EDITORIAL: Propostas enfermas FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@grupofolha.com.br 17/09/2016 às 02h00
Propostas imprecisas, quando não desprovidas de qualquer sentido, são parte do folclore de toda campanha eleitoral. Por força do hábito, acabam toleradas pelos eleitores como falhas menores do jogo político. Revestem-se de maior gravidade, no entanto, quando têm por alvo questões nevrálgicas para a população. É precisamente esse o caso dos projetos dos candidatos à Prefeitura de São Paulo para a saúde. Recente pesquisa Datafolha revelou que o setor é o mais mal avaliado da gestão Fernando Haddad (PT) –38% dos paulistanos estão insatisfeitos com os serviços de hospitais e postos de atendimento. O desgosto cresceu bastante nos últimos meses. Em fevereiro de 2015, atingia 15% dos munícipes. Motivos para isso não faltam, como constata quem necessita recorrer ao Sistema Único de Saúde. Na capital paulista, a fila para consultas, exames e cirurgias eletivas passa de 750 mil pessoas. Alguns procedimentos demandam espera de cinco meses. Em maio deste ano, após reclamações de falta de medicamentos, o Ministério Público vistoriou cinco unidades básicas de saúde da rede municipal e um Ambulatório Médico de Especialidades (AME), da estadual. Constatou falta de transparência, atrasos de fornecedores e demora na reposição de remédios. A recessão e o crescimento do desemprego tendem a agravar o quadro, visto que mais pessoas devem migrar para o SUS, somando-se aos 4,5 milhões que dependem exclusivamente da saúde pública na cidade de São Paulo. Diante de cenário tão calamitoso, os planos apresentados até agora pelos candidatos são pífios. Fala-se em expandir a rede, criar serviços e contratar médicos; não se diz, contudo, de onde sairão os recursos para bancar as platitudes. Promete-se aperfeiçoar a integração e a fiscalização das OSs (organizações sociais), mas não se diz como. Por outro lado, metas sanitárias ou assistenciais, de fundamental importância na prevenção de doenças, estão ausentes —como se a tríplice epidemia de dengue, zika e chikungunya não existisse, para ficar num único exemplo recente. Os gastos anuais da prefeitura com saúde montam a R$ 7,3 bilhões, cerca de 20% do orçamento municipal. Com a estagnação econômica no país, é improvável o aumento de verbas para a área.
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