Serviço Social nas Empresas

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11,1 mm

16,7cm x 24cm

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A responsabilidade social das empresas pretende essencialmente comprometer as empresas na promoção da coesão social e no desenvolvimento e implementação de práticas sociais, que vão muito além do mero cumprimento das obrigações legais. Os assistentes sociais, ao aliar as suas habituais práticas profissionais à responsabilidade social, utilizam as suas competências e habilidades para a criação e desenvolvimento de medidas que permitam a proteção e promoção do bem-estar nas empresas dos colaboradores e das suas famílias (vertente interna), bem como da sociedade (vertente externa).

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ISBN 978-989-693-095-0

w w w.pac to r.pt

9 789896 930950

HELENA TELES

O livro que faltava para conhecer o profissional de serviço social: qual o perfil do assistente social e como está estruturada esta profissão em Portugal. Destinado a profissionais e estudantes.

O presente livro, dirigido aos profissionais ou estudantes da área do Serviço Social, encontra-se dividido em duas partes inter-relacionadas. Na primeira, faz-se o enquadramento do Serviço Social e da responsabilidade social nas organizações empresariais. Na segunda parte, é apresentado um estudo de caso, no qual se caracterizam várias empresas, e o posicionamento que as mesmas detêm face às práticas de responsabilidade social. São também evidenciados os modelos de intervenção social utilizados pelos assistentes sociais, revelando os principais desafios que se colocam atualmente ao Serviço Social nas empresas, como é o caso da COVID-19.

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Guia essencial sobre a intervenção dos profissionais de Serviço Social no contexto da COVID-19. Planos de contingência e casos práticos em hospitais, autarquias e instituições de solidariedade social.

O Serviço Social nas empresas tem como principal especificidade o facto de atender às ações sociais do trabalhador (nas situações intimamente relacionadas com a satisfação das necessidades humanas) e como objetivo último a transformação social. Neste sentido, cabe ao assistente social criar condições para que o trabalhador desenvolva as suas capacidades.

SERVIÇO SOCIAL NAS EMPRESAS

SERVIÇO SOCIAL NAS EMPRESAS

16,7cm x 24cm

HELENA TELES

SERVIÇO SOCIAL NAS EMPRESAS PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL

Prefácio de Silvana Martínez, Presidente da Federação Internacional de Assistentes Sociais Posfácio de Maria Irene de Carvalho, Professora Associada do ISCSP-ULisboa

9cm

HELENA TELES Licenciada em Serviço Social pelo Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa (ISSSL), é Mestre em Serviço Social pela Universidade Lusíada de Lisboa (ULL) e Doutora em Ciências Sociais na especialidade de Serviço Social, pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP-ULisboa). Professora no ISCSP-ULisboa, na Unidade de Serviço Social/Política Social e Investigadora do Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP), é autora de diversos capítulos e artigos científicos em revistas nacionais e internacionais sobre o engagement, bem-estar e stress dos assistentes sociais, a co-construção de redes colaborativas nas escolas, e o ensino do Serviço Social em Portugal. Tem ainda como áreas de interesse e estudo o Serviço Social nas empresas, as competências profissionais dos assistentes sociais e a intervenção social com crianças e jovens em risco e perigo.


EDIÇÃO PACTOR – Edições de Ciências Sociais, Forenses e da Educação Av. Praia da Vitória, 14 A – 1000-247 LISBOA Tel: +351 213 511 448 pactor@pactor.pt DISTRIBUIÇÃO Lidel – Edições Técnicas, Lda. R. D. Estefânia, 183, R/C Dto. – 1049-057 LISBOA Tel: +351 213 511 448 lidel@lidel.pt www.lidel.pt LIVRARIA Av. Praia da Vitória, 14 A – 1000-247 LISBOA Tel: +351 213 511 448 livraria@lidel.pt Copyright © 2020, PACTOR – Edições de Ciências Sociais, Forenses e da Educação ® Marca registada da FCA – Editora de Informática, Lda. ISBN edição impressa: 978-989-693-095-0 1.ª edição impressa: julho de 2020 Paginação: Carlos Mendes Impressão e acabamento: Realbase – Sistemas Informáticos, Lda. – Albergaria-a-Velha Depósito Legal n.º 471685/20 Capa: José Manuel Reis Todos os nossos livros passam por um rigoroso controlo de qualidade, no entanto, aconselhamos a consulta periódica do nosso site (www.pactor.pt) para fazer o download de eventuais correções. Não nos responsabilizamos por desatualizações das hiperligações presentes nesta obra, que foram verificadas à data de publicação da mesma. Os nomes comerciais referenciados neste livro têm patente registada. Reservados todos os direitos. Esta publicação não pode ser reproduzida, nem transmitida, no todo ou em parte, por qualquer processo eletrónico, mecânico, fotocópia, digitalização, gravação, sistema de armazenamento e disponibilização de informação, sítio Web, blogue ou outros, sem prévia autorização escrita da Editora, exceto o permitido pelo CDADC, em termos de cópia privada pela AGECOP – Associação para a Gestão da Cópia Privada, através do pagamento das respetivas taxas.


Índice Prefácio.......................................................................................................................... XI Silvana Martínez

Introdução..................................................................................................................... XIII PARTE I

1

Enquadramento Teórico Capítulo 1

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As Organizações Empresariais: Origem e Evolução do Pensamento A evolução do contexto: da sociedade industrial à sociedade de informação............. 4 As empresas: origem e evolução das teorias de gestão............................................... 7 Estruturas, culturas, pensamentos e planeamentos estratégicos das organizações: missão, princípios e valores........................................................................................... 13 Considerações finais...................................................................................................... 17 A responsabilidade social empresarial........................................................................... 19 Capítulo 2

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A Responsabilidade Social na Agenda das Organizações Empresariais A evolução da responsabilidade social empresarial: marcos históricos.................. 20 Conceito e abrangência da responsabilidade social................................................ 25 Livro Verde: Promover um quadro europeu para a responsabilidade social das empresas.................................................................................................................. 28 Dimensões da responsabilidade social.................................................................... 31 Stakeholders: definição do conceito e a sua importância............................................. 36 Principais perspetivas teóricas................................................................................. 37 Administração do score dos stakeholders............................................................... 38 Estratégias e princípios de gestão dos stakeholders............................................... 40 Relatórios sociais: o espelho dos investimentos socialmente responsáveis................. 42 Fundamentos dos relatórios sociais......................................................................... 43 Global Reporting Initiative......................................................................................... 44 Investimentos socialmente responsáveis................................................................. 45 Normas da responsabilidade social............................................................................... 47 Social Accountability International: SA8000............................................................. 47 AccountAbility’s: AA1000......................................................................................... 48 International Organization for Standardization: ISO26000....................................... 49 Considerações finais...................................................................................................... 51 VII


Serviço Social nas Empresas: Práticas de Responsabilidade Social

Capítulo 3

53

Contextualização do Serviço Social nas Empresas Das origens à contemporaneidade................................................................................ 54 Época pré-industrial................................................................................................. 54 Época industrial: os séculos XVII e XIX.................................................................... 55 Os contributos das referências pioneiras: Mary Richmond e Jane Addams........... 57 História do Serviço Social nas empresas portuguesas.................................................. 59 Revista Elo – Serviço Social Corporativo e do Trabalho: um relato das práticas exercidas entre 1964 e 1973.................................................................................... 62 Disseminação das práticas do Serviço Social às províncias ultramarinas............... 65 Companhia Nacional Petroquímica: um caso de referência.................................... 66 Definição do Serviço Social nas empresas.................................................................... 66 Enquadramento internacional................................................................................... 68 Labor and industrial settings: social work practice................................................... 70 Delimitação dos objetivos do Serviço Social nas empresas......................................... 72 Desenvolvimento do capital humano das empresas................................................ 72 Maximização dos recursos e mobilização social..................................................... 73 Promoção do bem-estar social................................................................................ 74 Intervenção social: modelos, papéis e funções dos assistentes sociais em organizações empresariais............................................................................................. 75 Modelos e competências dos assistentes sociais................................................... 76 Perfil, papéis e funções desempenhadas pelos assistentes sociais........................ 78 Metodologias e formas de intervenção social nas empresas........................................ 82 Métodos de intervenção: caso, grupo, comunidade e ao nível da investigação empresarial operacional........................................................................................... 82 Formas de intervenção: relação contratual dos profissionais com as empresas.... 83 Fases de intervenção social: uma prática sustentada na teoria.............................. 85 Considerações finais...................................................................................................... 86 PARTE II

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Estudo de Casos Capítulo 4

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Particularidades das Empresas e o Posicionamento da Responsabilidade Social Características gerais das empresas............................................................................. 91 Natureza e origem das empresas............................................................................. 92 Missão, princípios e valores empresariais................................................................ 93 O lugar da responsabilidade social na estratégia interna das empresas....................... 95 Visão e planeamento estratégico ao nível da administração................................... 95 As estratégias convergentes.................................................................................... 96 Comunicação............................................................................................................ 97 O entendimento da responsabilidade social empresarial........................................ 99 VIII


Índice

As diretrizes internacionais....................................................................................... 100 As práticas sociais na vertente interna da responsabilidade social empresarial..... 101 As práticas sociais externas..................................................................................... 102 A gestão das parcerias empresariais, os relatórios sociais e as certificações.............. 103 A relação com os stakeholders................................................................................. 103 Os relatórios sociais como um espelho dos investimentos socialmente responsáveis............................................................................................................. 104 A importância da certificação das práticas socialmente responsáveis.................... 105 Disposição e contextualização da responsabilidade social nas organizações.............. 107 Considerações finais...................................................................................................... 109 Capítulo 5

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O Serviço Social nas Empresas Portuguesas Contextualização histórica do Serviço Social nas empresas........................................ 111 O entendimento do Serviço Social nas empresas......................................................... 112 A importância da formação dos assistentes sociais................................................ 115 Missão, princípios, valores: consonâncias ou discrepâncias do empresarial com o social..................................................................................................................... 117 Finalidades do Serviço Social nas empresas........................................................... 118 Particularidades do Serviço Social das empresas......................................................... 124 Especificidades dos sujeitos de intervenção........................................................... 124 Dicotomia entre empresa e colaborador: a questão de autonomia da intervenção do profissional.......................................................................................................... 126 Dilemas éticos identificados..................................................................................... 129 Confidencialidade dos dados............................................................................. 131 Reconhecimento e visibilidade da intervenção social: na perspetiva da empresa e do colaborador...................................................................................................... 134 A visibilidade que a intervenção social detém dentro da própria empresa........ 136 O posicionamento do Serviço Social nas empresas..................................................... 137 Considerações finais...................................................................................................... 139 Capítulo 6

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Modelos da Prática e os Desafios dos Assistentes Sociais nas Empresas Métodos de intervenção: de caso, grupo, comunitários e ao nível da investigação e da administração......................................................................................................... 141 Modelos de intervenção social nas empresas............................................................... 144 Direcionado para os colaboradores......................................................................... 144 Centrado na empresa............................................................................................... 149 Orientado para o consumidor................................................................................... 152 As estratégias e as formas de intervenção.................................................................... 153 Conceção e elaboração do diagnóstico social: as fontes de informação............... 153 Delimitação das principais áreas de intervenção social........................................... 156 A importância da avaliação dos resultados da intervenção social........................... 158 Inovação, sucessos e insucessos.................................................................................. 160 IX


Serviço Social nas Empresas: Práticas de Responsabilidade Social

Desafios e oportunidades futuras.................................................................................. 162 Metodologias de abordagem dos profissionais do Serviço Social nas empresas........ 167 Prática profissional: modelo unifocal, bifocal e multifocal............................................. 169 Considerações finais...................................................................................................... 172

Conclusão...................................................................................................................... 175 Posfácio..........................................................................................................................

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Maria Irene de Carvalho

Bibliografia..................................................................................................................... 181 Índice Remissivo........................................................................................................... 191

X


Prefácio Quiero agradecer profundamente a la colega Helena Teles, autora de tan importante obra, quien me ha honrado con la invitación a realizar el prefacio de este libro. Un libro que sin duda alguna significa un enorme y valioso aporte para la profesión y para pensar nuestras intervenciones como Trabajadores Sociales en el campo de las Empresas y su vinculación con las prácticas de Responsabilidad Social Empresarial. Es un gran honor para mí presentar el libro de esta colega. Como ella misma lo señala en la introducción, se trata de un libro sumamente necesario y oportuno, porque viene a llenar un vacío en la profesión, no sólo en Portugal, país de referencia de la autora, sino también en muchos otros países del mundo. El tema que aborda la colega en este libro no está muy difundido en la profesión, tal vez por la división provocada por el positivismo entre el mundo económico donde operan las empresas y el mundo social donde intervenimos los Trabajadores Sociales. Se trata por supuesto de una división falaz y sin ningún fundamento, pero que sin embargo es muy eficaz ya que los Trabajadores Sociales no nos hemos formado suficientemente en el mundo económico y por tanto no hemos intervenido suficientemente en este ámbito, a pesar de la multiplicidad de cuestiones y problemáticas para las cuales sin dudas tenemos competencia profesional. De hecho, el mundo económico-empresarial no es un mundo natural, sino un mundo social, construido históricamente y reproducido por los sujetos sociales con sus prácticas sociales. Por tanto, los Trabajadores Sociales tenemos en este ámbito un amplio espectro de posibilidades de intervención profesional.

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Como la autora señala en este libro, las profundas transformaciones del mundo del trabajo, los mercados y las Empresas con sus prácticas de responsabilidad social, implican necesariamente una profunda reflexión en relación a las implicancias y los desafíos del Trabajo Social en las Empresas. Estas reflexiones se dan en el marco de los principios rectores que sustentan la profesión, plasmados en la Definición Internacional de Trabajo Social aprobada por la Federación Internacional de Trabajadores Sociales y la Asociación Internacional de Escuelas de Trabajo Social en el año 2014. Pero también implica una necesaria reflexión crítica en el marco de los Objetivos de Desarrollo Sostenible cuyo cumplimento constituye también horizontes de sentidos para el Trabajo Social contemporáneo. Una de las problemáticas en la cual podemos intervenir los Trabajadores Sociales en el mundo económico-empresarial es el de la Responsabilidad Social Empresarial, tema que aborda maravillosamente la colega Helena Teles en este libro. Es un tema de gran actualidad y que en distintos países ha sido debatido ampliamente, siendo objeto incluso de proyectos legislativos con diversos alcances. También fue abordado por los Organismos Internacionales ante la gran expansión mundial de las empresas, especialmente después de la caída del muro de Berlín el 9 de noviembre de 1989. La expansión mundial del capitalismo y de las grandes corporaciones transnacionales implicó como contrapartida una gran amenaza para la naturaleza y la vida humana ante el avance e intensificación de las actividades económicas sin tener en cuenta la responsabilidad social que debían asumir las empresas. Este es un libro que articula maravillosamente la historiografía no sólo del significado de las Empresas y la responsabilidad social de éstas, sino también del Trabajo Social y XI


Serviço Social nas Empresas: Práticas de Responsabilidade Social

del aporte de las pioneras de nuestra profesión en el ámbito de las Empresas como un espacio donde se condensa en tanto praxis, la teoría y la práctica profesional, habitada a su vez, por la dimensión ético-política que la configura y la constituye. En la primera parte, en los dos primeros capítulos, la autora da cuenta de la trayectoria que tuvieron estos procesos históricos y los avances en materia de Responsabilidad Social Empresarial, abordando luego en los siguientes cuatro capítulos la problemática de la intervención profesional de los Trabajadores Sociales en las Empresas y en la cuestión de la Responsabilidad Social Empresarial, analizando con gran solvencia su importancia, objetivos, fundamentos, estrategias e instrumentos de intervención profesional. En la segunda parte, la autora presenta diversos estudios de casos, analizando con mayor detalle y profundidad las cuestiones discutidas en la primera parte del libro. De esta manera, integra acertadamente en un solo cuerpo de lectura la multiplicidad de elementos teóricos y prácticos que conforman por un lado la problemática de la Responsabilidad Social Empresarial y por otro lado la problemática de la intervención profesional de los Trabajadores Sociales en la misma. Quiero destacar muy especialmente el enorme esfuerzo puesto por la colega en la publicación de este libro que, como dije antes, es tan necesario y oportuno. Este esfuerzo se evidencia en una multiplicidad de detalles: la estructuración de los capítulos, la correspondencia entre la primera y la segunda parte del libro, la actualización y diversidad bibliográfica, el uso de instrumentos cualitativos de investigación, la adopción de un enfoque interpretativo para el estudio del problema, los interrogantes que configuran el problema de investigación, la coherencia y sistematicidad argumentativa, entre otros aspectos. Quiero felicitar a la colega por el enorme esfuerzo puesto de manifiesto en este libro, por los aportes valiosos que implica para la profesión, por producir conocimientos en un área de vacancia y en un tema de gran relevancia y por animarse a realizar un aporte genuino con un gran rigor teórico y metodológico. Me enorgullece como colega y Presidenta Mundial de la Federación Internacional de Trabajadores Sociales. Es un hecho digno de imitar, que seguramente será una gran motivación para que otros colegas también se animen a transitar el maravilloso camino de la producción de conocimientos en Trabajo Social. La publicación de un nuevo libro de Trabajo Social constituye siempre un acto para celebrar en sí mismo, porque a partir de la producción y circulación de conocimientos, precisamente crece la profesión, se enriquecen los debates, se visibilizan los ámbitos de intervención profesional, se establecen nuevos diálogos entre autores de diversas disciplinas, se recorren caminos inexplorados, se formulan nuevos interrogantes y se habitan diferentes tiempos: pasado, presente y los desafíos que se nos presentan en el futuro. Precisamente todas estas cuestiones están presentes en este libro. Por tanto, invito a los lectores y las lectoras a transitar por las páginas de este libro y a dejarse interpelar por los planteos que realiza Helena y conocer en profundidad un ámbito de intervención profesional tan importante y de tanta potencialidad como es el campo empresarial para el Trabajo Social. Silvana Martínez Presidenta Mundial de la Federación Internacional de Trabajadores Sociales XII


Introdução A responsabilidade social das empresas1, desde a última década do século XX, tem sido um tema amplamente debatido nas empresas, na sociedade, nas instituições sociopolíticas e também dentro da comunidade científica. É uma temática em destaque no campo do saber da gestão e da administração, e que tem vindo a desenvolver-se e a ganhar cada vez mais visibilidade no decurso do século XXI. Partindo da premissa de que a responsabilidade social empresarial é um espaço de intervenção social, acredita-se que este é também um campo do Serviço Social, pese embora os estudos publicados visarem, essencialmente, as dimensões éticas e ambientais da responsabilidade social das empresas, com especial enfoque no desenvolvimento sustentável. Não é de agora que as empresas2 evidenciam uma crescente preocupação em torno das questões sociais, tanto dos seus colaboradores como da sociedade em que se inserem. O termo “responsabilidade social empresarial” surge nos anos 50 do século XX com a publicação do livro Social Responsabilities of the Businessman de Howard Bowen (1953), considerado o “pai” da responsabilidade social. O novo debate social é fomentado pela sociedade civil, que se torna mais reivindicativa perante o rápido crescimento do poder e da influência das empresas na sociedade, especialmente nos Estados Unidos da América. Essencialmente, a discussão em torno da responsabilidade social das empresas centra-se na reflexão sobre os fins que devem orientar o exercício da atividade empresarial (Détrie, 1993, p. 21). Nas décadas de 60 e 70 do século XX intensificam-se os debates em torno da responsabilidade social empresarial, em concreto no que diz respeito à gestão empresarial (Friedman, 1970). Na década de 80, a discussão alarga-se a uma perspetiva ética e a questões legais. Nos anos 90, o tema assume-se definitivamente como central em diversos campos do agir e do pensar contemporâneos. Fortalecem-se os seus constructos teóricos, baseados em três domínios: a economia, o ambiente e o social (Leal, Caetano, Brandão, Duarte, & Gouveia, 2011, pp. 31-32), constituindo, assim, um sistema piramidal (triple-bottom-line), com o objetivo de dar resposta às exigências do mundo globalizado no que concerne ao equilíbrio das relações socioeconómicas e à sustentabilidade dos processos de desenvolvimento (Moreno, 2009, p. 23). Com a evolução da globalização, da transnacionalidade e do sistema capitalista, as sociedades viram-se confrontadas com processos de agudização dos problemas e das desigualdades sociais, incluindo nos países mais desenvolvidos. É neste contexto de capitalismo avançado que, progressivamente, o estado social foi perdendo dimensão e capacidade de, por si só, ser garante da regulação das condições de justiça social. Hoje convocam-se outros agentes sociais para a construção de um triângulo

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O conceito inicialmente poderá ter sido confundido com a filantropia social. Atualmente não existe um conceito universalmente definido (Kubenka & Myskova, 2009), e considera-se a responsabilidade social como um conceito cujo conteúdo específico ainda não é consensual (George, 2008), sendo uma temática de grande interesse de estudo em diversos campos científicos. 2  As empresas (natureza pública, privada ou mista) são sistemas organizados de meios que exercem uma determinada atividade económica e produzem bens e/ou serviços com o objetivo de atender às necessidades humanas. Segundo Bilhim (2008), a organização apresenta dois significados: unidades e entidades sociais, conjuntos práticos e condutas sociais ou processos sociais. XIII


Serviço Social nas Empresas: Práticas de Responsabilidade Social

provedor constituído pelo Estado, pela sociedade civil e pelo tecido empresarial, entre outros, que devem, atualmente, colaborar para a promoção do bem-estar e da coesão social, num sentido de responsabilidade social partilhada e mais participada. Apesar do debate em torno da responsabilidade social ter já algumas décadas, a sua maior atenção por parte do mercado e o maior grau de implementação deste tipo de políticas ao nível privado deriva, precisamente, do declínio do paradigma keynesiano e das diversas crises socioeconómicas que têm assolado as sociedades e que obrigam as empresas a desenvolver novas respostas que possam regular o mercado laboral e os processos de desenvolvimento. A partir dos anos 90 do século XX, são as próprias instituições transnacionais que apelam ao tecido empresarial para o desenvolvimento de estratégias que possam mitigar os problemas sociais. Exemplo disso é o caso da Comissão Europeia que em 1995 criou a Corporate Social Responsability – CSR – Europe com a finalidade de apoiar as empresas na sua ação socialmente responsável. Na sequência, é publicado em 2001 o Livro Verde: Promover um Quadro Europeu para a Responsabilidade Social das Empresas, fazendo recomendações acerca do contributo do segundo setor para a construção de uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo. [...] Esta responsabilidade manifesta-se em relação aos trabalhadores e, mais genericamente, em relação a todas as partes interessadas afetadas pela empresa e que, por seu turno, podem influenciar os seus resultados (COM(2001)366 final, 2001, p. 4), definindo responsabilidade social como a integração voluntária de preocupações sociais e ambientais por parte das empresas nas suas operações e na sua interação com outras partes interessadas (COM(2001)366 final, 2001, p. 7). Na mesma época, também para o World Business Council for Sustainable Development, a responsabilidade social empresarial era entendida como um compromisso contínuo por parte das empresas em se comportar de forma ética e contribuir para o desenvolvimento económico, melhorando a qualidade de vida dos trabalhadores e das suas famílias, bem como da comunidade local e da sociedade em geral (Watts & Holme, 2008, p. 3). A responsabilidade social empresarial, entendida como um dos atuais desafios para a organização das relações económico-sociais e ambientais e para a promoção do desenvolvimento sustentável, constitui uma questão de interesse fundamental para a definição da intervenção social e para o progresso económico e social dos Estados […]. É ainda uma forma pela qual se atribui às empresas uma intervenção que não esqueça o social e permitir reduzir a sua dinâmica excessivamente mercantil (Caeiro, 2009, pp. 7-8). Tendo em consideração as definições de responsabilidade social empresarial, será feito o aprofundamento do enquadramento teórico sobre a temática das organizações empresariais (Capítulo 1), revelando o papel que a responsabilidade social empresarial detém nas mesmas (Capítulo 2). Realizar-se-á uma análise compreensiva dos modelos estratégicos empresariais e sobre os contributos científicos em torno das conceções das estruturas, culturas, dos pensamentos e planeamentos estratégicos das organizações e mostrar-se-á a importância das certificações em matérias de responsabilidade social, bem como a relação que as empresas mantêm com todos os seus parceiros de negócios (stakeholders). As empresas e os trabalhadores são cada vez mais afetados pelas rápidas transformações sociais e pelas políticas económicas territoriais e/ou mundiais. As mudanças XIV


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As Organizações Empresariais: Origem e Evolução do Pensamento

A responsabilidade social na agenda das organizações empresariais é um tema que nos últimos anos tem adquirido um grande destaque e uma elevada importância no contexto da dinâmica organizacional. Assim, é relevante ter em atenção o mundo das organizações económicas e tentar perceber, antes de mais, os conceitos de maior grandeza. Neste sentido, é possível caracterizar a organização de uma forma simples, como sendo o modo através do qual se estrutura um sistema. A palavra tem origem no termo grego organon que significa instrumento, uma unidade ou entidade social, em que o capital humano interage entre si para alcançar determinados objetivos comuns (Chiavenato, 2001a), ou uma combinação predefinida de pessoas e de tecnologias que se articulam para alcançar um objetivo (Hampton, 1991, p. 27). A organização é ainda vista como uma coordenação racional de atividades de um certo número de pessoas, tendo em vista a realização de um objetivo ou de uma intenção explícita e comum, através de uma divisão do trabalho e das funções, tendo por base uma hierarquia de autoridade e responsabilidade (Schein, 1986). Tem igualmente o significado de unidades/entidades sociais em conjuntos práticos e condutas/processos sociais, pelo que consiste numa entidade social, consciente e coordenada, gozando de fronteiras relativamente bem delimitadas, que funciona numa base praticamente contínua, tendo em vista a realização de objetivos (Bilhim, 2008, p. 21), podendo ser tanto pública como privada. As organizações não são distantes, nem impessoais. Pelo contrário, estão inexoravelmente entrelaçadas na vida quotidiana das pessoas, estando em toda a parte e afetando-as direta ou indiretamente, podendo ser um grupo informal, social ou até mesmo desportivo, ou assumindo a função de fornecedoras de bens e serviços. A este propósito, a organização pode ser uma associação de indivíduos, estruturados numa rede interna de pessoas, grupos1 e equipas2, que dispõem de um conjunto de recursos necessários ao desempenho de uma dada missão comum (Carmo, Esgaio, & Pinto, 2014, pp. 148-149). Kast e Rosenzweig (1985) defendem que todos os membros de uma sociedade organizacional, quer sejam coletivos ou particulares, devem cooperar para realizar variadíssimos propósitos (p. 4).

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Grupo é definido como um conjunto reduzido de indivíduos, com um ou mais objetivos comuns, cuja interiorização, através de uma elevada densidade social, produz uma dada consciência de pertença, que se traduz numa dinâmica de coesão e de locomoção (Carmo, Esgaio, & Pinto, 2014, p. 149). 2  Equipa é definida como um grupo heterogéneo, com especialização de tarefas e uma dinâmica de cooperação, como por exemplo, equipa de futebol (Carmo, Esgaio, & Pinto, 2014, p. 149). 3


Serviço Social nas Empresas: Práticas de Responsabilidade Social

A evolução do contexto: da sociedade industrial à sociedade de informação As empresas3, de um modo geral, definem-se como um sistema organizado de meios que exerce uma determinada atividade económica para a produção de bens e/ou serviços com o objetivo de satisfazer as necessidades humanas. Podem considerar-se três tipos de organizações empresariais em função da sua dimensão jurídica e económica: as públicas, as privadas e as organizações de economia social. As empresas públicas caracterizam-se pela produção de bens e serviços que visam a satisfação coletiva das necessidades dos cidadãos e não têm como móbil principal a maximização do lucro, sendo os seus capitais, maioritária ou totalmente, públicos (Caeiro, 2015). As empresas públicas têm como principal finalidade a obtenção de uma maior coesão social e a consolidação de uma dada orientação coletiva (Carmo, 2014, pp. 33-34). As empresas privadas, por seu lado, têm como móbil principal a maximização do lucro e o seu capital é total ou maioritariamente privado. Quanto às empresas sociais, o seu principal objetivo é ajudar outras pessoas sem obter qualquer contrapartida financeira para si próprio, já que a empresa social deve ser autossustentável produzindo um rendimento suficiente para cobrir os seus próprios custos (Yunus, 2011, p. 19). No decurso do sistema organizacional, as empresas passam por três etapas intrínsecas: a aquisição de capital; a organização de produtos e serviços; e a transformação de bens e recursos, culminando com a transação de um determinado bem ou produto (Figura 1.1). Capital + Trabalho + Informação

Organização + Transformação

Bens + Benefícios

Fonte: Carvalho (2009, p. 22).

Fig. 1.1

Etapas do sistema organizacional das empresas

Importa ainda referir que os benefícios que as empresas retiram da sua atividade não são exclusivamente financeiros, mas também económicos e sociais (Figura 1.2). Neste sentido, cabe às empresas delimitarem estratégias de gestão para que estas alcancem um ponto desejável para a obtenção de uma convergência entre os benefícios económicos e sociais e um aumento gradual e simultâneo destes conceitos. Assim, as empresas não devem orientar as suas operações única e exclusivamente para os benefícios económicos ou sociais, uma vez que esta visão estratégica unifocal pode provocar desequilíbrios indesejáveis, estando o seu ponto de equilíbrio desejável na preocupação com o equilíbrio social (Carvalho, 2009).

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De natureza pública, privada ou mista (economia social).


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A Responsabilidade Social na Agenda das Organizações Empresariais

A responsabilidade social empresarial O termo “responsabilidade social empresarial” surge nos anos 50 do século XX, com a publicação do livro Social Responsabilities of the Businessman, de Howard Bowen. Este termo resulta de um novo debate social fomentado pela sociedade civil, que se torna mais reivindicativa perante o rápido crescimento do poder e da influência das empresas na sociedade, especialmente nos Estados Unidos da América. Essencialmente, a discussão em torno da responsabilidade social empresarial centra-se na reflexão sobre os fins que devem orientar o exercício da atividade empresarial (Almeida, 2010, p. 21). Durante os anos 60 e 70 do século XX surgem novos autores a abordar o conceito, com especial incidência na vertente da gestão empresarial. Nos anos 80 as abordagens ao conceito de responsabilidade social tiveram como pano de fundo a visão ética e as questões legais, enquanto nos anos 90 surge uma abordagem caracterizada pela construção da pirâmide do triple-bottom-line, que apresenta os três domínios da responsabilidade social empresarial: a economia, o ambiente e o social (Leal, Caetano, Brandão, Duarte, & Gouveia, 2011, pp. 31-32). A responsabilidade social empresarial tem como base o desafio de organizar as relações económico-sociais e ambientais no contexto da globalização, no sentido de promover o desenvolvimento sustentável, pois a globalização não tem sido capaz de responder às expetativas dos mais desfavorecidos, muitos dos quais vivem no limbo da economia informal, sem direitos legais, substituindo de maneira precária na margem da economia global e com poucas possibilidades de subverter a situação (Moreno, 2009, p. 23).

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A persistência de elevados níveis de pobreza, o crescente desemprego, os baixos níveis de educação e de formação profissional são inevitavelmente características que favorecem a crescente exclusão económico-social, que se tem vindo a agravar cada vez mais. Compete a todos os intervenientes – Estado, sociedade civil, tecido empresarial, entre outros – colaborar para atenuar os problemas sociais vigentes (Gago, Cardoso, Campos, Vicente, & Santos, 2005, pp. 85-86). As questões em torno da responsabilidade social não são recentes, e o problema não é exclusivo das empresas, devendo as organizações da sociedade civil ter um papel ativo, ainda que seja visível uma crescente preocupação com estas questões por parte do tecido empresarial, no sentido de atenuar as desigualdades económicas e sociais vigentes (Teles, 2009a, p. 145). Para definir a responsabilidade social, considera-se o conceito adotado pela Comissão das Comunidades Europeias, que a caracteriza como a integração voluntária de preocupações sociais e ambientais por parte das empresas 19


Serviço Social nas Empresas: Práticas de Responsabilidade Social

nas suas operações e na sua interação com outras partes interessadas (COM(2001)366 final, 2001, p. 7). Trata-se de um conceito que tem subjacente a contribuição empresarial para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo. [...] Esta responsabilidade manifesta-se em relação aos trabalhadores e, mais genericamente, em relação a todas as partes interessadas afetadas pela empresa e que, por seu turno, podem influenciar os seus resultados (COM(2001)366 final, 2001, p. 4). Em termos concetuais, a responsabilidade social é geralmente entendida e aceite como o grau em que os gestores de uma organização levam a cabo atividades que protegem e desenvolvem a sociedade para além do estritamente necessário para servir diretamente os interesses económicos e técnicos da organização (Teixeira, 2005, p. 270). Assim sendo, a responsabilidade social compromete o desenvolvimento de ações que visem os interesses tanto da empresa quanto da sociedade, mesmo que tais ações não se reflitam diretamente nos resultados económicos da empresa. Em suma, a responsabilidade social emerge nos últimos anos e no contexto de uma noção de cidadania mais exigente como um compromisso ético de atuar em benefício de outrem, decorrente do reconhecimento da interdependência dos seres humanos entre si e com a biosfera e da necessidade de contribuir para o bem comum, tendo em conta as circunstâncias específicas de atuação (Carmo & Esgaio, 2014).

A evolução da responsabilidade social empresarial: marcos históricos Do ponto de vista da sua evolução e do seu desenvolvimento histórico, a responsabilidade social tem a sua origem nos anos 80 do século XX, através da crescente consciência pública sobre o papel das empresas na sociedade e as suas implicações no que respeita ao meio ambiente e social. No início dos anos 90 do século XX, na Cimeira da Terra1, definiu-se a importância de cada país refletir/debater a forma como governos, empresas, organizações não governamentais e a sociedade em geral poderiam auxiliar no estudo de soluções para os problemas socioambientais. O principal documento apresentado, a Agenda 21, é um plano de ação que propõe a viabilização de um novo modelo de desenvolvimento ambiental e racional. Este plano apresenta um conjunto de propostas de proteção ambiental, de justiça social e de eficiência económica. O documento está estruturado nas seguintes quatro secções: ■■

Secção I: dimensões sociais e económicas;

■■

Secção II: conservação e gestão dos recursos para o desenvolvimento;

■■

Secção III: fortalecimento do papel dos grupos principais;

■■

Secção IV: meios de execução (Ministério do Meio Ambiente, 1992).

Na Tabela 2.1 apresenta-se uma breve cronologia, com destaque para os principais marcos de referência sobre a responsabilidade social das empresas na União Europeia.

1

20

Realizada no Brasil, em 1992, é também designada por ECO 92 ou Rio 92.


3

Contextualização do Serviço Social nas Empresas

O Serviço Social nas empresas não se refere única e exclusivamente, como poderia ser interpretado, ao exercício privado da profissão. Trata-se, portanto, de uma intervenção do assistente social junto dos trabalhadores e junto dos diversos níveis organizacionais. Atualmente, a presença de um assistente social no setor empresarial em Portugal não é comum, no entanto, existem empresas que contam com assistentes sociais nos seus quadros de recursos humanos. O Serviço Social nas empresas tem uma importante parte das suas raízes na tradução da expressão alemã sozialen Arbeit, que nos remete para trabalhar socialmente em alojamentos, refeitórios, serviços de saúde, entre outros serviços fornecidos aos trabalhadores num primeiro momento pela empresa alemã Krupp1 (Jorgensen, 1979, p. 2). Esta empresa pioneira na matéria pretendia apoiar e estabilizar o trabalho na sua fábrica. Apesar de as empresas e de as indústrias se constituírem como meios para atingirem fins lucrativos, as experiências precursoras do Serviço Social nas empresas, através da prestação de cuidados de proximidade, providenciaram uma forma de integração dos colaboradores dentro das mesmas (Skidmore, Thackeray, & Farley, 1991, p. 240).

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Estas primeiras experiências de cuidados sociais de proximidade, à época, encontravam-se na vanguarda da prática, sendo ainda desconhecidas da maioria das empresas e indústrias. Ainda assim, ao longo do tempo, várias organizações empresariais começaram a integrar assistentes sociais, incorporando práticas sociais nas suas estratégias de negócio. Várias empresas e indústrias, grandes e pequenas, têm introduzido o Serviço Social nas suas estruturas como uma ajuda na resolução dos problemas dos empregados, das suas famílias e da comunidade em geral. Existe por parte das empresas uma dualidade no que concerne ao objetivo da introdução do Serviço Social. Por um lado, coloca-se a vertente humana e, por outro, o aumento da eficiência e da eficácia da produção (Skidmore, Thackeray, & Farley, 1991, p. 239). Apesar deste percurso e da tradição da intervenção social nas empresas e indústrias, esta continua a ser uma área com pouca visibilidade na literatura e em estudos académicos. Neste sentido, revela-se de suma importância a realização do enquadramento histórico, da concetualização e da contextualização deste campo de intervenção do Serviço Social. De qualquer modo, das suas origens à contemporaneidade, com especial ênfase a partir da Revolução Industrial, quando se formaram as condições para a evolução do Serviço Social, também no contexto empresarial a evolução dos sistemas 1

Krupp AG, atual ThyssenKrupp AG, é uma empresa cuja sede se localiza em Essen, na Alemanha. Constitui um dos principais grupos industriais do país, tendo-se destacado na produção de aço, armas, munições e equipamentos. 53


Serviço Social nas Empresas: Práticas de Responsabilidade Social

sociais e dos sistemas de intervenção se apresentam como elementos constituintes de qualquer processo de intervenção social (Carmo, Esgaio, Pinto, & Pinto, 2015, p. 33).

Das origens à contemporaneidade O trabalho e o emprego tinham vindo a assumir um papel preponderante nos processos de autoconhecimento nas sociedades atuais. As relações pessoais entre os trabalhadores são por vezes mais profundas e mais estreitas do que as relações entre os membros da família. O emprego é também necessário para a sobrevivência económica da maioria das pessoas, sendo a possibilidade de perda do emprego uma potencial crise pessoal. Assim, o encerramento de uma fábrica ou a sua deslocação geográfica desde sempre teve graves consequências económicas para determinadas comunidades, confrontadas com o dissipar do seu principal meio de subsistência. É neste contexto, como forma de evitar ou minimizar estes impactos negativos, que o Serviço Social industrial ou o Serviço Social nas empresas pode instituir-se e atuar, no desenvolvimento de projetos, dentro ou fora da empresa, muitas vezes conjuntamente com instituições governamentais, sindicatos, poder local e/ou central, no sentido de responder às necessidades dos trabalhadores. Como nos outros campos da prática do Serviço Social, os assistentes sociais que foram integrados nas organizações empresariais procuraram prevenir a existência de problemas, ou apenas atenuá-los, desenvolvendo um conjunto de medidas que permitisse a superação dos problemas pessoais, familiares, dos grupos, da organização e das comunidades existentes no seio da empresa. Importa ainda referir que o significado do trabalho e do emprego sofreu evidentes alterações ao longo do tempo. Enquanto nas sociedades tribais toda a comunidade dependia do esforço cooperativo comum, e de forma frequente os indivíduos tornavam-se especialistas na produção de algo específico e desenvolviam as suas próprias ferramentas, ganhando, desta forma, o controlo do seu ambiente de trabalho e a gestão dos seus produtos, já no decurso do desenvolvimento do cristianismo o trabalho era tido como desprestigiante pelas classes mais abastadas e, consequentemente, realizado pelos escravos e pelas classes consideradas mais pobres (Suppes & Wells, 1996, p. 187).

Época pré-industrial Na Idade Média, na Europa, entre o século V e o século XV, as características dominantes foram a existência de uma economia ruralizada, um sistema comercial pouco desenvolvido, a supremacia da Igreja e um sistema de produção feudal e uma hierarquia social bastante rígida (Ander-Egg, 1995, p. 70). O feudalismo e o seu modus operandi político-social não manifestam uma grande preocupação com a questão social, descurando da assistência social, a solidariedade e o espírito de entreajuda entre os membros da sociedade (Caeiro, 2008, p. 28). Foi neste período que os camponeses passaram a estar obrigados a viver e a trabalhar num único lugar ao serviço dos senhores feudais. Estes trabalhadores, mais conhecidos como servos da gleba, que se ocupavam de trabalhar nas terras dos seus donos, a quem chamavam senhor, recebiam como contrapartida do seu trabalho uma casa humilde, um pequeno terreno adjacente, alguns animais e proteção contra os ataques dos outros senhores feudais e de foragidos que 54


Particularidades das Empresas e o Posicionamento da Responsabilidade Social

4

Características gerais das empresas As atividades económicas desenvolvidas pelas empresas são frequentemente agrupadas em três setores distintos: primário, secundário e terciário. Ao nível setorial, a evolução do emprego mostra a tendência do reforço da terciarização da economia portuguesa – números oficiais mostram que aproximadamente 66% da população ativa se encontra empregada no setor terciário, 24% no secundário e apenas 10% no setor primário (PORDATA, 2014a). Tendo por base este panorama geral dos setores de empregabilidade em Portugal, e conforme representado na Figura 4.1, verifica-se que a maioria dos trabalhadores (62%) pertence ao setor de atividade terciário e os restantes 38% encontram-se a exercer funções laborais em empresas do setor secundário. Importa referir que as 20 empresas empregam cada uma, em média, 5832 colaboradores, sendo que a EMP11 conta com 26 810 colaboradores e a EMP20 conta com apenas 338 colaboradores no ativo. Os dados apresentados foram recolhidos nas entrevistas realizadas no âmbito do processo de doutoramento em ciências sociais da autora (Teles, 2017), bem como a análise documental efetuada aos diversos documentos publicados pelas empresas. Assim, dá-se a conhecer os dados gerais recolhidos e que contextualizam e enquadram ao nível organizacional (setor de atividade, quantidade de colaboradores, volume de negócios, ano de fundação, natureza da origem e missão, princípios e valores) as empresas que beneficiam dos serviços profissionais de assistentes sociais. Posteriormente, mostram-se as principais conclusões recolhidas através das entrevistas e que permitem aferir o lugar que a responsabilidade social ocupa dentro das empresas. 80%

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Primário

Secundário Empresas observadas

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Terciário Portugal

Fonte: PORDATA (2014a) e com base nos dados recolhidos no estudo.

Fig. 4.1

População empregada: total e por setor de atividade económica 91


Serviço Social nas Empresas: Práticas de Responsabilidade Social

Tendo em consideração os dados divulgados sobre o volume de negócios de 2012 das empresas portuguesas não financeiras, cujo valor se fixa em 325 870,3 milhões de euros (PORDATA, 2014b), importa referir que as empresas representam 4,06% do total de volume de negócios das empresas não financeiras de Portugal.

Natureza e origem das empresas Além da contextualização da população empregada por setor de atividade e do volume de negócios que as 20 empresas detêm no mercado nacional, outro dado relevante para a sua caracterização é a averiguação da maturidade, isto é, se estas são ou não empresas com tradição no mercado nacional. Assim, e apesar de a maioria das empresas ter sido fundada na década de 70 do século XX, torna-se importante destacar que uma delas foi criada entre 1870-1879 e que, por isso, opera no mercado nacional há aproximadamente 140 anos.

Quantidade

Por oposição, a empresa com menos tempo de atividade económica foi criada há menos de 20 anos, tendo sido fundada em Portugal nos anos 2000, conforme se pode verificar na Figura 4.2. 7 6 5 4 3 2 1 0

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Fig. 4.2

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Década de fundação das empresas

No que concerne à caracterização geral das empresas, e tendo por fundo o estudo desenvolvido, é importante analisar a sua origem, com vista a compreender a génese do Serviço Social nas empresas em Portugal. Desta forma, e conforme representado na Figura 4.3, identifica-se que:

92

■■

50% (10) das empresas estudadas foram criadas com capital estatal;

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35% (7) das empresas com capital privado e de origem familiar;

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E apenas 15% (3) das empresas estudadas surgem associadas a capital privado de origem não familiar.


5

O Serviço Social nas Empresas Portuguesas

Contextualização histórica do Serviço Social nas empresas A contextualização histórica da intervenção social nas empresas varia consoante a história da própria empresa. Verifica-se que nas empresas estudadas existe uma forte tradição nas práticas sociais, muito anterior à incorporação formal da própria responsabilidade social. Comprova-se, através dos dados recolhidos nas entrevistas realizadas, que a maioria das empresas inicia as suas práticas sociais antes dos anos 90 do século XX, década em que o debate europeu em torno da responsabilidade social teve mais acesso (COM(2001)366 final, 2001, p. 3). Outro aspeto a salientar tem subjacente a publicação de literatura nacional sobre este campo interventivo, nomeadamente as 40 publicações da revista Elo: Serviço Social Corporativo e do Trabalho, editadas pela Junta da Ação Social, entre 1964 e 1973, que evidenciam, por si só, que este foi um período próspero do Serviço Social nas empresas. Os dados obtidos no estudo vão igualmente ao encontro desta realidade histórica, ou seja, das 20 empresas, sete deram início às suas práticas sociais através da contratualização de profissionais de Serviço Social entre as décadas de 60 e 70 do século XX. Pode afirmar-se que antes da introdução da operacionalização das diretrizes europeias sobre as práticas socialmente responsáveis, a maioria das empresas já havia sentido essa necessidade, integrando o Serviço Social nas suas estruturas, como resposta aos problemas sociais dos seus colaboradores. Apenas uma das 20 empresas estudadas deu a entender que foi a implementação da responsabilidade social que levou à contratação de uma assistente social.

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[A]té isso aqui acho que foi um bocado confuso, perceberem onde é que iam buscar, ninguém associou ao Serviço Social, o meu diretor queria alguém da ação social (E05, 2014, pp. 194-195). [Depois eu] caí assim um bocadinho de paraquedas! Mas entretanto vim à entrevista, quem me fez a entrevista também não sabia muito bem o que me havia de perguntar, nem o que é que eu podia vir a fazer aqui, de maneira que eu vim assustadíssima, porque eu só pensei eu não sei nada da empresa! (E05, 2014, p. 218).

Observa-se ainda que a par da evolução das próprias estruturas organizacionais, também o Serviço Social foi reestruturando as suas práticas interventivas, procurando assim dar resposta aos problemas sociais vigentes. Comprova-se que existem problemas sociais cíclicos, mas a intervenção é diferenciada, é mais inovadora. Trata-se de uma procura constante das razões que estão subjacentes aos problemas sociais – o 111


Serviço Social nas Empresas: Práticas de Responsabilidade Social

assistente social pauta a sua intervenção na base de uma construção dialética, sendo os seus objetivos a transformação social e o encontro de formas alternativas e inovadoras de ultrapassar as dificuldades dos processos de mudança social (Carrillo, 2006, p. 154), mesmo quando os problemas e as mudanças sociais com que o profissional se depara na prática são cíclicos. [A]s necessidades de ontem não são de todo as de hoje, se bem que eu como implementei aqui o fundo de apoio social no ano passado, disse: – Eu não estou a fazer nada que não tenha feito há 19 anos! Fui buscar o mesmo documento orientador para fazer, porque eu tinha feito aquilo […] Agora voltamos, foi engraçado e é giro, mas afinal temos de fazer as coisas de maneira diferente (E06, 2014, pp. 146-150).

É a própria cultura organizacional que facilita a construção de alicerces materializados nos laços de colaboração, motivação e dedicação dos colaboradores, corroborando-se desta forma a visão global e a estratégia delimitada pela empresa (Serra, Ferreira, Torres, & Torres, 2010, p. 309). Neste sentido, também os profissionais do Serviço Social revelam nos seus depoimentos um grande sentimento de pertença, demonstrando um grande orgulho por terem sido, alguns deles, os pioneiros do Serviço Social. É notório nos seus discursos um elevado nível de satisfação devido à intervenção social que têm vindo a desenvolver dentro das empresas.

O entendimento do Serviço Social nas empresas Através do relato estruturado das experiências profissionais das entrevistadas é possível fazer o retrato do Serviço Social nas empresas em Portugal, o que dá uma definição do entendimento dos profissionais no que concerne às práticas atualmente desenvolvidas. Na conceção de Freire (1987), Rico (1992), Googins e Godfrey (1987), e Smith (1988), a intervenção social nas empresas deve atender às necessidades dos trabalhadores e das suas famílias numa perspetiva do desenvolvimento integral, garantindo um ambiente laboral mais saudável. Já para Smith e Gould (1997), Gehlenborg (2001) e Logan (2001), o assistente social deve preocupar-se com as mudanças organizacionais e ambientais, desenvolvendo soluções estratégicas de adaptação à atual configuração do mundo do trabalho. De facto, as assistentes sociais salientam a importância de atender às necessidades dos colaboradores e das suas famílias, ancorando a sua intervenção numa abordagem holística (Viscarret, 2007, p. 262). [N]ós trabalhamos a favor do trabalhador, […] a nossa intervenção é no sentido de ajudar o trabalhador, mas também de resolver determinadas questões ao nível da gestão (E07(a) e E07(b), 2014, p. 95). [É] um apoio, é o diagnóstico, é o planeamento e a intervenção no colaborador em todas as suas dimensões porque não podemos deixar nenhuma de fora (E15, 2014, pp. 152-154).

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Modelos da Prática e os Desafios dos Assistentes Sociais nas Empresas

Métodos de intervenção: de caso, grupo, comunitários e ao nível da investigação e da administração Mary Richmond (1922) delimita o Serviço Social de caso como uma ajuda personalizada, entre indivíduos, sendo também uma intervenção cooperante, para que os sujeitos-alvo da intervenção se sintam mais fortalecidos e capacitados para se integrarem na sociedade em geral. É neste processo de capacitação dos colaboradores que as assistentes sociais intervêm, maioritariamente ao nível da intervenção mais prática e individualizada (Skidmore, Thackeray, & Farley, 1991, p. 246). [N]ós trabalhamos aquilo que é um bocadinho o Serviço Social de caso clássico, veem-nos por aí, ou seja, o médico do trabalho identifica que a pessoa não está em condições de trabalhar por esta ou por aquela situação, o colaborador apresenta as suas queixas ao médico e depois a partir daí nós conseguimos fazer um acompanhamento individualizado […] nós vamos acompanhar a pessoa no sentido de perceber como é que ela pode resolver esse problema, acompanhamento psicológico ou um acompanhamento médico, ou ela está perturbada porque algumas questões do trabalho não a deixam satisfeita e portanto tem de se rever o enquadramento dela no local de trabalho. Portanto, a partir daí nós fazemos uma despistagem das situações para fazermos aquilo que é o Serviço Social individual (E06, 2014, p. 19).

Gehlenborg considera que o acompanhamento psicossocial prestado pelo assistente social aos colaboradores é a peça central da intervenção social dentro das empresas. É no contexto do Serviço Social de caso que o profissional deve aliar também a intervenção psicossocial, na qual identifica os problemas psicológicos, que podem ser pessoais ou relacionados com o ambiente de trabalho do colaborador (2001, pp. 26-27).

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Portanto, há a parte do atendimento, do apoio psicossocial, de ouvir o colaborador, de perceber que tipo de problema o colaborador apresenta, se é algo relacionado com o trabalho, se é algo relacionado com a família, se é algo até deles, portanto há esta parte do atendimento, se calhar a parte não digo básica, mas que o Serviço Social puro e duro faz (E14, 2014, pp. 79-82).

Existem intervenções consideradas temporais, no sentido de as respostas e o acompanhamento dos problemas estarem intimamente relacionados com o momento social, 141


Serviço Social nas Empresas: Práticas de Responsabilidade Social

político e económico que se vivencia em Portugal, e que uma das entrevistadas designava por problemas sociais cíclicos (E06, 2014, pp. 146-150). Apresenta-se, a título de exemplo, as questões relacionadas com a gestão financeira doméstica, pois são muitos os colaboradores que atravessam graves problemas e que se encontram em situação de sobre-endividamento, o que se assume, para as assistentes sociais, como uma intervenção no Serviço Social de caso. [T]emos uma área que é um fundo de emergência social, que no fundo, dentro do nosso universo dos 27 000 que são aqueles colaboradores que vivem com imensa dificuldade financeira e que uma vez comprovada essa dificuldade financeira, nós ajudamos em tudo o que esse colaborador precisa mas temporariamente, pronto, ou seja, o nosso lema é ensinar a pescar e não dar o peixe, portanto nós analisamos a situação, fazemos um plano de recuperação financeira e num determinado período para aquela situação em particular (E11(a) e E11(b), 2014, pp. 33-35).

Devido às especificidades dos sujeitos intervencionados, algumas empresas optam por recorrer às candidaturas a benefícios/apoios sociais específicos como uma metodologia recorrente de intervenção social. Embora não deixando de ser compreendida como um Serviço Social de caso, esta é a estratégia encontrada na empresa para contornar os constrangimentos que os colaboradores têm em dirigir-se ao gabinete específico do Serviço Social. [S]ão as pessoas que [ao preencherem e submeterem toda a documentação necessária para as candidaturas aos apoios sociais criados pela empresa] têm de nos fornecer esta informação, que esta informação está estabelecida e é igual para todos. As pessoas já não têm aquele receio: – Ah, vou ter de falar da minha vida, vou falar da minha situação económica, das minhas dificuldades, não quero, não me quero expor, não quero falar. Mas é assim para ter [para evitar os constrangimentos pessoais que os colaboradores sentiram no passado ao terem de se dirigir ao gabinete do Serviço Social] o apoio, têm de nos fornecer a informação toda (E01(a) e E01(b), 2014, pp. 185-192).

Quando nos deparamos com o facto de a grande maioria das assistentes sociais destas empresas recorrerem ao Serviço Social de caso, pode parecer que a intervenção está ancorada essencialmente nos domínios mais tradicionais do Serviço Social (Straussner, 1990, p. 2). Destaca-se que, muito embora o acompanhamento e o aconselhamento sejam mais frequentes ao nível individual, esta é uma ilação muito redutora do Serviço Social nas empresas. Assim, verifica-se que são utilizados em simultâneo os diversos modelos de intervenção, como o Serviço Social de caso, de grupo e de comunidade. A intervenção em grupo é também entendida pelas entrevistadas quando a mesma envolve as famílias dos respetivos colaboradores. Muitas vezes é sentida a necessidade de se envolver a família para que seja possível encontrar, no seio familiar, uma forma de o problema social identificado ser ultrapassado pelo colaborador e pelos seus familiares, ou porque o problema social do colaborador afeta diretamente as pessoas mais próximas de si. 142


Conclusão O presente livro tem como foco a problemática de uma intervenção socialmente responsável dos assistentes sociais nas empresas portuguesas, tendo como pretensão fornecer contributos para a compreensão teórica e praxiológica deste campo do agir profissional. Ao longo do livro procura-se, assim, compreender o Serviço Social nas empresas portuguesas, na vertente interna da responsabilidade social, na tentativa de conhecer uma área interventiva que nas últimas décadas tem estado coberta por um certo manto de invisibilidade, tanto no debate disciplinar e científico como nos planos curriculares da formação em Serviço Social. Realizou-se um estudo qualitativo que permitiu compreender e interpretar estas práticas a partir dos discursos e das representações do exercício profissional, por parte das assistentes sociais selecionadas como universo de análise, recorrendo à sua capacidade de produzir, através do seu discurso reflexivo, conhecimento e significados sobre a sua própria ação e experiência. Com efeito, o campo do agir é aqui considerado como produtor de identidades profissionais, histórica e institucionalmente contextualizadas, reforçando a relação teoria-prática que o Serviço Social apresenta como disciplina aplicada.

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A literatura existente sugere uma evolução do conceito de responsabilidade social empresarial nas últimas décadas como ferramenta a partir da qual as empresas chamam a si um papel provedor e de coesão social, nomeadamente ao nível da proteção social, da educação e da saúde. Acredita-se que este é um caminho que permite às sociedades um desenvolvimento socioeconómico equilibrado, tornando-as mais justas. Esta responsabilidade que as empresas chamam para si manifesta-se em relação aos trabalhadores e, mais genericamente, em relação a todas as partes interessadas afetadas pela empresa e que, por seu turno, podem influenciar os seus resultados (COM(2001)366 final, 2001, p. 4), definindo-se, assim, a responsabilidade social como a integração voluntária de preocupações sociais e ambientais por parte das empresas nas suas operações e na sua interação com outras partes interessadas (COM(2001)366 final, 2001, p. 7). As empresas deixam de ser vetores apenas estruturais e económicos e passam a ser vetores organizacionais de desenvolvimento social e cívico (Schroeder & Schroeder, 2004, p. 6). Trata-se de uma evolução da conceção das empresas, no sentido em que as mesmas alargam os seus horizontes, deixando de estar focadas, exclusivamente, nas tarefas e nas estruturas, passando a sua orientação a estar também no capital humano, no meio ambiente, na tecnologia e na regulação das relações de poder (Nogueira, 2005, p. 19). Perante estas alterações ocorridas no contexto empresarial, também o Serviço Social nas empresas, com raízes no final do século XIX nos processos de industrialização e na derivada questão social, tem evoluído sempre na tensão dual de uma produção interessada (Martins, 1966b), entre a promoção da produtividade e a humanização do tecido empresarial. Ao longo do tempo, com a sua consolidação como campo do agir do Serviço Social e devido à influência da Escola das Relações Humanas, passou a ter orientações teóricas e práticas diversas, umas mais centradas na intervenção ao nível do indivíduo e outras que defenderam principalmente a mudança social ao nível dos macrossistemas social e cultural (Amaro, 2010, p. 5). Destaca-se que em Portugal, 175


Serviço Social nas Empresas: Práticas de Responsabilidade Social

o Serviço Social nas empresas, devido ao atraso nos processos de industrialização e ao tardio capitalismo, atinge a sua máxima expressão enquanto campo de ação profissional nos anos 70 do século XX, verificando-se, posteriormente, uma redução da quantidade destes profissionais nas empresas (Martins, 2010). Evoluindo, progressivamente, de uma conceção essencialmente assistencialista para um caráter comunitário, na atualidade, a presença de assistentes sociais no setor empresarial, apesar de constituir um pequeno nicho profissional, é uma realidade que este livro pretende trazer à luz do debate e da reflexão. Procurou-se inferir, num primeiro momento, através da análise documental e dos discursos das assistentes sociais entrevistadas, qual o tipo de empresa e qual a evolução ao longo do tempo da presença do Serviço Social nos seus quadros. As empresas estudadas são empresas cuja criação se situa, maioritariamente, a partir dos anos 60 do século XX e cujo capital fundador em metade das mesmas era de origem pública, sendo que a outra metade foi criada com fundos exclusivamente privados. Destaca-se, porém, no que concerne às empresas criadas a partir de investimento privado, que a sua maioria tem uma origem familiar. Em suma, grande parte do universo das empresas apresenta uma origem estatal ou, sendo privada, a sua origem pautou-se por princípios familiares, revelando na sua missão fundadora preocupações sociais que extravasam o mero campo lucrativo, estabelecendo, assim, condições mais favoráveis à inclusão do Serviço Social. Os dados recolhidos nas entrevistas indicam que a responsabilidade social, na sua vertente interna, faz parte integrante das empresas, estando os administradores e gestores genuinamente preocupados e interessados no bem-estar dos colaboradores. Deste modo, acredita-se que as empresas procuram assumir responsabilidades que vão além do cumprimento das suas obrigações legais e económicas. Verifica-se que existe uma clara convergência entre a missão, os princípios e os valores das empresas e do Serviço Social, ou seja, existe uma humanização do acompanhamento dos problemas sociais vivenciados pelos colaboradores. A missão empresarial assume-se como o desempenho económico positivo, socialmente justo e ambientalmente sustentável. Os princípios que norteiam a intervenção social são a eficiência económica, a justiça social e a solidariedade. No que respeita aos valores identificados, os predominantes são: a transparência, a lealdade, a responsabilidade, a confiança e a inovação. O Serviço Social nas empresas é compreendido como uma intervenção social profissional especializada, que promove o desenvolvimento económico e social integrado e a mudança social na estrutura organizacional no contexto empresarial, delimitando estratégias, programas e planos de ação de proximidade para atenuar os efeitos dos impactos laborais no bem-estar dos colaboradores e para promover a democracia organizacional. Apresentam-se como objetivos profissionais das assistentes sociais inquiridas a rendibilidade (capital humano e económico), o bem-estar social dos colaboradores e das suas famílias, a qualidade na gestão de recursos sociais, humanos, materiais e financeiros, a mudança social (transformação e mediação de conflitos laborais) e a gestão do ciclo de vida dos colaboradores dentro das empresas. Estes objetivos profissionais são alcançados através do exercício de uma ética profissional e da salvaguarda da confidencialidade e de níveis elevados de autonomia funcional e operacional, por parte das profissionais, que sentem, quer da administração quer dos 176


Posfácio Este livro sobre o Serviço Social nas empresas e práticas de responsabilidade social trata de um tema relevante para o panorama do Serviço Social em Portugal. É uma obra cuidada, que revela a determinação e o interesse da autora na temática e a capacidade que a mesma tem em transmitir esse conhecimento para a sociedade. Como argumenta Fernando Pessoa no Livro do Desassossego, Querer é não poder. Quem pôde, quis antes de poder só depois de poder. Quem quer nunca há de poder, porque se perde em querer. A capacidade de ação da autora releva assim o “poder” que a obra terá para a evolução do conhecimento do Serviço Social. O Serviço Social é um domínio do saber das Ciências Sociais remetendo para um conhecimento e uma profissão com padrões teóricos, metodológicos e éticos, que lhe conferem poder de ação. Até à década de 60 do século XX, o conhecimento do Serviço social era influenciado sobretudo pelo conservadorismo/funcionalismo e a ação profissional preocupava-se mais com a ordem social do que com a distribuição de poder ou com a justiça social. A rutura com o conservadorismo deu-se com a reconcetualização, na década de 70 do mesmo século, tendo sido estabelecido um projeto ético e político para o serviço social comprometido com as pessoas, enquanto sujeitos históricos de direitos e o com o seu papel para o desenvolvimento e bem-estar social. O Serviço Social assumiu as várias expressões da questão social como objeto de estudo e de intervenção e a desigualdade como fator de alienação, constituiu-se enquanto motor da mudança social. Neste âmbito, o Serviço Social contribuiu para a constituição do estado de bem-estar social e inseriu-se nas políticas públicas e sociais, promovendo os direitos humanos e a justiça social. A globalização e o neoliberalismo transformaram os Estados e as políticas sociais. Para responder às sucessivas crises económicas e sociais, as políticas públicas foram sistematicamente orientadas para a responsabilidade individual e não coletiva. Neste contexto, algumas empresas desenvolvem ações socialmente responsáveis para colmatar as lacunas das políticas públicas e para serem socialmente responsáveis em relação à sociedade. A responsabilidade social das empresas remete para o desenvolvimento de uma política de promoção do bem-estar dos funcionários e das suas famílias, assim como para ações que promovem a empresa na sociedade.

© PACTOR

Esta obra retrata as práticas de responsabilidade social nas empresas, a partir da visão do Serviço Social. Parte do princípio de que existe uma especificidade do conhecimento do Serviço Social no que diz respeito ao campo empresarial e à responsabilidade social, em particular. Inseridos nestes contextos e nesta política, os assistentes sociais não só promovem a democracia organizacional, a educação para a cidadania dos colaboradores, mas também influenciam a política interna das empresas com esses princípios e valores. Depois da leitura da obra, ficamos com um conhecimento circunstanciado sobre o percurso do Serviço Social nas empresas, incluindo o seu surgimento, apogeu, declínio e ressurgimento na atualidade. Este reaparecimento tem novos contornos, revelando não só as ações que promovem o direito dos trabalhadores e das famílias a usufruir de 179


Serviço Social nas Empresas: Práticas de Responsabilidade Social

bens e serviços da empresa, mas também de estes se constituírem como recurso para os outros e para a sociedade através de ações de responsabilidade social concertadas com organização públicas e privadas. Os casos que são apresentados revelam que o Serviço Social nas empresas é influenciado pela política empresarial (de abertura ou de fechamento ou exterior), pela participação dos colaboradores e pela capacidade proativa dos assistentes sociais em participar nas dinâmicas geradas pela interação dos atores em presença. É também importante destacar, nestas abordagens, o conhecimento teórico, metodológico, ético e político construído pelos assistentes sociais nas empresas e, em particular, na política de responsabilidade social através de modelos de intervenção específicos. Numa altura de grandes mudanças na profissão, com a constituição da ordem dos Assistentes Sociais (Lei n.º 121/2019), este livro será decerto uma obra relevante para a classe profissional, sobretudo para os profissionais que exercem a profissão nas empresas e para os que têm interesse em efetuar pesquisas nesta área.

O importante não é estar aqui ou ali, mas ser. E ser é uma ciência delicada, feita de pequenas observações do cotidiano, dentro e fora da gente. Se não executamos essas observações, não chegamos a ser: apenas estamos, e desaparecemos. Carlos Drummond de Andrade

Maria Irene de Carvalho Professora Associada do ISCSP – ULisboa

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16,7cm x 24cm

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A responsabilidade social das empresas pretende essencialmente comprometer as empresas na promoção da coesão social e no desenvolvimento e implementação de práticas sociais, que vão muito além do mero cumprimento das obrigações legais. Os assistentes sociais, ao aliar as suas habituais práticas profissionais à responsabilidade social, utilizam as suas competências e habilidades para a criação e desenvolvimento de medidas que permitam a proteção e promoção do bem-estar nas empresas dos colaboradores e das suas famílias (vertente interna), bem como da sociedade (vertente externa).

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ISBN 978-989-693-095-0

w w w.pac to r.pt

9 789896 930950

HELENA TELES

O livro que faltava para conhecer o profissional de serviço social: qual o perfil do assistente social e como está estruturada esta profissão em Portugal. Destinado a profissionais e estudantes.

O presente livro, dirigido aos profissionais ou estudantes da área do Serviço Social, encontra-se dividido em duas partes inter-relacionadas. Na primeira, faz-se o enquadramento do Serviço Social e da responsabilidade social nas organizações empresariais. Na segunda parte, é apresentado um estudo de caso, no qual se caracterizam várias empresas, e o posicionamento que as mesmas detêm face às práticas de responsabilidade social. São também evidenciados os modelos de intervenção social utilizados pelos assistentes sociais, revelando os principais desafios que se colocam atualmente ao Serviço Social nas empresas, como é o caso da COVID-19.

www.pactor.pt

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Guia essencial sobre a intervenção dos profissionais de Serviço Social no contexto da COVID-19. Planos de contingência e casos práticos em hospitais, autarquias e instituições de solidariedade social.

O Serviço Social nas empresas tem como principal especificidade o facto de atender às ações sociais do trabalhador (nas situações intimamente relacionadas com a satisfação das necessidades humanas) e como objetivo último a transformação social. Neste sentido, cabe ao assistente social criar condições para que o trabalhador desenvolva as suas capacidades.

SERVIÇO SOCIAL NAS EMPRESAS

SERVIÇO SOCIAL NAS EMPRESAS

16,7cm x 24cm

HELENA TELES

SERVIÇO SOCIAL NAS EMPRESAS PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL

Prefácio de Silvana Martínez, Presidente da Federação Internacional de Assistentes Sociais Posfácio de Maria Irene de Carvalho, Professora Associada do ISCSP-ULisboa

9cm

HELENA TELES Licenciada em Serviço Social pelo Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa (ISSSL), é Mestre em Serviço Social pela Universidade Lusíada de Lisboa (ULL) e Doutora em Ciências Sociais na especialidade de Serviço Social, pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP-ULisboa). Professora no ISCSP-ULisboa, na Unidade de Serviço Social/Política Social e Investigadora do Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP), é autora de diversos capítulos e artigos científicos em revistas nacionais e internacionais sobre o engagement, bem-estar e stress dos assistentes sociais, a co-construção de redes colaborativas nas escolas, e o ensino do Serviço Social em Portugal. Tem ainda como áreas de interesse e estudo o Serviço Social nas empresas, as competências profissionais dos assistentes sociais e a intervenção social com crianças e jovens em risco e perigo.


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