Resenha 23 07 à 25 07 2016

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Sร NTESE DE JORNAIS E REVISTAS

23 รก 27 DE JULHO DE 2016

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Petrobras vai retomar obras na Refinaria Abreu e Lima e Comperj

FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, NICOLA PAMPLONA DO RIO 23/07/2016 as 02h00

O conselho de administração da Petrobras aprovou a continuação das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e de instalações do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Os projetos foram paralisados após o início da Operação Lava Jato. No Comperj, serão retomadas as obras da unidade de processamento de gás natural, necessária para escoar a produção do pré-sal. A refinaria prevista originalmente no projeto não será tocada neste momento. As obras em Itaboraí, no Rio, foram paralisadas em 2015. O complexo já exigiu US$ 14 bilhões, mais que o dobro do orçamento original, e precisa de US$ 5 bilhões para ser concluído. Na obra de Pernambuco, serão concluídas algumas unidades da primeira fase da refinaria, como uma de tratamento de enxofre. A unidade está em operação desde 2014. As licitações serão iniciadas em breve, segundo a estatal.

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Para analistas, governo precisa elevar carga tributária para estancar dívida

FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, FERNANDA PERRIN DE SÂO PAULO 23/07/2016 as 02h00

O governo não vai conseguir estancar a dívida pública se não elevar a carga tributária. Um "tarifaço" deve ocorrer após as eleições municipais, dizem analistas. O Ministério da Fazenda estima que as receitas passem de R$ 1,28 trilhão neste ano para R$ 1,35 trilhão no próximo. Em relação ao PIB, esses números significam queda de 20,8% para 20% nível insuficiente para colocar o Orçamento nos trilhos. A criação de um teto de gastos ainda pendente de aprovação só produziria um resultado primário positivo em 2023, e de 0,3% do PIB, de acordo com projeção da consultoria Tendências. Mas, se complementada por um aumento de receitas de R$ 50 bilhões ao ano, via privatizações, concessões e aumento de impostos, o primeiro superavit viria em 2019. A elevação da Cide (imposto sobre combustíveis) e do PIS/Cofins para alguns setores será necessária, afirma o economista Fabio Klein, da Tendências. O aumento da carga, porém, eleva os custos do setor produtivo, já em crise, e impulsiona a inflação. Um caminho mais fácil politicamente são as concessões e as privatizações. Um "clima pródesestatização" joga a favor da medida, diz Klein, mas o sucesso depende de interesse do setor privado.

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Para atraí-lo, a equipe econômica precisa definir regras que garantam segurança jurídica e boas taxas de retorno. Além disso, as empreiteiras, às voltas com a Operação Lava Jato, estão com problemas de caixa para pegar esses projetos, o que deixa o governo dependente de investidores estrangeiros, diz Bráulio Borges, economista da LCA. Outras receitas em potencial dependem de aprovação do Congresso, caso de novos leilões do pré-sal sem a obrigatoriedade de ter a Petrobras como operadora e da venda de títulos da dívida de empresas e famílias com a União. Esse processo, chamado de securitização, pode render até R$ 55 bilhões em receita, segundo Borges. O sucesso da ação, porém, depende do preço que o governo vai conseguir cobrar por esses títulos: se for muito baixo, ele abre mão de uma receita certa que ganharia no futuro. ETAPAS O governo deve atuar em etapas: aprovação do teto de gastos, seguida por privatizações e securitizações e, com a retomada da atividade econômica, aumento de tributos. Outra medida em estudo é a antecipação do pagamento de R$ 90 bilhões da dívida do BNDES com o Tesouro. A equipe econômica avalia a viabilidade jurídica da ação. Mas ela deve ter o maior efeito colateral entre as ações em discussão. Ao reduzir a capacidade de financiamento do banco, atinge diretamente empresas que dependem desses recursos. DE ONDE VIRÁ O DINHEIRO O que o governo pode fazer para fechar suas contas neste ano e nos próximos

Medida

Corte de gastos

O que é

Quanto poderia conseguir, em R$ por ano

Economistas acham que o governo pode economizar reduzindo custos de manutenção da máquina do 12 bilhões governo e cortando investimentos O governo quer leiloar proje-

tos Privatizações de infraestrutura, privatizar estatais 20 bilhões e a administração dos aeroportos de Santos Dumont e de Congonhas

Depend do Congre

Mas...

As projeções do governo indicam que as despesas deste ano serão maiores Não do que as do ano passado

Falta definir regras que garantam segurança jurídica e Não boas taxas de retorno para atrair o interesse dos 4


Medida

Quanto poderia conseguir, em R$ por ano

O que é

Depend do Congre

Mas...

investidores Um projeto muda as regras para exploração do pré-sal e Novos leilões abre caminho para empresas sem a 20 bilhões do pré-sal obrigatoriedade de participação da Petrobras

O setor de petróleo está sofrendo um período de baixa global, o que pode reduzir o interesse Sim por novos investimentos A antecipação pode reduzir

BNDES

A equipe econômica quer antecipar o pagamento de parte da dívida que 90 bilhões o banco de fomento tem com o Tesouro e estuda se é legal

O governo quer transferir para o Securitização mercado parte das dívidas que a União tem a receber, vendendo da dívida títulos a investidores

55 bilhões

13 bilhões*

As receitas do governo poderiam aumentar, mas os preços dos combustíveis poderiam alimentar a inflação

o Cide

está

Não

O governo pode assim antecipar receitas, mas terá que aceitar um Sim valor menor pelas dívidas para vender os títulos

O governo pode aumentar imposto que incide sobre combustíveis, que hoje

a capacidade de financiamento do banco no momento em que a economia estiver em recuperação

em R$ 0,10 por litro de gasolina

Não

Governo e Congresso já CPMF

A volta do imposto sobre transações financeiras que vigorou 33 bilhões até 2007 é sempre lembrada como uma opção para o governo

se manifestaram contra a volta do imposto, por considerar sua aprovação politicamente inviável

Sim

Impostos que incidem sobre PIS/Cofins

o faturamento das empresas, cujas alíquotas foram reduzidas para impulsionar setores, poderiam aumentar

4,5 bilhões

As margens de lucro das companhias seriam afetadas, prejudicando a Sim recuperação da atividade econômica

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Medida

Repatriação

O que é

Quanto poderia conseguir, em R$ por ano

O governo espera arrecadar com a anistia que permite a regularização de recursos não declarados no 11 bilhões exterior após pagamento de imposto e multa

Depend do Congre

Mas...

O prazo para regularização termina em outubro, mas o Não governo sofre pressão de escritórios de advocacia para mudar as regras e estendê-lo

*Se o aumento for de R$ 0,15/litro Fontes: Ministério da Fazenda e consultorias Tendências e LCA Confira mais infográficos da Folha

Livro analisa efeitos psicológicos da escassez de tempo e dinheiro Rupak De Chowdhuri/Reuters

Trabalhador colhe cana na Índia

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FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, FILIPE OLIVEIRA DE SÃO PAULO 23/07/2016 as 02h00

Depois de semanas de pouca inspiração e muita enrolação, chega a véspera de entregar o trabalho há muito encomendado. A partir daí, um surto de produtividade entra em cena e todas as dificuldades desaparecem. A experiência, tão corriqueira para muitos, é um dos temas discutidos pelos professores Eldar Shafir e Sendhil Mullainathan (de Harvard e Princeton, nos EUA, respectivamente) no livro "Escassez". A obra desvenda os efeitos comportamentais causados pela falta de recursos, entre eles tempo, dinheiro, comida e relacionamentos. Os autores baseiam suas conclusões em uma série de experimentos científicos. Vão costurando suas teses com algumas questões cotidianas e outras de grande impacto. A escassez de qualquer recurso, aponta o livro, cria uma mentalidade que, à primeira vista, parece positiva. Testes mostram que somos mais produtivos quando o prazo está chegando ao fim e quem tem o dinheiro curto sabe melhor o preço das coisas. Porém a questão é mais complexa. Quem vivencia situações de escassez tem sua mente aprisionada por aquilo que está faltando. Quando se coloca um grupo de pessoas para ver uma série de palavras em alta velocidade e tentar identificá-las, quem está de dieta tem mais facilidade para ver nomes de comida; solitários têm mais facilidade para entender expressões faciais. Shafir e Mullainathan usam uma metáfora para explicar sua tese: quando se vivencia a escassez, entra-se em um túnel. Toda a atenção é dirigida a apenas um tema e negligencia-se o que é importante, mas não urgente. Um exemplo: a escassez de tempo que bombeiros enfrentam para lidar com emergências faz com que as es- tatísticas de morte desses profissionais em serviço por falta de uso de cinto de segurança sejam alarmantes, afirmam os autores. POBREZA Shafir e Mullainathan mostram que plantadores de cana na Índia se saem melhor em testes de QI logo após a colheita, quando estão com mais dinheiro, do que quando a colheita está longe e a situação financeira é pior. Isso adiciona um grau de dificuldade maior à vida na pobreza. Por estarem sempre sob efeitos psicológicos nefastos da falta de dinheiro, os mais pobres têm parte de seu potencial reduzido por viverem dentro do túnel. É mais difícil para eles criar hábitos importantes, como tomar remédios periódicos ou aprender algo novo (mesmo que sem ter de gastar nada), afirmam os autores.

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Uma vez instaurada a mentalidade da escassez, seus efeitos bons e ruins não podem ser evitados, mesmo que se esteja consciente de que se está no túnel, afirmam Shafir e Mullainathan. Sem uma lista de saídas milagrosas, os autores oferecem sugestões para a questão. A primeira delas é administrar melhor a abundância. É possível se preparar para entrar no túnel ou criar lembretes que chamam a atenção de quem está dentro dele. Uma forma simples de não esquecer de pagar as contas quando se sabe que a agenda será apertada é deixar os pagamentos em débito automático, por exemplo. Outras ideias dos autores são mais ambiciosas, como modificar o funcionamento dos programas de microcrédito para populações de países pobres. Eles sugerem que sejam criadas linhas de crédito de curtíssimo prazo e valor baixo, com o objetivo de diminuir o impacto de pequenas emergências financeiras sobre os mais pobres. Além de afugentar agiotas, diminuiria as entradas no túnel. EXCESSO Por ironia, e devido à grande variedade de assuntos que trata, "Escassez" é uma obra que sofre de excesso. As passagens frequentes de temas banais, como entrega de trabalho na faculdade, para discussões sobre como enfrentar a lotação em um centro cirúrgico ou a pobreza formam um conjunto irregular, que traz tanto obviedades como conclusões inusitadas e interessantes. De leitura fácil, pode ser um bom ponto de partida para obras que aprofundem suas teorias e possíveis aplicações.

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Barato e rápido, penhor de bens salta 11% neste ano Mulheres são grande maioria dos clientes que buscam respiro FONTE JORNAL O GLOBO JULIANA GARÇON 22/07/2016 AS 12H 28

Aliança: cuidado para não perder a joia empenhada - Divulgação / Divulgação

RIO - Pressionado pelo tripé desemprego, inflação e juros altos, o brasileiro está buscando fôlego num velho conhecido: o penhor. “Por no prego” a aliança —ou uma joia, uma peça de metal nobre, uma pedra preciosa, uma caneta, um relógio de valor — é uma das formas mais fáceis, rápidas e baratas de obter dinheiro no Brasil. Este tipo de empréstimo cobra juros baixos na comparação com outras linhas: a taxa é de 2,1% ao mês, bem abaixo do cheque especial (até 12,88%) e rotativo cartão de crédito (até 15,99%). O crédito pessoal, com exigências dispensadas no penhor — que pode ser contratado sem comprovação de renda, avalista e análise cadastral, inclusive por quem está com o nome sujo na praça —, tem juro que chega a 5,5% na Caixa. Só o consignado, com desconto em folha de pagamento, tem taxa comparável: até 2,24%. Veja também 

Veja como empenhar uma joia em sete passos

Acervo O GLOBO: Penhor da Caixa já recebeu de estatuetas de santo e cueca até presa de elefante

Com crise aqui e lá fora, cresce busca por ouro

Não é de se estranhar que o penhor, operado exclusivamente pela Caixa, cresça sem parar. Na primeira metade deste ano, 693 mil pessoas lançaram mão da modalidade e fecharam 4,709 milhões de empréstimos, 7% a mais que no mesmo período do ano passado. Com o maior número operações, as pessoas estão tomando mais dinheiro: o volume emprestado neste ano encostou em R$ 7 bilhões, montante 11,5% maior que na primeira metade do ano passado. Em média, cada tomador sai da agência com R$ 1.340. A grande maioria das pessoas que põem joias e outras peças no prego é do sexo feminino (74%) e metade está no Sudeste. Conforme a Caixa, a maior parte dos itens empenhorados são de ouro. AVALIAÇÃO 'CONSERVADORA' DOS BENS 9


Diretora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiro (IBCPF), Marcia Dessen avalia que a modalidade é uma boa alternativa para sair do sufoco. Mas alerta que o alcance do empréstimo é limitado: — A Caixa aceita somente joias, canetas de valor, relógios de valor, prataria de valor e pedras preciosas lembra. E a avaliação do bem tende a ser conservadora, ou seja, avaliada abaixo do valor de mercado da mercadoria. A avaliação, feita na hora em apenas 457 dos 4.200 pontos de atendimento da Caixa, toma em conta apenas o valor objetivo, incluindo pérolas e pedras preciosas incrustradas, sem considerar design ou valor afetivo. E pode decepcionar o cliente. Apesar do interesse pelo penhor, a rede de atendimento da Caixa encolheu: até meados do ano passado, havia avalistas e possibilidade de empréstimos com penhor em 479 agências. E a Caixa planejava ampliar seus canais, permitindo que a operação fosse realizada por internet. O montante emprestado pode chegar a 85% do valor fixado pelo avaliador a maioria dos tomadores contrai crédito nessa monta. Empréstimos até R$ 20 mil saem na hora. Esta cifra já foi de R$ 100 mil. O pagamento pode ser feito de duas formas: em parcela única (penhor tradicional), com vencimento em até 180 dias, podendo haver renovação quantas vezes o cliente quiser, ou parcelado em até 60 meses. Se a opção é pelo penho tradicional, até a data do vencimento, o tomador deve indicar se irá liquidar ou renovar a operação. No caso de optar pela renovação, realiza o pagamento dos juros correspondentes ao novo prazo. Para Miguel Ribeiro, diretor executivo de pesquisas e estudos econômicos da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças), as opções de renovação e pagamento também favorecem o consumidor: — Uma importante vantagem é o fato de ser um empréstimo que o consumidor poderá pagar os juros e ir renovando o empréstimo o que então evita ele ter que liquidar mensalmente esta divida como por exemplo é feito em qualquer empréstimo aonde ele terá parcelas mensais a pagar. Mas é importante ficar atento ao vencimento do empréstimo: após 30 dias de atraso, se não houver renovação, as joias são incluídas em leilão. E, segundo a Caixa, não é preciso nem avisar o cliente. “Mesmo não sendo obrigatório, a Caixa emite aviso de licitação para todos os clientes que possuem contratos relacionados, além de publicar edital em jornal de grande circulação e em sua vitrine virtual”. O advogado Gustavo Gonçalves Gomes, sócio de relações de consumo do escritório Siqueira Castro, discorda: — Se, por algum motivo, o banco precisar se desfazer do bem em virtude do não pagamento da dívida, o devedor precisa ser avisado de que o bem poderá ser leiloado ou vendido.

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Empresas podem agir para combater efeitos nocivos do estresse Juca Varella/Folhapress

Rosana Silva, atriz que criou novo projeto ao perder verba

FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, ÉRICA FRAGA, MARIANA CARNEIRO e ANA ESTELA DE SOUSA PINTO DE SÃO PAULO 24/07/2016 as 02h00

O baixo-astral provocado por uma recessão precisa acender um alerta em empresas e órgãos públicos. Segundo especialistas, consciência do risco e ações defensivas podem mitigar os efeitos nocivos do estresse. Entre esses impactos negativos está a perda de produtividade, provocada por desânimo generalizado devido a demissões frequentes e sobrecarga dos trabalhadores que permanecem. Segundo Luiz Edmundo Rosa, diretor da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), muitas empresas fazem justamente o que deveriam evitar: aumentam a pressão por resultados ao mesmo tempo em que deixam de lado políticas de motivação. Rosa destaca que essas políticas não envolvem necessariamente gastos, como bônus ou prêmios. "As pessoas precisam se sentir seguras e reconhecidas. Os líderes devem ouvir mais e, em caso de redução de equipes, rever a forma de fazer as coisas, em vez de insistir em práticas antigas." 11


Ele recomenda que as empresas não "padronizem a crise", cortando de maneira indistinta promoções, participação nos lucros, viagens e prêmios. "Pode-se ficar mais seletivo, mas sem descuidar dos indivíduos." A consultora Melissa Pomaro, que dá palestras de motivação, diz que dúvidas sobre o emprego têm sido cada vez mais frequentes. "As pessoas querem saber o que fazer para não serem demitidas, mas hoje isso tem ficado independente de competência", diz. REINVENÇÃO A crise fez com que um projeto em que a atriz Rosana Borges Silva, 29, trabalhava não fosse renovado, no ano passado. Sem trabalho, ela conta que chegou a duvidar de sua vocação e pensou em mudar de profissão. "A gente passa por um momento de duvidar de si mesmo. Entrei numa crise: por que não escolhi algo mais certo? mais exato?", diz. "As contas estavam chegando, a crise, apertando, e eu tive que parar e olhar 'o que eu tenho aqui dentro' e descobri um novo projeto." De contadora de histórias para crianças, ela agora vai focar plateias adultas, com discussões sobre o empoderamento feminino por meio da mitologia. covardia, heroísmo Especialistas também recomendam atenção para o risco de suicídio, que cresce nas crises econômicas. Segundo o diretor dos ambulatórios do Instituto de Psiquiatria da USP, Rodrigo Leite, órgãos públicos devem fazer campanhas informativas, que combatam o preconceito em relação a procurar ajuda de psicólogos ou psiquiatras, e empresas podem criar redes de ajuda. "Suicídio não é nem covardia nem ato de heroísmo. É falta de opção".

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Estudos identificam forte relação entre suicídios e desemprego

FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, ÉRICA FRAGA, MARIANA CARNEIRO e ANA ESTELA DE SOUSA PINTO DE SÃO PAULO 24/07/2016 as 02h00

Há cerca de dois anos, a fábrica de estofados Luizzi, em Rio Claro (SP), produzia 65 mil jogos de sofás de cinco lugares por mês. Era mais do que o suficiente para acomodar toda a população da cidade de 200 mil habitantes. Neste ano, a produção recuou a menos de um terço: 18 mil jogos por mês. O único cliente da Luizzi, a Via Varejo, dona das Casas Bahia, reduziu as compras, na esteira da recessão e da queda do apetite do consumidor. No mês passado, 20% do efetivo foi demitido. A decisão ocorreu após a fábrica, fundada por Luiz Antônio Scussolino, tentar, sem sucesso, reduzir a jornada de trabalho em 20%, com corte proporcional de salário. "Ficamos 14 meses empurrando essa decisão. Mas o Luiz, sempre otimista, tinha esperança de que o mercado melhoraria, mês após mês. Essa melhora não veio. A gente foi tentando e esgotando todas as possibilidades", diz Almir Santos, diretor de negócios e recursos humanos. Cinco dias depois das demissões, Scussolino, então com 66 anos, apareceu morto, enforcado, em um dos galpões da fábrica. Para executivos da Luizzi, o empresário não resistiu à depressão em que afundou após os cortes. "No dia da demissão, ele passou mal e foi hospitalizado com arritmia. Um dia antes de morrer, falei com ele ao telefone e ele disse que não conseguia sair da cama", diz Carlos Eduardo Marques, diretor de governança. Os dados mais recentes sobre suicídios no Brasil são de 2014, antes do agravamento da crise. Estudos internacionais, como um feito pela Universidade de Zurique com dados de 63 países de 2000 a 2011, apontaram forte relação entre suicídios e desemprego. 13


O diretor dos ambulatórios do Instituto de Psiquiatria da USP, Rodrigo Leite, diz que os suicídios são um fenômeno diferente de outros transtornos mentais, porque têm influência do ambiente. Segundo ele, o impacto do desemprego é grande porque, além do salário, há solidão, isolamento, perda de apoio social, crises familiares e sensação de impotência. GOTA D'ÁGUA Esse conjunto de fatores desencadeia tendências autodestrutivas e o abuso de álcool e drogas, agravando transtornos como ansiedade e depressão e agindo ainda como "desinibidores", ou seja, reduzindo o medo da morte. "É a gota d'água", diz Leite. O risco é considerado maior no caso de homens na faixa de 45 a 50 anos de idade, porque o potencial de perda extrapola a economia. Eles têm responsabilidade familiar e status social ameaçados. "A sensação de fracasso é maior. É todo um projeto de vida ruindo", afirma Leite. Homens são também mais resistentes a procurar ajuda médica ou psicológica. "Em saúde mental, o homem é o sexo frágil".

Peritos dizem que crise deixou segurados mais agressivos Rivaldo Gomes/Folhapress

Desempregados têm recorrido a pedidos de afastamento para se proteger de eventual perda de renda

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FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, ÉRICA FRAGA, MARIANA CARNEIRO e ANA ESTELA DE SOUSA PINTO DE SÃO PAULO 24/07/2016 as 02h00

Uma tendência observada pelos peritos da previdência social nesta crise é que trabalhadores com emprego e também os desempregados têm recorrido a pedidos de afastamento como forma de se proteger de uma eventual perda de renda. "Toda vez que uma crise econômica começa, notamos que uma das portas usadas pelos trabalhadores para manter renda é o INSS", diz a perita baiana Edriene Teixeira, 45. "Essas pessoas vão para a perícia no espírito do 'tudo ou nada'". Teixeira recebeu socos e puxões de cabelo quando recusou a extensão do benefício a uma trabalhadora que alegava incapacidade por LER (lesão por esforço repetitivo). A Associação Nacional de Médicos Peritos (ANMP) afirma que, no atual contexto de crise, vem aumentando os casos de agressão a peritos, quando há recusa nos pedidos de benefício. Segundo o presidente da entidade, Francisco Cardoso Alves, só no primeiro semestre deste ano, foi registrado quase o mesmo número de agressões físicas e verbais contra peritos que em todo ano passado 487 neste ano contra 606 em 2015. "Temos percebido nessa crise que principalmente o desempregado que tem requerido o benefício age com muita agressividade durante a perícia", afirma Alves. O período de carência para um desempregado pedir o benefício vai de um a três anos, mas o tempo médio é, normalmente, um ano. Como a escalada do desemprego começou em 2015, os pedidos estão chegando neste momento às portas do INSS. O instituto contesta os dados da entidade. Segundo o INSS, as denúncias de agressões diminuiuram neste ano, mas não revelou o número de computa. Segundo o órgão, no ano passado 357 mil desempregados recorreram ao auxílio-doença. Neste ano, o número recuou para 300 mil. SOBRECARGA NO SUS Os impactos da piora na saúde mental, em decorrência da crise econômica, incidem ainda sobre aumentos de gastos públicos com saúde. Secretário de saúde do Estado de São Paulo, David Uip observa que o sistema público passou a receber a clientela que, sem plano de saúde, está recorrendo ao serviço estatal. "Estou com o mesmo orçamento e tenho que atender quem eu já atendia e também essa demanda nova", diz ele. Segundo ele, isso está fazendo com que as despesas com a saúde extrapolem o orçamento obrigatório destinado à pasta, de 12% da receita do Estado. "Houve menor arrecadação com a crise e os gastos são os mesmos. Assim, gastamos 12,76% da receita em 2015 e, neste ano, o percentual será mais alto", diz.

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Meirelles quer blindar comando da Caixa Partidos indicaram 50 nomes, mas ministro quer executivos de fora para cargos-chave Fonte Murilo Rodrigues Alves de BRASÍLIA, Jornal O Estado de S. Paulo 23 Julho 2016 as 17h00

Influência. Gilberto Occhi, que foi ministro de Dilma Rousseff, assumiu a presidência da Caixa como indicação do PP

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, quer blindar um quarto das vice-presidências da Caixa Econômica Federal, para manter o controle sobre as áreas que considera o “coração” do banco. Em vez de nomes indicados por partidos políticos, Meirelles quer colocar executivos de fora, que já trabalharam em instituições privadas, nas áreas de finanças, riscos e de gestão de ativos de terceiros. Essa última administra o bilionário fundo de investimento que usa parte do FGTS para aplicar em infraestrutura. O loteamento da Caixa tem servido para saciar a sede dos partidos aliados por cargos, mas também alimenta a disputa entre eles. O ministro terá de enfrentar o apetite por cada um dos 12 cargos. Foram indicados à equipe do governo do presidente em exercício Michel Temer mais de 50 nomes para ocupar essas áreas, segundo fontes a par das negociações. A maior parte dos indicados, no entanto, não tinha experiência alguma na área bancária. Outros não cumpriam os requisitos da nova lei das estatais sancionada pelo presidente. Entre as exigências estão: ter atuado dez anos em empresas do setor ou quatro anos em bancos concorrentes e ainda não ter sido dirigente de partido e envolvido em campanhas eleitorais nos últimos três anos. Segundo fontes, apenas por volta de dez dos indicados se encaixariam no perfil exigido. Para manter a posição de escolher esses vices, Meirelles tem usado o argumento que consentiu no nome de Gilberto Occhi para presidente da Caixa mesmo sempre tendo defendido um executivo do mercado privado para o lugar dele. Ex-ministro de Cidades e da Integração Social da presidente afastada Dilma Rousseff e funcionário de carreira da Caixa, Occhi foi indicação do PP, que ficou com o cargo em troca dos votos pela abertura do processo de impeachment de Dilma na Câmara. 16


A atual diretoria da Caixa é formada por indicados pelo PT, PMDB e PP. Alguns cargos são ocupados interinamente por funcionários de carreira do banco depois que as indicações políticas deixaram a instituição. É o caso, por exemplo, da vice-presidência de Operações Corporativas, atualmente comandada por Lucas José Palomero. O cargo foi de Roberto Derziê de Sant’Anna, indicado pelo PMDB, que deixou o banco para trabalhar como braço direito de Temer na época em que o vice também atuou na articulação política. Derziê é um nome dado como certo para voltar ao banco na próxima dança das cadeiras. A vice-presidência de Riscos também está com um interino, Fábio Soares da Silva, desde abril. A vaga já foi de Raphael Rezende Neto, entre 2011 e 2014. Rezende Neto voltou ao banco com a chegada de Occhi e agora é o novo presidente da Caixa Seguridade. As outras duas áreas sensíveis Finanças e Gestão de Ativos de Terceiros ainda estão com Márcio Percival e Marcos Vasconcelos, respectivamente, mas a saída dos dois é dada como certa. Eles não são funcionários de carreira da Caixa e entraram no banco ainda com a chefia do petista Jorge Hereda. Depois, foram mantidos pela sucessora, também do PT, Miriam Belchior. A VP de Gestão de Ativos de Terceiros é responsável pelo FI-FGTS, fundo que usa parte dos recursos dos trabalhadores para investir em infraestrutura. O fundo passou a ser alvo das investigações da Lava Jato depois que o ex-vice-presidente do banco, Fábio Cleto, delatou esquema de propina para receber aportes do FI-FGTS. Cleto era membro do comitê que decide os investimentos do fundo como representante da Caixa. Ele ganhou o cargo de VP com as bênçãos do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e só foi demitido depois que o expresidente da Câmara aceitou abrir o processo de impeachment de Dilma. Para o lugar de Cleto está a interina Deusdina dos Reis Pereira. O PMDB ainda responde por, pelo menos, outras três áreas: Tecnologia, com Joaquim Lima de Oliveira; Negócios Emergentes, com Fábio Lenza; e Gestão de Pessoas, com Marcos Fernando Fontoura dos Santos. O partido deve permanecer com o mesmo número de indicações, mas as áreas poderão ser modificadas. Com o PP, estão as áreas de Governo (Paulo José Galli) e de Habitação (Nelson Antônio de Souza), que foi ocupada por muito tempo por indicados do PT. “Vamos ter de conviver com essa situação, mas sempre com o objetivo de que haja profissionais técnicos, independentemente da sua filiação, da sua vinculação e tudo mais. O grande interesse, inclusive da classe política, é que se coloque um profissional que possa desempenhar melhor seu papel na instituição”, disse Occhi ao Estado ao ser questionado se indicações políticas não comprometem o desempenho do banco.

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Uma cidade à mercê da crise do aço Em Volta Redonda, foram cortados 3,9 mil postos de trabalho até maio Fonte Vinicius Neder (textos) e Marcos Arcoverde (fotos) Enviados Especiais a Volta Redonda, Jornal O Estado de S. Paulo, 23 Julho 2016 as 17h00

Foto: MARCOS ARCOVERDE | ESTADÃO CONTEÚDO

Em meio à recessão, a crise da indústria do aço atingiu em cheio a economia da região onde ela nasceu, no Médio Paraíba, sul do Estado do Rio. Um retrato disso pode ser visto no Cine 9 de Abril, em Volta Redonda, maior cidade da região, com 263 mil habitantes. As escadas que dão acesso à sala ficam sob um vão sustentado por pilotis, numa clássica construção da década de 50, auge dos cinemas de rua. Na quinta-feira, o abrigo da chuva e do sol atraía um grupo de trabalhadores em busca de emprego. O número de desempregados por ali pode chegar a dezenas em alguns dias, segundo Eli de Souza Fernandes, aposentado cuja esposa dirige o restaurante no mezanino do cinema. 18


Desempregados não faltam. De janeiro a maio, foram fechadas 7 mil vagas de emprego formal nas cidades da região, segundo dados do Ministério do Trabalho e Previdência Social. Setenta anos após a inauguração da Usina Presidente Vargas, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a dependência da indústria do aço segue relevante na região. Em Volta Redonda foram cortados 3,9 mil postos de trabalho até maio, 41% deles nas atividades de siderurgia e metalurgia, segundo dados levantados pelo Observatório de Estudos do Rio de Janeiro da UFRJ. De janeiro a junho, a CSN cortou 757 postos na usina de Volta Redonda – reflexo da situação financeira da companhia, que saiu de um lucro de R$ 1,6 bilhão no ano passado para um prejuízo de R$ 831 milhões no primeiro trimestre deste ano. Depois de sete anos na CSN, o técnico em eletroeletrônica Evanyr Rodrigues Ferreira, de 26 anos, pediu para ser incluído no corte mais recente. Já estava sem motivação. “E se a gente trabalha desmotivado, o risco de acidente é maior”. O peso dessa indústria na economia local amplia o efeito cascata. Sozinha, a usina da CSN emprega cerca de 10 mil funcionários diretos e outros 7 mil em terceirizadas. O economista Mauro Osório, do Observatório de Estudos do Rio de Janeiro da UFRJ, destaca que um dos problemas da economia fluminense é a pouca densidade das cadeias. “A estrutura produtiva do Rio é oca”, diz Osório. O Médio Paraíba ilustra isso. A região sedia usinas siderúrgicas, que produzem aço bruto, e, mais recentemente, um polo automotivo, que usa o aço acabado para produzir caminhões e carros, mas tem poucas fábricas de produtos como latas e tampas, produtos de aço de maior valor agregado, em geral produzidos em São Paulo. A Prefeitura de Volta Redonda tem um projeto de construir um condomínio industrial dedicado à cadeia do aço num terreno que pertence à CSN. A ideia é a empresa alugar ou vender as áreas, a Prefeitura construir a infraestrutura e o governo estadual dar incentivos tributários, segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Jessé de Hollanda Cordeiro Jr. O efeito cascata se mostra tanto na queda da demanda da indústria por serviços e obras quanto no tombo do consumo das famílias no comércio. A CSN informa que investiu cerca de R$ 900 milhões em modernização nos últimos cinco anos. No momento, está apenas reformando a área de coqueria e, na quinta-feira, iniciou a reforma do alto-forno parado, que custará R$ 80 milhões e gerará 800 empregos. O número parece insuficiente para os trabalhadores que se encontram no Cine 9 de Abril. No Médio Paraíba, foram fechadas 579 vagas na instalação de máquinas e equipamentos industriais, 525 em Volta Redonda.

Governo estuda transição na Previdência que eleva em 40% tempo restante para aposentadoria Incremento será o "pedágio" a ser pago pelos contribuintes que estiverem mais próximos de se aposentar; para os demais, deverá valer a idade mínima de 70 anos Fonte Idiana Tomazelli, Jornal O Estado de S. Paulo 22 Julho 2016 as 17h44   

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Venda de dívida deve render menos de R$ 22 bi

Foto: Estadão

O governo estuda uma proposta de regra de transição no âmbito da reforma da Previdência que aumentará em 40% o tempo restante para a aposentadoria. O incremento será o "pedágio" a ser pago pelos contribuintes que estiverem mais próximos de se aposentar e, portanto, estariam incluídos na chamada faixa de transição entre o regime atual e o novo modelo. Para os demais, deverá valer a idade mínima, estipulada em 70 anos. Ainda não está fechado qual seria a idade de referência para a divisão dos dois grupos. A proposta dos 40% em gestação no governo foi comentada em uma rede social pelo ministrochefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, no último domingo e confirmada pela pasta aoBroadcast, notícias em tempo real do Grupo Estado. "Para quem faltasse 10 meses, teria que trabalhar mais quatro. Faltariam 14 meses para aposentar", escreveu Padilha. Segundo o chefe da Assessoria Especial da Casa Civil, Marcelo de Siqueira, a régua de divisão entre quem poderá ou não usar a regra de transição "pode parar em qualquer lugar" e a questão ainda está em estudo. Na prática, a ideia é que haja dois grupos, um que vai se aposentar pela regra de transição e outro que terá de esperar a idade mínima. A regra de corte é que vai dizer quem vai se encaixar em cada um deles. "Para quem está próximo de se aposentar, não é idade mínima (que vai valer)", disse Siqueira. Pela regra de transição, por exemplo, um homem de 50 anos que tenha previsão de trabalhar por mais quatro anos até se aposentar precisará adicionar aproximadamente um ano e sete meses a seu tempo de serviço a cumprir. Portanto, ele não precisará esperar até os 70 anos. "Esquece a regra nova, calcula quanto tempo faltaria, na entrada em vigor da emenda, para se aposentar com base na regra antiga, que não tem idade mínima, e aplica o porcentual de tempo adicional", detalhou Siqueira. Ressalvas. A idade mínima é uma das ressalvas das centrais sindicais à reforma da Previdência. Segundo a Casa Civil, essa proposta ainda não foi apresentada aos trabalhadores, mas a expectativa do governo é que tenha boa aceitação.

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Por outro lado, em casos extremos de pessoas para quem a idade mínima seja mais vantajosa (um trabalhador de 69 anos com apenas um ano a contribuir para a Previdência, por exemplo, que teria de adicionar quatro meses pela transição), a nova regra deverá permitir a escolha pelo contribuinte, explicou Siqueira. O "pedágio" é muito semelhante ao previsto na Emenda Constitucional nº 20, de dezembro de 1998, que estabeleceu a reforma da Previdência no governo de Fernando Henrique Cardoso. À época, a nova regra previa um adicional de 20% ao tempo restante no caso de aposentadorias integrais e de 40% em benefícios proporcionais. Trava. O governo também não descarta excluir a trava que dividiria os dois grupos do modelo. Por esta possibilidade, o próprio beneficiário poderia visualizar qual regime seria mais vantajoso. Como o cálculo dos 40% considera o tempo restante para aposentadoria na data da publicação da emenda, para quem até hoje contribuiu pouco à Previdência poderá ser mais negócio aderir à idade mínima, entende o governo. "A trava define o marco adequado. Mesmo sem a trava, as pessoas se organizam, fazem a própria conta. É um mecanismo natural. Para um grupo de pessoas, não tem sentido a regra atual, pois jogará para além de 70 anos (com a regra de transição)", disse o assessor. O porcentual de 40% é avaliado pela equipe técnica como "razoável" e que "dialoga com as preocupações de todo mundo". Entre essas preocupações estão garantir a sustentabilidade da Previdência Social (só neste ano, o déficit deve chegar a R$ 149,238 bilhões) e também não estabelecer regras muito duras para quem está prestes a obter o benefício. Em relação à idade mínima, a ideia do governo é mesmo fixá-la em 70 anos. A avaliação é de que outros países onde a idade mínima está em torno de 65 anos já analisam a necessidade de aumentar esse pré-requisito. "Como queremos reforma de médio e longo prazo, temos que pensar lá na frente", justificou Siqueira.

Despesas dos Estados com pessoal cresceram R$ 100 bi em 8 anos Entre 2008 e 2015, gastos com a folha aumentaram 40% acima da inflação, quase o dobro dos oito anos anteriores, e avaliação é que aumento deve ser ainda maior Fonte Alexa Salomão, Jornal O Estado de S. Paulo 24 Julho 2016 às 05h00 

Notícia relacionada: Recessão antecipou crise fiscal que já era esperada

Apesar de serem obrigados, por lei, a conter despesas com pessoal, vários Estados estouraram seus limites e essa conta cresceu em pelo menos R$ 100 bilhões de 2008 para cá – período em que o governo federal afrouxou o monitoramento das finanças estaduais. A alta é espantosa porque representa um crescimento real, acima da inflação, de 40%, e é quase o dobro dos R$ 58 bilhões de aumento de 2000 a 2007, quando se aplicou com mais rigor a Lei de Responsabilidade Fiscal. Apesar de gigantesco, a avaliação é que esse número pode ser ainda maior. Gastos com auxílio-paletó, auxílio-combustível, auxílio-moradia, precatórios com alimentação, terceirizados, prestadores de serviços por meio de contrato com organização social e até pensões e aposentadorias – enfim, uma série de despesas decorrentes de pessoal – podem não estar incluídas nessa cifra. “Não dá para saber”, diz Gustavo Morelli, diretor da consultoria Macroplan, que coordenou esse levantamento. Morelli explica que, ao longo dos anos, foram

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feitas diferentes “interpretações da lei” sobre o que entra ou não na conta, dificultando a análise da saúde financeira dos Estados. Os especialistas em finanças não gostam de dizer que isso configura “maquiagem” ou que as interpretações criaram uma “caixa preta”. As secretarias de Fazenda conhecem os dados e fazem a prestação de contas dentro da lei. É fato que muitos critérios contrariam o manual do Tesouro Nacional, responsável por monitorar a aplicação da lei. Mas eles foram aprovados pelos Tribunais de Contas dos Estados ou conquistados em disputas na Justiça. Ainda assim, a maioria admite que houve uma “criatividade coletiva” na apresentação dos gastos.

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Gastos públicos “O que temos nos Estados é a pior das contabilidades criativas – a contabilidade criativa legal, pois interpretações da Lei de Responsabilidade Fiscal foram autorizadas pelos Tribunais de Contas dos Estados, pela Justiça e, em alguns casos, até pelo Tesouro”, diz Raul Velloso, especialista em contas públicas. Índice. Para medir o peso do pessoal sobre o caixa dos Estados, a lei manda fazer uma conta elementar: dividir os gastos com a folha pela receita líquida corrente. O resultado é um indicador que não pode ser superior a 60%. As manobras consistem em contabilizar a menos as despesas e a mais as receitas, por meio das tais interpretações, para que o resultado da conta fique abaixo de 60%. Para a economista Sol Garson, ex-subsecretária de Finanças do Rio e hoje responsável pela área fiscal da Macroplan, o Rio de Janeiro tem uma das interpretações mais criativas do País. Em 2015, para fechar a conta com a Previdência, usou cerca de R$ 3,6 bilhões de royalties de petróleo. A receita é instável e incerta, não tem relação com o esforço fiscal do Tesouro, mas o Estado e o Tribunal de Contas entendem que vale. Há outra manobra comum, mas mais requintada. Estados e municípios recebem repasses do SUS destinados exclusivamente a pagamentos de serviços da rede privada. O dinheiro mal passa pelo caixa público e segue para o setor privado. “Mas a maioria dos Estados e municípios contabiliza como se o dinheiro fosse deles, eleva a receita corrente líquida, o que melhora o indicador”, diz Sol. Durante muito tempo, os Estados preferiram defender seus critérios, ainda que duvidosos. Uma nova geração de secretários de Fazenda, porém, defende que é preciso rever a posição. Quem puxa a fila é Ana Carla Abrão Costa, secretária de Fazenda de Goiás. Egressa do setor privado, ao assumir, mandou recalcular o indicador incluindo absolutamente todos os gastos com pessoal. Pelas regras da contabilidade oficialmente adotadas em Goiás, o indicador hoje está em cerca de 50%. Mas o cálculo sugerido por Ana Carla diz que é 80%. Ela reforça que a situação dos Estados é gravíssima (leia mais abaixo). Os gastos com pessoal crescem de 5% a 6%, ao ano, mesmo que não se contrate ninguém e não se dê um centavo de aumento. “Teremos vários Rios de Janeiro em três anos se nada for feito e estou convencida de que apenas com informações transparentes – e o debate pela sociedade é que teremos condições de avançar nas correções”, diz Ana Carla. O governo tem uma nova proposta de cálculo, mais rigoroso, que poderia dar uma visão mais clara sobre os gastos. Morelli reforça o alerta. A junção das duas faces do gasto com pessoal os identificados e os ocultos elevam a potência da bomba-relógio que é a folha. De um lado, está claro que os Estados contrataram e deram aumentos acima do recomendável, que pesam hoje e vão elevar o custo da Previdência. Por outro, de fato, não há clareza sobre o tamanho da encrenca.

Apesar de serem obrigados, por lei, a conter despesas com pessoal, vários Estados estouraram seus limites e essa conta cresceu em pelo menos R$ 100 bilhões de 2008 para cá – período em que o governo federal afrouxou o monitoramento das finanças estaduais. A alta é espantosa porque representa um crescimento real, acima da inflação, de 40%, e é quase o dobro dos R$ 58 bilhões de aumento de 2000 a 2007, quando se aplicou com mais rigor a Lei de Responsabilidade Fiscal. Apesar de gigantesco, a avaliação é que esse número pode ser ainda maior. Gastos com auxílio-paletó, auxílio-combustível, auxílio-moradia, precatórios com alimentação, 24


terceirizados, prestadores de serviços por meio de contrato com organização social e até pensões e aposentadorias – enfim, uma série de despesas decorrentes de pessoal – podem não estar incluídas nessa cifra. “Não dá para saber”, diz Gustavo Morelli, diretor da consultoria Macroplan, que coordenou esse levantamento. Morelli explica que, ao longo dos anos, foram feitas diferentes “interpretações da lei” sobre o que entra ou não na conta, dificultando a análise da saúde financeira dos Estados. Os especialistas em finanças não gostam de dizer que isso configura “maquiagem” ou que as interpretações criaram uma “caixa preta”. As secretarias de Fazenda conhecem os dados e fazem a prestação de contas dentro da lei. É fato que muitos critérios contrariam o manual do Tesouro Nacional, responsável por monitorar a aplicação da lei. Mas eles foram aprovados pelos Tribunais de Contas dos Estados ou conquistados em disputas na Justiça. Ainda assim, a maioria admite que houve uma “criatividade coletiva” na apresentação dos gastos. “O que temos nos Estados é a pior das contabilidades criativas a contabilidade criativa legal, pois interpretações da Lei de Responsabilidade Fiscal foram autorizadas pelos Tribunais de Contas dos Estados, pela Justiça e, em alguns casos, até pelo Tesouro”, diz Raul Velloso, especialista em contas públicas. Índice. Para medir o peso do pessoal sobre o caixa dos Estados, a lei manda fazer uma conta elementar: dividir os gastos com a folha pela receita líquida corrente. O resultado é um indicador que não pode ser superior a 60%. As manobras consistem em contabilizar a menos as despesas e a mais as receitas, por meio das tais interpretações, para que o resultado da conta fique abaixo de 60%. Para a economista Sol Garson, ex-subsecretária de Finanças do Rio e hoje responsável pela área fiscal da Macroplan, o Rio de Janeiro tem uma das interpretações mais criativas do País. Em 2015, para fechar a conta com a Previdência, usou cerca de R$ 3,6 bilhões de royalties de petróleo. A receita é instável e incerta, não tem relação com o esforço fiscal do Tesouro, mas o Estado e o Tribunal de Contas entendem que vale. Há outra manobra comum, mas mais requintada. Estados e municípios recebem repasses do SUS destinados exclusivamente a pagamentos de serviços da rede privada. O dinheiro mal passa pelo caixa público e segue para o setor privado. “Mas a maioria dos Estados e municípios contabiliza como se o dinheiro fosse deles, eleva a receita corrente líquida, o que melhora o indicador”, diz Sol. Durante muito tempo, os Estados preferiram defender seus critérios, ainda que duvidosos. Uma nova geração de secretários de Fazenda, porém, defende que é preciso rever a posição. Quem puxa a fila é Ana Carla Abrão Costa, secretária de Fazenda de Goiás. Egressa do setor privado, ao assumir, mandou recalcular o indicador incluindo absolutamente todos os gastos com pessoal. Pelas regras da contabilidade oficialmente adotadas em Goiás, o indicador hoje está em cerca de 50%. Mas o cálculo sugerido por Ana Carla diz que é 80%. Ela reforça que a situação dos Estados é gravíssima (leia mais abaixo). Os gastos com pessoal crescem de 5% a 6%, ao ano, mesmo que não se contrate ninguém e não se dê um centavo de aumento. “Teremos vários Rios de Janeiro em três anos se nada for feito e estou convencida de que apenas com informações transparentes – e o debate pela sociedade – é que teremos condições de avançar nas correções”, diz Ana Carla. O governo tem uma nova proposta de cálculo, mais rigoroso, que poderia dar uma visão mais clara sobre os gastos. Morelli reforça o alerta. A junção das duas faces do gasto com pessoal – os identificados e os ocultos – elevam a potência da bomba-relógio que é a folha. De um lado, está claro que os Estados contrataram e deram aumentos acima do recomendável, que pesam hoje e vão elevar o custo da Previdência. Por outro, de fato, não há clareza sobre o tamanho da encrenca. 25


Sem teto para gasto, país terá alta de imposto, diz ministro da Fazenda FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, MARIA CRISTINA FRIAS COLUNISTA DA FOLHA e VALDO CRUZ DE BRASÍLIA 25/07/2016 as 02h00

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse à Folha que, se o Congresso não aprovar a proposta de criar um teto para os gastos públicos, o país terá escolhido uma opção preocupante e terá um preço a pagar, traduzido por ele como novas rodadas de aumento de impostos e juros mais altos por longo período, o que travará o crescimento. "O Brasil terá feito uma opção que acho errada, grave, de não controlar a evolução da sua dívida pública, e pagará um preço por isto nos próximos anos", afirmou, ao defender a aprovação da emenda constitucional que limita o crescimento dos gastos públicos à correção da inflação observada no ano anterior. "Se não for aprovada, não haverá outra saída, porque nos próximos anos, para financiar este aumento das despesas públicas, só restará aumentar imposto", disse. Meirelles também indicou ser contra um novo programa de refinanciamento de dívidas das empresas com o fisco, ao dizer que "a tentativa de atender a todos é que levou à deterioração da situação fiscal e prejuízo de todos". O ministro afirmou que cumprirá a meta de fechar o ano com deficit de R$ 170,5 bilhões, apesar da alta de despesas e da queda das receitas que levaram o governo a rever projeções na semana passada. "Quem viver verá", disse. Presidente do Banco Central no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Meirelles não quis fazer comentários sobre o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas afirmou que o fim da "incerteza" que ele alimenta permitirá uma "recuperação maior e mais rápida" da economia. A seguir, trechos da entrevista, concedida na tarde da última quinta-feira (21) em seu gabinete, em Brasília.

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Folha - Como o sr. vê a crítica de que o governo está na direção correta, mas faltam medidas de ajuste mais efetivas? Henrique Meirelles - É importante deixar claro que o problema fiscal no Brasil é estrutural, que está baseado inclusive na própria Constituição. As tentativas dos últimos anos de controle de gastos baseadas apenas nas despesas discricionárias têm uma margem muito pequena. Você não pode diminuir despesas previdenciárias por decisão administrativa, não pode reduzir investimentos em educação e saúde. E não pode diminuir salários, é proibido pela Constituição. São necessárias mudanças estruturais. Foi o que propusemos. É a primeira mudança estrutural na questão da despesa pública no Brasil desde a Constituição de 1988. Apesar de elevado, o deficit ainda pode ser maior? A meta de R$ 170,5 bilhões será cumprida. A ansiedade não resolve problemas estruturais. A tentativa de mudanças pontuais de curto prazo teve resultados negativos no passado. A despesa pública no Brasil cresceu 6% acima da inflação de 1997 até 2015. O governo queimou reservas de R$ 16,5 bilhões agora para ajustar suas contas à frustração das receitas e a aumentos de gastos. Isso não preocupa? Foi deixada uma reserva de R$ 18 bilhões para isso. A confiança já está aumentando e a expectativa é de uma estabilização das receitas. As despesas obrigatórias serão equacionadas quando for aprovado o teto dos gastos públicos. Vamos cumprir a meta. Se for preciso, adotaremos medidas no campo das receitas e das despesas. Há quem duvide do cumprimento da meta. Quem viver verá. Não há dúvida de que R$ 170,5 bilhões é um deficit muito elevado, mas ele foi construído por muitos anos. O que ocorreu agora é que ele foi explicitado. Nosso compromisso é dizer a verdade e anunciar metas que sejam cumpridas. A repatriação de recursos ilegais do exterior será mudada? Os recursos começarão a entrar quando as pessoas perceberem que não haverá mudança de regra. Na minha visão, é desnecessário mudar. Se o teto de gastos não for aprovado, o que o governo fará? Então, o Brasil terá feito uma opção, que acho errada, grave, de não controlar a evolução da sua dívida pública e pagará um preço por isto nos próximos anos, que é uma questão de aumento da taxa estrutural de juros, voltar a aumentar o risco país etc. Se o teto não for aprovado pelo Congresso, o país não escapa de aumento de imposto? Sim. Se não for aprovado o teto dos gastos de despesas com saúde e educação, não haverá outra saída, porque nos próximos anos, para financiar este aumento das despesas públicas, só resta aumentar imposto. Sem essa aprovação e posteriormente a da reforma da Previdência, certamente teremos um continuado aumento das despesas públicas obrigatórias e poderemos voltar a ter aumento de prêmio de risco. Para fechar as contas de 2017, já se fala em alta de imposto? Teremos uma visão clara até o final de agosto [quando for elaborado o orçamento do próximo ano]. A nossa expectativa é que não haja necessidade de aumento de imposto. Tenho frisado que não é a solução ideal, mas, se for necessário, teremos aumento de imposto, sim, porque a meta de R$ 139 bilhões de deficit será cumprida, sim. A desoneração da folha de pagamentos vai acabar? A reoneração neste momento é negativa, porque o país tem mais de dez milhões de 27


desempregados. E o grande desafio é criar emprego. Não descarto, no futuro, com a economia a pleno vapor, que isto possa ocorrer ou não. Depois dos Estados, os empresários também reivindicam renegociação de suas dívidas com o fisco, com a aprovação de um novo Refis. É possível? A prioridade hoje é o controle do deficit fiscal. É normal que cada segmento da sociedade procure seu interesse imediato. Mas a tentativa de atender a todos é que levou à deterioração da situação fiscal e ao prejuízo de todos, na medida em que o país tem uma das maiores recessões. Se o presidente interino, Michel Temer, for confirmado no cargo, os estrangeiros investirão mais no Brasil? Não vou entrar na questão política, mas não há dúvida de que, eliminando-se a incerteza, haverá uma recuperação maior e mais rápida. Independentemente disto, a confiança já está crescendo. E se a presidente Dilma voltar? Não vou entrar neste mérito. Estamos falando de hipóteses. Basta que analisem o que aconteceu nos últimos anos e o que está acontecendo agora. O sr. acha que o crescimento pode surpreender? Pode surpreender positivamente. Já existe um viés de crescimento de previsões. Alguns analistas já falam em torno de 2%, mas claramente há um viés, que vai se consolidar, de um crescimento superior ao consenso. Já esteve em 0,5%, está em 1,2% e poderá, na minha opinião, crescer. O presidente Temer voltou a pedir medidas de estímulo da economia. Quais serão? Ainda não temos um projeto. O desafio nas primeiras semanas e meses é endereçar a questão fiscal. Não é exatamente providenciar estímulos específicos, porque isto se mostrou ineficaz no passado recente. O que se vai fazer é aumentar a produtividade, a facilidade de fazer negócios. Podemos ter a ambição de voltar a crescer bem acima de 2%, estimado como crescimento potencial, que é sustentável, sem gerar pressão inflacionária. Acreditamos que em 2017 e 2018 o país possa crescer acima do potencial pela grande capacidade ociosa que existe na economia. Algo mais em estudo para ser privatizado? Estamos avaliando várias possibilidades, muitas já mencionadas, outras ainda não. Os aeroportos adicionais. [Congonhas e Santos Dumont] são uma decisão dos setores diretamente envolvidos, mas pessoalmente sou favorável que seja feita uma privatização. Não só deles, mas dos demais aeroportos de alto volume de tráfego. Quando entram os recursos? Os números estão sendo estimados e devem ficar mais claros a partir de setembro. É natural a expectativa de investidores, de que se resolva a equação política antes de se comprometerem. Nossas previsões incorporam receitas de privatizações, concessões e outorgas a partir de 2017. A presidente Dilma disse que, se voltar, manterá a equipe econômica. O sr. continuaria? Não comento hipóteses.

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RAIO-X _Henrique de Campos Meirelles, 70 Nascimento: Anápolis (GO), em 31 de agosto de 1945 Formação: engenharia civil na Escola Politécnica da USP Cargo: ministro da Fazenda desde 12 de maio Carreira: presidiu o conselho de administração da J&F, presidiu o Banco Central de 2003 a 2010 e foi presidente mundial do BankBoston

Decreto formaliza antecipação de metade do 13º dos aposentados em agosto Abono anual será efetuado em duas parcelas e a primeira corresponderá a até 50% do valor do benefício do mês de agosto Fonte Luci Ribeiro, Jornal O Estado de S. Paulo 25 Julho 2016 às 08h53 

Notícia relacionada: Decreto formaliza antecipação de metade do 13º dos aposentados em agosto Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Em 2015, o pagamento da primeira parcela foi adiado de agosto para setembro

BRASÍLIA - O governo federal editou decreto que formaliza o pagamento antecipado da primeira metade do 13º dos aposentados e pensionistas do INSS em agosto. O decreto está publicado no Diário Oficial da União (DOU) desta segunda-feira. De acordo com o texto, o abono anual será efetuado em duas parcelas: a primeira corresponderá a até 50% do valor do benefício do mês de agosto e será paga juntamente com os benefícios do mês; e a segunda corresponderá à diferença entre o valor total do abono 29


anual e o valor da parcela antecipada e será paga juntamente com os benefícios do mês de novembro. No fim de junho, o governo garantiu a sindicalistas que a primeira parcela do 13º dos aposentados e pensionistas do INSS seria paga em agosto. O anúncio foi feito pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha em reunião com representantes da classe e do empresariado para discutir a reforma da Previdência. Em 2015, o pagamento da primeira parcela foi adiado de agosto para setembro por causa do aperto nas contas do governo.

Após primeiro Copom de Ilan, mercado reduz estimativas de inflação No Relatório de Mercado Focus, projeção do IPCA para este ano passou de 7,26% para 7,21%; previsão para Selic ao final de 2016 se manteve, a 13,25% ao ano Fonte Fabrício de Castro e Célia Froufe, Jornal O Estado de S.Paulo 25 Julho 2016 as 09h31  

Notícias relacionadas: Mercado vê corte nos juros em outubro após comunicado do BC Prévia da inflação tira do radar corte da taxa de juros no curto prazo

No primeiro relatório Focus após a estreia da nova cúpula do Banco Central (BC) na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), as projeções do mercado financeiro para a inflação caíram tanto para este quanto para 2017. No Relatório de Mercado, divulgado nesta segundafeira BC, a mediana para 2017 saiu de 5,30% para 5,29%. Há um mês estava em 5,50%. Para 2016, a redução foi ainda maior, com a mediana passando de 7,26% para 7,21% de uma semana para outra – a taxa estava em 7,29% quatro semanas atrás. Foto: André Dusek/ Estadão

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Na primeira reunião sob o comando de Ilan, BC manteve Selic a 14,25% ao ano

A meta de inflação deste e do próximo ano é de 4,50% com tolerância de 2 pontos porcentuais (pp) em 2016 e de 1,5 pp em 2017 (também em 2018). No comunicado que se seguiu ao Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada, o BC informou que sua estimativa para o IPCA de 2017 caiu de 5,5% do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de junho para 5,3% agora pelo cenário de referência. Já no de mercado, a taxa prevista pela instituição recuou de 4,7% para 4,5%, bem no centro da meta a ser perseguida pelo BC. No caso de 2016, o BC não atualizou no comunicado do Copom suas projeções na semana passada. No RTI, as estimativas estavam em 6,9% pelo cenário de referência e em 7,00% pelo de mercado. Amanhã o BC divulgará a ata da reunião com mais detalhes sobre o que levou o colegiado a manter a Selic em 14,25% ao ano pela oitava vez consecutiva. Entre as instituições que mais se aproximam do resultado efetivo do índice no médio prazo, denominadas Top 5, no entanto, a mediana das projeções para este ano subiu de 7,18% para 7,20%. Já para 2017 recuaram de 5,33% para 5,29%. Quatro semanas atrás, as expectativas eram de, respectivamente, 7,29% e 5,30%. A inflação suavizada 12 meses à frente voltou a ceder, passando de 5,70% para 5,63% de uma semana para outra - há um mês, estava em 5,98%. Estas reduções para prazos mais longos ocorrem apesar de as estimativas para os índices mensais mais próximas ainda estarem resilientes: as de julho continuaram em 0,40% (quatro semanas antes já estavam em 0,40%) e, para agosto, passaram de 0,31% para 0,30% – um mês antes estava em 0,30%. Juros. A previsão de Selic para o final de 2016 continuou em 13,25% ao ano como na semana anterior (o mesmo valor de um mês atrás) e a taxa básica prevista para o final de 2017 prosseguiu em 11,00% ao ano pela quarta semana consecutiva. A estabilidade nas projeções para a Selic ocorre após a sinalização do BC de que ainda não há espaço para redução da taxa básica no curto prazo. Além disso, o IPCA-15 de julho, acima da mediana das expectativas do mercado, divulgado no dia seguinte ao encontro do Copom, corroborou a avaliação do mercado de que o colegiado tende a ser mais cauteloso em relação a cortes da Selic. Câmbio. Mesmo com as sucessivas intervenções do Banco Central (BC) no mercado de câmbio por meio de leilões de swap cambial reverso que, na prática, evitam uma queda maior do dólar, o Relatório de Mercado Focus voltou a mostrar queda das estimativas para o câmbio deste ano. O documento divulgado há pouco pelo BC indicou que a cotação da moeda estará em R$ 3,34 no encerramento de 2016, ante projeção de R$ 3,39 do levantamento anterior. Um mês atrás, estava em R$ 3,60. Apesar disso, o câmbio médio de 2016 continuou em R$ 3,47 de uma semana para a outra - um mês antes, estava em R$ 3,61. Para 2017, a mediana seguiu em R$ 3,50 de uma divulgação para a outra - quatro semanas atrás estava em R$ 3,80. Já o câmbio médio do ano que vem seguiu em R$ 3,46 de um levantamento para o outro - estava em R$ 3,74 um mês atrás.

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Pontos do cartão viram ‘moeda’ para pagamento Troca facilitada de milhas se torna ferramenta de marketing para os bancos Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, Economia & Negócios 25 Julho 2016 as 05h00

Opção. Rodrigo Cury, do Santander: diferencial no programa de milhas é vital para convencer cliente a usar cartão Marina Gazzoni

Os consumidores não gostam de perder pontos do cartão de crédito e muitos não têm paciência para esperar acumular saldo suficiente para resgatar algum prêmio. De olho nesses clientes, bancos, varejistas, bandeiras de cartões e empresas de milhagem trabalham para desenvolver tecnologias que viabilizem o pagamento de compras no varejo com pontos de programas de fidelidade. Essas iniciativas são trunfos dos bancos para convencer o cliente – em especial o de alta renda – a concentrar suas compras em determinado cartão. O Santander começou neste mês um projeto piloto na cidade de São Paulo para testar o pagamento com pontos do seu programa de fidelidade, o Santander Esfera, no varejo físico. O projeto é uma parceria do banco com a Mastercard, que trouxe ao Brasil o “Pay With 32


Rewards”, que viabiliza o pagamento com pontos do cartão de crédito em qualquer máquina que aceite a bandeira. Por enquanto, apenas funcionários do banco e da Mastercard testam o sistema, que deverá ser lançado posteriormente para os clientes. “Queremos valorizar o Santander Esfera. O pilar de benefícios é importante para a fidelização de clientes”, disse o superintendente executivo de cartões do Santander, Rodrigo Cury. Para ele, a possibilidade de resgatar o prêmio na hora vai aumentar a percepção de valor do ponto concedido pelo banco. O Santander é o primeiro a testar no Brasil a tecnologia da Mastercard, mas ela também deve ser oferecida para outros bancos. As soluções de integração do varejo com os programas de fidelidade de cartões são uma estratégia global de crescimento da bandeira, segundo o vicepresidente de produtos e soluções da Mastercard Brasil, Valerio Murta. Antes mesmo da parceria entre Santander e Mastercard, o banco Original, do grupo empresarial J&F, apresentou uma solução similar ao lançar-se no mercado. Cada ponto do seu programa de fidelidade vale R$ 1 e, se o cliente quiser, pode informar no aplicativo do banco que sua próxima transação será paga com pontos. O banco faz compensação automática na fatura. Desde que iniciou suas atividades, em março, cerca de 10% dos pontos acumulados pelos clientes já foram trocados. E os restaurantes são o local preferido, sendo responsáveis por cerca de 20% dos resgates. “Criamos esse sistema pensando na simplicidade. Não tem número mínimo de pontos para resgatar algum prêmio ou uma rede restrita de parceiros. O cliente valoriza isso”, disse o diretor de produtos de pessoa física do Banco Original, Fernando Pantaleão. Evolução. O mercado de fidelização movimentou cerca de R$ 5 bilhões no Brasil em 2015, de acordo com dados da Abemf, associação do setor. O mercado ainda é fortemente vinculado às companhias aéreas – Multiplus e Smiles, empresas criadas por TAM e Gol, respectivamente, respondem por cerca de 75% do faturamento do segmento. A principal fonte de renda delas é a transferência de pontos do cartão de crédito para seu programa. Aos poucos, os bancos buscam outras opções de resgate. “O primeiro movimento começou com passagens aéreas. Depois foi para o varejo online. O próximo movimento é o varejo físico”, disse Raphael Mello, sócio e diretor de novos negócios da LTM, empresa que gerencia programas de fidelidade de 150 empresas. Segundo ele, algumas varejistas, como a rede de postos de combustível Shell, testam soluções para integrar o programa de fidelidade dos bancos com o do varejo e viabilizar o pagamento em pontos na hora.

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Dívida pública sobe 2,8% em junho com maior emissão em 12 meses

FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, MACHADO DA COSTA DE BRASÍLIA 25/07/2016 às 10h54

A dívida pública federal subiu 2,77% no mês de junho. De acordo com o Tesouro Nacional, ela passou de R$ 2,878 trilhões para R$ 2,958 trilhões em relação ao mês anterior. O principal fator foi o aumento da dívida pública interna, ou seja, os títulos do governo negociados no país. Essa parte da dívida cresce 3,41%, passando de R$ 2,744 trilhões para R$ 2,837 trilhões. A dívida externa caiu 10,34%, passando de R$ 134,7 bilhões para R$ 120,7 bilhões. A emissão de títulos da dívida, interna e externa, em junho deste ano somou R$ 61,11 bilhões e foi a maior desde junho de 2015. De acordo com o Tesouro, o alto volume de emissões se deve a cerca de R$ 90 bilhões em títulos que vencem em julho. Para se antecipar a esses vencimentos, o órgão emite mais títulos para rolar esse volume de pagamentos. Mesmo com o aumento da dívida, ela ainda está abaixo do que prevê o PAF (Plano Anual de Financiamento). Para 2016, a estimativa é que a dívida fique entre R$ 3,1 trilhões e R$ 3,3 trilhões. "Estamos em um nível satisfatório em relação ao PAF", afirma Leandro Secunho, coordenadorgeral de operações da dívida pública. Em agosto, o PAF será revisto e adequado às metas do governo federal. 34


O custo médio da dívida caiu entre os meses de maio e junho. Quando observado os últimos 12 meses, em junho, o custo médio ficou em 13,8%, enquanto que em maio estava em 14,25%. Esse movimento foi impactado pela queda do custo da dívida externa, que há um mês apontava um custo em 12 meses de 18,99% e, em junho, registrou 9,34%. A queda é explicada pela valorização do real frente ao dólar no mês de junho. Por outro lado, o custo das emissões tem crescido. Na mesma base de comparação em 12 meses, o custo médio das emissões cresceu de 14,31% para 14,42%. Junho registrou o 16º mês seguido de alta nessas taxas. Secunho afirma que essa tendência deve inverter nos próximos meses. "As taxas das novas emissões estão caindo. Como esse indicador considera a emissão dos últimos 12 meses, há um fator estatístico que impede a queda imediata. Mas a tendência é que esse indicador se reverta nos próximos meses", afirma.

Inflação e insegurança Consumidores estão menos pessimistas, mas expectativa em relação à inflação ainda é tão ruim quanto foi no ano passado Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, Editorial Econômico 25 Julho 2016 as 03h00

Consumidores ainda esperam inflação de 10% nos 12 meses a partir de julho, segundo a sondagem mensal da Fundação Getúlio Vargas. Estão menos pessimistas, porque em junho a expectativa era de 10,5%, mas o resultado previsto é quase tão ruim quanto o do ano passado, quando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 10,67%. Se a opinião do consumidor tem alguma importância para a formação dos preços, o Comitê de Política Monetária (Copom) tem uma justificativa a mais para sua decisão, anunciada na quarta-feira, de manter em 14,25% a taxa básica de juros. Em nota distribuída logo depois da reunião, o comitê mencionou a diferença entre a sua projeção para 2017, “em torno da meta de 4,5%”, e a do mercado, “em torno de 5,3%”. Inflação alta por um período prolongado e expectativas acima da meta podem reforçar, segundo o comunicado, “mecanismos inerciais e retardar o processo de desinflação”. Pior, ainda, se continuar incerta, como até agora, a execução do plano, anunciado pelo governo, de ajuste das contas públicas. A nota mencionou também esse fator. A projeção de 10% para os próximos 12 meses é a mediana dos números indicados nas entrevistas. Taxas entre 10% e 12% foram mencionadas por 18,4% das pessoas. Resultados superiores a 12% apareceram em 17,8% das respostas. A soma desses dois grupos dá 36,2%, mais de um terço, portanto, do total. Não é um detalhe desprezível. Juntando-se os 21,9% com previsões na faixa de 9% a 10%, chega-se a 58,1% de consumidores com expectativa de inflação acima da computada oficialmente nos 12 meses até junho, quando o IPCA subiu 8,84%. O IPCA-15, prévia do indicador oficial, pode justificar o limitado entusiasmo da maior parte das pessoas, apesar do recuo da inflação desde o começo do ano. Apurado entre meados de um mês e meados do mês seguinte, o IPCA-15 mostrou um repique inflacionário, com uma alta de 0,54% em julho e de 8,93% em 12 meses. Em junho, havia subido 0,4%. Como no mês anterior, os preços de alimentos e bebidas puxaram o índice, com aumento de 1,45% e impacto de 0,37 ponto porcentual no conjunto. A alta do grupo alimentação e bebidas 35


foi a maior para os meses de julho desde 2008, quando a variação foi de 1,75%. Os preços de feijão, arroz e leite foram os mais importantes para a elevação do IPCA. Tempo desfavorável, com excesso ou falta de chuva, prejudicou as safras de alguns produtos. Isso explica, em boa pare, os aumentos de preços de alguns alimentos. O dólar valorizado também afetou os custos da alimentação desde o ano passado, mas esse efeito tem diminuído e poderá continuar perdendo importância nos próximos meses, se as perspectivas de ajuste econômico se consolidarem e os mercados se tornarem mais otimistas. Mas a evolução do câmbio dependerá também do mercado financeiro internacional. Um fator especialmente importante será a política de juros do banco central americano. Se a taxa for novamente elevada, o dólar poderá de novo subir na maioria dos mercados. Por enquanto, os preços por atacado permitem pouco otimismo quanto à acomodação dos preços dos alimentos. Mas o custo da alimentação é apenas um dos focos de pressões inflacionárias. O desarranjo das contas públicas permanece como o principal fator de preocupação, mesmo depois das primeiras ações do governo para ajustar suas finanças. Os consumidores têm motivos bem respeitáveis para se manter cautelosos quanto às perspectivas da inflação. Podem até acreditar na tendência de queda, mas sem acreditar em taxas muito mais civilizadas neste ano e no próximo. No mercado financeiro, as projeções têm ficado mais otimistas, mas ainda os números calculados para 2017 continuam bem acima da meta. Combinados todos esses fatores, o Copom teria pouca justificativa para afrouxar sua política neste momento. Se o quadro político tornar mais segura a política de ajuste das contas públicas, será mais fácil mudar a política de juros.

Antes tarde do que nunca Deputados poderão mostrar se estão realmente dispostos a recuperar a confiança popular Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, 24 Julho 2016 as 03h01

A imagem pública dos parlamentares brasileiros e dos políticos em geral nunca foi exatamente positiva e piorou muito a partir dos escândalos revelados pela Operação Lava Jato e congêneres. Deputados e senadores consideram-se perseguidos e injustiçados pelo estigma da corrupção e não se conformam, muitos com razão, com a generalização dessas acusações. Esse sentimento majoritário de repulsa dos brasileiros aos desvios de conduta de seus representantes no Congresso Nacional está hoje tão enraizado que certamente levará um bom tempo para mudar a partir do instante em que houver razões para tanto. Mas aos deputados, em particular, está sendo oferecida uma excelente oportunidade de acelerar o processo de reconquista do apoio e respeito populares: a discussão do pacote de medidas contra a corrupção. Ele está travado há mais de um ano na Câmara e agora o novo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anuncia que quer vê-lo aprovado até 9 de dezembro, Dia do Combate à Corrupção. O presidente da Câmara reuniu-se na terça-feira com representantes do Judiciário e do Ministério Público e com um grupo de deputados, entre eles o relator do projeto na comissão especial designada para debater a matéria, Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Com o apoio de todos, Maia garantiu que dará prioridade à tramitação desse pacote de projetos. São dez medidas destinadas a aperfeiçoar, acelerar e tornar mais rigoroso o processo de investigação e julgamento dos casos de corrupção na gestão da coisa pública. É mais uma boa notícia que o renovado comando da Câmara dos Deputados dá ao País.

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O pacote anticorrupção foi elaborado basicamente a partir da iniciativa dos procuradores federais envolvidos na Lava Jato e tornado público pelo procurador-geral Rodrigo Janot em março do ano passado. Chegou ao Congresso Nacional subscrito por mais de 2 milhões de brasileiros, exatamente no momento em que centenas de milhares de manifestantes saíam às ruas, em todo o País, para protestar contra a corrupção e o desgoverno e exigir o impeachment da presidente da República. Com Eduardo Cunha na presidência da Câmara, mais interessado na queda de braço com o Palácio do Planalto como meio de fortalecer seu próprio poder político, o pacote anticorrupção permaneceu engavetado, até porque jamais despertou a simpatia do baixo clero, que o hoje afastado parlamentar fluminense liderava. De fato, as medidas propostas são assustadoras para quem se habituou a se proteger com o escudo da imunidade parlamentar e do foro privilegiado. Mais de 20% de membros do Congresso Nacional são investigados, réus ou condenados por corrupção. O pacote prevê, por exemplo, o aumento da pena máxima para corrupção de 12 para 25 anos e a classificação dessa infração como crime hediondo. Outra medida atinge diretamente os partidos políticos denunciados por corrupção, que poderão sofrer multas proporcionais aos valores desviados e, nos casos mais graves, serem punidos com a suspensão do funcionamento de diretórios por até quatro anos ou até mesmo terem o registro de funcionamento cassado. Na apresentação do pacote, em março do ano passado, um dos responsáveis pelo trabalho, o procurador Deltan Dallagnol, chegou a ser dramático: “A corrupção rouba a comida, o remédio e a escola dos brasileiros. Quem rouba milhões mata milhões”. Descontado o arroubo retórico, o fato de homens públicos se locupletarem com recursos por definição destinados ao bem comum é uma vilania realmente merecedora de julgamento implacável e punição rigorosa, pois vitimiza principalmente os cidadãos mais carentes de investimento público. Uma vez submetido ao escrutínio parlamentar e escoimado de eventuais demasias, o pacote anticorrupção, ao qual o novo presidente da Câmara promete garantir uma tramitação a salvo de manobras procrastinatórias, é um poderoso trunfo com o qual os deputados poderão contar, se estão realmente dispostos a recuperar a confiança popular perdida ao longo de mais de uma década em que o Parlamento se transformou em mero balcão de negócios a serviço de um projeto de poder irresponsavelmente populista.

Trump contra o mundo O magnata Donald Trump declarou guerra ao mundo no discurso de aceitação da candidatura republicana à presidência dos Estados Unidos Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, 24 Julho 2016 as 03h09

O magnata Donald Trump declarou guerra ao mundo no discurso de aceitação da candidatura republicana à presidência dos Estados Unidos. “America First”, a América em primeiro lugar, é o slogan de um homem que se orgulha de não ser político e que desconhece qualquer escrúpulo na defesa do que julga serem os interesses de seu país. Poucas vezes na história recente uma eleição americana representou um risco tão grande para o resto do planeta e para os próprios Estados Unidos quanto esta, em que um demagogo irresponsável, com chances reais de vitória, se prontifica a murar fronteiras para impedir a entrada de imigrantes indesejados e a usar força extrema, dentro e fora do país, contra aqueles que, em sua visão e na de seus fanáticos seguidores, ameaçam o “modo de vida americano”. No discurso raivoso e carregado de sarcasmo, Trump anunciou que, se eleito, os Estados Unidos “serão o país da lei e da ordem”. Pintou um quadro sombrio do país, como se estivesse 37


engolfado em violência e crimes, e ele atribuiu esse estado de coisas aos imigrantes ilegais, “que estão esta noite andando por aí livremente ameaçando cidadãos pacíficos”. Ao lembrar do caso de uma garota assassinada recentemente, Trump disse que se tratava de “outra criança sacrificada no altar das fronteiras abertas”. Trump prometeu proibir a imigração de cidadãos oriundos de países “expostos ao terrorismo” e que não o combatem. “Só vou admitir a entrada em nosso país de pessoas comprometidas com nossos valores e que amem nosso povo”, avisou, reafirmando sua promessa de construir um muro para impedir a entrada de “gangues” e “traficantes”. Disse que a política de imigração proposta por seus adversários, que supostamente permitirá uma “imigração em massa”, vai superlotar hospitais e escolas, tirar empregos e atirar ainda mais pessoas na pobreza. Sobre sua adversária, Hillary Clinton, que foi secretária de Estado, Trump resumiu assim o que chamou de “legado” da democrata: “Morte, destruição, terrorismo e fraqueza”. Antes dela, Trump disse, não havia Estado Islâmico, o Egito era “pacífico”, a violência no Iraque estava tendo uma “grande redução”, a Síria estava “sob controle” e a Líbia era “estável”. Graças aos “maus instintos” de Hillary, atacou Trump, a realidade hoje é outra. Para mudar tudo isso – “pobreza e violência em casa, guerra e destruição no exterior”, Trump apresentou seu “plano de ação para a América”. “Americanismo, e não globalismo, será nosso credo”, anunciou, avisando que irá romper acordos comerciais que “roubam empregos do país e nos tiram nossa riqueza” e “submetem os Estados Unidos à autoridade de governos estrangeiros”. Na economia, escancarou a mais rasteira demagogia ao prometer mundos e fundos para os “negligenciados, ignorados e abandonados” e dizer que será “a voz” dessas pessoas. “Entrei para a política para que os poderosos não possam mais bater nas pessoas que não têm como se defender”, declarou. O discurso mostrou que Trump não tem adversários, mas inimigos. Todos os que não comungam de sua visão de mundo devem ser destruídos, num processo que é a própria negação da política. Assim, a democrata Hillary Clinton, sua adversária na eleição de novembro, não deve ser derrotada, mas “ir para a cadeia”, como declarou um dos apoiadores de Trump na convenção. Em meio a urros de aprovação da plateia, Trump disse que “a História nos está observando agora”. E ele tem razão: esse populismo deletério de Trump está na essência de movimentos que, no passado, a título de resgatar o orgulho nacional, geraram regimes totalitários na Europa e alimentaram o isolacionismo americano. O slogan “América em primeiro lugar” foi usado muitas vezes antes de Trump, mas seus defensores mais ardorosos, felizmente, jamais chegaram ao poder. Com Trump, porém, o racismo, a xenofobia e o isolacionismo da chamada “América profunda” ganharam uma chance real de conquistar a Casa Branca. Como disse Trump no encerramento de seu discurso, “que Deus os abençoe”.

Da UTI à competição, um roteiro longo e difícil Depois de ajeitar as contas públicas, faltará reconstruir o governo e a economia devastada Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, Rolf Kuntz* 24 Julho 2016 as 03h00

O primeiro e mais urgente desafio para o governo é tirar o País da UTI, mandá-lo para a recuperação e divulgar boletins animadores e críveis sobre a melhora de suas condições fiscais. Se tudo andar bem, lá por 2019 ou 2020 haverá sinais de controle da dívida pública. Será um trabalho politicamente complicado, mas o roteiro é mais ou menos conhecido. Será 38


preciso, contudo, ir muito além do tratamento intensivo e da reabilitação inicial. Governo e setor privado terão de repor o Brasil em condições de competir no mercado internacional e de crescer em ritmo parecido com os de outros emergentes na faixa de 4% a 6% ao ano, somente para reconquistar algumas posições. Falta saber como cuidar dessa parte: essa é, neste momento, a área mais obscura da política econômica. Será como reinventar o País, depois de muitos anos de equívocos e de ampla deterioração da capacidade de crescimento. Por enquanto, já será muito bom se o Brasil voltar a se mover. Novas projeções, mais animadoras, apontam mudança de sinal para o lado positivo no próximo ano. Em 2017 o produto interno bruto (PIB) crescerá pouco mais de 1%, de acordo com estimativas do mercado financeiro e de consultorias. Além disso, economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) elevaram de zero para 0,5% sua previsão de crescimento para o próximo ano. Apesar dessa melhora, só um país sul-americano, a Venezuela, terá desempenho pior que o do Brasil. Para a economia venezuelana as projeções apontam recessão pelo quarto ano consecutivo. Nada surpreendente, enfim, quando se mudam cardápios de lanchonetes por falta de farinha de trigo, indústrias param de funcionar por escassez de peças e milhares formam filas nos supermercados quando chegam carregamentos de papel higiênico. Mas como retomar, no Brasil, o potencial de crescimento de outros tempos? No curto prazo, o governo terá de cuidar principalmente da arrumação das contas públicas. Precisará controlar despesas, selecionar os gastos mais severamente e criar mecanismos para controlar o Orçamento nos anos seguintes. A proposta de um teto para a elevação da despesa já é um começo promissor. Estão em estudos projetos de reforma da Previdência e das normas trabalhistas. Tudo isso pode animar o mercado financeiro, mas será preciso algo mais para movimentar a produção. Autoridades têm falado em concessões na área da infraestrutura, com critérios mais atraentes para o capital privado. Por enquanto, há mais palavras do que iniciativas práticas. Concessões e outros sinais positivos poderão reativar a economia e criar condições para aumento da receita fiscal no próximo ano. Isso facilitará o ajuste das contas federais, mas, ainda assim, talvez seja necessário algum aumento da tributação. Será um lance politicamente difícil. Sondagens patrocinadas por entidades da indústria têm mostrado muita resistência dos cidadãos à ideia de mais impostos e contribuições. Não há, nisso, grande surpresa. O dado mais interessante é outro. O governo, segundo a maior parte dos entrevistados, pode fazer muito mais e prestar serviços melhores com a arrecadação já estabelecida. Esse comentário pode parecer e talvez seja um lugar-comum, mas vale a pena explorá-lo. Traduzida em termos menos correntes, essa avaliação corresponde a uma cobrança de produtividade e qualidade, dois atributos muito raramente considerados na gestão do serviço público. Durante o período petista, a ideia de produtividade no governo foi rechaçada, com persistência, como preconceito neoliberal. Progressista era a contratação preferencial de companheiros e aliados, complementada com generosa revisão de salários. Mas a baixa eficiência da administração pública, especialmente da federal, é apenas uma parte muito visível do problema econômico brasileiro. Improdutividade e incompetência refletem-se no desperdício de recursos, na baixa qualidade de planos e de programas e no acompanhamento inepto de obras e de projetos. Tudo isso é visível tanto na escassez do investimento quanto na baixa relação entre custo e rendimento de cada real investido. Num país administrado com alguma seriedade, um trecho ferroviário de 800 quilômetros mantido sem uso seria uma aberração quase inacreditável. Completar um parque de energia eólica sem rede de transmissão seria assunto de piada, talvez história contada por mentiroso incontrolável. 39


No Brasil, tudo isso é parte da normalidade – mais precisamente, de uma normalidade consagrada numa longa fase de incompetência e corrupção maquiadas como progressismo. Quantos países têm verbas vinculadas constitucionalmente à educação? Também nesse quesito o Brasil é uma exceção, assim como na classificação de seus estudantes sempre entre os últimos nos testes internacionais de linguagem, matemática e ciências. A economia brasileira poderá crescer até com alguma facilidade, inicialmente, pela ocupação da capacidade ociosa. A partir daí, a velocidade só aumentará se houver ganho de produtividade tanto no setor empresarial quanto na área pública. Isso dependerá tanto do volume do investimento quanto do produto gerado a partir de cada real investido. Uma economia mais aberta e mais integrada internacionalmente poderá estimular a eficiência empresarial. Mas a operação do conjunto dependerá de amplas mudanças na concepção e na execução de políticas públicas. Isso envolverá uma definição mais cuidadosa de prioridades, assim como novos padrões de planejamento, de elaboração de programas e de execução de projetos. Será necessário, em suma, inverter o sinal de todas as políticas dominantes desde a ocupação, o aparelhamento e o loteamento da máquina estatal pelo PT. O trabalhoso conserto das contas públicas é só o começo de uma enorme reconstrução. *É jornalista

Experiência é estratégia para se sobressair Conceito é vertente do marketing e explora sentimentos, sensações e emoções com o objetivo de atrair e fidelizar os consumidores Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, CRIS OLIVETTE 24 Julho 2016 as 07h39

Donos do Retrô Hair, Rogério Santos e Nico Pinheiro (à direita)

Em 2009, Rogério Santos deixou a carreira de executivo da área de telecomunicações para empreender, e foi estudar o mercado. “Analisando os dados, vi que o negócio de beleza vinha crescendo ano após ano. Mas achei que ficar parado dentro de um salão seria chato, então, resolvi introduzir experiências na área de beleza”. 40


O ponto escolhido foi a Rua Augusta. “Estudando a história da rua, decidi homenagear sua época de glamour, ocorrida nos anos 1950 e 1960. Assim, nasceu o nome Retrô Hair. Minha intenção foi colocar detalhes para fazer o cliente ter prazer em frequentar o ambiente, criando uma ligação com o local que, de alguma forma, desperta suas memórias afetivas”, diz. O Retrô Hair é barbearia e salão de cabeleireiro. Entre os ‘detalhes’ introduzidos por Santos está um Bell Air 1951, estacionado na área de convivência, um aparador com espelho de cristal comprado em leilão de bens da família Matarazzo e espelhos de um antigo prostíbulo da Rua Augusta. No espaço masculino, o cliente pode ser atendido em uma cadeira de barbeiro de 1920. “Gostamos de mimar os clientes. Enquanto esperam o atendimento, podem degustar bebidas ou doces, como dadinho e pirulito”, conta. O empresário afirma que o negócio deu tão certo que dois anos após a inauguração deixou o espaço de 140m² para ocupar outro de 1.400m². Hoje, também possui unidade no Top Center, shopping situado na Avenida Paulista. “Para cuidar da expansão da marca, trouxe para a sociedade Nico Pinheiro. Futuramente, teremos parceiros montando unidades no Rio de Janeiro, Curitiba, João Pessoa, Recife e Salvador”. Santos acredita que oferecer experiência é uma oportunidade. “Empresas que seguem esse caminho conseguem agregar valor ao negócio e se manter no mercado. O cliente quer algo a mais, só o produto ou o serviço não são suficientes para atrair o consumidor”, afirma. A avaliação do empresário é endossada pelo especialista em marketing de experiência, Manoel Carlos Júnior. “A padronização dos processos produtivos ocorrida nas décadas de 1980 e 1990, acarretou a padronização dos produtos. Hoje, para que um produto ou serviço seja diferenciado, tem de ir além e entregar uma experiência. É o intangível que tem de vir acoplado ao bem ou serviço”.

Manoel Carlos Júnior, especialista em marketing de experiência

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Carlos afirma que essa necessidade tem sido acelerada por dois fenômenos. “O meio digital deu poder ao consumidor por meio das redes sociais. Ocorre que quanto mais tecnologia existe nos processos, mais as pessoas necessitam de afetividade. Por isso, buscam produtos e serviços que preencham essa lacuna afetiva”. O outro fenômeno, segundo ele, vem ocorrendo nos últimos cinco anos. “É a primeira vez na história da humanidade que temos cinco gerações diferentes de consumidores interagindo simultaneamente no mercado. Temos desde os seniores nascidos antes de 1945 até a geração Z, que são os nascidos a partir de 1994”. Ele diz que essas gerações têm pesos e valores absolutamente distintos. “Sobretudo as mais jovens, com idade abaixo de 36 anos. Essas pessoas valorizam mais o intangível e o afeto que as marcas representam para elas, do que o produto em si. Esses fenômenos fortalecem o marketing de experiência”. Estudioso do tema há oito anos, Carlos Júnior desenvolveu a metodologia ‘Experiencialize’. “É o processo de transformar produtos e serviços em experiências memoráveis para o consumidor. Hoje, meu objetivo é levar a ferramenta para micro e pequenas empresas, tanto que acabo de lançar o livro Experiencialize! Os 7 passos para transformar produtos e serviços em experiências (veja quadro ao lado). Outro negócio que se destaca pelo diferencial é o açougue Feed, de Pedro Merola. “Criei esse modelo de negócio por acreditar que sempre tem um jeito melhor de fazer as coisas”. No espaço de 350m² oferece cortes padronizados, alguns pouco conhecidos dos brasileiros. A casa também oferta aos clientes 26 receitas para o preparo da carne. No espaço lounge é possível tirar dúvidas com consultores. Há também um empório com produtos gastronômicos e acessórios de cozinha.

Empório faz parte da casa de carnes Feed

“No fundo da loja, oferecemos experiências como degustação, encontros gastronômicos, cursos de churrasco e outras aulas de culinária. Tudo isso em um ambiente à sombra de uma grande figueira, com fogão à lenha, chapa e churrasqueira”.

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Fundada em julho de 2014, a agência Addin Viagens foi concebida com a proposta de ‘alinhamento dos sentidos’. A expressão, conforme o especialista em marketing de experiência Manoel Carlos Júnior significa cuidar para que o ambiente tenha, por exemplo, um aroma agradável. “Também é preciso trabalhar o visual. As pessoas são cada mais vez visuais. Muitas vezes a decisão pela compra começa pela visão. Já a audição pode ser trabalhada com trilha sonora adequada ao negócio e a sensação que deseja causar no cliente. O tato pode ser contemplado permitindo ao cliente tocar no produto e o paladar, oferecendo um mimo saboroso”. Segundo ele, se a empresa consegue ativar a maior parte dos cinco sentidos de maneira integrada e pertinente ao negócio, consegue criar uma atmosfera positiva para o consumo. Diretora da Addin, Giovana Jannuzelli conta que a loja tem três pontos que exalam odor característico da marca. “Isso torna o ambiente mais agradável para que o cliente fique mais tempo investigando o destino”. A Addin também lançou mão de tecnologia para fazer o cliente sentir a viagem antes do embarque. “Temos uma mesa com mapa mundi controlada por iPad, ao clicar no globo do iPad o destino desejado, a imagem aparece na mesa com informações sobre o local, temperatura, pacotes de viagem etc”.

Diretora da Addin Viagens, Giovana Jannuzelli

Giovana conta que seis iPads estão espalhados pela loja para serem usados em pesquisas sobre o destino desejado. “Também temos um vídeo wall com 5m x 5m no qual são projetadas imagens do local, que podem ser vistas com óculos 3D, dando ao cliente a sensação de estar no destino desejado”. O paladar é aguçado por cafeteiras que preparam a bebida com produtos provenientes de locais como Índia e Butão. “Temos lounges para que as pessoas possam ficar à vontade consultando os destinos pelo iPad. Crianças também são bem-vindas e podem se distrair no espaço kids com livros de viagem, videogame e lousa com giz. Tudo para que a permanência da família seja tranquila”. Segundo ela, as pessoas ficam muito satisfeitas com a facilidade de poder olhar o destino de uma outra forma. “É uma novidade para o público. Focamos no arquétipo do viajante 43


explorador. Aquele viajante curioso que procura saber detalhes sobre o local para onde vai. Aqui proporcionamos uma jornada de experiência. Nossos consultores são orientados a promover essa sensação.” Giovana afirma que desde a fundação o negócio cresceu 120% em volume total de vendas, sendo que somente no primeiro semestre de 2016 o crescimento foi de 50%. “Ainda que o mercado esteja em crise, tivemos um crescimento expressivo, principalmente para roteiros nacionais”. A Addin tem plano de expansão que será implementado no último trimestre do ano.

Prevenção e imagem FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@grupofolha.com.br 23/07/2016 as 02h00

Diante da prisão de dez brasileiros suspeitos de planejar um ataque terrorista na Olimpíada do Rio, hesita-se entre os sentimentos do alívio e da desconfiança. Sem dúvida, a ação da Polícia Federal dá mostras de que não eram vazias as declarações de que havia preocupação real com a segurança nos Jogos. Evidenciou-se, ao menos, a existência de um monitoramento eletrônico sobre eventuais simpatizantes do extremismo muçulmano. Ao mesmo tempo, não se exclui a possibilidade de que a ofensiva das autoridades tenha se revestido de algum componente midiático. De acordo com o relato oficial, havia indícios consideráveis a pesar contra alguns dos detidos estratégias de ataque debatidas pela internet; celebração dos atentados em Nice e em Orlando; uso de pseudônimos; em pelo menos quatro casos, juramentos de lealdade ao Estado Islâmico. Não é pouco, e dada a imprevisibilidade inerente das ações terroristas, a cautela se impõe acima de tudo. Até que ponto, todavia, acrescenta-se a esse raciocínio a conveniência de demonstrar internacionalmente, em cronograma calculado, a existência de um eficaz dispositivo de controle sobre possíveis ameaças? A incerteza da situação traduz-se em paradoxo, para não dizer em contradições abertas, quando se analisam as atitudes do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, e de outras autoridades. Tratava-se de célula "amadora", "sem nenhum preparo", afirmou Moraes, aludindo ao fato de que um de seus membros tentara comprar armamentos pela internet, em vez de recorrer a fornecedores especializados. Os suspeitos tinham, entretanto, um líder, prosseguiu o ministro. Difícil afirmar tal coisa, rebateu o juiz responsável pelas prisões. Em meio às ambiguidades do caso, transparece um dilema político real. É preciso evitar que o sentimento de medo e insegurança prevaleça na Olimpíada e, ao mesmo tempo, assegurar que as forças policiais não estão a minimizar nenhuma ameaça. Desse modo, se quisermos exagerar o teor do que disseram as autoridades, transmite-se a ideia de que havia perigo, mas que esse perigo não era considerável; que os suspeitos estavam organizados, mas não muito –e que os Jogos se realizarão em paz, mas talvez não. 44


Seria, todavia, injusto caracterizar assim as hesitações do discurso oficial. Pois, de fato, garantias absolutas não existem contra ações terroristas (pouco importando se provêm de "amadores" ou não). Fez-se o correto; o que se afirmou sobre o feito, contudo, perdeu-se na névoa da conveniência política.

A reboque FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@grupofolha.com.br 23/07/2016 as 02h00

Era inevitável. Depois de avalizar, no mês passado, reajustes salariais para servidores dos três Poderes, o governo Michel Temer (PMDB) se viu forçado a contemplar uma nova leva de corporações do funcionalismo. Desta vez, projetos a serem examinados pelo Congresso concederão aumentos escalonados até 2019 para uma dezena de categorias do Executivo, incluindo carreiras de elite como as dos policiais federais e auditores da Receita —estes deflagraram na semana passada uma greve capaz de deprimir ainda mais a arrecadação de impostos. Há muito pouco de planejamento nessas decisões. Assim o demonstrou, de maneira constrangedora, o erro no cômputo do impacto orçamentário das benesses de junho, primeiro estimado em R$ 52,9 bilhões e depois elevado a R$ 67,7 bilhões em três anos. A respeito dos novos reajustes, divulgou-se apenas a despesa adicional prevista para 2016, na casa dos R$ 700 milhões. A maior parcela da conta, portanto, permanece desconhecida. Argumenta o governo que a medida compensa perdas salariais passadas e já havia sido negociada com os servidores na gestão da presidente Dilma Rousseff (PT), hoje afastada. Temer defendeu o endosso aos acordos como maneira de evitar uma onda de paralisações politicamente desastrosa. Por pragmático que seja, o cálculo do interino significa privilegiar, em meio à aguda recessão, um segmento que conta com estabilidade no emprego e renda muito acima dos padrões nacionais —a despesa por funcionário civil no Executivo é de R$ 8.300 mensais, ao passo que o rendimento médio do trabalho no país é de R$ 1.900. Para que se leve a cabo a proposta de limitar a alta do gasto federal nos próximos anos à taxa de inflação, a passividade na gestão dos recursos humanos terá de dar lugar a um enfrentamento mais corajoso das demandas salariais. A folha de pagamentos da União consumirá R$ 255 bilhões neste ano, ou 22% dos dispêndios não financeiros —e a cifra cresce vegetativamente devido a promoções automáticas por tempo de serviço. Logo, futuras correções e contratações terão de passar por análise rigorosa, caso a caso. A tarefa envolve diagnosticar carências da máquina administrativa, estabelecer prioridades, cobrar desempenho e premiar o mérito. Enfim, nada mais que uma política de recursos humanos, esquecida ao longo dos anos em que o governo caminhou a reboque do poder do corporativismo.

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Laboratório eleitoral FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@grupofolha.com.br 24/07/2016 as 02h00

Com início legal marcado somente para o dia 16 de agosto, a disputa eleitoral pelas prefeituras já começa a ganhar corpo à medida que os principais candidatos têm confirmadas suas postulações. Em São Paulo, por exemplo, PRB, PSOL, PT e PSDB lançam os nomes que pretendem levar ao comando da maior cidade brasileira: Celso Russomanno, Luiza Erundina, Fernando Haddad e João Doria, respectivamente. No próximo sábado (30), será a vez do PMDB, com Marta Suplicy. Além disso, o Tribunal Superior Eleitoral divulgou na última quarta-feira (20) os valores máximos que poderão ser gastos pelas campanhas. Os tetos variam de R$ 45,4 milhões, no caso da capital paulista, a R$ 108 mil, para os quase 4.000 municípios com menos de 10 mil eleitores. A esses limites, uma novidade desta eleição, se acrescentam outras regras aprovadas em 2015: o veto a doações de empresas privadas (restrição imposta antes pelo Supremo Tribunal Federal), a diminuição do período de campanha (de 90 dias para 45) e a redução do horário eleitoral na TV (de 45 dias para 35), entre outras medidas. Seria exagerado afirmar que há, em torno dessas normas, expectativa semelhante à que existe com relação ao desfecho do pleito; muito mais que em anos anteriores, porém, boa parte das análises levará em conta o regulamento da disputa. A corrida municipal, assim, fará as vezes de laboratório eleitoral. Nesse teste, um primeiro aspecto se destaca. Se o contexto nacional favorece o desejo de mudança seja pela crise econômica, seja pela Lava Jato, que parece atingir a classe política indistintamente, as novas regras beneficiam candidatos mais estabelecidos. Sem muito tempo de TV, postulantes com os quais o eleitor está menos habituado terão sérias dificuldades para se tornar conhecidos do grande público. O tema que mais desperta controvérsia, todavia, é o do financiamento das candidaturas. Talvez a proibição à contribuição de empresas até resulte em menor circulação de dinheiro, mas a contrapartida será uma proporção ainda mais expressiva de montantes repassados por baixo dos panos. O caixa dois, por definição, ocorre à margem da lei; uma norma que vete a doação oficial, portanto, nada fará em relação às colaborações extraoficiais. Como consequência, os eleitores terão ainda menos oportunidade de saber quem financia seu candidato. Teria sido melhor estabelecer um limite em valores absolutos às contribuições tanto de pessoas físicas como de empresas, fixar critérios mais restritivos para as companhias autorizadas a doar e aprimorar mecanismos de fiscalização online. O legislador, entretanto, foi por outro caminho e sua opção começa a ser testada.

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Fôlego emergente FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@grupofolha.com.br 24/07/2016 as 02h00

Em nova revisão das perspectivas para a economia do planeta, o Fundo Monetário Internacional trouxe uma pequena, mas importante, novidade. À diferença do padrão dos últimos dois anos, a redução nas projeções de crescimento concentrou-se nos países desenvolvidos, não no mundo emergente. A principal mudança para pior se deu com o Reino Unido, em consequência da decisão de abandonar a União Europeia, mas também houve ligeiras quedas associadas à zona do euro e aos EUA. Os gigantes China, Rússia e Brasil mereceram algum otimismo adicional. No caso brasileiro, a alteração foi relevante as estimativas para a evolução do Produto Interno Bruto neste ano e em 2017 subiram meio ponto percentual, para -3,3% e 0,5%, respectivamente. No cômputo geral, o FMI estima que o mundo deve crescer 3,1% neste ano e 3,4% em 2017. Trata-se de um desempenho não mais que moderado; a vantagem, em especial para os emergentes, é que os juros norte-americanos, europeus e japoneses permanecerão baixos. Taxas perto de zero nos Estados Unidos significam dólar mais barato porque há menos demanda por aplicações nessa divisa e preços mais favoráveis para os exportadores de matérias-primas. Com isso, houve nas últimas semanas forte ingresso de capital estrangeiro nas economias onde ainda pagamse juros elevados, caso do Brasil. O governo federal aproveitou para vender US$ 1,5 bilhão em títulos; as empresas brasileiras, neste ano, já tomaram US$ 14,5 bilhões lá fora. Evidentemente, há também motivos locais para a melhora do panorama. No Brasil, observamse avanços do programa de ajuste das contas públicas; a balança comercial mostra superavits crescentes; recupera-se, aos poucos, a confiança do empresariado industrial. Na China, o temor de colapso iminente que balançava os mercados desde o ano passado deu lugar a uma perspectiva de ajuste mais gradual, ao menos por enquanto. Apesar de a fragilidade do crescimento global suscitar cautela, como apontou o Banco Central em comunicado na semana passada, o ambiente global se apresenta mais promissor para os emergentes. Trata-se de boa notícia para um governo que apenas inicia uma longa trajetória de recuperação. Que a calmaria não seja tomada como permanente e o ajuste econômico caminhe de forma célere nos próximos meses.

Candidato da muralha 25/07/2016 02h00

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Ainda não surgiu uma explicação convincente para a ascensão do bilionário Donald Trump ao posto de candidato do Partido Republicano à Presidência dos EUA. Desde 1981, políticos da sigla comandaram o país por mais tempo (20 anos) do que rivais do Partido Democrata (16 anos). Foram republicanas duas das administrações que mais legaram efeitos duradouros aos Estados Unidos e ao mundo. Ronald Reagan (1981-89) foi o vértice do consenso liberal e privatizante que ajudou o país a desfazer os nós da estagnação e da inflação, a retomar a prosperidade e a consolidar sua hegemonia financeira. A controvertida gestão George W. Bush (2001-2009) relançou campanhas maciças das Forças Armadas, como não se via desde o fiasco da Guerra do Vietnã, 30 anos antes. Reafirmou a supremacia da superpotência, mas onde interveio abriu feridas que custam a cicatrizar. Por que esse partido, enraizado na sociedade e origem de lideranças tão marcantes na história recente, deixou-se atropelar por um outsider como Donald Trump? À diferença de Reagan, Trump não é liberal nem favorece o comércio. Defende o fechamento da economia e a revisão de acordos comerciais com outros países e blocos. O expansionismo bélico de Bush tampouco encontra guarida em Trump. Ele fala em cobrar dos países em que há presença militar americana. Põe em dúvida o cumprimento de obrigações pelos EUA no âmbito da aliança militar do Ocidente, a Otan. O candidato republicano completa sua plataforma com um discurso xenófobo associa imigrantes a criminosos e terroristas absolutamente inusual para as disputas majoritárias nos EUA ao longo das últimas décadas. Sua proposta mais estrambótica é a construção de uma muralha ao longo da fronteira com o México. O populismo nacionalista, e seu cacoete de eleger bodes expiatórios para o que propagandeia ser o empobrecimento das classes trabalhadoras do país, chega muito perto do cargo mais poderoso do planeta. 48


Trump canta um país decadente, com os valores da maioria branca ameaçados pela imigração e pela afronta à lei e à ordem. Põe-se no papel do restaurador, descompromissado com as elites que parasitam a população, capaz de fazer a "América grande novamente". Tudo é delírio, a começar da ideia de que os EUA, que acabam de mostrar sua força ao saírem da crise global antes dos outros países ricos, estariam em declínio. Trump, no entanto, já deu provas de que não prega no deserto. Há uma massa de descontentes na qual seu discurso ecoa. Em novembro esses eleitores vão descarregar no outrora improvável candidato republicano dezenas de milhões de votos.

Governo deve liberar plano de saúde popular de cobertura reduzida? SIM FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, SOLANGE BEATRIZ PALHEIRO MENDES 23/07/2016 as 02h03

LIBERDADE DE ESCOLHA AO CONSUMIDOR O debate sobre a criação de planos de saúde populares, recentemente proposto pelo ministro Ricardo Barros, esbarra em aspectos considerados tabus e numa visão equivocada das entidades que advogam defender o consumidor. A questão deve ser analisada à luz dos interesses mais amplos da sociedade, tendo em conta a grave situação do SUS (Sistema Único de Saúde) e da economia brasileira. Nos últimos 12 meses, 1,6 milhão de beneficiários tiveram de abrir mão de convênios médicos, acossados pelo desemprego e pela impossibilidade de pagar planos particulares. O resultado foi uma corrida ao já sobrecarregado SUS. Tais brasileiros se viram sem alternativa, já que, por lei, os planos de saúde são obrigados a manter um nível máximo de cobertura, atendendo todas as doenças da CID 10 (lista oficial da Organização Mundial da Saúde). Esse expressivo contingente deve ficar condenado a encarar as longas filas do SUS? Não poderia ter, ao menos, a possibilidade de escolher a adesão a um plano mais básico e barato do que os ofertados hoje, segundo suas conveniências? Em uma sociedade fundada na livre escolha, é justo tolher outras opções? Ao contrário do que ocorre em todo o mundo, vigora no Brasil uma falsa ideia de que os planos devem oferecer sempre cobertura total. Ora, segundo o governo federal, 85% dos problemas de saúde da população poderiam ser resolvidos na atenção primária. Por que não permitir a oferta de contratos que deixem de cobrir certos procedimentos mais complexos? 49


As internações representam 50% dos custos do setor. Por que não fazer como o sistema inglês (National Health Service), considerado o melhor do mundo, que adota rígido protocolo de acesso? Essas medidas permitiriam uma cobertura dentro da realidade dos consumidores e ajudariam a desafogar o SUS. Uma outra crítica frequente aos planos populares indaga por que o governo, em vez de permiti-los, não investe mais na saúde pública. O que não se explica é de onde sairia o dinheiro, uma vez que o orçamento da União prevê deficit de R$ 170 bilhões neste ano e de quase R$ 140 bilhões em 2017. Além de beneficiar os consumidores, a criação de planos individuais populares daria novo gás às operadoras de saúde, sufocadas por leis que engessam e encarecem os os custos do setor. Em 2015, a margem operacional das empresas foi de 0,5% -só o terceiro balanço positivo em nove anos. Fora a crise, o setor convive com uma política irrealista da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), que autoriza reajuste sempre abaixo da variação dos custos. Desde 2007, os planos subiram 115%, enquanto as despesas aumentaram 228% (quase o dobro). O resultado é que raras empresas oferecem planos individuais novos, prejudicando quem gostaria de contratá-los. As operadoras estão sujeitas ainda a uma crescente e exagerada demanda por exames, tanto de médicos quanto de pacientes, sem falar das fraudes. É preciso reduzir custos para que possam oferecer produtos mais atraentes e acessíveis. Por fim, admitimos que o setor apresenta falhas na relação com os clientes. Contudo, ao contrário do que se propala, nossas empresas não figuram entre as mais reclamadas. Dados do próprio Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor comprovam: ao compilar dados dos procons, registra que, no ranking de reclamações, os planos de saúde ocupam o 18º lugar. Entidades com acolhida na mídia, entretanto, vendem um falso discurso de que eles maltratam o cliente. Há empresas boas e ruins, cabendo divulgar as primeiras e punir, duramente, as últimas. SOLANGE BEATRIZ PALHEIRO MENDES, 60, advogada, é presidente da FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar). Foi diretora de normas e habilitação das operadoras da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar)

Governo deve liberar plano de saúde popular de cobertura reduzida? NÃO FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, MÁRIO SCHEFFER 23/07/2016 as 02h08

O BARATO QUE SAI CARO Farinha pouca, meu pirão primeiro. Se há recessão, não recorra ao SUS (Sistema Único de Saúde), compre um plano de saúde barato e de cobertura reduzida. Se planos populares não possuem fundamento técnico nem legal, ora, mudem-se as leis e a Constituição do país.

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É o que prega o ministro da Saúde, Ricardo Barros, muito mais no papel de conselheiro para investimentos empresariais. O jogo é bruto. Em consulta ao Tribunal Superior Eleitoral, descobre-se que planos de saúde investiram, em 2014, mais de R$ 54 milhões em campanhas para a Presidência da República e na eleição de 34 parlamentares. Entre os beneficiados estão o próprio ministro da Saúde e o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, autor de proposta de emenda constitucional que visa obrigar empregadores a contratar planos coletivos. Na mira da Operação Lava Jato, conforme delações premiadas, planos de saúde podem estar envolvidos com propinas e indicações para cargos na ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). Essa história de plano popular não começou agora. É retomada sempre que governos deixam de financiar adequadamente a saúde, assumindo apenas um SUS pobre para pobres. Empresários do setor nunca engoliram a determinação legal de que planos de saúde devem tratar todas as doenças e oferecer um rol mínimo de procedimentos médicos. Em 2001, emplacaram medida provisória, depois revogada, que instituía planos "subsegmentados". Em 2013, quase venderam ao governo a ideia de planos baratos subsidiados com dinheiro público. A quebra de mais uma grande Unimed, a anunciada venda da Qualicorp e as evidências de que a Amil revelou-se péssimo negócio para o capital estrangeiro expõem efeitos da crise econômica ou da má gestão. Também enterram a credibilidade de qualquer proposta que veja nesse mercado a salvação para os males do sistema de saúde brasileiro. Neste momento de cortes drásticos de recursos e de redução de leitos de internação no SUS, os planos populares, que não cobrem atendimentos de alto custo, aliviariam em que a rede pública? Em consultas e exames simples? Nem aí, com certeza, pois o baixo preço de mensalidades leva à diminuição dos valores de honorários médicos e à fuga de prestadores de serviços. Como 80% do mercado é formado por planos coletivos, pressupõe-se que empregadores passariam a fornecer aos empregados um benefício de pior qualidade. A população reconhece o engodo dos planos segmentados. O ambulatorial, sem direito a internação, já previsto em lei, representa só 4% do mercado. Planos de baixo preço, com poucos médicos e serviços, são recordistas de ações judiciais por restrições de cobertura e reajustes abusivos. O plano popular é um barato que sai caro. Por isso, não existe em nenhum país do mundo que adote sistema universal ou mecanismos coletivos para proteger a saúde dos cidadãos. Simplesmente porque saúde é um direito humano, as necessidades não são previsíveis e o risco de adoecimento não pode ser customizado em um plano promocional. O ministro, ainda interino, tem pouco tempo para se promover a definitivo, mas as gerações brasileiras vislumbram horizontes mais largos, com perspectivas de vida e saúde mais solidárias e dignas.

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MÁRIO SCHEFFER, 49, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP, é vice-presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e membro do conselho diretor do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor)

Construindo a nossa paz FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, MICHEL TEMER 24/07/2016 as 02h00

"Se o desenvolvimento é o novo nome da paz, quem não deseja trabalhar para ele com todas as forças?" O notável Papa Paulo 6º encerrou assim a histórica carta encíclica "Populorum Progressio", em 1967, que tratou do desenvolvimento dos povos. Essa é a inspiração para as ações do governo neste momento de grandes dificuldades pelas quais passa o país. Resgatar o crescimento e libertar da miséria milhões de brasileiros é a alternativa mais viável para cumprirmos o preceito estabelecido no artigo primeiro de nossa Carta Magna, que elege como fundamentos do Estado democrático de Direito, entre outros, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. A primeira condição para se almejar a cidadania é o emprego. Combater, pois, o desemprego que afeta quase 12 milhões de brasileiros é a meta prioritária a que me proponho, como presidente em exercício, para reinserir o país no rumo certo. O escopo dos direitos individuais e coletivos se assenta na igualdade de oportunidades, na elevação dos padrões de vida, na manutenção e na melhoria dos programas voltados aos mais carentes e à redução das desigualdades. Para tanto, o resgate das bases da economia é a meta principal de nosso governo. Um conjunto de ações está em curso com a finalidade de limitar os gastos e obter rigidez nas contas públicas: reduzir a máquina administrativa; renegociar as dívidas dos entes estaduais com imposição de teto de gastos; concentrar os esforços do Estado nas funções que lhe competem, livrando-o de tarefas que podem ser desempenhadas pela iniciativa privada. Não se trata de um mero ajuste fiscal, mas de reforma que visa ao bem-estar do cidadão. Nossa convicção é que, no curto prazo, teremos sinais alentadores para a reativação de setores produtivos estagnados e a volta dos investimentos. Como, aliás, já detectam as pesquisas de opinião, todas sinalizando o resgate da confiança dos agentes econômicos e dos consumidores. São dados que indicam estarmos no rumo certo, apesar do pouco tempo que tivemos, cerca de dois meses, para colocarmos a casa em ordem. A par das medidas de cunho econômico-financeiro, importante mudança de rumo se registra na ansiada meta da meritocracia, com a aprovação da Lei de Responsabilidade das Estatais. Trata-se de um avançado passo na direção do aperfeiçoamento da gestão pública. Sabemos que imensos desafios nos esperam, dentre os quais a recorrente meta da inflação para um patamar compatível com a alavancagem da economia e diminuição da taxa de juros. Na frente social, uma das primeiras medidas que tomamos teve como meta salvaguardar as condições de vida das 14 milhões de famílias que se amparam no Bolsa Família, garantindo ao

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programa 12,5% de aumento. Acrescentamos 75 mil vagas ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), abrindo mais possibilidades de acesso aos jovens. Na área do Minha Casa, Minha Vida, determinamos que o programa dê prioridade às famílias que tenham filhos portadores de microcefalia, dispensando-as de sorteio. Teremos, em breve, a realização da Olimpíada do Rio de Janeiro, evento que reunirá atletas de todo o mundo. Face à moldura de violência que se expande em diversas regiões, o nosso aparato de segurança está estruturado para garantir a integridade de atletas e turistas nos eventos que ocorrerão em agosto. Por último, relembro a disposição de pacificar o país, integrando Executivo e Legislativo. A eleição do presidente da Câmara dos Deputados revelou clima de harmonia e distensão naquela Casa. Do Congresso Nacional, temos tido amplo apoio nas propostas de interesse do governo. O Estado democrático de Direito garante manifestações livres entre os contrários, respeitados os direitos e deveres dos indivíduos e as normas de civilidade. A postura de cautela e moderação é a mais adequada. Estamos assistindo ao pleno funcionamento das instituições nacionais. Deixemos que os senadores, sob a égide de suas prerrogativas, tomem a decisão que julgarem conveniente ao nosso futuro. MICHEL TEMER é presidente interino da República

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Copom sugere que formação de expectativas voltou a ter papel central Alan Marques/Folhapress

Presidente do BC, Ilan Goldfajn, comanda a reunião do Copom FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, SAMUEL PESSÔA 24/07/2016 às 02h00

Na semana passada, houve a primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central após a troca de guarda na presidência da instituição, de Alexandre Tombini por Ilan Goldfajn. Depois da reunião, na quarta-feira (20) às 18h, a assessoria de imprensa do BC divulgou o comunicado com a decisão. O comunicado, bem mais longo do que normalmente, estabeleceu os parâmetros que pautarão a política monetária do BC liderado por Goldfajn. Reconhece que há sinais de estabilização da atividade com elevado nível de ociosidade e nota a enorme incerteza em relação ao cenário de recuperação da economia internacional. Em seguida, em dois parágrafos, trata dos elementos-chave para a tomada de decisão de política monetária. Primeiro, lembra que as expectativas inflacionárias dadas pela pesquisa 54


Focus, conduzida pelo BC com agentes do mercado financeiro, indicam que a inflação esperada para 2017 encontra-se acima da meta. Segundo, que os modelos de inflação, quando rodados no cenário esperado pelo mercado para câmbio e juros, também indicam inflação acima da meta. O comunicado termina apresentando os fatores que podem pressionar a inflação para mais e para menos nos próximos meses. Pesando tudo, o Copom decidiu pela manutenção da taxa Selic em 14,25% ao ano. O tom do comunicado sugere que a formação de expectativas voltou a ter papel central na formulação da política monetária. Parece que uma das precondições para o início de um processo de queda da taxa básica de juros será, como reza o livro-texto de política monetária, que as expectativas de inflação estejam ancoradas na meta. A ancoragem das expectativas é essencial para que o custo social —na forma de redução da atividade econômica e elevação da taxa de desemprego— do combate à inflação seja baixo. Quando as expectativas estão ancoradas e a economia sofre um choque de oferta negativo que aumenta a inflação —por exemplo, uma alta na tarifa de energia elétrica em razão de uma seca—, o repasse desse reajuste para os demais preços da economia é menor, pois as pessoas sabem que o BC combaterá esses efeitos secundários do choque de oferta. Isso, por sua vez, torna a tarefa do BC de combater o surto inflacionário bem mais simples. Nos últimos anos, a importância da ancoragem das expectativas na política monetária foi desconsiderada. Circula uma teoria de que os juros reais são elevados no Brasil em razão de uma conspiração da avenida Faria Lima (sede de muitos bancos) com a diretoria do BC. Essa leitura assevera que o mercado financeiro força as expectativas para cima para fazer com que a Selic, a taxa básica determinada pelo BC, seja maior. Com isso, os bancos engordariam seus lucros. Evidentemente, essa leitura não encontra nenhum suporte na evidência empírica. As expectativas Focus da inflação um ano à frente têm subestimado fortemente a inflação do ano seguinte. Nos últimos seis anos, a inflação esperada pelo Focus em dezembro foi em média 1,35 ponto percentual menor do que a inflação efetiva no ano seguinte. No momento, nós sentimos diretamente os custos sociais elevados de as expectativas estarem desancoradas: apesar de a taxa de desemprego ser a maior da história, a inflação tem caído lentamente. O retorno a uma política monetária "by the book" sinaliza que no futuro próximo esses custos serão menores.

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Para cortar gastos, distribuidor vai partilhar equipe no ponto de venda FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, MARIA CRISTINA FRIAS 24/07/2016 as 03h00

Para manter clientes, as empresas de atacado e distribuição vão reforçar medidas de corte de gastos, como compartilhamento de equipes e revisão de rotas de vendedores. O faturamento do setor caiu 0,7% de janeiro a maio deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado, já considerada a inflação, segundo a Abad (associação do setor). Para 2016, a alta deverá ser de 1%. "Os empresários tiveram de fazer várias adaptações para enfrentar a crise", diz José do Egito Frota, presidente da Abad (entidade do setor) e da cearense Jotujé. Em dois meses, a empresa começará a compartilhar a equipe dos pontos de vendas com outras distribuidoras. Assim, o funcionário que organiza as mercadorias nas gôndolas, por exemplo, fará isso para distribuidores diferentes, desde que os produtos não sejam concorrentes. A economia estimada é de 30% do que se gasta com expositores. Há cerca de dois anos, a paranaense Destro Macro Atacado testou o modelo de compartilhamento em Curitiba. "As fabricantes na época resistiram a dividir a atenção do funcionário no ponto de vendas. Agora, como a crise impôs o corte de custos, pode dar certo", avalia Emerson Destro, sócio da empresa. Desde 2015, a gaúcha Oniz organiza as rotas dos vendedores a partir do endereço de cada um. "Ganhamos agilidade ao evitar deslocamentos. O faturamento teve alta real de 6%", diz José Luis Turmina, sócio da distribuidora. COMPRA DO MÊS A Roldão Atacadista, rede paulista de atacarejo, deve inaugurar cinco unidades neste semestre. No ano passado, foram abertas três lojas. "O investimento previsto para este ano é de R$ 70 milhões", diz Ricardo Roldão, presidente do grupo. Além das aberturas, a rede ganhou quatro lojas no primeiro semestre, após a aquisição da Mega Atacadista, e tem aproveitado a queda de preços de imóveis para expandir. "Mesmo com a melhora da economia, a ida ao atacarejo deve se manter. O cliente se acostumou a fazer compras do mês para economizar", diz Artur Raposo, diretor da marca.

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27 são as unidades da rede 4.000 é o número de funcionários

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CARTÃO DE FÉRIAS O gasto dos brasileiros no exterior com cartão de crédito caiu 37% de janeiro a maio deste ano na comparação com igual período de 2015, segundo dados do Banco Central. Nos cinco primeiros meses de 2016, as despesas desse tipo lá fora somaram US$ 2,38 bilhões (R$ 7,8 bilhões). A desvalorização do real frente ao dólar e o maior controle de despesas durante a crise são as principais explicações para essa retração, segundo Ricardo Vieira da Abecs (associação do setor). "As transações com cartões de crédito implicam em tarifas, como o IOF. O consumidor está mais atento e evita despesas desnecessárias." Em contrapartida, os estrangeiros gastaram 11,9% a mais no Brasil com cartões. "Agora, no segundo semestre, esses números serão impulsionados pela Olimpíada". GRAMA DO VIZINHO O mercado de tecidos da Colômbia deverá ter crescimento anual de 5,2% até 2020 -dez vezes mais que as expectativas para o Brasil, segundo estima a CNI (Confederação Nacional da Indústria). Os brasileiros hoje estão na 41ª posição entre os fornecedores de têxteis aos vizinhos, que importa esses produtos sobretudo da China. "O setor precisa aproveitar o bom momento da economia colombiana e a isenção tarifária entre os dois países para ganhar mercado", diz Carlos Abijaodi, diretor da CNI. De janeiro a maio, as vendas de produtos têxteis para a Colômbia somaram US$ 16,6 bilhões (R$ 54,5 bilhões) "Os latinos sempre aparecem entre os principais destinos das exportações nacionais, mas a verdade é que houve uma despreocupação de ganhar espaço nesses mercados enquanto a economia brasileira se saía bem." Nesta semana, empresários de 39 marcas do setor, reunidos pela entidade e a Apex-Brasil (agência de promoção de exportações), vão a Medellín para fechar negócios. Sem... A indústria de brinquedos faturou 2,5% a mais no primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2015, de acordo com a Abrinq, entidade do setor. ...brincadeira A projeção porém, é fechar 2016 com um crescimento acima da inflação. A indústria nacional prevê ampliar sua fatia de mercado, hoje em 55%, para 60%. 57


'Pokemon Go' bate recorde de downloads em uma semana

FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, 24/07/2016 as 02h00

O jogo "Pokemon Go" foi o aplicativo mais baixado em uma semana de estreia na história da App Store (loja virtual da Apple), disse a empresa americana ao site "TechCrunch", especializado em notícias de tecnologia. A Apple não revelou o total de downloads, mas o recorde chama a atenção porque o jogo estava restrito inicialmente apenas a Nova Zelândia, Estados Unidos e Austrália. O aplicativo já tinha, no dia 18, mais de 21 milhões de usuários ativos nos Estados Unidos, duas semanas após o seu lançamento. POKÉMON GO Veja as principais notícias sobre o app

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Veja fotos de famosos jogando 'Pokémon Go' Depoimento: 'Pokémon Go' não revive atmosfera de game original 'Pokémon Go' eleva valor de mercado da Nintendo em US$ 9 bi em 2 dias Assaltos, cadáver e apps falsos: o que deu errado com o 'Pokémon Go'

Desde então, ele se expandiu para o Canadá, boa parte da Europa e, na semana passado, para o mercado do Japão –local onde o desenho foi criado, nos anos 1990. O sucesso do game alavancou o preço das ações da Nintendo, uma das suas criadoras, com a Pokemon Company e a Niantic. Desde a sua estreia, no dia 6, os papéis da fabricante praticamente dobraram de valor.

Economia do Uruguai patina com recessão no Brasil Miguel Rojo/AFP

Crise no Brasil influencia vendas externas e grau de confiança no Uruguai

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FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, LUCIANA DYNIEWICZ DE BUENOS AIRES 24/07/2016 as 02h00

Apesar de estar numa situação mais amena que seus companheiros, o Uruguai entrou para o clube dos países da América do Sul que sofrerão neste ano a temida combinação de inflação e falta de crescimento. Estimativas indicam que a economia não avançará em 2016. O governo de Tabaré Vázquez prevê alta de 0,5% no PIB, mas economistas não acreditam na projeção. O Itaú, que estimava expansão de 0,6%, agora fala em zero. A inflação deverá fechar o ano próxima dos 11%, enquanto a meta do banco central era de 3% a 7%. Do lado do PIB, a situação brasileira é um dos fatores que prejudicaram o desempenho uruguaio. Importando anualmente entre 15% e 18% dos bens produzidos pelo Uruguai (sobretudo cereais, lácteos e automóveis), o Brasil é o segundo principal sócio comercial do país. No primeiro semestre deste ano, no entanto, as compras brasileiras do vizinho caíram 16%. O impacto também decorre da formação de expectativas. "Quando o Brasil está em crise, os investidores de fora já imaginam que o Uruguai será o próximo", afirma a professora de economia Gabriela Mordecki, da Universidad de la República. A desvalorização do peso, de 20% no ano passado, também influenciou. A economia do Uruguai é bastante dolorizada imóveis e carros são comercializados na moeda estrangeira. Com o peso valendo menos, ficaram mais caros. "Cerca de 70% das poupanças dos uruguaios são em dólares", diz Mordecki. Em relação ao investimento, tudo indica que um ciclo de injeção de recursos no setor produtivo acabou. A construção da fábrica de celulose Montes del Plata, joint venture entre a chilena Arauco e a sueco-finlandesa Stora Enso, demandou US$ 2,3 bilhões (R$ 7,5 bilhões) nos últimos anos e foi suficiente para movimentar a economia. "O aporte foi concluído, mas não gerou fontes autônomas de investimento", afirma o argentino Juan Barboza, economista do Itaú. Além da pressão da valorização do dólar sobre os preços, a inflação também avançou por causa de uma quebra na produção de alimentos, de um reajuste de cerca de 10% nos serviços públicos (como luz e água) e do aumento do deficit fiscal. O Itaú projeta que o deficit ficará em 4% neste ano, após 3,5% em 2015. Assim como o Brasil e a Argentina, o Uruguai expandiu seus gastos sociais na primeira década dos anos 2000 e acabou perdendo seu equilíbrio fiscal. O governo anunciou que o país passará por um ajuste em 2017, o que deverá levar a população a uma situação financeira difícil. Com políticas fiscais restritivas, o Uruguai também não crescerá em 2017, segundo o economista Santiago Rego, da consultoria uruguaia CPA Ferrere. "Não vejo uma recessão, como é o caso do Brasil e da Argentina, mas estamos transitando pela etapa de baixa do ciclo econômico", diz. 60


Para ele, entretanto, Brasil e Argentina começarão a se recuperar no próximo ano e deverão impulsionar o Uruguai em 2018.

Impacto dos drones nos negócios Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, Celso Ming 24 Julho 2016 as 17h00

Faltando muito pouco para os Jogos Olímpicos do Rio, a Anac ainda não publicou sua regulamentação. E, segundo pesquisadores e empresários do setor, a falta do texto afasta investidores, deixando o País para trás. Um estudo da consultoria PwC (veja o Confira) avalia que o setor de mídia e entretenimento no mundo poderia investir mais de US$ 8 bilhões por ano na utilização de drones somente substituindo alguns serviços. O setor de infraestrutura oferece ainda mais oportunidades. Filmagens em alta resolução e até mesmo em 3D podem facilitar a prevenção de falhas e reduzir imensamente os custos de manutenção em grandes obras. Desse modo, a consultoria prevê que US$ 45,2 bilhões poderiam ser investidos pelo setor nesse tipo de tecnologia. Foto: Estadão

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Acima, o potencial de ganhos do uso de drones em diferentes setores, segundo a PwC. Para essa estimativa, a consultoria usou como base de cálculo o valor dos serviços que poderão ser substituídos por essa tecnologia. Os números apontam para magnitudes superiores a US$ 127 bilhões. Leia aqui mais sobre o assunto.

G7 quer que conversas do "brexit" comecem o quanto antes

FONTE REUTERS 23/07/2016 as 14h35

Autoridades do grupo das sete maiores economias do mundo, o G7, querem ver o quanto antes o início das negociações sobre a saída britânica da União Europeia, disse o ministro francês das Finanças, Mishel Sapin. "Para que os mercados reajam bem, para que as coisas permaneçam sob controle, há uma necessidade de iniciar as negociações assim que possível", disse Sapin à Reuters quando questionado sobre as discussões relacionadas ao chamado "brexit", durante um encontro de representantes do G7 neste sábado. "Temos que ter certeza agora sobre prazos. Dizemos isso não para colocar pressão desnecessária sobre autoridades britânicas, mas porque acredito que é o que todo mundo, todos os observadores e os mercados necessitam", disse Sapin ao sair de reunião com ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais de países do G7. A discussão do G7 ocorreu paralelamente a uma reunião na China de representantes do grupo mais amplo do G20, o qual engloba muitas das maiores economias do mundo.

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BC japonês pode aliviar política monetária e cumprir meta de inflação Thomas Peter/Reuters

Presidente do banco central japonês, Haruhiko Kuroda, disse que pode aliviar política monetária

FONTE REUTERS 23/07/2016 as 13h30

O presidente do banco central japonês, Haruhiko Kuroda, disse neste sábado que vai aliviar mais a política monetária se for necessário para alcançar a meta de inflação de 2%, ao mesmo tempo em que reiterou seu comprometimento em continuar com o atual programa de estímulo até que os preços estejam ancorados. Falando a jornalistas durante o encontro de ministros das Finanças e presidentes de BCs do G20 na cidade de Chengdu, no sudoeste da China, Kuroda manteve uma visão positiva da economia japonesa e das perspectivas para os preços, apesar das crescentes expectativas do mercado de mais estímulos monetários pelo Banco do Japão. "Se a tendência (de recuperação) da economia continuar, levando à alta dos preços e salários em um ciclo virtuoso... os preços eventualmente subirão para a meta de 2%", disse Kuroda. "Sempre examinamos fatores de risco para a economia e para os preços e vamos tomar medidas adicionais de alívio se necessário para alcançarmos a meta de estabilidade de preços". 63


FMI pede a países ricos do G20 que aumentem o gasto público Jacky Naegelen/Reuters

Diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, em foto de julho de 2016

FONTE FRANCE PRESSE 23/07/2016 as 13h22

O FMI (Fundo Monetário Internacional) pediu neste sábado (23) aos países ricos do G20 que aumentem o gasto público para acelerar a economia global, que enfrenta riscos após a saída do Reino Unido da União Europeia e atentados em várias partes do mundo. "O crescimento mundial continua sendo frágil e os riscos de recaídas se tornaram mais proeminentes", advertiu o FMI antes do início, em Chengdu (sudoeste da China), de uma reunião de dois dias dos ministros das Finanças e diretores de bancos centrais de G20, uma instância que reúne as principais potências industrializadas e emergentes. "O crescimento pode ser, inclusive, menor, se persistirem as incertezas econômicas e provocadas pelo Brexit", especifica o relatório em referência ao Brexit.

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O FMI reduziu na semana passada suas previsões de crescimento do PIB mundial. Agora, estima expansão de 3,1% em 2016 e 3,4% em 2017, em ambos os casos um ponto percentual a menos que em suas projeções anteriores. A instituição pede em particular aos países com economias avançadas, como Estados Unidos, Alemanha, Canadá e Austrália, que direcionem mais fundos públicos para obras de infraestruturas, assunto que causa divisões no G20.

G20 se compromete a reforçar defesas contra consequências do 'Brexit' Votação do plebiscito do "Brexit" Odd Andersen/AFP

FONTE REUTERS 23/07/2016 as 13h13

As principais economias do mundo farão mais para impulsionar o crescimento global e compartilhar os benefícios disso de forma mais ampla, disseram neste sábado (23) os principais formuladores de política, num momento em que buscam lidar com as consequências da decisão britânica de deixar a União Europeia e conter a insatisfação com a globalização. Os ministros das Finanças e banqueiros centrais do G20 estão reunidos neste fim de semana na cidade de Chengdu, no sudoeste da China, para discutir como enfrentar os desafios globais exacerbados pela decisão do Reino Unido. O espectro do protecionismo, com destaque para a retórica do candidato presidencial republicano dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre acordos comerciais, também paira sobre a reunião. 65


"A recuperação continua, mas permanece mais fraca do que desejável. Enquanto isso, os benefícios do crescimento precisam ser compartilhados de forma mais ampla dentro dos países para promover a inclusão", afirmam os ministros do G20 em um esboço do comunicado obtido pela Reuters no sábado. O texto, que está sujeito a alterações antes que seja divulgado oficialmente ao final da reunião da tarde de domingo (24), afirma que o Brexit aumentou a incerteza na economia global, mas os membros do G20 estão "bem posicionados para lidar proativamente com as potenciais consequências econômicas e financeiras". O secretário do Tesouro dos EUA, Jack Lew, disse que era importante para os países do G20 impulsionar o crescimento usando todas os instrumentos de política econômica —tanto as políticas monetária e fiscal, assim como reformas estruturais— para aumentar a eficiência. "Este é um momento em que é importante para todos nós redobrarmos os nossos esforços para utilizar todos os instrumentos de política que nós temos", disse Lew disse a repórteres. O ministro das Finanças chinês, Lou Jiwei, pediu mais coordenação para promover o crescimento sustentável, uma vez que ferramentas fiscais e monetárias têm se tornado menos efetiva. "Os países do G20 devem aumentar a comunicação e coordenação de políticas, criar um consenso sobre a política e orientar as expectativas do mercado, tornando a política monetária mais transparente e aumentando a eficácia da política fiscal", disse Lou. SIDERÚRGICAS Os países do G20 também disseram que vão trabalhar para resolver o excesso de capacidade de produção no setor siderúrgico e em algumas outras indústrias, incluindo subsídios de governos que têm distorcido os mercados. No esboço de um comunicado obtido pela Reuters, os ministros das Finanças do G20 e presidentes de bancos centrais que se reúnem na cidade de Chengdu, sudoeste da China, afirmam que os problemas de excesso de capacidade, "exacerbados por uma fraca recuperação econômica global e fraca demanda, têm causado um impacto negativo no comércio e nos trabalhadores." O documento, que ainda está sujeito a mudanças até uma versão final, adotou a mesma linguagem acertada por ministros do G20 em 10 de julho. O excesso de capacidade na indústria siderúrgica tem sido uma questão importante para muitos países do G20 neste ano, em meio a uma desaceleração na demanda global que tem levado a excesso de estoques de aço, demissões e inativação de usinas. Autoridades dos EUA e de outros países têm acusado a China, que produz mais da metade do aço no mundo, de manter muitas usinas siderúrgicas com subsídios e outros tipos de apoio do governo, e de permitir que o excesso de produção seja despejado nos mercados mundiais.

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China diz que crise de 2008 persiste País alerta para o fato de que os remédios usados até agora, como corte de juro e aumento de gastos públicos, estão perdendo eficiência

Fonte Fernando Nakagawa Enviado Especial a Chengdu, Jornal O Estado de S. Paulo 24 Julho 2016 as 05h00

Foto: Reuters

Lou Jiwei, ministro chinês das finanças.

A China fez um forte alerta sobre a situação econômica global no primeiro dia da reunião das 20 maiores potências do mundo, o G-20. O país anfitrião defende que a crise de 2008 continua gerando problemas e os remédios usados até agora por autoridades, como corte de juro e aumento de gastos públicos, têm perdido a eficiência. O Brasil tentou reforçar a imagem de que está ajustando as contas públicas e que, em seguida, deve passar à agenda de outras reformas, como a da Previdência. Após gerar uma onda de medo sobre o futuro econômico no início do ano, a China saiu da lista das grandes preocupações dos investidores nas últimas semanas. O ritmo de crescimento se estabilizou e os ativos financeiros chineses pararam de oscilar bruscamente, o que gerava medo de estouro de bolhas. Apesar dessa melhora, o governo da segunda maior economia do mundo continua preocupado. O ministro de Finanças da China, Lou Jiwei, reconheceu ontem que a crise financeira ainda gera desdobramentos e a economia global segue em “conjuntura crítica” e citou como exemplos a estagnação do comércio internacional, aumento da volatilidade financeira e queda do preço das commodities. Em seminário no 1.º dia do encontro financeiro do G-20, o ministro reconheceu o esforço de governos para tentar amenizar os problemas, mas diz que isso não é 67


suficiente. “Os efeitos da política fiscal e monetária estão diminuindo e os aspectos negativos (da crise) estão ficando mais aparentes.” Jiwei defende que o receituário tradicional, como levar o juro para baixo ou elevar o gasto público, não surte mais o mesmo efeito do passado. Isso aconteceria porque há muitos desequilíbrios estruturais, como na produtividade, desigualdade social e inovação. Diante de velhas ferramentas que parecem empenadas, o chinês reafirmou a necessidade de reformas estruturais. Entre os novos problemas, a saída do Reino Unido da União Europeia é um tema frequente no grupo. O secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Luis Balduino, comentou que os debates reconhecem eventuais riscos, mas prevalece mensagem com tom positivo. “A expectativa é que os parceiros (Reino Unido e UE) terão uma negociação positiva e que isso conseguirá conter o impacto mundial do Brexit”, disse o secretário brasileiro. Brasil. No primeiro encontro do G-20 após a chegada do governo interino de Michel Temer, o secretário disse que o recado do Brasil é de que está sendo feito um ajuste e destacou a pauta de reformas defendida pela nova equipe econômica. “A mensagem é que estamos fazendo uma mudança estrutural para controlar o gasto público e que, na esteira disso, virão outras reformas, como a da Previdência e para o aumento da produtividade”, disse Além do ajuste fiscal, Balduino também reafirmou o plano para melhorar a infraestrutura com a concessão de projetos à iniciativa privada. “São medidas importantes para criar confiança e restabelecer as condições para o crescimento”, diz. A reação das demais grandes economias globais tem sido, segundo o secretário, positiva. “Chama atenção que as conversas que tenho tido revelam a percepção de que a situação brasileira está mudando. Ouvi isso em comentários de vários colegas. Muitos citam a mudança de rumo positivo da economia. Essa é uma percepção que parece ser compartilhada por muitos”, disse. Questionado sobre eventuais opiniões contrárias, Balduino disse que “ninguém veio fazer críticas”.

Venezuelanos apelam a grupos humanitários Organizações de ajuda denunciam incapacidade de governo chavista de lidar com crise que esvazia prateleiras de supermercados e farmácias Fonte Jéssica Otoboni, Jornal O Estado de S. Paulo 24 Julho 2016 as 05h00

Organizações humanitárias esforçam-se para ajudar os venezuelanos, que vêm sofrendo com a maior crise econômica das últimas décadas no país, intensificada por um impasse político. Na semana passada, a ONU cogitou de enviar uma missão humanitária ao país algo inédito em uma nação que não está em guerra. De um lado está o governo chavista de Nicolás Maduro, que tenta dissolver a Assembleia Nacional, e de outro estão os opositores da Mesa da Unidade Democrática (MUD), que são a maioria no Parlamento e procuram recolher o número de assinaturas necessárias para revogar, por meio de um referendo, o mandato do presidente.

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Foto: REUTERS/Jorge Silva

Em meio à escassez generalizada, venezuelanos encontram pouquíssimos itens nos supermercados

Diante da acentuada escassez de alimentos e medicamentos, os venezuelanos enfrentam diariamente as consequências da deterioração da capacidade do poder público de fornecer as condições básicas de vida para os cidadãos, diz o ativista Feliciano Reyna, fundador das organizações humanitárias Acción Solidaria e Codevida (Coalizão das Organizações pelo Direito à Saúde e à Vida). Dependente de produtos importados, a Venezuela registra ampla escassez. Faltam alimentos nos mercados e medicamentos em farmácias e hospitais. Segundo a Federação Farmacêutica venezuelana, os produtos mais escassos são aqueles utilizados para tratamento de câncer, diabetes, epilepsia, doenças cardiovasculares e respiratórias, além de analgésicos e antibióticos. Dentre os alimentos, os mais difíceis de se encontrar são as farinhas de milho e trigo, arroz, café, açúcar e leite. A precariedade dos atendimentos médicos e a falta de equipamentos e materiais vêm aumentando desde 2014. O país contabilizou 3.719 denúncias de deficiências no sistema de saúde somente em 2015, o que representa um aumento de 40% com relação a 2014, segundo relatórios do Programa Venezuelano de Educação - Ação em Direitos Humanos. Também em 2015, o gasto com o sistema público de saúde – que atende a mais de 80% da população – aumentou somente 13%, sendo que 74% dele foi financiado com créditos adicionais, dependentes dos recursos externos. O relatório aponta que, até março, a dívida com fornecedores de suprimentos do exterior chegava a US$ 6 bilhões. Nesse cenário, Reyna afirma que é muito comum ouvir testemunhos de pessoas que tiveram de interromper algum tipo de tratamento em razão da falta de remédios. “O que temos feito com a Acción Solidaria é doar medicamentos para pessoas que não podem encontrá-los no sistema público de saúde ou em farmácias”, afirma. 69


A escassez é refletida na dificuldade de combater doença como dengue, chikungunya e zika, o que torna a Venezuela um dos países mais vulneráveis da América do Sul. Segundo Boletins Epidemiológicos Semanais do Ministério da Saúde, o país registrou mais de 80 mil casos de dengue entre 2014 e 2015. Em janeiro deste ano havia 4,7 mil casos suspeitos de pessoas com o vírus zika e 90 casos de síndrome de Guillain-Barré (que atinge o sistema nervoso). O desabastecimento compromete a acessibilidade aos serviços básicos de atendimento. “A situação dos hospitais públicos é desoladora. As pessoas organizam as próprias redes para suprir a falta de medicamentos, que chegam a conta-gotas e de maneira muito irregular aos locais de distribuição”, diz Eleonora Cróquer, uma professora universitária de classe média, separada e com uma filha de 10 anos. “Os produtos nos mercados de luxo têm preços impossíveis para qualquer pessoa que não tenha muito dinheiro. Eu, como professora, não tenho como pagar”. Desespero. Apesar do trabalho de algumas instituições, Eleonora afirma que a ajuda humanitária não chega a muitas pessoas. A professora de Ciências Políticas e coordenadora de Especialização em Opinião Pública e Comunicação Política da Universidade Simón Bolívar, Yetzy Villarroel, explica que os grupos têm pouca capacidade de organização. “As famílias recorrem a vizinhos e grupos organizados nas redes sociais” para contornar o problema. Para ela, a situação é “dolorosa” e “alarmante”, agravada pelo fato de que Maduro nega a existência de uma crise. “O problema para aceitar ou não ajuda humanitária está em como se entende a crise, tanto por parte do governo quanto da oposição”, destaca Yetzy. “As organizações internacionais não podem intervir se o Estado não pedir”, afirma a professora, ressaltando que os partidos políticos “têm demonstrado sua incompetência para enfrentar a situação”. Para Erika Guevara-Rosas, diretora da Anistia Internacional para Américas, o problema vai além. “Temos visto muitas violações dos direitos humanos por parte do Estado, como limitação da liberdade de expressão e do exercício dos direitos civis e políticos.” A situação se torna ainda mais complexa, pois o país é um dos mais violentos do mundo. O Observatório Venezuelano de Violência aponta que no fim de 2015 foram registradas mais de 27 mil mortes violentas, em uma taxa de 90 mortos para cada 100 mil habitantes. “De um lado, há pessoas desesperadas para conseguir alimentos básicos e remédios, e, de outro, há violações dos direitos cometidas pelas forças de segurança.” A combinação de todos esses fatores cria uma situação preocupante, destaca Erika. Nos supermercados, pessoas gastam horas, ou dias, em longas filas para comprar mantimentos. A diretora afirma que a Anistia quer oferecer recomendações e soluções, além de manter aberto o diálogo com Maduro para ajudar o povo venezuelano, pois a dinâmica conflituosa entre um governo que controla a Justiça e uma Assembleia Nacional controlada pela oposição “não está necessariamente ajudando a lidar com a crise que a população enfrenta”.

‘A percepção é que o Brasil está na direção certa’, diz Ilan no G-20 Diretor do banco central brasileiro reafirma que ajuste fiscal começou a ser feito e vê "melhoras" nos dados Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, Fernando Nakagawa, Enviado especial, CHENGDU, CHINA 24 Julho 2016 as 16h06

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Notícia relacionada: G20 reconhece que recuperação da economia global ainda é lenta

Após dois dias de debate sobre os grandes temas econômicos com as 20 maiores potências do mundo, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, deixou sua primeira reunião do G-20 com um discurso otimista. O novo titular do BC reconhece o peso dos problemas domésticos, mas ressalta que o ajuste começou a ser feito e isso foi bem recebido na China. Comentou ainda que o quadro externo piorou com o Brexit, mas não parece “totalmente ruim” para os emergentes. Ilan evitou responder se o pior já passou para o Brasil, mas citou que os dados à frente “são melhores”. “Eu diria que há uma percepção de que o Brasil está na direção certa e o clima está começando a mudar. Quando nós apresentamos indicadores, a reação que a gente obtém é positiva”, disse Ilan ao final do encontro que terminou ontem no interior da China. “O Brasil apresentou as iniciativas em curso para ajustar a economia e ressaltou os sinais positivos tantos dos indicadores econômicos, quanto da percepção de melhora à frente. A apresentação foi bem recebida”. Aos demais países do G-20, a delegação brasileira repetiu o discurso de que o ajuste fiscal começou a ser feito e, com a melhora das contas públicas e o avanço do calendário político – cujo principal evento é a votação do impeachment, as demais reformas como da Previdência ganharão velocidade. Portanto, o Brasil tentou mostrar que os problemas começaram a ser encaminhados. Questionado por um jornalista se o Brasil já passou pelo pior, Ilan disse que “a única razão” para não fazer tal afirmação é período de silêncio do Comitê de Política Monetária (Copom). “Não queria falar isso porque isso vira a manchete. A única razão para eu não fazer essa afirmação é porque, como eu estou em período de silencio, não quero antecipar nada”, respondeu o presidente do BC. “O ponto é que há uma sensação de que estamos indo no caminho certo e de que os indicadores para frente são melhores”. Além de voltar para Brasília com a boa recepção às iniciativas do governo, Ilan também avalia de forma relativamente positiva o quadro externo. O presidente do BC reconhece que o ambiente piorou após o plebiscito que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia, já que as previsões para o crescimento global já são afetadas negativamente. Apesar desse impacto, Ilan diz que “o cenário global no curto prazo para os emergentes não é totalmente ruim”. O argumento é que a desaceleração gerada pelo Brexit “não será muito forte, talvez apenas marginal”. Além disso, várias autoridades monetárias já sinalizaram que podem tomar novas medidas para apoiar a economia, o que deve aumentar a oferta de dinheiro barato. “Esse é um cenário que torna a liquidez maior no mundo”, resumiu o presidente do BC. Para países como o Brasil, o aumento da liquidez resulta em aumento de dinheiro estrangeiro atrás de juros e outros investimentos. “Isso já tem acontecido, mas não necessariamente vai se perpetuar. Se a economia global estiver crescendo forte, eventualmente esse período de liquidez excessiva termina”. Tríade. O presidente do BC destacou também o consenso entre as 20 maiores economias do mundo de que a estratégia para o crescimento econômico passa “pela tríade necessariamente formada pela política monetária, política fiscal e reformas estruturais”. Usando discurso parecido com o feito pelo presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, Ilan defende que a política monetária “não pode fazer todo o trabalho”. Ao ser questionado sobre se a tríade também se aplicava ao Brasil, respondeu que não poderia falar por estar em período de silêncio gerado pela divulgação da ata do Copom na terça-feira.

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Sobre as afirmações do ministro chinês de Finanças, Lou Jiwei, de que diminuiu a eficácia dos remédios tradicionais usados contra a crise como corte de juro, Ilan explicou que há receio sobre a potência da política monetária porque muitos países desenvolvidos têm juros em um piso histórico, muito perto de zero ou até negativo. “Mas o Brexit mostrou que ainda há espaço porque os bancos centrais atuaram e houve efeito”, disse.

G-20 reconhece que recuperação da economia global ainda é lenta Em comunicado oficial, grupo dos 20 maiores países diz que cenário é desafiador e negativo, reforçado pelo Brexit Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, Fernando Nakagawa, Enviado especial, CHENGDU, CHINA 24 Julho 2016 | 16h30

As 20 maiores economias do mundo concordam que a recuperação da economia global continua, mas em ritmo abaixo do desejado. O grupo reconhece que o cenário continua desafiador e os riscos pesam para o lado negativo e ainda foram reforçados com o processo de saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit. O encontro na China, aliás, teve uma pequena amostra do impasse nesse tema: enquanto autoridades da UE pediam celeridade a Londres, o ministro de Finanças britânico, Philip Hammond, deixou claro que o processo só será iniciado quando o novo governo de Theresa May estiver pronto para as negociações. Foto: Reuters

O comunicado final da reunião financeira do G-20 reafirma que o cenário global continua com problemas e cita como exemplos a flutuação do preço das commodities e a baixa inflação em vários países. “A volatilidade do mercado financeiro continua elevada e os conflitos geopolíticos, terrorismo e o fluxo de refugiados continuam a complicar o ambiente global”, cita o documento. Essa lista de problemas cresceu nas últimas semanas com a decisão dos britânicos de deixar a UE. “O referendo no Reino Unido adiciona incerteza à economia global. Membros do G-20 72


estão bem posicionados para encaminhar proativamente as potenciais consequências econômicas e financeiras. No futuro, esperamos ver o Reino Unido como parceiro próximo da UE”, cita o documento. Apesar dos alertas, o G-20 entende que a economia global passou pelo primeiro teste. “Entre os membros, há a sensação de que os esforços adotados desde a crise criaram resiliência. Uma vez ocorrido o Brexit, a volatilidade foi menor do que o esperado”, disse o presidente do BC brasileiro, Ilan Goldfajn. O comunicado cita ainda que os países reafirmaram o compromisso de usar “todas as ferramentas” – monetárias, fiscais ou estruturais, seja individual ou coletivamente – para atingir o objetivo de um crescimento econômico mais sustentável, equilibrado e inclusivo. O G20 também prometeu que não haverá medidas de protecionismo. “Nós reafirmamos nosso compromisso prévio com as taxas de câmbio, incluindo o que vamos nos abster das desvalorizações competitivas, e não teremos meta para nossas taxas de câmbio para propósitos de competição. Resistiremos a todas as formas de protecionismo”. COM DOW JONES NEWSWIRES

State Grid investe bilhões no Brasil sem perder o jeito chinês de negociar Energia. Com R$ 15 bilhões para gastar em novos projetos de energia – e sem limites para investir em aquisições –, executivos chineses enfrentam carga de trabalho insana para garimpar oportunidades, mas comemoram ao estilo chinês em plena Ipanema Fonte Renée Pereira e Mônica Scaramuzzo, Jornal O Estado de S.Paulo 25 Julho 2016 as 05h00

Cai, Marino e Qu passariam despercebidos na zona sul do Rio de Janeiro em meio aos milhares de turistas gringos que visitam a cidade maravilhosa. Mas eles não estão ali a passeio. Pelo contrário. Foram destacados pela gigante chinesa State Grid para garimpar oportunidades de negócios Brasil afora. Trabalham dia e noite para gastar cerca de R$ 15 bilhões em projetos de expansão de energia no País e têm um orçamento sem limites para aquisições de empresas. Num País com infraestrutura precária e grave crise fiscal, o trio não tem tido dificuldade para cumprir a missão traçada em Pequim. Desde que eles desembarcaram no Brasil, em 2010, compraram o controle ou participação de 14 empresas e arremataram 9 projetos de transmissão de energia elétrica. A última empreitada foi no mês passado, quando anunciaram a aquisição de 23,6% da CPFL Energia, que pertencia à Camargo Corrêa, por R$ 5,85 bilhões – um negócio que pode chegar a R$ 26 bilhões, se for considerada a compra da participação dos demais acionistas. Com os ativos brasileiros baratos, seja por causa do dólar ou pela crise econômica, os três chineses não têm muito tempo livre. Cai Hongxian (pronuncia-se Tchai), presidente da companhia no Brasil, conta com a ajuda de Marino (quer dizer, Chang Zhongjiao), que preferiu adotar o nome ocidental e responde pela vice-presidência de gerenciamento de projetos do grupo; e de Qu Yang, também vice-presidente. Cabe ao trio chinês caçar as oportunidades no País e apresentá-las à cúpula do grupo, em Pequim. A filial brasileira da bilionária estatal chinesa, no centro do Rio, dá uma ideia da ambição deles. No edifício de 16 andares, comprado por R$ 200 milhões, o grupo ocupa cinco pavimentos. O resto é reservado aos novos negócios da empresa, além de abrigar companhias de terceiros. Ali, por trás das paredes envidraçadas do SGCC Rio Tower, os chineses tentam se familiarizar com a cultura nacional em meio a uma carga horária insana de trabalho – Cai, por exemplo, trabalha de 7h às 22h. 73


Algumas vezes, quando estão em ritmo forte de viagens, costumam dormir ali mesmo. No escritório, há espaço para os executivos descansarem e tomarem banho. Os três chineses à frente da State Grid no Brasil até arranham o português, mas preferem mesmo é se comunicar na língua-mãe: o mandarim. Cai tem ajuda de Vitor – ou melhor, Zhao Jiangshan –, seu braço direito, com a tradução. Os principais executivos moram perto um do outro, em Ipanema bairro nobre do Rio. “No tempo livre, Cai gosta de comer bem e beber vinho”, diz uma fonte próxima a ele. Um dos restaurantes frequentados pelo chinês é o Salitre, também em Ipanema, onde ele já é um velho conhecido, tem lugar reservado e volta a pé para casa. ‘Bebemorar’. Quando fecham um grande negócio, costumam comemorar. As festas são regadas a bebida: vinho, maotai (destilado chinês) e até cachaça. Tudo seguindo rituais da cultura chinesa, como brindar várias vezes. Ao convidado, cabe beber – e muito. “Isso é um sinal de confiança”, diz um executivo que já participou de um dos jantares. “Os executivos são uns nas reuniões, onde são inflexíveis, e outros fora do escritório”. Segunda maior empresa do planeta, com faturamento de US$ 330 bilhões, atrás do Walmart, a State Grid domina mais de 80% do mercado chinês de energia. Aqui, ainda está engatinhando, apesar das várias transações concluídas desde 2010. Mas, no ritmo atual, alcançará o topo das maiores elétricas do País. Na carteira de aquisições em análise estão ativos da espanhola Abengoa no Brasil negócio que pode ser anunciado nos próximos dias e fatia na geradora de energia eólica Renova. Em setembro, deverá participar do leilão de 6,6 mil quilômetros de linhas de transmissão no País, equivalentes a R$ 11 bilhões de investimentos. Hoje, tem 5.785 km de linhas no País. Com os negócios mapeados pelo trio no País, entra em ação uma equipe de mais de duas dezenas de profissionais na China para analisar os ativos. O martelo sempre é batido pelos controladores da China. Nas reuniões, os chineses chegam muito bem preparados e, apesar da enxurrada de dinheiro disponível para investir, seguem uma racionalidade econômica rígida. Ou seja, não esbanjam em nada. Mas a estreia no Brasil teve uma excepcionalidade. Em 2010, quando compraram o controle de sete empresas de transmissão por R$ 3,1 bilhões, decidiram quitar a dívida que as empresas tinham com o BNDES para acelerar o negócio. “Foi uma aquisição agressiva e que surpreendeu todo mundo”, diz uma fonte que participou da negociação. O início da operação no Brasil não foi fácil. Acostumado à cultura estatal, o grupo não entendia os meandros regulatórios, ambientais e trabalhistas do País. A State Grid chegou a perder funcionários, mas hoje já está mais alinhada às regras locais. Alheios à crise, selecionam tudo sem pressa. Afinal, a oferta é maior que a demanda. E paciência – e dinheiro – eles têm de sobra. Sócios. Os dois acionistas do bloco de controle da CPFL – o fundo de pensão Previ (do Banco do Brasil), com 29,4%, e a Bonaire Participações, que reúne outros fundos de pensão, como Petros, Fundação Cesp, Sistel e Sabesprev, e detém 15,1% – estariam dispostos a se desfazer de suas fatias, segundo fontes próximas ao assunto. Os acionistas alegam, no entanto, que essa decisão não foi tomada. A State Grid está disposta a pagar R$ 25 por ação (prêmio de quase 22% do preço do papel à véspera do anúncio). Se todos os sócios aderirem, o desembolso pode chegar a R$ 20 bilhões.

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Brasil foi país que mais aplicou barreiras a importados, diz OMC Nos últimos três anos, País somou 15% de todas medidas restritivas estabelecidas pelas diferentes economias; tendência, porém, foi de queda em 2015 Fonte Jamil Chade, correspondente, Jornal O Estado de S. Paulo 25 Julho 2016 as 11h08

GENEBRA - Nos últimos três anos, o Brasil foi o país que mais adotou barreiras antidumping contra produtos importados, somando 15% de todas medidas restritivas estabelecidas pelas diferentes economias. Quem traz a constatação é o próprio diretor-geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevedo e que, em seu informe publicado nesta segunda-feira, apela para que governos abandonem as tentações protecionistas e "resistam" a planos de impor novas medidas. Foto: Sérgio Castro/Estadão

Em 2013, foram 54 investigações, contra 35 em 2014 e 23 em 2015

Entre 2013 e 2015, 112 medidas antidumping foram iniciadas pelo Brasil. "Isso representa 15% de todas as investigações", apontou a OMC. A entidade, porém, admite que a tendência no País tem sido de queda. Em 2013, foram 54 investigações, contra 35 em 2014 e 23 em 2015. Ainda assim, o Brasil ficou na terceira posição no ano passado. O governo brasileiro, por exemplo, iniciou metade de todos os casos de antidumping no setor de plásticos e borracha no mundo, com 57. Foram ainda 22 no setor de produtos químicos. No período avaliado pela OMC, o segundo governo que mais medidas aplicou foi o dos EUA, com um total de cem investigações abertas. A terceira colocação ficou com a índia, com 97

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casos, seguida da Austrália, com 52 investigações. Nos últimos anos, um salto importante foi registrado ainda no Paquistão ou Tailândia. Nesta segunda-feira, em um discurso perante os membros da OMC, Azevedo insistiu em pedir para que os governos "resistam às pressões protecionistas". "O informe mostra sinais preocupações na taxa de novas medidas restritivas ao comércio", disse. Segundo ele, a média de novas medidas a cada mês é a maior desde 2011. "Esperamos que isso não seja um indicador do que está por vir e claramente precisamos agir", afirmou. No total, 154 medidas restritivas foram impostas no comércio mundial entre outubro de 2015 e maio deste ano. Isso significou 22 novas barreiras por mês, bem acima das 15 mensais registradas em 2015. "No atual ambiente, o aumento de restrições comerciais é a última coisa que a economia global necessita", disse. Sua preocupação é que tal tendência possa ter um impacto negativo nos fluxos de comércio, com efeitos no crescimento da economia e na criação de postos de trabalho. "Estamos vivendo um período de volatilidade econômica e baixa taxa de crescimento", disse. "O crescimento do comércio deve ficar abaixo de 3% em 2016, fazendo do ano o quinto consecutivo com uma expansão abaixo de 3%", alertou o brasileiro. "Salvo a recuperação imediatamente depois da crise financeira, esse é o nível mais fraco de crescimento de comércio em 30 anos. Essa situação exige nossa atenção e ação", insistiu. Outra preocupação de Azevedo é quanto à retirada de medidas que eram consideradas como temporárias. Das mais de 2,8 mil restrições criadas pelos governos de 2008, apenas 25% delas foram suspensas. "Temos a preocupação relativa ao aumento dos estoques de medidas depois de 2008", disse o brasileiro. "O informe sugere que essa tendência pode estar continuando", alertou. Segundo o levantamento, o estoque subiu em 11% no mesmo período. "Portanto, o número de medidas adotadas hoje é de pouco mais de 2,1 mil", constatou. No período avaliado entre o final de 2015 e maio de 2016, a OMC contou 132 barreiras retiradas por diferentes governos, em uma média de 19 por mês. Trump. Para Azevedo, a melhor garantia contra o protecionismo é o fortalecimento do sistema multilateral do comércio. O recado foi dado um dia depois que Donald Trump, candidato à presidência dos EUA, indicou que, se eleito, poderia retirar o governo americano da OMC. O brasileiro não comentou as declarações do americano. "Todos sabemos que fazer campanha e governar não são as mesmas coisas", disse o diretor de Comunicações da OMC, Keith Rockwell.

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Yahoo! é vendido para operadora americana Verizon por US$ 4,8 bilhões Julie Jacobson - 21.abr.15/Associated Press

Presidente-executiva do Yahoo!, Marissa Mayer: empresa foi vendida para a Verizon Fonte Jornal Folha de S. Paulo, 25/07/2016 às 12h02

A operadora de telecomunicações americana Verizon confirmou nesta segunda-feira (25) o acordo para comprar os negócios de internet do Yahoo! por US$ 4,83 bilhões em dinheiro. Assim, o histórico site se une a outra potência das origens da web, a AOL, que também pertence à operadora ambos acabaram sucumbindo à competição com o Google e seu sistema de buscas mais inteligente e ao Facebook, que domina a era das redes sociais. A expectativa é, agora, formar uma companhia que seria a terceira maior em termos de faturamento com publicidade. "Um ano atrás nós compramos a AOL para impulsionar nossa estratégia de oferecer uma conexão que 'ultrapasse a tela' para nossos consumidores, criadores e anunciantes. A compra do Yahoo! vai colocar a Verizon em uma posição altamente competitiva como uma companhia global de mídia para celular, e ajudará a acelerar nossas receitas com publicidade digital", afirmou em nota o presidente da Verizon, Lowell McAdam.

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Marissa Mayer, contratada há quatro anos pelo Yahoo! com a missão, um tanto mal-sucedida, de revigorar o site, tenta passar a mensagem de que o negócio marca uma nova fase para a empresa, que existe há 22 anos (e não o seu fim). "É uma ótima oportunidade para que o Yahoo! melhore sua distribuição e acelere o trabalho nas áreas de aplicativos móveis, vídeo, publicidade nativa e redes sociais", disse ela em mensagem aos funcionários. Em conversa com investidores, ela afirmou que o Yahoo! tem bons aplicativos em áreas como finanças e esportes e que pertencer a uma operadora de celular ajudaria a companhia a fazer com que mais pessoas os utilizassem. Mayer diz que quer continuar na companhia e que vai liderar a transição até que o negócio seja concluído, algo previsto para o primeiro trimestre de 2017. A dúvida é se a Verizon vai querer mantê-la no posto. Em sua tentativa de fazer a companhia dar a volta por cima, Mayer comprou mais de 50 empresas (a mais notória, o Tumblr, por US$ 1,1 bilhão) e reformulou aplicativos, mas não conseguiu fazer com que o Yahoo! fosse visto como visionário novamente –um dos objetivos principais da ex-funcionária do Google. Seu estilo de liderança, entretanto, é questionado. No começo deste ano, o jornal "The New York Times" publicou uma reportagem dizendo que os funcionários a comparavam a Evita Perón, por seu "ego superdimensionado e ascensão ao poder e riqueza". A executiva Marni Walden, da Verizon e futura responsável pela companhia combinada, afirmou à rede de TV CNBC que uma nova equipe de liderança será indicada. Financeiramente, entretanto, a venda não é ruim para a Mayer. Ela deve receber US$ 57 milhões caso seja tirada do cargo. A VENDA O que a Verizon comprou foram os negócios de internet do Yahoo! (na prática, o que está à vista do público: sites, aplicativos etc.). O processo de venda começou no fim do ano passado e tinha como objetivo separar esses negócios das participações que a companhia tem no gigante de comércio eletrônico Alibaba hoje, grande parte do valor das ações do Yahoo! está relacionada a essa participação em negócios asiáticos, e não na companhia em si. Assim, o Yahoo! deixa de ser uma companhia operacional, destinando-se apenas a administrar os 15% de participação que tem no Alibaba e os 35,5% que detém no Yahoo! Japan Corp. Vários grupos de investidores fizeram ofertas pela companhia de internet. E, segundo executivos disseram em conversa com analistas, o lance dado pela Verizon não foi o maior. Entretanto, avaliou-se que a sinergia com a operadora e com a AOL traria mais ganhos no longo prazo. Nos últimos meses, a Verizon tem buscado ampliar sua oferta de conteúdo digital, principalmente no formato de vídeo e endereçado a celulares. Sob esse ponto de vista, o Yahoo! poderia ampliar a oferta de notícias da operadora.

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Atualmente, a Verizon tenta convencer os ĂłrgĂŁos reguladores americanos a permitir que use com maior liberdade os dados que recolhe de seus consumidores na internet para vender anĂşncios direcionados a eles.

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