Ler Português 2 - Histórias do Cais

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segundo o Novo Acordo Ortográfico

LER PORTUGUÊS 2 Direção:

Helena Marques Dias

QE CR NÍVE L A2



HISTÓRIAS DO CAIS GLÓRIA BASTOS

DIREÇÃO HELENA BÁRBARA MARQUES DIAS

LISBOA — PORTO e-mail: lidel@lidel.pt http://www.lidel.pt (Lidel on-line) (site seguro certificado pela Thawte)


DA MESMA COLEÇÃO:

Nível 1: — O MANEL – Helena Marques Dias — OS GAIATOS – Raquel Baltazar — UM DIA DIFERENTE – Helena Marques Dias

Nível 2: — FANTASIA, SONHO OU REALIDADE? – Anabela Roque — O CARRO – Helena Marques Dias — RETRATO DE AVÓ – Filipa Amendoeira

Nível 3: — LENDAS E FÁBULAS DE TIMOR-LESTE – Helena Marques Dias — O RAPAZ DA QUINTA VELHA – Helena Marques Dias — VIAGEM NA LINHA – Maria Maya EDIÇÃO E DISTRIBUIÇÃO

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HISTÓRIAS DO CAIS

Na taberna da esquina era costume os homens juntarem-se, e entre dois copos de vinho irem falando das andanças da vida. Por vezes vinham à baila* histórias do arco-da-velha*, sobretudo aquelas que eram contadas pela boca do velho Malaquias, antigo trabalhador marítimo. Sempre que aparecia por ali, o velho Malaquias não perdia uma oportunidade para deixar todos pendurados nos casos que contava, e onde era difícil distinguir o fim da invenção e o princípio da verdade. Homens e miúdos adoravam ouvi-lo, e conhecendo o gosto dele em vê-los ao seu redor, à espera do que se seguia, costumavam incitá-lo à conversa. «Vocês nem calculam como aquilo era!...» Dizia ele, então. E já todos sabiam que a seguir vinha história...

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NUNCA SE SABE...

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Em dias de calor os homens ficavam moles. Uns procuravam uma sombra ali pelo cais, de preferência de costas para o rio. Água viam eles todos os dias, e sempre que podiam procuravam esquecê-la, mesmo se por breves momentos. Outros iam até ao armazém, onde um velho frigorífico refrescava algumas cervejas. No verão era um constante vai e vem, e a porta do velho frigorífico passava o dia a chiar*, sempre a abrir e a fechar. Quando não havia nenhum barco para descarregar, ou o movimento era pouco, as horas lá se iam passando, embora lentamente. As conversas davam a volta aos temas do costume — futebol, fulano* de tal que está de baixa*, sicrano* que quer deixar a mulher para se juntar com uma miúda* qualquer, ... — e regressavam ao início: futebol, etc., etc., etc. Mas naquela madrugada tinha chegado um navio. De maneira que* o chefe, logo que entraram, deu ordens: — Hoje, nada de braços cruzados. Há muito trabalho para fazer, e quero isto rápido! O Arnaldo Magrinho, que com os seus quase cem quilos de peso suportava mal aqueles calores, apressou-se a querer saber: — Ó chefe, mas isso é trabalho pesado? Sabe, é que com este calor o pessoal* sempre precisa de ir descansando de vez em quando, para molhar a garganta. — Arnaldo, naqueles dias, era capaz de beber uma pipa* de água, com muita cerveja à mistura* ...


Sempre que o Manuel António via o chefe assim apressado, costumava comentar: «Muita pressa, pouco acerto*». E calmamente, de acordo com os seus modos habituais, perguntou: — Então chefe, conte-nos lá o que é que chegou hoje? O outro sorriu. Os homens já conheciam aquele sorriso. De certeza que dali não vinha nada de bom.

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— Bom, meus senhores. — Aquele «senhores» também já não era novidade. E com um tom sentencioso e irónico o chefe começou: — Como ultimamente se tem feito sentir um núcleo de baixas pressões sobre Portugal, de acordo com notícias do Boletim Meteorológico da nossa televisão, que certamente conhecem... Uma longa introdução a despropósito* como aquela costumava anunciar um dia de trabalho para esquecer. Depois de uma pequena pausa, para saborear melhor o impacto* das palavras que se seguiam, o chefe continuou: — ... Hoje temos uma numerosa coleção de casacos de pele para descarregar. Com o bom tempo que está, penso que isto será um trabalho rápido. — Casacos de pele!! — Gritaram os homens em coro*. — Num dia de calor como este! — Lamentou-se o Arnaldo Magrinho, adivinhando o sofrimento que iria passar. O Casimiro Baixinho tinha ficado pensativo: «casacos de pele com um calor assim! Quem é que havia de ter tal ideia! Mas eles já iam ver!» — Bom, vamos mas é ao trabalho! — anunciou definitivamente o chefe. Os homens lá foram em direção ao barco, lamentando a sua má sorte. — Se ainda fosse no inverno, até podia ser que se pudesse «pescar»* alguma coisa! — comentava o Zé Pintinhas, com a cara bexigosa já coberta de água. O dia passou-se, empapado em suor.


Não bastava aquele malvado calor insuportável, que nem sequer ao pé do rio se conseguia respirar! Ainda por cima se lembravam de enviar casacos de pele. E «dos caros, daqueles que só o pessoal da ‘massa’* compra», afirmara o Francisco Rebolo assim que os vira. Sim, que ele morava perto de um Centro Comercial, dos «chiques», como costumava dizer, e percebia do «artigo»*. Só o Casimiro Baixinho trabalhou sem fazer comentários. Mas ao fim do dia chamou de parte o Arnaldo Magrinho, seu companheiro de sempre. — Que tal se levássemos um destes casacos para casa. No inverno ia fazer um jeitão*! — propôs ao Arnaldo, seu parceiro de muitas «escapadelas»*. — Tu estás mas é maluco! Deve ser do calor! Como é que consegues passar ao pé do guarda com um casaco destes, em pleno verão? — disse o Arnaldo, olhando para o outro, desconfiado. — Deixa isso comigo. Ainda por cima hoje quem está no portão é o esquecido do velho Chico Faria. Esse nem vai dar por nada! — Casimiro estava convencido do que dizia. Arnaldo acabou por confiar, mais uma vez, na esperteza do colega. Então já não tinham conseguido levar coisas ainda mais difíceis! Ia com ele até à saída. Depois logo se veria, se desse para o torto*. De casaco enfiado, lá foram ambos andando. Arnaldo Magrinho parecia um paio a pingar gordura. Soprava com o calor e o nervoso que sentia. As bochechas quase rebentavam cada vez que expirava ruidosamente.

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HISTÓRIAS DO CAIS

Segundo o Novo Acordo Ortográfico

Glória Bastos

Quando o velho Malaquias, antigo trabalhador marítimo, chegava e começava a falar, todos se calavam. Já sabiam que certamente iria contar mais uma das suas incríveis Histórias do Cais… Esta coleção destina-se a um público jovem e adulto, estudante de língua portuguesa e procura facilitar um contacto mais direto com o texto escrito As histórias originais foram concebidas de modo a permitir não só uma leitura fácil e agradável, mas também uma estruturação em três níveis: Ler Português 1 A partir de um estudo de cerca de 60 horas Ler Português 2 A partir de um estudo de cerca de 100 horas Ler Português 3 A partir de um estudo de cerca de 150 horas

www.lidel.pt ISBN 978-972-757-774-3

9 789727 577743


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