser difícil repetir o desempenho do primeiro semestre, mas ainda há uma boa gordura nas rentabilidades”, afirma Mauro Mattes, gerente de investimentos da Concórdia. O investidor também pode escolher o Tesouro IPCA, que paga a variação da inflação no período acrescida de um porcentual. Há ainda o Tesouro Selic, pós-fixado e com uma variação diária que acompanha a trajetória da taxa básica de juros. Indicado aos mais conservadores, seu retorno é menor do que nos demais. Entre os três títulos o investimento mínimo parte de R$ 30. De acordo Mattes, a recomendação entre seus clientes hoje está mais inclinada para o Tesouro IPCA. “Antes, a nossa sugestão era equilibrada entre os dois. Agora sugerimos a maior parte da carteira no Tesouro IPCA”. Neste cenário, quem tiver mais sangue frio pode até testar as emoções da renda variável na renda fixa. Isso porque o valor e rentabilidade dos títulos variam ao longo do tempo e caminham na direção inversa da taxa de juros. Na prática, quanto mais consolidada ficar a queda do juro neste ano, maior pode ser o retorno para quem vender seus títulos antes do vencimento.“Isso só serve para quem sabe que está apostando na queda dos juros”, diz Amerson Magalhães, da Easynvest. 26
Contudo, se a perspectiva para os juros for de alta, o investidor terá perdas com a estratégia. Aos mais cautelosos, é sempre indicado manter o título até o vencimento. Duas mudanças em gestação vão ajudar os investidores do Tesouro. A primeira delas, a ser lançada entre setembro e outubro deste ano, trará um simulador de investimentos, que permitirá comparar a rentabilidade dos títulos do Tesouro com outros produtos de renda fixa, como CDB, LCI, LCA e fundos. Segundo a analista de Finanças e Controle da instituição, Débora Araújo, o simulador também irá apontar qual título é mais indicado para o perfil do investidor, considerando prazo de investimento, apetite ao risco e intenção de resgate. Outro recurso irá simular o quanto é necessário investir para atingir uma determinada quantia. Para 2017, está no radar uma reformulação da plataforma. Desde a primeira leva de melhorias, em março de 2015, o número de investidores do Tesouro Direto subiu 58%, atingindo 768,6 mil em maio deste ano. Saiba como é a cobrança de IR Mais rentável e tão acessível quanto a poupança, o Tesouro Direto tem atraído a atenção do brasileiro. Antes de comemorar os ganhos, porém, é preciso lembrar que, ao contrário da caderneta, o rendimento dos títulos do Tesouro são tributados de acordo com a tabela regressiva do Imposto de Renda. No caso de resgate antes de seis meses de aplicação, incide a alíquota de 22,5%; entre seis meses e um ano, 20%; entre um e dois anos, 17,5%; acima de dois anos, 15%. Para o investidor, o recado é claro: títulos de médio e longo prazo vão pagar menos imposto de renda do que as aplicações de curto prazo. Bancos e corretoras também costumam cobrar uma taxa de administração.
Em meio à crise, faltam carros usados nas lojas Consumidor deixa de comprar modelo novo e recorre a veículos com até três anos de uso; venda de seminovos subiu 23% no 1º semestre
Fonte Cleide Silva, O Estado de S. Paulo 18 Julho 2016 às 03h 00
A crise que derrubou o mercado de carros zero-quilômetro teve efeito inverso no segmento de seminovos. As vendas de modelos com até três anos de uso cresceram 23,6% no primeiro semestre, quase o mesmo porcentual de queda registrado nos novos, de 25,4% no período. Com essa substituição promovida pelo consumidor, vários carros usados desapareceram das lojas, principalmente na faixa de preço de R$ 30 mil a R$ 50 mil. Segundo lojistas, a escassez é maior em modelos de boa aceitação no mercado de novos, como Chevrolet Onix – campeão de vendas entre os zero quilômetro –, Honda Fit, Hyundai HB20, Toyota Corolla e vários automóveis com motor 1.0 mais equipados. Preço mais em conta é o principal atrativo dos seminovos para o consumidor que pretende comprar um zero, mas tem receio de desembolsar alto valor num período de insegurança no mercado de trabalho e falta de crédito para financiamento.
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Foto: Arte/Estadão
Na revenda Honda Dealer, na zona sul de São Paulo, o estoque de usados girava em torno de 150 carros, mas atualmente só há 50 unidades na loja, diz o supervisor Vytas Cipas. Nenhum deles é do modelo Fit, o mais procurado da marca. “Até um Fit batido que recebemos foi vendido no mesmo dia em que chegou; não deu tempo nem de prepará-lo para exposição”. O corretor de seguros Rogério Borges Leite, comprador desse Fit, costuma trocar de carro a cada três ou quatro anos, normalmente por um zero, mas, desta vez, preferiu o usado. “Foi um achado; fui à loja e vi o carro, com um amassado no para-choque, e fechei negócio antes mesmo do conserto”, conta ele, que diz ter economizado R$ 10 mil na versão 2015 em relação ao que pagaria pelo modelo zero. Para tentar convencer proprietários de seminovos a trocarem de carro, lojistas oferecem vantagens, principalmente o pagamento do valor integral avaliado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. A Tabela Fipe, como é conhecida, é usada como parâmetro para 28
negociações e, normalmente, paga-se no máximo 85% a 90% do preço sugerido. Se a troca for por um carro zero, também há descontos de até R$ 2 mil. Diferença. A diferença de preço de um carro com três anos de uso para a versão nova varia de acordo com as condições do usado e das mudanças promovidas pela fabricante no modelo mais atual, algumas vezes bem significativas. Um Onix 2016 custa quase R$ 43 mil, enquanto sua versão 2013 sai 24% mais barata, segundo pesquisa da consultoria Molicar. Para o Fit, a diferença é de 29% – nesse período, o modelo teve o design renovado e o motor 1.4 substituído por 1.5 (ver quadro). Vítor Meizikas, analista de mercado da Molicar, diz que os preços dos usados não tiveram valorização significativa. “O novo é que ficou mais caro, parte por renovações e parte por causa da alta do dólar, pois muitos componentes são importados”. No ramo de usados há mais de 50 anos, Roberto Giannetti, da Giannetti Automóveis, na região central de São Paulo, também enfrenta grande dificuldade em conseguir modelos de 2013 a 2015, “porque os donos que trocavam mais rápido de carro agora demoram mais”. O único veículo desse segmento disponível na loja atualmente é um Hyundai ix35 2015, blindado, à venda por R$ 125 mil. Carros com mais de quatro anos de uso, diz Giannetti, são mais difíceis de vender porque o financiamento e o seguro são mais caros. Segundo a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos (Fenauto), no primeiro semestre as vendas de modelos com quatro a 12 anos caíram 12% e, acima disso, 17,2%.
Empresas ‘B2B’ também investem no ‘espírito olímpico’ Dow Química está entre empresas que apostam em ações durante a competição esportiva
Fonte Fernando Scheller, Jornal O Estado de S. Paulo 18 Julho 2016 às 03h 00
Leia também: A busca pela medalha do marketing na Olimpíada
Nem só de empresas que são conhecidas do grande público vive o patrocínio olímpico. Neste ano, duas indústrias químicas, que vendem insumos para grandes empresas e não se relacionam com o consumidor final, também estão pegando carona no espírito olímpico para construir marca e criar relacionamento com seus clientes. A americana Dow Química, que patrocina os jogos desde 2010, também estará presente no evento Rio 2016. Além de colaborar com o Comitê Olímpico Internacional (COI) em materiais que possam facilitar práticas esportivas – como o desenvolvimento de grama sintética para a prática de certas modalidades –, a empresa também tem suas matérias-primas usadas nas instalações na arena olímpica, como nos sistemas de caixas d’água. Além disso, segundo o líder comercial da Dow para os Jogos Olímpicos na América Latina, Guilherme Dias, a empresa também faz algumas parcerias, com a devida autorização do COI, para ajudar a promover a marca de alguns de seus parceiros. Assim, os anéis olímpicos e a marca da Dow poderão coassinar peças que poderão ser vistas em pontos de venda do mercado de construção civil, por exemplo, explica Dias. O executivo diz que o patrocínio ao COI também ajuda a companhia a criar relacionamento e a incentivar outros públicos, incluindo os funcionários da Dow.
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Próteses. Já a petroquímica brasileira Braskem, que tem Odebrecht e Petrobrás como sócios e é conhecida pela fabricação de resinas plásticas, está usando o esporte como estratégia de construção de marca. Como é relativamente jovem – foi fundada em 2002, a Braskem fez um grande esforço de marketing relacionado aos Jogos Paralímpicos, que acontecem em setembro. A empresa não é patrocinadora dos jogos, mas da equipe paralímpica brasileira de atletismo. O objetivo é que o patrocínio tenha relação com o principal produto da Braskem: o plástico. Segundo a diretora de marketing institucional da companhia, Claudia Bocciardi, foi feita uma pesquisa para entender como o plástico pode ajudar no desenvolvimento da tecnologia das próteses que garantem um desempenho melhor aos brasileiros na Paralimpíada. Embora tenha ativado fortemente o apoio aos atletas paralímpicos, a estratégia da companhia, durante o período do evento, será retirar-se da mídia temporariamente. Como a empresa não é patrocinadora dos jogos ou do COI, a executiva diz que esse cuidado será tomado para evitar que qualquer tipo de comunicação possa ser classificado como “marketing de emboscada”. / F.S.
Bolsa pode emplacar 9ª alta seguida com otimismo interno; dólar cai Daniel Marenco - 4.ago.2011/Folhapress
Expectivativa de melhora da economia brasileira anima investidores
FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, EULINA OLIVEIRA DE SÃO PAULO 18/07/2016 às 12h 37
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O otimismo com a recuperação da economia brasileira impulsiona o Ibovespa nesta segundafeira (18), que opera acima dos 56.000 pontos, renovando a máxima pontuação em 14 meses. O índice pode encerrar a sessão com a nona alta consecutiva. O dólar recua, apesar de mais uma ação do Banco Central no câmbio, assim como os juros futuros. No exterior, os mercados globais iniciaram o pregão com certa cautela, absorvendo a tentativa de golpe frustrada na Turquia, mas o humor foi melhorando ao longo do dia. O foco dos investidores são os balanços do segundo trimestre que começam a ser divulgados a partir desta semana. BOLSA O Ibovespa subia há pouco 0,95%, aos 56.104,95 pontos, em meio às perspectivas melhores para a economia brasileira. "Tem muita gente recompondo a carteira, comprando ações que não tinha antes, apostando na alta do índice", comenta um operador do mercado financeiro. Pesquisa Datafolha mostra que as expectativas dos brasileiros sobre o futuro da economia do país e em relação à sua situação pessoal deram um salto nos últimos meses e atingiram o maior patamar desde dezembro de 2014. Conforme o levantamento, realizado nos dias 14 e 15 de julho, os brasileiros estão mais confiantes em relação à queda da inflação, à diminuição do risco de ficar desempregados e ao aumento do poder de compra. Segundo analistas, a perspectiva é de forte entrada de recursos no país após a conclusão do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Os investidores apostam no afastamento definitivo de Dilma. O índice também sofre influência do vencimento de opções sobre ações nesta segunda-feira. As ações a Petrobras subiam 2,17%, a R$ 11,26 (PN), e 0,98%, a R$ 13,35 (ON), apesar do recuo do petróleo no mercado internacional. Os investidores repercutem a entrevista do presidente da Petrobras, Pedro Parente, à Folha, na qual ele afirma que não haverá "dogmas" na venda de ativos da estatal e admitiu estudar o controle compartilhado com o setor privado de algumas subsidiárias, como a BR Distribuidora ou a Transpetro. Dogma, para Parente, é apenas a privatização da estatal. "Não acho que a sociedade brasileira esteja madura para sequer discutir, isto sim é dogma, a privatização da Petrobras." Para a equipe de análise da Guide Investimentos, o compartilhamento do controle de alguns ativos poderá acelerar o processo de venda de ativos no curto prazo, o que tende a melhorar a estrutura financeira da empresa. "A maximização de valor, com o repasse de ativos para a iniciativa privada, tende a ser a principal forma da empresa se desalavancar", acrescenta. Os papéis PNA da Vale subiam 0,36%, a R$ 13,79, e os ON recuavam 1,08%, a R$ 17,15. 31
No setor financeiro, Itaú Unibanco PN ganhava 1,61%; Bradesco PN, +1,62%; Banco do Brasil ON, +2,12%; Santander unit, +0,67%; e BM&FBovespa ON, +1,34%. CÂMBIO E JUROS O dólar à vista perdia há pouco 0,70%, a R$ 3,2482. O dólar comercial subia mais cedo, mas virou e caía 0,21%, a R$ 3,2480. O BC leiloou nesta manhã mais 10.000 contratos de swap cambial reverso, operação equivalente à compra futura de dólares, no montante de US$ 500 milhões. Desta forma, o estoque de swap cambial tradicional (que corresponde à venda futura da moeda) do BC caiu para US$ 57,135 bilhões. DÓLAR Saiba mais sobre a moeda americana
Entenda as diferenças entre os tipos de dólar Conheça as estratégias do governo para conter a alta do dólar e alcançar o 'câmbio ideal' Veja como investir em moedas estrangeiras Confira a cotação do dólar e outras moedas
Segundo operadores, o fluxo de entrada de dólares no país pressiona a cotação da moeda americana para baixo neste pregão. No mercado de juros futuros, o contrato de DI para 2017 recuava de 13,875% para 13,865%; o contrato de DI para janeiro de 2021 caía de 11,970% para 11,950%. O Boletim Focus, pesquisa realizada pelo BC junto a economistas e instituições financeiras, deixou inalterada em 7,26% a projeção para a inflação neste ano, mas melhorou a expectativa para 2017, que caiu de 5,40% para 5,30%. Com isso, se situaria abaixo da meta estabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para o próximo ano, que é de 4,5% com 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. A perspectiva para a taxa de juros foi mantida em 13,25% neste ano e em 11% em 2017.
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Nesta terça (19) e quarta-feira (20), o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central se reúne para avaliar sua política monetária. A maioria dos analistas espera a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano. O CDS (credit default swap) brasileiro, espécie de seguro contra calote e indicador de percepção de risco, porém, avançava 0,82%, aos 296,956 pontos. EXTERIOR Na Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 subia 0,27%; o Dow Jones, +0,16%; e o Nasdaq, +0,64%. Na Europa, a Bolsa de Londres avançava 0,54%, impulsionada pela notícia de que o japonês SoftBank Group Corp acertou a compra da britânica ARM Holdings PLC por US$ 31 bilhões. As ações da ARM subiam 42% há pouco. A Bolsa de Paris perdia 0,05%; Frankfurt, +0,28%; Madri, +0,29%; e Milão, +0,38%. As Bolsas chinesas fecharam em baixa, após dados mostrando que a alta dos preços de moradias desacelerou em junho. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, recuou 0,44%, enquanto o índice de Xangai teve queda de 0,34%. No restante do continente, os índices subiram. No Japão, a Bolsa de Tóquio não abriu por conta de um feriado.
A apreciação cambial vai atrapalhar o crescimento? Enfraquecimento do real tem ajudado a indústria a aumentar exportações, mas esse não será o motor do crescimento Fonte Zeina Latif Jornal O Estado de S. Paulo, 15 Julho 2016 às 17h 16
A taxa de câmbio está novamente no foco de atenções, com muitas discussões sobre o risco que este patamar atual representa para a retomada da economia. Esse ponto merece alguns comentários. Primeiro, uma pergunta. O que é mais favorável para a volta cíclica da economia, uma apreciação cambial que ajude o Banco Central na tarefa de domar a inflação e assim cortar a taxa de juros ou uma depreciação que ajude o setor externo e a substituição de importações da indústria? Se o Brasil fosse uma economia aberta, com peso elevado de exportações e importações no PIB, seria óbvio responder que a depreciação cambial vale a pena, tendo efeito líquido positivo sobre a atividade. Não é este o caso. O Brasil, diferente de países asiáticos, é bastante fechado. Segundo a CNI, as importações representam 22% do consumo aparente de produtos industrializados e as exportações menos de 20% da produção industrial. É o mercado interno que puxa o crescimento. É verdade que o enfraquecimento do Real dos últimos anos vem ajudando a indústria a substituir importações e a aumentar exportações, esta última mais moderada devido, entre outras, à fraqueza do comércio mundial. Mas esse não será o motor do crescimento do país. O
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ajuste das contas externas é peça importante para o equilíbrio macroeconômico, mas não trará volta cíclica do crescimento por si só.
Se a economia do País fosse aberta, valeria a pena a depreciação cambial (Foto: Reuters) Vamos aos fatos. Entre 2003 e a eclosão da crise global de 2008, houve expressiva valorização do Real e, ainda assim, a indústria acompanhou o ritmo de crescimento da produção industrial mundial. O câmbio prejudicou as contas externas, mas não impediu o crescimento econômico, pois o aumento da demanda interna mais que compensou a elevação da penetração das importações e o menor ímpeto exportador. A apreciação cambial, por outro lado, reforçou a trajetória de queda da taxa de juros ao contribuir para a uma dinâmica inflacionária bem comportada. Há razões para acreditar que o efeito líquido do Real valorizado foi positivo para a atividade econômica. A depreciação cambial, por sua vez, pressiona a inflação, corrói a renda real do trabalho e, ao impor uma política monetária mais apertada, afeta a demanda interna. É verdade que as contas externas melhoram ao longo do tempo. Mas isso não é motor de crescimento para um país fechado como o Brasil e com maior peso da demanda interna na dinâmica econômica. Historicamente, períodos de moeda fraca são associados a baixo crescimento. O segundo ponto é que o BC tem pouco controle sobre a taxa de câmbio. O ciclo da taxa de câmbio é praticamente todo ele determinado pelo ciclo da moeda americana no mercado internacional. É o que indica a elevada correlação entre o Real/dólar e uma cesta ampla de moedas/dólar. Desde 1999, com a implantação do regime de câmbio flutuante, poucas vezes houve descolamento entre essas duas variáveis, controlada a maior volatilidade do Real. O descolamento mais notável foi na turbulenta campanha eleitoral de 2002, quando o Real se enfraquecia em um quadro também de depreciação do dólar no mercado mundial. Fatores domésticos, ainda que menos importantes, certamente influenciam o comportamento da taxa de câmbio, afetando sua volatilidade e a intensidade de ajuste em torno da tendência do dólar no mercado mundial. Desde 2012, o Real tem exibido desempenho pior que o sugerido pelo comportamento do dólar. Não sem razão. O fracasso da agenda econômica de Dilma, refletido em crescimento baixo e inflação alta, acabou penalizando mais o Real. Nesta linha, as medidas de risco Brasil se descolaram em relação a de países pares. Ou seja, o 34
descolamento do Real decorreu mais da piora de percepção de risco-país do que de intervenções do Banco Central. A intervenções do BC não são inócuas, mas pouco influenciam a dinâmica da taxa de câmbio. Não faltam trabalhos técnicos, inclusive do Banco Central, apontando a baixa eficácia das intervenções, exceto por curtíssimo espaço de tempo. Exemplo disso foram as compras volumosas de dólar entre 2003-08, enquanto a cotação do dólar só fez cair. Para o setor real, pior que a apreciação é volatilidade cambial. Imagine um importador de insumos que faz seus planos com uma taxa de câmbio de R$/US$ 4,00 e após a compra liquidada, a cotação cai para R$/US$ 3,50 no mês seguinte? Seu produto final não terá preço competitivo. Se o BC puder conter essa volatilidade, melhor. O terceiro e último ponto é que não há garantias que estamos diante de um novo ciclo de apreciação cambial. Este movimento recente da taxa de câmbio, desde o Brexit, é reflexo de uma visão que os emergentes estão, no relativo, mais atrativos em relação às economias avançadas. Mas esse é um fenômeno temporário. Não se compara, nem de longe, com o ciclo da década passada. Faz sentido esperar um novo ciclo de enfraquecimento do dólar no mercado mundial? Diferentemente da década passada, agora os EUA exibem ganhos de produtividade maiores que o resto do mundo. O mundo emergente desacelera, não há super boom de commodities e o comércio mundial está praticamente estagnado após as taxas de crescimento acima de 7% aa do passado. Enquanto isso, a economia americana, mais fechada e menos sensível à fraqueza do comércio mundial, cresce. Resultado: sua moeda tende a valorizar mais, ainda que não agora e não tão rapidamente como em 2015. Enfim, é equivocado esperar uma solução para o “problema” do Real se fortalecendo (que nem é tanto assim; o câmbio efetivo real está muito longe das mínimas do início de 2011), seja porque a ação do BC não pode visar algo além de conter a volatilidade da moeda, seja porque, caso estejamos em um novo ciclo de apreciação (o que não está claro), isso não seria algo ruim para a volta cíclica do crescimento. Pelo contrário. Câmbio forte, maior crescimento. Há naturalmente muita ansiedade para uma retomada da economia. Tudo que for na direção de ajudar o BC a relaxar as condições monetárias com segurança é bem-vindo. Forçar uma depreciação da moeda, decididamente, não.
Desalento paulistano FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@grupofolha.com.br 16/07/2016 às 02h 00
De candidato desconhecido, Fernando Haddad (PT) tornou-se vencedor da eleição municipal de São Paulo em 2012 na esteira do prestígio de que então desfrutava seu partido e, em particular, o ex-presidente Lula, seu padrinho político. Seria inimaginável, portanto, que a popularidade do prefeito não fosse abalada pela ampla rejeição atual ao petismo, da qual as manifestações populares na avenida Paulista se tornaram simbólicas. Não bastassem os múltiplos escândalos de corrupção, que dilapidaram nacionalmente a imagem da sigla, a profunda recessão vivida pelo país tanto envenenou os humores da população quanto derrubou as receitas tributárias e, em consequência, as ambições das políticas públicas.
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Tudo isso levado em conta, deve-se apontar que Haddad deu contribuições próprias para seu pífio índice de aprovação segundo pesquisa recém concluída pelo Datafolha, apenas 14% dos paulistanos classificam sua gestão como ótima ou boa, enquanto 48% a tacham de ruim ou péssima. No mandato, o petista notabilizou-se por iniciativas elogiáveis, mas destoantes das prioridades de uma metrópole tão complexa. A simpatia pelas ciclovias ou pelo fechamento da Paulista aos domingos, por exemplo, não compensa lacunas em áreas vitais como a saúde, sobre a qual 79% se declaram decepcionados com o desempenho da prefeitura. Mas, se a reeleição se apresenta neste momento como um desafio hercúleo, o levantamento das intenções de voto feito pelo instituto também aponta perspectivas ainda nebulosas no campo adversário. O líder, com 25%, é Celso Russomanno, do minúsculo PRB, que igualmente teve boa largada no pleito de quatro anos atrás, sem, no entanto, chegar ao segundo turno. Sua candidatura, ademais, será inviabilizada caso o Supremo Tribunal Federal confirme uma condenação em processo por peculato. Marta Suplicy (PMDB) e Luiza Erundina (PSOL) que pontuam, respectivamente, 16% e 10% nesse cenário são ex-prefeitas eleitas pelo PT, que já tentaram, sem sucesso, retomar o posto. O empresário João Doria, aposta do PSDB em uma novidade pinçada fora da política tradicional, tem 6%, em empate técnico com Haddad (8%), e a vantagem de ser menos conhecido e rejeitado. Sintoma do desalento do eleitorado, apenas um dos potenciais candidatos supera a elevada taxa de intenção de votos brancos ou nulos, de 19%. E nenhum deles iguala a marca de 31% dos paulistanos que se dizem "nada satisfeitos" em residir na cidade o percentual mais alto apurado ao longo de duas décadas.
A USP e sua crise FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@grupofolha.com.br 16/07/2016 às 02h 00
Mais relevante instituição de pesquisa e ensino superior do país, a Universidade de São Paulo enfrenta desde 2013 a maior crise financeira da história recente, que a aproxima perigosamente do limiar da insolvência. Os gastos da instituição em 2016 devem exceder em R$ 625 milhões sua dotação orçamentária, baseada, desde o final da década de 1980, em uma parcela fixa hoje de 5% da receita do ICMS pago pelo contribuinte paulista. Desde que assumiu o cargo de reitor da instituição, em 2014, Marco Antonio Zago foi impelido a buscar providências para tapar o buraco nas contas.
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Além de congelar novas contratações e suspender o início de obras, instituiu, no ano passado, um programa de demissão voluntária para servidores que não pertencem ao corpo docente. Nesta semana, a universidade decidiu retomar a iniciativa. A primeira versão do plano levou à saída de 1.433 dos então 17.300 servidores técnicoadministrativos, com economia de cerca de 4% na folha de pagamentos, aquém dos 6,5% desejados. Agora, não há mais uma meta a ser atingida. Ainda que com resultados modestos, a medida afigura-se crucial neste momento. Apenas a folha deve consumir neste ano 106% de tudo o que a instituição arrecada. Para honrar seus compromissos, a universidade tem recorrido à sua reserva estratégica. Esse fundo deveria servir para investimentos e apoio a pesquisas inovadoras, não para esvair-se no rombo sem fundo dos gastos com pessoal. Em 2012, tal reserva somava R$ 3,2 bilhões; deve chegar a cerca de R$ 590 milhões até o final do ano. O sindicato dos funcionários vê na medida uma tentativa de sucateamento da USP. Seus representados estão em greve há quase dois meses, exigindo aumentos salariais e novas contratações pleito que, neste momento, deveria ser tratado como delírio corporativista. O que de fato ameaça a missão científica e acadêmica da USP é sua presente agonia orçamentária. As medidas adotadas por Zago vão na direção correta, mas não passam de paliativos. Na raiz do problema estão a rigidez do regime de contratações e a iniquidade das pensões integrais pagas a seus aposentados, temas que dependem de alterações legislativas. A saída, não só para USP mas para o conjunto das universidades públicas, é buscar eficiência dos gastos e novas fontes de receita pauta que deve incluir ideias mais ousadas, como a cobrança de mensalidades para os alunos capazes de custear seus estudos.
Algo melhor FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@grupofolha.com.br 17/07/2016 às 02h 00
A mais recente pesquisa Datafolha mostra que a retomada da confiança na economia não se restringe aos agentes econômicos, mas já se dissemina pela população como um todo, apesar de a maioria também reconhecer que ainda estamos no pior momento de uma gravíssima recessão. O governo de Michel Temer (PMDB) aparece com aprovação tão escassa quanto a da última avaliação da presidente Dilma Rousseff (PT) antes de ser afastada (14% a 13%), mas sua reprovação, de 31%, é menos que a metade da votada à antecessora, 65%. Ampla parcela, 42%, ao definir a gestão até agora interina como regular, sugere uma atitude de compasso de espera. A origem do governo Temer foi atribulada. Embora sobrassem motivos de interesse público para o impeachment, faltava um delito insofismável; as pedaladas fiscais pareceram a muitos tecnicalidade invocada como mero pretexto. A pesquisa divulgada neste domingo pela Folha 37
evidencia que cerca de um terço da população continua a negar legitimidade ao processo que gerou o novo governo. Ainda assim, ele vem exercendo um efeito estabilizador, condição necessária para o país emergir desta crise profunda e multifacetada. Pelo lado econômico, uma equipe coesa e prestigiosa se mostra disposta a tomar as medidas necessárias para restaurar confiança, com respaldo do presidente para propor um mecanismo de contenção de gastos a longo prazo e ampliar o financiamento da previdência social. Pelo lado político, embora tenha perdido três ministros que se viram envolvidos em acusações de natureza judicial, o Planalto dá mostras de que seu esquema semi parlamentarista pode funcionar, tendo por base as votações, como a da prorrogação da desvinculação de receitas (DRU), em que obteve maioria folgada para aprovar emendas constitucionais. A recente eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para presidir a Câmara dos Deputados até o final de janeiro próximo integra esse quadro de normalização. Supera-se o delirante interregno em que reinou o trêfego Eduardo Cunha, substituído por um parlamentar tido como equilibrado e sensível à necessidade de aprovar reformas que destravem as forças produtivas. O próprio afastamento definitivo da presidente ora suspensa, caso se confirme em agosto, como parece provável, deverá conferir nova desenvoltura ao governo, fortalecido pela condição duradoura. Seus problemas, então, mal terão começado, mas o início aziago terá sido deixado para trás e um misto de sorte, habilidade e esgotamento da crise pode anunciar um futuro mais promissor.
Otimismo cauteloso FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@grupofolha.com.br 17/07/2016 às 02h 00
Acumulam-se sinais de que, após dois longos anos, a recessão que assola o país esteja próxima do fim. Com o impulso de fatores externos e domésticos, a confiança de empresários e consumidores ganha corpo e prenuncia tempos melhores adiante. A julgar pelo índice mensal de atividade econômica do Banco Central, que caiu 0,51% em maio, o segundo trimestre foi encerrado ainda em retração -mais suave, entretanto, que a observada ao longo do ano passado. Espera-se agora um ligeiro crescimento do Produto Interno Bruto nesta segunda metade do ano. Como é usual nos momentos de transição, há considerável discrepância de desempenho entre setores e atividades, o que dificulta uma leitura precisa.
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Em segmentos mais afetados pela queda do emprego e da renda, como o varejo, a saída do fundo do poço tende a demorar mais. Não por acaso, as vendas do comércio ainda não pararam de cair. Números mais promissores começam a aparecer na indústria, onde o aumento da confiança é mais pronunciado. Indicadores preliminares -extração de petróleo, consumo de energia, importações de máquinas e equipamentos apontam para alta na produção total de junho, reforçando a recuperação iniciada em março. A queda da inflação, ademais, deve se acentuar nos próximos meses e permitir o começo de um ciclo de cortes nas taxas de juros antes do final do ano. A queda das cotações do dólar nos últimos meses barateia os produtos importados, enquanto o desemprego freia os preços dos serviços. Contribui também para o aumento do otimismo o cenário global menos hostil às economias emergentes. Elevação dos preços de matérias-primas e postergação da alta dos juros americanos favorecem a entrada de recursos em países que ainda pagam taxas altas, como é o caso do Brasil. Não é possível por ora antever o momento e a intensidade da retomada. Os humores empresariais, decisivos para a volta dos investimentos, estarão atrelados ao avanço da agenda de ajuste econômico. Expectativas favoráveis hoje desanuviam o ambiente, mas resultados mais concretos serão cobrados após o desfecho do processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff (PT), e das eleições municipais. Levará tempo, de todo modo, até que empresas e famílias consigam se reerguer. Emprego e renda só mostrarão reação visível, na melhor das hipóteses, em 2017. O caminho será longo e acidentado.
A próxima reforma FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@grupofolha.com.br 18/07/2016 às 02h 00
Se reverter a crise de confiança na solvência do Estado é o passo imediato fundamental para estancar a ruína econômica, as esperanças de prosperidade futura do país dependem de uma agenda de modernização institucional que estimule a produtividade e reduza o custo de fazer negócios. Entre os obstáculos a serem equacionados, destaca-se a obsoleta legislação trabalhista, gestada nos longínquos anos 1940 e causadora de um anômalo e crescente contencioso entre empregados e empregadores. 39
Conforme noticiou esta Folha, somente no ano passado foram iniciadas 2,66 milhões de ações do gênero, um recorde histórico que infelizmente deverá ser superado neste 2016, em razão da expansão das taxas de desemprego. Na raiz do problema está uma cultura paternalista na gestão de conflitos, reforçada pela estrutura sindical oligopolizada, abrigada no Estado e financiada por contribuições obrigatórias, inclusive de trabalhadores não afiliados. O paternalismo enfraquece a disposição à negociação e a autonomia das partes em decidir conforme suas preferências. Na tradição brasileira, o legislado tende a se sobrepor ao acordado em convenções coletivas. Merece apoio, portanto, a disposição manifestada pelo governo Michel Temer (PMDB) de encaminhar ao Congresso uma proposta de modificação das regras trabalhistas -reforma que, de acordo com o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, será a segunda na ordem de prioridades do Planalto, logo depois da previdenciária. Já seria progresso digno de comemoração a retomada do projeto que regulamenta a terceirização da mão de obra, conforme propósito manifestado pelo ministro. O texto, apresentado em 2015 na lista de prioridades do PMDB, encontra-se parado no Senado. Como diretriz geral, deve-se fugir do populismo que considera qualquer alteração uma afronta aos direitos dos trabalhadores. O importante é facilitar a geração de mais empregos formais, requisito básico para uma inclusão social sustentável. Modernizar a CLT e a estrutura sindical com vistas à ampliação do espaço de negociação entre empresas e trabalhadores traria maior flexibilidade ao mercado. Atuar para reduzir a propensão do sistema atual à geração de gigantesco contencioso incentivaria contratações. As conquistas da cidadania e a dignidade do trabalho não serão garantidas com a manutenção de um sistema ineficaz, que aumenta o custo da formalização do emprego e tolhe a liberdade de associação sindical.
Estabilidade do servidor público deveria ser extinta? SIM FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, VLADIMIR KUHL TELES 16/07/2016 às 02h 00
POR UM ESTADO MAIS EFICIENTE A estabilidade fiscal é uma condição necessária para o crescimento econômico, pois uma grande dívida pública implica subtração cada vez maior da poupança da economia para sustentá-la, diminuindo os investimentos produtivos.
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O Brasil é, dentre as economias emergentes, o país com maior dívida em relação ao PIB (Produto Interno Bruto). A média de dívida pública desse grupo é de 45% do PIB, enquanto a nossa chega a 73,3%, com projeções de 80,5% até o próximo ano. Além disso, o aumento contínuo e estrutural de despesas nas últimas duas décadas forçou uma elevação ininterrupta da carga tributária. Em 2016, trabalhamos até 1º de junho somente para pagar impostos. Como o aumento de gastos é em grande parte estrutural, é urgente uma reforma do Estado, e não apenas um ajuste fiscal, para sinalizar uma trajetória sustentável no médio prazo. Assim, a imposição de um teto para a expansão de gastos, proposta pelo Ministério da Fazenda, é uma política crível para a sustentabilidade fiscal e a retomada da atividade econômica. No entanto, a reforma não deveria se ater a limitar os gastos. Para realmente estimular a economia, precisaria aumentar substancialmente a produtividade do setor público. Um governo que subtrai cerca de 40% da renda dos brasileiros tem a obrigação de entregar serviços de comprovada eficácia. De acordo com ranking do Global Competitiveness Index (GCI), que avalia 140 países, o Brasil é o 136º em eficiência do setor público, sendo o 133º em evitar desperdício do orçamento. Não há dúvida de que a ineficiência passa, necessariamente, pelas regras do funcionalismo público. O setor paga salários 30% maiores, em média, que o privado (comparando-se trabalhadores com características similares) e estabelece, além disso, regras de estabilidade e isonomia que configuram todos os incentivos para a falta de produtividade de seus empregados. A estabilidade e a isonomia no funcionalismo público devem, sim, ser extintas. Afinal, por que um professor concursado que tem por hábito faltar às aulas, prejudicando o desenvolvimento cognitivo de nossos filhos, não pode ser demitido? Por que os médicos da rede pública não são pagos por produção, por atendimentos realizados, evitando, assim, as filas imensas que castigam a população? Por que a promoção na carreira de um professor universitário não depende de sua produção acadêmica, como ocorre nas melhores instituições do mundo? A sociedade não suporta mais ficar sujeita a serviços públicos de péssima qualidade, e o setor privado, confrontado com tamanha carga tributária, não possui condições de investir mais e gerar empregos. Os funcionários públicos, como os demais cidadãos, deveriam ser avaliados pela produtividade. Não poder demiti-los, ao menos facilmente, por ineficiência ou em períodos de crise, de enxugamento da máquina, é um absurdo que pune toda a sociedade. Aumentar salários de servidores num período de recessão, sem exigir qualquer contrapartida e sem indicar qualquer reforma, é, no mínimo, uma ofensa. O principal problema da economia brasileira é o crescimento institucionalizado dos gastos públicos, aliado à sua falta de produtividade. A imposição do limite para o crescimento dos gastos é um passo importante para resolver esse problema. Mas o país precisa de reformas mais profundas, ajustando as regras do funcionalismo público e reduzindo a burocracia. 41
VLADIMIR KUHL TELES, 38, pós-doutor em macroeconomia pela Universidade Harvard (EUA), é vicediretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas
Estabilidade do servidor público deveria ser extinta? NÃO FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, NILTON PAIXÃO 16/07/2016 às 02h 05
PROTEÇÃO DOS INTERESSES DO PAÍS Eis um fato amplamente difundido e cheio de inverdades: o setor privado presta serviços eficientes e de baixo custo, enquanto o setor público é corrupto e ruim. Somos levados a acreditar que a iniciativa privada é a única responsável por criar e produzir serviços bons e baratos. Já o funcionalismo público, considerado ineficaz e perdulário, seria um obstáculo para o funcionamento da sociedade. Seguindo esse raciocínio, servidores públicos são considerados burocráticos e preguiçosos na condução de seus trabalhos. No entanto, segundo dados recentes da instituição de pesquisa The Conference Board, a produtividade brasileira se situa em 75º lugar no ranking mundial. Na América Latina, é a terceira pior, ganhando apenas de Bolívia e Equador. Ou seja, a questão da baixa produtividade é geral em nosso país, de modo algum exclusiva do serviço público. Setores privatizados, como operadoras de telefonia e bancos, são campeões de queixas no Procon. E a qualidade dos serviços mais demandados, como a banda larga, é sofrível, com contratos desleais com os consumidores. Ainda assim, os concessionários recebem aportes de fundos de pensão de trabalhadores e financiamentos de bancos públicos a perder de vista, subsidiados com o aumento da dívida pública do país. Nem sempre quem vende excelência de gestão, fala em meritocracia e ganha prêmios empresariais tem exatamente relações republicanas com o Estado. O conjunto da obra do setor público precisa melhorar, sem dúvida. A rotatividade de servidores, todavia, não é um caminho para isso. Pelo contrário, deixaria a estrutura pública ainda mais à mercê daqueles que, com impunidade política e muitas vezes criminal, trabalham no Estado para enriquecer à vontade. A estabilidade do funcionalismo público é fundamental para o país. É o que está permitindo a revolução de costumes no Brasil, fruto do trabalho de servidores do setor de controle, auditoria, controladoria, transparência, promotoria, fiscalização, polícia e Justiça, em parceria com a imprensa. Esse conjunto de forças vem emparedando a corrupção. Quanto mais a sociedade e suas organizações puderem apoiar os servidores públicos de carreira, melhor será para todos. Somente o quadro estável e profissionalizado das instâncias públicas protegerá os reais interesses da nação.
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Apenas servidores estáveis terão a sensibilidade necessária para as demandas da população e poderão fiscalizar aquilo que é do interesse público, sem viés partidário, sem favorecimentos privados, sem a apropriação partidária da estrutura pública. Tudo pode e deve melhorar. Tudo pode e deve ser mais eficiente. É preciso gerar novas inteligências nos processos do setor, que também requerem investimentos há tempos represados. Todavia, deixar o Estado mais vulnerável, sem o servidor com estabilidade, pode ser o pior dos mundos, a posse do que é público pelos interesses privados de poucos. NILTON PAIXÃO, 50, é presidente da Pública (central sindical dos servidores públicos), consultor legislativo da Câmara dos Deputados e mestre em direito constitucional pela Universidade Federal de Pernambuco
Atentado ao pacto federativo FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, RONALDO CAIADO 16/07/2016 às 02h 00
A voracidade fiscal da União não tem limites. Além de impor ao contribuinte uma das cargas tributárias mais pesadas do planeta, sem a contrapartida de serviços que a justifiquem, não hesita em usurpá-la dos Estados e municípios, ainda que, para tanto, atropele cláusula pétrea da Constituição. É o caso da proposta de emenda constitucional 96/2015, em exame na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado, que delega à União a cobrança de imposto adicional sobre grandes heranças e doações. Não questiono (embora questionável) o mérito da matéria, que cria mais um tributo. Atenhome a outro ponto: o desprezo ao princípio federativo, cláusula pétrea constitucional (inciso I, parágrafo 4º, artigo 60). Dentro desse princípio, o artigo 151, inciso I, atribui aos Estados e ao Distrito Federal e tão somente a eles a prerrogativa de criar impostos sobre transmissão causa mortis e doação de quaisquer bens ou direitos. A PEC, de maneira nada sutil, viola essa exclusividade ao permitir que a União estabeleça a progressividade dessas alíquotas e se aproprie da receita. Ora, a Constituição é clara: se houver aumento da carga tributária sobre heranças e doações, o recurso pertence aos Estados —e não à União. O aumento da alíquota máxima, dos atuais 8% para 20%, é pleito antigo dos Estados, já manifestado pelo Conselho Nacional de Política Fazendária. Eis que a União, por meio dessa PEC, se apossa dessa bandeira, alegando que sua ingerência, elevando a alíquota máxima a 27,5%, não exclui o direito de os Estados também o fazerem. É uma alegação enganosa: se ambas as instâncias assim o fizerem, a tributação sobre heranças resultará em confisco puro e simples. Estamos enfrentando um avanço arrecadatório dos cofres federais sobre a riqueza dos cidadãos e das empresas, sem que o produto gerado tenha sido repartido com Estados e municípios.
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O nome disso é concentração de poder. A PEC destina esses recursos ao FNDR (Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional), deixando nas mãos do governo federal o comando e o destino de recursos que deveriam se manter na esfera estadual. É absolutamente injusto que a superação das desigualdades regionais, que a União não consegue resolver, seja patrocinado pela tomada de parcela da base tributável que cabe aos Estados. E não é só: implica ainda bitributação, impedindo que se identifique a alíquota efetiva, dada a incidência de duas exações diferentes, provenientes de dois entes distintos, sobre o mesmo fator gerador heranças e doações, sem que uma carga tributária possa sequer ser deduzida da outra. Além de prejudicar o já frágil equilíbrio federativo, é imposto ruim do ponto de vista econômico. Nada menos que 13 países emergentes como a Rússia e a Eslováquia; ricos, como Áustria, Hong Kong e Cingapura; e adeptos do "welfare state", como Suécia e Noruega já o eliminaram desde o início deste milênio. Mesmo os EUA, que o aplicam em alíquotas de até 40%, vêm aumentando as faixas de isenção. O ponto central, no entanto, é o que isso representa na redução da autonomia financeira dos Estados, carentes de fontes de financiamento de suas dívidas. Os governadores continuarão, sempre e cada vez mais, protagonizando o caricato papel de mendigos de gravata, a esmolar recursos na Esplanada. É um governo central absoluto, cercado de corporações, indiferente a quem delas não faça parte. Democracia e federalismo são coisas bem diferentes. O Senado não pode compactuar com mais esse golpe ao pacto federativo.
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Em dez anos, país terá mais produtos exportáveis e menos básicos Paulo Whitaker/Reuters
Um trator molha plantação de café em uma fazenda de café em Santo Antônio do Jardim (SP) FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, MAURO ZAFALON 15/07/2016 às 20h 32
A produção brasileira de grãos, atualmente em 196 milhões de toneladas, poderá chegar a 255 milhões em 2026. Em ótimas condições de produção e de crescimento de demanda, o volume poderá atingir até 300 milhões de toneladas naquele ano. A área a ser cultivada dos 15 dos principias produtos sobe dos atuais 58 milhões de hectares para 66 milhões. As estimativas são do Ministério da Agricultura. Uma boa notícia para o país, que atualmente é o que tem as melhores condições mundiais de crescimento na oferta de grãos. A divisão desse crescimento, no entanto, preocupa. O país vai avançar ainda mais na área de plantio de soja e diminuir a de produtos básicos, como arroz e feijão. A soja hoje é o ouro verde do país, liderando as exportações nacionais, mas a dependência é perigosa se ocorrer uma eventual mudança mundial de cenário para o produto. 45
Pior, a evolução da soja se dará basicamente no aumento de área plantada na próxima década, e não no crescimento da produtividade. Nos cálculos do ministério, a área deverá sair dos atuais 33 milhões de hectares para 43 milhões em dez anos, um crescimento de 30%. A produção, atualmente em 96 milhões de toneladas, sobe para 129 milhões, evolução de 35%. As exportações deverão crescer 42%, somando 78 milhões de toneladas. A produtividade, no entanto, permanecerá abaixo dos 3.000 quilos por hectare, uma barreira que o país tenta vencer há vários anos. Nesta safra, quando as condições climáticas não foram favoráveis para a produção de soja em várias regiões do país, a produtividade ficou em 2.880 quilos por hectare. Em 2026, deverá ser de 2.990, um crescimento de apenas 3,8% no período. Outro produto de destaque, cujo crescimento também visa o mercado externo, será o milho. As previsões indicam produção de 95 milhões de toneladas, 25% mais, e exportações de 46 milhões 52% mais. A área de arroz, que foi de 3 milhões de hectares em 2006 e caiu para 2 milhões neste ano, deverá ser de apenas 1 milhão em 2026. Se as previsões do ministério se confirmarem, no entanto, a produtividade do cereal dobrará na próxima década. O feijão também passa a ocupar área menor. Será apenas 1,8 milhão de hectares, ante 3 milhões neste ano. Açúcar e leite passam a ser destaques nos próximos anos. As usinas colocarão 50 milhões de toneladas de açúcar no mercado em 2026, 52% mais, enquanto a produção de leite sobe para 43 bilhões de litros, 26% mais. A produção de café, que está em 51 milhões de sacas, deverá atingir 65 milhões em 2026, prevê o Ministério da Agricultura. CARNES O Brasil tem se destacado muito na produção e na exportação de carnes nos últimos anos. Esse cenário permanece. Em 2026, o país produzirá 10,2 milhões de toneladas de carne bovina e exportará 36% mais do que neste ano. Já a produção de carne de frango vai a 19 milhões de toneladas, permitindo que as exportações avancem 43% nos próximos dez anos, mesmo percentual de crescimento da carne suína.
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A recuperação da confiança Se bem-sucedido, diálogo estabelecerá relacionamento mais sadio de Executivo e Legislativo FONTE JORNAL O ESTADO de S. PAULO, EDITORIAL ESTADÃO 17 Julho 2016 às 03h 00
Em entrevista exclusiva publicada no Estado de sexta-feira, 15, o presidente em exercício Michel Temer manifestou a disposição de “desidratar essa coisa de Centrão” com o objetivo de promover a unificação da base situacionista na Câmara dos Deputados. Além de fortalecer a relação de independência e harmonia entre os Poderes Executivo e Legislativo, o fim do Centrão ajudaria a sanear as práticas fisiológicas que têm desvirtuado a missão constitucional da Casa de representação popular no Parlamento. O atual Centrão é uma grande ação entre amigos que reúne pelo menos 217 deputados de 13 legendas partidárias. Isolados, eles têm inexpressivo valor parlamentar. O grupo não se pauta por diretrizes ideológicas ou programáticas, mas abriga setores da chamada Bancada BBB (Boi, Bíblia e Bala). Sua legenda emblemática talvez seja o PSD, partido que de acordo com seu fundador, Gilberto Kassab, não é de direita, nem de esquerda, nem de centro. Ou seja, está sempre aberto ao que de melhor aparecer. Foi assim que Kassab transferiu-se da oposição ao lulopetismo, passando da condição de líder mais expressivo do antigo PFL quando era prefeito de São Paulo à condição de conselheiro político e ministro das Cidades de Dilma Rousseff. Completou o salto triplo aninhando-se no regaço do governo interino como ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações. Houve um Centrão criado na segunda metade dos anos 80 por representantes de partidos conservadores dispostos a influir no trabalho da Constituinte de 1988. Embora fosse diferente do atual na medida em que estava focado em pautas programáticas, o Centrão do governo Sarney, a quem dava apoio, inaugurou a era moderna do toma lá dá cá, explicitada no mote “é dando que se recebe”, nas palavras do nem um pouco franciscano deputado paulista Roberto Cardoso Alves. O atual Centrão surgiu de fato, embora ainda não fosse conhecido por esse nome, durante o primeiro mandato de Lula, quando expedientes como o mensalão passaram a ser usados para cooptar uma ampla base parlamentar. A principal razão para que não fosse então reconhecido com nome próprio um grupo parlamentar de apoio ao governo é que o dono exclusivo do poder era o PT, que jamais disfarçou o desprezo político pelos aliados, limitando-se a manter saciadas as suas ambições fisiológicas. Coube a Eduardo Cunha, já por volta de 2010, pouco antes de assumir a liderança do PMDB na Câmara, surgir como mentor do grupo que, integrado preponderantemente por deputados que a ele deviam favores cargos públicos e patrocínios de campanhas, acabou sendo conhecido como Centrão. Pode-se argumentar que a existência do Centrão decorre do princípio de que a união faz a força. Mas que força e forças para quê? Sendo uma união para obter vantagens materiais ao sabor dos ventos da política, esses laços são inevitavelmente frágeis e rompem-se ao menor aumento da tensão. Foi o que aconteceu com o Centrão de Cunha. Aparentemente indestrutível na bonança, desmoronou-se antes mesmo que seu líder virasse carta fora do baralho. E com isso, mudado o quadro político, tanto o chefe do governo provisório quanto o novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, demonstram a intenção de abrir um diálogo político amplo e em outras bases. Se bem-sucedido, esse diálogo estabelecerá um relacionamento 47
mais sadio do Executivo com o Legislativo, descartando arranjos políticos de grande amplitude e mínimo efeito prático erigidos sobre bases puramente fisiológicas. A recomposição da dignidade na lide parlamentar certamente levará o povo a reconsiderar o juízo que faz de seus representantes na política. Os atores que agora sobem à cena política com importância renovada acenam com a possibilidade de restabelecer o entendimento entre Câmara e Senado, para desobstruir a tramitação no Congresso de matérias urgentes da pauta econômica e das reformas estruturantes que o País reclama. Isso é muito importante. Mais ainda será se, impondo um padrão de seriedade à vida política, conseguirem eles restaurar a confiança popular no sistema representativo que o lulopetismo aviltou.
Petrobrás em busca da previsibilidade A palavra-chave que anima a Petrobrás neste momento é 'previsibilidade', que, como reconhece a diretora de Exploração e Produção da estatal, Solange Guedes, 'não tem sido o nosso forte' FONTE JORNAL O ESTADO de S. PAULO, EDITORIAL ECONÔMICO 17 Julho 2016 às 03h 00
Com o objetivo claro de melhorar sua imagem entre os investidores e a sociedade, mostrando que busca aumentar sua eficiência, a Petrobrás anunciou há pouco que sua produção em junho alcançou 2,9 milhões de barris de petróleo equivalente por dia (bpd), incluindo suas atividades no País e no exterior, um recorde histórico. Considerado apenas o resultado obtido em território nacional, a produção foi de 2,2 milhões de bpd. Esses números estão ligados a um compromisso: a estatal vai se esforçar para cumprir a meta de produzir em média 2,145 milhões de barris de petróleo e gás por dia no País em 2016, como prevê o seu plano de negócios. Apesar do bom resultado de junho, a média do segundo trimestre foi de 2,134 milhões de bpd. Somada à fraca produção do primeiro trimestre, o total é inferior ao dos seis primeiros meses de 2015 e a direção da estatal se empenha em recuperar a diferença até o fim do ano. A palavra-chave que anima a Petrobrás neste momento é “previsibilidade”, que, como reconhece a diretora de Exploração e Produção da estatal, Solange Guedes, “não tem sido o nosso forte”. Ela diz que todos os cenários foram colocados sobre a mesa e que, mesmo que venha a ocorrer uma greve dos petroleiros, é provável que a meta de produção seja alcançada. A Petrobrás pretende ativar mais duas plataformas até dezembro, conter o declínio na Bacia de Campos e perfurar novos poços produtores, de acordo com uma política de redução de custos. Segundo informações disponíveis, a estatal já consegue, em alguns campos, produzir petróleo a um custo médio de US$ 7,60 por barril, bem abaixo da cotação internacional do produto, que atualmente varia em torno de US$ 46 o barril. Depois do amplo esquema de corrupção e dos erros administrativos que abalaram suas finanças sob o governo do PT, a Petrobrás deve concluir neste mês a terceira rodada de renegociação de contratos com fornecedores para reduzir custos com sondas, embarcações, aeronaves de apoio às plataformas e suprimentos, bem como com serviços. Com isso, a empresa vai recuperando a credibilidade interna e externa, da qual necessita para enfrentar os grandes problemas que tem pela frente. Apesar de ter renegociado US$ 6 bilhões em títulos, a estatal terá de pagar US$ 20 bilhões só de amortizações nos próximos dois anos, o que a obrigará a vender ativos, um processo até agora apenas esboçado.
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Vai dar? FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, SAMUEL PESSÔA 17/07/2016 às 02h 00
A maior patologia de nossa economia é uma dívida pública que cresce de forma explosiva. Se a proposta de emenda constitucional (PEC) que limita o crescimento do gasto público à inflação passada e inúmeras outras medidas complementares forem aprovadas, provavelmente até a primeira metade dos anos 2020 a dívida estabilizar-se-á em 90% do PIB ou um pouco mais. Em seguida, se tudo der certo, iniciará trajetória de queda. Vai dar? Se não der, necessariamente passaremos por um episódio de aceleração inflacionária que será tão mais elevada quanto mais indexado for o gasto público. Nos últimos 25 anos, o gasto público real, excluindo juros, cresceu a 6% ao ano para um PIB que avançou por volta de 3,5% anuais. Assim, é evidente que qualquer saída de um desastre requererá a limitação da taxa de crescimento do gasto público. É esse o objetivo da PEC. Há algum tempo parecia impossível o Tesouro rolar dívida nos níveis mencionados acima. E, evidentemente, se inúmeras reformas não forem feitas, não será possível, pois a dívida será explosiva. No entanto, se fizermos a lição de casa, é possível que o mercado financie o Tesouro nos níveis mencionados. Cada vez mais se consolida a visão de que o cenário para os próximos anos para as economias desenvolvidas será de baixo crescimento e juros reais muito baixos. Há apetite para investir nos emergentes. Além da PEC de controle dos gastos, existem outras medidas necessárias para estabilizar a dívida pública em algum nível minimamente financiável. Há o projeto de lei complementar da renegociação das dívidas dos governos estaduais e as contrapartidas; a urgente reforma da Previdência; o fim das aposentadorias especiais de servidores públicos; o fim do abono salarial, que caducou diante de todo o pacote de programas sociais existentes; a constitucionalização do dispositivo que permite ao setor público cortar salários em momentos de crise aguda, simultaneamente à redução da jornada de trabalho, entre outros. As estimativas pessimistas de evolução da dívida pública, atingindo níveis acima dos 90% do PIB, já consideram que a recuperação da receita com a retomada do crescimento será muito aquém do que se imagina. As bases tributárias mais importantes para a arrecadação —massa salarial e consumo—, que produziram as receitas extraordinárias entre 2002 e 2011, não crescerão muito acima do PIB na próxima recuperação cíclica, como foi o caso naquela oportunidade. Somando tudo, uma ruptura que parecia quase certa até alguns meses atrás poderá ser evitada se muita coisa ocorrer. Vai dar? Difícil saber, mas os sinais de que nosso presidencialismo de coalizão retorna lentamente ao seu curso normal —após as disfuncionalidades acumuladas em mais de 13 anos de petismo— aumentam as chances. Temos um presidente que sabe operar nosso sistema político —encontrar a medida correta entre o varejão e o compartilhamento de poder— e que tem um rumo, o de criar as condições para que seja restabelecida a estabilidade macroeconômica, destruída no primeiro mandato da presidente Dilma. No passado, essas condições foram suficientes para permitir ajustes e construir a estabilidade macroeconômica. 49
Se fizermos a lição de casa, se o mundo continuar paciente, com sorte vai dar
Mesmo quem está empregado sonha em deixar o país Crise provoca fuga de talentos para outros países
FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, ÉRICA FRAGA e MARIANA CARNEIRO DE SÃO PAULO 17/07/2016 às 02h 00
No ano passado, quando apareceu a chance para o administrador Juliano Pereira, 36, ir trabalhar na sede da empresa de celulose Stora Enzo, na Suécia, ele não duvidou. "Nos últimos oito anos eu havia viajado muito pelo pela empresa, mas nunca tinha tido a experiência de morar fora. Achamos que era o momento de viver outra cultura." Ele se mudou com a mulher e o filho. Embora ainda não falem sueco, ele diz que se adaptaram. "Eles não vivem para trabalhar. Trabalham, mas também levam a vida pessoal muito a sério", diz o executivo, que não pensa em retornar antes de dois anos. Vice-presidente de Recursos Humanos da divisão de biomateriais da Stora Enzo, Pereira diz que, para atrair profissionais qualificados de volta, o Brasil precisará destravar o investimento. "Primeiro a economia retornará com o básico, com o consumo. Para desenvolver tecnologia, que é o que atrai pessoal qualificado, é preciso subir um degrau. Mas quem tem segurança de investir no país hoje?" Profissionais como Pereira, empregados e com disposição de trabalhar no exterior, são numerosos, segundo a consultoria de recursos humanos Hays. 50
Pesquisa recente da empresa mostra que o percentual de profissionais com a disposição passa de 60% em todos os níveis: de analistas a presidentes. "A ambição de morar fora em busca de aprimoramento já era comum entre executivos, mas, com a crise, passou a atingir todos os níveis de gestão e idades", diz Raphael Falcão, diretor da Hays. Segundo ele, a crise tem sido uma oportunidade para empresas estrangeiras recrutarem no país. "No curto prazo, é uma perda. Mas esses movimentos são muito voláteis. Muitos voltam", diz. ‘
Há no mundo um esgotamento da democracia liberal’
Fonte Sonia Racy Jornal O Estado de S. Paulu, 18 Julho 2016 às 01h 30
Foto: Denise Andrade
Para o futuro embaixador do Brasil em Washington, os partidos políticos – na Europa e nos EUA – não foram capazes de captar a tempo a crescente insatisfação da sociedade Falta apenas a sabatina no Senado, dia 11 de agosto, para que Sergio Amaralarrume suas malas rumo a Washington. O diplomata já recebeu o agrément (aceitação formal) do governo americano para ser o novo embaixador do Brasil nos EUA, mas precisa ainda ter seu nome aprovado no plenário da Casa. Experiência, entretanto, não lhe falta. Amaral já serviu, em duas ocasiões diferentes, na embaixada brasileira da capital americana. E volta ao local cheio de planos: “Existe uma multidão de grupos de trabalho, de comissões mistas, de projetos que foram assinados ou que resultaram em comunicados conjuntos entre Brasil e Estados Unidos. A maior parte deles está paralisada ou nem saiu do papel”, conta o embaixador que já está pinçando, dentro de uma pilha gigante, os projetos factíveis, além de estar pensando outras novas iniciativas. O fato é que Brasil e Estados Unidos mantêm uma antiga e extensa relação comercial. O mercado americano é o segundo maior comprador de produtos e serviços brasileiros no exterior. Segundo os números do governo Temer, a China adquiriu, ano passado, US$ 35,6 51
bilhões do Brasil, seguida pelos Estados Unidos, com US$ 24,2 bilhões. A balança, no entanto, só é favorável ao Brasil, no caso da China, que comprou US$ 5 bilhões mais do que vendeu. Já os EUA venderam US$ 2 bilhões mais do que compraram por aqui. Amaral já foi embaixador em Paris e Londres, serviu na embaixada de Bonn, na Alemanha, e na missão permanente do Brasil junto à ONU, em Genebra. Também foi presidente da Associação dos Países Produtores de Café e do Conselho Empresarial Brasil-China. Abaixo, os melhores momentos da conversa. Se Donald Trump ganhar as eleições norte-americanas, o que muda nos Estados Unidos e na sua relação com o Brasil? A tradicional administração americana é forte o suficiente para impedir a implantação de ideias ‘estranhas’ que o candidato vem apresentando? Essas perguntas requerem uma percepção um pouco mais ampla: a análise do novo populismo na Europa e nos Estados Unidos. O movimento parece refletir algumas coisas. Uma delas é um esgotamento da democracia liberal, porque os partidos não foram capazes de captar a tempo a crescente insatisfação da sociedade e dar uma resposta. Há uma crise de representatividade na Europa, onde se vê um conjunto de partidos antieuropeus. Nos EUA também há uma crise de representatividade porque os partidos políticos esperavam que certos temas fossem absorvidos e não foram. Como o tema dos imigrantes? Sim, incluindo o tema das importações, sobretudo provenientes da China, que transferem empregos e estão aguçando um sentimento nacionalista protecionista. Curiosamente, a Hillary Clinton tem hoje a seu lado o senador Bernie Sanders, que é uma espécie de socialista tardio. Ele levantou uma série de questões socialistas exatamente no momento em que o socialismo no mundo está acabando. O populismo, nesse sentido, significa líderes ou partidos que estão tomando lugar dos partidos tradicionais. Trump fala para os desempregados cujas empresas onde trabalhavam foram fechadas. Fala para os sindicatos que sofrem a concorrência dos produtos de fora ou cujos associados estão perdendo emprego. Ele fala de maneira segmentada. E como unir essas partes? Como unir o protecionismo em um partido liberal, como o Republicano? De que maneira Trump vai implantar a ideia fantasiosa de fazer um muro entre EUA e México? Ou proibir a imigração? É fato que a imigração não se refere só ao imigrante em si, mas também às empresas que precisam de migrantes para serem competitivas. Acredita que hoje quem não é politicamente correto é visto com bons olhos? Não há nada mais politicamente incorreto que falar sobre o muro entre Estados Unidos e México, concorda? Trump dá uma resposta radical, diferente dos partidos tradicionais, que deram respostas que não foram satisfatórias para setores e camadas que estão sofrendo esses problemas. Aqui na América Latina você vê algo parecido? Por aqui o populismo tinha outro conceito, extremamente diferente, que era a capacidade dos partidos tradicionais manipularem as massas com discurso popular. Depois, o populismo foi econômico. E hoje o populismo já é diferente. O caso mais claro do populismo atual na América Latina foi o de Hugo Chávez. Não acho que Lula tenha sido exatamente populista. Ele foi popular. Já em um segundo momento do governo Dilma, ela sim foi claramente populista quando as respostas que dava não tinham um significado realista, não condiziam com a realidade. 52
O sr. acha que esse novo populismo inclui inverdades, como no caso de Dilma? Muitas das afirmações que Dilma fez, sobretudo na campanha, não condiziam com a realidade e essa foi uma das grandes razões da perda de popularidade dela. Os eleitores, inclusive do PT, se sentiram fraudados. Mas o impressionante é que isso parece ser não só uma prática, mas também um recurso da política nos tempos contemporâneos. O Brasil vai ter eleições majoritárias daqui a dois anos e meio. Há algum perigo disso se repetir por aqui? Não. Inclusive porque o que nós estamos sentindo no governo do presidente interino, Michel Temer, é exatamente o contrário. Ele está buscando uma pacificação, uma serenidade no trato das coisas e, acima de tudo, tem uma grande capacidade de articulação política. Acredito que isso vai estabelecer um modelo, um novo parâmetro de relações do governo com o Congresso e com a sociedade. Trata-se de um novo modelo ou já tivemos conduções semelhantes a esta? É um modelo parecido com o que foi o governo Fernando Henrique Cardoso. Que tinha uma grande serenidade, tinha capacidade de articulação e, sobretudo, a capacidade de uma discussão pública das grandes questões. O que o Brasil pode esperar da ida do sr. a Washington? O que vai mudar?
Temos uma boa oportunidade de um aprofundamento das nossas relações, porque, antes de tudo, existe uma convergência nas políticas maiores dos dois países. O que isso quer dizer? Obama, desde o início, assumiu compromissos que vão exatamente na direção daquilo que o Brasil sempre reclamou ou sempre desejou: a afirmação do multilateralismo, a afirmação da concertação como uma forma básica de entendimento. Mais do que isso, ele deu um passo muito importante para as relações dos Estados Unidos com a América Latina: o reatamento das relações com Cuba. Mesmo com a proximidade do governo Lula e Dilma com Cuba, o Brasil não foi chamado a participar dessas negociações. Perdemos a oportunidade de ter tentado um entendimento? Talvez o Brasil tenha perdido essa oportunidade porque não era visto como isento nessa relação entre Estados Unidos e Cuba. Mas voltemos à convergência, qual é a nossa parte nela? Ela está no discurso de posse do ministro José Serra com orientação clara do presidente Temer: a nova política externa vai ser fiel aos valores e aos interesses do Brasil e não às preferências ideológicas de um partido. Que projetos o sr. levará para Washington? Tive uma grande surpresa ao me debruçar na relação bilateral, que eu não acompanhava havia muito tempo. Existe uma multidão de grupos de trabalho, de comissões mistas, de projetos que foram assinados ou que resultaram em comunicados conjuntos entre Brasil e Estados Unidos. A maior parte deles está paralisada ou nem saiu do papel. Sabe por que não andaram? O episódio da espionagem telefônica da Dilma praticamente paralisou o relacionamento, mas também há casos em que nós não soubemos superar as dificuldades. Tenho tido conversas com a embaixadora americana no Brasil, preparando a minha ida, e nós resolvemos que a primeira coisa que vamos fazer é uma limpeza da mesa. Pegar essa pilha de projetos e
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acordos, separar o que é viável, aquilo que pode ser resolvido a curto prazo, o que é uma prioridade para os dois países, e tentar resolver isso da forma mais rápida possível. Pode mencionar alguns desses projetos? Um que já está no Congresso é o Open Sky, que permite a liberdade de frequência de voos entre os dois países. Há também um acordo sobre carne, dando liberdade de exportação in natura dos dois lados. Esse projeto está bastante avançado existindo apenas algumas questões técnicas que devem ser resolvidas nas próximas semanas para que se concretize. Além disso, está pronta para sair a questão da aprovação do Global Entry – programa que ajuda a agilizar a entrada de passageiros internacionais de baixo risco, pré-aprovados, com destino aos EUA. Isso aumenta o prazo do visto para viajantes frequentes ou facilita a vida, sobretudo, da comunidade de negócios. Na área cultural, podemos esperar algo interessante? Defendo que nós criemos nichos para falar para determinados segmentos da sociedade. Quando estive na embaixada, em 1992, começamos a construir uma ponte entre a comunidade judaica americana e a brasileira. Você sabia que os judeus que fundaram Nova York, em sua maioria, migraram do Brasil para lá? Na época em que a Inquisição se instalou na Espanha e, depois, em Portugal, esses judeus novos vieram para o Brasil durante a ocupação holandesa e se instalaram no Nordeste, tendo importante papel na colonização holandesa de Pernambuco. Falo em desenvolver uma ponte de aproximação. Como seria essa ponte de aproximação? Poderíamos começar com uma exposição mostrando que, quando eles foram expulsos com os holandeses de Pernambuco, uma parte migrou para Nova York – que era a New Amsterdam – e ajudaram na fundação da cidade. Tanto assim que o primeiro cemitério judeu em NY se chama Cemitério Brasileiro. Tem também uma história que eu comecei lá atrás e que não evoluiu: a participação do Smithsonian Institute no desenvolvimento e criação de parques temáticos ambientais na Amazônia. Nós os ajudamos a criar um departamento sobre a Amazônia e depois eles estudaram a implantação de cinco parques temáticos. Quero muito ver isso acontecer.
‘A partir de 2017, podem vir anos bons para o mercado’ Executivo é um descontados para liderar empresa resultado de fusão com a Bovespa, avaliada em R$ 40 bilhões Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, Fernanda Guimarães 16 Julho 2016 às 05h 00
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No comando da Cetip desde 2013 e com papel importante para nas negociações para a fusão com a BM&FBovespa, Gilson Finkelstain é agora o principal nome cotado para suceder Edemir Pinto, presidente da BM&FBovespa, na empresa fruto da união dos negócios, de acordo com fontes. Depois de um longo “namoro”, o acordo de R$ 12 bilhões foi fechado em abril. Juntas, as empresas devem ter valor de mercado de cerca de R$ 40 bilhões. O executivo, que prevê uma 54
recuperação do mercado de capitais a partir de 2017, diz que a nova Bolsa será uma empresa como poucas no País: “Ela tem mercados sólidos, resilientes, que sofrem pouco com o ciclo econômico”. Foto: Divulgação
Segundo Finkelstain, aval do Cade será no início de 2017
Leia, a seguir, trechos da entervista de Finkelstain ao 'Broadcast', notícias em tempo real do 'Grupo Estado': A fusão deve enfrentar resistência de órgãos reguladores? O pedido foi protocolado no dia 28, quando começou o prazo regulamentar, que pode levar oito meses, com possibilidade de extensão por mais três. Ou seja, até o fim de abril de 2017. O mais provável é que o aval do Cade leve tempo e fique para o primeiro trimestre do ano que vem. Não tem um caso similar. Cada empresa é líder em seu mercado de atuação. Não é uma operação tradicional de escala, que gera concentrações em determinadas regiões. O Cade pode fazer exigências para aprovar a fusão? Há os “remédios” de concentração e os comportamentais. Os de concentração são necessários quando a operação é de escala, mas aqui é uma fusão de escopo. Se vier algum remédio, será “comportamental”. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) deverá ficar atento à governança da companhia, à transparência de procedimentos e preços e à obrigatoriedade de prestar serviço de clearing a outras plataformas. Esse compromisso, aliás, já existe. A fusão torna difícil a entrada de concorrentes? Esse tipo de atividade, no mundo todo, é oferecida por poucas empresas. Depois da crise de 2008, ficaram óbvias as vantagens de se ter poucas empresas robustas, com mecanismos de controle e com uma barra muito alta colocada pelo regulador como tendência. Por que a fusão saiu agora, após tantas tentativas? 55
A fusão foi uma amostra de compromisso com o País. O momento é difícil para essa decisão. Essa é uma tentativa de trazer para o Brasil uma empresa de infraestrutura mundial. O mercado percebeu o valor dessa companhia combinada. O debate de sucessão do presidente da nova companhia já começou. Como ficará sua posição no futuro? A Bolsa precisa fazer um processo sucessório até 2018. Está definido que Edemir (Pinto, presidente da BM&FBovespa) será presidente da nova companhia e que isso (a sucessão) será endereçado pelos conselhos ao longo desse tempo, entre o fechamento da operação e meados de 2018. O que eu farei não está desenhado ainda. Tivemos mais recentemente algumas emissões de dívidas pelas empresas brasileiras. É um sinal de início de retomada? Há uma esperança de que irá melhorar. É difícil ver ainda pauta de investimento nesse segundo semestre, mas há alguns indícios de que os astros estão se alinhando para essa retomada do mercado de capitais, com a queda da taxa de câmbio, aumento da confiança e queda da curva da taxa de juros. Obviamente, há ainda muitas incertezas em relação ao ambiente político. Mas as indicações são de que, a partir de 2017, poderão vir anos bons para o mercado de capitais, guardadas as devidas proporções, pois a retomada do Brasil não será fortíssima. O mercado de capitais conseguirá, em uma eventual retomada, ser o protagonista no financiamento dos investimentos? O mercado de capitais sempre esteve na agenda, desde o primeiro governo Lula até a crise de 2009. Mas, depois, a política de Estado ficou mais intervencionista, ocupando um pouco do espaço do mercado de capitais. A atuação do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que sempre teve uma agenda construtiva para o mercado de capitais, acabou diminuindo esse papel. Mas, agora, é esperado que o mercado de capitais tenha maior protagonismo para a agenda de investimentos. Porém, não podemos deixar de ter uma agenda de responsabilidade fiscal muito grande, para que o País possa ter juros mais baixos, que não inibam o mercado de capitais.
Questão de credibilidade Fonte Jornal O Globo, George Vidor, 18/07/2016 às 02h 46
A equipe econômica conquistou a confiança dos mercados para a missão de reequilibrar as finanças públicas O déficit nas contas da União poderá chegar este ano a R$ 170 bilhões e está projetado para cair a R$ 139 bilhões em 2017. Os números mostram o tamanho do esforço que terá de ser feito para as finanças governamentais voltarem ao equilíbrio em 2018 ou 2019. O que faz então os mercados reagirem positivamente diante do quadro difícil? A resposta está na qualidade e na credibilidade dos nomes que compõem a equipe econômica do presidente interino, Michel Temer, que é capitaneado por Henrique Meirelles, no Ministério da Fazenda. Ao blindar a equipe econômica, Temer conquistou apoio dos agentes econômicos para concluir o atual mandato presidencial, até 2018. E a recuperação da economia é uma questão decisiva na votação do Senado que decidirá em agosto o afastamento definitivo de Dilma Rousseff, cujo governo perdeu completamente a credibilidade junto aos segmentos que fazem o sistema econômico funcionar.
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Retrato em preto e branco Eduarda La Rocque sempre trabalhou no mundo das finanças. Entrou por essa porta para o setor público, quando aceitou o convite do prefeito Eduardo Paes para conduzir a secretaria de Fazenda do município do Rio. Segundo polo econômico do país, o Rio capital ainda nem tinha nota fiscal eletrônica. Os prestadores de serviços eram obrigados a guardar por até cinco anos talonários de notas emitidas. Havia ainda outros procedimentos da “idade da pedra”, inaceitáveis e incompatíveis com a era digital que vivemos. Depois de acertar a dívida do município, Duda, como é mais conhecida, foi dirigir o Instituto Pereira Passos, com a missão de implantar UPPs sociais em áreas onde as Unidades de Polícia Pacificadora do Estado já tinham sido instaladas. Aprendeu na prática como funcionam as coisas na política. Deixou o Instituto com nova missão, a de alinhavar o Pacto do Rio, uma tentativa de definir caminhos de sustentabilidade (econômica, financeira e social) para a cidade depois de passado o impacto dos Jogos Olímpicos. Há dez meses, com chancela da Associação Comercial, ela e a filósofa Viviane Mosé trabalharam para debater essas questões no Fórum da Sustentabilidade. Partiram de algo concreto, que é o Índice de Progresso Social do município. Assim como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), os economistas sentem hoje a necessidade de outros indicadores que lhes permitam melhor avaliar as dificuldades e os desafios que uma sociedade tem pela frente. A renda média por habitante não traduz exatamente o que está acontecendo e nem sempre mostra por onde caminhar. Em face dos resultados colhidos no Índice de Progresso Social, constatou-se que o Rio precisa de um pacto que envolva vários grupos de pressão (governantes, empresários, políticos, moradores, etc.). O município do Rio tem um Índice de Progresso Social na faixa de 70. O mais alto é o da região administrativa de Botafogo (86,9). Mas é Copacabana que tem o melhor índice de necessidades humanas básicas (85,14). O campeão de oportunidades é também Botafogo (86,91). Fora da Zona Sul se destacam Tijuca, Vila Isabel, Barra da Tijuca e Méier. Na liderança dos fundamentos do bem-estar está a região administrativa da Lagoa (85,14). A Pavuna tem o pior Índice de Progresso Social (41,43), cerca de 60% da média do município, e menos da metade do patamar de Botafogo. Curiosamente, os dois bairros estão interligados diretamente pela Linha 2 do metrô. E não é por acaso que a Pavuna é uma zona conflagrada, palco de assassinatos bárbaros. Rocinha, Jacarezinho e Complexo do Alemão aparecem na estatística com indicadores estarrecedores, o que não é uma surpresa. O Fórum vai pôr em prática uma experiência local para tentar mudar essa triste realidade. Começará por Manguinhos. Outro mundo Danilo Benarrós é matemático. A origem do sobrenome é sefardita, de famílias marroquinas que emigraram para o Pará no século XIX. Coordenou várias Olimpíadas de Matemática no Estado do Amazonas, onde nasceu e ainda vive. Os filhos de Danilo são daqueles jovens que se envolvem em start-ups com ideias criativas. Fazem parte do grupo que sonha em dar um salto nos estudos, graduando-se ou pós-graduando-se no exterior. Geralmente são muito maduros para a própria idade e até enfrentam dificuldades de relacionamento com outros jovens que não têm propósitos semelhantes. Danilo apoiou a iniciativa do filho Mateus de criar a Apply, que tem como objetivo preparar estudantes que desejam estudar nas melhores universidades no exterior, em especial as americanas. Prepararam 270 estudantes, a maioria em Manaus
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mesmo, e todos tiveram a chamado application aprovada pelas 85 universidades americanas para os quais se candidataram. A internet quebrou o isolamento desses jovens manauaras que se destacam nas suas áreas de interesse. Hoje eles se comunicam, estudam e trabalham com pessoas de todos os lugares. E sem sair da capital do Amazonas conseguem pôr em prática ideias muito criativas, como foi o caso da Apply, que tem alguns dos monitores morando a milhares de quilômetros da região amazônica.
'Sou contra falar em privatização da Petrobras', diz presidente da empresa FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, MARIA CRISTINA FRIAS COLUNISTA DA FOLHA, VALDO CRUZ e NICOLA PAMPLONA DE SÃO PAULO 18/07/2016 às 02h 00
O presidente da Petrobras, Pedro Parente, disse à Folha que não haverá "dogmas" na venda de ativos da estatal e admitiu estudar o cocontrole compartilhado com o setor privado de algumas subsidiárias, como a BR Distribuidora ou a Transpetro. "Na hipótese de a gente abrir a maior parte do controle, é com controle", afirmou, lembrando que isso será feito obedecendo a três condições: maximizar o valor dos ativos, preservar a empresa verticalizada e manter os seus interesses estratégicos. Dogma, para Parente, é apenas a privatização da estatal. "Não acho que a sociedade brasileira esteja madura para sequer discutir, isto sim é dogma, a privatização da Petrobras." Em entrevista à Folha no escritório de São Paulo, Parente afirmou que os diretores envolvidos no petrolão "foram escolhidos com a intencionalidade" de praticar crimes e apontou que uma das razões da crise da estatal foi "fazer deliberadamente a escolha desses desonestos para liderar a empresa". Nome apontado pelo presidente interino, Michel Temer, como um dos trunfos de seu governo para ganhar a confiança do mercado, Parente sorriu antes de responder se ficaria na empresa numa eventual volta de Dilma Rousseff. "Não sei. Não tenho a menor ideia", afirmou. Fabio Braga/Folhapress
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Pedro Parente, Presidente da Petrobras
Folha - Que diagnóstico o sr. faz da situação da empresa, um mês após ter assumido? Pedro Parente - A empresa estava muito doente. Há um ano e meio, era uma hemorragia aguda: não tinha balanço e estava no limite de provocar resgate de dívidas. A turma que chegou naquela época conseguiu resolver essa hemorragia. Mas ainda há problemas complicados, e a síntese deles é o nível de endividamento. Logo depois da capitalização, em 2010, a Petrobras tinha dívida equivalente a menos de uma vez sua geração de caixa. Quatro anos depois, saltou para quatro vezes a geração de caixa. E [isso foi gasto] em projetos que depois se mostraram totalmente equivocados, desastrosos. Veja por exemplo o Comperj, no qual a empresa investiu US$ 13 bilhões, mas não obteve nenhum retorno. Faz sentido fazer parcerias para futuros investimentos? Faz todo o sentido. A gente é muito bem-sucedido em parcerias no upstream [exploração e produção], e nós achamos que faz sentido reproduzir esse modelo de parcerias em outras áreas da empresa. Mas não podemos esquecer questões estratégicas. Para extrairmos o melhor resultado possível da empresa, temos de manter a empresa verticalizada. A gente tem de estar no upstream e no downstream [refino e distribuição]. Mas não precisa estar com 100%. Não quero entrar em detalhes porque ainda trabalhamos no planejamento estratégico. Mas vemos valor nas parcerias. Reduzem riscos, a necessidade de aporte de 59
capital, trazem tecnologias e cultura diferentes. A grande discussão que se coloca neste momento: controle ou cocontrole (controle compartilhado)? Seria com cocontrole? Eu não quero me antecipar. Agora, independentemente de uma direção ou de outra, o fundamental é preservar os interesses estratégicos da Petrobras. Se for cocontrole, só será feito na medida em que garantirmos a preservação dos nossos objetivos estratégicos. Em exploração, a gente já tem muitas parcerias, inclusive minoritárias. É uma discussão importante que seja colocada, mas não estou comunicando uma decisão. Estudamos todas as alternativas, sem dogma. Na BR Distribuidora está mais avançada... Para a BR Distribuidora recebemos três propostas e estamos avaliando se a modalidade em que foi escolhida é a que mais agrega valor para a empresa. Se existirem outras possibilidades, mais competitivas, para nós, fará sentido. Não vamos olhar essas questões com dogmas, mas observando três condições: maximizar o valor da Petrobras, preservar sua condição de empresa verticalizada e nossos interesses estratégicos. O sr. abre mão em qualquer área de ser o controlador? Quando digo que é sem dogma, é que olhamos todas as questões presentes. Meu medo é vocês colocarem: "Presidente da Petrobras admite vender controle". Eu não quero chegar a esse ponto, porque não tenho decisão nesse ponto. Estamos falando em cocontrole, na hipótese de a gente abrir a maior parte do controle, é com cocontrole. O sr. não está falando em cocontrole na estatal Petrobras como um todo? De jeito nenhum. Quero deixar clara a minha opinião, eu não acho que a sociedade brasileira esteja madura para sequer discutir, isto sim é dogma, a privatização da Petrobras. Eu acho que o trabalho que a gente tem de fazer é transformar a Petrobras de volta na maior empresa brasileira. O gigantismo da Petrobras contribuiu para os desvios investigados na Lava Jato? A empresa fez diversas modificações de controles internos, não temos mais decisões monocráticas. Hoje, as decisões da empresa são feitas em comitês estatutários para evitar que esse problema aconteça de novo. Dada a intencionalidade dos agentes que cometeram esses crimes, é difícil acreditar que o problema tenha sido essa ou aquela forma com que a Petrobras faz suas compras e suas licitações. Eles dariam uma volta em qualquer tipo de sistema porque, no fim do dia, a consecução da prática não se dava na própria empresa, na assinatura dos contratos. Esse dinheiro saía depois de fazer o pagamento [às empreiteiras], conforme as delações. Tenho visto afirmarem que o regime de compras da Petrobras foi uma das causas. Eu tenho dúvidas. Porque havia uma claríssima intencionalidade de agir daquela forma. Eles tinham muita autonomia para decidir, não?
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Tinham, e houve uma trajetória que se mostrou muito funcional ao que aconteceu: exigir um conteúdo local muito maior, inclusive em áreas em que o país não tinha condições de atender. Todas as metas aparentemente autorizadas pelo pré-sal, mas que depois se mostravam irrealistas. E, em razão dessas metas irrealistas, precisamos construir mais refinarias, fazer mais contratos disso e daquilo. E é em razão dessas obras que não produziram resultados que temos a situação de hoje. A intencionalidade desses agentes que transformaram a Petrobras em vítima é a principal razão, não o gigantismo. Vítima de sua equipe... Não é da sua equipe, é de uma minúscula minoria. Em um grupo de 80 mil indivíduos, 20, 30 são desonestos. O problema é fazer deliberadamente a escolha desses desonestos para liderar a empresa. Eles foram escolhidos com essa intencionalidade. O Palácio do Planalto, que chancelou a indicação, também teve essa intenção? Sem comentários. A Petrobras deveria ser fatiada para ser mais eficiente? Eu estou lá para provar o contrário. Eu seria absolutamente contra que ela fosse fatiada. Quero deixar claro que eu sou contra falar em privatização da Petrobras. E o conteúdo nacional? Eu sou a favor de uma política de conteúdo nacional. O que não acho aceitável nem possível é que seja uma política de reserva de mercado. Talvez o prejuízo mais grave foi o atraso na construção. Temos que ver aquilo que o país tem mais condições de produzir com competitividade. O sr. é a favor da volta do modelo de concessão no pré-sal? O modelo de partilha é o menos favorável para as empresas. Mas isso é questão de política de governo. Tem projeção recente das perdas com ações nos EUA? Nós estamos trabalhando para ter a menor perda possível. Eu não faço projeção. Nosso trabalho é reduzir ao mínimo, se possível não pagar nada nessas ações. É possível não pagar nada? O nosso trabalho é deixar absolutamente evidente que fomos vítimas dessa quadrilha. Vejam a distinção que existe entre a situação da Enron e a da Petrobras. A Enron praticou uma série de atos e iniciativas que tiveram como consequência o benefício da própria empresa. A Petrobras não teve benefícios, só teve perdas, uma perda financeira, uma perda reputacional. Não há um provisionamento?
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Para nós, não é caso para provisionamento de perdas. A meta de venda de ativos de US$ 15 bilhões neste ano será mantida? Entre US$ 15 bilhões e US$ 16 bilhões. Considerando o que já fizemos, que não foi muito, estamos hoje com uma meta de US$ 14,1 bilhões. Estamos mantendo a meta. A venda vai se acelerar? Não posso dizer ainda, mas a grande discussão será, atendendo às questões estratégicas da empresa, qual a velocidade com que vamos reduzir o endividamento. Em hipótese nenhuma será pior que a meta colocada. RAIO-X PEDRO PARENTE Nascimento Nasceu no Rio, em 21 de fevereiro de 1953 Formação Engenharia, UnB Cargo Presidente da Petrobras desde 2 de junho Carreira Presidente da Bunge Brasil (2010-2014); vice do grupo RBS (2003-2009); de 1999 a 2002, foi ministro de FHC (Planejamento e Casa Civil); ficou conhecido como "ministro do apagão", ao coordenar a Câmara de Gestão da Crise de Energia, em 2001
Curso no exterior não pode ser abatido do IR Receita Federal brasileira indica que são dedutíveis de IR valores relativos a instrução em cursos em estabelecimentos de ensino regulares Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, Fábio Gallo 18 Julho 2016 às 08h 07
Tive um gasto educacional com uma certificação emitida por um instituto de fora do País. Como posso declarar no imposto de renda esse gasto se o CNPJ do instituto não está no recibo de pagamento? Esse tipo de gasto não é dedutível do imposto de renda, independentemente de constar ou não no recibo de pagamento o EIN (Employer Identification Number), equivalente nos EUA ao nosso CNPJ. A Receita Federal brasileira indica que são dedutíveis de IR valores relativos a instrução em cursos em estabelecimentos de ensino regulares. Gastos com cursos preparatórios para concursos ou vestibulares, por exemplo, não são dedutíveis. No caso de pós-graduação, compreendendo especialização, mestrado ou doutorado, há previsão de dedutibilidade dos gastos com o curso em si. Mas, gastos relativos à elaboração de dissertação, tais como cópias, tradução de textos, impressão, sistemas, etc, não são consideradas despesas de instrução. Por outro lado, embora os cursos livres não sejam dedutíveis como despesas de educação, caso sejam comprovadamente necessários para o
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exercício profissional, poderão ser deduzidos como despesas por aqueles que recebem rendimentos de trabalho não-assalariado. Efetuei o levantamento de depósito judicial correspondente à condenação da fazenda pública no pagamento de honorários advocatícios. Recebi duas verbas: principal e atualização monetária. Não foi efetuado desconto de imposto de renda na fonte. A conta judicial do depósito é como se fosse uma caderneta de poupança. Indago: os juros recebidos são rendimentos não tributáveis como os de uma caderneta de poupança? Esses rendimentos são tributáveis e não são tratados como na caderneta de poupança, que tem lei própria para essa isenção. Segundo a Receita Federal (resposta 213), “os rendimentos pagos em cumprimento de decisão judicial estão sujeitos ao imposto sobre a renda na fonte mediante aplicação da tabela progressiva mensal. A retenção, de responsabilidade da pessoa física ou jurídica obrigada ao pagamento, da-se-á no momento em que, por qualquer forma, os rendimentos se tornem disponíveis ao beneficiário”. Em 2014 a 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça manteve decisão que determinou o recolhimento de IR e CSLL sobre juros recebidos em levantamento de depósito judicial ou na devolução de tributos pela Receita. Para a maioria dos ministros, os juros devem ser tributados porque são uma remuneração. No entanto, são encontradas decisões conflitantes sobre o tema.
Nanicos, mas enfezados Concorrentes menores adotam estratégias inovadoras para lançar um ataque contra as maiores marcas do mundo Fonte The Economist 18 Julho 2016 às 03h 00
Elas fabricam alguns dos produtos mais populares do mundo. Seus logotipos são reconhecidos de imediato; seus jingles ficam na cabeça dos consumidores. Para os investidores, elas são uma promessa de retornos estáveis em tempos turbulentos. E parecem estar ficando cada vez maiores: em 30 de junho, a Mondelez ofereceu US$ 23 bilhões pela Hershey, a fim de criar a maior fábrica de doces e chocolates do mundo; sete dias depois, a Danone, maior produtora global de iogurte, pagou US$ 12,5 bilhões pelo grupo de alimentos naturais WhiteWaveFoods. Apesar disso, há nuvens negras no horizonte das gigantes do setor de bens de consumo não duráveis, que também inclui General Mills, Nestlé, Procter & Gamble e Unilever. Num momento de franqueza, um de seus executivos reconhece: “Estamos meio que no mato sem cachorro.” Para se ter uma ideia problema com que essas empresas se deparam, tome-se o exemplo de Daniel Lubetzky, que começou a comercializar suas barrinhas de nozes e frutas secas em lojas de produtos naturais: hoje as barras Kind estão por toda parte, dos aeroportos aos hipermercados Walmart. Ou pense-se em Michael Dubin e Mark Levine, empreendedores que, há cinco anos, começaram a enviar lâminas mais baratas aos consumidores. Hoje seu Dollar Shave Club controla 5% desse mercado nos EUA. Histórias como essas não faltam. Entre 2011 e 2015, segundo estudo feito pela consultoria Boston Consulting Group e pela provedora de dados IRI, as grandes fabricantes de não duráveis perderam quase 3% de fatia de mercado nos EUA. Em países emergentes, concorrentes locais dão cada vez mais dores de cabeça às multinacionais. Faz três anos que a gigante global Nestlé não consegue atingir sua meta de crescimento anual, fixada entre 5% e 6%.
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Foto: ALY SONG | REUTERS
Durante certo tempo, as dimensões das fabricantes de não duráveis conferiram a elas vantagens enormes. A centralização das decisões e a consolidação dos processos industriais as ajudaram a aumentar margens de lucros. Recorriam a grandes redes pagando alto para ter lugar de destaque nas gôndolas. Mas essas vantagens já não oferecem tantos benefícios. A consolidação deixou grandes empresas mais expostas às variações cambiais, diz Nik Modi, do banco RBC Capital Markets. Os comerciais de televisão vêm perdendo impacto para redes sociais e avaliações online sobre os produtos. Ao mesmo tempo, as barreiras de entrada para as pequenas empresas estão cada vez mais baixas. Elas podem terceirizar a produção e anunciar na internet. E a distribuição já não representa um grande problema: uma marca jovem pode ser testada em vendas online. A tendência é a mesma até quando se trata de financiamento: no ano passado, segundo a provedora de dados CB Insights, os investidores despejaram US$ 3,3 bilhões em empresas de não duráveis de capital fechado, alta de 58% sobre 2014 e aumento acumulado, entre 2011 e 2015, de 638%. Dificuldades. O que inspira ainda mais preocupação é o fato de que os grandes grupos têm dificuldade para acompanhar o ritmo acelerado de mudanças do mercado de consumo. Ali Dibadj, da empresa de pesquisas de mercado Sanford C. Bernstein, diz que, em países de renda média, parte dos consumidores acreditava que os produtos ocidentais tinham qualidade superior. Mas, conforme a economia desses países foi crescendo, grupos locais se mostraram 64
mais afinados com as necessidades das pessoas. Dados do RBC apontam que, de 2004 para cá, houve expansão de empresas locais e regionais em economias emergentes. Na China, por exemplo, o Yunnan Baiyao Group detém 10% do mercado de cremes dentais, com alta de 45% nas vendas ao ano desde 2004. No Brasil, quase 30% dos perfumes vendidos têm a marca “O Boticário”. E, na Índia, as Ghari Industries vendem mais de 17% dos sabões e detergentes. Nos maiores mercados de consumo do mundo, EUA e Europa, também é comum que grandes empresas se movimentem com velocidade paquidérmica. Se o consumidor quer um produto básico, pode optar pelas marcas de baixo custo dos próprios varejistas, como Aldi e Walmart. Se está disposto a pagar mais, pode optar por produtos das pequenas fabricantes que gozam de mais prestígio que os das mais estabelecidas. Levantamento da consultoria Deloitte revela que um terço dos americanos prefere pagar pelo menos 10% a mais pela versão “artesanal” de determinado produto, uma fatia maior do que a dos que se dizem inclinados a pagar mais por conveniência e inovação. O interesse por produtos orgânicos tem se mostrado um desafio e tanto para as grandes fabricantes. De fato, as empresas menores parecem estar com a faca e o queijo na mão. Nos últimos anos, elas contribuíram de maneira significativa para a proliferação de novos produtos. Nos EUA, há mais de 4 mil cervejarias artesanais, número 200% superior ao da década passada. As grandes empresas tentam reagir. Uma das alternativas é restringir o foco de atuação. Em 2014, a Procter & Gamble informou que iria vender ou consolidar cerca de cem marcas, a fim de se concentrar em seus carros-chefe, como as lâminas Gillette e o sabão para lavadoras de roupas Tide. A Mondelez, dona das marcas Oreo e Cadbury, está gastando mais para entender quem se empanturra com quais guloseimas e por quê. Mas a estratégia mais bem-sucedida tem sido a aquisição de outras empresas, seguida de redução de custos. O maior destaque é o grupo brasileiro de private equity 3G, que em 2013 comprou a Heinz e, sem dar bola para os 147 anos da empresa, promoveu cortes profundos em seu orçamento; então foi a vez da Kraft, que em 2015 fez uma fusão com a Heinz; assim como o colosso das cervejas Anheuser-Busch InBev, prestes a engolir a SABMiller. A margem de lucros da Heinz subiu de 18% para 28% em apenas dois anos. Há grandes empresas comprando ou financiando concorrentes menores. Em 2013, duas companhias de alimentos americanas e uma francesa — Campbell Soup, Hain Celestial e Danone — adquiriram cada qual uma fabricante de papinhas orgânicas para bebês. Faz tempo que a Coca-Cola e a gigante anglo-holandesa Unilever investem ou compram empresas de menor porte. A General Mills e a Campbell lançaram suas próprias divisões de capital de risco. É possível que essas estratégias deixem as fabricantes de bens não duráveis parecidas com grandes farmacêuticas, que adquirem empresas menores ou fazem joint ventures, para então cuidar do marketing e da distribuição. Isso vem dando bons resultados aos laboratórios. Mas as grandes fabricantes correm o risco de desembolsar somas consideráveis para comprar startups cujos produtos talvez se revelem mera onda passageira. Apesar dessas dificuldades, alguns executivos continuam confiantes. Tim Cofer, da Mondelez, diz que cortes feitos com prudência e reinvestimentos deixarão a empresa bem posicionada. Outros são mais pessimistas. Recentemente, levantamento da consultoria EY junto a executivos de companhias de bens de consumo mostrou que oito em cada dez entrevistados dizem duvidar que suas empresas consigam se adaptar às demandas dos consumidores. Kristina Rogers, da EY, diz que a questão talvez seja repensar o negócio, e não só reduzir custos e fazer aquisições. “Será que essas marcas espetaculares, avaliadas bilhões de dólares”, indaga ela, “ainda são um modelo robusto”?
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