MESOTERAPIA Neste livro expõem-se os fundamentos teóricos desta técnica, a farmacologia, as indicações terapêuticas e casos particulares de patologias, terminando com um texto sobre a experiência da consulta.
MESOTERAPIA
A mesoterapia é um tratamento efetuado através de injeções intradérmicas que tem dois campos principais de atuação: um dirigido à dor, aguda ou crónica, com origem no aparelho musculoesquelético, e outro em medicina estética, no tratamento da obesidade, das rugas e do fotoenvelhecimento.
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Mesoterapia surgiu da necessidade de haver uma ferramenta teórica escrita para os médicos que em diversos hospitais já realizam a Consulta de Mesoterpia, como é o caso do Hospital de São José – CHLC, EPE, e para os médicos especialistas em Fisiatria, Reumatologia, Medicina Geral e Familiar, Anestesiologia, entre outros. Dada a forma prática e a escrita simples com que esta obra foi concebida, Mesoterapia será também muito útil para todos os profissionais que se interessem por este tema.
Isabel Ramires / Ribeiro Mendonça
ISABEL RAMIRES I RIBEIRO MENDONÇA Assistentes Hospitalares Graduados Seniores de Medicina Física e Reabilitação. Responsáveis pela Consulta e Cursos de Mesoterapia do Hospital de São José – CHLC, EPE.
9 789897 522116
Isabel Ramires / Ribeiro Mendonça
Coordenadores:
ISBN 978-989-752-211-6
MESOTERAPIA Coordenação
Mesoterapia: mais uma arma contra a dor.
www.lidel.pt
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Mesoterapia
Coordenação Isabel Ramires Ribeiro Mendonça
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Índice
Lista de Autores....................................................................................................... IX Lista de Abreviaturas............................................................................................... XI Prefácio................................................................................................................... XV 1. História da Mesoterapia................................................................................... 1 Catarina Matos, Mário Bastos Moura 2. Teorias sobre o Mecanismo de Ação................................................................ 7 Ana Filipa Neves Conceito do Dr. Pistor ou Teoria Pistoriana...................................................... 7 Teoria Microcirculatória de Bicheron............................................................... 8 Teoria da Mesoderme ou das Três Unidades de Dalloz-Bourguignon.............. 8 Teoria da Mesoterapia Energética de Ballesteros............................................ 8 Teoria da Mesoterapia Pontual Sistematizada de Mrejen................................ 9 Teoria da Terceira Circulação de Multedo........................................................ 9 Teoria Unificada de Kaplan............................................................................... 10
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3. A Importância da Pele no Ato Mesoterápico.................................................... 11 Nélia Cunha Estrutura da Pele – Anatomia e Histologia....................................................... 11 Epiderme................................................................................................... 12 Derme........................................................................................................ 13 Hipoderme................................................................................................ 14 Variações anatómicas................................................................................ 14 Manutenção cutânea................................................................................ 15 Neuroimunoendocrinologia da Pele................................................................. 15 A Pele como “Veículo” Terapêutico e Medicamentoso.................................... 16
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Mesoterapia
4. Farmacologia e Medicamentos Utilizados em Mesoterapia............................ 19 Ribeiro Mendonça Introdução........................................................................................................ 19 Vantagem da Aplicação Mesoterápica............................................................. 21 Farmacodinâmica............................................................................................. 23 Características dos Fármacos em Mesoterapia................................................ 26 Hidrosolubilidade e isotonicidade............................................................. 26 Boa tolerância local................................................................................... 26 Propriedades dos fármacos utilizados em mesoterapia............................ 27 Substâncias Usadas em Mesoterapia – Ação, Efeitos e Contraindicações........ 27 Anestésicos................................................................................................ 27 Procaína a 2% ..................................................................................... 27 Lidocaína.............................................................................................. 30 Vasodilatadores......................................................................................... 31 Trental® (Pentoxifilina)......................................................................... 31 Loftyl® (buflomedil).............................................................................. 32 Flebotónicos.............................................................................................. 32 Venalot N® (extrato de meliloto-cumarina-rutina)............................... 32 Dicynone® (etamsilato)........................................................................ 32 Relaxantes musculares.............................................................................. 33 Tiocolquicosido.................................................................................... 33 AINE........................................................................................................... 33 Como eleger o AINE específico?.......................................................... 34 Vitaminas................................................................................................... 35 Vitamina C ou ácido ascórbico............................................................. 35 D-Pantenol ou vitamina B5.................................................................. 36 Biotina ou vitamina H.......................................................................... 37 Vitamina B12 ou hidroxicobalamina.................................................... 37 Outros........................................................................................................ 37 Calcitonina........................................................................................... 37 Viartril® (sulfato de glucosamina)........................................................ 38 Silício Orgânico (manuronato de mometiltrisilanol)............................ 38 MAG 2® (magnésio).............................................................................. 39 Laroxil® (amitriptilina).......................................................................... 40 Medicamentos Usados em Estética.................................................................. 40 Procaína..................................................................................................... 40 Ativador celular......................................................................................... 40 Carnitina.................................................................................................... 41 Cafeína....................................................................................................... 42 Extrato de Alcachofra (Cynara scolimus)................................................... 42 TRIAC (ácido triiodotiroacético)................................................................ 42 Silício orgânico (manuronato de mometiltrisilanol).................................. 43 IV
Índice
Condroitina sulfato.................................................................................... 43 Trental® (pentoxifilina)............................................................................... 43 Loftyl® (buflomedil).................................................................................... 43 Venalot N® (extrato de meliloto-cumarina-rutina)..................................... 43 Dicynone® (etamsilato).............................................................................. 43 Prisma® (mesoglicano)............................................................................... 44 Ioimbina.................................................................................................... 44 Piruvato de Sódio...................................................................................... 45 Ácido Retinoico.......................................................................................... 46 Ácido Hialurónico...................................................................................... 47 Glutatião reduzido..................................................................................... 47 Vitamina C ou Ácido Ascórbico.................................................................. 48 D-Pantenol ou Vitamina B5....................................................................... 48 Biotina ou Vitamina H................................................................................ 48 Vitamina B12 ou Hidroxicobalamina......................................................... 48 Dimetilaminoetanol................................................................................... 48 Nucleonato de sódio................................................................................. 48 Fosfatidilcolina (lecitina) – Lipostabil®....................................................... 49 Desoxicolato de sódio................................................................................ 49 Polidocanol................................................................................................ 49 Ácido glicólico............................................................................................ 50 5. Materiais e Métodos; Vantagens e Desvantagens............................................ 51 Filipa Pisa, Sara Lorga Técnicas Manuais.............................................................................................. 52 Técnicas Assistidas............................................................................................ 53 6. Algumas Indicações Terapêuticas..................................................................... 57
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6.1 Mesoterapia em Patologia Musculoesquelética...................................... 57 Carla Vera-Cruz, Joana Henriques, Isabel Pereira, Leonor Prates, Paulo Beckert Mesoterapia na Osteoartrose.................................................................. 58 Osteoartrose periférica........................................................................ 59 Gonartrose........................................................................................... 60 Rizartrose............................................................................................. 60 Artrose acromioclavicular.................................................................... 61 Artrose da coluna vertebral – artropatia degenerativa axial................ 61 Mesoterapia nas Tendinopatias............................................................... 62 Ombro...................................................................................................... 63 Síndrome de conflito subacromial e tendinite da coifa dos rotadores... 63 Tendinite Cálcica.................................................................................. 63 V
Mesoterapia
Tendinite Bicipital................................................................................. 64 Capsulite Adesiva................................................................................. 64 Tenossinovite de De Quervain.............................................................. 65 Cotovelo................................................................................................... 65 Epicondilite.......................................................................................... 65 Epitrocleíte........................................................................................... 66 Joelho....................................................................................................... 66 Tendinite patelar.................................................................................. 66 Tibiotársica............................................................................................... 66 Tendinite do tendão de Aquiles........................................................... 66 Mesoterapia e Lesões Musculares........................................................... 66 Lesões musculares agudas ou recentes............................................... 67 Lesões musculares crónicas ou “antigas” (sequelas)........................... 68 Mesoterapia em Outras Patologias Musculoesqueléticas........................ 69 Bursite.................................................................................................. 69 Fasceíte plantar.................................................................................... 69 Periostite.............................................................................................. 70 Conclusão................................................................................................. 70 6.2 Mesoterapia em Patologia Neurológica................................................... 71 Jorge Soares Dias Introdução................................................................................................ 71 Síndromes Canalares................................................................................ 71 Síndrome do túnel cárpico .................................................................. 71 Síndrome do Canal de Guyon............................................................... 73 Cefaleias................................................................................................... 74 Síndrome Dolorosa Regional Complexa Tipo I (Distrofia Simpática Reflexa)..................................................................................................... 75 Nevralgia Pós-Herpética........................................................................... 76 6.3 Fibromialgia.............................................................................................. 77 Pedro Dias Resumo..................................................................................................... 77 Introdução................................................................................................ 77 Perspetiva Histórica.................................................................................. 78 Quadro Clínico e Diagnóstico................................................................... 78 Fisiopatologia........................................................................................... 79 Tratamento............................................................................................... 80 Conclusão................................................................................................. 81
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Índice
6.4 Disfunção Temporomandibular e Mesoterapia........................................ 83 André Cruz, Ana Filipa Neves Introdução................................................................................................ 83 Conteúdo.................................................................................................. 83 Resultados................................................................................................ 84 Discussão.................................................................................................. 85 Conclusão................................................................................................. 85 6.5 Mesoterapia e Doença de Dupuytren...................................................... 86 André Cruz Introdução................................................................................................ 86 Materiais e Métodos................................................................................ 86 Resultados................................................................................................ 87 Conclusão................................................................................................. 87
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7. Mesoterapia Estética........................................................................................ 89 Ribeiro Mendonça Obesidade e Hidrolipodistrofia......................................................................... 89 Etiopatogenia da hidrolipodistrofia........................................................... 90 Histopatologia da hidrolipodistrofia.......................................................... 91 Diagnóstico da hidrolipodistrofia.............................................................. 93 Formas clínicas.......................................................................................... 95 Estádios clínicos da hidrolipodistrofia....................................................... 95 Tratamento da hidrolipodistrofia............................................................... 96 Misturas de fármacos................................................................................ 97 Metabolismo do tecido adiposo................................................................ 98 Rugas e Fotoenvelhecimento Cutâneo............................................................. 103 Método fisiológico..................................................................................... 103 Mesolifting................................................................................................. 104 Técnicas complementares......................................................................... 105 Xantelasmas..................................................................................................... 108 Estrias............................................................................................................... 109 Flacidez............................................................................................................. 110 Peelings com Ácido Retinoico a 10%................................................................ 110 8. Técnicas Adjuvantes......................................................................................... 113 Isabel Ramires Introdução........................................................................................................ 113
VII
Mesoterapia
8.1 Viscossuplementação na Osteoartrose do Joelho.................................... 114 Miguel Reis e Silva Osteoartrose............................................................................................. 114 O que é................................................................................................. 114 Fatores de risco.................................................................................... 114 Patogénese........................................................................................... 115 Diagnóstico........................................................................................... 115 Terapêutica........................................................................................... 116 Viscossuplementação........................................................................... 117 Experiência do Serviço de Medicina Física e Reabilitação do Hospital de São José............................................................................. 122 8.2 Viscossuplementação na Osteoartrose da Tibiotársica............................ 125 André Cruz, Ana Filipa Neves Introdução................................................................................................ 125 Materiais e Métodos................................................................................ 125 Resultados................................................................................................ 126 Conclusão................................................................................................. 126 8.3 Infiltração Corticoanestésica no Dedo em Gatilho................................... 127 Afonso Pegado O Nosso Estudo........................................................................................ 128 Discussão.................................................................................................. 128 9. Considerações Finais........................................................................................ 131 Isabel Ramires e Ribeiro Mendonça Quem Faz a Consulta........................................................................................ 132 Para Fazer a Consulta....................................................................................... 132 Periodicidade e Custos..................................................................................... 132 Experiência de uma Consulta........................................................................... 133 Atividades da consulta............................................................................... 133 Quem envia os doentes............................................................................. 133 Casuística................................................................................................... 134 Efeitos secundários.................................................................................... 136 Limites da consulta.................................................................................... 136
VIII
Lista de Autores
coordenadores/autores
Isabel Ramires Assistente Hospitalar Graduada Sénior de Medicina Física e Reabilitação do Hospital de São José – Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC), EPE Ribeiro Mendonça Assistente Hospitalar Graduado Sénior de Medicina Física e Reabilitação do Hospital de São José – CHLC, EPE autores
Afonso Pegado Interno de Formação Específica – Serviço de Medicina Física e Reabilitação do Hospital de São José – CHLC, EPE Ana Filipa Neves Especialista em Medicina Física e Reabilitação do Hospital de São José – CHLC, EPE André Cruz Especialista de Medicina Física e Reabilitação do Hospital de São José – CHLC, EPE
Lidel - edições técnicas
Carla Vera-Cruz Assistente Hospitalar Graduada de Medicina Física e Reabilitação do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, EPE Catarina Matos Especialista em Medicina Física e Reabilitação do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, EPE Filipa Pisa Assistente Hospitalar de Medicina Física e Reabilitação do Hospital Espírito Santo, EPE
IX
Mesoterapia
Isabel Pereira Assistente Hospitalar Graduada de Medicina Física e Reabilitação do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, EPE Joana Henriques Assistente Hospitalar Graduada de Medicina Física e Reabilitação do Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão Jorge Soares Dias Interno do Complementar de Medicina Física e Reabilitação do Hospital de São José – CHLC, EPE Leonor Prates Assistente Hospitalar Graduada de Medicina Física e Reabilitação do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, EPE Mário Bastos Moura Assistente Hospitalar Graduado de Medicina Física e Reabilitação, Responsável do Polo de Medicina Física e Reabilitação do Hospital de São José – CHLC, EPE Miguel Reis e Silva Médico Interno de Medicina Física e Reabilitação do Hospital de São José – CHLC, EPE Nélia Cunha Especialista de Dermatologia do Hospital de Santo António dos Capuchos – CHLC, EPE Paulo Beckert Assistente Graduado Sénior do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, EPE Pedro Dias Interno de Formação Específica de Medicina Física e Reabilitação do Hospital de São José – CHLC, EPE Sara Lorga Assistente Hospitalar de Medicina Física e Reabilitação do Hospital Garcia de Orta, EPE
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Lidel - edições técnicas
Prefácio
A mesoterapia é uma técnica de tratamento da dor e de problemas de estética, através do uso de injeções intradérmicas, que teve início em França, em 1952, tendo o Dr. Michel Pistor sido o seu fundador e grande impulsionador. Neste momento está em franca expansão a nível internacional, sobretudo nos países francófonos e, atualmente, também nos Estados Unidos da América. É mais uma arma no tratamento da dor, aguda ou crónica, com origem no aparelho musculoesquelético, possivelmente a queixa que mais leva as pessoas aos serviços de saúde. No campo da estética tem uma aplicação vasta, com relevo para a obesidade, rugas e fotoenvelhecimento. O interesse de muitos médicos por esta técnica levou a que iniciássemos cursos, com uma vertente teórica e uma prática, apoiados pela consulta de mesoterapia que se realiza no Serviço de Medicina Física e Reabilitação (MFR) do Hospital de São José (HSJ), em Lisboa. A consulta iniciou-se em maio de 1993 e, desde então, o número de doentes que a ela recorre não parou de aumentar. Como material de apoio a esses cursos apenas dispúnhamos de textos desgarrados, vulgo sebenta, pelo que se impôs a necessidade de um livro, que de uma forma lógica e completa pudesse suprir essa necessidade. Não podemos deixar de agradecer aos colegas que ao longo do tempo connosco colaboraram nas consultas e nos cursos, e que aqui não aparecem mencionados, alguns já desligados do HSJ. Assim, por motivos de ordem prática, convidámos colegas que recentemente connosco trabalharam a apresentar vários capítulos. Os colegas do Hospital Fernando Fonseca, que fizeram a sua formação no nosso hospital, prestaram também uma preciosa colaboração. Todos os textos, como acontece para todos os cursos, foram orientados e revistos pelos autores que assumem a responsabilidade última pelo que está escrito. Uma palavra de agradecimento para a secretária do Serviço de MFR do HSJ que dá apoio aos cursos que se realizam anualmente. Aos Internos do Serviço de Dermatologia do Hospital de Santo António dos Capuchos, que sempre prestaram uma colaboração generosa nos cursos, pedimos que se sintam representados pelo texto que incluímos. XV
Mesoterapia
Não podemos deixar de mencionar a editora Lidel que, de uma forma entusiasta, connosco embarcou neste projeto. Isabel Ramires M. Ribeiro Mendonça (coordenadores)
XVI
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História da Mesoterapia
Lidel - edições técnicas
Catarina Matos Mário Bastos Moura
A mesoterapia consiste numa técnica médica francesa, desenvolvida em 1952 por Michel Pistor. Foi definida pelo próprio como a “injeção de medicamentos em doses muito baixas, na ou sob a pele, o mais perto possível da lesão ou da sua origem, onde se encontra a doença, onde se exprime a dor, com o mínimo de efeitos indesejáveis”. A injeção é feita com agulhas muito finas e apenas a uma profundidade de alguns milímetros. Citando Pistor, os seus princípios podem ser resumidos em “pouco volume, poucas vezes e em lugar adequado”, isto é, consiste num tratamento local através da administração de microinjeções intradérmicas de minidoses de fármacos. A designação “Meso” tem origem no termo grego Mesus que significa “meio”. Esta definição pode atribuir-se ao local onde a técnica é aplicada (mesoderme), à forma como é administrada (meio de administração) ou à dose média que é utilizada (dose entre a alopatia e a homeopatia). O conceito de mesoterapia assumiu variantes de entendimento entre vários autores: alopática (Dr. Pistor), circulatória (Dr. Bicheron), mesodérmica (Dr. Dalloz-Bourguignon), energética (Dr. Ballesteros) e pontual sistematizada (Dr. Mrejen). Para o aparecimento da mesoterapia vários foram os eventos que contribuíram ao longo dos tempos. Os primeiros relatos de aplicação da multipunctura datam de 3600 a.C., em que é descrito o uso de martelos guarnecidos de pontas (agulhas) na antiga China, posteriormente relatados também na Índia e o no Egito. Já em 400 a. C. Hipócrates usava folhas de figueira-da-índia (da família dos catos) (Figura 1.1) para aplicar a técnica de nappage. Conta-se que com esta técnica tratou com sucesso um pastor da ilha de Cós que sofria de dor no ombro.
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Mesoterapia
Figura 1.1 Figueira-da-índia.
Já bastante mais tarde, em 1793, Antoine François constatou a ação terapêutica positiva de uma substância injetada pela via subcutânea. Francis Rynd, em 1844, utilizou a morfina por via subcutânea para o tratamento de nevralgias faciais e, em 1845, inventou a seringa hipodérmica, facto publicado no Dublin Medical Press. No século XX, em 1905, Einhorn sintetizou o anestésico local denominado procaína na Europa [novacaína nos Estados Unidos da América (EUA)], e que era cinco a sete vezes menos tóxico do que a cocaína. Este fármaco mantinha o poder anestésico sem produzir irritação nem vasodilatação significativa dos tecidos. Em 1910, o Professor Leriche aplicava já a procaína no tratamento das nevralgias do trigémio e, mais tarde, propôs a sua injeção no gânglio estrelado e em torno de tendões dolorosos. Nos anos 30 do século passado foram descritos bons resultados antiálgicos da aplicação da procaína e da histamina no tratamento local de sequelas de fraturas. Em 1934, publicações documentaram a utilização intradérmica da histamina para tratar lesões do aparelho locomotor. Sicard, em 1940, aplicou injeções locais de procaína na região precordial, no tratamento de disritmias. Também nos anos 40, Jarricot propôs a aplicação de injeções de lidocaína/xilocaína nas projeções cutâneas de órgão profundo em sofrimento, dolorosas à palpação. Entre 1948 e 1950, os franceses Michel Pistor e Lebel multiplicaram a aplicação de infiltrações locais de procaína no gânglio estrelado, infiltrações lombares, esplâncnicas e intrafemorais. Lebel desenvolveu uma agulha específica para a mesoterapia, a agulha de Lebel (Figura 1.2). Esta tinha 3 mm de comprimento e 0,4 mm de diâmetro, e derivou da agulha utilizada para tuberculinizar as vacas.
Figura 1.2 Agulha de Lebel montada em seringa.
Em 1952, o Dr. Michel Pistor tratou um sapateiro asmático com umas injeções de procaína intravenosa. A dispneia pouco ou nada melhorou, mas o sapateiro descobriu que a surdez de que padecia havia melhorado. Michel Pistor teve então a ideia de injetar pequenas doses de procaína na pele, a uma profundidade de 3 a 5 mm, em redor do lóbulo da orelha do sapateiro. Esta terapêutica produziu melhoria dos 2
Lidel - edições técnicas
História da Mesoterapia
acufenos e, posteriormente, também no tratamento de dores com origem na articulação temporomandibular. A terapêutica mostrou-se mais eficaz por via intradérmica do que pela via sistémica. Em 1953, M. Pistor verificou em vários doentes a melhoria de eczemas do canal auditivo externo, dores da ATM e acufenos. Multiplicam-se os locais de injeções nos cinco anos seguintes, utilizando vários outros fármacos e descobrindo-se novas indicações. Nascia assim a polivalência da mesoterapia. Em 1958, o Dr. M. Pistor publica o primeiro artigo sobre mesoterapia intitulado, “As novas indicações da procaína aplicada na patologia humana”. Este foi publicado na revista La Presse Medicale, de 4 de junho de 1958. Em 1960, o termo mesoterapia de “meso (derme) terapia” foi oficialmente aceite, referindo-se à técnica de introdução de medicamentos na derme através de agulhas. Nos cinco anos seguintes, M. Pistor foi convidado pelo Professor Bordet para ministrar o ensino de mesoterapia, em Maisons-Alfort, aos alunos de Medicina Veterinária. Em 1964, M. Pistor criou a Sociedade Francesa de Mesoterapia. A primeira reunião juntou 16 médicos. Vários foram os livros publicados pelo Dr. Pistor: Mesoterapia aplicada ao Homem (1961), Mesoterapia: técnica polivalente (1968) e O Desafio Terapêutico (1974). Muitos autores escreveram obras sobre o tema, muitas delas com prefácios e agradecimentos de e para o Dr. Pistor. Nos anos 70 foram organizados os primeiros cursos práticos de mesoterapia, sob a responsabilidade de M. Bicheron e A. Dalloz-Bourguignon. A primeira consulta de mesoterapia hospitalar, no Hospital de Necker de Paris, foi criada em 1976. Também no mesmo ano foi organizado o I Congresso Internacional de Mesoterapia, em Bray-Lu. Em 1980, o primeiro ciclo de estudos de mesoterapia (CERM) permitiu a difusão da técnica por toda a França. O Colégio Nacional de Mestres de Estágios da Sociedade Francesa de Mesoterapia foi criado em 1981, expandindo o ensino da técnica. Também no mesmo ano foi criada a primeira consulta de mesoterapia para tratar desportistas de alto rendimento no Instituto Nacional de Desportos de Paris. O primeiro diploma universitário de mesoterapia foi criado em 1982, atribuído pela Faculdade de Paris XIII. Também em 1982 foi criada a Sociedade Internacional de Mesoterapia. Neste ano, o III Congresso Internacional de Mesoterapia decorreu já fora de França, em Roma. Em 1985, o IV Congresso Internacional de Mesoterapia reuniu já 800 médicos em Paris. Dois anos mais tarde, a Academia Francesa de Medicina integrou esta técnica na Medicina Clássica, sendo hoje ensinada nas faculdades de Medicina em França. Também em 1987 foi criado o diploma universitário de mesoterapia pontual sistematizada pela Faculdade de Aix-Marselha. Michel Pistor cedeu o seu lugar de Presidente da Sociedade Francesa de Mesoterapia (1600 membros na altura) a Jacques Le Coz, em 1991. O VI Congresso Internacional de Mesoterapia decorreu em Bruxelas, em 1992, e contou pela primeira vez com a presença de 24 médicos portugueses. Em 1998, o VIII Congresso Internacional de Mesoterapia teve lugar em São Paulo, no Brasil, mas teve 3
MESOTERAPIA Neste livro expõem-se os fundamentos teóricos desta técnica, a farmacologia, as indicações terapêuticas e casos particulares de patologias, terminando com um texto sobre a experiência da consulta.
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A mesoterapia é um tratamento efetuado através de injeções intradérmicas que tem dois campos principais de atuação: um dirigido à dor, aguda ou crónica, com origem no aparelho musculoesquelético, e outro em medicina estética, no tratamento da obesidade, das rugas e do fotoenvelhecimento.
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Mesoterapia surgiu da necessidade de haver uma ferramenta teórica escrita para os médicos que em diversos hospitais já realizam a Consulta de Mesoterpia, como é o caso do Hospital de São José – CHLC, EPE, e para os médicos especialistas em Fisiatria, Reumatologia, Medicina Geral e Familiar, Anestesiologia, entre outros. Dada a forma prática e a escrita simples com que esta obra foi concebida, Mesoterapia será também muito útil para todos os profissionais que se interessem por este tema.
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