O presente livro aborda uma temática cada vez mais premente no atual contexto social: o ensino e a promoção da língua portuguesa num mundo em mudança. Ao longo de oito capítulos, escritos em português de Portugal e em português do Brasil, com uma fundamentação teórica diversificada, a multiplicidade de autores, temas e textos justifica o subtítulo “Língua e Cultura em Tempos de Perplexidade”. Com efeito, a par da incerteza que caracteriza o presente, também a inovação e a riqueza temática marcam hoje o ensino do português para falantes de outras línguas (um título que abrange outras vertentes como língua estrangeira, língua segunda, língua de acolhimento e língua de herança).
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Por conseguinte, esta obra foi concebida e desenhada a pensar nos professores e investigadores da área de ensino de Português Língua Estrangeira/Português para Falantes de Outras Línguas e em todos aqueles que se interessam pelas “dores” sociais que presenciamos e pela sua relação com a língua portuguesa e os aspetos culturais que a envolvem.
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ISBN 978-989-752-459-2
9 789897 524592
www.lidel.pt
Rubens Lacerda de Sá Docente, pesquisador e coordenador da Editora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP). Pesquisador Associado do Centro Latino-Americano de Estudos em Cultura (CLAEC). Doutor em Linguística Aplicada (Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP), mestre em Linguística (Universidade de Brasília – UnB), especialista no Ensino de Línguas para Fins Específicos (Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT) e bacharel em Letras (Universidade Camilo Castelo Branco – UCCB). Líder do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Estudos de Linguagem (GIEL). Editor da Revista Interdisciplinar em Estudos de Linguagem (RIEL). Interesses de pesquisa: Estudos críticos de discurso, Estudos migratórios, Políticas linguísticas, Identidade, Internacionalização, Linguagem, Educação, Interdisciplinaridade e Tecnologias da informação e comunicação.
Língua e Cultura em Tempos de Perplexidade Português para Falantes de Outras Línguas
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Atualmente, os contextos social e laboral sofrem uma recriação constante, no sentido de conquistar a atenção e promover a integração, através quer da adaptação quer da aceitação da diversidade de pessoas e meios. Também no ensino-aprendizagem de uma língua são propostos novos caminhos, e termos como “comunicação”, “interação” e “criatividade” são palavras-chave para o sucesso. Neste quadro, a obra reúne estudos e propostas que podem inspirar novas investigações e trabalhos, convidando os leitores a retomarem os contextos em que estes foram realizados (Brasil, Macau, Portugal, São Tomé e Príncipe) ou a voltarem-se para outros, com variáveis distintas.
Português para Falantes de Outras Línguas
ENSINO E APRENDIZAGEM DO PORTUGUÊS PARA FALANTES DE OUTRAS LÍNGUAS
Português para Falantes de Outras Línguas
Rubens Lacerda de Sá
7,5 mm
C o o r d e n a ç ão
Rubens Lacerda de Sá
Direção
Maria José Grosso
Índice Índices
7
Lista de Autores
9
Abreviaturas e Siglas Utilizadas
13
Prefácio
15
Nota Prévia
17
Nota do Coordenador
19
Capítulo 1 1. Para uma Pedagogia da Paisagem Linguística: Breve Análise Empírica na Cidade de Macau
23 24
1.1 Introdução
24
1.2 A Paisagem Linguística enquanto Objeto de Investigação
24
1.3 O Enquadramento Legal versus a Escrita da Cidade como Metáfora: O Caso de Macau
26
1.4 A Paisagem Linguística enquanto Instrumento Pedagógico
33
1.5 Conclusão
36
1.6 Referências Bibliográficas
37
Capítulo 2 2. O Português Língua Estrangeira em Portugal e Brasil: Contributo para um Conhecimento Acerca de Dois Contextos Específicos
39
2.1 Introdução
40
2.2 Contextualização do Estudo
40
2.3 Metodologias de Ensino e Respetivas Implicações: Observação de Aulas e Identificação de Propostas de Escrita
42
2.4 Para uma Análise de um Manual de PLE/PL2 e a sua Conformidade com o QECR (2001)
46
2.5 Resultados
46
2.6 Conclusão
56
2.7 Referências Bibliográficas
56
Capítulo 3 3. Aprendizagem Baseada em Problemas no Ensino de Português para Falantes de Outras Línguas
59
40
60
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3
Português para Falantes de Outras Línguas: Língua e Cultura em Tempos de Perplexidade
3.1 Introdução
60
3.2 Do Instrucionismo ao Construtivismo
61
3.3 Aprendizagem Baseada em Problemas
62
3.4 ABP no Ensino de PFOL
65
3.5 Conclusão
69
3.6 Referências Bibliográficas
70
Capítulo 4 4. O Cinema como Ferramenta para o Ensino de Língua Portuguesa e Cultura Brasileira
73 74
4.1 Introdução
74
4.2 O Cinema como Ferramenta Pedagógica no Ensino de Língua Estrangeira
75
4.3 O Cinema Brasileiro: Temas Recorrentes e Atuais
77
4.4 Filmes Brasileiros em Cursos de Conteúdo
78
4.5 Conclusão
84
4.6 Referências Bibliográficas
85
Capítulo 5 5. O Uso de Mídias no Ensino de Português Brasileiro como Língua Adicional: Cenários Atuais e Possíveis Perspectivas
87 88
5.1 Introdução
88
5.2 Base Teórica
91
5.3 Metodologia
96
5.4 Aplicação dos Questionários e Análise de Dados
97
5.5 Conclusão 101 5.6 Referências Bibliográficas 102
Capítulo 6 6. A Interculturalidade no Ensino de Português Língua Estrangeira em São Tomé e Príncipe: Um Efeito do Celpe-Bras
105 106
6.1 Introdução 106 6.2 De que País Estamos Falando? São Tomé e Príncipe 106 6.3 Ensino de Português Língua Estrangeira em São Tomé e Príncipe 109 6.4 O Celpe‑Bras e a Abordagem Intercultural 110 6.5 Reflexos em São Tomé e Príncipe 114 6.6 Conclusão 115 6.7 Referências Bibliográficas 116
4
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Índice
Capítulo 7 7. A Avaliação e a Certificação: Níveis de Impacto e Efeito Retroativo no Processo de Ensino-Aprendizagem de Português Língua Estrangeira
119 120
7.1 Introdução 120 7.2 Contexto de Pesquisa 120 7.3 Impacto e Washback: Algumas Considerações Teóricas 121 7.4 Avaliação e Certificação de Português como Língua Estrangeira 123 7.5 Sistemas de Avaliação e Certificação de Português Língua Estrangeira 124 de Âmbito Internacional 7.6 Impacto e Efeito Retroativo dos Exames Internacionais 126 de Português Língua Estrangeira 7.7 Conclusão 128 7.8 Referências Bibliográficas 128
Capítulo 8 8. Reavaliação da Tradução no Ensino de Português Língua Estrangeira a Aprendentes de Língua Materna Chinesa
131 132
8.1 Introdução 132 8.2 Tradução em Diferentes Métodos do Ensino de Língua Estrangeira 133 8.3 Tradução como Método de Ensino de Língua Estrangeira 135 8.4 A Tradução e os Aprendentes de Português Língua Estrangeira 138 no Contexto de Macau 8.5 Exemplos do Uso da Tradução como Método de Ensino de Português Língua 139 Estrangeira na Sala de Aula 8.6 Conclusão 140 8.7 Referências Bibliográficas 141
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5
Índice de Quadros Quadro 5.1 Questionário aplicado ao público vinculado com os indígenas
97
Quadro 5.2 Questionário aplicado ao público vinculado com os surdos
99
Quadro 5.3 100 Questionário aplicado ao público vinculado com os estrangeiros Quadro 8.1 140 Pequeno-almoço e almoço português e chinês (vocabulário)
Índice de Tabelas Tabela 1.1 Exemplos de romanização da sinalética em Macau
28
Tabela 1.2 Exemplos de atividades a realizar baseadas na PL. Adaptado de Malinowski (2015)
34
Tabela 5.1 Respostas objetivas do questionário do Quadro 5.1
98
Tabela 5.2 Respostas objetivas do questionário do Quadro 5.2
99
Tabela 5.3 100 Respostas objetivas do questionário do Quadro 5.3
Índice de Figuras Figura 1.1 Sinalização junto das Portas do Cerco
29
Figura 1.2 Placa afixada num prédio na zona de Toi San
29
Figura 1.3 Aviso afixado numa zona pública
30
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7
Português para Falantes de Outras Línguas: Língua e Cultura em Tempos de Perplexidade
Figura 1.4 Sinalização institucional
30
Figura 1.5 Folheto no âmbito da Lei de Prevenção e Controlo do Ruído
30
Figura 1.6 Aviso em página eletrónica institucional
31
Figura 1.7 Cartaz afixado numa conhecida cadeia de supermercados de Macau
32
Figura 1.8 Anúncio afixado numa loja de animais em Macau
32
Figura 2.1 Exemplos de escritos de alunos
45
Figura 2.2 Uma página do manual analisado
49
Figura 2.3 Uma página do manual analisado
53
Figura 7.1 122 Contexto do ensino-aprendizagem. Adaptado de Saville (2009, p. 6, figura 1.1) Figura 8.1 137 Exemplo do uso de tradução na sala de aula
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Lista de Autores COORDENADOR Rubens Lacerda de Sá (rubens.sa@ifsp.edu.br)
Docente, pesquisador e coordenador da Editora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP). Pesquisador Associado do Centro Latino ‑Americano de Estudos em Cultura (CLAEC). Doutor em Linguística Aplicada (Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP), mestre em Linguística (Universidade de Brasília – UnB), especialista no ensino de línguas para fins específicos (Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT) e bacharel em Letras (Universidade Camilo Castelo Branco – UCCB). Líder do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Estudos de Linguagem (GIEL). Editor da Revista Interdisciplinar em Estudos de Linguagem (RIEL). Interesses de pesquisa: Estudos críticos de discurso, Estudos migratórios, Políticas linguísticas, Identidade, Internacionalização, Linguagem, Educação, Interdisciplinaridade e Tecnologias da informação e comunicação.
AUTORES Ana Paula Paiva Dias (adias@dsej.gov.mo)
Doutorada em Educação e Interculturalidade na Universidade Aberta de Lisboa, com mestrado em Estudos Portugueses Interdisciplinares. Em Portugal, foi coautora do atual programa de língua portuguesa para o ensino básico. Trabalha presentemente na administração pública de Macau, como assessora técnica na área da promoção e divulgação do Português. Tem vindo a publicar, desde 1996, vários volumes sobre Literatura Portuguesa, didática do Português Língua Estrangeira e, ultimamente, sobre Educação e Encontros Interculturais em Macau. É também colaboradora dos jornais macaenses Hoje Macau e Ponto Final. Catarina Gaspar (catarina.gaspar@gmail.com)
Professora Auxiliar na Universidade de Lisboa e membro da Comissão Científica do Programa em Português como Língua Estrangeira/Língua Segunda e Diretora do Curso de Mestrado em Português como Língua Estrangeira/Língua Segunda. Tem participado em conferências nacionais e internacionais e tem publicado artigos e capítulos de livros nas suas áreas de interesse. Entre 2009 e 2013, foi investigadora e subdiretora do Centro de Avaliação de Português Língua Estrangeira (CAPLE). Tem a seu cargo a lecionação dos seminários de pós‑graduação: Multilinguismo e Política Linguística e Ensino, Aprendizagem, Avaliação. Eliane Vitorino de Moura Oliveira (liaoliver13@gmail.com)
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual de Londrina, no Paraná, possui especialização em Língua Portuguesa pela mesma Universidade. É mestra e doutora © LIDEL EDIÇÕES TÉCNICAS
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Português para Falantes de Outras Línguas: Língua e Cultura em Tempos de Perplexidade
em Estudos da Linguagem pelo Universidade Estadual de Londrina. Atualmente, é pós‑doutoranda em Linguística Aplicada na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) com pesquisa sobre a aprendizagem do Português Língua Estrangeira por estudantes africanos. É docente no curso de Letras na UFAL – Arapiraca, com pesquisas em Linguística Aplicada, Sociolinguística e Português Língua Estrangeira. Janaína de Aquino Ferraz (ferraz.jana@gmail.com)
Doutora em Linguística, com pós-doutorado em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professora Adjunta do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas do Instituto de Letras (LIP-IL). Pesquisadora do programa de pós-graduação em Linguística da Universidade de Brasília (UnB) nas temáticas: Análise de Discurso Crítica, Multimodalidade e Mídias no Ensino de Português Brasileiro como Língua Adicional. João Paulo Peregrino Pereira (peregrino.joaopaulo@gmail.com)
Licenciado em Letras Português do Brasil como Segunda Língua pela Universidade de Brasília (UnB). Orientando do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica. Leila Cristina Santa Brígida do Nascimento (lcsbrigida@hotmail.com)
Licenciada em Letras (Habilitação em Língua Portuguesa) pela Universidade Federal do Pará (2007). Atualmente, é professora de Língua Portuguesa no Centro Cultural Brasil‑São Tomé e Príncipe, vinculado à Embaixada do Brasil, com ênfase no ensino de Português Língua não Materna. Madalena Teixeira (madalena.dt@gmail.com)
Doutorou‑se em Linguística e tem Título de Agregação em Ciências da Linguagem. Tem também o título de Especialista em Educação – Didática. Orientou trabalhos de mestrado e de doutoramento. É autora de vários livros e de dezenas de artigos sobre temas relacionados com a língua, em Portugal e no estrangeiro. Ultimamente, tem dedicado as suas atividades de investigação ao ensino do Português Língua Estrangeira/Português Língua Segunda, articulando‑o com o uso de tecnologias. O seu mais recente trabalho intitula‑se “Das tecnologias e do jogo à aprendizagem do léxico – relato de uma experiência em contexto do Português Língua não Materna”. Maria Helena da Nóbrega (mhn135@gmail.com)
Professora da Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Realizou o pós‑doutorado sobre Aprendizagem Baseada em Problemas, na Universidade de Roskilde (Dinamarca). Concluiu o doutorado na área de Filologia e Língua Portuguesa na Universidade de São Paulo, com bolsa de estudo Capes para pesquisa de um ano na Universidade de Oxford (Inglaterra). Fez o mestrado em Comunicação e Semiótica na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É bacharel
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Lista de Autores
em Letras, habilitação Tradutor‑Intérprete, pela Faculdade Ibero‑Americana, São Paulo. Foi professora‑leitora na Universidade de Aarhus (Dinamarca) e na Universidade de Salamanca (Espanha). Mércia Regina Santana Flannery (merciaf@sas.upenn.edu)
Professora e diretora do Programa de Português da University of Pennsylvania, Philadelphia, PA, nos Estados Unidos da América. Licenciada em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), obteve títulos de Mestre em Linguística pela UFPE e pela Georgetown University, Washington, DC, e o título de PhD em Linguística (Sociolinguística, Análise da Narrativa) pela Georgetown University. Sua experiência profissional abrange o ensino de Português, Cultura e Linguística. Atua em Língua Portuguesa, Sociolinguística, Análise do Discurso e da Narrativa. Monique Luzia Gonçalves de Oliveira (monique.g.unb@gmail.com)
Licenciada em Letras Português do Brasil como Segunda Língua pela Universidade de Brasília (UnB). Orientanda do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica. Rui Rocha (ruisrocha88@gmail.com)
Doutor em Linguística e diretor do departamento de Língua e Cultura dos Países de Língua Portuguesa da Universidade da Cidade de Macau. Interessa‑se por estudos lusófonos, sociolinguística, ensino‑aprendizagem e aquisição de língua e políticas linguísticas. Autor de textos publicados em livros e periódicos de circulação internacional. Tuany Lima de Holanda (tuany61@gmail.com)
Licenciada em Letras Português do Brasil como Segunda Língua pela Universidade de Brasília (UnB). Orientanda do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica. Zhang Jing (jingz@umac.mo)
Doutorada em Linguística e Mestre em Linguística Aplicada. Docente da Universidade de Macau. Tem estudos publicados em capítulos de livros e em revistas académicas sobre o ensino‑aprendizagem de Português Língua Estrangeira e o desenvolvimento da competência sociocultural pelos aprendentes chineses. Tem trabalhado em vários projetos relacionados com o ensino de português para aprendentes chineses.
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Abreviaturas e Siglas Utilizadas ABP
Aprendizagem Baseada em Problemas
AC
Abordagem Comunicativa
ACTFL American Council on the Teaching of Foreign Languages (Conselho Americano de Ensino de Línguas Estrangeiras) ADC
Análise de Discurso Crítica
ALTE
Associação de Avaliadores de Línguas da Europa
BOPE
Batalhão de Operações Policiais Especiais
CAPLE
Centro de Avaliação de Policiais Português Língua Estrangeira
CCBSTP
Centro Cultural Brasil-São Tomé e Príncipe
Celpe-Bras Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (aplicado no Brasil) CIPLE
Certificado Inicial de Português Língua Estrangeira
CPLP
Comunidade de Países de Língua Portuguesa
CREDF
Centre de Recherche et d’Étude pour la Diffusion du Français
DPLP
Divisão de Promoção da Língua Portuguesa
FAMEMA
Faculdade de Medicina de Marília
FLUL
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
FMI
Fundo Monetário Internacional
IAVE
Instituto de Avaliação Educativa
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LA
Linguística Aplicada
LAPE
Locais para Aplicação e Promoção dos Exames
LD
Livro Didático
LE
Língua Estrangeira
LI
Línguas Indígenas
LIBRAS
Língua Brasileira de Sinais
LM
Língua Materna
LMC
Língua Materna Chinesa
LSHK
Linguistic Society of Hong Kong
L1
Primeira Língua
L2
Segunda Língua
MEC
Ministério da Educação e Cultura
MECC
Ministério da Educação, Cultura e Ciência
MRE
Ministério das Relações Exteriores
PaN Prova de Conhecimento da Língua Portuguesa para Aquisição de Nacionalidade PBLA
Português Brasileiro como Língua Adicional
PBLE
Português Brasileiro como Língua Estrangeira
PBSL
Português do Brasil como Segunda Língua
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Português para Falantes de Outras Línguas: Língua e Cultura em Tempos de Perplexidade
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PEC-G
Programa de Estudantes-Convênio de Graduação
PEC-PG
Programa de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação
PL
Paisagem Linguística
PLE
Português como Língua Estrangeira
PL2
Português como Segunda Língua
PEFL/L2
Português Europeu como Língua Estrangeira/Segunda Língua
PFOL
Português para Falantes de Outras Línguas
PNLD
Programa Nacional do Livro Didático
PPPLE
Portal do Professor de Português Língua Estrangeira
QECR
Quadro Europeu Comum de Referência
STP
São Tomé e Príncipe
TIC
Tecnologias da Informação e Comunicação
TPR
Total Physical Response
UCCB
Universidade Camilo Castelo Branco
UEL
Universidade Estadual de Londrina
UFAL
Universidade Federal de Alagoas
UFMT
Universidade Federal de Mato Grosso
UFPE
Universidade Federal de Pernambuco
UnB
Universidade de Brasília
UNESP
Universidade Estadual Paulista
UNICAMP
Universidade Estadual de Campinas
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Prefácio A Tessitura da Obra: Prefaciando os Fios Temáticos “Alguns veem as coisas como elas são e perguntam a si mesmos: ‘Por quê?’ Outros sonham as coisas como elas jamais foram e se perguntam: ‘Por que não?’” George Bernard Shaw
Desde o período paleolítico, o processo de tecer envolve unir duas ou mais coisas por meio de pontos ou fios. Trata‑se de uma arte cujos primórdios nos remetem ao ofício de artesão. Não é diferente quando pensamos em unir oito textos diferentes, de diferentes autoras(es), com diferentes perfis e históricos profissionais e de diferentes regiões geográficas. Lograr essa tarefa demanda tempo e, assim como o artesão, destreza e habilidade. Para benefício e deleite da comunidade leitora interessada na temática desta obra, meu amigo e copesquisador, Rubens Lacerda de Sá – um dos emergentes cientistas na área que abrange os Estudos Migratórios, incluindo o ensino‑aprendizagem de Português para Falantes de Outras Línguas – tem o prazer de nos presentear. Não se trata de um autor/editor principiante, pois esta será a quarta obra sob essa tese que ele assina e nos entrega. Como as três anteriores, esta obra busca verticalizar relevantes e profundas reflexões no que tange à pragmática da Língua Portuguesa para Falantes de Outras Línguas a partir dos pilares Língua/Cultura. Ele, com maestria, orquestra e conduz as autoras(es) e os textos, considerando o cenário perplexo e mutante que se (re) configura na sociedade contemporânea. Consegue, assim, com esta obra, envidar esforços com o fito de valorizar, promover e difundir o Português para Falantes de Outras Línguas no Brasil, em Portugal e além‑mar(es). Enquanto muitos se eximem do trabalho árduo sobre temas socialmente relevantes, Rubens ecoa incansavelmente a pergunta final que epigrafa este prefácio. Qual pesquisador social1, seu axioma é identificar e tratar profilaticamente as agruras sociais que nos pasmam. Que os fios que tecem esta obra (nos) propiciem uma leitura agradável e profícua! Sônia Margarida Ribeiro Guedes
Professora da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEE/DF)
Este termo foi cunhado e explicado pelo próprio Rubens. Vide Sá, R. L. (2016). Içando as velas: uma jornada pro Educação. In R. L. Sá et al. (Orgs.). Educação Crítica de profissionais da linguagem para além‑mar: políticas linguísticas, identidades, multiletramentos e transculturalidade. Campinas, SP: Pontes Editores. Vide também Sá, R. L. (2017). Imigrantes hispano‑americanos, (inter)culturalidade crítica e língua portuguesa. Revista Estudos Acadêmicos de Letras, Vol. 10, N.o 01, julho, pp. 63‑73. Universidade do Estado de Mato Grosso. 1
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Nota Prévia O livro que agora se apresenta, coordenado por Rubens Lacerda, inclui uma variedade de temas, escritos em português de Portugal e em português do Brasil, com uma fundamentação teórica diversificada. A variedade de autores e o conjunto de textos justificam a Língua e Cultura em Tempos de Perplexidade, que, como a designação indica, são tempos de múltiplas incertezas, mas de uma grande riqueza temática para o ensino do Português para Falantes de Outras Línguas (título aqui abrangente de outras designações como língua estrangeira, língua segunda, língua de acolhimento, língua de herança). Nos dias de hoje, e no ensino‑aprendizagem de uma língua, as palavras “comunicação”, “interação”, “criatividade” são palavras‑chave para a realização, com sucesso, das atividades e tarefas exigidas na comunicação (compreensão, produção oral e escrita) de uma nova língua. Neste contexto, os oito capítulos deste livro apresentam estudos (escritos por vários autores) que podem constituir também uma fonte de inspiração (para os leitores) para uma nova investigação e futuros trabalhos, os quais podem ser relativos aos contextos em que foram realizados (Brasil, Macau, Portugal, São Tomé e Príncipe) ou a outros com novas e múltiplas variáveis. Os títulos dos estudos são esclarecedores da riqueza temática referida (e dos contextos diversificados expostos). Esperamos que a diversidade apresentada inspire novos temas e novos estudos de interesse na área do ensino do Português para Falantes de Outras Línguas. Maria José Grosso Diretora da Coleção
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Nota do Coordenador A Temática e os Textos
Por ocasião do falecimento, em 2003, do cientista social uruguaio René Armand Dreifuss, seu amigo pessoal, Eurico de Lima Figueiredo1, da Universidade Federal Fluminense, resumiu o conceito de perplexidade discutido por Dreifuss ao lembrar que, para ele, “a existência social da vida humana é caracterizada por intricados e tumultuados processos que devem nos induzir à reflexão sobre o mundo contemporâneo, exposto às irrupções científicas e às explosões tecnológicas sob a égide da ordem globalizada e que, por isso mesmo, estão a requerer a elaboração de novos paradigmas perceptivos”. Por conseguinte, é tarefa bastante árdua conjugar os construtos sociais Língua e Cultura em tempos que já estão aquém da liquidez baumaniana e esgueiram a perplexidade na perspectiva de René Armand Dreifuss. Nestes tempos perplexos, ainda que munidos das melhores intenções, não somos capazes de captar plenamente a voz do outro, do subalterno, pois essa captação será distorcida devido às limitações próprias das condições de um e outro, conforme salienta a crítica social indiana Gayatri Chakravorty Spivak. Destarte, vivemos um período de marcada despersonificação do mal, isto é, a perda do exercício do pensar perspectivado por Platão, Pascal e Dostoiévski e versado sob as lentes atentas de Hannah Arendt. É, pois, diante deste cenário contemporâneo, que se (re) configura mui frequentemente, que apresentamos esta obra cujo intuito é abordar propostas epistêmico‑metodológicas com o fito de alinhar de modo harmônico o ensino‑aprendizagem de Português para Falantes de Outras Línguas (PFOL) à amálgama cultural que se imbrica e se consubstancia nesse/num continuum processual. Isto posto, partindo dos resumos dos capítulos que compõem a obra, demarco seus textos e temáticas. Rui Rocha e Ana Paula Dias abrem a obra com o texto “Para uma pedagogia da paisagem linguística: Breve análise empírica na cidade de Macau”. Salientam que a paisagem urbana multicultural e multilinguística de uma cidade pode facultar instrumentos de reconstrução e representação das línguas e das culturas envolvidas, constituindo‑se uma moldura pedagógica de abordagem crítica, na perspetiva de Norman Fairclough e associados. “O Português Língua Estrangeira em Portugal e no Brasil: Contributo para um conhecimento acerca de dois contextos específicos” é assinado por Madalena Teixeira. Em seu texto, a autora aponta para uma maior necessidade de investimento, visando à adequação das escolas portuguesas e brasileiras a fim de receberem e trabalharem com alunos que falam outras línguas diversas à portuguesa, além do desenho de programas de educação docente melhores e mais adequados. Após historiar brevemente acerca das perspectivas educacionais behaviorista, cognitivista e a abordagem sociocultural, Maria Helena da Nóbrega advoga em favor 1
Dados: Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 46, n.º 1, 2003, pp. 195‑197.
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Português para Falantes de Outras Línguas: Língua e Cultura em Tempos de Perplexidade
do desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como autocontrole, resiliência e destreza para o trabalho em equipe como fundamentais nestes tempos de perplexidade. Para tanto, apresenta em seu texto a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) como uma abordagem que contempla o pensamento freireano, vygotskyano e deweyano com o fito de fortalecer o autoconhecimento do aprendente, sua autonomia e, consequente, automotivação. Seu texto é intitulado: “Aprendizagem baseada em problemas no ensino de Português para Falantes de Outras Línguas”. Adentrando em um viés mais cultural da obra, contemplamos o leitor com o texto de Mércia Regina Santana Flannery, a saber, “O cinema como ferramenta para o ensino de língua portuguesa e cultura brasileira”. Neste, Flannery associa o aprendizado de línguas outras à necessidade de se entender as complexidades da comunicação ativa, autêntica e dos espaços onde é empregada visando à(s) cultura(s) do país da língua‑alvo para além da habilidade de se comunicar, participar de comunidades e estabelecer conexões. Para atingir esse objetivo, a autora propõe o emprego da produção cinematográfica qual ferramenta multimodal que contempla especificidades históricas, sociais, políticas e culturais do país da língua em mira. Valendo‑se da Teoria da Multimodalidade e da Análise de Discurso Crítica, Janaína de Aquino Ferraz e seus orientandos João Paulo Peregrino Pereira, Monique Luzia Gonçalves de Oliveira e Tuany Lima de Holanda buscam analisar como o ensino de Português Brasileiro como Língua Adicional (PBLA) tem sido desenhado em meio a era das mídias. Em seu texto, “O uso de mídias no ensino de Português Brasileiro como Língua Adicional: Cenários atuais e possíveis perspectivas”, defendem que a conjunção teórico‑metodológica em pauta pode favorecer o uso da língua‑alvo, além de promover uma base efetiva para a produção de material didático digital e analógico, logo, uma inclusão social efetiva nestes tempos modernos e perplexos. Em São Tomé e Príncipe origina‑se a proposta de Leila Cristina Santa Brígida do Nascimento e Eliane Vitorino de Moura Oliveira, cujo foco é o certificado de proficiên cia em língua portuguesa emitido pelo Brasil. Assinam o texto “A interculturalidade no ensino de Português Língua Estrangeira em São Tomé e Príncipe: Um efeito do Celpe‑Bras”, onde refletem sobre o processo de transformação no ensino de língua(s) do Centro Cultural Brasil‑São Tomé e Príncipe e como esse possibilitou a melhoria nas relações de ensino‑aprendizagem, envolvendo a comunidade acadêmica. Washback. Com esse mote central em mente, Catarina Gaspar analisa o nível conceitual e de letramento em avaliação e certificação dos docentes e dos discentes em cursos de PFOL e como isso afeta as dinâmicas em sala de aula, positiva ou negativamente. Em seu texto, “A avaliação e a certificação: Níveis de impacto e efeito retroativo no processo de ensino‑aprendizagem de Português Língua Estrangeira”, seu objetivo é contribuir para o estudo do ensino‑aprendizagem de PFOL sob o ponto de vista da sua resposta às exigências das dinâmicas da mobilidade internacional, do percurso acadêmico a ser trilhado e do mercado laboral globalizado. Por fim, a pesquisadora Zhang Jing defende que a tradução é um processo cognitivo inevitável dos aprendentes de PFOL. Apresenta propostas de tarefas e atividades em que a tradução pode ser aplicada na sala de aula como um método de ensino que, 20
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Nota do Coordenador
combinado com a Abordagem Comunicativa, possibilita ao aprendente a necessária competência comunicativa na língua‑alvo. Ancora‑se em premissas cognitivas e construtivistas e seu texto intitula‑se “Reavaliação da tradução no ensino de Português Língua Estrangeira a aprendentes de língua materna chinesa”.
Rubens Lacerda de Sá Coordenador
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CAPÍTULO 1 Para uma Pedagogia da Paisagem Linguística: Breve Análise Empírica na Cidade de Macau
Português para Falantes de Outras Línguas: Língua e Cultura em Tempos de Perplexidade
1. Para uma Pedagogia da Paisagem Linguística: Breve Análise Empírica na Cidade de Macau Rui Rocha Ana Paula Paiva Dias
1.1 Introdução
A paisagem linguística (PL) refere-se à visibilidade e à relevância das línguas em sinais públicos e comerciais num determinado território ou região. Propõe-se que a PL possa facultar importantes funções informativas e simbólicas como marcador do poder relativo e estatuto das comunidades linguísticas que habitam a cidade de Macau. Analisando a vitalidade etnolinguística das línguas da região (a cantonense, a portuguesa, a inglesa e a da língua oficial da China - o pǔtōnghuà), a hipótese é que a experiência da paisagem linguística por membros de um grupo linguístico pode, por um lado, ilustrar e, por outro, pode contribuir para os aspetos sociais e psicológicos do desenvolvimento bilingue. A vitalidade etnolinguística subjetiva representa perceções da vitalidade da língua dos grupos em vários domínios: há relações entre a PL e o uso da língua, especialmente em contextos institucionais, sugerindo um efeito de transição entre o comportamento linguístico e a paisagem linguística. Este artigo explora ainda o uso da PL como recurso pedagógico em contexto educativo. Como área de crescente interesse na investigação sociolinguística e com uma história pedagógica estabelecida no ensino de língua materna, o estudo de textos exibidos publicamente, como anúncios e sinais de trânsito, começa a encontrar um espaço nas salas de aula língua estrangeira (LE). Para além de apoiarem o desenvolvimento da competência linguística, os projetos pedagógicos relacionados com a paisagem linguística podem ser significativos para os alunos de LE de várias formas, particular mente no desenvolvimento das competências simbólica e de multiliteracia. 1.2 A Paisagem Linguística
enquanto
Objeto
de Investigação
Nos dias de hoje, as línguas são omnipresentes; surgem na publicidade, nos néones, em nomes de edifícios, de ruas e lojas, em instruções e sinais de alerta, nos grafitos e no espaço cibernético. O campo dinâmico da PL tenta entender os motivos, usos, ideo logias, variedades de língua tal como são exibidos nos espaços públicos, tendo como pressuposto que o espaço da comunicação visual de uma sociedade apenas pode ser compreendido em contexto, a partir, por um lado, do conjunto de formas ou modos de comunicação pública disponíveis e, por outro lado, dos seus usos e valorizações. Pennycook (2010, p. 57) sublinha que a língua tem de ser entendida “not as an abstract system, but rather as a local phenomenon, arising first from the utterances of speakers in tangible places, at particular historical and ideological moments”. 24
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O Uso de Mídias no Ensino de Português Brasileiro como Língua Adicional: Cenários Atuais e Possíveis Perspectivas
Ao longo do desenvolvimento, a obtenção de dados descritivos guiou os parâmetros para a interpretação de análise do corpus. O envolvimento direto do pesquisador, no caso desta pesquisa, por meio da observação de aulas, aplicação de questionários, entrevistas e obtenção de materiais didáticos é imprescindível na redução da distância entre contexto e ação (Neves, 1996, p. 1). Escolhemos o questionário como meio de coleta de dados, pois se trata de método rápido e objetivo em que o respondente pode ou não adicionar comentários que vão de acordo com sua opinião, o questionário não ocupa muito tempo do respondente e é mais prático. Temos como objetivo geral: investigar, por meio de questionário, qual é a situação real do uso de mídias digitais no ensino de PBLA.
5.4 Aplicação
dos
Questionários
e
Análise
de
Dados
Para fins de organização dos dados, estabelecemos uma estrutura semiaberta em que apresentamos alternativas de resposta fechada que podem ser comentadas. São dez perguntas relativas ao ensino de PBLA e ao uso de mídias com esses públicos. Para o público relacionado com os indígenas, foram feitos contatos prévios com os prováveis respondentes. Buscamos profissionais que atuam com o ensino de português para indígenas em contextos formais, como a universidade. Esse recorte foi feito no intuito de investigarmos se, nessas condições consideradas ideais, as mídias são utilizadas. Durante a aplicação dos questionários, primeiro o tema foi introduzido para que o respondente possa estar ciente do que estava sendo pesquisado, os respondentes são sete pessoas, em sua maioria, professores da Universidade de Brasília que trabalham com alunos indígenas, têm ou já tiveram contato com estes povos e alunos que participam de projetos voltados para indígenas. A escolha por esses respondentes pautou‑se na representatividade de atuação. Apresentamos a seguir esse questionário no Quadro 5.1, e na Tabela 5.1 seguem as respostas compiladas. 1. As mídias digitais (livros, cadernos, quadro negro e branco) e/ou analógicas (data show, livros e vídeos) são utilizadas no ensino formal de português do Brasil para indígenas, em escolas e universidades. 2. O uso de mídias no ensino de português do Brasil para indígenas pode ser fator diferencial para o desenvolvimento de competência em língua-alvo. 3. O ensino de português do Brasil para indígenas possibilita a formação cidadã de brasileiros que não fazem parte da maioria linguística e podem estar excluídos socialmente. 4. Mídias digitais no ensino-aprendizagem podem favorecer o letramento formal e midiático de alunos indígenas. 5. Os professores de escolas indígenas baseiam seu planejamento de aulas no uso diversificado de mídias como: vídeos, músicas, data show, TV, etc. (continua)
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A Interculturalidade no Ensino de Português Língua Estrangeira em São Tomé e Príncipe: Um Efeito do Celpe-Bras
campo da Linguística Aplicada (LA), e o surgimento do Celpe‑Bras, em 1997, trouxe uma nova perspectiva para a área. Schlatter (2014), historiando a gênese do exame, relata ter sido a partir de um projeto idealizado por professores da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), nomeadamente Leonor C. Lombello, José Carlos Paes de Almeida Filho, Itacira Araújo Ferreira e Matilde Scaramucci, já atuantes na área, que foi criada, pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), uma comissão de especialistas para dar conta da elaboração de um exame oficial. A motivação primeira para a certificação partiu da urgência em unificar e padronizar a seleção de intercambistas estrangeiros e, principalmente, de interessados em estudar no Brasil pelo Programa de Estudantes‑Convênio de Graduação (PEC‑G), programado governo cuja função é oferecer educação superior em universidades nacionais a cidadãos de países em desenvolvimento que mantêm acordos educacionais e culturais com o Brasil. Era mister, então, a criação de um instrumento avaliativo por meio do qual fosse aferida a capacidade de estrangeiros interagirem cotidianamente por meio da língua e no qual (Schllater, 2014): • A proficiência no uso da língua portuguesa fosse analisada por meio do desempenho dos candidatos em tarefas o mais próximo possível de usos autênticos da língua; • As tarefas propusessem a compreensão de textos escritos e orais e a produção escrita e oral a partir desses textos; • Os critérios de avaliação fossem holísticos e baseados nas condições de recepção e produção propostas nas próprias tarefas; • O resultado da avaliação fosse expresso em descritores de desempenho do examinando; • Os parâmetros de correção tivessem como base os próprios objetivos das tarefas e os recursos discursivos exigidos para sua realização. Criou‑se o Celpe‑Bras, exame que, ao contrário de outros, certifica diferentes níveis de proficiência: intermediário, intermediário superior, avançado e avançado superior, por entender que todos os examinandos são capazes de desempenhar ações na e pela língua, de maneira mais ou menos eficiente. Única certificação aceita no país, exigência para aqueles que desejam trabalhar e estudar em terras brasileiras, bem como para a autenticação de diplomas estrangeiros e solicitação de algumas agências de classe, o Celpe‑Bras é um exame de natureza comunicativa, o que implica aferir não conhecimentos sobre a língua, sobre questões gramaticais e sobre vocabulário, mas, sim, medir a capacidade de uso nessa língua. Como orienta o Manual do Aplicador (Brasil, 2010, p. 7): “A competência do candidato é, portanto, avaliada pelo seu desempenho em tarefas que se assemelham a situações que possam ocorrer na vida real. Embora não haja questões explícitas sobre gramática e vocabulário, esses elementos © LIDEL EDIÇÕES TÉCNICAS
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Português para Falantes de Outras Línguas: Língua e Cultura em Tempos de Perplexidade
Portugueses Pequeno‑almoço
Chineses Almoço
Pequeno‑almoço
Almoço
• Comida: pão, tor- • Comida: arroz de • Comida: 粥zhou (can- • Comida: 饭fan (arroz), rada, queijo, manmarisco, frango asja), 面mian (massa), 包 蒸鱼zhengyu (peixe ao teiga, etc. sado, salada, etc. 子baozi (pão chinês), vapor), 炒青菜chao • Bebida: sumo de • Bebida: água, ceretc. qingcai (legumes sallaranja, leite, café, veja, vinho, etc. • Bebida: 豆浆doujiang teados), etc. etc. (leite de soja), 茶cha • Bebida: 茶cha (chá) (chá), etc. Quadro 8.1 – Pequeno-almoço e almoço português e chinês (vocabulário)
Proposta 2: Baseando‑se num determinado vocabulário dominado, os alunos vão observar os membros da sua família e entrevistar os seus amigos, registando o que é que eles comem e bebem ao pequeno‑almoço e ao jantar, a que horas comem, onde comem, etc. Posteriormente, vão escrever um texto em que comparam os hábitos alimentares das pessoas de idade e dos jovens, apontando aspetos semelhantes e diferentes. Proposta 3: Os alunos vão gravar pequenas conversas com habitantes portugueses de Macau (os professores da escola, amigos ou conhecidos, etc.), com o intuito de comparar os hábitos alimentares dessas pessoas com os dos chineses. Utilizando estas informações e as da Proposta 2, os alunos farão uma pequena apresentação oral. Em todas as propostas, a tradução está a ser aplicada, tanto na construção do vocabulário ligado à alimentação, como na recolha de informações e na transformação das informações dadas pelos familiares e amigos de chinês para português. Depois de completar todas as atividades, os alunos serão capazes de contar em português os seus hábitos alimentares, bem como os de outrem, e também de dialogar com os portugueses sobre a comida e a bebida. Além disso, os alunos chineses vão desenvolver‑se de forma global em termos de competência linguística e sociocultural.
8.6 Conclusão
A LM e a tradução têm o seu lugar importante no ensino de LE, isto, porém, não significa que voltemos ao Método Gramática‑Tradução que insiste excessivamente na focalização no professor, e na explicitação e na prática de regras gramaticais. É preciso valorizar o ensino centrado no aluno, incentivando a participação dele com o fim de se desenvolver a sua competência comunicativa. É importante integrar o método de tradução na AC no ensino de PLE. O uso de LM é um processo inevitável. Os alunos recorrem à sua LM para associar o significado com um objeto real ou uma situação concreta. No entanto, é necessário 140
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O presente livro aborda uma temática cada vez mais premente no atual contexto social: o ensino e a promoção da língua portuguesa num mundo em mudança. Ao longo de oito capítulos, escritos em português de Portugal e em português do Brasil, com uma fundamentação teórica diversificada, a multiplicidade de autores, temas e textos justifica o subtítulo “Língua e Cultura em Tempos de Perplexidade”. Com efeito, a par da incerteza que caracteriza o presente, também a inovação e a riqueza temática marcam hoje o ensino do português para falantes de outras línguas (um título que abrange outras vertentes como língua estrangeira, língua segunda, língua de acolhimento e língua de herança).
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Por conseguinte, esta obra foi concebida e desenhada a pensar nos professores e investigadores da área de ensino de Português Língua Estrangeira/Português para Falantes de Outras Línguas e em todos aqueles que se interessam pelas “dores” sociais que presenciamos e pela sua relação com a língua portuguesa e os aspetos culturais que a envolvem.
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ISBN 978-989-752-459-2
9 789897 524592
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Rubens Lacerda de Sá Docente, pesquisador e coordenador da Editora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP). Pesquisador Associado do Centro Latino-Americano de Estudos em Cultura (CLAEC). Doutor em Linguística Aplicada (Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP), mestre em Linguística (Universidade de Brasília – UnB), especialista no Ensino de Línguas para Fins Específicos (Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT) e bacharel em Letras (Universidade Camilo Castelo Branco – UCCB). Líder do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Estudos de Linguagem (GIEL). Editor da Revista Interdisciplinar em Estudos de Linguagem (RIEL). Interesses de pesquisa: Estudos críticos de discurso, Estudos migratórios, Políticas linguísticas, Identidade, Internacionalização, Linguagem, Educação, Interdisciplinaridade e Tecnologias da informação e comunicação.
Língua e Cultura em Tempos de Perplexidade Português para Falantes de Outras Línguas
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Atualmente, os contextos social e laboral sofrem uma recriação constante, no sentido de conquistar a atenção e promover a integração, através quer da adaptação quer da aceitação da diversidade de pessoas e meios. Também no ensino-aprendizagem de uma língua são propostos novos caminhos, e termos como “comunicação”, “interação” e “criatividade” são palavras-chave para o sucesso. Neste quadro, a obra reúne estudos e propostas que podem inspirar novas investigações e trabalhos, convidando os leitores a retomarem os contextos em que estes foram realizados (Brasil, Macau, Portugal, São Tomé e Príncipe) ou a voltarem-se para outros, com variáveis distintas.
Português para Falantes de Outras Línguas
ENSINO E APRENDIZAGEM DO PORTUGUÊS PARA FALANTES DE OUTRAS LÍNGUAS
Português para Falantes de Outras Línguas
Rubens Lacerda de Sá
7,5 mm
C o o r d e n a ç ão
Rubens Lacerda de Sá
Direção
Maria José Grosso