Apresentação do livro - Era uma vez

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Ana Viegas

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Uso em sala de aula e autoaprendizagem

ATIVIDADES DE LEITURA RECREATIVA E de ESCRITA CRIATIVA

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QECR e QuaREPE Níveis A1/A2


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Prefácio Apresentação

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Parte l l — Oficinas de Leitura Recreativa e de Escrita Criativa A1 Oficina 1 Oficina 2 Oficina 3 Oficina 4 Oficina 5 Oficina 6 Oficina 7 Oficina 8 Oficina 9 Oficina 10

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Parte l — Atividades iniciais A literatura oral O provérbio popular português A anedota popular portuguesa A adivinha popular portuguesa A lengalenga popular portuguesa O trava-língua popular português Os escritores A leitura recreativa A escrita criativa Mensagem para os leitores e escritores Mensagem para o professor

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Soluções

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Bibliografia

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Parte l l l — O meu dicionário

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Parte l l (continuação) A2 Oficina 1 Oficina 2 Oficina 3 Oficina 4 Oficina 5 Oficina 6 Oficina 7 Oficina 8 Oficina 9 Oficina 10

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Prefácio

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Os textos da tradição oral e/ou popular são uma referência cultural que consubstanciam características identitárias de um povo. Revelam, não só, formas de pensar, de sentir, mas também de interagir com os outros. Estes testemunhos da sabedoria popular não podem ser ignorados pela riqueza que as suas palavras, aparentemente simples, escondem. É isso o que propõe a obra Era Uma Vez, isto é, trazer para a aula de Português Língua Estrangeira (PLE) textos simples e curtos da tradição oral, através do desenvolvimento de oficinas de leitura recreativa e de escrita criativa, adaptadas a um nível de proficiência básico. Para este volume, foram selecionados provérbios, anedotas, adivinhas, lengalengas e trava-línguas, exemplos populares da tradição oral, partilhados e muitas vezes alterados, pois, como diz o provérbio, quem conta um conto acrescenta um ponto. Ana Viegas apresenta uma seleção baseada em fontes fidedignas, como António Machado Guerreiro e José Viale Moutinho, e simultaneamente num trabalho de pesquisa exaustivo, o que reforça a riqueza e a seriedade desta sua proposta. As vantagens inerentes à exploração destes textos no contexto do ensino-aprendizagem do PLE não se limitam ao aperfeiçoamento da fluência e da pronúncia dos aprendentes, já que a vertente cultural implícita no corpus compilado por Ana Viegas confere uma outra profundidade ao estudo do PLE. Para os que perspetivam a aprendizagem de uma língua estrangeira como um todo, que vão para além de uma conceção meramente utilitária, encontrarão aqui reunidas propostas variadas, que permitem consolidar as competências de leitura e de escrita previsíveis neste nível de proficiência. Cada um dos géneros textuais reunidos neste volume apresenta mais-valias para os professores e estudantes de PLE pelas características particulares que passamos a enunciar. Os provérbios são comummente usados pelos falantes nativos para rematar uma conversa, quase sempre com o objetivo de mostrar uma certa superioridade moral e de realçar a falta de prudência ou de perspicácia do(s) outro(s) e é provável que os estudantes já os tenham lido/escutado ou que venham a contactar com eles no seu dia a dia. Por este motivo, a sua exploração num contexto mais formal pode ajudá-los a compreender o seu significado e, quem sabe, a utilizá-los eficazmente. Do mesmo modo, as anedotas, enquanto textos humorísticos, são ótimos desbloqueadores de conversa, criando um bom ambiente e predispondo cinco

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as pessoas à comunicação, dado que podem diminuir as inseguranças dos aprendentes de uma língua estrangeira. Nem sempre as anedotas são utilizadas em sala de aula por apresentarem estereótipos, caricaturas ou formas de pensar politicamente incorretas. No entanto, é precisamente neste contexto que existe a oportunidade de explorar abertamente as ideias que veiculam e desconstruir possíveis preconceitos ou visões tendencialmente redutoras da sociedade aí presentes. Já as adivinhas constituem desafios mentais, charadas, que testam a nossa acuidade. Estes enigmas introduzem uma componente lúdica na aprendizagem e são, por isso, utilizados recorrentemente no ensino nas mais variadas áreas do saber e em qualquer faixa etária. Por sua vez, as lengalengas fazem parte do imaginário infantil de cada um e são textos que transmitem uma sensação de conforto e de segurança a quem os escuta, mas também a quem os «canta», funcionando como mantras. Não raras vezes transmitem valores culturais que podem igualmente ser explorados no âmbito escolar. Por último, os trava-línguas constituem-se enquanto desafios de pronunciação, de diferentes níveis de complexidade, contendo ratoeiras que só podem ser superadas com concentração e treino. Em contexto coletivo, o erro desperta o riso e este ambiente de alegria cria uma ligação afetiva dos aprendentes com a língua de estudo. Tendo em conta as características dos textos da tradição oral aqui compilados e as propostas de exploração originais de Ana Viegas em torno dos mesmos, as potencialidades da obra Era Uma Vez são evidentes. Assim, acreditamos que este livro será um auxiliar fundamental para quem pretende variar as estratégias e os materiais usados na aprendizagem do Português Língua Estrangeira e, simultaneamente, valorizar o texto literário desde os níveis mais elementares.

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Sofia Rente

Professora de português e autora da obra Expressões idiomáticas ilustradas (https://www.lidel.pt/pt/catalogo/portugues-europeu-lingua-estrangeira/ materiais-complementares/expressoes-idiomaticas-ilustradas/)


Apresentação

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Era Uma Vez tem como principal objetivo desenvolver as competências comunicativas em língua (linguísticas, sociolinguísticas e pragmáticas) do aprendente de Português Língua Estrangeira através de atividades de leitura recreativa e de escrita criativa com base em provérbios, anedotas, advinhas, lengalengas e trava-línguas populares portugueses. Especificamente, tem como objetivo que o aprendente seja capaz de: • Reconhecer a literatura oral como um conjunto de textos transmitidos oralmente, de geração em geração, por um povo, o que os torna uma criação coletiva; • Identificar alguns tipos de literatura oral, particularmente o provérbio, a anedota, a advinha, a lengalenga e o trava-língua; • Definir e caracterizar o provérbio popular português enquanto um texto curto que se serve do bom senso dos seus conselhos para regular o modo de vida de um povo, valendo pelo seu sentido figurado e não pelo seu sentido literal; • Definir e caracterizar a anedota popular portuguesa enquanto um texto curto que relata humoristicamente os acontecimentos mais marcantes de um povo com a intenção de provocar riso espontâneo; • Definir e caracterizar a adivinha popular portuguesa enquanto um texto curto composto por um jogo de pergunta-resposta desafiante que visa o entretenimento; • Definir e caracterizar a lengalenga popular portuguesa enquanto um texto curto quase cantado, com ritmo, rimas e repetições, normalmente acompanhado por atividades físicas, com a intenção de entreter enquanto transmite ensinamentos; • Definir e caracterizar o trava-língua popular português enquanto um texto curto com uma sequência de palavras com sons parecidos difíceis de pronunciar sem hesitações nem atrapalhações, provocando riso espontâneo; • Nomear os dois escritores apresentados: António Machado Guerreiro e José Viale Moutinho; • Identificar as vantagens da leitura e caracterizar a leitura recreativa enquanto um tipo particular de leitura que estimula a imaginação e a criatividade; • Identificar as vantagens da escrita e caracterizar a escrita criativa enquanto um tipo particular de escrita que estimula a imaginação e a criatividade; • Fomentar hábitos de leitura e de escrita em Português Língua Estrangeira. sete

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O provérbio, a anedota, a adivinha, a lengalenga e o trava-língua populares portugueses enquanto recursos lúdico-didáticos para o ensino-aprendizagem de Português Língua Estrangeira

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Aprender Português Língua Estrangeira através de provérbios, anedotas, adivinhas, lengalengas e trava-línguas populares portugueses comprova que é possível aprender uma língua através da sua cultura. Efetivamente, estes textos ensinam enquanto divertem, o que dinamiza e facilita o processo de ensino-aprendizagem:

ligência e de saúde mental, «[O] riso, manifestação de inte lhores pedagogias, ao mesmo intelectual e física, é uma das me linguística e conceptual.» tempo que suporta a maturação (Nogueira, 2006: p. 7)

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Por serem concisos, são fáceis de memorizar, tornando-se motivadores, e não precisam de adaptação, permanecendo materiais autênticos. Além disso, a sua narração aperfeiçoa a dicção e melhora a fluência. No mesmo sentido, ao brincarem com as palavras, revelam que é possível atribuir-lhes outros sentidos além dos mais óbvios, o que promove a reinterpretação. Esta capacidade ativa os conhecimentos que o aprendente tem do mundo, prepara-o para o questionamento contínuo (e a correspondente resposta às mais variadas situações do quotidiano) e contribui para a formação da sua personalidade. Adicionalmente, não exigem competências de compreensão e de produção escritas muito desenvolvidas, apresentam a leitura e a escrita como prazerosas e abrem o caminho para leituras e escritas gradualmente mais complexas. Além do mais, souberam evoluir com o tempo, mantendo-se válidos a cada geração (por reinterpretarem as novas realidades e equilibrarem a preservação do antigo com o acrescento do novo), continuam a ser amplamente divulgados e reconhecidos e são abrangentes a ponto de permitirem a caracterização do povo que narram, como exemplificado pelo caso da anedota:

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da de o pré-nascimento até depois «Ela acompanha a nossa vida des sidio costumes, modos de pensar, morte, ela testemunha épocas, aetivas, fases da linguagem, region sincrasias1, maneiras de agir col , iais 3 as4 das diversas camadas soc lismos2, idioletos . Ela indica gíri lgos, da de famintos à de poten-6 desde a dos marginais à dos fida ia na escola e fora desta. Mimose tados5; acompanha os meninos a templa pobres diabos e a invers políticos, lembra criminosos, con o, giã haços. Intromete-se com a reli deles, os espertalhões, e reis e pal anBestializa7 homens, tanto como celebriza pensadores e artistas. nem 8 peita fortes nem fracos, pobres tropomorfiza irracionais, não res ricos. E muito mais ainda.» (Machado Guerreiro, 1986: p. 84)

Por fim, representam a universalidade e a particularidade. Por exemplo, um provérbio pode ser universal (pois uma mesma ideia pode existir em provérbios de línguas diferentes, ainda que com as particularidades de cada país, mantendo o mesmo significado), como em 1

português: «mais vale um pássaro na mão do que dois a voar» italiano: «meglio un uovo oggi che una gallina domani»9, ou pode ser nacional (não fazendo sentido fora de fronteiras), como em «de Espanha, nem bom vento nem bom casamento»10.

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De igual modo,

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ular por diferentes regiões «uma mesma anedota pode circ tada, outras vezes de forma e países, algumas vezes readap 11 o riso independentemente semelhante, conseguindo induzir ficas». das fronteiras culturais e geográ (Rosa, 2014: p. 8)

1   Idiossincrasias = características; 2  Regionalismos = palavras próprias de uma região; 3  Idioletos = = modos de falar; 4  Gírias = linguagem específica usada por determinados grupos; 5  Potentados = =pessoas com muita influência; 6  Mimoseia = insulta; 7  Bestializa = torna animal; 8  Antropomorfiza = = torna humano; 9  Mais vale um ovo hoje do que uma galinha amanhã = é melhor ficar com algo seguro do que esperar por algo incerto; 10  Refere-se aos ventos desagradáveis de leste e aos maus casamentos entre monarcas portugueses e castelhanos, que punham muitas vezes em causa a independência do reino de Portugal; 11  Induzir = provocar.

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Os escritores escolhidos: António Machado Guerreiro e José Viale Moutinho

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A escolha das coleções de anedotas populares portuguesas de António Machado Guerreiro e de adivinhas populares portuguesas de José Viale Moutinho prende-se com o facto de serem as mais completas, as mais bem organizadas e as de mais fácil acesso disponíveis. Os provérbios, as lengalengas e os trava-línguas populares portugueses que também fazem parte desta obra advêm da memória da autora, sua família e amigos, assim como da consulta da obra «Velhas Lengalengas e Rimas do Arco-da-Velha», compilada pela equipa do Luso-Livros.

Atividades de exploração de provérbios, anedotas, adivinhas, lengalengas e trava-língua populares portugueses: oficinas de leitura recreativa e de escrita criativa

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As atividades de exploração de provérbios, anedotas, adivinhas, lengalengas e trava-línguas populares portugueses visam atividades de leitura recreativa e de escrita criativa organizadas em oficinas. Estas atividades implicam a participação ativa do aprendente no processo de desenvolvimento das suas competências comunicativas em língua e pretendem demonstrar que é possível aprender uma língua estrangeira através de uma aprendizagem não formal. Ler recreativamente é ler despreocupadamente. Isto permite ao leitor viajar por outros mundos, imergir-se noutras culturas, lidar com sensações boas (a alegria, a amizade, o amor) e más (a dor, a morte), refletir e confrontar pontos de vista, desenvolver a sua criatividade e a sua imaginação, ampliar o seu vocabulário e familiarizar-se com a escrita. Escrever criativamente é não se limitar a procedimentos e modelos pré-estabelecidos, mas, sim, brincar com as palavras. Isto permite ao escritor comunicar consigo próprio e com os outros, imortalizar as suas palavras, organizar os seus pensamentos, refletir e ponderar com maior precisão, desenvolver a sua criatividade e a sua imaginação e aperfeiçoar a ortografia. A leitura recreativa e a escrita criativa justificam a sua copresença nas atividades de exploração de provérbios, anedotas, adivinhas, lengalengas e trava-língua populares portugueses pelo enriquecimento mútuo que originam, por se assumirem como competências comunicativas lúdicas — ao aliarem

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à sua funcionalidade a dimensão de entretenimento — e por estimularem a imaginação, a criatividade e a participação ativa do aprendente. Estas atividades de exploração de provérbios, anedotas, adivinhas, lengalengas e trava-línguas populares portugueses serão realizadas em oficinas de leitura recreativa e de escrita criativa. Poderão ser realizadas individualmente (em contexto de aprendizagem não formal) ou em contexto de aprendizagem formal, enquanto complemento aos materiais de base, e são dirigidas a um público-alvo jovem e adulto.

Organização

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A presente obra encontra-se organizada da seguinte forma: • Parte I: atividades iniciais sobre a literatura oral, o provérbio, a anedota, a adivinha, a lengalenga e o trava-língua populares portugueses, os escritores das principais coleções de anedotas e de adivinhas populares portuguesas, a leitura recreativa, a escrita criativa e duas mensagens dirigidas aos leitores e escritores e ao professor; • Parte II: 20 oficinas de leitura recreativa e de escrita criativa com base em provérbios, anedotas, adivinhas, lengalengas e trava-línguas populares portugueses, repartidas pelos níveis A1 e A2 do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas: Aprendizagem, Ensino, Avaliação (QECR) e do Quadro de Referência para o Ensino Português no Estrangeiro (QuaREPE), com grau de dificuldade crescente. Geralmente, cada oficina contém atividades de pré-leitura, leitura, pós-leitura, planificação, textualização e revisão; • Parte III: o meu dicionário, uma criação pessoal a partir do vocabulário adquirido a ser preenchido com a definição em contexto da palavra adquirida, um sinónimo e um antónimo.

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A literatura oral O provérbio popular português A anedota popular po rtuguesa A adivinha popular po rtuguesa A lengalenga popular portuguesa O trava-língua popular português Os escritores A leitura recreativa A escrita criativa Mensagem para os le itores e escritores Mensagem para o prof essor


A literatura oral

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A literatura oral é o conjunto de textos transmitidos oralmente, de geração em geração, por um povo, o que os torna uma criação coletiva. Pelas características da sua transmissão, com acrescentos, omissões e/ou alterações, estão impregnados com a cultura do povo que os narra, sendo o seu espelho. Estes textos orais podem existir em mais do que um povo, mesmo a grandes distâncias geográficas, não sendo, necessariamente, iguais em todos eles, antes revelando as particularidades culturais de cada um. A sua contínua transmissão justifica-se, por um lado, pelo seu valor recreativo, de ocupação de tempos livres, e, por outro, pelo seu valor ideológico e pedagógico, uma vez que transmitem os valores e costumes do povo em que se incluem. São exemplos destes textos orais, entre outros, os provérbios, as anedotas, as adivinhas, as lengalengas, os trava-línguas e os contos. Atividade

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1. Identifica a imagem com a definição de «literatura oral».

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Atividades iniciais

O provérbio popular português

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O provérbio popular português é um género da literatura oral, caracterizando-se, no geral, por ser transmitido oralmente, de geração em geração, por um povo — o que o torna uma criação coletiva —, e, particularmente, por ser um texto curto que se serve do bom senso dos seus conselhos para regular o modo de vida de um povo. Aplica-se em várias situações do dia a dia para aconselhar, uma vez que aborda vários temas do quotidiano e tem em vista regular comportamentos, o que origina um sentido de identidade. Tem dois significados: o literal e o figurado. Destes, é o segundo que se aplica em cada situação. Assim, não deve ser entendido literalmente, mas compreendido pelo seu sentido implícito. Isto não só promove o raciocínio e a reflexão, como também a reinterpretação e a atribuição de novos sentidos às palavras. Atividade

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1. Relaciona os dois sentidos do provérbio popular português «entre marido e mulher não se mete a colher» com as imagens.

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Sentido literal

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Sentido figurado

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A anedota popular portuguesa

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A anedota popular portuguesa é um género da literatura oral, caracterizando-se, no geral, por ser transmitida oralmente, de geração em geração, por um povo — o que a torna uma criação coletiva —, e, particularmente, por ser um texto curto que relata humoristicamente o modo de vida de um povo. Este relato humorístico do quotidiano de um povo tem como intenção provocar o riso espontâneo e «não respeita convenções12 nem normas sociais, pelo contrário (…) desafia, critica, subverte13, ridiculariza e caricatura14 personalidades, instituições, estruturas e hierarquias15» (ROSA, 2014: p. 7). Isto significa que usa o humor para narrar, ridicularizar ou fazer críticas veladas16 aos acontecimentos mais marcantes de um povo. Para provocar riso espontâneo deve ser breve, simples e contada de forma natural. Atividade

1. Lê a anedota.

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— Depois de lavar a cara, olho sempre para o espelho, a ver se está bem limpa — diz o garoto. — Tu não fazes o mesmo? — Não preciso. Basta-me olhar para a toalha.

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2. Indica a imagem que demonstra que a cara está bem limpa.

A

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Convenções = costumes; 13  Subverte = revoluciona;   Hierarquias = classificações; 16  Veladas = disfarçadas.

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Caricatura = descreve exageradamente;


Atividades iniciais

A adivinha popular portuguesa

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A adivinha popular portuguesa é um género da literatura oral, caracterizando-se, no geral, por ser transmitida oralmente, de geração em geração, por um povo — o que a torna uma criação coletiva —, e, particularmente, por ser um texto curto composto por um jogo de pergunta-resposta que visa o entretenimento. Habitualmente, é composta por duas partes: uma fórmula interrogativa, que pode ser introdutória (no início) ou de remate (no fim); e uma descrição ambígua do tema, insinuando uma solução óbvia, mas desejando confundir. Exemplos de fórmulas interrogativas

Início Qual é a coisa, qual é ela O que é que

Fim Não adivinhas este ano, nem para o ano que vier, só se eu te disser Adivinha, bacharel

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A intenção de quem conta é instalar a dúvida sobre o que parece evidente e a de quem ouve é eliminar as ambiguidades e encontrar a solução. No entanto, esta solução não se encontra pela lógica nem pela escolha racional, mas, sim, pela exploração de todos os significados possíveis das palavras e do seu sentido implícito. Não é por acaso que a decifração de adivinhas foi sempre considerada uma prova de grande inteligência. Atividade

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1. Decifra a adivinha. O que é que está no meio do mar? R: ______________________.

As várias tentativas de decifração de uma adivinha desenvolvem o raciocínio, a interpretação, a reinterpretação, a imaginação, a criatividade e a memorização. dezassete

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A lengalenga popular portuguesa

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A lengalenga popular portuguesa é um género da literatura oral, caracterizando-se, no geral, por ser transmitida oralmente, de geração em geração, por um povo — o que a torna uma criação coletiva —, e, particularmente, por ser um texto curto com ritmo, rimas e repetições. Por ser um texto quase cantado, com muitas rimas e repetições, é fácil de memorizar e promove a sua intenção de entreter enquanto ensina. Habitualmente, é acompanhada por atividades físicas, o que desenvolve a capacidade psicomotora.1712 Atividade

1. Lê a lengalenga e completa os espaços em branco, seguindo a sequência.

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Fui à caixa das bolachas, tirei uma, tirei duas, tirei _________ , tirei quatro, tirei cinco, tirei _________ , tirei _________ , tirei oito, tirei nove, tirei _________ . Vai dizer à tua mãe que te lave os pés.

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2. Indica as duas palavras que rimam. _______________________________________

Capacidade psicomotora = coordenação entre a mente e o movimento.

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Atividades iniciais

O trava-língua popular português

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O trava-língua popular português é um género da literatura oral, caracterizando-se, no geral, por ser transmitido oralmente, de geração em geração, por um povo — o que o torna uma criação coletiva —, e, particularmente, por ser um texto curto com uma sequência de palavras difíceis de pronunciar. São os sons parecidos das suas palavras que dificultam a sua pronúncia fluida e sem atrapalhações. Normalmente curtos, aumentam de dificuldade com o correspondente aumento da sua extensão. Atividade

1. Lê o trava-língua depressa sem errares nem te atrapalhares. Um tigre, dois tigres, três tigres.

Um tigre triste, dois tigres tristes, três tigres tristes.

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2. Agora, lê o trava-língua mais completo depressa sem errares nem te atrapalhares.

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3. Sentes alguma diferença? A tua língua «trava» ou permanece sempre solta? _________________________________________________________________________

Com efeito, o desafio do trava-língua é ser dito depressa e corretamente, sem hesitações nem atrapalhações, o que dificilmente acontece, uma vez que é complicado por jogos de palavras que brincam com o seu som, a sua forma e o seu significado. É a prática e a superação deste desafio que permite praticar os sons da língua, principalmente os mais difíceis, corrigir dificuldades de pronúncia, melhorar a dicção e desenvolver a memorização. dezanove

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Atividades iniciais

Mensagem para o professor

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Era Uma Vez é um complemento lúdico-didático inovador e único na área, apresentando-se como o terceiro manual de oficinas de leitura recreativa e de escrita criativa para aprendentes de Português Língua Estrangeira. Na sua conceção, foram tidas em consideração as diretrizes do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas: Aprendizagem, Ensino, Avaliação (QECR), do Quadro de Referência para o Ensino Português no Estrangeiro (QuaREPE), do Plan Curricular del Instituto Cervantes, assim como as orientações para os exames da rede de Ensino Português no Estrangeiro (EPE), do Centro de Avaliação de Português Língua Estrangeira (CAPLE), dos Diplomas de Español como Lengua Extranjera (DELE) e do Young Learners English (YLE) da Universidade de Cambridge. Além disso, foi elaborado do ponto de vista de quem o receberá — o ensinante e o aprendente —, o que permitiu a antevisão de dificuldades e a sua consequente facilitação e resolução. Segue uma abordagem comunicativa e orientada para a ação, o que implica uma participação ativa tanto da parte do ensinante como da parte do aprendente, privilegiando os momentos de aprendizagem não formal e informal, a articulação com outros materiais e a centralidade do aprendente, que deve ser responsável pela sua aprendizagem, autónomo, pró-ativo e capaz de negociar com o ensinante as melhores formas de prosseguir a sua aprendizagem fora do contexto formal, promovendo, deste modo, a aprendizagem ao longo da vida. Na realização das oficinas de leitura recreativa e de escrita criativa, sugere-se que o ensinante: • Conjugue as oficinas com o manual do aluno, realizando uma oficina por mês, preferencialmente numa única aula, com a duração aproximada de uma a duas horas, sempre variável tendo em conta o número de aprendentes; Siga a ordem de aparecimento das atividades, as quais, geralmente, • compreendem atividades de ativação de conhecimentos prévios sobre o tema a tratar (pré-leitura), atividades de estimulação sobre o que se está a ler (leitura), atividades de compreensão geral do que se leu (pós-leitura) e atividades de escrita criativa; Favoreça a iniciativa e a autonomia do aprendente, dando-lhe a • responsabilidade de identificar claramente o que não compreendeu, de pesquisar o significado de palavras desconhecidas no dicionário, de vinte e sete

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antecipar os acontecimentos nos textos com um nível de independência crescente e de planificar, redigir e rever os seus próprios textos também com um nível de independência crescente; • Estimule no aprendente o desejo de ler outras obras e de escrever em língua portuguesa fora do contexto académico, transportando, desse modo, para o seu dia a dia as aprendizagens adquiridas nas aulas de Português Língua Estrangeira.

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vinte e oito


l l e t r a P te de Em p r re é-p vi u sã b o lica ç

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Oficinas a v i t a e r c e R de Leitura Criativa a t i r c s E e d e

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A1

Oficina 1 Oficina 2 Oficina 3 Oficina 4 Oficina 5 Oficina 6 Oficina 7 Oficina 8 Oficina 9 Oficina 10


Oficina 1 Nível A1

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Varre, varre, vassourinha, varre bem esta casinha. Se varreres bem, dou-te um vintém, se varreres mal, dou-te um real.

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1. Lê a lengalenga, primeiro em silêncio, depois em voz alta.

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Duração aproximada: 60 minutos

1.1. Relaciona o vocabulário com as definições. 1 2 3 4 5

vassourinha varre

casinha vintém real

a

unidade de moeda

b

utensílio de limpeza

c

habitação

d

moeda que vale 20 reais

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limpa com a vassoura

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1.2. Indica se as afirmações são verdadeiras ou falsas. 1.2.1. A vassoura tem de varrer quase bem.

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1.2.2. Se a vassoura varrer bem, recebe mais dinheiro.

1.2.3. Se a vassoura varrer mal, recebe menos dinheiro.

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trinta

V

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2. Lê o trava-língua em silêncio.

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Fui a Belas para ver as velas, mas em Belas velas não vi, porque as velas que para Belas iam eram as velas que iam daqui.

2.1. Responde às perguntas com uma ou duas palavras.

2.1.1. Onde? _______________________________________________________________ 2.1.2. O quê? ______________________________________________________________

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2.2. Memoriza e repete o trava-língua, devagar, com um amigo. Entre os dois, decidam quem lê cada metade.

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3. Lê as adivinhas com um amigo. Cada um lê uma. 1

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Uma senhora delicada com a saia rodadinha, ao dançar numa casa deixa-a muito asseadinha.

2

Qual é a coisa que é grande antes de ser pequena?

3.1. Atribui a solução à adivinha correspondente. a

Vassoura

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Saia

c

Vela trinta e um

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A dúvida é a sala de espera do conhecimento.

.

4. Lê o provérbio, primeiro em silêncio, depois em voz alta.

4.1. Relaciona os dois sentidos com as imagens. 1 2

Sentido figurado

ue

a

Sentido literal

M

aq

b

4.2. Identifica as palavras-chave do provérbio. ____________________________________

32

trinta e dois

____________________________________


Oficina 1

te de Em p r re é-p vi u sã b o lica ç

ão

.

5. Lê a anedota com dois amigos. Entre todos, decidam quem faz de narrador, quem faz de freguês e quem faz de barbeiro.

No barbeiro: O freguês: — Você conta histórias de pôr os cabelos em pé! O barbeiro: — É que me facilita o trabalho…

5.1. O que significa a expressão «pôr os cabelos em pé»? a) Arrepiar.

ue

b) Entreter.

aq

c) Aborrecer.

M

5.2. Qual não é a função de um barbeiro? a) Contar histórias.

© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS, LDA.

b) Cortar o cabelo. c) Fazer a barba.

trinta e três

33


te de Em p r re é-p vi u sã b o lica ç

ão

.

Era uma vez é um de três complementos lúdico-didáticos que, a partir de narrativas orais portuguesas, promovem atividades de leitura recreativa e de escrita criativa. Destina-se a um público jovem e adulto e tem como objetivo desenvolver as competências comunicativas em língua (linguísticas, sociolinguísticas e pragmáticas). Encontra-se organizado em três partes: a Parte I explora os conceitos de literatura oral, provérbio, anedota, adivinha, lengalenga e trava-língua populares portugueses; a Parte II compreende 20 oficinas de leitura recreativa e de escrita criativa com base em provérbios, anedotas, adivinhas, lengalengas e trava-línguas populares portugueses, repartidas pelos níveis A1 e A2 do QECR e do QuaREPE, com grau de dificuldade crescente, abrangendo, geralmente, atividades de pré-leitura, leitura, pós-leitura, planificação, textualização e revisão; a Parte III contém um dicionário de criação pessoal a ser preenchido com a definição em contexto da palavra adquirida, um sinónimo e um antónimo. Era uma vez segue uma abordagem comunicativa e orientada para ação, o que implica uma participação ativa quer do ensinante quer do aprendente, podendo ser utilizado tanto em contexto de aprendizagem formal, mediado pelo professor, como de aprendizagem não formal, autonomamente.

Da mesma autora:

QECR e QuaREPE Níveis B1/B2

QECR e QuaREPE Níveis C1/C2

ISBN 978-989-752-466-0

9 789897 524660

www.lidel.pt

M

aq

ue

As soluções das atividades encontram-se no final do livro.


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