Resenha 29 09 16

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EDITORIAIS:

Os juros, ainda um desafio Só haverá corte de juros quando o recuo da inflação for muito mais claro e houver maior segurança quanto ao ajuste das contas públicas Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, 29 Setembro 2016 às 03h03 Só haverá corte de juros quando o recuo da inflação for muito mais claro e houver maior segurança quanto ao ajuste das contas públicas: esta mensagem foi reiterada pelo Banco Central (BC) em relatório divulgado na terça-feira passada. Sem essas condições, os juros de 14,25% ao ano, um pesadelo para os empresários, serão mantidos na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 18 e 19 de outubro. Será muito difícil justificar uma decisão fora desse critério. Sem uma explicação convincente, a perda de credibilidade será inevitável, com prejuízo para a instituição e para a economia nacional. Isso ocorreu no governo da presidente Dilma Rousseff, quando a política foi afrouxada de forma voluntarista, a inflação disparou e a imagem do BC foi gravemente prejudicada. A atual diretoria tem-se mostrado, pelo menos até agora, disposta a evitar esse risco. Fontes do setor financeiro mantiveram a aposta numa redução dos juros a partir de outubro, mas o recado contido no Relatório Trimestral de Inflação é muito claro. Não há, no momento, condições para uma política mais branda. O Copom já havia apontado, na ata de sua última reunião, três fatores indispensáveis para justificar a mudança. O novo relatório contém uma análise de cada um desses fatores. O dado mais promissor, até agora, é a evolução dos preços dos alimentos, mais favorável ao consumidor. Mas a inflação, embora menor que a do ano passado, ainda resiste, e é preciso verificar se isso se deve a mecanismos inerciais. Em relação ao segundo fator há dúvidas importantes. Os sinais de desinflação ainda são inconclusivos. Não se pode dizer, por enquanto, se a taxa declinante avançará na direção da meta de 4,5% com a rapidez desejada. Um exame da inflação de serviços – um item normalmente sensível à política monetária – deixou a questão ainda aberta. A evolução dos preços tem sido mais favorável em alguns segmentos, mas faltam elementos para afirmar se essa tendência deverá espalhar-se por todo o setor de serviços e, depois, para o conjunto dos preços ao consumidor. No caso do terceiro fator ainda há importantes pontos obscuros. “Há sinais positivos em relação ao encaminhamento e à apreciação das reformas fiscais”, mas a tramitação está no início e “as incertezas quanto à aprovação e à implementação dos ajustes necessários permanecem”. Não se trata só da aprovação e da execução de medidas para o conserto das contas públicas. Trata-se também da composição das ações de ajuste fiscal e de seus “respectivos impactos sobre a inflação”. A palavra “composição” tem ficado fora da maior parte dos comentários, mas já havia aparecido na ata da última reunião do Copom. Não deve ser, portanto, um detalhe desprezível. Ao contrário: o ajuste poderá basear-se no corte e na racionalização de gastos ou, total ou parcialmente, num aumento de impostos. Os dois casos serão bem diferentes e isso afetará a qualidade do ajuste. Apesar da referência aos “sinais positivos”, as palavras seguintes impõem muita cautela. Falta, por exemplo, iniciar uma discussão séria, no Congresso, da Proposta de Emenda Constitucional 1


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