Resenha 30 07 à 01 08 2016

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Sร NTESE DE JORNAIS E REVISTAS

30 de JULHO รก 01 de AGOSTO de 2016

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Reforma da Previdência será integral aos menores de 50 anos, diz governo. Marcos Santos/USP Imagens

Proposta de reforma da Previdência deverá atingir todos os trabalhadores com menos de 50 anos

FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, VALDO CRUZ DE BRASÍLIA 31/07/2016 as 18h07

A proposta de reforma da Previdência Social deve definir que trabalhadores com até 50 anos de idade terão de aposentar com uma idade mínima de 65 anos, no caso de homens, e possivelmente de 62, para mulheres. Para quem estiver acima desta faixa etária, haverá uma regra de transição. O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) afirma que, neste período de transição, ainda será negociado de quanto deve ser o pedágio para que o trabalhador possa se aposentar, de 40% ou 50%. Ou seja, se um trabalhador estiver a um ano da aposentadoria, ele teria de esperar mais seis meses para ter o benefício. Segundo Padilha, esta regra de transição deve durar 15 anos para interromper a trajetória de crescimento elevado do deficit da Previdência, que neste ano vai checar perto dos R$ 150 bilhões.

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REFORMA DA PREVIDÊNCIA Veja últimas notícias sobre o assunto

Gaspari: Lua de mel do governo com as centrais sindicais tem data para acabar Temer quer regime único na Previdência Brasileiro quer se aposentar antes de completar 60 anos, diz Datafolha Centrais vão propor fundo para a contribuição de novos trabalhadores Auxílio-doença e aposentadoria por invalidez serão revistos pelo governo

No caso das mulheres, a ideia do governo é que, no final do período de transição, a idade de aposentádoria delas seja a mesma dos homens. Este ponto, porém, ainda está em negociação. O presidente Temer já disse ser favorável que as mulheres tenham uma pequena diferença, de dois a três anos, na idade requisitada para aposentadoria em relação à dos homens. O governo só deve enviar ao Congresso Nacional a proposta de Previdência depois do julgamento do impeachment da presidente Dilma Rousseff, previsto para começar no dia 29 de agosto e terminar no máximo no dia 2 de setembro. A expectativa é começar a discutir a medida ainda neste ano, mas a equipe de Temer sabe que sua aprovação ficará para o próximo ano. Em compensação, o governo quer encerrar o ano com a proposta de emenda constitucional que cria o teto dos gastos públicos já aprovada na Câmara e no Senado Federal. As centrais sindicais são contra uma fixação da idade mínima para a aposentadoria. O impasse com o representante dos trabalhadores fez com que o governo Temer adiasse a apresentação das propostas de reformas.

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Vale testa maior projeto de minério do mundo no sudeste do Pará FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, BRUNO VILLAS BÔAS ENVIADO ESPECIAL A CANAÃ DOS CARAJÁS (PA) 31/07/2016 as 02h30

Depois de percorrer mais de 60 quilômetros numa picape pela mata da Floresta Nacional de Carajás, no Pará, um portão de grade de ferro marca a fronteira entre a paisagem verde e uma enorme área desmatada, de terra alaranjada e poeirenta. A imagem da mina a céu aberto, na Serra Sul da floresta, ajuda a entender por que a Vale levou cinco anos para obter a licença de instalação ambiental do seu maior projeto de mineração, o S11D, orçado em US$ 14,4 bilhões. "Esse morro vai virar um buraco. No vale, lá embaixo, vai surgir uma montanha de estéril [terra e minerais não aproveitados]. A mineração é assim: impacta o ambiente de forma irreversível", diz Frederico Martins, 39, responsável no ICMBio pela conservação da floresta. A Folha esteve no S11D, em Canaã dos Carajás, sudeste do Pará, duas vezes neste mês, apesar de a Vale ter vetado o local para a imprensa, sob o argumento de estar em fase de testes. Uma das visitas foi com o ICMBio, autarquia ligada ao Ministério do Meio Ambiente. Maior projeto de minério do mundo, o S11D – sigla de bloco D do corpo geológico S11 (S de Sul) deve começar a operar até o fim do ano, com capacidade de 90 milhões de toneladas, o que vai elevar em 30% a produção de minério da Vale até 2020. Além disso, o investimento é um trunfo para competir no mercado internacional: seu minério é de alto teor de ferro (66,7%, em média), o que confere bônus ao ser vendido, e seu custo de produção será o menor da indústria de mineração global. Isso é relevante no atual contexto do mercado de minério, marcado pelo fim do ciclo das commodities, pelo excesso de oferta do produto e mesmo pela desaceleração da economia chinesa, principal cliente da Vale.

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"S11D é o projeto mais relevante para a Vale e vai contribuir para que a empresa mantenha a sua posição de destaque no mercado global de minério", diz Ivano Westin, analista de mineração e siderurgia do banco Credit Suisse. Desde a entrada da mina, onde escavadeiras vão retirar o minério e colocá-lo em correias, a reportagem percorreu a usina de beneficiamento (com suas três linhas de produção) e visitou a sala de controle, no principal mirante do empreendimento. Além de mina e usina, a Vale construiu um trecho de 101 quilômetros de ferrovia e também duplicou a estrada de ferro de Carajás. Por ela o minério vai até o terminal portuário Ponta da Madeira, em São Luís (MA), que foi ampliado para exportar a produção. Pelo balanço mais recente da Vale, as obras da mina e da usina estão 90% concluídas. Tudo é colossal. Para circular pelo projeto, é preciso seguir um carro que leva uma longa antena com bandeira no teto. Caminhões e máquinas são tão altos que seus operadores não enxergam um carro no caminho. Parte da operação está em teste, como uma empilhadeira de 70 metros de comprimento do pátio de regulação do (local de estoque provisório do minério antes do beneficiamento). Em agosto, o pátio deve receber a primeira carga de minério. MINÉRIO PARADO

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A Vale espera conseguir a licença de operação até setembro, quando completam-se seis meses desde o pedido da licença. Dentro do Ibama há dúvida se a liberação será possível dentro do prazo. Atualmente, o órgão está debruçado sobre relatórios de recente vistoria no projeto, que identificou a necessidade de cumprimento de medidas de controle ambiental como instalação de canaletas na via de acesso e estações de tratamento de esgoto. A Vale tem pressa porque, segundo o ICMBio, já tem quase 10 milhões de toneladas de minério separados na área da mina. Isso significa mais de R$ 1 bilhão parado. Tanto minério surgiu apenas de preparar a área para a cava. Segundo a mineradora, esse minério será utilizado na futura produção. E acrescenta que diversas inovações tecnológicas trouxeram benefícios ao projeto, como a mineração sem uso de caminhões e o minério sem água.

Empresas multinacionais já veem crise brasileira mais perto do fim

FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, JOANA CUNHA DE SÃO PAULO e ÁLVARO FAGUNDES EDITORADJUNTO DE "MERCADO" 01/08/2016 as 02h00

As multinacionais que atuam no Brasil começam a desenhar um cenário menos pessimista para o país. As queixas sobre economia fraca, aperto no crédito, inflação e câmbio, até pouco tempo constantes, começam a ceder espaço para os primeiros brotos de otimismo. 6


Levantamento feito a partir de teleconferências com analistas de cem multinacionais com operações no Brasil registrou comentários positivos por parte dos executivos em 52% dos casos. Pesquisa similar no início de 2015 mostrava que, na época, apenas 22% das empresas viam boas oportunidades no país. Surgem agora demonstrações de confiança em uma possível retomada, registros de altas nas vendas, benefícios derivados da maior previsibilidade no câmbio e a esperança de que o fundo do poço está mais próximo. Companhias como Apple, Philip Morris, Coca-Cola e Shell são algumas das que apostam na melhora brasileira ou já notam sinais positivos (as vendas de iPhone cresceram ao menos 10% no segundo trimestre), segundo o levantamento que analisou empresas com receitas somadas de US$ 2,7 trilhões maior que o PIB britânico, o quinto maior do mundo. "Ainda muito longe, como uma luz no fim do túnel, temos sinais de que a produção industrial pode melhorar. É a primeira vez em muito tempo que temos essa indicação no Brasil", diz Michael Barry, presidente da indústria química Quaker Chemical. A melhora também é sentida em alguns indicadores da economia, como a confiança da indústria e dos consumidores, que vêm melhorando, mas ainda estão em um patamar baixo. A previsão de analistas para a contração do PIB neste ano também perdeu força, mas ainda é de queda acentuada: 3,3%. IMPEACHMENT Os executivos de algumas empresas fizeram referência explícita à mudança de governo, com o afastamento de Dilma Rousseff e a entrada de Michel Temer. "Existe um impulso positivo no país com a transição do comando e com o retorno que recebemos de nossos clientes e revendedores", diz Ronald E. Armstrong, presidente da empresa de caminhões Paccar. Para Matthew J. White, diretor da multinacional de gases industriais Praxair, a situação política possibilitou melhoria nos mercados financeiros e no câmbio. Jim Herbert, presidente da empresa de segurança alimentar Neogen, que em abril comprou o laboratório Deoxi no Brasil, projeta crescimento de suas operações no país no próximo ano e ressalta que o real desvalorizado oferece oportunidades de aquisições baratas de empresas. "Acho que é um daqueles casos em que precisava haver um bode expiatório e havia a presidente". AVIAÇÃO Embora ainda persistam fortes críticas ao mercado brasileiro, já começam a aparecer mensagens de alento entre as empresas de aviação, que têm sofrido contínuas quedas na demanda por passagens, principalmente nas viagens de negócios. O presidente da American Airlines, Scott Kirby, estima que ainda neste ano devem começar a aparecer resultados positivos. Glen Hauenstein, presidente da Delta, relata que as receitas obtidas na América Latina no segundo trimestre registraram queda. Mas o mês de junho trouxe os primeiros resultados positivos para a região em 26 meses. 7


O PERFIL DO LEVANTAMENTO 100 companhias analisadas 62 pertencem à lista da revista "Forbes" com as 2.000 maiores empresas do mundo US$ 2,7 tri soma do faturamento delas no ano passado O valor supera o PIB do Reino Unido em 2015, o quinto maior do mundo. O do Brasil foi de US$ 1,5 trilhão 64 têm sede nos EUA

Após recado duro do BC, mercado espera inflação menor e juros mais altos Analistas diminuíram a estimativa do IPCA do ano que vem de 5,29% para 5,20%; para a Selic, a projeção para o fim de 2016 passou de 13,25% para 13,50% Fonte Fabrício de Castro, Jornal O Estado de S.Paulo 01 Agosto 2016 as 09h28  

Notícias relacionadas: Análise: ata mostra BC mais cauteloso que o mercado BC vê melhora na economia, mas ainda não vê espaço para baixar juros

BRASÍLIA - No primeiro Relatório de Mercado Focus após a divulgação da ata do encontro mais recente do Comitê de Política Monetária (Copom), o documento trouxe mudança nas previsões para o patamar da Selic (a taxa básica de juros) no fim deste ano e para a inflação do ano que vem. As projeções para a inflação do ano que vem caíram pela quarta semana consecutiva no Focus, divulgado nesta segunda-feira, 1, pelo Banco Central (BC). De acordo com o documento, a mediana para 2017 saiu de 5,29% para 5,20%. Há um mês estava em 5,43%. Para o IPCA deste ano, as estimativas ficaram congeladas em 7,21% de uma semana para outra - a taxa estava em 7,27% quatro semanas atrás.

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Mudança nas projeções ocorre após sinalizações recentes do BC de que não há espaço para redução da taxa básica no curto prazo

A mediana das projeções do mercado financeiro para a taxa Selic mudou de 13,25% para 13,50% ao ano. Há um mês, estava em 13,25% ao ano. Para o fim de 2017, o mercado seguiu projetando, pela quinta semana consecutiva, uma Selic a 11,00% ao ano. A mudança nas projeções ocorre após sinalizações recentes do BC de que não há espaço para redução da taxa básica no curto prazo. Na ata do último encontro do Copom, divulgada na semana passada, a instituição citou riscos de curto prazo para a inflação no Brasil, como a recente elevação nos preços dos alimentos, além dos períodos prolongados de inflação alta e de expectativas acima da meta, que reforçam os mecanismos de inércia. A meta de inflação deste e do próximo ano é de 4,50%, com tolerância de 2 pontos porcentuais em 2016 e de 1,5 ponto porcentual em 2017. O mesmo limite de 1,5 ponto foi determinado para 2018. A abertura dos números do relatório Focus mostra que a mediana das expectativas da inflação caminha no sentido da meta estabelecida para 2017. Desde o início de fevereiro deste ano, quando a mediana das projeções para a inflação em 2017 estava em 6,00%, as previsões de inflação para o próximo ano vêm numa trajetória de queda. Além disso, na semana passada foi a primeira vez em que os números da abertura do relatório Focus mostraram uma inflação no centro da meta de 4,5% em 2018. Crescimento econômico. As projeções do relatório Focus deixam claro que, pelo menos em 2016, a recessão econômica seguirá profunda. Pelo documento, houve leve melhora nas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) este ano, mas ainda assim o cenário é de forte retração: a mediana projetada passou de -3,27% para -3,24%. Há um mês, o mercado previa uma retração de 3,35%.

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Para 2017, o cenário é um pouco melhor, com perspectiva de PIB positivo. Ainda assim, o mercado prevê para o País um crescimento de apenas 1,10% no próximo ano, mesmo porcentual projetado há uma semana. Um mês antes, estava em 1,00%. Em junho, o Banco Central (BC) informou no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) que sua nova estimativa para o PIB deste ano é de retração de 3,3%, ante baixa de 3,5% vista na edição anterior do documento. As estimativas para a produção industrial mostraram tendências diferentes na pesquisa Focus para este e o próximo ano. Para 2016, a queda prevista seguiu em 5,95%. Já para 2017, a projeção permaneceu em alta de 0,75%. Câmbio. Em meio ao esforço do BC para reduzir sua posição vendida em contratos de swap cambial, por meio de operações diárias de swap cambial reverso, o Focus voltou a mostrar queda das estimativas para o câmbio deste ano. O documento indicou que a cotação da moeda estará em R$ 3,30 no encerramento de 2016, ante projeção de R$ 3,34 do levantamento anterior. Um mês atrás, estava em R$ 3,46. O câmbio médio de 2016 passou de R$ 3,47 para R$ 3,46 de uma semana para a outra - um mês antes, estava em R$ 3,51. Para o fim de 2017, a mediana seguiu em R$ 3,50 de uma divulgação para a outra - quatro semanas atrás estava em R$ 3,70. Já o câmbio médio do ano que vem foi de R$ 3,46 para R$ 3,45 de um levantamento para o outro - estava em R$ 3,61 um mês atrás.

Sem peças, Volkswagen para produção Fábricas enfrentam problemas com componentes da Fameq, metalúrgica de São Paulo adquirida pelo grupo Prevent e fechada na sequência Fonte Cleide Silva, Jornal O Estado de S. Paulo 01 Agosto 2016 | 05h00 Foto: Clayton de Souza/AE

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Cerca de 12 mil funcionários da Volkswagen foram dispensados temporariamente em função da falta de peças As fábricas da Volkswagen em São Bernardo do Campo e Taubaté, em São Paulo, estão com as linhas de produção paradas desde terça-feira e os cerca de 8 mil funcionários da unidade do ABC e os 4 mil do Vale do Paraíba foram dispensados do trabalho, em princípio até hoje. Mais uma vez, o problema não é a crise, que reduziu as vendas, mas a falta de peças para a montagem de veículos. Problemas similares são enfrentados pela filial de São José dos Pinhais (PR), que também parou em alguns dias da semana passada. As três fábricas tinham como fornecedor exclusivo de peças estampadas, usadas na carroceria dos automóveis, a Fameq, metalúrgica da capital paulista que atua no País há cerca de 40 anos e pertencia a um grupo brasileiro. Em dificuldades financeiras, a Fameq foi vendida em julho para o grupo de origem alemã Prevent, dono de várias autopeças no Brasil. Há uma semana, a empresa fechou as portas e demitiu 180 funcionários. Um grupo de 20 operários que tinha estabilidade será transferido para outras unidades do Prevent. Com isso, a Volkswagen – que tem uma disputa comercial com o Prevent há mais de um ano, deixou de receber os componentes da Fameq e teve de suspender a produção. “Esse fornecedor, com um relacionamento comercial sem problemas com a Volkswagen por mais de 40 anos, teve sua atuação completamente alterada ao ser adquirida pelo grupo Prevent”, afirma a montadora, em nota. Segundo a Volkswagen, a Fameq interrompeu entregas em meados de julho. Com o fim dos estoques, não teve como manter a produção dos modelos Gol, Saveiro, Voyage, up!, Fox e Golf. Compras. Desde o início de 2015, o grupo Prevent comprou 11 fábricas da Keiper, Tower Automotive, Mardel, TWB, Cavelagni e agora da Fameq em São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Elas produzem bancos, estrutura de bancos, couro, têxteis, interiores, disco de freios e peças estampadas, segundo levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Segundo a Volkswagen, desde que os problemas de abastecimento começaram, em março de 2015, as três fábricas da marca somam mais de 100 dias de paralisações nas linhas de produção. Ao todo, 90 mil carros deixaram de ser produzidos. Em maio, a montadora obteve três liminares na Justiça de São Bernardo obrigando Keiper, Mardel e Cavelagni a retomarem a entrega de peças, sob pena de multa diária de R$ 500 mil. A Fiat, em Betim (MG), também enfrentou desabastecimento e obteve liminar da Justiça local contra a Mardel e a Tower para o fornecimento imediato de estruturas metálicas. A multa diária pelo não cumprimento da decisão era de R$ 200 mil. A Fiat informou que fez acordo com o grupo. Já a Volkswagen diz que a empresa tem descumprido contratos “e reiteradamente faz solicitações de aumento de preços e pagamento injustificado de valores (sem respaldo contratual ou econômico)”. Diz também que o grupo Prevent “tem se mostrado inflexível, elencando uma série de condições (que nada tem a ver com o contrato atual) para a continuidade do fornecimento, incluindo exclusividade para os próximos projetos”. Negociata. Segundo o Dieese, o Prevent tem 51 empresas em 13 países nas áreas de autopeças, serviços, construção naval e vestuário de segurança. Embora sua sede seja em Wolfsburg, na Alemanha, a empresa pertence a um grupo de investidores da Bósnia, segundo fontes do mercado. As fontes também afirmam que a estratégia da companhia é adquirir fabricantes de um mesmo item para monopolizar a produção. 11


Nenhum porta-voz do grupo Prevent foi localizado na sexta-feira para comentar o tema. “Estamos lidando com um grupo que faz negociata, compra empresas e depois descarta os trabalhadores como bagaço de laranja”, diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres. Na quinta-feira, a entidade obteve no Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo acordo com o Prevent de pagamento das verbas rescisórias, abono de R$ 10 mil, cesta básica e assistência médica por um ano aos demitidos da Fameq. O acordo foi feito após os trabalhadores acamparem nas instalações da fábrica por cinco dias para evitar a retirada de maquinários. O diretor do sindicato, Luiz Valentim, conta que os funcionários trabalharam até sexta-feira, dia 23, sem saber do fechamento da fábrica, anunciado na segunda-feira seguinte. “Por acaso, passei em frente à fábrica no sábado e vi as máquinas sendo retiradas. Chamei reforço dos trabalhadores e ficamos acampados para evitar a saída”, diz Valentim. Eles só deixaram o local na quinta-feira, após a assinatura do acordo.

Desemprego assume estágio mais grave e atinge chefes de família Juca Varella/Folhapress

Após perder o emprego, o gráfico Valter Gonçalves dos Santos decidiu fazer um curso de refrigeração

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FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, MARIANA CARNEIRO, ANA ESTELA DE SOUSA PINTO e ÉRICA FRAGA DE SÃO PAULO 01/08/2016 as 02h00

O desemprego provocado pela recessão, que já dura dois anos, chegou a um estágio mais grave: passou a atingir os trabalhadores que respondem pela principal fonte de renda da família. Normalmente mais resistentes às intempéries do mercado, com vínculo mais longo no emprego e experiência, esses trabalhadores já não estão mais sendo poupados. Chefes de família (homens ou mulheres) respondem por 45% dos funcionários com mais de dois anos na mesma empresa, segundo o IBGE. Foi esse justamente o grupo mais afetado pelo desemprego no ano passado, representando cerca de um terço das demissões, segundo levantamento do economista Sérgio Firpo, do Insper. Pior marca desde 2002, o número é ainda mais negativo do que o de outras crises, como em 2003 e 2009. A taxa de desemprego dos chefes de família subiu 72%, de 3,53% dos trabalhadores no início da recessão, em meados de 2014, para 6,07% no primeiro trimestre de 2016. DANO DURADOURO O fenômeno deve ter consequências profundas nas famílias e nas empresas mesmo após a crise, dizem economistas. A perda da principal renda da família empurra para o mercado de trabalho os demais integrantes, muitos deles filhos com idade entre 14 e 17 anos, que passam a dividir horas de estudo com a busca por trabalho. O risco é que esses jovens reduzam suas chances de melhores empregos e salários no futuro, o que pode comprometer seu progresso econômico e afetar o crescimento do país no longo prazo. É essa uma das preocupações do metalúrgico Ricardo Lopes de Oliveira, 45, demitido depois de 23 anos de trabalho na fabricante de autopeças Autometal. Sem perspectivas de se reempregar com salário equivalente ao que tinha, ele reuniu a mulher e as duas filhas, de 11 e 15 anos, para planejar as contas até o final do ano. "As meninas sugeriram passar a vender trufas", diz o operador de máquina, cuja mulher, fora do mercado há mais de dez anos, também vai procurar emprego agora. Oliveira espera conseguir uma vaga até o fim do ano, para não tirar as meninas da escola particular. "Vou ter que fazer um curso para me atualizar. A máquina que eu operava era muito velha." Para as empresas, a saída desses funcionários também é má notícia que pode perdurar. "Esse trabalhador domina a tecnologia utilizada pela empresa e é mais produtivo naquele ambiente. Quando sai, é uma perda que não aparece na contabilidade, um custo invisível de perda de capital humano", afirma Hélio Zylberztajn, da USP. 13


PERDA Segundo Firpo, os desligamentos de trabalhadores com vínculos mais longos podem significar perda de conhecimento para as empresas e para os funcionários. "O empregador terá que treinar outra pessoa, e o trabalhador vê pouca utilidade nas habilidades adquiridas na firma." O gráfico Valter Gonçalves dos Santos, 50, demitido com outros 274 funcionários em dezembro do ano passado, já deu o primeiro passo para mudar de atividade. Na Prol Editora, que o dispensou, ele foi operador de impressora rotativa por sete anos e oito meses. Agora faz um curso de refrigeração e, em seguida, quer se especializar em arcondicionado. Sem recursos para pagar o curso, está sendo ajudado por um de seus filhos, que custeia a mensalidade de R$ 315. A última parcela do seguro-desemprego, 60% menor que o salário anterior, já venceu. "Minha mulher começou a trabalhar como merendeira em meio período, por R$ 600. Só de aluguel, gastamos R$ 1.000. Só não está pior porque meus filhos estão segurando as contas", diz Valter, pai de três jovens de 29, 27 e 21 anos. ONDE ESTÁ O DESEMPREGO? Variação da população, ante o mesmo período do ano passado, em % Emprego com carteira assinada -4,10 Emprego sem carteira assinada 0,2 Trabalhador doméstico 3,7 Empregado do setor público --1,3 Empregador -7,30 Trabalhador por conta própria 3,90 Fonte: Pnadc/IBGE – pesquisa relativa ao trimestre abr-mai-jun de 2016 Confira mais infográficos da Folha MAU SINAL O diretor da CNI (Confederação Nacional da Indústria) Renato da Fonseca afirma que é um mau sinal olhando à frente quando as empresas chegam ao ponto de fazer demissões em massa. Sobretudo de funcionários com mais experiência. "Significa que o empresário segurou ao máximo as demissões e decidiu desligar funcionários que, com a produção escassa, estavam sendo deslocados para outras atividades, como manutenção. Isso indica que a retomada, quando vier, será lenta."

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ENTENDA Série discute os efeitos da recessão Esta é a terceira reportagem da série "Marcas da Crise", que discute os impactos da atual recessão, talvez a mais profunda da história do país. Alguns dos efeitos desta crise podem durar muito tempo, afetando a capacidade de reação da economia, mesmo passado o pior momento da contração econômica brasileira.

Aplicativo de táxi adota modelo Uber e vai aceitar motorista particular em SP Zanone Fraissat-10.fev.2014/Folhapress

O empresário Paulo Veras, dono da empresa 99táxis, que passará a aceitar motorista particular

FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, GIBA BERGAMIM JR. DE SÃO PAULO 01/08/2016 as 10h30

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Líder no mercado de aplicativos para táxi, a empresa 99táxis passará a aceitar motoristas particulares, somente em São Paulo, ampliando a polêmica que coloca taxistas de um lado e plataformas como o Uber de outro. A nova modalidade deve passar a valer a partir de 31 de agosto, mas a seleção de novos motoristas será anunciada nesta segunda-feira (1°). A empresa também vai incentivar taxistas a atuarem na modalidade particular. Para o passageiro, neste caso, a vantagem será pagar uma tarifa mais barata mas dentro de um táxi, que está liberado pela prefeitura para circular por corredores e faixas exclusivas de ônibus da cidade. Para o taxista, o lucro será menor por viagem, mas, segundo a empresa, no entanto, a vantagem será a possibilidade de ampliar o número de viagens. Sindicatos de taxistas tentam derrubar na Justiça o decreto do prefeito Fernando Haddad (PT) que regulamentou os aplicativos como o Uber, em maio passado. Para os taxistas, que fizeram uma série de protestos contra a medida, motoristas particulares por aplicativo fazem concorrência desleal, por atuarem sem necessidade de alvará e sem pagar as mesmas taxas e licenças pagas por taxistas. Na prática, agora, no caso da empresa 99táxis, o aplicativo que atuava até então apenas com taxistas passará a aceitar seus rivais diretos. Com cerca de 35 mil taxistas cadastrados, a empresa calcula ter domínio de 60% do mercado de aplicativos de táxi na cidade. Em todo o país, são 150 mil cadastrados. O aplicativo originalmente criado para táxis agora atuará como concorrente direto de aplicativos como Uber e Cabify, porém com a vantagem de atuar nas duas plataformas. Antes da 99, o aplicativo Easytaxi, que é menor, já passou a aceitar não-taxistas.

"Somos uma empresa de tecnologia. Seria ruim da nossa parte ignorar que houve uma mudança e que o mercado é outro. A gente precisa atender essas novas demandas", disse Pedro Somma, diretor de relações institucionais da 99. Inicialmente, a 99 irá abrir apenas mil vagas para novos motoristas particulares, com carros de placa cinza. 16


Para ser selecionado, o motorista terá que passar por entrevistas feitas pessoalmente e ser submetido a checagem de antecedentes criminais, além de teste de direção. O carro poderá ter, no máximo, cinco anos de uso, seguro de acidentes para passageiros e passará por vistoria. No processo seletivo, motoristas com condutax (licença para dirigir táxi) serão priorizados como critério de desempate. Em São Paulo desde 2014, o Uber desconta dos motoristas de 20% a 25% do valor de cada viagem. Atualmente, para concorrer a uma vaga de motorista no aplicativo basta apresentar a carteira de habilitação para atividade remunerada e os documentos do carro, com até oito anos de uso. No Uber, não há entrevistas, testes nem vistoria nos carros. MIGRAÇÃO Quando esse novo modelo começar a operar, os mil novos motoristas serão os primeiros a serem acionados pelos passageiros por meio do botão POP (nome do modelo voltado a carros particulares). Se todos estiverem em viagem, o aplicativo, então, acionará os táxis disponíveis para atender na modalidade POP. Para o passageiro, pouca coisa mudará. Além dos botões que oferecem as modalidades táxi branco e táxi preto (com carros mais luxuosos e, portanto, mais caros), haverá o terceiro botão. A empresa busca atrair, por exemplo motoristas de frota de táxi, que pagam uma diária variável entre R$ 100 e R$ 170, dependendo da empresa. A intenção é fazer esses motoristas migrarem para a nova modalidade, com carros próprios. "Para o taxista que não tem alvará é a oportunidade dele não pagar a diária e poder trabalhar com transporte individual. Para o dono de alvará, é uma opção boa para fazer mais corridas", disse Somma. A 99 cobra R$ 2 por viagem de cada motorista, porém, não sabe ainda qual será o desconto na modalidade particular. "O desconto será menor do que o feito pelos aplicativos do mercado", afirma o executivo.

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Dólar sobe com ação do BC e fraqueza do petróleo; Bolsa recua

FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EULINA OLIVEIRA DE SÃO PAULO 01/08/2016 as 12h37

A fraqueza nos preços do petróleo e mais uma ação do Banco Central no câmbio impulsionam o dólar ante o real neste primeiro pregão de agosto. A moeda americana é negociada na casa dos R$ 3,26. O Ibovespa opera em baixa, pressionado pelos papéis da Petrobras. Investidores aproveitam ainda para embolsar os ganhos das últimas sessões, depois de o principal índice da Bolsa paulista ter subido 11,22% em julho. Os juros futuros têm queda mais acentuada nos contratos mais longos, enquanto o CDS (credit default swap) brasileiro, indicador de percepção de risco, recua. Neste mês de agosto, os investidores monitoram a volta das atividades no Congresso Nacional, após o recesso parlamentar. "O noticiário político volta ao radar, com votações importantes já agendadas", escreve a equipe de análise da Lerosa Investimentos. A Lerosa destaca que, além da governabilidade do governo Temer, as variações no Ibovespa tendem a acompanhar dois eventos importantes neste mês, que são as votações dos processos de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff e de cassação do expresidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ). DÓLAR A moeda americana à vista subia há pouco 0,56%, a R$ 3,2606; o dólar comercial avançava 0,58%, a R$ 3,2630. Além dos baixos preços do petróleo, que pressiona moedas de países emergentes, como o Brasil, o câmbio reage a mais uma atuação do Banco Central no mercado. 18


DÓLAR Saiba mais sobre a moeda americana

Entenda as diferenças entre os tipos de dólar Conheça as estratégias do governo para conter a alta do dólar e alcançar o 'câmbio ideal' Veja como investir em moedas estrangeiras Confira a cotação do dólar e outras moedas

O BC leiloou nesta manhã mais 10.000 contratos de swap cambial reverso, equivalentes à compra futura de dólares, no montante de US$ 500 milhões. O estoque de swap cambial tradicional, que corresponde à venda de dólares no futuro, da autoridade monetária caiu para US$ 52,1 bilhões. No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2017 subia de 13,975% para 13,980%; o contrato de DI para janeiro de 2018 recuava de 12,830% para 12,810%; o DI para janeiro de 2021 caía de 11,980% para 11,930%. O Boletim Focus, consulta do BC com economistas e instituições financeiras, mostrou que a previsão para a inflação neste ano se manteve em 7,21%, enquanto para 2017 a projeção recuou de 5,29% para 5,20%, abaixo da meta definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), que é 4,5% com 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Para 2018, a inflação estimada é de 4,5%. A projeção para a taxa básica de juros no fim deste ano subiu de 13,25% para 13,50%. Para 2017, foi mantida em 11%. O CDS, espécie de seguro contra calote, caía 0,39%, aos 290,036 pontos. BOLSA O Ibovespa caía 0,37%, aos 57.088,89 pontos, em meio à realização de lucros. As ações da Petrobras perdiam 2,61%, a R$ 11,56 (PN), e 4,13%, a R$ 13,43 (ON).

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O petróleo Brent, negociado em Londres, recua pela quarta sessão seguida, com as preocupações relacionadas ao excesso de oferta. Há pouco, perdia 0,73%, a US$ 42,15 o barril; o petróleo tipo WTI, negociado em Nova York, caía 3,20%, a US$ 40,27 o barril. Os papéis PNA da Vale ganhavam 0,79%, a R$ 15,13, mas os ON recuavam 0,27%, a R$ 18,45 (ON). No setor financeiro, Itaú Unibanco PN caía 0,38%; Bradesco PN, +1,02%; Bradesco ON, +0,34%; Banco do Brasil ON, -0,28%; Santander unit, -1,91%; e BM&FBovespa ON, -1,57%. EXTERIOR Na Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 ganhava 0,12%; o Dow Jones, +0,15%; e o Nasdaq, +0,68%. Os baixos preços do petróleo pressionavam os papéis do setor de energia, o que era compensado pela alta das ações do setor de biotecnologia. Na Europa, a Bolsa de Londres caía 0,32%; Paris, -0,64%; Frankfurt, -0,14%; Madri, -0,69%; e Milão, -1,49%. O setor financeiro recuava, pressionado pelo mau desempenho dos bancos italianos no teste de estresse dos bancos europeus, divulgado na sexta-feira (29). O teste analisou como os bancos poderiam suportar um choque econômico teórico de três anos Na Ásia, as Bolsas chinesas recuaram. A atividade do setor industrial na China surpreendentemente encolheu em julho, o que reforçou os receios de que a economia do país pode estar perdendo ritmo. Já o índice japonês Nikkei ganhou 0,40%.

Porta de entrada’ para investidor, fundo simples perde rentabilidade com taxas BB e Caixa já computam, juntos, 260 mil investidores na aplicação; para especialistas, investir diretamente no Tesouro é mais indicado Fonte Hugo Passarelli, Jornal O Estado de S.Paulo 01 Agosto 2016 as 05h00  

Notícias relacionadas: Como investir em títulos do governo em cinco passos Investidor pagou R$ 4 bi em taxas no ano passado

SÃO PAULO - Com menos de um ano no mercado, os fundos de investimentos simples conquistaram, só em bancos públicos, 260 mil brasileiros. O apelo é investir no Tesouro Direto sem a preocupação de ter de escolher o título mais adequado. A comodidade é válida para quem está dando os primeiros passos no universo dos investimentos, mas tem um preço: as taxas de administração podem superar 2% e corroem parte da rentabilidade. O produto foi lançado em outubro do ano passado, quando a instrução 555 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) mudou a classificação dos fundos de investimentos e criou uma categoria específica para os iniciantes. “A mudança dos nomes veio para facilitar o entendimento dos investidores”, afirma Carlos Ambrósio, vice-presidente da Anbima. A partir da instrução da CVM, alguns bancos e gestoras procuraram readequar os produtos já existentes, enquanto Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal lançaram novos fundos para aproveitar a mudança de regulamentação. A Caixa ainda adaptou outro fundo ao guarda-chuva do simples. 20


O BB atingiu na semana passada a marca de 100 mil cotistas. A Caixa possui, em seus dois fundos simples, o total de 160 mil aplicadores. Para efeito de comparação, o número de investidores nos dois bancos públicos atingiu em apenas nove meses o equivalente a pouco mais de 30% do total de pessoas hoje cadastradas no Tesouro Direto, que está em funcionamento desde 2002. Foto: Infográficos/Estadão

O acesso é simplificado: é possível comprar uma cota pelo internet banking ou aplicativo de celular. O investimento inicial é baixo e parte de R$ 50. As duas características, no entanto, são acompanhadas de elevado conservadorismo na escolha dos títulos e pouca chance de ir além da remuneração da Selic, a taxa básica de juros. Isso porque o fundo simples é obrigado a investir, no mínimo, 95% do capital em títulos do Tesouro. O restante pode ser aplicado livremente em produtos privados que tenham nível de risco semelhante, como os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). “No fim das contas, esses fundos acabam mantendo uma rentabilidade bastante próxima à da poupança”, afirma o professor da faculdade Fipecafi, George Willrich Sales. A proximidade com a poupança é lembrada pelos próprios bancos, que apresentam o produto como um primeiro passo dentro da educação financeira para quem pretende sair da caderneta. No primeiro semestre, a poupança registrou saques de R$ 42,6 bilhões, segundo dados do Banco Central. Para Jorge Augustowski, diretor executivo de economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), esses produtos podem ser uma alternativa aos investidores menos experientes, mas é preciso ter em mente que não há como esperar retornos extraordinários. “Vale sempre o alerta: com baixo risco e baixa volatilidade, normalmente a rentabilidade também é baixa”, afirma.

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Os custos dos fundos simples incluem a taxa de administração. O BB cobra 1,95% ao ano para gerir os recursos e a Caixa, 1,5% para o fundo mais novo e 2% para o “migrado”. Também há cobrança de Imposto de Renda. As alíquotas vão de 15% a 22,5% e são regressivas. Ou seja, o investidor paga menos imposto se demorar mais para resgatar o dinheiro. Com todas as contas feitas, Augustowski destaca que aplicar sem a intermediação de fundos no Tesouro Direto acaba sendo mais vantajoso. “É preciso, contudo, um pouco mais de informação e entendimento sobre como funcionam os títulos públicos”, destaca. Vale a ressalva que, mesmo assim, será preciso abrir uma conta em uma instituição financeira para ter acesso ao título. No site do Tesouro Direto é possível comparar as taxas cobradas pelos chamados agentes de custódia. Atualmente, quatro fazem o serviço sem onerar o consumidor. Os outros três grandes bancos privados de varejo – Itaú, Bradesco e Santander – também têm fundos simples na prateleira, assim como gestoras de investimento. A participação de investidores nessas instituições, no entanto, é bem mais discreta. O Santander, por exemplo, contabiliza hoje pouco mais de 500 cotistas com recursos no fundo simples. Procurado, o Itaú não retornou os pedidos de entrevista. O Bradesco não informou o número de cotistas em seus dois fundos. Ao todo, são apenas 11 fundos “genuinamente” simples à venda, de acordo com dados da Anbima. Desde a mudança na classificação dos fundos, a entidade trabalha para sanear o cadastro dessas aplicações. Na migração, muitos bancos e gestores classificaram seus produtos erroneamente e agora há um trabalho de checagem para enquadrá-los nas categorias corretas. Mesmo com a elevada aposta no conservadorismo dos fundos de investimento simples, alguns deles são destinados à alta renda. No BNP Paribas, a aplicação inicial para este produto é de R$ 25 mil. Em contrapartida, a taxa de administração é inferior à praticada pelos bancos de varejo: 0,22% ao ano.

Airbnb começa a mirar em quem viaja a negócios, o arroz com feijão dos hotéis Um em três turistas em 2015 usou acomodações privadas, contra um em dez em 2011; 31% dos viajantes que se serviram do Airbnb nos últimos dois anos o usaram a negócios Fonte Elaine Glusac, Jornal The New York Times 01 Agosto 2016 | 11h06 Notícia relacionada:  Aplicativos como Uber e Airbnb aumentaram em 15% renda mensal dos americanos

Desde que o Airbnb entrou no setor de estadia em 2008, o setor hoteleiro abriu os olhos com cautela, observando sua popularidade entre os viajantes jovens. Apesar de ser um ano forte para os hotéis ocupação e tarifas quebraram recordes em 2015, segundo o instituto de pesquisa STR –, a ansiedade pode estar se infiltrando nas suítes corporativas. 22


A maior rede de compartilhamento de residências, com mais de dois milhões de anúncios em âmbito mundial, o Airbnb está começando a mirar em quem viaja a negócios, o arroz com feijão dos hotéis. Foto: Pixabay

A maior rede de compartilhamento de residências está começando a mirar em quem viaja a negócios

A Phocuswright, firma de pesquisa de viagem, observou que um em três turistas em 2015 usou acomodações privadas, contra um em dez em 2011, e que 31% dos viajantes que se serviram do Airbnb nos últimos dois anos o usaram a negócios. "Este é o evento mais desafiador na história do setor hoteleiro do que qualquer outra coisa", diz Bjorn Hanson, professor clínico do Centro Preston Robert Tisch para Hospitalidade, Turismo e Gestão Esportiva da Universidade de Nova York. Como – e se – os hotéis estão reagindo à concorrência é uma questão de debate. Somente a AccorHotels, a companhia hoteleira francesa cujas marcas incluem Sofitel e Raffles, investiu diretamente na economia compartilhada, ao comprar o Onefinestay, serviço londrino de compartilhamento de casa que se concentra no mercado mais refinado. "Existem coisas acontecendo nas empresas hoteleiras tradicionais que estão sendo aceleradas em relação ao Airbnb, e que têm menos uniformidade. Dez anos atrás, em um hotel em Honolulu e em Nova York, a arte e a decoração podiam ser idênticas. Nós vimos marcas reconhecendo que os hóspedes querem uma experiência mais genuína e um lugar que reflita mais a cultura local", diz Hanson. Os administradores de hotéis afirmam ter notado mudanças nas preferências dos clientes, resultando em marcas mais voltadas ao social, ambientes caseiros e aplicativos mais funcionais.

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Novas marcas. As redes hoteleiras ampliaram suas carteiras acrescentando marcas criadas para atrair viajantes da geração do milênio e quem deseja menos serviço e mais conectividade - tanto em termos de tecnologia quanto de espaço compartilhado. "A forma pela qual este consumidor gosta de viajar não é passando tempo no quarto, mas com acesso a espaços comunitários", afirma Tina Edmundson, diretora mundial das marcas de luxo e estilo de vida da Marriott International, que acabou de inaugurar o Moxy New Orleans, o segundo hotel Moxy nos Estados Unidos. Os quartos do Moxy (a partir de US$ 69) são compactos, a entrada é sem chave, conectada por um aplicativo no smartphone. O saguão tem bar com serviço completo, comida pronta, jogos e muitas tomadas para carregar equipamentos eletrônicos. A nova marca do Hyatt Hotels & Resorts, Hyatt Centric, está testando abordagens inovadoras para coisas como serviço de quarto. Em três hotéis experimentais, os hóspedes podem fazer pedidos nos restaurantes do hotel, um cardápio expresso de sanduíches e saladas entregues em 20 minutos, ou por meio do serviço de entregas GrubHub e ter a refeição debitada na conta do quarto. Os gerentes capacitam os empregados a se conectar aos hóspedes de forma mais casual, oferecendo dicas sobre o local, não muito diferente de um anfitrião do Airbnb. Design residencial. Se o seu próximo hotel parecer uma casa, talvez você deva agradecer ao compartilhamento de casas. Elizabeth Lowrey, diretora executiva e diretora de arquitetura de interiores da Elkus Manfredi Architects, trabalhou recentemente nos novos hotéis Aloft e Verb, em Boston. "As pessoas que escolhem o Airbnb estão procurando uma experiência íntima, não fabricada em série. Elas querem estar envolvidas no tecido de uma comunidade, em que possam sentir a singularidade do lugar", ela escreveu por e-mail. "Seu desejo por autenticidade está impulsionando o design da hospitalidade de hoje em dia cada hotel deve contar uma história; ele deve ser um lugar com contexto, refletindo seu bairro e sua comunidade", acrescentou. Um exemplo adequado é o Roost Apartment Hotel, marca para estadias prolongadas com dois endereços na Filadélfia com apartamentos com cozinhas que parecem ter sido decoradas pelo anfitrião mais descolado do Airbnb, incluindo obras de arte originais e móveis modernistas. Os hóspedes, porém, tem acesso à recepção e a uma academia de ginástica. "Acho que a geração mais jovem não quer quatro pessoas para pegar suas malas no meio-fio e depois ter de dar gorjeta para elas", afirma Randall T. Cook, diretor executivo e fundador do Roost. "Eles preferem estar em um bairro bacana com quartos maiores, mais espaço, talvez com uma cozinha que lhes faça sentir como é residir em San Francisco ou Chicago." Plugado no local. O Airbnb oferece uma experiência on-line fascinante. Por certo, você precisa gastar uma boa quantidade de tempo procurando os quartos certos, mas seus mapas e fotos do destino ajudam a vender o serviço. Da mesma forma, alguns hotéis aprimoraram seus aplicativos, concentrando-se em conectar os hóspedes à cidade. A Porter & Sail, desenvolvedor de aplicativos nova-iorquino, abriu no ano passado e agora tem 42 clientes, incluindo o Soho Beach House, em Miami, onde criou um guia escrito por jornalistas locais especializados em comida, arte e moda. O aplicativo também funciona como recepção, permitindo aos hóspedes fazer reservas no restaurante e chamar o Uber. "Geralmente, nossa clientela é formada por pessoas que querem ser deixadas em paz, não uma recepção que não lhes dá folga perguntando o que desejam fazer", conta Alena Sarduy, gerente de reservas no Soho Beach House, onde 79 por cento dos hóspedes baixaram o aplicativo. 24


Frugalidade é legal. Se o compartilhamento de casas fez da frugalidade uma virtude, ele claramente abriu caminho para marcas econômicas. "O Airbnb criou uma nova oportunidade para alguns dos melhores operadores de albergues de qualidade, que são o meio caminho entre o Airbnb e um hotel para tirar proveito de um novo estilo de hotel", declara Hanson, da Universidade de Nova York. O Green Rooms, organização sem fins lucrativos de Londres, representa uma nova categoria de albergue, com quartos particulares, apartamentos e dormitórios (as tarifas começam em diárias a 18 libras). Ele tem parcerias com organizações londrinas de artes e teatros para abrigar artistas visitantes. Nick Hartwright, o fundador, ressalta as interações sociais que podem ocorrer no bar, na galeria, no restaurante ou em eventos culturais. "Isso não acontece quando se aluga um quarto na casa de uma pessoa. Por mais bonito que seja, você logo estará se isolando", escreveu ele em um e-mail.

Renegociação faz calote no financiamento imobiliário recuar Rivaldo Gomes - 5.jun.2016/Folhapress

Feirão da Casa Própria da Caixa passou a incluir a renegociação de dívidas imobiliárias

FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, DANIELLE BRANT DE SÃO PAULO 01/08/2016 as 02h00

O aumento do número de clientes em busca de renegociação das prestações atrasadas da casa própria e uma maior disposição dos bancos em ouvir as propostas melhoraram os indicadores de inadimplência do mercado imobiliário no primeiro semestre deste ano.

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O calote, medido por dívidas em atraso há mais de 90 dias no financiamento imobiliário, recuou para 1,7% em junho, após se manter em 2,1% de janeiro a maio, de acordo com o Banco Central. Já o índice de atraso entre 15 e 90 dias retrocedeu do pico de 9,25% em outubro do ano passado para 8,76%. A melhora é atribuída por especialistas não só a uma maior predisposição dos bancos a renegociar as prestações atrasadas, mas também ao aumento dos imóveis retomados pelas instituições no ano passado devido à falta de pagamento dos clientes. O número de residências levadas a leilão pela Caixa -principal nome do mercado- subiu 53,8% em 2015 na comparação com o ano anterior. A Caixa detém 66,9% do mercado de crédito imobiliário. Ao ver que a possibilidade de perder a casa própria é real, mais mutuários correm para quitar suas pendências, mesmo que tenham que recorrer à ajuda da família, afirma Marcelo Prata, presidente do site de comparação Canal do Crédito. RESERVA Eles foram ajudados por uma maior propensão dos bancos a negociar as dívidas. Entre os cinco maiores bancos de varejo do país, porém, o assunto é tratado com reserva. O único a se estender no tema entre os procurados pelaFolha foi o Santander. A reportagem apurou que as instituições evitam abordar o assunto para não "estimular" a renegociação da parte de clientes que teriam condições de arcar com as prestações. Outro entrave é que o financiamento imobiliário é a última dívida que o cliente costuma deixar de pagar. Quando isso ocorre, o banco considera que é pequena a possibilidade de que ele consiga acertar as contas. AUMENTO No Santander, as renegociações aumentaram em 50% até junho na comparação com o mesmo período de 2015, afirma Gilberto Abreu, diretor-executivo de negócios imobiliários. "A gente tem visto clientes que compraram o imóvel e têm dificuldade de pagar a parcela", diz Abreu. "Micro e pequenos empresários que fecharam as portas de seus comércios, pessoas que perderam o emprego, um dos membros do casal que perde o emprego e compromete a renda familiar." A Caixa não informou se houve aumentos nos pedidos de renegociação. A Folha apurou, porém, que a renegociação de financiamento imobiliário cresceu 3% nos últimos 12 meses até junho. O Itaú Unibanco, segundo maior em crédito imobiliário do país, não revela se houve aumento da renegociação, apenas que oferece a possibilidade há pelo menos uma década. O Banco do Brasil, o terceiro na lista, não quis se pronunciar sobre o assunto. O Bradesco informou não ter observado aumento de demanda para renegociação de dívida de crédito imobiliário.

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"Casos pontuais são tratados visando encontrar a alternativa mais adequada para que o cliente continue adimplente, salientando que os índices de inadimplência da carteira vêm se mantendo estáveis", afirmou a instituição, em comunicado. ALTERNATIVAS O cliente que quer renegociar a dívida deve, em primeiro lugar, verificar se tem recursos disponíveis no FGTS. Se tiver, pode usar o dinheiro para abater prestações do financiamento atrasadas. Se não houver recursos, o mutuário vai depender da boa vontade do banco e das opções oferecidas. Uma alternativa oferecida por Itaú, Caixa e Santander é a chamada incorporação, em que as prestações atrasadas são recalculadas no saldo devedor. Neste caso, a taxa de juros e o prazo do contrato não mudam. O problema é que as próximas parcelas ficam mais caras. Para o mutuário que está com o orçamento apertado, isso poderia atrapalhar o pagamento. Outra possibilidade é o alongamento do prazo. Neste caso, o tempo que já passou é descontado, e um novo contrato é feito. A consequência é que a parcela cai, mas será preciso aditar o contrato, com custos. Itaú Unibanco e Santander têm a opção. O Santander oferece ainda a carência, em que o cliente fica seis meses sem pagar o financiamento imobiliário e prioriza a quitação de outras dívidas. Depois desse período, o banco aplica uma combinação da incorporação com o alongamento do prazo para facilitar o pagamento das prestações. Em geral, as opções são oferecidas para o cliente que tem até três parcelas em atraso. VEJA FORMAS DE RENEGOCIAR DÍVIDAS DE IMÓVEIS FGTS Cliente pode utilizar os recursos do FGTS para abater parcelas do financiamento Alongamento Banco pode estende o prazo que falta para encerrar o contrato; isso ajuda a diluir as prestações, barateando as parcelas Incorporação Parcelas em atraso e seus encargos podem ser incorporados ao restante do financiamento; isso ajuda no momento, mas encarece o restante das prestações Carência Há bancos que oferecem ao cliente deixar de pagar as prestações por alguns meses para diminuir o endividamento; depois, é aplicada uma combinação de alongamento e incorporação para quitar a dívida

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Fontes: Banco Central, Caixa Econômica Federal e bancos Confira mais infográficos da Folha VENDA O cliente que percebe que não conseguirá pagar o financiamento deveria deixar a emoção de lado e tomar a iniciativa de vender o imóvel, afirma Marcelo Prata, do Canal do Crédito. Desta forma, conseguiria quitar a dívida com o banco e, talvez, sobre um pouco para dar de entrada em um futuro imóvel. "Se a pessoa está atrasando e passando de 90 dias, tem que assumir logo o problema. Quem perde o imóvel nunca mais financia, porque fica registrado no BC que teve imóvel retomado", afirma. "Vender o imóvel antes de ser retomado não é vergonha, é estratégia", acrescenta Prata.

Empresariado argentino teme 'invasão brasileira' com governo de Macri

FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, LUCIANA DYNIEWICZ DE BUENOS AIRES 31/07/2016 as 02h00

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Se empresários brasileiros reclamam ao governo interino de Michel Temer de dificuldades para vender no mercado argentino, na Argentina empresários se queixam da abertura comercial aos produtos importados, principalmente do Brasil. Acostumada com o protecionismo do governo de Cristina Kirchner (2003-2015), a indústria argentina passou a competir mais com mercadorias internacionais desde dezembro, quando Mauricio Macri, tido como pró-mercado, chegou à Presidência. Ao assumir, o dirigente derrubou a Djai (Declaração Jurada de Autorização à Importação), documento que o exportador tinha de solicitar ao governo para seu produto entrar no país e para o qual não havia prazo de resposta. O fim da Djai abriu o mercado, mas, mesmo assim, as importações argentinas caíram 5,8% nos seis primeiros meses deste ano. A retração não deixou tranquilo o empresariado, que diz que a preocupação com a entrada de produtos estrangeiros é crescente devido à baixa competitividade o peso está valorizado, e a inflação torna as mercadorias caras. Segundo economistas, o recuo das importações é decorrente da recessão, e não de um aumento da participação do produto nacional no mercado doméstico a produção industrial recuou 3,3% no primeiro semestre. A UIA (União Industrial Argentina), entidade equivalente à CNI, estima que até 150 mil empregos possam ser fechados com o incremento das importações. Membro da mesa diretora da entidade, José Urtubey evitou dar à Folha uma projeção, mas destacou que postos de trabalho já foram fechados na indústria, grande parte impactada pela concorrência com as importações. De dezembro a maio, 106.944 vagas foram encerradas no setor privado, segundo o governo. Sob pressão, Macri criou uma lei que protege a indústria de autopeças e ampliou, neste mês, o número de licenças não automáticas de importação, que coloca um prazo de 60 dias para a liberação da entrada de um produto e torna o processo de compra internacional mais lento. Para o economista Aldo Pinganelli, Macri alterou sua política de comércio exterior devido à crise interna, impulsionada tanto pela queda da demanda como pelo recuo das exportações brasileiras. "O governo teve um primeiro momento de se abrir para importações. Depois, mudou e veio com as restrições não automáticas", diz Pignanelli, que presidiu o banco central em 2002 e integra a equipe de Sergio Massa (terceiro colocado nas eleições de 2015).

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"A abertura da Argentina hoje é maior do que no kirchnerismo, mas mais protecionista do que se previa quando Macri assumiu", afirma o economista Gastón Rossi, da consultoria LCG.

Crescimento industrial na zona do euro desacelera em julho

Crescimento da atividade industrial na zona do euro desacelerou em julho

FONTE REUTERS 01/08/2016 as 11h22

O crescimento da atividade industrial na zona do euro desacelerou em julho e sinaliza que uma desaceleração mais acentuada fora da Alemanha pode aumentar os pedidos para que o BCE (Banco Central Europeu) volte a flexibilizar a política monetária. O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) industrial do Markit para a zona do euro caiu de 52,8 em junho para 52,0 em julho, ficando ligeiramente acima da leitura preliminar de 51,9. Um índice medindo produção permaneceu em 53,9, confortavelmente acima da marca de 50,0 que separa crescimento de contração. "O problema é que o crescimento parece cada vez mais assimétrico, o que vai preocupar autoridades e aumentar os pedidos por mais estímulos do BCE", disse o economista-chefe do Markit, Chris Williamson. "Indo além dos números principais aparece um cenário mais preocupante. Expansões da atividade e do emprego estão claramente sendo impulsionadas em grande parte por um avanço na Alemanha, enquanto o crescimento praticamente estagnou na Itália e na Espanha, e contrações estão sendo vistas na França e na Grécia".

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Apoio de líderes republicanos a Donald Trump é digno de desprezo Evan Vucci/Associated Press

Apoio de líderes republicanos a Donald Trump é digno de desprezo FONTE JORNAL FOLHA de S. APULO, PAUL KRUGMAN 01/08/2016 as 11h08

Donald Trump disse algumas coisas repulsivas no final de semana. Se isso o surpreende, você não esteve prestando atenção. E tampouco se surpreenda por a maioria dos republicanos apoiarem o ataque que ele fez aos pais de um herói morto em guerra. Afinal, uma pesquisa da YouGov sugere que 61% dos republicanos apoiam seu apelo por um ataque de hackers russos a Hillary Clinton. Mas esta não é uma coluna sobre Trump e sobre as pessoas que consideram tudo que ele diz e faz aceitável. A coluna, em lugar disso, é sobre os republicanos —provavelmente uma minoria no partido, mas uma minoria substancial— que não são assim. Estamos falando de pessoas que não são racistas, respeitam patriotas mesmo que eles sejam muçulmanos, acreditam que os Estados Unidos devam honrar seus compromissos internacionais, e no geral parecem membros normais de um partido político normal. No entanto, a grande maioria desses republicanos não loucos continua ainda assim a apoiar Trump como candidato à presidência. E temos o direito de perguntar por que o fazem. É verdade que uma vitória de Hillary significaria a continuação da governança de centroesquerda que tivemos sob Barack Obama, o que seria uma grande decepção para aqueles que

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desejam uma virada à direita. E muita gente se convenceu de que, desconsiderada a ideologia, Hillary seria uma má presidente. Eu obviamente discordo sobre a ideologia, e embora não tenhamos como determinar se uma presidência de Hillary seria boa até que ela aconteça, encontro muito que admirar na candidata real, que nada tem em comum com a maneira pela qual Hillary é caricaturada. Mas pouco importa: mesmo que você seja um conservador que realmente não gosta da candidata democrata, como consegue justificar o apoio a Donald Trump? Uma maneira de expressar a questão é: existem motivos para acreditar que uma vitória de Hillary causaria um desastre irrecuperável? Porque essa é a pergunta que todos deveriam estar se propondo. Comecemos pela questão menos importante (ainda que seja meu ramo), a economia. Se você for republicano, presumivelmente acredita que políticas de centro-esquerda —impostos mais altos sobre as rendas elevadas, uma grande expansão subsidiada dos planos de saúde, regulamentação financeira mais rígida— fazem mal à economia. Mas mesmo que você ache que a economia deveria ter se saído melhor sob Obama, o fato é que o país criou 11 milhões de empregos no setor privado; as ações registram forte alta; as taxas de inflação e de juros continuaram baixas; e o deficit orçamentário desapareceu. Assim, não estamos falando de um desastre, e não há razão para acreditar que, em um governo de Hillary, a economia seria um desastre. Enquanto isso, Trump fala de cortes de impostos altamente irresponsáveis, sobre a renegociação da dívida nacional e sobre o abandono de acordos de comércio internacional. Mais acima na escala de importância, e quanto à segurança nacional? Mesmo que você acredite que Obama poderia ter obtido resultados melhores caso bombardeasse mais e dialogasse menos, não há maneira concebível de retratar Hillary —que conta com o apoio de muitos líderes militares reformados— como alguém que cederia aos terroristas e agressores estrangeiros. Enquanto isso, o oponente dela fala sobre abandonar os aliados norteamericanos na Otan (Organização para o Tratado do Atlântico Norte) se eles não contribuíram mais, e parece aceitar as aventuras russas na Ucrânia. O mais importante é a questão da democracia interna. Eu sei, os conservadores gostam de se queixar de que Obama excedeu sua autoridade ao, por exemplo, usar seus poderes presidenciais para postergar algumas cláusulas da Lei de Reforma da Saúde. Mas sejamos sérios: nenhuma pessoa não louca, mesmo que direitista, acredita que o presidente esteja agindo como ditador, ou que a mulher que deseja sucedê-lo ameaçaria as liberdades básicas. Do outro lado, quem quer observe o oponente dela deveria se preocupar muito, realmente muito, sobre suas tendências autoritárias. O resumo é que se você não gosta de Hillary ou daquilo que ela representa, é difícil ver como poderia encarar uma possível vitória dela com horror. E é difícil ver como uma vitória de Trump poderia ser encarada de qualquer outra maneira. Como, então, qualquer republicano racional pode justificar apoiar Trump, ou mesmo se manter neutro, o que na prática significa lhe dar meio voto?

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Para os republicanos da base do partido, o fator decisivo presumivelmente são os sentimentos. Depois de passar tantos anos atacando os democratas em geral e Hillary especificamente, eles têm dificuldade para admitir que outra pessoa poderia ser muito, muito pior. Mas a democracia não gira em torno de retórica, e sim de exercitar a responsabilidade. E ceder aos sentimentos em um momento como este equivale a simplesmente abrir mão de seus deveres como cidadão. E o que quer que se possa dizer sobre os eleitores comuns, os verdadeiros pecadores são os líderes republicanos —pessoas como Paul Ryan e Mitch McConnell, que estão apoiando ativamente um candidato que sabem representar um perigo para a nação. Não é difícil entender por que o estão fazendo. Opor-se ao indicado por seu partido, por mais horrível que ele seja, provavelmente acabaria com suas carreiras. Mas existem momentos em que você deveria deixar de lado essas considerações. Que algumas pessoas se disponham a apoiar Trump é compreensível; e é também digno de desprezo. Tradução de PAULO MIGLIACCI

A mosca azul FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@grupofolha.com.br 31/07/2016 as 02h00

O desastre nas contas públicas federais continuou evidente ao fechar-se o primeiro semestre. A despesa não financeira da União, de R$ 573 bilhões (19% do PIB) superou a receita em R$ 33 bilhões. No segundo semestre, apesar da provável retomada discreta da economia, o buraco fiscal vai se aprofundar. A meta do Planalto é fechar o ano com um deficit de R$ 170 bilhões, cerca de 3% do PIB, de resultado primário (saldo antes de computada a despesa com juros). Isso ocorrerá porque a arrecadação de tributos, que recuou 7,3% em termos reais no primeiro semestre deste ano em relação à metade inicial de 2015, manterá tendência de queda, quem sabe um pouco menos pronunciada. A debilidade do emprego formal deixará deprimida ainda por vários meses a receita previdenciária. A recuperação empresarial, sobretudo na indústria combalida, costuma demorar a repercutir nos cofres públicos após uma profunda recessão, como a que aflige o país. O que não vai dar trégua, se nada for feito, será a escalada das despesas obrigatórias que respondem por 90% do gasto federal. A maior rubrica, a da Previdência, expandiu-se 5% acima da inflação no primeiro semestre de 2016, a contrapelo dos outros indicadores numa economia em depressão. Entre o primeiro semestre de 2011 e este de 2016, o pagamento de aposentadorias, pensões e demais benefícios previdenciários aumentou 27%, já descontada a inflação acumulada no período. A atividade econômica nacional, de seu lado, regrediu cerca de 6% no mesmo intervalo. Já causa incômodo a fleuma do governo provisório de Michel Temer (PMDB) diante do descalabro nas contas públicas. O teto de gastos, cuja aprovação parece ser a única promessa 33


deste ano na área fiscal, não é terapia que desobstrua a principal artéria da finança federal, justamente a Previdência. Para piorar, Temer tem sido pródigo em reajustes para servidores públicos. Na última concessão, acenou com 37% de aumento para delegados da Polícia Federal. Os juros, advertiu o Banco Central, não cairão antes de ser equacionado o nó das contas da União. Se o custo do dinheiro permanecer elevado por muito mais tempo, uma onda de quebras de empresas endividadas não poderá ser descartada. Esse risco já se prenuncia na alta de provisões contra calotes nos balanços dos bancos que fornecem crédito às companhias. A complacência de Temer e seu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, na área fiscal sugere que foram picados pela mosca azul da ambição eleitoral em 2018. Se não baixarem os olhos para o chão acidentado logo à frente, vão tropeçar.

Trump, risco mundial FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@grupofolha.com.br 31/07/2016 as 02h00

Os Estados Unidos parecem encaminhar-se para uma insólita eleição presidencial em 8 de novembro, sob um clima de aguda polarização ideológica. Na quinta-feira (28), o Partido Democrata oficializou Hillary Clinton como a primeira mulher a postular o cargo por uma das duas grandes agremiações. Sua capacitação e experiência são vistas, por parcela do eleitorado, como profissionalismo robótico. Seus adversários ressaltam os elos da senadora por Nova York com o establishment financeiro, e pairam dúvidas sobre sua conduta em episódios cruciais no período em que foi secretária de Estado do presidente Barack Obama. Por esses motivos ou outros, a ex-primeira-dama é alvo de altas taxas de rejeição eleitoral, próximas às de seu rival, o empresário Donald Trump. Mas a semelhança termina aí. Trump é um aventureiro que tomou de assalto o Partido Republicano ao cavalgar uma surpreendente onda de ressentimento étnico e de populismo nacionalista, apresentando-se como candidato anti-establishment. Age com truculência e vulgaridade inauditas na política americana, marcada pela disputa áspera, mas cordata. Pouco se sabe de seu programa, exceto por fanfarronadas como a construção de um muro na fronteira com o México, a ser pago pelo país vizinho, já esbulhado em metade de seu território no século 19. O cerne do eleitorado de Trump parece estar nos estratos inferiores da imensa classe média norte-americana, fragilizados pela profunda crise econômica do fim da década passada. Conforme essa linha de análise, a recuperação em curso, que permitirá a Obama encerrar seu mandato com boa aprovação, é lastreada em ganhos de produtividade relacionados à destruição de empregos naqueles estratos.

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A polarização acentuou-se agora, mas vem crescendo há décadas, mesmo após a extinção do antagonismo com o bloco soviético. Segundo outra linha de interpretação, o processo refletiria o aumento da desigualdade de renda no país, com relativo estreitamento das camadas médias. As pesquisas eleitorais sugerem que os postulantes estão empatados, com ligeira vantagem para a democrata. Pelo que Donald Trump representa em termos de risco internacional, dados seu alarmante despreparo e a xenofobia beligerante de sua campanha, vê-lo derrotado não configura uma questão partidária, nem se reduz ao âmbito norte-americano, mas convém ao mundo inteiro.

Qual Previdência FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@grupofolha.com.br 30/07/2016 as 02h00

Quando se caminha dos embates retóricos rumo a propostas concretas de reforma da Previdência Social, uma primeira constatação é que há não apenas uma, mas diversas previdências a reformar. Assalariados com carteira assinada submetem-se a um regime geral que prevê aposentadorias por idade (65 anos para homens e 60 para mulheres), por tempo de contribuição (35 ou 30 anos, conforme o gênero) ou pela soma das duas condições (95 ou 85 anos). Tais possibilidades incluem o Brasil num diminuto grupo de 13 países que autorizam a concessão do benefício sem critério de idade mínima, conforme estudo publicado pelo Ipea. Celetistas, entretanto, não terão dificuldade em apontar privilégios nas demais categorias. Trabalhadores rurais podem aposentar-se cinco anos mais cedo, quase sem exigência de contribuições comprovadas, em modelo assemelhado à assistência social. Entre funcionários públicos, dos quais se exige idade mínima de 55 (mulheres) ou 60 anos (homens), a grande maioria ainda tem direito a benefícios equivalentes aos salários da ativa, ou de valor próximo. Novos servidores civis perderam tal regalia; militares, não. Na soma das partes, tem-se um sistema ao mesmo tempo iníquo e perdulário. Em comum, todos os regimes —e suas dezenas de regras e modalidades especiais— demandarão recursos crescentes da sociedade para despesas não cobertas pelos aportes dos segurados. Só no ano passado, a previdência rural contabilizou deficit de astronômicos R$ 91 bilhões; a dos servidores federais civis, de R$ 40 bilhões; a dos militares, de R$ 32,5 bilhões. No regime ainda superavitário dos celetistas urbanos, o saldo despencou de R$ 25,3 bilhões para R$ 5,1 bilhões. Não espanta que o governo, sem ter mais como procrastinar uma reforma, incline-se pela unificação das normas previdenciárias. Esboçou-se a proposta no início do ano, ainda sob a presidente Dilma Rousseff (PT), hoje afastada, e a equipe do interino, Michel Temer (PMDB), agora a retoma. Os objetivos não se limitam à correção de injustiças. A imposição a homens e mulheres, nos setores público e privado, de uma idade mínima condizente com a expectativa de vida nacional sustaria a sangria das aposentadorias precoces. Além disso, a cobrança de contribuições do setor agrícola daria alento às receitas. 35


Do ângulo político, o risco é desagradar a todos ao mesmo tempo —num país em que, como mostrou pesquisa Datafolha, a maioria almeja aposentar-se aos 60 anos.

Novos ventos na energia FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDITORIAL editoriais@grupofolha.com.br 01/08/2016 as 02h00

Existe um setor da economia brasileira e da mundial em que ninguém fala de crise. No campo das fontes alternativas de energia, o vento só sopra a favor. Em 2015, as novas turbinas eólicas erguidas no mundo agregaram 63 gigawatts (GW) à capacidade instalada de geração elétrica. É o equivalente a quase seis usinas como Belo Monte e acarretou um investimento de US$ 329 bilhões. Nesse mesmo ano, enquanto o PIB brasileiro se retraía 3,8%, a geração de energia eólica avançava impressionantes 77,1%. O dado se encontra no "Balanço Energético Nacional 2016" recém-divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão do governo federal, e recebeu destaque no caderno especial "O Brasil que Dá Certo - Energia Renovável", publicado na quinta-feira (28) por esta Folha. O desempenho da energia eólica permitiu que fornecesse 5,81% da eletricidade gerada no país. Com isso, sua contribuição firmou-se à frente da fatia das usinas nucleares (1,3%) na produção nacional. A liderança inconteste, como se sabe, segue com a hidroeletricidade. Turbinas movidas com a força dos rios produziram 66,7% da energia elétrica consumida no mercado doméstico. Como se trata de uma fonte renovável (assim como a eólica e a biomassa), essa modalidade contribuiu para manter a matriz elétrica brasileira como uma das mais limpas do planeta. Mais de três quartos da eletricidade aqui produzida provêm de fontes que não agravam o aquecimento global. Todas elas, é verdade, inclusive a eólica, sofrem de um modo ou de outro as consequências da crise econômica que se abateu sobre o Brasil e da intervenção desastrada do governo Dilma Rousseff (PT) no setor elétrico. O consumo de eletricidade recuou 1,9% em 2015, como seria de esperar com a retração do PIB. Se há poucos anos se falava em risco de desabastecimento, por força da crise hídrica e do intervencionismo petista, agora se experimenta uma paradoxal sobra de energia contratada, o que decerto não ajuda a estimular investidores. Em termos relativos, contudo, essa situação anômala abre perspectivas mais promissoras para energia eólica (e até para a ainda incipiente solar fotovoltaica). O custo de seus equipamentos está caindo, o preço de geração já é competitivo e a instalação é mais rápida que a de usinas hidrelétricas e nucleares -as preferidas das grandes empreiteiras, hoje enredadas com os próceres do setor elétrico nas malhas da Lava Jato.

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Candidatos estarão previamente sob suspeita nestas eleições Gabriel Soares/Brazil Photo Press/Folhapress

FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, RONALDO CAIADO 30/07/2016 as 02h00

Independentemente do seu resultado, o pleito municipal de outubro ficará marcado na história pelo elevado nível de judicialização. Em face da proibição de contribuição financeira oriunda de pessoas jurídicas, candidatos e partidos, todos, estarão previamente sob suspeita. STF e Câmara convergiram nessa iniciativa, que, a pretexto de moralizar as eleições –e evitar práticas que a Lava Jato exibiu em profusão, acabará por operar o oposto: a propagação daquelas distorções. As fontes de financiamento vigentes são três: o fundo partidário, a cessão de horário gratuito no rádio e na TV e as doações de pessoas físicas. Quanto à primeira, é insuficiente para as exigências de uma campanha, pois atende, em regra, a manutenção da estrutura partidária. A segunda cobre precariamente a apenas um quesito da campanha, a propaganda. Com 35 partidos, a visibilidade dos milhares de candidatos será sempre insuficiente. Nada substituirá, como jamais substituiu, o corpo a corpo com o eleitor, que, num país-continente, adquire muitas vezes a dimensão de um empreendimento épico. Quanto à terceira, o financiamento restrito a pessoas físicas, em até 10% de sua renda declarada, não tem raízes na tradição política brasileira. O eleitor não tem essa prática, nem essa cultura –nem muito menos meios. A população, para além dos 12 milhões de desempregados, é pobre e mal dispõe para seu próprio sustento. E ainda: com tantos partidos e candidatos, as eventuais contribuições serão pulverizadas. O que teremos então? De um 37


lado, o favorecimento de candidatos ricos, autofinanciáveis, variações caboclas de Donald Trump; de outro, os que têm apoio de corporações –sindicatos, ONGs etc. Impossível ignorar que, entre os inúmeros temas a serem tratados numa reforma eleitoral, é preciso priorizar a aprovação de uma cláusula de desempenho partidário (como forma de assegurar a própria governabilidade em todas as esferas) e o fim das coligações para as eleições realizadas sob o sistema proporcional (vereadores, deputados estaduais, distritais e federais). Isso sem olvidar, por outro lado, a necessidade de rediscussão do financiamento da política, estabelecendo regras objetivamente claras para permitir, mediante condicionantes e limites legalmente definidos, as doações de pessoas físicas e jurídicas. Enquanto a discussão desses temas os quais reputo como os mais importantes da reforma eleitoral for adiada pelo Congresso, veremos alguns expedientes nem previstos em lei, como é o caso da cobrança, pelo PT, de um percentual do salário de funcionários comissionados. Sendo certo que, depois de mais de 13 anos no poder e tendo aparelhado as máquinas administrativas sob seu comando, dispõe a agremiação de um contingente contributivo que os demais partidos não têm. O mesmo se diga em relação à modalidade, inaugurada por José Dirceu para pagar sua multa no mensalão e recém-adotada por Dilma Rousseff, a pretexto de financiar viagens aéreas: pedir dinheiro pela internet. Os crowdfunding, nome dado a essa modalidade contributiva, são geralmente usados para bancar trabalhos artísticos, ações de voluntariado, pequenos negócios e coisas afins. Não há precedentes de seu uso em campanhas eleitorais, o que é preocupante por não haver regulamentação nem meios de controlar a fidelidade de sua origem. Em todas essas modalidades, há amplo espaço para fraudes –as conhecidas e as inéditas: caixa dois, uso de CPFs de sindicalizados e de membros de ONGs para diluir contribuições graúdas e dar-lhes aparência de individuais, além, claro, da vaquinha digital. Persiste o fato de que não se faz campanha sem verba e, havendo campanha, verba há de haver. A transparência continua sendo uma meta, fora do alcance. E o único ganho será demonstrar o quão inútil é apelar a lances de ilusionismo ético. Além de aético, um desserviço ao eleitor.

Atividade industrial da China cai em julho, mostra indicador oficial FONTE REUTERS 01/08/2016 as 11h35

Consumidores na China não se abalam

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A atividade do setor industrial na China surpreendentemente encolheu em julho, mostrou nesta segunda-feira (1º) a pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) oficial, com empresas de pequeno e médio porte liderando a queda e reforçando receios de que a economia pode, novamente, estar perdendo ímpeto. O PMI oficial da indústria recuou de 50,0 em junho para 49,9 em julho, abaixo da marca de 50 que separa crescimento de retração. Analistas esperavam leitura de 50,0 em pesquisa Reuters. Após crescer por três meses consecutivos de março a maio, a expansão da atividade industrial na China estagnou em junho, apesar de o crescimento econômico ter superado ligeiramente as expectativas no segundo trimestre após uma expansão de crédito quase recorde. A produção manufatureira caiu de 52,5 em junho para 52,1 em julho, e o total de novas encomendas foi para 50,4, levemente abaixo dos 50,5 de junho, mostrou o PMI. Novas encomendas por exportação contraíram conforme a demanda de outros países permaneceu fraca e com o impacto da votação britânica por deixar a União Europeia prejudicando o humor, informou a agência nacional de estatísticas da China. Já uma pesquisa privada do setor industrial mostrou expansão da atividade industrial pela primeira vez em 17 meses em julho, com crescimento de produção e novas encomendas. O PMI do Caixin/Markit, que foca em empresas de pequeno a médio porte, subiu de 48,6 em junho para 50,6. A estimativa era de 48,7. Já a pesquisa PMI oficial do setor de serviços mostrou que a atividade no setor expandiu em um ritmo mais rápido, com leitura de 53,9 em julho, ante 53,7 em junho.

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Expurgo na Turquia dá passos rumo à ambição do sultão Erdogan Kayhan Ozer - 29.jul.2016/Presidential Press Service/Associated Press

FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, CLÓVIS ROSSI 31/07/2016 as 02h00

A esta altura, está mais que evidente que o expurgo que o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, está promovendo vai muito além da lógica e justa repressão aos golpistas que ensanguentaram o país no dia 15 passado. Trata-se, acima de tudo, de eliminar da cena pública os aliados do líder islâmico Fetullah Gülen e, no embalo, perseguir outros rivais. Em outras palavras, dar passos rumo à ambição de Erdogan de se tornar um caudilho ou, para entrar no contexto turco, um sultão indisputado. Afinal, antes da fundação da República Turca, em 1923, o país teve apenas 14 anos de democracia parlamentar nos quase 600 anos do Império Otomano. E, depois, os militares intervieram continuamente. O "gulenismo" oferece o pretexto ideal para a perseguição: ninguém discute que o movimento incrustou seus militantes e/ou simpatizantes em diferentes áreas do aparelho do Estado, como no Judiciário e entre as Forças Armadas, e no setor educacional, que, aliás, é o eixo central do Hizmet ("Serviço"), o movimento de Gülen. O panorama turco fica turvo, no entanto, quando se tenta saber se Gülen de fato orquestrou a tentativa de golpe, como acusa o governo, ou se a iniciativa foi de militares que estavam para ser decapitados no ciclo de promoções e remoções previsto para agosto. As opiniões são diametralmente opostas entre os especialistas em Turquia. 40


Joshua Hendrick, professor de Sociologia em Maryland e autor de livro sobre Gülen, escreve: "O golpe vai contra tudo que ele diz defender, como resolução de conflitos e paz. O golpe foi tão pobremente concebido e conduzido e tão inepto que quebrou até a cadeia de comando entre os conspiradores. Você pode dizer muitas coisas sobre o movimento Gülen, mas não pode dizer que são desorganizados. Assim, o golpe é contrário a seus propósitos e sua estrutura organizacional." Rebate Metin Gurcan, colunista do sítio "Al-Monitor" e conselheiro militar turco entre 2002 e 2008: "Quando se escrutinam as mensagens de WhatsApp e as listas dos conspiradores que seriam apontados para postos sensíveis no país, fica fora de dúvida que a tentativa foi uma invenção de membros do movimento de Fetullah Gülen". Aí é que entra a dúvida-chave: invenção do Hizmet ou de seus membros, à revelia do comando central? Se foi do movimento, tratar-se-ia de fato de um grupo terrorista, como é designado por Erdogan, e justificar-se-ia a repressão, desde que respeitados os direitos humanos, o direito de defesa e o devido processo legal (o que, segundo a Anistia Internacional, não está ocorrendo). Se, ao contrário, foi uma iniciativa individual, mesmo que de gulenistas, a repressão indiscriminada é absurda. Vale a análise de um liberal e secular portanto, crítico de um movimento islamita, caso de Ali Bayramoglu: "Não pode ser crime trabalhar para instituições gulenistas ou ter relações com gulenistas. Ser um membro da comunidade de Gülen tampouco é um crime". Essa constatação civilizada está sendo desprezada na Turquia do sultão Erdogan.

A academia tenta entender o estranho fenômeno de juros nulos e deflação

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FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, SAMUEL PESSÔA 31/07/2016 as 02h00

Desde meados dos anos 1990 a economia japonesa apresenta a estranha situação de juros reais negativos e deflação. A academia não deu muita importância. A economia japonesa com toda a disciplina e capacidade de poupança parece se tratar de um mundo tão distante, mesmo para habitantes do hemisfério Norte, que o problema passou batido. De fato, Paul Krugman publicou em 1998 seu hoje clássico paper "It's Baaack: Japan's Slump and the Return of the Liquidity Trap". Houve alguns outros poucos esforços em entender esse estranho equilíbrio macroeconômico: juros nominais nulos e deflação. A saída da crise de 2008 colocou quase todo o mundo desenvolvido em um equilíbrio próximo ao japonês. A economia norte-americana apresenta uma recuperação com baixo crescimento do emprego. Na Europa, há desemprego elevado, com juros nulos e inflação muito baixa ou deflação. Quando ficou claro que o estranho equilíbrio poderia ser um fenômeno mais geral, e não uma idiossincrasia de uma sociedade, ela mesma idiossincrática e distante, a academia se movimentou. Há hoje literatura muito extensa tentando entender o estranho fenômeno. Em poucos anos a academia produziu um conjunto impressionante de conjecturas, modelos e diagnósticos. Certamente não há consenso e não há entendimento completo do que estamos vivendo. As teorias consideram imperfeições no mercado de trabalho em geral algum tipo de rigidez nominal dos salários e algum tipo de restrição ao crédito. Por exemplo, o trabalho "A Model of Secular Stagnation", de Gauti Eggertsson e Neil Mehrota, da Universidade Brown, sugere que as economias centrais estariam vivendo situação na qual ocorrem o paradoxo da parcimônia - o desejo de todos pouparem mais somente reduz a poupança e o emprego e o paradoxo da labuta – o desejo de todos trabalharem mais somente reduz o emprego e o produto. A saída mais simples é uma forte expansão fiscal. A política monetária é pouco eficaz nessa situação. Já Stephanie Schmitt-Grohé e Martin Uribe, da Universidade Columbia, no paper "The Making of a Great Contraction with a Liquidity Trap and a Jobless Recovery", argumentam que nessas situações a política monetária ótima deixa de ser a regra de Taylor, que fixa a taxa de juros em função da distância da inflação corrente da meta inflacionária. Em situações de carência crônica de demanda agregada, a queda da taxa de juros que acompanha a crise é pouco efetiva para estimular o consumo e o investimento. Além disso, a queda dos juros ajuda a manter as expectativas inflacionárias deprimidas, reforçando a 42


recessão. Nessas situações, a melhor política é o banco central fixar o juro nominal no valor dado pela meta inflacionária mais o juro real normal da economia. Os juros nominais mais elevados elevarão as expectativas de inflação e ajudarão a retirar a economia da depressão. Todos que leram Keynes sabem que esses fenômenos podem existir. A pergunta acadêmica é: que fatores levam a que essa possibilidade tenha ocorrido justamente agora e qual é a melhor resposta de política econômica? Essas questões requerem modelos teóricos com implicações empíricas precisas e testes robustos que não as rejeitem. De qualquer forma, o mundo gira, a lusitana roda, e a academia não se deprime. Novos problemas, novos desafios. Sempre sem preconceitos e ideias prontas.

Ideologia não vai definir ganhos nas concessões, afirma Moreira Franco Ueslei Marcelino/Reuters

Moreira Franco, secretário-executivo do Programa de Parceria em Investimentos

FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, VALDO CRUZ e DIMMI AMORA DE BRASÍLIA 31/07/2016 as 02h00

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O governo deverá restringir, nas próximas concessões de projetos de infraestrutura, um mecanismo muito usado pelas empreiteiras que venceram leilões de rodovias e aeroportos nos últimos anos. A ideia é inibir consórcios que tenham empreiteiras como sócias de contratar empresas coligadas para tocar obras exigidas pelas concessões. "Consórcio é para operar aeroporto, não é para arrumar trabalho para um braço da empresa", disse à Folha o secretário do Programa de Parcerias de Investimentos, Moreira Franco. Escolhido pelo presidente interino, Michel Temer, para organizar um pacote de parcerias com o setor privado, Moreira afirma que a "ideologia não vai definir ganhos nas concessões" e que "não vai haver subsídio" como no passado. Folha - O que fará os investidores voltar a apostar no Brasil? Moreira Franco - Estamos fazendo um esforço para restabelecer algo que o país sempre teve, mesmo no regime militar: um ambiente de segurança jurídica. Regras contratuais eram respeitadas. Deixaram de ser? Deixaram. Por mudanças, indefinição de fóruns e excessiva centralização de poder. Desde que a presidente Dilma [Rousseff] veio para a Casa Civil, começou uma concentração de poder na pasta. Isso enfraqueceu o poder político dos ministérios e o poder técnico das agências. Quais seriam três medidas para atrair mais investidores? A primeira é a questão de prazo. É absolutamente impossível fazer uma análise adequada e criteriosa em 45 dias, que era o prazo antes entre o lançamento do edital e o leilão. Isso gera atropelo, pressão e descontrole. Precisamos de, no mínimo, cem dias. No setor de óleo e gás, um ano. Quais outras medidas? Só vai se publicar o edital após licença prévia [ambiental]. Também queremos mudar a natureza dos contratos. Contrato de concessão não é contrato de obra. Como todas as grandes empreiteiras participaram de todas as licitações [de concessões], a concessionária fazia a obra com o braço de empreiteira. Criou-se a cultura de fazer as regras de contrato muito mais como se fosse um contrato de obra do que de concessão. Isso tem que mudar. No plano jurídico e no plano cultural. Como? Tenho levado à consideração de meus companheiros a hipótese de termos uma proibição, talvez um constrangimento, de que uma empresa, que tenha uma empreiteira e seja a cabeça do consórcio, possa contratar do mesmo grupo. A ideia é contratar fora? 44


Consórcio é para operar aeroporto, não para arrumar trabalho para um braço da empresa. Temos que estimular que venham empreendedores com disposição e cultura de fazer investimentos e buscar retornos na prestação de um serviço de qualidade. É difícil inibir a participação de uma empresa que tenha braço de empreiteira, mas [precisamos ter] uma regra que iniba essa prática. Haveria menos competição? Já temos isso hoje, com um ambiente concorrencial muito fraco. Os mesmos atores estão em todos os lugares. Como resolver? Estamos organizados para recorrer ao Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] para definir regras para estimular a concorrência. Precisamos de um ambiente em que possam participar empresas estrangeiras, e uma das iniciativas, que é singela mas não era feita, é ter todos os documentos em inglês e português. A Operação Lava Jato encontrou uma troca de mensagens entre o sr. e o ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Azevedo, sobre o leilão do aeroporto de Confins, quando o sr. estava no governo Dilma. A PF suspeita de favorecimento. Não há acerto nenhum. Ele conversa comigo para dizer que participou e ganhou. Conversei com todos, porque a gente tinha receio de não haver disputa nos leilões. Havia um esforço grande para não dar vazio. Como financiar as concessões? O BNDES, a Fazenda e nós estamos trabalhando numa nova modelagem. Ela tem de romper com um dos grandes problemas dessa rodada que foi o uso excessivo do BNDES como fonte única e exclusiva. Como atrair empresas para projetos de longo prazo quando uma aplicação em títulos do governo rende 15% ao ano? Isso tem que ser visto. Não dá para numa modelagem de financiamento trocar a ideologia pela aritmética. E isso foi feito [no governo anterior]. Quiseram resolver com ideologia problemas que só a arimética resolve. Querer discutir taxa de retorno a partir de critérios ideológicos é impossível. Para que a taxa de retorno fosse aquela que o governo quis, ele teve que mobilizar o BNDES para financiamento com juros subsidiados. O governo Dilma dizia que fazia isso para reduzir o custo da logística. Qual o caminho? Não vai haver subsídio, não dá para haver. O modelo anterior nos deixa para este ano um deficit de R$ 170,5 bilhões. Não dá para repetir aquilo. A ideologia não vai definir ganhos nas concessões do governo Temer. Como será o novo modelo de financiamento dos projetos de concessão?

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Não vai haver taxa de retorno nem se vai dizer com quanto o BNDES vai entrar. [O BNDES] pode ser até financiador, mas não pode indicar o vencedor. RAIO-X WELLINGTON MOREIRA FRANCO Nascimento: 19 de outubro de 1944, em Teresina, Piauí Profissão: sociólogo Cargo: secretário do Programa de Parcerias de Investimentos Carreira: ministro da Secretaria de Aviação Civil e da Secretaria de Assuntos Estratégicos no governo Dilma; vice-presidente da Caixa no governo Lula; deputa federal e assessor especial do governo FHC; prefeito de Niterói (1977/1982); governador do Rio (1987/1991)

Economistas pedem mais abertura comercial Estudo propõe reforma da política tarifária e mudanças na política industrial do País Fonte Fernando Dantas, Jornal O Estado de S. Paulo 31 Julho 2016 as 05h00

Duas renomadas instituições que se dedicam a temas de política econômica estão lançando uma agenda de mudanças para as políticas comercial e industrial que, de certa forma, é complementar à “Ponte para o Futuro”, o documento do PMDB que serviu de orientação para os passos iniciais na economia do presidente em exercício, Michel Temer. O documento do Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP), em São Paulo, e do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes), no Rio, traz uma lista de propostas de bastante impacto. O texto foi obtido com exclusividade pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. Entre as propostas, uma reforma da política tarifária, que estabelece um regime com apenas quatro alíquotas, e com um nível de proteção bem menor que o atual. Assim, os produtos tarifados hoje entre zero e 5% teriam tarifa zero; entre 5% e 15% teriam tarifa de 5%; entre 15% e 20%, tarifa de 10%; e entre 20% e 35%, tarifa de 15%. Além disso, a proposta é de, simultaneamente, reduzir de forma significativa a “escalada tarifária” – a estrutura em que bens finais são mais protegidos que seus componentes – e baratear a importação de produtos intermediários e bens de capital.

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Foto: Marcio Fernandes|Estadão

O economista Arminio Fraga defende a retirada de subsídios e desonerações mal justificados

A questão tarifária é apenas uma entre os muitos temas abordados pela agenda do CDPP e do Cindes. Há também proposições de retomar e ampliar a agenda de negociação de acordos comerciais com outros países e blocos, profundas mudanças na política industrial (como desmobilizar programas de incentivo baseados em conteúdo nacional), uma grande quantidade de medidas de redução do custo Brasil e facilitação do comércio e até uma seção dedicada a facilitar a expansão das multinacionais brasileiras. Neste último caso, porém, não se trata da política de subsídios para as “campeãs nacionais”, que o documento critica, mas sim de igualar as condições tributárias das empresas brasileiras, que hoje são prejudicadas em relação às suas concorrentes em termos de atuação internacional. A economista Sandra Polónia Rios, que dirige o Cindes junto com Pedro da Motta Veiga, explica que a instituição vem trabalhando nessa agenda desde 2013. Mas foi a partir de 2015 que o atual trabalho deslanchou, quando o CDPP montou um grupo de trabalho para discutir a inserção internacional da economia brasileira e convidou o Cindes para fazer a coordenação técnica. Além de Sandra e Motta Veiga, outro que participou ativamente da elaboração do documento foi Emanuel Ornelas, da EESP/FGV e London School of Economics. Intitulado “A Integração Internacional da Economia Brasileira: Propostas para uma Nova Política Comercial”, o trabalho contou também com os comentários e sugestões de Edmar Bacha, e tem a bênção de economistas influentes como Affonso Celso Pastore, diretor do CDPP, e Arminio Fraga, da gestora Gávea, que foi cotado para ser ministro da Fazenda do presidente em exercício, Michel Temer. Agenda. Sandra considera que este é um bom momento para lançar uma agenda de mudanças na política comercial e industrial, por ter ficado claro que as medidas 47


protecionistas da fase da nova matriz econômica redundaram em fracasso. Já Pastore ressalta que a atual equipe econômica, além de ter uma orientação mais liberal, alinhada com o documento, “é extremamente competente e aberta a sugestões que vêm de fora”. Ainda assim, ele acha que a prioridade compreensível do governo Temer em um primeiro momento continuará sendo restabelecer o equilíbrio fiscal e macroeconômico. Segundo a visão do documento, uma economia mais aberta e menos protecionista é vital para estimular o investimento e o crescimento da produtividade, sem os quais o Brasil não volta a crescer num ritmo aceitável. A abertura tem efeito positivo sobre a produtividade por vários canais, como o barateamento e o acesso a mais qualidade em termos de insumos e bens de capital, e a pressão competitiva sobre os produtores nacionais. Paralelamente, constata-se que o Brasil não só é uma das economias mais fechadas do mundo, como também ficou para trás e não acompanhou movimentos mais recentes de liberalização de outras importantes nações emergentes, como as do México e da Índia. Assim, a proposta é sair de falsos dilemas do tipo “o que fazer primeiro”, em questões como “abrir ou reduzir o custo Brasil” ou reduzir tarifas autonomamente ou como parte de uma barganha em acordos multilaterais. Segundo Sandra, o Brasil não tem tempo a perder em termos de aproveitar os efeitos positivos sobre a produtividade da abertura e da redução ampla do protecionismo, incluindo política industrial. Assim, todas as linhas de ações dos dilemas mencionados acima devem ser atacadas simultaneamente: abrir e reduzir o custo Brasil, baixar tarifas e negociar acordos. “Uma tendência perniciosa no Brasil é a de manter um elevado grau de proteção como compensação pela ausência de reformas para reduzir o custo de produção no Brasil – a nossa proposta é justamente de romper com isso”.

Mais 20 anos? É necessário fazer uma discussão mais abrangente sobre a questão fiscal Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, Amir Khair 31 Julho 2016 as 05h00

É natural que haja otimismo em algumas análises quanto às expectativas favoráveis com o governo Temer. Dados recentes chegam a apontar que o fundo do poço já foi atravessado. Não compartilho dessa avaliação. Há de se ter cautela. Completado o impeachment, novas medidas mais amargas poderão aparecer. Outras virão após completado o período eleitoral municipal. Estão e estarão na linha da economia de despesas primárias (que excluem juros) do governo federal. Talvez o governo consiga aprovar antes das eleições de outubro mais um pacote: a PEC 241 (que prevê o congelamento de despesas primárias). Creio, no entanto, que isso só vá ocorrer após as eleições municipais, dado o impacto desfavorável com a população na área social e previdenciária. Além disso, há todo um processo de negociações com o Congresso, de olho nas eleições de outubro, e, em se tratando de emenda constitucional, tem trâmite mais demorado, devendo passar pela Câmara e pelo Senado com quórum de aprovação elevado. Mais complicado e difícil politicamente é a aprovação da reforma da Previdência, cujo debate talvez só ocorra com o início dos trabalhos legislativos em 2017. Segundo a equipe econômica, é necessário que as novas regras de aposentadoria sejam aplicadas o quanto antes, prevendo um período curto de transição do atual regime para o novo, onde deveria constar idade mínima de aposentadoria, desvinculação do piso previdenciário do salário mínimo e acabar com os regimes especiais para a mulher, trabalhador rural e professores. Não vai ser fácil e as centrais sindicais de trabalhadores 48


estão unidas, não aceitando redução de direitos para quem já está no mercado de trabalho, portanto, com transição longa. Admitindo que a PEC 241 seja aprovada ainda neste ano, que a reforma da Previdência ocorra como deseja a equipe econômica e não ocorram problemas maiores com a rigidez de despesas, a despesa primária do governo federal ficaria congelada por pelo menos dez anos: de 2017 a 2026, podendo ser estendida até 2036, perfazendo 20 anos de congelamento. Em um cenário como esse, o que poderia ocorrer com a situação fiscal? Perspectivas fiscais. Vamos supor que ocorra nesse período, de 2017 a 2036: a) um crescimento médio anual de 2%; b) inflação anual de 5% em 2017 e de 4% de 2018 em diante e; c) a taxa média de juros da dívida dos títulos federais seja de 12% em 2017 (Boletim Focus), caindo para 10% em 2018. E três alternativas para 2019 a 2036: permanecer em 10%, baixar para 8% e baixar para 6% (ver gráficos).

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Foto: Arte|EstadĂŁo

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Nessas condições, ocorreria no governo federal em relação ao PIB: a) déficit primário até 2023 e em 2026 o superávit primário estaria abaixo de 1%; b) déficit nominal (que considera juros) caindo de 10,2% em 2016 para em 2026 atingir 3,2% no caso de taxa de juros de 6%, 5,2% no caso de taxa de juros de 8% e ao redor de 8% até 2028 no caso da taxa de juros de 10%. No início deste ano, a dívida bruta do setor público estava em R$ 3,9 trilhões (66,5% do PIB) e a dívida mobiliária do governo federal estava em R$ 2,6 trilhões (44,7% do PIB), portanto 2/3 da dívida bruta. A evolução que teria essa dívida mobiliária em relação ao PIB seria: a) de elevação até 68,7% em 2023 no caso de taxa de juros de 6%; b) de elevação até 78,2% em 2028 e; c) de elevação contínua até o fim de 2036, quando atingiria 107,1%. Essas projeções mostram que, para um mesmo resultado primário, na hipótese de congelamento por 20 anos, o déficit nominal e a dívida mobiliária federal apresentam resultados elevados até 2023, mesmo com taxa de juros de 6%. Somente depois de 2023, com taxa de juros de 6%, é que reflui lentamente a relação dívida/PIB. Proposta. Para se ter resultado nominal tendendo mais rápido para o equilíbrio, é necessário um forte abatimento até o fim de 2017 da dívida mobiliária, que se encontra ao fim de maio em R$ 2,7 trilhões (45,6% do PIB). Isso poderia ocorrer de diversas iniciativas: a) venda de excesso de reservas internacionais (US$ 200 bilhões); b) redução da Selic para o nível de 6% até o fim deste ano; c) acelerar a devolução dos R$ 513 bilhões em créditos do Tesouro Nacional no BNDES; d) redução pela metade na disponibilidade de R$ 926 bilhões do Tesouro Nacional no Banco Central, que não rendem nada; e) venda de ativos desnecessários à finalidade pública. Admitindo que se proceda à política de redução da dívida mobiliária com ativos mal aplicados e, mesmo sem novas privatizações como a venda de participações acionárias do governo, seria possível até o fim de 2017 reduzir pela metade a dívida mobiliária prevista para o fim de 2017 (R$ 3,6 trilhões). Na hipótese de venda desses ativos se teria: a) déficits nominais fortemente cadentes e inferiores a 4% do PIB a partir de 2018 por causa da redução dos juros de 7,4% do PIB no fim deste ano para o nível de 2% do PIB a partir de 2018; b) equilíbrio fiscal (déficit nominal zero) em 2029 e superávits a partir de 2030 e; c) a dívida mobiliária federal cairia de 53% do PIB ao fim deste ano para níveis entre 30% e 35% do PIB de 2018 até 2029. Alternativas viáveis e independente de negociações com o Congresso existem. Para isso, é necessário uma discussão mais abrangente sobre a questão fiscal envolvendo o resultado nominal, para não ficar no samba de uma nota só do déficit primário e do corte social que vem de Dilma com Levy e Barbosa para Temer com Meirelles. O Banco Central aguarda o esforço fiscal do governo como condição necessária para reduzir a Selic. Enquanto isso, ao praticar a Selic elevada, é o principal causador da elevação de despesas. Já são 22 anos, desde o Plano Real, que o BC espera, também, a redução da inflação para reduzir a taxa de juros. Mais 20 anos?

O PT e a opção Dilma 'Os companheiros' parecem confusos e radicalmente divididos sobre apoiar a permanência da presidente afastada Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, Celso Ming 30 Julho 2016 as 16h00

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Até que ponto o PT está mesmo interessado na volta da presidente Dilma ao governo, com tudo o que viesse depois? O teatro e a retórica sugerem que está, sim, e que o interesse do partido se identifica com o interesse da presidente. Mas não é só a lógica que aponta para outra direção. Como tem acontecido em tantos outros assuntos, “os companheiros” parecem confusos e radicalmente divididos. A condenação do “golpe” a que se aferram peca por falha estratégica. O PT e a presidente Dilma vêm usando todos os recursos políticos e institucionais, os mesmos que passaram a denunciar como ilegítimos. Como aceitar como legítima a defesa da presidente Dilma se todo o processo deve ser considerado nulo, como opinam? Em outras palavras, é difícil vender a tese do golpe parlamentar e judiciário se os apoiadores da presidente afastada estão usando todos os meios e prerrogativas que lhes conferem a Constituição, as leis e os regimentos, tanto do Congresso quanto do Supremo. Se aceitam as regras do jogo, não há sentido em condená-las. Foto: IGOR COELHO/AGÊNCIA I7

A outra contradição está no comportamento prático. O PT refugou veementemente a política econômica colocada em marcha no segundo período Dilma. Descartou o que chamou de cavalo de pau na economia adotado ainda em dezembro de 2014, que “criou a sensação de estelionato eleitoral”. Malhou o quanto pôde o então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e sua política de ajuste. Malhou depois o ministro que lhe sucedeu, Nelson Barbosa, e também acusou seu programa fiscal “de destruir a base social petista, gerando confusão e desânimo nos trabalhadores, na juventude e na intelectualidade progressista”. E rejeitou também veementemente os primeiros passos em direção à proposta de reforma da Previdência feita pela própria presidente Dilma e pelo ministro Nelson Barbosa. Em lugar de tudo isso, os dirigentes do PT defenderam a retomada da política econômica do primeiro governo Dilma, baseada na enorme expansão das despesas públicas, nas desonerações fiscais, na distribuição de subsídios, na derrubada dos juros, na fartura de crédito – decisões que deveriam ser reforçadas pela venda imediata de reservas externas. Ainda nesta sexta-feira, o presidente Lula declarou que a solução da economia está na 52


expansão do consumo e na ativação do crédito, como se faltasse crédito – e como se a retranca no consumo fosse causa e não consequência dos desequilíbrios da economia. Na Resolução sobre a Conjuntura, de 17 de maio de 2016, o PT comprometeu-se com a defesa de Dilma no processo de impeachment, mas exigiu que, uma vez vitoriosa, adotasse mudança radical de rumo na política econômica adotada antes do seu afastamento do governo. Dilma chegou a propor que, uma vez de volta ao Palácio do Planalto, novas eleições fossem convocadas imediatamente para escolher novo chefe de governo. Mas essa é uma proposta de baixa viabilidade política, uma vez que exigiria renúncia do vice-presidente e aprovação de um Projeto de Emenda à Constituição (PEC), em dois turnos pelas duas Casas do Congresso, por maioria de três quintos. E, antes disso, seria preciso saber com que base parlamentar contaria a presidente Dilma para conduzir a economia, especialmente depois do rompimento com o PMDB liderado pelo vicepresidente, Michel Temer, agora seu desafeto. Independentemente disso, ou Dilma aceitaria a volta dos experimentos e do voluntarismo praticados enquanto vigorou a fracassada Nova Matriz Macroeconômica e sua política de pedaladas, ou adotaria uma variação qualquer da política de Temer, sem no entanto garantir a credibilidade necessária para isso. Qualquer que fosse a opção, teria potencial para produzir novos estragos e isso, decididamente, prejudicaria ainda mais o projeto eleitoral do PT, pelo menos o de 2018. Por isso, faria mais sentido que o PT permanecesse na oposição, de onde pudesse tirar proveito político de possíveis tropeços do governo Temer, do que voltasse à base de apoio de um eventual novo período Dilma. E se o PT não está inteiro contra o processo de impeachment, mais improvável ainda contar que seja rejeitado no Senado.

‘O mais pesado’ Principal liderança do País, Lula vai esgotando possibilidades para 2018 Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, Eliane Cantanhêde 31 Julho 2016 as 05h00

A “fonte” é quente: o que já saiu não é nada leve, mas as denúncias “mais pesadas” contra o ex-presidente Lula ainda estão por vir. É por isso que Lula e seus advogados se antecipam, em busca de uma duvidosa proteção no Comitê de Direitos Humanos da ONU. No ambiente político, a sensação é de que foi um ato de desespero, indicando que Lula sabe que pode ser preso e estaria aplainando terreno para um futuro pedido de asilo político. Obstrução de Justiça ao tentar evitar delações premiadas contra amigos e contra si, ocultação de patrimônio no caso do sítio e do triplex, suspeita de palestras fictícias para empreiteiras, envolvimento do filho na Zelotes... tudo isso, que já não é pouco, é apenas parte da história. Os investigadores estão comendo o mingau pelas bordas, até chegar ao centro, fervendo. No centro, podem estar as perigosas relações de Lula com o exterior, particularmente com Portugal, Angola, Cuba e países vizinhos. E o calor vem da suspeita com a qual a força-tarefa da Lava Jato trabalha de que Lula seja o cérebro, ou o chefe da “organização criminosa”. No mensalão, ele passou ao largo e José Dirceu aguentou o tranco. No petrolão, pode não ter a mesma sorte nem escudo. Lula tornou-se réu pela primeira vez, na sexta-feira, pelo menor dos seus problemas com a Justiça: a suposta tentativa de evitar a delação premiada do ex-diretor da Petrobrás Nestor 53


Cerveró, para que ele não abrisse o bico sobre as peripécias de seu amigo José Carlos Bumlai. Peripécias essas que seriam para atender a interesses, conveniências e possivelmente pedidos de Lula. Digamos que tentar obstruir a Justiça é um “crime menor”, quando Lula é suspeito de ter ganho fortunas e viver à custa de empreiteiras, numa rede de propinas, de toma lá, dá cá. Menor, mas impregnado de simbologia e de força política. Os fatos embolaram-se de quinta para sexta-feira, num ritmo de tirar o fôlego. Lula entra com a petição no Comitê da ONU, acusando o juiz Sérgio Moro de “abuso de poder” e “falta de imparcialidade”. Ato contínuo, sai o laudo da PF mostrando, até com detalhes constrangedores, como o ainda presidente e Marisa Letícia negociaram cada detalhe da reforma de um sítio que juram não ser deles e cujo dono oficial é um íntimo amigo que não tem renda para tal patrimônio. E, já no dia seguinte, explode a decisão da Justiça Federal do DF tornando Lula réu. O efeito prático da petição à ONU é remoto, ou nenhum. O comitê tem 500 casos, só se reúne três vezes por ano e está esmagado por guerras, atentados que matam dezenas e golpes de Estado sangrentos. Além disso, só acata pedidos semelhantes quando todas as instâncias se esgotaram no país de origem e Lula ainda está às voltas com a primeira instância. Conclusão: a ação é mais política do que jurídica. Já o laudo da PF é minucioso e bem documentado, criando uma dificuldade adicional para Lula: ele é suspeito de mentir sobre suas propriedades não apenas em seu depoimento às autoridades, mas à própria opinião pública. Difícil acreditar que não é dono do sítio que frequenta regularmente com a família, que recebeu uma reforma feita ao gosto do casal, que abriga os barcos para os netos e parte da mudança do Alvorada após o governo. Se mentiu, por que mentiu? Mais: Lula atacou Moro na ONU, mas se torna réu por um outro juiz, a muitos quilômetros de Curitiba. Vai alegar que há um complô dos juízes brasileiros contra ele? Porque são todos “de direita”? Ou são todos “tucanos”? Lula parece dar murro em ponta de faca, sem argumentos concretos para se defender e esgotando suas possibilidades não só de disputar em 2018, mas de liderar uma grande e saudável renovação da esquerda brasileira. “Cansei”, reagiu. Mas, se a “fonte” estiver correta, o “mais pesado” ainda vem por aí.

PT já não acredita na volta de Dilma à Presidência Às vésperas da votação do impeachment, cresce distanciamento entre partido e presidente FONTE O GLOBO FERNANDA KRAKOVICS E JEFERSON RIBEIRO 31/07/2016 ÀS 08H 40

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A presidente afastada, Dilma Rousseff - André Coelho / Agência O Globo / 3-5-2016

RIO — Com a proximidade da votação final do processo de impeachment, em agosto, cresce o distanciamento entre a presidente afastada, Dilma Rousseff, e o PT. Com o partido descrente, a resistência à destituição da presidente virou mais um discurso para animar a militância, e tentar conter o desgaste causado pela Operação Lava-Jato, do que uma mobilização para tentar virar votos no Senado que salvem Dilma. A presidente afastada, por sua vez, tem se mostrado mais preocupada em preservar sua biografia do que em voltar ao poder ou trabalhar pela sobrevivência política do PT. Na última quarta-feira, em entrevista à Rádio Educadora, ela jogou para o partido a responsabilidade pelo pagamento do marqueteiro João Santana, que disse ao juiz Sérgio Moro ter recebido recursos relativos à campanha de Dilma em caixa dois, no exterior. Veja também: 

Definida data do julgamento final do impeachment de Dilma

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Impasse no impeachment prejudica país e atrasa retomada econômica, diz Temer

Lideranças do PT tentaram minimizar a declaração de Dilma, afirmando ser natural que ela procure se eximir da culpa por eventuais irregularidades às vésperas da votação do impeachment. O partido afirma que todas as operações foram feitas dentro da legalidade e que as contas da campanha de 2010, às quais o marqueteiro se referiu, foram aprovadas pela Justiça Eleitoral. LULA BUSCA RECONSTRUIR SUA IMAGEM

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O ex-presidente Lula tem viajado pelo país, principalmente o Nordeste, na “Caravana Popular em Defesa da Democracia”. Petistas dizem que o principal objetivo de Lula é tentar reconstruir sua própria imagem e defender seu legado, sobretudo as conquistas sociais de seus oito anos de governo, visando às eleições de 2018, independentemente de ser ele o candidato ou outro nome escolhido pelo líder petista. O primeiro teste será este ano, nas eleições municipais. A prioridade do PT é reeleger o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Apesar de dizer que não há crime de responsabilidade que justifique o impeachment, Lula apontou, em atos este mês em Recife e em Carpina, na Zona da como a insistência nas desonerações e o endurecimento de regras para benefícios trabalhistas e previdenciários. O ex-presidente também disse que ela não seguiu seus conselhos para tentar superar a crise econômica: — A Dilma Rousseff, durante o ano de 2014, não se deu conta de que, ao abrir mão de imposto para favorecer os empresários, começou a faltar dinheiro no cofre para a gente poder fazer a economia continuar acontecendo. Depois das eleições, ela apresentou um programa de ajuste econômico que deixou muitos de nós descontentes, porque mexeu com a aposentadoria, com pescador, com mulheres que casavam com aposentados no Nordeste — disse Lula durante ato em Recife, no último dia 13. Mesmo assim, no dia anterior, em Carpina, Lula pediu a uma plateia de agricultores que, em vez de irem para a rua gritar “Fora, Temer”, enviassem mensagens de WhatsApp pressionando senadores que votaram pelo afastamento de Dilma. O Senado abriu o processo de impeachment com o apoio de 55 senadores. Para afastar definitivamente a presidente, são necessários 54 votos. Dilma, que teve na primeira votação, em maio, 22 votos, precisa convencer seis senadores a mudar de posição. Petistas afirmam que ainda não viraram nenhum voto e que correm o risco de perder apoios, como de Otto Alencar (PSD-BA). — Não tem mobilização. Se ainda tivesse viabilidade, mas não tem — disse um integrante da cúpula do PT. O partido, no entanto, continua com o discurso do “golpe” e pretende levar esse debate para as eleições municipais. — Não jogamos a toalha, ainda acreditamos. Tem três ou quatro senadores que estão mudando de voto — disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), ao discursar, domingo passado, na convenção do PCdoB que oficializou a candidatura de Jandira Feghali à prefeitura do Rio, com o PT de vice na chapa. Para um auxiliar de Dilma, a desmobilização se restringe a setores do PT, especialmente deputados interessados, segundo ele, em ter acesso ao governo interino de Michel Temer e a benesses na Câmara. Ainda segundo esse auxiliar, as articulações para tentar barrar o impeachment esfriaram semana passada devido ao recesso parlamentar. Integrantes do PT e de movimentos sociais reclamam que Dilma se encastelou no Palácio da Alvorada e viajou pouco para defender seu mandato. Desde que foi afastada, transformou seu perfil no Facebook em seu principal canal de comunicação. Também deu entrevistas, principalmente para a imprensa internacional. 56


FALTA DE TRAQUEJO POLÍTICO A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-chefe da Casa Civil de Dilma, é apontada como um retrato da deterioração da relação entre a presidente afastada e o PT. Apesar de continuar na linha de frente contra o impeachment, a senadora, nos bastidores, passou a se tornar uma crítica, dizem petistas. Gleisi ficou magoada, segundo esses petistas, com a bronca que levou de Dilma, junto com outros senadores, em 9 de maio. O grupo foi ao Palácio do Planalto comemorar a anulação, pelo então presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), da tramitação do processo de impeachment. Os senadores foram chamados de “idiotas”, segundo relatos, por acreditarem que aquela manobra se sustentaria. — Tá certo que a Dilma não é nenhuma mola de Fusquinha, não tem o corpo assim para tratar de política. Às vezes é dura, as pessoas têm medo dela, não conversa, e vai dificultando. Mas isso não é defeito, a gente conserta — disse Lula, no último dia 12, em discurso em Carpina (PE). A aposta na mudança de atitude de Dilma ocorre oito anos após a então ministra da Casa Civil receber um bambolê de presente do então líder do PMDB, deputado Henrique Alves (RN), para que tivesse “mais jogo de cintura”. IDAS E VINDAS DE UMA RELAÇÃO DIFÍCIL 2001 Filiação: Egressa do PDT, Dilma filia-se ao PT em 2001. Um ano depois, participa da equipe de transição entre os governos Fernando Henrique Cardoso e Lula, de quem se torna ministra de Minas e Energia, área em que atuava no Rio Grande do Sul. 2005 Na Casa Civil: Com a queda do ministro José Dirceu (Casa Civil), em 2005, abatido pelo escândalo do mensalão, assim como as principais lideranças petistas, Dilma assume esse ministério e começa a ter pavimentada sua candidatura à Presidência da República. Em 2008, ela é apresentada por Lula, em uma inauguração no Complexo do Alemão, no Rio, como “a mãe do PAC”. O Programa de Aceleração do Crescimento era o carro-chefe do segundo mandato do então presidente Lula. 2010 Faxina: Eleita em 2010, Dilma promove uma faxina ética em seu primeiro ano de mandato, afastando sete ministros sob suspeita de irregularidades, sendo cinco deles herdados do governo Lula. Fogo amigo: Vista como uma estranha no ninho pelo PT, Dilma tem que conviver durante seu primeiro mandato com o movimento “Volta, Lula”. Divergências: Criador e criatura têm várias divergências, sendo uma das principais a condução da área econômica. 57


No primeiro mandato de Dilma, Lula queria que ela substituísse o então ministro da Fazenda, Guido Mantega. Um de seus nomes preferidos era o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Dilma só substituiu Mantega no segundo mandato e nomeou para seu lugar Joaquim Levy, execrado pelo PT. Críticas ao governo: O PT e Lula consideram a articulação política e a comunicação os calcanhares de aquiles do governo Dilma. Reclamam que ela não dialoga com o Congresso, com os movimentos sociais nem com os empresários. Queixam-se de que Dilma e seus ministros viajam pouco, fazem poucos discursos e dão poucas entrevistas. A cada crise, a presidente promete ampliar o diálogo e vender melhor o governo. 2015 Troca de equipe: No início do segundo mandato, Dilma tira todos os ministros ligados a Lula do Palácio do Planalto e se cerca de petistas de sua confiança, que não eram da ala majoritária do partido. Cobrança: Lula cobra do governo Dilma que condene supostos excessos da Polícia Federal e do juiz Sérgio Moro na Lava-Jato. A presidente afirma que a Polícia Federal tem autonomia para trabalhar e que os culpados seriam punidos, “doa a quem doer”. Só o ajuste?: Lula e o PT reclamam que o ajuste fiscal não pode ser um fim em si mesmo e cobra boas notícias para a população. Ouvidos de mercador: Lula diz a aliados que Dilma não leva em conta suas opiniões. Volume morto: Em junho de 2015, em reunião fechada com religiosos em seu instituto, o expresidente critica duramente Dilma e atribui ao governo dela, sobretudo no segundo mandato, a crise vivida pelos petistas. Para Lula, as taxas de aprovação de Dilma e dele próprio estão no “volume morto”, e a do PT, “abaixo do volume morto”, numa referência à crise hídrica paulista. Outras prioridades: Diante da maior crise econômica em 20 anos, Dilma e PT optam por caminhos distintos. Dilma passa a defender medidas como a reforma da Previdência e a redução da participação obrigatória da Petrobras no pré-sal, contrariando bandeiras históricas do partido. 2016 Ausência: Em um dos momentos de maior tensão entre Dilma e o PT, ela estica uma visita ao Chile e não comparece, em fevereiro, na comemoração dos 36 anos do partido, no Rio. Reaproximação na crise: A ameaça do impeachment de Dilma a reaproxima, num primeiro momento, do seu partido. Porém, após o Senado aprovar o afastamento da presidente, confirmando votação da Câmara dos Deputados, o PT se desmobiliza e, com o discurso do “golpe”, passa a priorizar sua sobrevivência nas eleições de 2018.

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Definida data do julgamento final do impeachment de Dilma Início será em 29 de agosto e término em 2 de setembro, a tempo de Temer viajar para o G-20 FONTE JORNAL O GLOBO, CRISTIANE JUNGBLUT 31/07/2016 AS 14H 10

A presidente afastada Dilma Rousseff - Divulgação/ 15/07/2016

BRASÍLIA — O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, já acertou com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que terá início dia 29 de agosto e término em 2 de setembro a data do julgamento final da presidente afastada Dilma Rousseff. Com o término previsto para 2 de setembro, se Dilma for definitivamente afastada, Temer pode viajar tranquilo para a reunião do G-20, na China, a partir de 6 de setembro. Veja também: 

Dilma diz que impeachment foi golpe parlamentar e um ato misógino

Recado no mural dos atletas causa polêmica

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Partidos se afastam das manifestações de rua pró-impeachment

Pelas regras de um processo de impeachment, Lewandowski é o presidente do processo a partir da segunda fase, ou seja, a partir do momento em que a presidente é afastada. Segundo assessores do STF, o cronograma foi pactuado entre o presidente da Corte e o Senado. A expectativa é que o julgamento dure pelo menos cinco dias, até dia 2 de setembro.

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O Palácio do Planalto considera fundamental a conclusão do impeachment antes do dia 6 de setembro, quando haverá o encontro do G-20. O presidente interino, Michel Temer, quer viajar tranquilo e já como presidente efetivo. O presidente do STF também tem todo o interesse em concluir o cronograma dentro dos prazos legais, até porque seu mandato à frente da Corte acaba no dia 10 de setembro. Desde o ínício, o único consenso entre aliados de Dilma e os defensores do impeachment é que o processo seja concluído na gestão de Lewandowski. A ministra Cármen Lúcia deve tomar posse como nova presidente do STF no dia 14 de setembro. Assessores de Lewandowski ressaltam que o ministro tem cobrado o estrito cumprimento do cronograma legal e que não há qualquer tratativa para atrasar o processo. Como presidente do processo de impeachment, Lewandowski será o presidente das sessões do Senado nessas fases finais. Na prática, há três grandes votações no Senado: a aprovação da abertura do processo, que ocorreu no dia 12 de maio; o juízo de pronúncia, que é quando o Senado dirá que há elementos para o julgamento; e o julgamento definitivo da presidente afastada. Lewandowski presidirá as sessões do juízo de pronúncia e o julgamento final. Tanto que já há negociações entre defesa e acusação para que seja reduzido o número de testemunhas no julgamento final, de dez para cada lado. A votação do chamado juízo de pronúncia também já foi acertada: no próximo dia 9 de agosto. Na próxima terça-feira (02), o processo de impeachment entra numa fase decisiva. Neste dia, o relator do processo de impeachment na comissão especial, senador Antonio Anastasia (PSDBMG), vai ler seu relatório final, ou seja, o chamado juízo de pronúncia. No dia 04 de agosto, o parecer de Anastasia será votado na comissão. No dia 9 de agosto, o Senado então votará o parecer de Anastasia, que deverá reafirmar que há elementos para o julgamento de Dilma. Segundo o acerto, Renan abrirá a sessão às 9h e passará os trabalhos ao ministro Lewandowski, que explicará as regras da votação. A expectativa é a sessão dure de 15 horas a 20 horas, como a que ocorreu em maio. O parecer, mais uma vez, precisa ser aprovado por maioria simples, ou seja, pelo menos 41 dos 81 senadores. Ao final da sessão de pronúncia, Lewandoswski faz a intimação para que a acusação apresente em 48 horas o libelo acusatório e para que a defesa, 48 horas depois, apresente sua contradita. O dia 29 será o julgamento final de Dilma, que está afastada desde o dia 12 de maio. Pela legislação, ela pode ficará afastada até 180 dias. O impeachment tem que ser aprovado por 2/3 dos senadores, ou seja, por pelo menos 54 dos 81 parlamentares,

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Reeleição de Michel Temer em 2018 deixa de ser tabu no governo Alan Marques/Folhapress

O presidente interino, Michel Temer, em entrevista exclusiva à Folha

DANIELA LIMA GUSTAVO URIBE DE BRASÍLIA 31/07/2016 as 02h00

Aos menos três ministros proeminentes do presidente interino mencionam, em conversas reservadas, o nome de Michel Temer (PMDB) para disputar a eleição de 2018 no caso de êxito de sua gestão na confirmação do impeachment de Dilma Rousseff. O assunto é tratado nos bastidores e com discrição, por dois motivos. Primeiro, Temer ainda não superou o período de interinidade, status que só perderá se o Senado decidir pela condenação da petista. Outro ponto está na animosidade de partidos hoje fundamentais à estabilidade do novo governo com o tema. Para atrair à sua base de apoio siglas como PSDB, DEM e PSB, Temer se comprometeu a não disputar a reeleição em 2018. Inclusive, às vésperas da apreciação do afastamento de Dilma na 61


Câmara, sinalizou que poderia formalizar sua intenção enviando ao Congresso uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) propondo o fim da reeleição no Brasil. Mas a avaliação corrente entre aliados e assessores do peemedebista é a de que, caso ele consiga emplacar marcas e melhorar a avaliação do governo até 2018, estará naturalmente credenciado para disputar a reeleição, mesmo que hoje não admita isso publicamente. IMAGEM Um grupo que atua para nortear a comunicação de Temer e do PMDB prevê que, só com o fim do processo de impeachment e a possível afirmação dele como titular do Planalto, ele consiga melhorar no curto prazo sua avaliação positiva entre cinco e oito pontos percentuais –segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada este mês, só 14% consideram a gestão do interino ótima ou boa. Nos cálculos de aliados, a eventual candidatura ganhará força se o peemedebista conseguir elevar a mais 50% a aprovação ao governo nos próximos dois anos. Nesse cenário, o nome dele poderia ser apresentado por integrantes do próprio governo e do PMDB como uma alternativa segura para "evitar a fragmentação da base aliada" durante a eleição. Esse argumento seria reforçado pela avaliação de que o lançamento de candidaturas próprias de diferentes siglas hoje alinhadas ao governo –como PSDB, PSB e DEM– poderia beneficiar nomes do campo oposicionista, como Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Marina Silva (Rede). MELINDRE Há ainda uma outra preocupação entre os defensores dessa tese, que é a de não melindrar com rumores os potenciais candidatos que já existem no governo do interino, entre eles o chanceler José Serra (PSDB) e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD). Ambos têm função de proa na administração peemedebista e contam com a possibilidade de usar o desempenho no governo como cartão de visitas caso entrem no páreo pelo Planalto. O desenho dá ainda mais força para a aproximação entre as cúpulas do PMDB e do PSD, conduzida por Temer e pelo ministro Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia), presidente do segundo partido. Amigo de Serra há anos e fiador da filiação de Meirelles à sua legenda, Kassab terá de equilibrar os interesses de ambos até a próxima disputa nacional, quando PMDB e PSD querem se firmar, juntos, como o grupo político que vai furar a polarização entre PT e PSDB. Pessoas próximas a Serra afirmam que o ministro tem clareza que, no caso de um sucesso extremo da gestão Temer, seria natural a pressão para que o interino se apresentasse à reeleição. Em todo caso, como o interino já se comprometeu a não disputar em 2018, a ideia é que ele siga negando a iniciativa e seja mantido a uma distância segura da articulação, atribuindo a ofensiva a aliados e auxiliares.

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Procuradoria denuncia Paulo Bernardo por organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro Além do ex-ministro do Planejamento do governo Lula, Ministério Público Federal acusa mais 19 por desvios de R$ 102 milhões de empréstimos consignados Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, Julia Affonso, Fausot Macedo e Mateus Coutinho 01 Agosto 2016 as 11h34

Paulo Bernardo. Foto: Dida Sampaio/Estadão

O Ministério Público Federal, em São Paulo, denunciou o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo (Governo Lula) e mais 19 investigados. O grupo é acusado de montar uma organização criminosa no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão entre 2009 e 2015, responsável por lavagem de dinheiro e pagamento de propinas para o PT e diversos agentes públicos e privados, que superam os R$ 100 milhões. O sistema de pagamento de propina, segundo a Procuradoria da República, envolveu a celebração de um Acordo de Cooperação Técnica entre a Pasta e duas entidades representativas de instituições financeiras, a Associação Brasileira de Bancos e o Sindicato Nacional das Entidades Abertas de Previdência Complementar para a contratação da empresa Consist em 2010. O esquema de propina funcionou até 2015 e custou cerca de 70% do faturamento líquido da empresa, que criou um software para a gestão dos empréstimos consignados de servidores do Poder Executivo Federal. Foram oferecidas três denúncias pela Procuradoria, que resultam da Operação Custo Brasl, deflagrada em 23 de junho, desdobramento das fases 17 e 18 (Pixuleco 1 e 2) da Operação Lava Jato. As denúncias são de autoria dos procuradores da República Andrey Borges de Mendonça, Rodrigo de Grandis, Sílvio Luís Martins de Oliveira e Vicente Solari de Moraes Rego Mandetta da força-tarefa da Custo Brasil. A primeira e a mais ampla denúncia trata dos crimes de organização criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e obstrução da investigação. Essa acusação abarca Paulo Bernardo e mais 12 investigados e trata dos fatos relacionados à organização 63


criminosa que, segundo a força-tarefa, foi criada em torno do contrato da empresa Consist no âmbito do Ministério do Planejamento. Na Pasta, afirma a Procuradoria, o esquema envolvia o pagamento de propinas para agentes públicos diretamente implicados com a estruturação do Acordo de Cooperação Técnica e sua manutenção. A propina, de acordo com a denúncia, era paga para que a Consist fosse mantida como a prestadora do serviço. Neste bloco de agentes públicos, além de Paulo Bernardo, a denúncia alcança Nelson Luiz Oliveira Freitas – que está preso -, diretor do departamento de administração de sistemas de informação. O esquema também envolvia diretamente Duvanier Paiva, secretário de Recursos Humanos, que morreu em janeiro de 2012.

COM A PALAVRA, A ADVOGADA VERÔNICA A. STERMAN, QUE REPRESENTA O EX-MINISTRO PAULO BERNARDO: “O ex-ministro Paulo Bernardo reitera que não participou ou teve qualquer ingerência na celebração ou manutenção do acordo de cooperação técnica celebrado autonomamente entre a Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e as associações de Bancos e Previdência (ABBC e SINAPP). Também reitera que não se beneficiou de qualquer quantia da Consist, quer direta ou indiretamente. Por fim, espera e acredita que a Justiça reconhecerá a improcedência das acusações”.

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Custo com partidos chega a R$ 9,4 bilhões em 10 anos Recursos são do Fundo Partidário e de renúncias fiscais da União para bancar horário eleitoral gratuito na TV e no rádio; siglas ‘nanicas’ ficaram com 20% das verbas Fonte Daniel Bramatti, Jornal O Estado de S. Paulo 01 Agosto 2016 as 03h00

Entre repasses do Fundo Partidário e renúncias fiscais para bancar a propaganda no rádio e na TV, os mais de 30 partidos políticos brasileiros custaram aos cofres públicos cerca de R$ 9,4 bilhões nos últimos dez anos. Esse valor equivale ao da obra mais cara da Olimpíada do Rio: a construção da linha de metrô entre Ipanema, na zona sul, e a Barra da Tijuca, na zona oeste, com 16 quilômetros de extensão. Além da propaganda eleitoral e partidária na TV, esses recursos custearam aluguéis de sedes, viagens de dirigentes, compra de equipamentos e pagamento de pessoal de todas as legendas – desde as mais influentes nos rumos do País, como PT, PMDB e PSDB, até os vários “nanicos” que atuam como coadjuvantes no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas. Até recentemente, os cofres públicos pareciam ser uma fonte inesgotável de verbas – mas o quadro mudou com a crise econômica. Além disso, a disputa por esses recursos se acirrou após a proibição do financiamento de campanhas por empresas (mais informações nesta página). É nesse contexto que volta a prosperar no Congresso e no governo a ideia de reservar o acesso aos subsídios públicos apenas às legendas com maior representatividade política, com a adoção da chamada cláusula de barreira. Foto: Infográfico/Estadão

Segundo cálculos do Estadão Dados, de cada R$ 5 do financiamento público das atividades políticas na última década, R$ 1 foi direcionado a partidos com baixa representatividade, que obtiveram menos de 2% dos votos na última eleição para a Câmara dos Deputados em termos nacionais ou na maioria dos Estados. Enquadram-se nessa categoria 19 legendas, que custaram R$ 1,7 bilhão em subsídios desde 2007. 65


Esses 19 partidos, que elegeram apenas 13% dos deputados federais em 2014, perderiam acesso ao Fundo Partidário e à propaganda gratuita na TV se já estivesse em vigor a cláusula de barreira que PSDB e PMDB pretendem aprovar, por meio de uma proposta de Emenda à Constituição. Já as 13 legendas detentoras das demais 87% das vagas da Câmara sairiam ganhando, ao reduzir o número de concorrentes com quem teriam de disputar o dinheiro do Fundo Partidário e a atenção dos espectadores do horário eleitoral. Rateio. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que o Fundo Partidário distribuiu R$ 4,4 bilhões em recursos públicos nos últimos dez anos. Os repasses anteriores a 2016 foram corrigidos pela inflação para representar seu valor presente. O dinheiro sai do Orçamento da União, ou seja, dos impostos pagos pelos contribuintes. Já o custo da propaganda eleitoral e partidária não se refere a uma despesa direta do governo, mas ao que ele deixa de arrecadar. Gratuito para as legendas, o tempo de exibição é pago na forma de isenção de impostos para as emissoras de rádio e televisão. Segundo cálculos da Receita Federal, essa renúncia fiscal chega a quase R$ 5 bilhões na soma de 2007 a 2016. Apenas neste ano, de acordo com estimativa da Receita, cerca de R$ 562 milhões deixarão de ser pagos em impostos como compensação pela cessão de tempo de rádio e televisão. As campanhas dos candidatos a prefeito terão dois blocos diários de dez minutos no horário eleitoral fixo, de segunda-feira a sábado. Além disso, serão exibidos 70 minutos diários de inserções de até 30 segundos, distribuídas ao longo da programação das emissoras, até mesmo aos domingos. A conta de 2016 que será paga pelos contribuintes também abrange as propagandas feitas pelos partidos no primeiro semestre nesse caso, ao menos em tese, o foco não eram as eleições, mas a difusão dos programas das legendas. Para isso, os telespectadores foram bombardeados com 275 minutos de programas no horário nobre das emissoras, além de 429 minutos de inserções distribuídas ao longo dos dias.

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