Resenha 26 04 2016

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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS

26 DE ABRIL DE 2016

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Brasil paga agora por omissão do governo, diz editora da 'Economist' Erica Dezonne/Folhapress

Zanny Minton Beddoes, editora-chefe da revista britânica "The Economist"

FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, FERNANDA ODILLA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LONDRES 24/04/2016 às 02h 00

A editora-chefe da revista britânica "The Economist", Zanny Minton Beddoes, 48, é categórica em dizer que o melhor para o Brasil, no momento, é um governo com credibilidade, efetivo e funcional e que seja capaz de colocar de pé uma série de reformas que considera essenciais para tirar o país da recessão. Para ela, a presidente Dilma Rousseff perdeu as condições de governar e, por isso, deve deixar o cargo. Ela se diz cética em relação ao impeachment pelo fato de, como a revista registrou em editorial, parte do Congresso estar contaminado com denúncias e sob investigação. Para ela, Dilma e toda a classe política decepcionaram o Brasil, e o melhor a fazer é convocar eleições gerais. Beddoes, contudo, diz que cabe apenas ao Brasil escolher, entre as opções disponíveis, a melhor delas para colocar o país nos trilhos e recuperar indicadores econômicos.

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"O Brasil tem muitos pontos fortes, um enorme potencial. Quando um grande programa de reforma começar a ser feito, uma reforma genuína, você poderá ver um revés rápido." Ela admite que a explosão das commodities e do acesso ao crédito no Brasil foi equivocadamente confundido com uma melhora estrutural da economia, apesar de destacar que muitos avanços foram conquistados no país nos últimos anos. Há pouco mais de um ano no comando da revista, ela tem como meta aumentar o número de assinantes. Para isso, tem investido pesado em mídias sociais –inclusive com conteúdo específico– e campanhas ousadas como, por exemplo, oferecer sorvete com insetos nas ruas de Londres. Também lançou uma revista bimestral e mais convencional, a "1843", com mais fotos e reportagens mais leves, que já conta com meio milhão de assinantes. Tanto "The Economist" quanto Beddoes são liberais declaradas, ao estilo britânico –mais à direita no espectro político, a favor da livre competição e dos direitos individuais– e defensores do jornalismo opinativo e analítico. Ainda assim, ela afirma que não apenas acredita que o Estado tem um papel a cumprir como vê nos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, uma forma efetiva "de reduzir desigualdade de renda, de melhorar desenvolvimento e indicadores educacionais e sociais". Beddoes recebeu a Folha na sua sala em Londres, onde, além do mural com as principais capas da revista, tem também a primeira edição do parisiense "Charlie Hebdo" depois do atentado ao jornal e as fotos dos dois filhos num porta-retratos e, na parede, a de James Wilson, fundador da revista "The Economist". Na sede da revista, onde não há uma Redação, mas salas individuais para os jornalistas, ela falou também sobre a China, da possibilidade de a vitória de Mauricio Macri na Argentina ser um termômetro de mudanças mais à direita na América Latina e de como o populismo "está vivo e vai bem" no hemisfério Norte.

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Folha - Anos atrás, a "Economist" publicou uma capa com o Cristo Redentor ascendendo, indo para o alto e avante. Quatro anos depois, em 2013, o mesmo Cristo despencava em direção ao chão. Foram previsões equivocadas ou a "Economist" os economistas e o mercado superestimaram o Brasil? Zanny Minton Beddoes - O Brasil desperdiçou oportunidades. O boom das commodities e o rápido crescimento da China deram grandes oportunidades de exportação ao Brasil. A explosão das commodities com a explosão do crédito foram confundidas com uma transformação estrutural da economia brasileira. O que realmente estava acontecendo era um boom tradicional. Temo que o governo brasileiro foi condescendente em relação à necessidade de enfrentar dificuldades de um Estado ineficiente, que precisa de regulação e sofre com corrupção. Por um momento, o Brasil estava florescendo. As pessoas entenderam isso de forma equivocada. Encararam como uma melhora sólida na economia brasileira quando na verdade era um boom das commodities e do acesso ao crédito. Naquela época não havia nenhum sinal disso? Falar isso agora é fácil. Mas havia coisas que estavam mudando e melhorando. A melhora da renda, a redução da desigualdade, melhora na educação em especial para os mais pobres, o Bolsa Família... Houve melhoras muito reais no Brasil, mas acho que isso, associado ao bom das commodities e do acesso ao crédito, fez todo o mundo olhar o Brasil lá dentro e aqui fora com óculos com lentes rosa. Nós apenas reparamos no que havia de positivo. O governo brasileiro tem muita responsabilidade nisso. O governo sabia e sabe que havia um monte de reforma a ser feita. Mas é difícil fazer reformas quando a situação é boa. Agora o 4


Brasil está pagando o preço não apenas pelas reformas que não foram feitas mas por muitos erros na economia. O que pode ser feito agora para corrigir o cenário e quanto tempo vai levar para o Brasil estar apto a atrair investidores num nível desejável novamente? O Brasil precisa de um governo efetivo e funcional. Nós escrevemos num editorial algumas semanas atrás dizendo que a presidente precisava renunciar. O Brasil precisa encontrar um jeito de ter um governo eficiente. Do lado econômico, há uma longa lista de reformas a serem feitas. A situação fiscal é insustentável, mas ainda mais importante é atacar as causas da instabilidade fiscal e de uma economia ineficiente. Reforma dos gastos públicos que são definidos pela Constituição, reforma tributária, reforma da Previdência. Há muito o que fazer. É possível? É. Eu acho que dá para ser feito, não é impossível. O Brasil é um desses países em que agora temos o oposto da euforia de antes. Há um pessimismo profundo, nenhum grande investimento e o calor das commodities já passou. Mas o Brasil tem muitos pontos fortes. Tem um setor agrícola fantástico, um enorme potencial. Acho que, quando um grande programa de reforma começar a ser feito, uma reforma genuína, você poderá ver um revés rápido. A economia está numa recessão muito profunda, a pior em muito tempo. De fato é uma recessão, mas a inflação está crescendo... Então, é por isso que, quando houver um governo com credibilidade para fazer uma reforma e que vai agir de fato, as coisas vão melhorar rápido. Vai ser rápido porque tem muito potencial de investimento no Brasil. Muito da dor já passou. Como você disse, "The Economist" sugeriu que a presidente Dilma deveria renunciar. Mas, semanas depois, a revista apoiou declaradamente eleições gerais. Por que manter a presidente, que ainda não foi indiciada ou denunciada, não é uma possibilidade? Você leu o editorial. Nele, o argumento que fazemos é que, depois que ela decidiu indicar o seu antecessor [o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva] para ser chefe da Casa Civil, obviamente cruzou a linha em termos de legitimidade. Por sermos céticos em relação ao impeachment, achamos que é melhor para ela renunciar. Como disse, o Brasil precisa de um governo efetivo e funcional. Se você olha em retrospecto todo o drama, do que o Brasil precisa? Precisa de um governo que seja capaz de colocar de pé reformas necessárias para sair desse buraco econômico. Isso é o melhor para o Brasil. O problema é quem seria a melhor opção para fazer isso... Está certa. É muito difícil. Mas é verdade que agora temos uma situação em que não há nenhum foco nas coisas que realmente precisam ser feitas para recuperar a economia.

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O ex-ministro da Justiça e atual advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, disse que o impeachment seria o que pior poderia acontecer ao Brasil porque é um sinal de fragilidade, de insegurança jurídica, e isso afastaria investidores. Você concorda? O que os investidores querem é um governo que consiga governar e implementar reformas que o Brasil precisa. Eu não vou escolher entre as opções disponíveis qual deve ser a melhor para atingir isso. Isso é uma pergunta para o Brasil e os políticos brasileiros. O que está muito claro é que, para o país e a economia florescerem, é preciso de um governo que tenha capacidade de governar. Agora o Cristo pede socorro na capa da "Economist". Na sua opinião, convocar uma eleição geral é o melhor jeito de o Brasil ajudar a si mesmo? Acha que somente sob nova administração no Congresso e no Executivo será possível fazer as reformas que o país precisa pra sair da recessão? Nossa capa desta semana tem o Cristo Redentor com uma placa de SOS e título é "A grande traição". Não foi só a presidente Dilma Rousseff, toda a classe política decepcionou o Brasil. Por isso o melhor jeito de seguir em frente é uma fazer uma nova eleição. Como a gente escreveu no nosso editorial, "um novo presidente poderia ter um mandato para tocar reformas que deixaram de ser feitas pelos governos durante décadas. Os eleitores também merecem uma chance de se livrar de todo o Congresso infestado de corrupção. Somente novos líderes e novos legisladores podem realizar as reformas fundamentais de que o Brasil precisa, em especial uma reforma do sistema político propenso a corrupção e uma da despesa pública descontrolada, o que empurra para cima os gastos públicos e atrapalha o crescimento". Mudando de assunto: Você trabalhou para o governo da Polônia e para o FMI com países em desenvolvimento. Você acha que o chamado "capitalismo de Estado" já se provou pouco eficiente para garantir crescimento econômico sustentável? É uma pergunta interessante em relação aos países nos quais grandes setores da economia são subordinados ao Estado. Em geral, nos países em desenvolvimento, empresas estatais não se mostraram as mais eficientes nem a melhor forma de garantir crescimento sustentável. É um consenso que atingimos nas últimas décadas. Não é o caso de apenas vender as propriedades estatais, mas é como conseguir um regime regulatório correto, assegurar competição e garantir transparência. Depende do setor e do país, mas, de uma forma geral, eu acho que a lição dos últimos anos é que o Estado tende a não ser terrivelmente bom em administrar empreendimentos e empresas. Esse debate surgiu alguns anos atrás, quando a China aparentemente ia muito bem. Diziam que a China provou que o capitalismo de Estado é um caso de sucesso, as empresas estavam indo muito bem... mas, agora, não parece ser exatamente assim. Você ficará surpresa comigo dizendo que acreditamos que o Estado tenha um papel porque a "Economist" defende o mercado livre e a liberdade de expressão. Somos liberais e eu genuinamente acredito que a competição entre o mercado livre é melhor base para atingir uma sociedade próspera. 6


O Brasil investiu muito no comércio Sul-Sul, com a América do Sul, África e, claro, China. Por causa disso, o governo brasileiro culpa a atual situação da China por boa parte dos problemas econômicos que enfrenta hoje. Qual o papel da China hoje? Ela está de fato mais voltada para o consumo interno? A China é extremamente importante para a economia mundial. É a segunda maior economia, e o crescimento dela, particularmente desde os anos 2000, tem sido um dos maiores se não o maior em impacto na economia mundial. É verdade que a demanda chinesa foi responsável por uma grande parte da história das commodities. É verdade que o Brasil e outros países exportadores de commodities se beneficiaram significativamente durante o boom e têm sido afetados com os preços em queda. A China gerou um grande impacto em outras manufaturas, no fluxo do comércio, no mercado de trabalho. De forma geral, é uma história extraordinária do ponto de vista da taxa de crescimento, da redução da pobreza. Trazer a China para a economia global é uma mudança enorme. É parte da explicação para o surgimento do mundo emergente. Você mencionou o comércio Sul-Sul que, há dez anos, era apenas um pequeno nicho. Agora é uma parte muito importante da economia global, é impressionante. Como se transformou um ator importante, a China precisa assumir algumas responsabilidades. Está atualmente sentindo o peso do que isso significa. No ano passado, percebemos que ela tem muitos problemas domésticos. Por muitos anos, muitas pessoas viam os burocratas chineses como brilhantes e pessoas que faziam tudo certo. É difícil fazer o que eles estão tentando fazer e não está claro se estão fazendo bem. Há choques vindo da China, há um claro foco na economia doméstica. Mas acho não acredito no jogo de culpar o outro. É uma saída mais fácil para escapar... Não acho que é saudável tampouco adequado. Não foi correto, por exemplo, quando os executores de políticas públicas do Brasil falaram da guerra cambial. Não acho que esse seja um jeito útil de pensar política econômica internacional. É tentador, mas não leva a boas políticas. Há uma deterioração dos programas de transferência de renda e de políticas sociais de inclusão como garantidores de apoio político e de estabilidade na América Latina? Vemos Mauricio Macri presidente na Argentina, o Peru dividido entre a filha de Alberto Fujimori e um ex-ministro da Fazenda... vê uma onda mais à direita chegando? Acho que você está misturando duas coisas. Uma pergunta é se programas de transferência de renda são um jeito efetivo de reduzir desigualdade de renda, de melhorar desenvolvimento, renda e educadores sociais. Uma segunda pergunta seria qual a conclusão sobre a vitória de Macri, sobre o que está acontecendo na Venezuela e o que está acontecendo em outros lugares. Acho que são coisas diferentes na medida em que, por exemplo, na Argentina foi uma reação de anos de um governo irresponsável, anos de populismo clássico. Programas de transferência de renda feitos de uma forma responsável são uma parte importante de uma agenda antipobreza. E, se você olha para o número de países que agora têm esse tipo de programa, é enorme. Há dificuldades, há dúvidas sobre o custo, sobre

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eficiência, sobre os alvos certos, mas, de forma geral, é um ótimo programa de desenvolvimento. Separaria as duas coisas. Os governos populistas estão enfraquecidos... Mas, se você olhar nos Estados Unidos, na Europa, o populismo está crescendo. O caso da América Latina é interessante. Em que grau a Argentina é um termômetro para o que pode acontecer na região é uma pergunta interessante a ser feita. Se você é como eu ou como "Economist", que acredita em livre mercado, abertura e internacionalização, basicamente em liberalismo econômico, é uma mudança bem-vinda para o desenvolvimento na Argentina. Se você olhar no hemisfério Norte, o debate nos EUA com Donald Trump, o debate sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, eu diria que o populismo está vivo e vai bem. De fato parece que se está redescobrindo o populismo aqui. Num outro espectro, há o Podemos na Espanha... A pergunta a ser feita é: "Por que há, de repente, esse crescimento significativo desse movimento?". E, se você é como nós, também perguntaria o que pode ser feito para controlálo. Você tem uma resposta? Eu acho que o porquê é muito interessante, dado o fato de que há tipos similares de populismo dos dois lados do Atlântico. O populismo da direita, com isolamento, xenofobia e protecionismo, e o populismo da esquerda no qual as pessoas dizem odiar bancos e os ricos. Os dois estão presentes nos dois lados do Atlântico, o que nos faz pensar que é um fenômeno mais amplo do que uma especificidade de um certo país. Historiadores vão passar um bom tempo pensando sobre o que está acontecendo agora. Há duas coisas acontecendo. No momento logo após a crise econômica de 2008, quando se esperava por uma reação populista, não aconteceu porque todo o mundo estava assustado e prevendo que as coisas iam desmoronar. Agora, há uma sensação de que as coisas voltaram ao normal e não há mais aquele temor enorme. Interpretamos mal os problemas da crise em muitos países desenvolvidos. Muito rapidamente o foco da politica fiscal mirou a austeridade e a necessidade de reduzir deficit, cortar gastos, manter o deficit público sob controle. Porque a economia estava muito fraca, o apoio foi quase exclusivo feito por bancos centrais. O resultado foi uma demanda fraca e aumento do preço dos ativos. Isso reforçou a desigualdade de renda que já estava crescendo por causa da inovação tecnológica e do sentimento na população de que todo o ganho dessa recuperação foi para os mais ricos. Um problema foi o foco exagerado na política econômica, e não na política pública. A segunda coisa é que havia dois choques simultâneos: um era a crise econômica e o outro essa revolução tecnológica, com uma virada em direção à inteligência artificial, automação, computador móvel. Isso foi destrutivo para muitas empresas, que reduziram postos de trabalho e encolheram. 8


Nos últimos oito anos, houve um foco exagerado na austeridade e atenção insuficiente nas mudanças mais sociais, a serem feitas na educação... Subestimaram as consequências políticas e os desafios políticos. Imigração tem beneficiado os países e é importante. O Reino Unido se beneficiou enormemente com as pessoas que vêm da União Europeia. Os Estados Unidos se beneficiaram da imigração legal e ilegal. Mas há muita gente se sentido insegura e isso foi subestimado. As pessoas estão com raiva porque a vida delas não está melhorando tanto quanto a vida das elites, que na visão delas são os verdadeiros beneficiários dessas políticas econômicas. Você falou como a revolução tecnológica afetou muitas empresas e o jornalismo, como modelo de negócio, parece ser um desses segmentos que tem sofrido com as mudanças... Você tem razão, é uma das indústrias que mais sentiram. Nesta semana [passada] o "Daily Mail" está considerando comprar o Yahoo!, o "Independent" está fechando. O modelo tradicional de jornalismo que é oferecer conteúdo custeado por anúncio publicitário está sendo radicalmente derrotado. Como funciona no caso da revista? Qual o peso dos anúncios, assinaturas e dos outros negócios como a Unidade de Inteligência e os seminários que vocês organizam nos rendimentos da "Economist"? As assinaturas são, de longe, a nossa maior fonte de renda. Nós somos muito sortudos se comparado com os outros. Somos basicamente um modelo de assinatura. Para nós, aumentar as assinaturas é a chave. Anúncio publicitário é como a cobertura do bolo, é importante, é bom ter e certamente a transformação no mundo publicitário nos afetou. Mas somos sortudos por não ser uma ameaça a nossa existência como é para outras publicações. Na verdade, não são todas as áreas da publicidade que estão se transformando. Nós acabamos de lançar a 1843, uma revista bimestral cultural que vai para quase meio milhão de assinantes. Em parte, é porque eu acredito que queremos oferecer um retrato global de outras culturas. Há um gap enorme no mercado. Se você olha nela, há muito espaço para publicidade. De forma geral, estou muito satisfeita que somos um veículo que se fundamenta em assinaturas. Como vocês conseguem convencer pessoas a pagar por informação num mundo em que há tanto conteúdo de graça? E mais: a "Economist" se comporta como uma revista global e isso pode ser traiçoeiro porque, às vezes, vocês podem não capturar todos os detalhes e as peculiaridades de um determinado país ou de uma história. Isso é verdade. Quando eu penso em quem são nossos leitores, penso no que chamo dos curiosos globais. Os curiosos globais são definidos pela perspectiva, não pela cidadania, profissão, gênero, idade ou localização. São pessoas que estão interessadas no mundo ao redor deles, interessados para além das fronteiras, interessados no futuro e despostos a serem desafiados e a descobrir sobre novas ideias. São liberais sociais. Fizemos um gráfico psicológico, um estudo da personalidade e valores. Fizemos uma pesquisa para identificar esse grupo, quantas pessoas podem ser definidas por essas características individuais. Por meio de uma estimativa mais ampla, calculamos que esse grupo soma 132 9


milhões de pessoas no mundo. São pessoas que se enquadram nessa descrição mais ampla. Se ajustarmos para os que falam inglês, o número é de aproximadamente 72 milhões de pessoas. Nós temos uma circulação de 1,5 milhão. Há um número infinitamente maior de pessoas que são potencialmente o tipo de pessoa que pode se interessar por nossa revista. É apoiada nesses dados que estou confiante de que se as pessoas souberam sobre nós e se tiverem acesso ao nosso conteúdo, talvez eles queiram ser assinantes. E como fazer isso? Essa é parte da lógica ligada ao grande esforço que temos feito desde o ano passado em relação às mídias sociais. Se você percebeu, intensificamos. Tínhamos uma pessoa e agora temos nove. Estamos tentando mandar nossa mensagem. Há links para os artigos, mas também conteúdo próprio e posts sobre quem somos. Temos um total de 35 milhões de seguidores nas mídias sociais, sendo 15 milhões no Twitter, 7,5 milhões de curtidas no Facebook. Estamos no Linkedin, no Line que é um serviço de mensagem asiático mais forte no Japão, estamos no Google+, no Instagram. Temos um grupo que foi montado no último ano, que é provavelmente mais jovem que eu, que é ótimo e que capturou o que é a "Economist". Eles tuítam, publicam vídeos no Facebook e pensam na melhor forma de usar as redes sociais. Para mim, é uma ferramenta incrivelmente poderosa. Se você está nos lendo no Brasil, é assinante e nos segue no Twiter, você pode acessar os textos de forma muito mais rápida. É também um megafone para os que não são assinantes. Eles podem ver as coisas, achar interessante e virar um assinante. As mídias sociais podem nos ajudar a atingir uma fração desse enorme novo grupo de pessoas que estamos buscando. Elas são uma das grandes fontes de cliques para chegar ao website e uma das mais poderosas formas de conseguir novos assinantes. É uma forma muito importante de como atingimos as pessoas. A meta é aumentar o número de assinantes... Para a gente prosperar, tem que ser por meio de assinaturas, vai ser por meio de assinaturas, não tenho dúvida. Estou muito confiante em que, se tivermos o melhor tipo de jornalismo para essas pessoas curiosas, que os faça querer pagar... porque você está certa, há muito conteúdo lá fora. Em uma área de enorme quantidade de conteúdo com qualidade variável, ter uma fonte confiável de informação, que faz jornalismo de alto nível, te ajuda entender o mundo. Ficou mais valioso ser uma fonte que ajuda o mundo fazer sentido hoje e que ajuda entender o mundo de amanhã, com informações que você não encontrar em lugar nenhum. A gente só vai ser bem-sucedido se a gente produzir o melhor jornalismo possível. Nosso principal trabalho é produzir esse jornalismo. Eu uso muito a palavra "mindstretching" [alongamento mental] para definir o tipo de jornalismo que a "Economist" faz. Não é apenas para você descobrir o que está acontecendo no resto do mundo, mas para você dizer: "Nossa, eu não tinha pensado nisso, não tinha visto as coisas dessa forma".

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Quando alguém que não está no Brasil e lê um texto sobre o Brasil, essa pessoa deve pensar: "Eu realmente estou entendendo o que está acontecendo". É um jornalismo de alto nível e é um privilégio absoluto. É o que meus colegas aqui fazem. E essa é uma parte do trabalho que eu faço. O que precisa ser feito é garantir que esse jornalismo seja colocado diante dos nossos assinantes e de potenciais assinantes. E é aí que a estratégia digital entra e, particularmente, a estratégia para as mídias sociais. Vocês também têm investido em campanhas mais convencionais, nas ruas. Vi ofertas de 12 revistas por £ 1 cada uma, com direito a café quente, caderneta de anotação em troca de assinaturas... Também fizemos um marketing experimental, oferecemos sorvetes com insetos comestíveis dentro. A "Economist" se define como libertária? Não, não. Somos liberais. É uma diferença muito importante. Nunca foi libertária. Mas é um liberalismo bem diferente do norte-americano... O liberalismo inglês, que vem de John Stuart Mill, é muito diferente do liberalismo americano. Eu morei 20 anos nos Estados Unidos, experimentei essa diferença. O liberal americano é alguém de centro-esquerda. Então, Hilary Clinton é liberal, Barack Obama é liberal. Isso no contexto americano. Nos Estados Unidos, o oposto dos liberais são os conservadores. Republicanos são conservadores, e os liberais estão à esquerda. Na Inglaterra, a definição do liberalismo tradicional, do século 19, se dá pela crença no mercado livre e nas liberdades individuais. É basicamente a crença na liberdade e na escolha individual. Libertário é basicamente Estado mínimo, sem governo, e o extremo é o Estado que provem polícia e nada mais. Não somos libertários, somos liberais. Há papéis que o governo tem que ter, há áreas que são importantes para o governo atuar na busca pela liberdade individual. Você acha que é importante ter essa posição escancarada? No Brasil, veículos de comunicação nem sempre escolhem ou assumem um lado. A gente tem um lado, e tenho muito orgulho disso. Fomos fundados em 1843 por esse senhor que está naquele quadro, James Wilson, para lutar por livre-comércio e contra o protecionismo. Éramos um jornal com orgulho de ser liberal em 1843 e ainda temos muito orgulho de sermos um jornal liberal ainda hoje. Não somos como muitos jornais, porque somos o que meu antecessor chamava de "jornal de visão". Como você sabe, não separamos opinião de reportagem. Temos editoriais, com nossa opinião direta toda semana, mas tem muita opinião nas nossas análises. O que tentamos fazer é ter as análises mais rigorosas, baseadas em fatos e mensuradas para, a partir delas, tirarmos conclusões. Tiramos conclusões baseados no nosso ponto de vista, que é liberal. Vê algum problema em serem confundidos ou em serem vistos como porta-vozes do mercado?

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Se por porta-voz do mercado, você se refere a... vou colocar de uma forma que os latinosamericanos dizem: neoliberais por reflexo... não é apropriado. Em 2012, eu escrevi uma reportagem especial sobre desigualdade. Foi capa e tinha como chamada "progressismo verdadeiro". Tinha uma seção inteira sobre o Brasil. Era principalmente sobre o Brasil, apesar de ser sobre a redução da desigualdade na América Latina. Eu argumento que desigualdade é um problema real, e os liberais precisam entender que é um problema. A sociedade precisa combater a desigualdade porque ela é ruim para o crescimento e reduz oportunidades. E acho que essa ideia de que os neoliberais não ligam para desigualdade é errada. Eu abordei, do ponto de vista liberal, porque e como é necessário o mercado liberal deve reduzir a desigualdade. É simplista e errado dizer que a "Economist" é apenas pró-mercado e antigoverno em tudo. Sim, somos pró-mercado, pró-liberdade individual, mas isso não significa que não existe um papel a ser cumprido pelo governo. Tudo, de reforma tributária a reforma regulatória... na mesma semana em que tivemos Dilma na capa do Brasil, mostramos na capa da edição dos EUA como o lucro persistente de certas companhias americanas mostra que há competição insuficiente no mercado. Foi muito pró-competição e antiempresas que dominam o mercado. Isso mostra o que somos. Falando sobre como o governo deve regular o mercado, o caso dos Panamá Papers mostrou uma nova forma de fazer jornalismo. Acha que, assim como foi feito um pool de jornais para investigar a história, também há a necessidade de uma investida internacional para tratar do tema? Na última semana [retrasada], publicamos que os Panamá Papers mostram que há muito a fazer, em especial em duas áreas. Uma é a exigência de transparência uma vez que empresas offshore protegem outras empresas. A outra é garantir que essas firmas que facilitam lavagem de dinheiro e outros atos ilegais deveriam ser culpadas e punidas. Você está certa, estamos no meio de um frenesi. Aqui os políticos estão discutindo quanto eles pagam de Imposto de Renda, mas o que é mais importante, num mundo globalizado, é garantir que não haja uma enorme evasão fiscal. Isso já vem sendo tratado pela OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico]. Há algum progresso em tributar corporações e cobrir as lacunas que permitem a evasão. Mas há mais a ser feito. É uma área em que é necessária cooperação internacional. Acho que o caso do Panamá Papers vai impulsionar isso. Na prática, ninguém gosta de pagar muito imposto e não é necessariamente ilegal remeter dinheiro para o exterior... Exato, e é muito importante distinguir a redução legal de pagamentos de impostos, o que é perfeitamente legítimo, e lavagem de dinheiro roubado, o que claramente não é legítimo. Há um perigo nos dois lados. Há um perigo de que você faça muito pouco para resolver o problema verdadeiro, mas há também o risco de exagerar e criminalizar tudo. Eu falava outro dia com um amigo que trabalha para um banco francês em Londres e ele dizia que está cada vez mais difícil garantir investimentos muito rentáveis. Bancos e investidores estão buscando soluções criativas e isso significa soluções cada vez mais 12


arriscadas. Comércio tradicional e títulos parecem não mais ser tão lucrativos. Você concorda? Sou uma jornalista, não uma investidora. [Risos]. Estamos num ambiente de inflação baixa, crescimento baixo. Nesse cenário, é muito difícil gerar taxas sustentáveis de juros. Bancos, em particular, em razão das regulações e das exigências perfeitamente compreensíveis feitas depois da crise de 2008 para que os investimentos fossem menos arriscados, estão tendo retornos menores. Uma indústria inteira que estava acostumada a conseguir taxas de retorno muito mais altas, não estão conseguindo. Tem uma grande transformação acontecendo dentro do setor financeiro. Para terminar, você é a primeira mulher a comandar a "Economist". Em que sua administração é diferente? Pretende levantar a bandeira do feminismo aqui? Tem que perguntar meus colegas quão diferente é. A primeira coisa que fiz foi me livrar da palavra Sir na carta ao leitor na primeira semana. Pensei que "Madam" era antiquado. Estranha-me quantas pessoas me perguntam isso e quanta atenção o fato de eu ser mulher chamou. Isso me fez perceber quanto ainda temos que avançar. Eu ficarei satisfeita quando chegarmos a um nível em que ninguém vai fazer essa pergunta às minhas sucessoras. Isso será um sinal verdadeiro de onde temos que chegar. Sim, há muito a ser feito pelo papel das mulheres no mercado de trabalho, mas estou esperando ansiosa pelo dia em que o fato de uma mulher ganhar um cargo de destaque não for mais notícia. RAIO-X Zanny Minton Beddoes, 48 Cargo Editora-chefe da "Economist" desde 2015 Carreira > Assessorou a abertura econômica da Polônia nos anos 1990 > Passou dois anos como economista do FMI > Começou na "Economist" como repórter de mercados emergentes em 1994 e foi promovida a editora da revista dois anos depois

ANP discute perdão a petroleiras que não cumpriram conteúdo local FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, NICOLA PAMPLONA DO RIO 25/04/2016 às 19h 49

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NI FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, COLA PAMPLONA DO RIO 25/04/2016 às 19h 49

A ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) decidiu discutir com o setor o perdão pelo não cumprimento de compromissos de conteúdo local na contratação de bens e serviços. O processo será iniciado com o segmento de pesquisa do subsolo mas pode ser estendido a outros segmentos. Nesta segunda-feira (25), a agência anunciou a abertura de uma consulta pública para avaliar o segmento de pesquisa sísmica, espécie de ultrassonografia do subsolo, feita com o objetivo de identificar a possibilidade de existência de jazidas de óleo e gás. O processo vai analisar se havia embarcações nacionais disponíveis para o cumprimento dos compromissos assumidos pelas petroleiras entre os anos de 2008 e 2015. Segundo a agência, a estratégia de abrir consultas públicas pode ser repetida para avaliar outros segmentos da cadeia fornecedora. De acordo com o resumo técnico que embasa a abertura de consulta pública, as petroleiras OGPar, ONGC Campos e Perenco alegaram que não havia embarcações nacionais disponíveis e, por isso, apresentaram pedidos de isenção de conteúdo local. A ANP diz que a abertura da discussão sobre o tema deve-se à "coincidência de pedidos de diferentes concessionários tratando do mesmo tema e com a mesma alegação". Caso seja comprovada a falta de disponibilidade de embarcações, as empresas podem receber o perdão. O resumo técnico da agência admite que relatório feito pela consultoria IHS Petrodata não mostra "nenhuma embarcação construída ou em construção no Brasil para o período compreendido entre janeiro de 2008 e março de 2009 e de novembro de 2009 a março de 2010". Cita ainda pesquisa com empresas certificadoras de conteúdo local, que também não identificam a disponibilidade de barcos brasileiros para este tipo de serviço. 14


O compromisso com compras de bens e serviços no Brasil é um dos indicadores que definem as propostas vencedoras em leilões de áreas de exploração e produção de petróleo no país. Nesse caso, cada companhia indica um percentual mínimo de compras no país em cada etapa da concessão. Nos últimos anos, as empresas têm alegado dificuldades para cumprir os compromissos feitos nos leilões e questionam o que chamam de "inflexibilidade" da ANP, que tem preferido aplicar pesadas multas. Segundo a agência, a discussão do tema via consulta pública garante maior transparência ao processo. "A consulta e a audiência públicas serão realizadas com o objetivo de recolher subsídios para a edição de ato regulatório que declarará, ou não, a inexistência de embarcações marítimas para aquisição de dados sísmicos, construídas ou reformadas no Brasil, no período de 2008 a 2015", diz a agência.

Brasil e Argentina discordam sobre cotas em acordo automotivo FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDUARDO CUCOLO DE BRASÍLIA 25/04/2016 às 18h 51

O Brasil e a Argentina esperam renovar o acordo automotivo que expira em 30 de junho, mas ainda não chegaram a um acordo sobre fazer ou não alteração nas regras atuais. O governo brasileiro afirma que é possível avançar em questões como as cotas de exportação e importação. O país vinho, no entanto, diz que é pouco provável que haja grandes mudanças. Representantes dos dois governos se reuniram nesta segunda-feira (25) em Brasília para a primeira reunião da Comissão Bilateral Brasil-Argentina, que discute esse e outros temas nas relações comerciais dos dois países. O ministro Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) disse que algumas mudanças poderão e deverão ser examinadas em relação à questão automotiva. "Alguns pequenos ajustes serão discutidos", afirmou. Monteiro defendeu, por exemplo, a possibilidade de ampliação das chamadas cotas flex, que permitem ao Brasil vender sem pagar imposto o equivalente a US$ 1,5 para a Argentina em troca de cada US$ 1 que compra do principal sócio do Mercosul. O ministro da Produção da Argentina, Francisco Cabrera, disse que o país vizinho está aberto para discussões, mas que há muita preocupação em relação ao nível de emprego na indústria do país vizinho, que também tem sido afetada pela crise brasileira. Mais de 50% das exportações industriais do país vão para o Brasil, e a redução desse fluxo comercial afeta especialmente as montadoras na Argentina. "Vamos ser muito cuidadosos no curto prazo. Não vamos modificar esses índices", afirmou Cabrera ao ser questionado sobre a questão das cotas.

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Monteiro disse ainda que o Brasil busca uma sinalização sobre um acordo de livre comércio no setor automotivo entre os dois países no futuro. Destacou que ambos fecharam questão nesse sentido com o México, mas não entre si. Cabrera afirmou que foi criado um comitê para debater a renovação, que contará agora com a presença de representantes do setor privado. Disse ainda que o objetivo é traçar uma convergência nas estratégias produtiva e comercial para criar uma plataforma conjunta que seja competitiva no mercado internacional. Não falou, no entanto, sobre a questão do livre comércio.

STF revoga prisão domiciliar de André Esteves e libera volta ao BTG

FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, MÁRCIO FALCÃO DE BRASÍLIA 25/04/2016 às 21h 30

Uma decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki permite que o banqueiro André Esteves volte a trabalhar no banco BTG Pactual, instituição que controlava até ser preso na Lava Jato. O ministro também revogou a determinação de "recolhimento domiciliar integral", que, na prática, representava prisão domiciliar. Ele também fica dispensado de ter que se apresentar quinzenalmente à Justiça. A informação é do advogado do banqueiro, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. Foi mantida a restrição para viagens ao exterior: se passar de sete dias, terá que ser avisada à Justiça. 16


ENTENDA O CASO O banqueiro foi preso em novembro de 2015, após ter seu nome envolvido em conversa do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) com o filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, preso sob acusação de envolvimento em corrupção na estatal. Na conversa, gravada, o senador diz que Esteves teria aceitado pagar R$ 1,5 milhão ao advogado que defendia Cerveró, Edson Ribeiro, desde que o BTG não fosse envolvido na Lava Jato. Esteves, que nega as acusações, foi solto em dezembro, quando passou a "recolhimento domiciliar". A Procuradoria-Geral da República apresentou ao STF denúncia contra o senador e o banqueiro, acusados dos crimes de impedir a investigação de infrações penais (3 a 8 anos de prisão) e patrocínio infiel (6 meses a 3 anos). A acusação é mantida em sigilo no Supremo. Teori levará o caso para a segunda turma do Supremo, responsável pelos casos da Lava Jato, que decide se acolhe ou rejeita a denúncia (não há prazo para a decisão). Se acolhida, a denúncia torna-se ação penal e os acusados passam à condição de réu. O BANCO Desde que o caso veio a público, o banco, que estava entre os maiores do país, sofreu saques de investidores. Para conter a crise, foram vendidos ativos e parte da carteira de crédito. O banco também conseguiu uma linha de crédito com o Fundo Garantidor de Crédito. No mês passado, os escritórios de advocacia Quinn Emanuel, dos EUA, e Veirano Advogados, brasileiro, divulgaram que auditoria interna não encontrou indícios de que o banco ou Esteves tivessem participado de "atos ilícitos ou de corrupção".

Para ANP, novos leilões correm risco FONTE ANTONIO PITA, FERNANDA NUNES – JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 25 Abril 2016 às 22h 28

Diretora da Agência Nacional do Petróleo diz que 14ª rodada está garantida, mas cortes no orçamento podem prejudicar novos processos RIO - A crise econômica põe em risco a realização de leilões de petróleo e gás no pós-sal, segundo a diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Magda Chambriard. Com os dados exploratórios que possui, a agência garante a realização da 14.ª rodada. Mas é possível que cortes no orçamento deste ano destinado a pesquisas nas bacias sedimentares afetem os leilões que deveriam acontecer no período de “três a cinco anos”. A crise atinge também o pré-sal, que não deve ser ofertado até que as petroleiras - Petrobrás e multinacionais - refaçam seus caixas. RELACIONADAS:  

Corte no orçamento da ANP pode parar programa de controle de combustíveis Brasil terá déficit de combustíveis de 1,2 mi de barris por dia em 2030, diz ANP

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A agência teve o orçamento reduzido em 51% neste ano por determinação do Ministério do Planejamento, em função da crise fiscal. Agora, negocia com o governo quais atividades serão afetadas pelo corte. Para Magda, é possível que o corte comprometa a continuidade da pesquisa das bacias sedimentares que serão levadas a leilão. Para evitar isso, propôs que os orçamentos de sísmica e de perfurações de poços, realizados para identificar novas oportunidades, sejam inseridos na terceira fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 3).

Prioridade da ANP são as áreas menores do pré sal contínuas a áreas de pós-sal, diz Magda Chambriard

“(A crise) inviabilizaria a realização de leilões mais adiante. Quando a companhia e o governo interrompem (a exploração), em um momento de crise econômica, essa falta de atividade se reflete anos depois”, afirmou Magda, em entrevista ao Broadcast, serviço de informação em tempo real da Agência Estado. Já os leilões de pré-sal, avalia ela, despertam interesse natural por causa da alta produtividade e do retorno financeiro da região. Para a diretora, “há muita coisa boa no pré-sal”, mas as empresas vivem “um momento de restrição (de caixa)”. Em 2013, quando a área de Libra foi leiloada, a promessa era promover nova concorrência em até dois anos. Mas, diante da queda do preço do barril de petróleo, de US$ 100 para US$ 40, a visão é que é preciso discutir mais o ritmo de desenvolvimento dos 40 bilhões de barris de recursos já descobertos no pré-sal. “Se colocar (em leilão) oportunidades grandes e múltiplas, não sei se existe necessidade e apetite. A ANP não está aqui só para colocar áreas no mercado, mas para sugerir o fomento da indústria e zelar pelo retorno dos investimentos para a sociedade. É uma agência de Estado”, afirmou. A única definição é que as próximas grandes licitações de pré-sal seguirão o mesmo molde adotado em Libra, de ofertas isoladas de áreas, como as de Pau Brasil, Peroba e Saturno, para que uma não dispute investimento com a outra. Enquanto aguarda a valorização do petróleo, a ANP vai priorizar a oferta de áreas unitizáveis (descobertas menores de pré-sal contínuas a outras de pós-sal) licitadas em regime de concessão. “Se não licitamos, atrapalhamos o desenvolvimento de uma coisa que já está 18


garantida, que tem o interesse das petroleiras. Se não resolvermos isso, atrapalhamos um investimento já em curso”, afirmou Magda. A diretora indica que a 14.ª rodada também trará novidades para atrair investidores em tempos de crise. A proposta é ampliar o tamanho das áreas ofertadas, mantendo o mesmo volume de investimentos exploratórios mínimos. “Para um próximo leilão, precisamos que os programas exploratórios mínimos não estejam no mesmo nível de antes. É preciso reduzir a obrigação e o compromisso imediato da petroleira para que ela possa adquirir a área e não afetar o seu caixa de uma forma contundente demais”.

Vendas do Dia das Mães devem cair 4,1%, aponta pesquisa da CNC Se confirmado, resultado será o pior desde 2004; emprego temporário deve recuar 5,6 FONTE O GLOBO PRISCILLA AGUIAR LITWAK 26/04/2016 ÀS 08H 08

Nem o Dia das Mães, considerado o Natal do primeiro semestre para o varejo, promete dar alívio para o setor - Fábio Rossi

RIO - Falta pouco para o Dia das Mães, a segunda data mais importante para o comércio — atrás apenas do Natal. Mas a previsão para o varejo não é muito animadora e o período não deve representar um alívio para o setor, de acordo com pesquisa feita pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Segundo a entidade, o volume de vendas para a data deverá registrar recuo de 4,1% frente ao ano anterior. Se confirmada esta previsão, a data registrará seu pior desempenho desde o início da série, em 2004. Vale lembrar que em 2015 a data comemorativa já apresentou uma retração nas vendas, de 0,4%, frente ao ano anterior. Com expectativa de queda nas vendas, a contratação de trabalhadores temporários para a data também deverá ser menor. A oferta de 25,6 mil vagas em todo o varejo esperada pela 19


CNC é 5,6% inferior ao contingente contratado no mesmo período do ano passado e equivale à quantidade de vagas do Dia das Mães de 2012 (25,4 mil). A projeção é que o varejo movimente aproximadamente R$ 5,7 bilhões. Veja também: 

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— É uma estimativa muita negativa e em relação a um ano que já havia sido o pior desde que começou a ser feito o levantamento. O comércio foi cavando o fundo do poço a cada mês que passava e dificilmente a gente vai escapar do pior desempenho do varejo já registrado, com estimativa de fechar este ano com perda de 8,8% — avalia o economista da CNC Fabio Bentes. Já a pesquisa do Centro de Estudos do Clube dos Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDL Rio) que ouviu mais de 500 lojistas da cidade do Rio de Janeiro — aponta um resultado mais otimista. O levantamento mostra que os empresários estimam vender 2% a mais no Dia das Mães sobre as vendas do ano anterior. Aldo Gonçalves, presidente do CDL Rio, ressalta que mesmo com sucessivos resultados negativos no comércio, os lojistas estão moderadamente otimistas com as vendas no Dia das Mães. — Sabemos que a data não vai salvar o comércio, pois as perspectivas não são boas e a recuperação será difícil enquanto tivermos um cenário político-econômico do jeito que está. No entanto, há uma projeção de melhora, devido à previsão de mudanças na política. Além disso, acreditamos que o pessimismo pode causar um resultado ainda pior. A pesquisa do CDL contou com a participação de empresários dos setores de vestuário, calçados e bolsas, joias e bijuterias, perfumaria e cosméticos, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, móveis e telefonia celular. Assim como o levantamento da CNC, o economista da Rosenberg Associados Leonardo Costa também não espera um resultado positivo nas vendas para o Dia das Mães deste ano. — A deterioração no setor deve se manter, com um volume de vendas para maio ainda menor do que o observado no ano passado — resume. A estudante Raiane Costa, de 25 anos, ainda não sabe o que vai dar de presente para mãe, mas não tem dúvidas de que o presente terá que ter o valor máximo de R$ 60. No entanto, ela conta que pretende pesquisar bastante para tentar um preço mais em conta: — É uma data que não dá para passar em branco, mas, como estou desempregada no momento, não posso gastar além do meu orçamento. Então, o jeito vai ser pesquisar bastante para garantir um preço bom. LEMBRANCINHAS PARA AS MÃES O estudo da CNC indica que a data deve ser marcada por lembrancinhas. O levantamento aponta que os ramos de artigos de uso pessoal e doméstico e de vestuário, calçados e 20


assessórios deverão se destacar positivamente com alta de 4,4% e 2,3%, respectivamente, frente ao Dia das Mães de 2015. Com menor procura por compras a prazo e com variações de preços menos acentuadas nos últimos meses, as vendas nesses dois segmentos caracterizados por tíquetes médios mais baixos, deverão responder por quase dois terços (65,8%) de toda a movimentação do varejo com essa data em 2016, diz a pesquisa. Para Bentes, da CNC, o resultado poderia ser ainda pior se não fosse uma característica nas vendas do Dia das Mães, que é uma procura considerável por cosméticos e perfumarias, setor que está relativamente bem e deve evitar uma queda maior, juntamente com o segmento de vestuário, que apesar de não estar em um bom momento, espera-se um resultado positivo. — O que está por trás desse resultado é o tíquete médio baixo, em torno de R$ 50, diferente de móveis, por exemplo, muito procurado em outra época. Ou seja, teremos um Dia das Mães da lembrancinha. A cada R$ 100 em compras esperamos que R$ 45 sejam gastos em vestuário e artigos pessoais e a cada dez vagas de trabalhos temporários, estimamos que seis sejam desse setor. A exemplo de como aconteceu com a Páscoa, a previsão é que os lojistas façam liquidações para atrair o cliente, no entanto, mesmo assim as perspectivas são muito ruins. Os segmentos que devem puxar a variação da receita do setor para baixo são livrarias e papelarias (-21,1%) e as lojas de móveis e eletrodomésticos (-18,4%). Ambos devem registrar seus piores desempenhos em vendas em toda a série histórica. SHOPPINGS FAZEM PROMOÇÕES Assim como aconteceu em outras datas comemorativas, para driblar a crise, os shoppings estão investindo em promoções. Os shoppings Boulevard Rio, Botafogo Praia e Nova América sorteiam um ano de academia, um ano de salão de beleza e até vale-compras. A cada R$ 200 em compras o cliente tem direito a um cupom para concorrer aos prêmios. No Metropolitano Barra, a cada R$ 400 em compras, os clientes concorrem a dez vale-compras no valor de R$ 8 mil, para serem usados no shopping. A expectativa de aumento de vendas é de 12%. O Shopping Tijuca sorteará uma viagem para as principais vinícolas do Chile. Para participar, o cliente deve realizar uma compra acima de R$ 250 e trocar por um cupom da promoção. Os clientes do Ilha Plaza que comprarem R$ 300 ganharão um ingresso duplo para assistir ao show de stand-up comedy do ator Gabriel Louchard. Já o Shopping Via Brasil está se preparando para a data buscando atrações gratuitas para atrair o público. Na véspera do Dia das Mães, haverá uma edição especial do projeto Happy Hour, de shows gratuitos a cada 15 dias.

Confiança do consumidor brasileiro cai em abril ao menor nível histórico Resultado decorre do cenário de incerteza na economia brasileira, diz FGV FONTE REUTERS 26/04/2016 ÀS 09H 12

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EC Rio de Janeiro (RJ) 07/10/2015 - Estratégias do varejo de vestuário para conquistar clientes. Foto : Fernando Lemos / Agencia O Globo - Fernando Lemos/Agência O Globo

SÃO PAULO - A confiança do consumidor brasileiro caiu pelo segundo mês seguido em abril, com destaque para a piora das expectativas, e atingiu o menor nível da série histórica, mostrou a Fundação Getulio Vargas nesta terça-feira. Veja também: 

Com menor demanda por crédito, bancos aumentam taxas

Bancos aguardam regulamentação para liberar abertura online de contas

Salários perdem para a inflação em dois terços das negociações

Vendas do Dia das Mães devem cair 4,1%, aponta pesquisa da CNC

Segundo a FGV, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) caiu 2,7 pontos em abril e foi a 64,4 pontos. O destaque para o resultado foi o recuo de 3,2 pontos do Índice de Expectativas (IE), para 65,8 pontos. O Índice da Situação Atual (ISA) também mostrou piora, de 1,6 ponto, para 64,7 pontos, nova mínima histórica. “O resultado decorre de um cenário econômico e político que parece difícil de ser resolvido rapidamente”, disse a coordenadora da sondagem do consumidor da FGV, Viviane Seda Bittencourt, em nota. O cenário de incerteza na economia brasileira, que enfrenta forte recessão, vem sendo agravado pela perspectiva de troca de governo depois que a Câmara dos Deputados aprovou a continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O Senado agora decide se aceita ou não o processo. Dilma será afastada do cargo se o pedido de impeachment seguir em frente na Casa. 22


CONFIANÇA DA CONSTRUÇÃO MELHOROU O Índice de Confiança da Construção (ICST) mostrou melhora das expectativas e avançou ligeiramente em abril na comparação com março, informou a FGV nesta terça-feira. O índice registrou avanço de 0,2 ponto no mês e foi a 67,0 pontos. O Índice de Expectativas subiu 1,1 ponto, para 72,2 pontos, enquanto Índice da Situação Atual recuou 0,6 ponto, a 62,4 pontos. A FGV também informou que o Índice Nacional de Custos da Construção (INCC-M) avançou 0,41 por cento em abril, desacelerando sobre a alta de 0,79 por cento em março.

Com menor demanda por crédito, bancos aumentam taxas Pesquisa aponta que 82% dos brasileiros não pretendem contratar empréstimos FONTE O GLOBO JOÃO SORIMA NETO E ROBERTA SCRIVANO 26/04/2016 ÀS 07H 44

Cobrança indevida. Carolina se surpreendeu com cobrança de tarifa de manutenção, vetada para contas-salário - Antonio Scorza / O Globo

SÃO PAULO - Mais restritivos na oferta de crédito e com menos clientes interessados em tomar empréstimos, os bancos passaram a buscar outras fontes além da intermediação financeira para aumentar suas receitas. Uma das estratégias para elevar ganhos tem sido 23


turbinar o faturamento com tarifas, apontam analistas. Para os clientes, isso significa condições mais rígidas, com menos isenções de taxas e desembolso maior pelos serviços. O aperto é uma forma de diminuir os efeitos da recessão sobre o setor. Com a taxa básica Selic estacionada em 14,25% ao ano há sete meses, ficou difícil aumentar ainda mais os juros nos financiamentos. Ao mesmo tempo, o consumidor está menos disposto a se endividar. Segundo pesquisa da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), 82% dos brasileiros não têm planos de contratar empréstimos. Nas redes sociais aparecem cada vez mais reclamações sobre reajuste de tarifas bancárias sem explicação. Matheus Pereira, que trabalha com marketing digital, conta que abriu sua conta no Itaú em fevereiro, numa agência de Caldas Novas, em Goiás. Semanas depois, recebeu um SMS do banco dizendo que a tarifa de sua conta estava sendo reajustada em cerca de 10%. A tarifa de manutenção da conta saltou de R$ 26 mensais para R$ 28. Veja também: 

CMN permite abertura de conta corrente e poupança pela internet

Bancos aguardam regulamentação para liberar abertura online de contas

BB deve pagar multa por envio de cartão sem autorização de clientes

— Até agora, o banco não conseguiu me explicar o motivo deste aumento — afirmou Pereira. Procurado, o Itaú informou que “os reajustes de tarifas efetuados estão compatíveis com os índices praticados pelo mercado financeiro”. Sobre o reajuste ter ocorrido duas semanas após a abertura da conta, não se pronunciou. Em alguns casos, quem já tinha direito a isenção de tarifas está sendo obrigado a oferecer mais contrapartidas ao banco para manter o benefício. Um cliente que não quis se identificar conta que, às vésperas da renovação do contrato de seu cartão de crédito, o banco informou que, para manter a isenção da anuidade, teria que aumentar o valor de suas aplicações, de R$ 100 mil para R$ 150 mil. A razão, disse o gerente, foi “a mudança de target (alvo) para concessão do benefício”. — Os bancos acabam criando mais dificuldades para os clientes ficarem fora da faixa de benefícios, especialmente nesta época em que a concessão e a busca por crédito estão mais fracos — diz Ione Amorim, do Instituto Brasileiros de Defesa do Consumidor (Idec). Levantamento feito pela agência de classificação de risco Austin Rating mostra que as receitas com tarifas subiram 14,1% entre 2014 e 2015, considerando os cinco maiores bancos do país, de R$ 26,1 bilhões para R$ 29,8 bilhões. Já os dados do Banco Central (BC) mostram que a concessão de crédito está encolhendo. Os chamados recursos livres, que consideram todas as linhas de financiamento ao consumo, encolheram 3,5% entre 2014 e 2015. Este ano, ainda segundo o BC, as novas concessões de crédito já recuaram 5,3%. — Há realmente uma tentativa de aumentar a receita com tarifas. É uma maneira de compensar parte da queda no volume de empréstimos, diversificando a carteira explica Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating.

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O forte aumento de 44,6% das provisões contra inadimplência de R$ 71,4 bilhões em 2014 para R$ 103,2 bilhões em 2015 é outro fator que, além de demonstrar que o risco de inadimplência aumentou, afeta o lucro dos bancos. Há casos de cobrança de tarifas mesmo para quem é isento por determinação do BC. A estudante carioca Carolina Pedro Lazari vem brigando com o Bradesco para ter isenção da tarifa de manutenção, que não pode ser cobrada em conta-salário. Ela abriu a conta em novembro, quando foi contratada como estagiária. Na ocasião, o gerente confirmou que ela estava isenta de tarifa, mas, para sua surpresa, semanas depois houve uma primeira cobrança de R$ 17,25, o que contraria determinação do BC. — Fui à agência reclamar da cobrança, pedir o estorno e o cancelamento de próximos débitos. Cheguei a assinar um documento atestando o cancelamento — contou. VENDA DE SEGURO E INCENTIVO AO USO DO CARTÃO Um mês depois, porém, houve outro débito e, este mês, o banco reajustou a tarifa para R$ 18,25. Procurado na semana passada, o Bradesco informou ter entrado em contato com a cliente e resolvido o problema. Carolina confirmou o contato do banco. Mas a instituição não explicou por que cobrara a tarifa numa conta-salário. Em nota, o banco disse que “é opção do cliente permanecer no segmento que está ou migrar para o segmento que foi proposto pelo banco”. Maria Inês Dolci, coordenadora da Proteste, associação de defesa do consumidor, afirma que os bancos são pouco transparentes em informar que critérios estão utilizando para cobrar tarifas, como mostra o caso de Carolina. — Os bancos tomam as decisões unilateralmente para aumentar suas receitas, e o cliente acaba sendo prejudicado — afirma Dolci. Inês, do Idec, afirma que os bancos se aproveitam da falta de atenção de muitos consumidores no acompanhamento das tarifas para reajustar ou cobrar valores indevidos. Como geralmente não pedem cópia do termo de adesão ao pacote de serviços, os clientes ficam de mãos atadas para questionar os valores cobrados. Analista da consultoria Lopes Filho, João Augusto Salles, especialista em bancos, diz que as instituições financeiras também têm buscado reforçar receitas vendendo produtos, como seguro de vida, ou até mesmo estimulando o uso do rotativo do cartão de crédito, que tem juros de 430% ao ano, aumentando os limites dos clientes. Às vezes, essa oferta de produtos vem de uma forma casada com outro serviço, o que é proibido pelo Código de Defesa do Consumidor. O aposentado Francisco Marinho, de 63 anos, afirma que fez um empréstimo no Banco do Brasil, no ano passado, e que também foi oferecido um seguro de vida no valor de R$ 1.000. Embora garanta que não tenha assinado qualquer documento aceitando o seguro, o valor foi debitado de sua conta. Procurado, o Banco do Brasil informou que o débito foi feito em julho do ano passado e tem proposta assinada pelo cliente. Depois dessa data, diz o banco, nenhum desconto de seguro foi feito na conta do aposentado.

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Salários perdem para a inflação em dois terços das negociações Há um ano, parcela de acordos coletivos com perdas foi três vezes menor FONTE O GLOBO DAIANE COSTA 26/04/2016 ÀS 07H 46

Dos 189 acordos coletivos que trataram de ajustes salariais em março, 12 estabeleceram redução de jornada acompanhada de diminuição de salários - Divulgação

RIO - Em março, cerca de dois terços (60,2% ou 114) das negociações coletivas entre trabalhadores e empresas resultaram em ajustes salariais abaixo da inflação acumulada em 12 meses, que foi de 11,1%, de acordo com o INPC. Há um ano, a parcela de negociações com perdas salariais foi três vezes menor, ficou em 21,7%. Os dados são do “Salariômetro”, estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Ecomômicas (Fipe) divulgado mensalmente. A mediana dos ajustes salariais com vigência em março foi de 11%. Desde julho do ano passado, a mediana dos ajustes aplicados a cada mês tem ficado igual ou abaixo da inflação acumulada até o período. Veja também: 

Com menor demanda por crédito, bancos aumentam taxas

Metalúrgicos em SP amargam o limbo entre o trabalho e o desemprego

Abono do PIS não foi sacado por 1,2 milhão de trabalhadores

Mercado de trabalho tem pior saldo para março em 25 anos

— Nos últimos meses vem crescendo os casos em que o trabalhador não consegue a reposição da inflação. A recessão está quebrando a indexação salarial — analisa Hélio Zylberstajn, coordenador do estudo e professor da USP.

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Dos 189 acordos coletivos que trataram de ajustes salariais, 12 estabeleceram redução de jornada acompanhada de redução de salários. Destes, seis utilizaram o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), que foi lançado no ano passado e possibilita que a jornada e o salário do funcionário sejam reduzidos, com o governo subsidiando metade da redução salarial, para amenizar o impacto no bolso do trabalhador. — Com o desemprego crescendo, o poder de barganha do trabalhador diminui e, com as empresas não podendo repassar todo o aumento de custos para os preços, reduzem salários, reajustes e estão partindo mais para as demissões. De modo geral, é um momento muito ruim para quem vive de salário explica Zylberstajn. Por categoria, nos últimos 12 meses, os cinco grupos de trabalhadores que tiveram os maiores ganhos reais nas negociações coletivas foram: de confecções e vestuário (ganho real de 1,1%), de bancos e serviços financeiros (0,7%), distribuição cinematográfica (0,5%), transporte, armazenagem e comunicação (0,2%) e indústria cinematográfica e fotografia (0,1%). As cinco maiores perdas nas negociações coletivas foram registradas por trabalhadores na extração e refino de petróleo (reajuste 4,4% menor do que a inflação), do agronegócio da cana (-1,4%), da indústria do vidro (-1,3%), de condomínios e edifícios (-0,9%) e de outros serviços (-0,9%). Para o coordenador do estudo, o ganho real de 1,1% obtido por trabalhadores de fábricas de roupas reflete os efeitos do dólar mais alto, que têm impulsionado as exportações e reduzido a compra de peças de vestuário importadas. — Olhando para frente não vejo nenhum sinal de melhora, pois o desemprego continua crescendo e com a inflação base alta, é mais difícil ainda conseguir um aumento real. As negociações coletivas vão seguir sem conseguir repor a inflação. A mediana do piso salarial com vigência em março foi R$ 970, 10,2% maior do que o salário mínimo, que é de R$ 880. O estudo também analisou a mediana dos pisos salariais por categoria nos últimos 12 meses. Trabalhadores de distribuição cinematográfica têm o maior, de R$ 1.264, enquanto os funcionários de estacionamentos e garagens têm o menor, de R$ 865. Além desta categoria, têm remuneração inferior a um salário mínimo os trabalhadores de feiras, eventos e divulgações (R$ 868). Para o boletim de março, a Fipe analisou 581 negociações com início de vigência naquele mês. Deste montante, 189 trataram de ajustes salariais e 169 de pisos salariais.

Dólar segue exterior e opera em queda de 0,45%, a R$ 3,533 Investidores estão de olho em juros nos EUA e cenário político; Bolsa sobe 0,34%

FONTE O GLOBO 26/04/2016 ÀS 11H 02

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- Xaume Olleros / Bloomberg

SÃO PAULO - O dólar comercial segue o movimento externo da moeda e opera em queda. Às 10h39m, a moeda americana era cotada a R$ 3,531 na compra e a R$ 3,533 na venda, recuo de 0,45% ante o real. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) tem um pregão de recuperação e apresenta alta de 0,34%, aos 53.037 pontos. Veja também: 

Índices chineses sobem; mercados asiáticos aguardam Fed e BC japonês

Com menor demanda por crédito, bancos aumentam taxas

Confiança do consumidor brasileiro cai em abril ao menor nível histórico

Assembleia da Vale aprova nova política de remuneração a acionistas

Em um pregão de menor aversão ao risco, o “dollar index”, calculado pela Bloomberg e que mede o comportamento do dólar frente a uma cesta de dez moedas, tem queda de 0,59%. Embora os investidores continuem atentos ao desenrolar da crise político e ao avanço do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, as atenções estão voltadas nesta terça-feira para o exterior, com o início da reunião do comitê de política monetária do Federal Reserve (FED, o BC americano). A reunião termina na quarta-feira, quando deve ficar mais claro quais serão os próximos passos em relação ao nível de juros nos Estados Unidos. “No momento em que as atenções se voltam para fim do ciclo de afrouxamento monetário nos EUA, crescem as expectativas em torno da decisão que será anunciada amanhã”, lembrou, em relatório, Ricardo Gomes da Silva, superintendente da Correparti Corretora de Câmbio. Também tem início nesta terça-feira a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). A expectativa é de manutenção da taxa Selic em 14,25% ao ano. O dólar comercial encerrou a sessão de ontem em queda de 0,51% ante o real, cotado a R$ 3,5487 para venda. 28


Se Congresso não aprovar nova lei, governo terá que cortar R$ 75 bilhões Sem alteração no Orçamento, esforço fiscal aumentará R$ 30 bilhões FONTE O GLOBO GERALDA DOCA E MARTHA BECK 26/04/2016 ÀS 06H 00

Notas de cem e cinquenta reais - Agência O Globo

BRASÍLIA - A equipe econômica terá que fazer um corte adicional de despesas superior a R$ 30 bilhões no Orçamento de 2016 em maio, se o Congresso Nacional não aprovar até o dia 20 o projeto que altera a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deste ano. Como o governo já fez um contingenciamento de R$ 44,6 bilhões este ano, o valor total da tesourada chegará a quase R$ 75 bilhões e resultará no que os técnicos chamam de shut down, ou seja, a paralisação da máquina pública. Terão que ser suspensos os pagamentos de todas as despesas discricionárias (que não são obrigatórias), como luz, telefone, água, aluguel e bolsas de estudo no Brasil e no exterior. Veja também: 

Nova meta fiscal e disputa com estados são as prioridades do governo

Caso meta fiscal não seja alterada, máquina pública pode parar

Rombo fiscal pode chegar a R$ 65 bilhões em 2017

A LDO em vigor prevê que o governo central precisa conseguir superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) de R$ 24 bilhões (0,39% do PIB). Como as receitas estão em queda livre e os gastos obrigatórios continuam em alta, a equipe econômica já encaminhou ao Legislativo proposta para mudar a LDO e permitir que a meta seja reduzida para um déficit primário de R$ 96,6 bilhões, 1,55% do PIB. Enquanto os parlamentares não dão 29


o sinal verde, o governo precisa trabalhar com a meta em vigor e contingenciar gastos para atingir o número. Por determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), se a equipe econômica não gerir o Orçamento com base na meta em vigor, o governo pode ser acusado de voltar a pedalar as contas públicas, um dos motivos que embasam o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, já alertou ao Congresso que a mudança da meta precisa ser aprovada com urgência, lembrando que essa bomba pode acabar caindo no colo do PMDB se o Senado der continuidade ao impeachment e o vice Michel Temer assumir a Presidência. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que quer acelerar o impeachment, já sinalizou que não deixará que nenhum projeto relevante seja votado no Congresso até que o processo seja encaminhado no Senado. Outra dificuldade é que a mudança na LDO precisa ser votada na Comissão Mista de Orçamento (CMO), que é composta por senadores e deputados e não foi constituída. Por isso, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), avalia a possibilidade de convocar diretamente uma sessão do Congresso para votar a mudança da meta fiscal. Solução que precisa do aval de todos os líderes de partidos. O senador Romero Jucá (PMDB-RR), que já conversou com Barbosa sobre a urgência de votar a mudança na LDO, acredita que a eleição dos membros da comissão especial do impeachment no Senado, ontem, será uma forma de mostrar para Cunha que o processo está andando, criando ambiente mais favorável para resolver o problema fiscal. O governo teve que fazer um shut down no ano passado. Como as receitas já estavam caindo e o Congresso ainda não havia aprovado a alteração fiscal na meta de 2015, os técnicos tiveram que fazer contingenciamento adicional de R$ 11,2 bilhões no Orçamento em novembro, o que elevou os cortes de gastos do ano a R$ 89,6 bilhões. A medida obrigou a presidente Dilma a cancelar visitas ao Japão e ao Vietnã em função do bloqueio com despesas de diárias e passagens. O contingenciamento foi revertido menos de uma semana depois, quando o Congresso aprovou a alteração da meta.

Meirelles se fortalece para comandar Fazenda FONTE ALEXA SALOMÃO - JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 26 Abril 2016 às 08h 16

Ex-presidente do BC conta com respaldo do mercado para cargo em eventual governo Temer após atuação no controle da inflação; Serra nega ter recebido convite formal O vice-presidente Michel Temer (PMDB) fechou seu foco de análise de nomes cotados para o Ministério da Fazenda, caso venha a assumir a Presidência. O peemedebista está entre o expresidente do Banco Central Henrique Meirelles, que ocupou o cargo nos oito anos de governo Luiz Inácio Lula da Silva, e o senador José Serra (PSDB-SP), que foi ministro do Planejamento e da Saúde na gestão Fernando Henrique Cardoso. RELACIONADAS:  

Temer fará auditoria nos bancos públicos 'Estado' estreia coluna diária sobre bastidores da política

A favor do primeiro – mais bem posicionado neste momento para ocupar esse posto, conforme integrantes do grupo próximo de Temer – conta o potencial que ele tem de transmitir confiança ao mercado. Na outra ponta, Serra enfrenta entraves dentro de seu partido, que avalia até punir quem aceitar cargos num eventual governo Temer. 30


Henrique Meirelles

Na segunda-feira, 25, em entrevista no Senado, o tucano negou ter sido sondado ou convidado para assumir a Fazenda de um eventual governo Temer, informação antecipada ontem à tarde pela jornalista Sonia Racy, na versão online da coluna Direto da Fonte. “Tenho conversado com o vice-presidente sempre, mas não tratamos desse assunto. Não tenho na cabeça história de ministério”, disse Serra. Segundo apurou o Estado, Temer gostaria de ter o apoio institucional do PSDB para que Serra assumisse a Fazenda. Com isso, teria certeza do engajamento total dos tucanos em sua gestão. Caso isso não aconteça, Serra poderia assumir uma pasta na cota pessoal de Temer, como uma nova pasta da Infraestrutura, Educação ou Saúde. Encontros. O vice se encontrou com Meirelles no sábado, no Palácio do Jaburu. Na noite de domingo, se reuniu com Serra no mesmo local. Temer não fez convites formais aos interlocutores, o que só deve ocorrer após a análise do impeachment pelo Senado. Na conversa com Serra, os dois falaram de economia, da dificuldade financeira dos Estados e de meta fiscal. Meirelles e Serra têm visões diferentes da economia – no ano passado, o tucano chegou a classificar o ex-presidente do BC como o “pior” da história. No entanto, Meirelles goza de respeito entre analistas de mercado, dada a longa carreira no setor bancário e até por certo “traquejo político”. O ex-presidente do BC foi eleito deputado em 2002 pelo PSDB goiano, mas abdicou do cargo e da filiação tucana para assumir o BC com Lula, além de ter passagens por PMDB e PSD. Nesse quesito, Serra leva vantagem. Além de ministro, foi deputado e senador e tem experiência como chefe de Executivo na Prefeitura paulistana e no governo de São Paulo, o que pode ser fundamental para negociar reformas fundamentais para reequilibrar a economia do País. Ao mesmo tempo, o perfil centralizador e mais “intervencionista” desperta certa desconfiança entre os analistas. Economistas apontam como trunfos a favor de Meirelles um “reforço na confiança dos investidores internacionais”, um dos pontos que mais fragilizaram a presidente Dilma Rousseff. Enquanto a atual gestão descumpriu a meta da inflação no ano passado e deve repetir o feito em 2016, Meirelles só não cumpriu a meta em 2003, ainda sob efeito da especulação com a inédita vitória eleitoral de Lula. 31


Entretanto, uma lacuna considerada relevante para um futuro ministro da Fazenda no currículo de Meirelles, como lembra um economista sob anonimato, é a falta de experiência na gestão da política fiscal – provavelmente o maior desafio macroeconômico de uma eventual gestão Temer. Para compensar essa deficiência, o ex-presidente do BC precisaria contar com uma equipe competente no assunto e delegar decisões. Seria uma solução à Antonio Palocci, um político que assumiu a Fazenda cercado de nomes de excelência na economia. Em relação a Serra, o mercado tem visto com bons olhos a atuação do tucano no Senado. Costumam ser citados projetos como o que limita o teto da dívida pública e o que revê o marco regulatório do petróleo. COLABOROU LUÍSA MARTINS

Demanda por voos domésticos recua pelo oitavo mês seguido FONTE VICTOR AGUIAR – JORNAL O ESTADO DE S. PAULO 26 Abril 2016 às 11h 58

No acumulado de 2016, a demanda doméstica registra queda de 4,8%; a oferta, por sua vez, acumula retração de 3,7%

Nem mesmo os meses de alta temporada, como dezembro, janeiro e fevereiro, tiveram expansão na demanda de voos RELACIONADAS:  

Com prejuízo recorde e dívida em alta, Gol busca saídas para sobreviver à crise Demanda por voos cai pelo 7º mês consecutivo no País

A demanda doméstica por viagens aéreas recuou 7,3% em março na comparação com o mesmo mês de 2015, segundo levantamento divulgado há pouco pela Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), que reúne os dados das principais companhias aéreas brasileiras (TAM, Gol, Azul e Avianca).

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Há oito meses consecutivos o setor registra queda na demanda doméstica, com baixas que variaram de 0,6% (agosto) a 7,9% (novembro) em relação ao mesmo intervalo do ano anterior. Nem mesmo os meses de alta temporada, como dezembro (-4,92%), janeiro (-4,01%) e fevereiro (-3,03%), tiveram expansão. No acumulado de 2016, a demanda doméstica registra queda de 4,8% ante o primeiro trimestre de 2015. A oferta, por sua vez, apresentou retração de 7,5% no mês passado em relação a março de 2015. Com isso, a taxa de ocupação doméstica teve alta de 0,2 ponto porcentual (p.p.) no terceiro mês deste ano, para 77,63%. Nos três primeiros meses do ano, a oferta acumula queda de 3,7%, levando a taxa de ocupação doméstica a recuar 0,92 p.p., para 79,98%. No total, as empresas aéreas brasileiras embarcaram em março 7,2 milhões de passageiros no mercado doméstico, o que corresponde a uma queda de 6,6% ante o mesmo mês de 2015. No ano, o número de pessoas transportadas no mercado doméstico soma 23,2 milhões de passageiros, queda de 4,3% na base anual. Em termos de participação de mercado, medida pela demanda por RPK (passageiroquilômetro transportado), a TAM ficou na liderança no mercado doméstico em março, com 37,18%, superando a GOL, com 32,93%. Em seguida vem a Azul, com 18,01%, e a Avianca, com 11,89%. Internacional. No mercado internacional, a demanda caiu 0,7% em março frente ao mesmo mês de 2015, encerrando um ciclo de 24 meses de crescimento. Já a oferta recuou 3,5%, levando a taxa de ocupação a subir 2,22 pontos porcentuais, para 78,37%. No segmento internacional, a TAM ficou com 79,5% do mercado em março, enquanto a Gol ficou com 13,55%. A Azul chegou a 6,9%, enquanto a Avianca teve participação de 0,05%. No segmento, as empresas brasileiras embarcaram juntas 586 mil passageiros no mês passado, alta de 2,5%. Nos três primeiros meses de 2016, a demanda internacional cresceu 4% e a oferta teve elevação de 2,45%. A taxa de ocupação acumula alta de 1,24 ponto porcentual, para 81,58%. O total de passageiros transportados somou 1,9 milhão, expansão de 6,8% sobre o mesmo intervalo de 2015. Crise. As aéreas brasileiras estão buscando saídas para sobreviver à crise econômica pela qual o País passa. A Gol, por exemplo, reconheceu que precisa fazer uma reestruturação financeira para garantir sua sobrevivência no médio e longo prazo e contratou duas consultorias financeiras - a PJT Partners e a SkyWorks Capital, a última especializada em contratos de leasing de aeronaves - para encontrar soluções que aumentem a liquidez da empresa.

Ser ou não ser FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, NISSAN GUANAES 26/04/2016 às 02h 00

A crise não diminui a criatividade das pessoas, aumenta. A dificuldade sempre foi a mãe da invenção. A IBM era a maior empresa de computadores até antever que não poderia mais competir no mercado de computadores. Tornou-se uma empresa de tecnologia e serviços, e hoje é uma das maiores empresas de tecnologia e serviços. As coisas estão sempre evoluindo. Mas agora evoluem mais rápido. O Facebook foi de 1 milhão a 1 bilhão de usuários em nove anos. O tempo de vida médio das empresas do índice S&P 500, que reúne grandes companhias listadas na Bolsa de Nova York, caiu de 60 anos para menos de 20 anos. As novas plataformas de dados e serviços permitem a empresas pequenas e iniciantes acessar recursos antes só disponíveis a poderosos conglomerados. Softwares cada vez mais inteligentes, impressoras 3D e "crowdfunding" são algumas das inovações que deixaram o jogo 33


mais equilibrado e transformaram aquela antiga garagem de empreendedores num hub high tech. Eu nasci no Pelourinho, em Salvador, e as chances de chegar aonde cheguei eram, no máximo, mínimas. Na minha trajetória, o mais importante foi a capacidade de reinvenção. Comecei redator e ainda sou redator, mas em 1989, com a DM9, me tornei também empresário e empreendedor. Naquela época, muitas pessoas me questionavam como Davi enfrentaria Golias. Mas a questão que está posta hoje é como Golias vai enfrentar David, que agora não tem só um estilingue, mas ferramentas e sistemas capazes de lhes dar forças de gigante mantendo a agilidade e a vivacidade das pequenas estruturas. São como microgigantes, com poder absurdo de deslocamento, inovação e disrupção. A resposta certamente passa por tornar as grandes estruturas rápidas e inovadoras. Só assim redes hoteleiras, por exemplo, poderão competir com o Airbnb, que não possui um quarto sequer. A reinvenção empresarial e humana deve ser permanente. O que impulsiona a economia de mercado é a competição, e toda empresa precisa responder às mudanças do mercado para seguir viva e competitiva. Momentos de crise econômica são indutores de mudanças. Quando a maré sobe, todos os barcos sobem. Mas, para sobreviver na maré baixa, é preciso ter capacidade de adaptação, resistência e agilidade. Não adianta se enfiar numa caverna e esperar o inverno passar. A hibernação funciona para os ursos, não para as empresas. Por isso crise é boa hora para se comunicar. Você pode moderar investimento publicitário na bonança, porque todo o mundo já está comprando. Mas, quando os consumidores se retraem, é imprescindível ir atrás deles usando as oportunidades de mídia que a própria crise oferece. Até porque alguns de seus concorrentes podem não estar anunciando neste momento. E o pior perigo é não anunciar e deixar a atenção do público para a concorrência. As vendas podem ter diminuído, o crédito pode ter sumido, o caixa pode estar estressado. Mas tem algo que segue disponível e até estimulado pelo ambiente: a criatividade humana. É hora de acessá-la. Sairá melhor da crise quem souber usar o tempo da crise para evoluir. Escrevo esta coluna no sábado (23), quando a humanidade celebra 400 anos da morte de Shakespeare, um dos maiores criativos da história. Encerro com ele: "É melhor três horas adiantado que um minuto atrasado".

Privatização não é panaceia, afirma ex-diretora do FMI FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, MARIANA CARNEIRO DE SÃO PAULO 26/04/2016 às 02h00 Jefferson Dias/Valor/Folhapress

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Teresa Ter-Minassian, foi responsável por negociar, pelo FMI, socorro ao Brasil nos anos 1990

O Brasil precisará enfrentar alguns tabus se quiser voltar a crescer, diz a italiana Teresa TerMinassian, 72. Precisará rever a obrigatoriedade dos gastos em educação e saúde, reduzir –e não aumentar, como defendem empresários– o teto do Simples. Na lista, não está uma nova rodada de privatizações, saída encontrada pelo Brasil para crises do passado. Responsável por negociar, pelo FMI, socorro ao Brasil nos anos 1990, ela diz que com medidas críveis o país ficará longe do Fundo. Ter-Minassian vem ao Brasil nesta semana para discutir a situação fiscal do Brasil em seminário organizado pela FGV e FMI. Folha - Por que retirar a obrigação de gastar um percentual do PIB em saúde e educação? Teresa Ter-Minassian - Quando o crescimento do gasto está assegurado pelo crescimento do PIB, não há estímulo para, com o mesmo nível de gasto, melhorar o desempenho dos programas. É bastante raro ter esse tipo de requerimento, seja em países desenvolvidos, seja em países em desenvolvimento. Por exemplo, no Chile, a lei veda qualquer fixação desse tipo. Em outros países, como o Equador, onde havia o requerimento, a legislação foi alterada. No médio prazo, será necessário ainda reformar a administração pública.

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Que tipo de reforma? Uma nova rodada de privatizações? Privatizações não são uma panaceia. No Brasil, as privatizações dos anos 1990 funcionaram bem, mas depois podemos notar que houve uma reversão, haja vista o grau de interferência do governo nas empresas públicas, como Petrobras e Eletrobras. Melhorar a governança dessas empresas é fundamental. Para alguns economistas é inevitável aumentar impostos. Os empresários são contra, mas a população pede mais serviços públicos. Como resolver o impasse? Há muito a fazer melhorando a qualidade dos serviços públicos sem aumentar os gastos. Pode ser necessário, no curto prazo, ter um pequeno, porém não muito forte, aumento da carga tributária. Mas o que seria importante para reduzir o deficit primário é fazer os gastos acompanharem a receita. Também seria importante que medidas de aumento de arrecadação fossem acompanhadas de racionalização do sistema tributário. Um exemplo é o Simples. Foi uma boa iniciativa no princípio, mas reduzir o teto seria uma boa medida, geraria recursos e, ao mesmo tempo, eliminaria os incentivos de as empresas se manterem pequenas. Há previsões de que a dívida poderá chegar, nos próximos anos, a 90% do PIB [hoje é de 67%]. Existe risco de calote? Não é um risco de curto e médio prazo. No curto prazo pode se fazer alguma coisa, como a CPMF e cortes de gastos discricionários [voluntários], mas não é suficiente para chegar ao equilíbrio. Nos próximos dois ou três anos, será necessário ter um programa que restabeleça o superavit primários, que permitiria a redução das taxas de juros e estimularia o crescimento econômico. Mais importante do que o nível [da dívida], são as perspectivas de médio prazo. Se elas são de que a dívida vai continuar crescendo, sem inflexão, os juros não vão se reduzir, provavelmente vão continuar a aumentar, e isso cria uma situação explosiva. Existe risco de o Brasil voltar a pedir ajuda ao FMI? Tenho visto artigos que o Brasil deveria ir ao FMI para recuperar credibilidade. Eu acho que, se o governo anunciar medidas críveis nos próximos anos, não precisará de apoio do FMI, tampouco de apoio financeiro. As ajudas do Fundo são principalmente para crises de balanço de pagamentos, e o Brasil, até agora, tem bastante dinheiro nas reservas e a dívida externa não é elevada; a conta- corrente está ajustada. A limitação é interna. Não vejo problemas aí, vejo problemas de falta de crescimento. E, para resolver isso, é necessário um ajuste fiscal, que permita uma perspectiva de longo prazo, e não simplesmente viver como se está vivendo, de um dia para outro, porque isso desestimula as pessoas e as empresas a tomarem riscos e investir. As crises dos balanços de pagamentos eram recorrentes no passado. Hoje não temos essa crise, mas a recessão é mais profunda. É pior? 36


A crise de 1998/99 foi resolvida rapidamente, com pouco custo na atividade. Era mais fácil, porque estava claro que o problema fundamental era de competitividade. O governo fez um ajuste fiscal porque havia menos rigidez e havia mais espaço para subir a carga tributária. O triste é que o Brasil não aproveitou o período de vacas gordas. Os anos 2000 foram de forte crescimento mundial, havia espaço para fazer reformas que ajudariam a economia a crescer sem os gargalos que acabaram gerando inflação. RAIO-X TERESA TER-MINASSIAN, 72 FORMAÇÃO Direito na Universidade de Roma e economia em Harvard CARREIRA Banco Central da Itália (1967-78) e FMI (1971-2008), onde foi vice-diretora para o Hemisfério Ocidental e diretora do departamento de assuntos fiscais. É consultora

Um xadrez na economia Jogo político se impõe na hora de fechar a equipe econômica de Temer FONTE JORNAL O ESTADO DE S. PAULO, José Paulo Kupfer 26 Abril 2016 às 05h 00

Especulações correm soltas, mas o fato é que, pelo menos até a noite de ontem, não havia saído fumaça branca indicando que o vice-presidente, Michel Temer, teria fechado a composição da área econômica de seu provável futuro governo. Desde que, na segunda-feira da semana passada, Temer recebeu um “não” do ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, as opções vinham se afunilando em torno dos nomes do também ex-presidente do BC Henrique Meirelles e do senador tucano José Serra. Circulou que Meirelles teria condicionado a aceitação de um convite à imposição por ele de nomes para os principais postos da área econômica, mas essa versão não se sustentou e ele, como se diz nessas situações, está disponível. No caso de Serra, pesava a hesitação do PSDB, exceto do grupo do senador, em assumir o comando da política econômica, que já havia determinado a negativa de Arminio, “ministro da Fazenda” do partido, ou pelo menos da ala liderada pelo senador Aécio Neves. Uma dúvida expressa, também na semana passada, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cuja palavra entre os tucanos é quase sempre lei, relatada pela colega Sonia Racy, em sua coluna no Estado, resume a relutância do PSDB em assumir posição protagonista no novo governo: “Se o governo for mal, a culpa será do PSDB, e se for bem o mérito será do PMDB?”. Uma solução que ganhou espaço ontem, entre os relatos vazados do Palácio Jaburu, residência oficial do vice-presidente e quartel-general da “equipe de transição” do novo governo, depois de um encontro de Serra com Temer, era a da nomeação do tucano para um ministério de peso, inclusive no Orçamento federal, mas fora da área econômica, caso da Educação. A

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manobra abriria espaço para Meirelles na Fazenda e daria a Serra visibilidade suficiente a um potencial candidato à Presidência em 2018. O jogo de xadrez da montagem do ministério faz lembrar que as exigências políticas e as conveniências partidárias acabam determinando os rumos da política econômica ou pelo menos algumas de suas direções mais decisivas. Embora seja possível encontrar convergências importantes de posicionamento frente às questões econômicas entre Meirelles e Serra, eles não rezam, em tese, pela mesma cartilha. Os dois, por exemplo, comungam da preocupação com o equilíbrio fiscal, que diagnosticam entre as principais condições do crescimento econômico, com controle da inflação. Em seus artigos semanais na Folha de S. Paulo, Meirelles, recorrentemente, vincula a retomada da confiança e dos investimentos empresariais à “solvência do Estado” – ou seja, ao controle da trajetória da relação dívida/PIB. Serra é o autor do projeto, em tramitação no Congresso, que impõe limites à expansão da dívida da União. Por vias distintas, comungam da lógica dos programas de austeridade. Mas há sutilezas que os diferenciam. Meirelles, de formação financista, surfou, juntamente com o ex-presidente Lula, em cujos governos presidiu o Banco Central, na onda do boom das commodities internacionais. Com o ingresso de volumosas receitas em dólar, foi possível manter a taxa real de juros mais alta, o que valorizou a taxa de câmbio e ajudou no controle da inflação, sem produzir colapsos cambiais. Assim, obteve-se o inédito “grau de investimento das agências de classificação de riscos – mérito atribuído a Meirelles –, mas semeou-se o processo de desindustrialização de que hoje a economia padece. De origem desenvolvimentista, Serra não perdeu, ao longo do tempo, o pendor industrialista e a preocupação com a sustentação da taxa de câmbio em níveis estimulantes para a indústria. Foi a discordância em relação à política cambial mantida nos anos de consolidação do Plano Real que o levou, ainda no primeiro mandato de FHC, do Planejamento para a pasta da Saúde, onde se notabilizou como gestor público.

Antes de melhorar, piora FONTE THE ECONOMIST 26 Abril 2016 às 05h 54

Na Argentina, o novo presidente não perdeu tempo em reformar a economia. Por ora, os resultados são dolorosos Mauricio Macri está na Casa Rosada há apenas quatro meses. Para Constanza Pimentel, que, em sociedade com a mãe e um irmão, é dona de uma pequena vinícola nos arredores de Mendoza, capital da vinicultura do país, até agora o novo governo tem sido uma bênção um tanto ambígua. Com um vinhedo de 50 hectares, sua Bodega Caelum produz 70 mil garrafas de Torrontés, Malbec e outros vinhos por ano. Os últimos tempos não foram fáceis. Os controles cambiais impostos pela antecessora de Macri, Cristina Kirchner, mantiveram o peso artificialmente valorizado, inviabilizando as exportações. Em dezembro, quando Macri permitiu que o câmbio flutuasse livremente, Constanza se entusiasmou: ela quer ampliar as vendas para Estados Unidos e Reino Unido este ano. Mas, por enquanto, seus vinhos estão sendo consumidos basicamente por enófilos argentinos.

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Argentinos estão dando a Macri o benefício da dúvida

Em março, a vinícola promoveu uma alta de 12% nos preços, para acompanhar a inflação. “O vinho está se tornando um artigo de luxo”, lamenta Constanza. “Os clientes pensam duas vezes antes de colocar a mão no bolso.” Não se pode culpá-los por isso. Macri, cuja eleição pôs fim a 12 anos de governos populistas, sob o comando de Cristina e de seu marido, o falecido Néstor Kirchner, tem sido festejado no exterior. O novo presidente encerrou um impasse de 14 anos com os credores internacionais do país; em março, recebeu a visita de Barack Obama. Para a maioria dos argentinos, porém, a vida está piorando. A inflação anual aproxima-se dos 40%, segundo estimativas independentes. É a mais elevada da América Latina, depois da inflação venezuelana. O preço da carne subiu 44% em 12 meses. Estudo da Universidade Católica informa que, entre janeiro e março deste ano, 1,4 milhão de argentinos foram empurrados para baixo da linha da pobreza. Macri herdou as altas taxas de inflação. Durante o reinado de Cristina, o banco central emitia dinheiro para pagar um sem-fim de subsídios, que no ano passado chegaram a 4% do PIB. Mas as medidas que o novo presidente tomou para estabilizar a economia fizeram com que as coisas ficassem – temporariamente – piores. A livre flutuação do peso, que tem por objetivo tornar as exportações competitivas e estancar a sangria das reservas internacionais, pressionou a inflação. Mesmo efeito teve a redução dos subsídios ao consumo de eletricidade, água, gás e transporte, que contribuíram significativamente para o déficit fiscal de 5,8% do PIB em 2015. No dia 8 de abril, as passagens de ônibus e trens em Buenos Aires dobraram de preço. De dezembro até agora, o setor público dispensou quase 11 mil funcionários. A economia deve sofrer retração de 0,5% este ano. Macri advertiu os argentinos de que o remédio seria amargo, mas não avisou que causaria vertigens. Seu governo não deve cumprir a meta de inflação de 2016, fixada entre 20% e 25%, em parte porque as poderosas centrais sindicais do país reivindicam aumentos salariais da ordem de 30%. O ministro de Finanças, Alfonso Prat-Gay, agora promete que a inflação cairá no segundo semestre do ano e prevê um índice de 17% para 2017. “Estamos bastante confiantes de que conseguiremos atingir essa taxa”, afirmou Prat-Gay em 5 de abril. Confiança. Uma razão para o otimismo do ministro foi o retorno da Argentina ao mercado internacional de capitais. Em 13 de abril, uma decisão da Justiça de Nova York abriu caminho 39


para que o país pague os detentores de títulos que se recusaram a participar das rodadas anteriores de reestruturação da dívida. Com isso, após 14 anos de jejum, a Argentina emitiu na semana passada US$ 16,5 bilhões em títulos, na maior operação já realizada por país emergente. Os investidores fizeram ofertas de compra de US$ 68,6 bilhões. A maior parte dos recursos captados será destinada ao pagamento desses investidores. O restante será usado para cobrir as despesas do setor público, reduzindo a necessidade de financiar o déficit com mais inflação. A livre flutuação do peso, que tem por objetivo tornar as exportações competitivas, pressiona a inflação O governo argentino aposta que o retorno ao mercado de crédito estimulará as empresas estrangeiras a investir no país. Os sinais, por ora, são animadores. Depois que Macri tomou posse, a Dow Chemical e a American Energy Partners anunciaram investimentos conjuntos com a estatal YPF, para explorar gás e petróleo de xisto na promissora jazida de Vaca Muerta. A Coca-Cola prometeu investir US$ 1 bilhão no país ao longo dos próximos quatro anos; a italiana Fiat Chrysler disse que gastará US$ 500 milhões para modernizar sua planta em Córdoba, região central da Argentina. No entanto, é possível que a retomada dos investimentos não aconteça em ritmo acelerado o bastante para funcionar como a injeção de ânimo com que conta o governo. Maior parceiro comercial do país, o Brasil vive sua pior recessão desde os anos 30. Alguns analistas sustentam que Macri precisa se esforçar mais para restaurar a confiança. Martín Redrado, presidente do banco central argentino entre 2004 e 2010, acha que os investimentos não se recuperarão enquanto os preços não se estabilizarem. Recursos. Mesmo com o retorno ao mercado internacional de capitais, o governo terá de levantar muitos recursos com os investidores locais para pagar suas contas – ou então recorrer ao financiamento via banco central. Para reforçar a confiança, Redrado recomenda que Macri crie um “conselho de estabilidade macroeconômica”, atribuindo ao novo órgão a responsabilidade por estabelecer metas de inflação e crescimento com pelo menos dois anos de antecedência. Constanza “confia” nas boas intenções de Macri e acha que “levará algum tempo” para que a economia se recupere. O presidente aposta suas fichas na paciência de eleitores como a vinicultora. De acordo com levantamento feito em março pela consultoria Isonomía, 72% dos argentinos têm uma imagem positiva de Macri e 69% acreditam que ele conseguirá controlar a inflação. Talvez essa opinião favorável tenha sido abalada quando o nome do presidente apareceu nos “Panama Papers”, mostrando sua participação como diretor de uma empresa offshore criada por seu pai. Macri diz que nunca auferiu rendimentos da empresa e que não tem nada a esconder. A Justiça investiga o caso. Os argentinos estão dando ao presidente o benefício da dúvida. Se a inflação não recuar até o fim do ano, podem se voltar contra ele.

Políticas divergentes Dilma prefere arrancar mais impostos do contribuinte e, com isso, manter o mais alto nível das despesas públicas; Temer prefere reduzir a capacidade redistributiva do Estado FONTE JORNAL O ESTADO DE S. PAULO, Celso Ming 25 Abril 2016 às 21h 00

A presidente Dilma adverte que é preciso aumentar impostos para fechar as contas públicas. O vice-presidente, Michel Temer, por sua vez, diz a seus interlocutores que o brasileiro não aguentaria pagar mais impostos e que seria preciso centrar o ajuste no corte das despesas. 40


RELACIONADAS:  

Temer descarta recriação da CPMF e aumento de impostos se assumir Placar do Impeachment no Senado

São afirmações que apontam para políticas diferentes. Dilma prefere arrancar mais impostos do contribuinte e, com isso, manter o mais alto nível das despesas públicas. Temer, por sua vez, prefere reduzir a capacidade redistributiva do Estado. Mas o que ambos estão admitindo é que o financiamento do Estado, tal como hoje equacionado, não cabe no orçamento dos brasileiros.

Mais imposto ou menos despesa

No caso do vice-presidente, não se trata apenas de acolher o repúdio à CPMF, um imposto reconhecidamente ruim e proibido pela Constituição, porque de natureza cumulativa, ou seja, incidente em cascata, imposto sobre imposto. Trata-se da dificuldade crescente de arrecadar numa situação de redução do faturamento das empresas e de perda de renda do contribuinte. No entanto, o problema não é apenas a recessão e o desemprego que empobreceram e continuam empobrecendo o brasileiro. O problema é anterior, é a desarrumação das contas públicas produzida pela política econômica adotada nos 10 ou 12 últimos anos, que levou ao desastre de hoje. O governo contava com ovos demais de galinhas de menos. O ex-presidente Lula parece admitir, como nesta segunda-feira se viu, que uma leitura equivocada da crise externa e erros cometidos pela administração dos governos do PT precipitaram o desarranjo. Mas a presidente Dilma nem isso admite. Ela tenta convencer as mentes disponíveis de que a derrocada da economia é consequência da crise externa, o que é um despropósito, porque outros emergentes igualmente expostos à crise não estão em situação tão ruim como a do Brasil. Seja como for, o conjunto das fatias que o governo pretendeu distribuir é substancialmente maior do que o bolo produzido a cada ano. Em outras palavras, a política distributivista adotada pelos governos do PT não foi realista. A superação do problema ficaria mais fácil se a economia crescesse entre 3,0% e 4,0% ao ano. Para isso, no entanto, o investimento teria de ser de, no mínimo, 23,0% do PIB - hoje é de apenas 18%. 41


Se a solução ficasse centrada no aumento de impostos, seria necessário arrecadar pelo menos três CPMFs (cerca de R$ 120 bilhões por ano), que é o tamanho do rombo, o que decididamente é impossível. Isso significa que não haverá saída se não houver corte drástico das despesas públicas e implantação das reformas de base que se encarregassem de cortar despesas futuras. O fator que poderia facilitar o ajuste seria a retomada da confiança na condução da economia. Se o brasileiro entender que a direção a ser adotada estiver correta e que mais adiante encontrará luz no fim do túnel, até mesmo mais imposto ficará mais fácil de cobrar. CONFIRA:

Projeções Focus Desaceleração Já há melhora nas expectativas da inflação deste ano. Pela primeira vez desde janeiro, as projeções do mercado financeiro para a inflação de 2016 embicaram para abaixo dos 7,0%. É fato positivo porque os remarcadores de preços começam a apostar na convergência da inflação para o teto da meta. O fato negativo é o de que esse enfraquecimento se dá em consequência da recessão, do desemprego e da quebra de renda que reduzem o consumo e desestimulam as remarcações. Em contrapartida, os agentes econômicos continuam apostando na piora do desempenho do PIB.

Para 50% dos fabricantes de elétricos e eletrônicos, exportar é alternativa à crise FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, MARIA CRISTINA FRIAS 26/04/2016 às 03h 00

Apesar de ainda ser um setor pouco acostumado a exportações, fabricantes de elétricos e eletrônicos começam a enxergar mais o mercado internacional como principal saída para contornar a crise. 42


Metade dessas empresas mira o exterior, segundo pesquisa da Abinee (que representa o setor), feita em março. O movimento é para compensar a queda do consumo interno no Brasil no último ano, de acordo com Humberto Barbato, presidente-executivo da entidade. Em 2015, as exportações de produtos elétricos e eletrônicos chegaram a um total de US$ 5,9 bilhões (R$ 20,9 bilhões), abaixo do registrado em 2014, US$ 6,6 bilhões (R$ 23,4 bilhões). "Demissões já foram feitas. De tanto apertar o cinto, pode chegar uma hora em que as empresas não conseguirão mais respirar. Agora é o momento de aproveitar a vantagem cambial", diz Barbato. O fabricante brasileiro tem buscado conquistar mercado em países como o México, onde há perspectiva de aumento de vendas de produtos nacionais nos próximos anos. Em 2015, a produção da indústria eletroeletrônica caiu 21%. Trata-se do pior desempenho do setor desde 2002. Entre as principais soluções apontadas pelo empresariado para minorar os efeitos da crise, estão a redução de custos (81%) e a busca por novos nichos de mercado (64%). Ainda pelo levantamento, 11% das indústrias consultadas relataram outras alternativas, como automação, melhoria do processo de vendas e busca de novos clientes. CIRCUITO ENERGIZADO A queda no mercado brasileiro ajudou as fábricas da Schneider Electric no país a suprir a demanda das unidades da empresa no exterior por fontes primárias para a linha de produção. "Se nossa unidade na Colômbia comprava componentes da França, agora prefere buscá-los aqui", diz Cleber Morais, presidente da empresa para o Brasil.

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Cleber Morais, presidente no Brasil da fabricante de elétricos

"O cenário uniu a nossa capacidade de produção nacional com o câmbio competitivo para o exportador." A multinacional estima aumentar as exportações de produtos de controle industrial, equipamento de média tensão e interruptores e tomadas neste ano, sobretudo para a América Latina. 8 FÁBRICAS tem a multinacional no Brasil 3.000 FUNCIONÁRIOS trabalham na Schneider no país RELAÇÕES INTERNACIONAIS O mercado de seguros para operações internacionais de fusões e aquisições cresceu 45% em 2015, segundo relatório global da corretora e gestora de riscos Marsh. O volume total de prêmios foi de US$ 11,2 milhões (R$ 39,7 milhões) no ano passado. A tendência é que o mercado continue em alta, diz Bruna Reis, responsável pelo segmento na empresa. "O aumento vem do maior conhecimento do produto pelos investidores. Ele é relativamente novo, tem cerca de nove anos no mundo. No Brasil, são apenas dois anos." 44


Com a desvalorização do real, a procura por esse tipo de seguro para operações no país aumentou desde julho de 2015, afirma Reis. "Aqui, os maiores riscos estão nas áreas tributária e ambiental." Os fundos de private equity detiveram 56% das 450 apólices compradas, e os investidores corporativos, 44%. PESO LÍQUIDO A conta de água nos condomínios paulistas deve aumentar entre 20% e 30% a partir de maio deste ano, segundo a Lello. O motivo é a suspensão do programa de bônus da Sabesp aos prédios que economizassem água, que deverá coincidir com o reajuste de 8,4% no valor da conta. "O consumo também tende a subir com o anúncio do fim da crise hídrica, que deve provocar um relaxamento por parte dos moradores", diz Raquel Tomasini, da Lello. Dos cerca de 2.000 condomínios administrados pela empresa, 75% haviam conseguido bônus a maioria deles, com descontos de 20%. Entre fevereiro deste ano e de 2015, a queda na conta de água dos condomínios foi de 4,16%. Em 2014, a redução já havia sido de 11,25%, de acordo com dados da Aabic, entidade que reúne administradoras de condomínios. NÃO É PLANO B Seis em cada dez jovens empreendedores afirmam que não trocariam seus negócios por um emprego formal, segundo pesquisa do SPC Brasil e da CNDL (confederação de dirigentes lojistas). Entre os entrevistados, 81% se dedicam exclusivamente à sua empresa -e, dos que trabalham em outro local, 60% querem se desligar. Além disso, 83,7% dos negócios são microempresas, e 27% das companhias atuam de forma informal, sem CNPJ. A maioria delas (53%), no entanto, adota o Simples. Crédito... A Associação Comercial de São Paulo colocou em operação um serviço de acompanhamento de duplicatas, em tempo real. ...em dobro A plataforma tecnológica, que entrou em funcionamento neste mês, é disponibilizada para empreendedores e agentes financeiros.

Lava Jato oferece janela de oportunidade, diz especialista em corrupção FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, RODRIGO RUSSO DE SÃO PAULO 26/04/2016 às 02h 00

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Jorge Araújo - 29.mar.2016/Folhapress

O juiz federal Sergio Moro, que julga casos da Lava Jato

"Essa história aconteceu na Itália. Alto nível de corrupção cria insatisfação popular; em 1992, nós passávamos por grave crise econômica no país, e as pessoas notavam que os problemas da corrupção eram reais, o que gerou grande apoio das massas às investigações judiciais." Até aí, é conhecido o resumo das condições em que ocorreu a operação Mãos Limpas feito por Andrea Lorenzo Capussela, doutor em políticas concorrenciais que escreve um livro sobre a Itália e a corrupção para a Oxford University Press. Também ficam claras, nessa síntese, as semelhanças com a operação Lava Jato no contexto brasileiro, e as razões pelas quais o juiz federal Sergio Moro estudou a fundo a experiência italiana. Prevalece entre acadêmicos a opinião de que, no longo prazo, a corrupção política que os juízes italianos pretendiam combater não esmoreceu: só mudou de forma e de protagonistas, e acentuou as tensões entre os poderes políticos e o Judiciário. O que o Brasil pode aprender para evitar esse resultado? Capussela tem um ponto bastante original. Em entrevista à Folha, o italiano diz que a Lava Jato oferece uma janela de oportunidade que precisa ser aproveitada já nas próximas eleições, "antes que o velho sistema se reorganize, trazendo o equilíbrio da corrupção de volta ao normal".

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"O principal é que as investigações judiciais mostram que a corrupção é sistêmica, que o país continua funcionando com ela. Se você cria um choque, pode ir para um equilíbrio de baixa corrupção. Mas se essa janela de oportunidade não for usada, o sistema vai absorver o choque. É preciso uma coalizão política programática e plural. As próximas eleições são cruciais para o Brasil." Capussela cita o exemplo das eleições de 1994 na Itália, disputadas ainda sob o calor da Mãos Limpas e em meio ao desmoronamento dos principais partidos políticos nacionais, diretamente envolvidos no escândalo. "A oposição falhou. Foram incapazes de apresentar uma solução crível e suficientemente plural. Talvez tenham sido vistos como muito de esquerda. O resultado é que Silvio Berlusconi reorganizou o velho sistema", afirma. Foi esse fracasso na arena política, para Capussela, que permitiu a aprovação de leis enfraquecendo as regras anticorrupção e dificultando o trabalho investigativo já em meados dos anos 1990 –dois graves problemas do pós Mãos Limpas na Itália. O pesquisador ressalta que não é apenas a classe política que tem interesse em manter um sistema de alta corrupção. "Há um enorme segmento econômico de olho nos benefícios da corrupção. Vamos lembrar que a corrupção enfraquece a competição, há muitos interessados nisso", observa Capussela. Para Raffaele Asquer, pesquisador da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), há outras lições importantes para o Brasil. "É preciso uma combinação de mídia vigilante e cidadãos engajados. A opinião pública tem uma tendência de seguir adiante e voltar à 'normalidade', mas é fundamental que continuem cientes do problema depois que a fase de 'emergência' passar", avalia Asquer. Asquer pondera ainda que é preciso cuidado com a politização do tema corrupção e das próprias investigações. "Depois da eleição de Berlusconi como primeiro-ministro, e de ele mesmo ser investigado, seus apoiadores passaram a achar que os juízes estavam ultrapassando seus limites e começaram a suspeitar de suas motivações. O Judiciário perdeu o apoio público de que desfrutava em anos anteriores", avalia. Capussela sabe que a tarefa é difícil, mas alerta: "se queremos mudar, o tempo é limitado. A Itália já não consegue ter essa discussão".

PSDB deve indicar nomes para o governo de Temer, diz FHC FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, FÁBIO ZANINI EDITOR DE "PODER" e NATUZA NERY EDITORA DO PAINEL 26/04/2016 às 02h 00 Eduardo Anizelli/Folhapress

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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na sede do Instituto FHC, em São Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defende a entrada do PSDB num eventual governo Michel Temer, com indicação de cargos. Segundo ele, o partido tem "responsabilidade política" e não pode se recusar a participar. O partido está rachado: FHC coloca-se ao lado do senador José Serra, cotado para o governo, na defesa de indicação de ministros. Do outro lado está o governador Geraldo Alckmin, que advoga apenas apoio congressual. O partido tomará uma decisão no próximo dia 3. Apesar de defender o impeachment, FHC diz que a presidente Dilma não é "criminosa" e afirma que "é bom" que o PT se mantenha como força política. Otimista, diz que sua confiança de que Temer fará uma boa gestão atinge 7, numa escala de 0 a 10. "Mas sou realista também. [Temer] É o que tem".

Folha - O PSDB deve ter cargos em um governo Temer? Fernando Henrique Cardoso - Não se pode colocar o carro adiante dos bois. Temer não é presidente ainda. Sendo presidente, tem que dizer o que quer. Na situação atual, tem que pensar no país. Tem que ver qual é o núcleo fundamental do governo, decidir quais são as áreas e qual o programa.

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Esse programa do Temer, "Uma Ponte para o Futuro", tem corte liberal. O PSDB se sente confortável com ele? É mais liberal. Mas depende de que venha outro da área social. Tem que ver como eles vão equilibrar isso aí. O PSDB tem responsabilidade política pelo que está acontecendo, porque apoiou o impeachment. Então não pode simplesmente dizer não entro [no governo]. Eu sou propenso a entrar desde que as condições sejam explicitadas. Entrar como partido, indicando nomes, porque a situação do Brasil é mais grave do que aparece. Não é ruim ser sócio minoritário de um governo que não é seu, numa situação de crise? A política é um jogo arriscado. Quem está nessa tem de estar sempre preparado para sair do governo. Se não for por um certo caminho, você não tem razão para continuar. Não pode, por exemplo, interferir na Lava Jato. O senhor tem medo que algum acordão aconteça? Não acredito que haja condição de acontecer. Mas acha que vão tentar? Que vão tentar, vão. Não por ser governo do PMDB, é porque abrange tanta gente que certamente vão tentar. O PSDB deve estar disposto a dizer: "nessa eu não entro". É possível entrar num governo que promete corte de gastos, desvinculação orçamentária, talvez reduzir Bolsa Família? Não se trata de cortar, se trata de dar um sentido mais realista e eficiente aos programas. Todos os programas do Brasil padecem da falta de avaliação. Isso não é ser de esquerda nem de direita, isso é ser racional. O governo, queira ou não, não tem mais de onde tirar dinheiro. Eu nem vou discutir aumento de imposto, porque vai haver. É inevitável? Inevitável. Basta olhar as contas. Se depender de mim, o PSDB apoiaria [aumento]. Depende de qual, né? CPMF? Não sei. CPMF é muito regressivo, eu fiz e depois defendi a queda dele. Precisa ver. Se eu fosse o presidente colocaria no Ministério da Fazenda alguém que entendesse de duas coisas: política fiscal e Congresso. O sr. colocaria o Serra? O Serra é um que poderia. Mas tem vários que podem. Henrique Meirelles? O Meirelles é mais política monetária do que fiscal. Nós não temos problema cambial neste momento. O Armínio também entende [da área fiscal], o Pedro Parente, tem várias pessoas. 49


Até que ponto pode atrapalhar o fato de Temer não ter a legitimidade de ter sido eleito como cabeça de chapa? Isso é um fato. Ele tem a legitimidade democrática, porque teve tantos votos quanto a Dilma, embora muitas pessoas não saibam. Agora, como é que ele pode ter legitimidade, ser aceito? É pela realização, é pelo que fizer. Depende, em grande medida, da capacidade que tem em aglutinar. O senhor se referiu a Dilma como uma mulher honesta. Sempre. Parece justo o impeachment de uma mulher honesta? A Dilma não é criminosa. O processo é político. Com base jurídica, mas é político. Quando você perde a capacidade de agregar e de dar direção ao país, fica numa posição frágil. Infelizmente, o governo da presidente Dilma se desmilinguiu. Ela cometeu crime de responsabilidade fiscal e contra lei orçamentária, são ações concretas. O sr. foi uma espécie de primeiro-ministro de Itamar. Temer deveria ter um também? Se o Temer souber falar com o país, não precisa de primeiro-ministro nenhum. Não parece ser o perfil dele... As pessoas têm de usar a ocasião e mudar. Se o Temer fizer uma gestão satisfatória, pode disputar a reeleição em 2018? Se o povo quiser, não há o quer fazer. É bom para o PSDB? Não, o PSDB quer ir direto para o governo, mas se Temer for bom, e o Brasil quiser isso... Como o sr. vê o futuro do PT? O PT tem enraizamento, portanto ele vai permanecer. E é bom que permaneça. Erradicar o PT, criminalizar o PT não tem o meu apoio. Numa escala de 0 a 10, qual o grau de confiança de que o governo Temer vai funcionar? Sete. Quanto otimismo, hein? Eu sou otimista, pelo Brasil. Se não acreditarmos nas coisas, você não muda nada. E sou realista ao mesmo tempo. É o que tem. Não é minha escolha. A situação é essa.

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