LIFESAVING Scientific Vol4 N1

Page 1

Indice

1


FICHA TÉCNICA DIRETOR

EDITORES ASSOCIADOS

LIFESAVING TRENDS Inês Portela.

Bruno Santos TEMAS EM REVISÃO

EDITOR-CHEFE Daniel Nunez

COMISSÃO CIENTÍFICA

Ana Agostinho, André Villarreal, Catarina Jorge, Catarina Tavares, Guilherme Henriques, João Nuno Oliveira, Vasco Monteiro.

Ana Rita Clara, HOT TOPIC

Carlos Raposo,

Jorge Miguel Mimoso.

Cristina Granja, Eunice Capela,

RUBRICA PEDIÁTRICA

Gonçalo Castanho,

Cláudia Calado, Mónica Bota.

Maria Manuel Vieira, Margarida Rodrigues, Miguel Jacob,

2

CASO CLINICO ADULTO Noélia Alfonso, Rui Osório.

Miguel Varela, Nuno Mourão, Pilar Crugeiras,, Rui Ferreira de Almeida,

AUDIOVISUAL Pedro Lopes Silva.

DESIGN

Ana Raquel Ramalho, Marta Soares.

PARCERIAS

CASO CLINICO NEONATAL/TIP

Vera Santos.

Nuno Ribeiro, Luísa Gaspar. BREVES REFLEXÕES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA Inês Simões.

CARTAS AO EDITOR Catarina Jorge, Júlio Ricardo Soares.

VAMOS PÔR O ECG NOS EIXOS Hugo Costa, Teresa Mota.

Periodicidade: Trimestral Linguagem: Português

Indice

FOTOGRAFIA Joana Oliveira, Pedro Rodrigues Silva, Maria Luísa Melão, Solange Mega.

Luis Gonçalves (ABC).

Stéfanie Pereira,

2

ILUSTRAÇÕES

CASO CLINICO PEDIÁTRICO

Sérgio Menezes Pina,

ISSN: 2184-9811

Catarina Costa.

João Paiva.

Ana Silva Fernandes,

José A. Neutel,

IMAGEM EM URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

Propriedade: UNIDADE LOCAL DE SAÚDE DO ALGARVE, EPE Morada da Sede: Rua Leão Penedo. 8000-386 Faro Telefone: 289 891 100 | NIPC 510 745 997


EDITORIAL Caríssimos leitores, Viva o Carnaval! Apresentamos a mais recente edição da revista LIFESAVING Scientific, o número 1 do seu 4º volume e não estamos sozinhos, acompanhamos a 31ª edição da LIFESAVING – Revista de Emergência Médica! Fevereiro, o irmão mais pequenino do ano, o mês da Paixão, o mês do disfarce, da brincadeira, do Carnaval... Paixão... como a que demostram os nossos autores quando nos apresentam os seus trabalhos. Disfarce... branco e azul, de médico e enfermeiro da VMER. O mesmo Disfarce que vestimos diariamente para ajudar a quem nos pede auxílio. Este primeiro número do ano é Cardíaco... aproxima-se o São Valentim... coraçōes a palpitar...e se tens dor no peito, convidamo-lo a ler o artigo “SCA revisão e atualização – adaptada à prática na região do Algarve” no final do mesmo, poderás concluir se realmente tens um enfarte ou se apenas é Amor. Este primeiro número é Ilusão... ilusão como aquela que tinha o estudante de secundária que queria ser “vmerista”. Mas também este primeiro número é Família, é Respeito... no artigo “A presença da família na reanimação cardiopulmonar- a perceção de um enfermeiro” os autores referem a importância da família durante os últimos minutos de vida de um ser amado. Este número é Reflexão e Crítica... Reflexão que fazem os autores do artigo “Caraterização, clínico demográfica e casuística de 2 anos de atividade VMER Portimão”. Explicam porque, para o quê e para onde são ativados. Crítica, quando após análise da atividade e produção, nos questionamos se realmente fizemos quilómetros a mais nestes 2 anos! Será que as ativações são sempre necessárias? Lê e descobre ! Mas isto não é tudo, este primeiro número também é Tecnologia... Como “vestir” um relógio nos pode salvar a vida. É também aliviar a dor com uso de anestésicos no pré-hospitalar... Convidamo-vos a refugiarem-se num espaço calmo, tranquilo, um espaço onde consigas aprender, disfrutar com a experiência dos nossos autores e colaboradores. Caríssimos “Carpe Diem” e “Peace and Love”.

Daniel Núñez Editor Chefe LIFESAVING Scientific

Indice

3


4

4

Indice


Indice

5


6

6

Indice


ÍNDICE

08

ARTIGO DE REVISÃO I CARACTERIZAÇÃO CLÍNICO-DEMOGRÁFICA E CASUÍSTICA DE 2 ANOS DE ATIVIDADE DA VIATURA MÉDICA DE EMERGÊNCIA E REANIMAÇÃO DO BARLAVENTO ALGARVIO

14

HOT TOPIC ANESTESIA DE EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

26

ARTIGO DE REVISÃO II SÍNDROMES CORONÁRIAS AGUDAS – REVISÃO E ATUALIZAÇÃO – ADAPTADA À PRÁTICA NA REGIÃO ALGARVIA

36

ARTIGO DE REVISÃO III A PRESENÇA DA FAMÍLIA DURANTE A REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR – A PERCEÇÃO DOS ENFERMEIROS

50

REFLEXÕES BREVES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA VMER DO BARLAVENTO – A VISÃO DO FUTURO MÉDICO

54

LIFESAVING TRENDS - INOVAÇÕES EM EMERGÊNCIA SMARTWATCH, O DISPOSITIVO QUE ESTÁ UM “OLHAR” À FRENTE DA EQUIPA DE EMERGÊNCIA

60

VAMOS PÔR O ECG NOS EIXOS PONTE PARA UM ENFARTE…COMBINADO

64

IMAGEM EM URGÊNCIA E EMERGÊNCIA EDEMA CERVICAL E DOS MEMBROS SUPERIORES

Indice

7


8

8

Indice


ARTIGO DE REVISÃO I

ARTIGO DE REVISÃO I

CARACTERIZAÇÃO CLÍNICO-DEMOGRÁFICA E CASUÍSTICA DE 2 ANOS DE ATIVIDADE DA VIATURA MÉDICA DE EMERGÊNCIA E REANIMAÇÃO DO BARLAVENTO ALGARVIO Jorge Miguel Mimoso1,2, Daniel Garrido1, Luís Esteves Soares1, Maria Inês Simões3,4 Interno de Formação Específica em Medicina Interna, Unidade Local de Saúde do Algarve, EPE Médico da Viatura Médica de Emergência e Reanimação do Barlavento Algarvio 3 Assistente Hospitalar em Medicina Interna, Unidade Local de Saúde do Algarve, EPE 4 Coordenadora Médica da Viatura Médica de Emergência e Reanimação do Barlavento Algarvio 1 2

RESUMO

dependência influenciaram a ativação

understand demographic and clinical

A Viatura Médica de Emergência e

da VMER. O score NEWS sugere

characteristics of assisted victims.

Reanimação (VMER) é um meio

discrepância entre a razão de

There were 2421 recorded

pré-hospitalar destinado a

ativação e a necessidade real da

occurrences, involving 2313 victims,

intervenções médicas avançadas no

mesma. A alocação da VMER em

55.9% male, with an average age of

local do evento. Este estudo analisou

Portimão reflete e é justificada pela

63.7 ± 22.9 years. Arterial

retrospetivamente as intervenções da

densidade populacional do município

hypertension was the most prevalent

VMER no Barlavento Algarvio, entre

sede da mesma. As paragens

cardiovascular risk factor (29.4%), and

janeiro de 2021 e dezembro de 2022,

cardio-respiratórias foram o motivo

comorbidities like depressive

visando compreender as

mais comum de acionamento, mas a

syndrome (5.66%) and coronary

características demográficas e

ativação da via verde PCR foi limitada.

disease (5.32%) were observed. 8.04%

clínicas das vítimas assistidas. Foram

É vital conhecer a casuística e

of victims were totally dependent. The

registadas 2421 ocorrências,

compreender as características da

initial National Early Warning Score

abrangendo 2313 vítimas, com 55.9%

população abrangida. Só assim será

(NEWS) was 2.2, ending at 1.84,

de homens e idade média de 63.7 ±

possível levar a cabo ações que

showing an average variation of -0.36.

22.9 anos. A hipertensão arterial foi o

promovam a melhoria contínua dos

Portimão had the highest occurrence

fator de risco cardiovascular mais

cuidados prestados, gerir os

rate (50.1%), mostly at domiciles

prevalente (29.4%). Como

recursos disponíveis e

(59.9%). Assisted victims often had

comorbilidades destacam-se o

consequentemente melhorar

cardiovascular risk factors and

síndrome depressivo (5.66%) e a

abordagem aos doentes emergentes.

psychiatric history. Advanced age,

doença coronária (5.32%), e 8.04% das vítimas eram dependentes totais.

Palavras-Chave: VMER; casuística; clínico-demográfico; barlavento algarvio

O score NEWS médio inicial foi de 2.2,

comorbidities, and dependency influenced VMER activation. Despite a predominant NEWS score, there was a

e no final, 1.84, indicando uma

ABSTRACT

discrepancy between activation

variação média de -0.36. A maioria

The Medical Emergency and

reason and actual need. VMER

das ocorrências (50.1%) ocorreu em

Resuscitation Vehicle (VMER) is a

allocation in Portimão aligns with

Portimão, e a principal localização foi

dedicated pre-hospital resource for

population density. Cardiopulmonary

o domicílio (59.9%). Fatores de risco

advanced medical interventions at

arrests were common, but the cardiac

cardiovascular e antecedentes

event scenes. This retrospective

arrest pathway activation was limited.

psiquiátricos foram predominantes

analysis covers VMER interventions in

Understanding population

nas vítimas assistidas. A idade

Barlavento Algarve from January

characteristics is crucial for VMER

avançada, comorbilidades e

2021 to December 2022, aiming to

care enhancement. This analysis

Indice

9


optimizes resource allocation and effectiveness in approaching emergent patients. Acquainting oneself with the population's characteristics and casuistry where resources operate is imperative. This knowledge enables actions promoting continuous improvement in care delivery and resource management, ultimately impacting the effectiveness of approaching emergent patients. Keywords: Medical Emergency and Resuscitation Vehicle; Casuistry; Clinical-Demographic; Barlavento, Algarve

INTRODUÇÃO A assistência médica pré-hospitalar, que abrange desde a resposta inicial

10

à vítima até a sua estabilização primária e transporte, desempenha um papel fundamental na

Tabela 1.Características clínicas dos doentes assistidos pela VMER Barlavento no período estudado

minimização de morbidade e

crítica do tratamento médico que se

extraídos e analisados a partir dos

mortalidade em situações de

inicia no próprio local do evento.

registos clínicos pré-hospitalares

emergência. Um componente

No cenário específico do Barlavento

inseridos numa base de dados e a

essencial desse sistema é a Viatura

Algarvio, uma região pitoresca e de

partir dos dados publicados na

Médica de Emergência e Reanimação

grande relevância geográfica no sul de

plataforma PowerBi.

(VMER), um meio de intervenção

Portugal (3), a VMER encontra-se

Este trabalho foi previamente

pré-hospitalar meticulosamente

estrategicamente alocada no seio do

apresentado sob forma de poster no

equipado e tripulado por uma equipa

Centro Hospitalar Universitário do

Congresso Internacional de

médica experiente, composta por um

Algarve - Unidade de Portimão. Esta

Emergência’23 da Ocean Medical que

médico e um enfermeiro. Este veículo

base serve como ponto central para

decorreu nos dias 25 e 26 de maio de

é concebido para proporcionar uma

uma vasta área política e geográfica,

2023 no Centro de Congressos do

resposta ágil e competente no local

assegurando que a resposta médica

Taguspark tendo obtido a

onde se encontra o paciente,

de emergência alcance os pacientes

classificação de primeiro lugar.

especialmente em cenários de natureza

naqueles preciosos momentos iniciais.

2

médica ou traumatológica complexa.1,2

RESULTADOS

A VMER não é apenas um meio de

MATERIAIS/MÉTODOS

Durante o período de estudo foram

transporte, mas um ambiente móvel

Com o objetivo de analisar a

contabilizadas 2421 ocorrências das

de cuidados intensivos, onde são

casuística e as características

quais 108 foram desativações

disponibilizados recursos de Suporte

demográficas e clínicas das vítimas

perfazendo um total de 2313 vítimas

Avançado de Vida (SAV) de forma a

socorridas pela VMER do Barlavento,

assistidas. Destes 55.9% (n=1295)

garantir a estabilidade do paciente até

desenhou-se um estudo retrospetivo

foram homens. A média de idades

que este possa ser transferido para

que incluiu todas as vítimas

cifrou-se nos 63.7 ± 22.9 anos. A

uma unidade hospitalar apropriada.

assistidas no período compreendido

distribuição das idades por faixas

Equipada com tecnologia e fármacos

entre 1 de Janeiro de 2021 e 31 de

etárias apresenta-se unimodal com

avançados, a VMER é uma extensão

Dezembro de 2022. Os dados foram

pico evidente na faixa etária 61-80.

10

Indice


ARTIGO DE REVISÃO I

(National Early Warning Score) médio no início da ocorrência foi de 2,2 (md=0) e no final da ocorrência foi de 1,84 (md=0) com uma variação média de -0,36 entre o início e o final da ocorrência. (Gráfico 1) Do total de ocorrências, 50.1% (n=1159) foram no concelho de Portimão, 20.36% (n=471) em Lagoa, 12.93% (n=299) em Silves e 6.01% (n=139) no concelho de Lagos. (Figura 1) Gráfico 1. Variação, em pontos, na escala NEWS, por número de pacientes em escala logaritmica

O local onde se registaram mais ocorrências foi o domicílio (n=1386, 59.9 %), seguida da via pública (n=410, 17.73%) e dos lares/cuidados continuados (n=239, 10.33%). O tipo de ativação mais frequente foi a paragem cardio-respiratória (n=484, 20.9%) seguida da dor torácica (n=464, 20.1%) e da alteração do estado de consciência (n=387, 16.7%). Do total de ocorrências, 553 foram paragens cardio-respiratórias, das quais 5.61% foram transportados ao hospital após recuperação de circulação espontânea. Das vias verdes em funcionamento na região do Algarve, foi ativada 46 vezes a via verde coronária e 19 vezes a via verde AVC. DISCUSSÃO Este estudo fornece uma caracterização clínica e demográfica relevante, englobando uma ampla amostra de vítimas dentro do período temporal estudado. Releva-se a preponderância dos fatores de risco

Tabela 2. Características demográficas dos doentes assistidos pela VMER Barlavento no período estudado

cardiovascular como antecedentes de

Dos fatores de risco cardiovascular a

comorbilidade mais frequente foi o

uma grande fatia das vítimas

hipertensão arterial foi o mais

síndrome depressivo (n=131, 5.66%),

atendidas, assim como o papel dos

frequente (n=680, 29.4%), seguido da

seguida da doença coronária (n=123,

antecedentes psiquiátricos nas

Diabetes Mellitus (n=271, 11.72%), do

5.32%), da demência (n=113, 4.89%) e

vítimas que necessitam de socorro

tabagismo (n=189, 8.17%), da

da neoplasia ativa (n=111, 4.8%). Do

pela VMER, sendo que este último

dislipidemia (n=176, 7,61%) e do

total das vítimas 186 (8.04%) eram

pode ter motivado um número

alcoolismo (n=161, 6.96%). A

dependentes totais. O score NEWS

considerável de ocorrências. A idade

Indice

11


12

12

Indice


ARTIGO DE REVISÃO I

Figura 1. Ocorrências, por concelho, por 1000 habitantes

avançada das vítimas, as suas

cardio-respiratória não houve

BIBLIOGRAFIA

comorbilidades e o elevado nível de

indicação para iniciar manobras de

1.

dependência, parecem condicionar

suporte avançado de vida, quer pelo

um aumento do número de ativações

status funcional prévio das vítimas,

da VMER do Barlavento, por eventual

quer pelo tempo efetivo em paragem

inexistência de outros mecanismos

cardio-respiratória.

Jorge F, Gonçalves F, Rocha A. Estágio em Emergência Médica: a Realidade Pré-Hospitalar. 2021;

2.

INEM - Instituto Nacional de Emergência Médica [Internet]. [cited 2023 Feb 22]. Available from: https://www.inem.pt/

3.

de suporte a vítimas em fim de vida.

Algarve - Censos 2021 (resultados preliminares) | CCDR Algarve [Internet]. [cited 2023 Feb 27].

Por outro lado, a baixa média do

CONCLUSÃO

Available from: https://www.ccdr-alg.pt/site/info/

score NEWS pode corroborar a noção

Este estudo procurou oferecer uma

algarve-censos-2021-resultados-preliminares

empírica da discrepância entre o

perspetiva detalhada e aprofundada

motivo de ativação da VMER e a real

das intervenções realizadas pela

necessidade da mesma. A maior

VMER no Barlavento Algarvio ao

densidade populacional do concelho

longo de um período significativo,

de Portimão reflete-se na maior taxa

com o intuito de discernir as

de ativação da VMER neste concelho,

características demográficas e

justificando a sua alocação. A baixa

clínicas das vítimas assistidas.

taxa de ativação para o concelho de

Compreender esses dados não

Lagos, apesar da sua elevada

apenas enriquece a nossa

densidade populacional, pode estar

compreensão do perfil

justificada pela presença de outro

epidemiológico da população servida

meio diferenciado (ambulância de

pela VMER, mas também informa

suporte imediato de vida) neste

estratégias futuras para otimizar a

município. De notar que a paragem

prestação de cuidados em situações

cardio-respiratória foi o motivo de

emergenciais. Este esforço é

ativação mais frequente, no entanto

ancorado na convicção de que uma

apenas foi acionada a via verde PCR

análise rigorosa e cientificamente

para uma pequena porção destas.

fundamentada é crucial para avançar

Daqui poder-se-á aferir que em grande

na qualidade e eficácia dos serviços

parte das vítimas em paragem

médicos pré-hospitalares

4.

Registo Nacional de PCR [Internet]. [cited 2023 Feb 2]. Available from: https://extranet.inem.pt/pcr/

EDITOR

GUILHERME HENRIQUES Médico VMER/CODU e Heli INEM

REVISÃO

COMISSÃO CIENTÍFICA

Indice

13


14

14

Indice


HOT TOPIC

HOT TOPIC

ANESTESIA DE EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA PREHOSPITAL EMERGENCY ANAESTHESIA: STATE-OF- THE-ART LITERATURE REVIEW Sara Batina1, Verónica Eckardt1, Ronald Silva2 1 2

Interna de Formação Específica em Anestesiologia, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE, Portugal Assistente Hospitalar em Anestesiologia, Operationskliniken Västmanlands sjukhuset, Suécia

RESUMO

revisão da literatura foi possível

search generated 270 results, 27 of

Introdução: A anestesia de emergência

concluir que apesar da importância

which were selected for integral

pré-hospitalar (Prehospital Emergency

da PHEA estar bem estabelecida,

reading. The selected articles provided

Anaesthesia - PHEA) consiste na

existe a necessidade de investigação

an extensive review of the literature

indução anestésica e abordagem

adicional sobre o tema. Com base

published in the last 10 years on

avançada da via aérea em ambiente

em dados de ensaios mais robustos

performing PHEA. It was possible to

pré-hospitalar. É uma técnica essencial

realizados recentemente foi ainda

establish the importance of the

na abordagem do doente crítico

criado um guia orientador para a

technique and define the different

apesar do risco elevado e grande

realização de PHEA.

strategies for its implementation.

complexidade. Esta revisão tem como objetivos realizar uma revisão integra-

Palavras-Chave: Anestesia, Emergência, Pré-hospitalar, Via aérea

tiva da literatura sobre PHEA e

Conclusion: Although the importance of PHEA is well established, there is a need for additional research on the

estabelecer linhas de orientação para

ABSTRACT

topic. Despite the limitations of

a sua abordagem prática.

Background: Prehospital Emergency

carrying out studies in a pre-hospital

Métodos: Seleção de artigos com

Anaesthesia (PHEA) consists of

setting, data from recent and more

recurso à metodologia PRISMA e à

induction of anaesthesia and

robust trials allow us to propose a me-

base de dados PUBMED. Foram

advanced airway management in a

thodology for PHEA.

incluídos artigos publicados na

pre-hospital setting. It is an essential

plataforma entre 2012 e 2022.

technique in the initial approach to

Resultados e Discussão: A pesqui-

the critical care patient. However, it is

sa inicial originou 270 resultados,

a very complex technique and poses

tendo sido selecionados 27 para

a high associated risk. This review

leitura integral. A leitura dos artigos

aims to carry out an integrative

selecionados permitiu analisar a

review of the literature on PHEA and

evidência científica e as práticas

propose a methodology for its

internacionais atuais dos últimos

practical approach.

10 anos sobre a realização de

Methods: Article selection using the

PHEA. Foi assim possível estabele-

PRISMA methodology and the

cer a importância da técnica e

PUBMED database. Only articles

definir diferentes estratégias para

published on the platform between

sua realização.

2012 and 2022 were included.

Conclusão: A partir de uma extensa

Results and Discussion: The initial

Keywords: Anaesthesia, Emergency, Pre-hospital, Airway

INTRODUÇÃO A anestesia de emergência pré-hospitalar (Prehospital Emergency Anaesthesia - PHEA) consiste na indução anestésica e abordagem avançada da via aérea em ambiente pré-hospitalar.1 É uma técnica de elevada complexidade e com um risco associado significativo sendo essencial garantir, não só a proficiência técnica, como também uma sólida base teórica. Apesar do risco, a realização de PHEA é frequentemente necessária na

Indice

15


abordagem pré-hospitalar do doente crítico que necessita de proteção da via aérea ou de suporte ventilatório.2 Contudo, a PHEA e a realização de técnicas avançadas da via aérea no pré-hospitalar mantêm-se um tema controverso, com dúvidas relativas ao risco-benefício das abordagens mais interventivas.3,4 Apesar da controvérsia da PHEA, é conhecido que a abordagem incorreta e tardia da via aérea no pré-hospitalar é um dos principais fatores preveníveis de morte e morbilidade do doente crítico.5,6 As preocupações com a segurança da realização da PHEA levaram à

16

realização de diversas revisões e à

ses). As palavras-chave pesquisadas

RESULTADOS E DISCUSSÃO

criação de normas e orientações em

foram “Anaesthesia” AND “Emergency

A pesquisa realizada originou 27

diferentes países. O modelo de

Care” AND “Pre-hospital”. Foram

artigos para leitura integral. A quase

resposta pré-hospitalar e a constitui-

incluídos artigos publicados entre

totalidade dos estudos selecionados

ção das equipas variam amplamen-

2012 e 2022 e a investigação foi

foram realizados por entidades

te entre países, pelo que alguns

restrita a artigos escritos na língua

europeias, nomeadamente, institui-

resultados de estudos sobre a PHEA

inglesa. A pesquisa inicial originou

ções do Reino Unido e Escandinavas

podem não ser ilustrativos da

270 resultados. Numa primeira

e ainda uma colaboração entre

realidade portuguesa. Em Portugal,

seleção foram excluídos 221 artigos

instituições do Reino Unido e dos

sendo a equipa da Viatura Médica

por serem irrelevantes, uma vez que

Estados Unidos da América.

de Emergência e Reanimação

não foram desenvolvidos em ambien-

Apesar de alguma heterogeneidade

constituída por um médico e um

te pré-hospitalar ou não focavam a

da temática principal entre os

enfermeiro, é esperada a realização

abordagem avançada da via aérea e 7

estudos selecionados, todos apre-

de técnicas avançadas da via aérea

artigos por incluírem a população

sentavam contribuições importantes

quando a situação clínica do doente

pediátrica. Dos 42 artigos seleciona-

para a revisão. Três artigos diziam

assim o exige.

dos para leitura do resumo, foram

respeito ao desenvolvimento de

Esta revisão tem como objetivos

excluídos 9 pelo ambiente pré-hospi-

guidelines para a realização de

realizar uma revisão integrativa da

talar não ser o contexto principal dos

PHEA. Outro dos assuntos frequente-

literatura sobre a PHEA e estabelecer

estudos e 9 por não serem relevantes

mente estudados foram fármacos

linhas de orientação para a sua

para a revisão. Foram selecionados

utilizados para PHEA, dispositivos

abordagem prática.

24 artigos para leitura integral, tendo

para abordagem da via aérea e

sido todos incluídos na revisão.

constituição das equipas com

MÉTODOS

Adicionalmente foram incluídos 2

competência para realizar PHEA. A

Para a seleção dos artigos a incluir na

artigos que os autores consideraram

abordagem de um doente com uma

revisão foi utilizada a base de dados

relevantes sobre a utilização de

via aérea difícil (VAD) previsível e não

PUBMED e utilizada a metodologia

Ketofol e um Tutorial da World

previsível não foi um assunto

PRISMA (Preferred Reporting Items for

Federation of Societies of Anaesthe-

extensivamente abordado nesta

Systematic Reviews and Meta-Analy-

siologists sobre a PHEA.

revisão, pelo que os autores remetem

16

Indice


HOT TOPIC

para a leitura das recomendações

partir do primeiro pedido de ajuda.2

a colmatar falhas registadas na

para a abordagem de VAD da Difficult

Ainda que realização de PHEA se

assistência pré-hospitalar no país.11

Airway Society de 2015 e/ou da

associe a um aumento de tempo

Destaca-se então a importância da

American Society of Anesthesiolo-

despendido no local, este acréscimo

PHEA ser realizada por equipas

gists de 2022 para uma melhor

não é significativo e o tempo no local

treinadas e com competência e

integração de conhecimento sobre

não se traduz necessariamente em

proficiência na técnica.2,6-8,11,12

este tema.

aumento na mortalidade. Para além

Outros fatores associados a

A partir da leitura dos artigos selecio-

disso, o conceito “scoop and run” não

outcomes desfavoráveis da PHEA

nados foi possível realizar uma vasta

garante que o doente chegue

foram a falha na monitorização dos

revisão da literatura mais recente

atempadamente ao hospital nem que

doentes, a utilização incorreta de

sobre a técnica de PHEA.

a abordagem da via aérea seja

equipamentos e a seleção inadequa-

O primeiro aspeto a ter em conta é a

realizada nos primeiros minutos

da de fármacos.11

compreensão da necessidade e a

após a chegada do doente à sala de

O sucesso de qualquer técnica

importância de realizar anestesia de

reanimação, o que se pode traduzir

relaciona-se com a correta seleção

emergência pré-hospitalar. Apesar

num atraso inaceitável de cuidados.8

dos doentes. Neste seguimento, em

das óbvias limitações da abordagem

No entanto, um estudo retrospetivo

2019, o European HEMS and Air

dos doentes no pré-hospitalar, é

sobre a realização de PHEA em

Ambulance Committee (EHAC)

essencial garantir que o nível de

doentes de trauma hipotensos e

Medical Working Group estabeleceu

cuidados proporcionados aos

acordados, sugere que nesta

um conjunto de indicações para a

doentes neste contexto não é inferior

população pode ser mais seguro

realização de PHEA: hipóxia presente

aos prestados em ambiente hospita-

atrasar a indução da anestesia até à

ou iminente, hipercapnia aguda

lar.7 A abordagem adequada da via

chegada ao hospital.9

presente ou iminente, perda ou risco

aérea permite a manutenção da

Uma vez estabelecida a importância

de perda de patência da via aérea,

oxigenação e reduz o risco de

da realização de anestesia de

agitação grave associada a trauma-

complicações como a aspiração do

emergência em ambiente pré-hospi-

tismo cranioencefálico (TCE) e

conteúdo gástrico.5

talar, é necessário compreender as

redução do estado de consciência.7

A maioria dos estudos sobre PHEA

potenciais consequências negativas

A PHEA implica a abordagem

foi realizado em doentes de trauma.

da mesma. As principais complica-

avançada da via aérea com recurso à

Lockey et al., num estudo prospetivo

ções da realização de PHEA incluem

indução de sequência rápida (ISR). A

observacional, demonstrou que o

instabilidade hemodinâmica, hipóxia,

ISR é uma técnica largamente

compromisso da via aérea é um

traumatismo da via aérea, regurgita-

utilizada na prática anestésica

achado frequente nas vítimas de

ção e aspiração do conteúdo

hospitalar e foi desenvolvida com o

trauma grave e que, quando realizada

gástrico.8,10 Não desvalorizando os

objetivo de rapidamente proporcionar

por um médico, a taxa de sucesso de

riscos associados à PHEA, a revisão

as condições adequadas para a

intubação traqueal no local era de

da literatura conclui que algumas das

intubação traqueal em doentes com

99%.6 Segundo as recomendações

questões levantadas quanto ao

risco de aspiração do conteúdo

de 2016 do National Institute for

risco-benefício da realização de

gástrico.13 Em ambiente pré-hospita-

Health and Care Excellence do Reino

PHEA relacionam-se com o facto de

lar, os doentes apresentam risco

Unido para a avaliação e abordagem

muitas equipas internacionais serem

potencialmente elevado de aspiração

inicial do doente com trauma grave,

formadas por profissionais não médi-

pelo jejum inadequado, desconheci-

na impossibilidade de manutenção

cos, nomeadamente, paramédicos.

mento da hora da última refeição ou

de uma via aérea patente ou de

De facto, no Reino Unido houve a

pelo atraso do esvaziamento

ventilação adequada, deve ser

necessidade de criação de uma

gástrico associado ao trauma. A

garantida uma via aérea definitiva no

subespecialidade médica em

técnica de ISR originalmente descrita

período máximo de 45 minutos a

Emergência Pré-Hospitalar de forma

inclui a realização de pré-oxigenação

Indice

17


18

18

Indice


HOT TOPIC

seguida da administração de um

2. Material e monitorização

técnica. A pré-oxigenação atrasa o

agente de indutor e de succinilcolina

A disponibilidade de material

início da dessaturação durante o

para relaxamento muscular, após os

adequado para a realização de PHEA

período de apneia uma vez que

quais é realizada intubação traqueal

é essencial para a segurança da

provoca o wash out do nitrogénio

rápida sem ventilação prévia com

técnica, sendo indispensável garantir

alveolar (desnitrogenação) e aumenta

máscara facial. Prevê também o

a sua existência e bom funcionamen-

tanto o conteúdo de oxigénio nos

posicionamento do doente com a

to. Apesar das limitações inerentes

pulmões como a tensão de oxigénio

cabeceira elevada e a aplicação da

ao meio pré-hospitalar, o material

no sangue e nos tecidos. A correta

manobra de Sellick (pressão cricói-

deve cumprir os padrões da anestesia

realização de pré-oxigenação em

de). No entanto, a técnica sofreu

hospitalar. O material para a realiza-

ambiente pré-hospitalar pode ser

várias modificações ao longo do

ção de PHEA deve incluir: fonte de

desafiante, tanto pela situação clínica

tempo, não existindo, contudo, um

oxigénio, material de intubação,

do doente, como pela disponibilidade

modelo universalmente aceite para o

aspirador, ventilador manual, ventila-

de material.16 Neste sentido, a

ambiente pré-hospitalar.8

dor mecânico, fármacos para indução

literatura mais recente tem defendido

e manutenção de anestesia, fármacos

que, para além de um período inicial

1. Planeamento e preparação

de reanimação, material para monito-

de pré-oxigenação deve ser mantida

Assim como acontece em ambiente

rização, equipamento para acessos

oxigenação apneica durante a

hospitalar, a realização de PHEA deve

vasculares e fonte de luz.1,7,14

PHEA.7,10,16 As guidelines de 2017 para

passar pelo planeamento da técnica e

A correta monitorização do doente é

a Anestesia Pré-Hospitalar da

pela antecipação das suas possíveis

outro dos elementos fulcrais para a

Association of Anaesthetists of Great

complicações. Sendo os cenários de

realização da PHEA. Todos os

Britain and Ireland (AAGBI) sugerem a

emergência pré-hospitalar muitas

doentes submetidos a PHEA necessi-

realização de pré-oxigenação em

vezes inesperados e com necessida-

tam ser monitorizados com oximetria

todos os doentes submetidos a

de de uma atuação rápida e em

de pulso, pressão arterial não

PHEA. A pré-oxigenação deve ser

condições desfavoráveis, é importan-

invasiva, eletrocardiografia e medição,

realizada durante, pelo menos, 3

te o desenvolvimento de checklists

preferencialmente quantitativa e com

minutos com recurso a máscara

práticas e simples de forma a

curva contínua, da concentração final

facial com reservatório nos doentes

minimizar os riscos da PHEA. A

expiratória do CO2 (EtCO2). A

em ventilação espontânea. Nos

utilização das chamadas checklists

temperatura deve também ser

doentes hipoxémicos ou com

“challenge and response” demonstrou

avaliada. Os sinais vitais devem ser

ventilação ineficaz pode ser necessá-

uma redução dos eventos críticos de

monitorizados, no mínimo, a cada 3

ria a realização de pré-oxigenação

segurança.11 A preparação da PHEA

minutos. Todos os equipamentos têm

com ventilação manual por máscara

deve começar antes da chegada ao

de apresentar alarmes audiovisuais

facial. Nestes casos, devem realizar-

local, sendo defendida na literatura a

adaptados para o ambiente pré-hospi-

-se insuflações suaves, não ultrapas-

criação de kits pré-preparados com o

talar. A utilização de ventilação

sando a pressão de ventilação de 25

material e os fármacos necessários

mecânica implica a necessidade de

cmH20 de forma a reduzir o risco de

para a realização da técnica em

alarmes de falência de fornecimento

insuflação gástrica. Durante o período

segurança.11,14 Swinton et al. demos-

de gás no aparelho.7,14

de pré-oxigenação o doente deve ser

trou que um sistema de pré-prepara-

posicionado com a cabeceira elevada

ção de fármacos e organização do

3. Pré-oxigenação

ou em proclive, de forma a otimizar a

equipamento para PHEA resulta numa

A pré-oxigenação consiste na

ventilação e reduzir o risco de

redução do tempo para realização do

administração de oxigénio em

aspiração. A oxigenação apneica

procedimento, redução de erros

elevada concentração antes da

pode ser realizada com recurso a

durante a técnica e redução da carga

realização de IRS, permitindo reduzir

cânula nasal nos doentes com via

cognitiva dos profissionais.15

o risco de hipoxemia associado à

aérea patente.14

Indice

19


4. Fármacos

na sedação hospitalar, pelo que os

elevação do débito cardíaco, mas

A seleção dos fármacos para a

profissionais apresentam normal-

que na presença de hipovolemia, se

realização de PHEA mantém-se um

mente uma elevada experiência na

pode tornar evidente. Mesmo

dos temas mais controversos na

sua manipulação. Para além disso,

apresentando algumas limitações, a

literatura. A correta realização de

nas doses adequadas, permite a

cetamina é atualmente um dos

PHEA implica realização de analgesia,

obtenção de condições ótimas para

fármacos indutores mais úteis para a

sedação e relaxamento muscular.8

a manipulação da via aérea. No

realização de PHEA.1,8,11,19,20

Uma das principais complicações da

entanto, a grande instabilidade

A combinação de propofol e cetami-

ISR é a instabilidade hemodinâmica

hemodinâmica associada ao

na, também conhecida como ketofol,

associada à administração rápida de

propofol limita a sua utilização em

tem sido defendida para a indução

fármacos indutores hipotensores,

muitos dos cenários clínicos

anestésica do doente crítico. Apesar

com particular risco no doente crítico

pré-hospitalares.8,19

da literatura sobre a sua utilização

instável e no doente com TCE. Por

A cetamina é um fármaco indutor

em contexto pré-hospitalar ser muito

outro lado, a ausência de uma

que tem apresentado uma populari-

limitada, podem ser retiradas

profundidade anestésica adequada

dade crescente para a PHEA.

conclusões a partir de estudos

para a intubação, não só dificulta a

Apresenta características muito

realizados em ambiente hospitalar. A

realização da laringoscopia como

atrativas para20 a abordagem do

combinação do efeito dos dois

pode condicionar taquicardia e picos

doente no pré-hospitalar, nomeada-

fármacos associa-se a um perfil

hipertensivos deletérios.13,17

mente, depressão respiratória

hemodinâmico mais favorável, uma

Relativamente aos indutores, no

mínima e ausência de efeito vasodi-

vez que contrabalançam parcialmen-

passado, o etomidato era o fármaco

latador, permitindo uma maior estabi-

te os efeitos adversos um do outro,

mais frequentemente utilizado na ISR

lidade hemodinâmica. Para além

permitindo um equilíbrio entre

do doente crítico por apresentar

disso, é o único fármaco indutor que

hipnose e estabilidade hemodinâmi-

características hemodinâmicas

tem propriedades analgésicas,

ca. A estimulação do sistema

significativamente mais favoráveis

permitindo possivelmente controlar a

simpático pela cetamina presumivel-

que outros indutores. Contudo, foi

hipertensão induzida pela dor

mente anula a vasodilatação

demonstrado um aumento da

durante a ISR. Preocupações com o

causada pelo propofol. O ketofol

mortalidade no doente crítico

aumento prejudicial da PIC no doente

demonstrou uma maior estabilidade

associado à supressão da suprarre-

com TCE associada à cetamina não

hemodinâmica na indução anestési-

nal provocada pelo fármaco, com

foram confirmadas nos últimos

ca quando comparada à utilização

guidelines internacionais a desacon-

estudos, tendo sido antes salientada

isolada de propofol. Para além disso,

selharem a utilização de etomidato

a importância de manter a normo-

esta utilização conjunta permite uma

na abordagem pré-hospitalar do

capnia e de evitar a hipotensão nesta

redução de dose de cada fármaco, o

doente de trauma.18 No entanto, em

população. Na verdade, a literatura

que pode ser vantajoso em determi-

2019, Gäßler realizou um estudo

parece suportar as vantagens

nadas situações, como por exemplo,

retrospetivo multicêntrico com 1697

neuroprotetoras da cetamina. Como

no doente com choque hemorrágico.

doentes que concluiu que a adminis-

desvantagem, o aumento de consu-

A associação de cetamina ao

tração de uma dose única de

mo de oxigénio pelo miocárdio

propofol pode também obviar a

etomidato para PHEA em doentes de

associado à cetamina pode condicio-

necessidade de administração de

trauma não afetou a mortalidade

nar a utilização do fármaco em

opioide para reduzir a resposta à

nesta população. A utilização de

algumas populações. A cetamina

intubação traqueal. O rácio ideal

etomidato no doente crítico continua,

pode ter também um efeito inotrópi-

entre cetamina e propofol não foi

porém, um tema polémico.18

co negativo que é mascarado pela

ainda estabelecido tendo sido

O propofol é um dos fármacos mais

estimulação simpática no doente

descritas diferentes proporções dos

utilizados na indução anestésica e

normovolémico com consequente

fármacos nos estudos realizados.21,22

20

Indice


HOT TOPIC

Num pequeno estudo randomizado

instáveis, o esquema 1:1:1 (fentanil 1

5. Intubação traqueal

controlado, M. Elsherbiny, concluiu

mcg/kg, cetamina 1 mg/kg e

Muitos dos doentes com necessida-

que a utilização de cetamina/

rocurónio 1 mg/kg).13 No passado, a

de de PHEA apresentam vias aéreas

propofol no rácio 1:1 para realização

utilização de opioide em ambiente

potencialmente difíceis, não só por

de ISR em doentes submetidos a

pré-hospitalar não era defendida por

fatores anatómicos, mas especial-

laparotomia de emergência resultou

poder agravar a resposta hipotensora

mente pelas circunstâncias clínicas

em menos hipotensão que o rácio

e por aumentar a complexidade do

e por limitações técnicas inerentes

1:3, com condições de intubação

procedimento. Porém, ao atenuar a

ao ambiente pré-hospitalar.14,24

comparáveis.22

resposta ao estímulo da laringosco-

Na PHEA é de especial importância

A realização de ISR conta não só

pia, a utilização de opioides na PHEA

garantir a intubação traqueal na

com o agente hipnótico, mas

apresenta particular importância nos

primeira tentativa. Um dos aspetos

também com o relaxamento muscu-

doentes suscetíveis às complicações

mais importantes para o sucesso da

lar do doente. Tradicionalmente, era

da resposta hipertensiva, nomeada-

técnica é o correto posicionamento

utilizada a succinilcolina pelo seu

mente, os doentes com TCE ou com

do doente pelo que, apesar de

início e término de ação rápidos.

lesões vasculares.17

potenciais dificuldades técnicas, o

Atualmente, cada vez mais institui-

Especificamente para a ISR, em

posicionamento do doente deve ser

ções utilizam o rocurónio como

doentes após o retorno da circulação

otimizado de forma a garantir a

relaxante muscular na ISR visto que,

espontânea (ROSC), M. Miller propôs

segurança e o sucesso da ISR.

na dose adequada, apresenta um

um protocolo com midazolam,

Desta forma, assim como na

início de ação comparável ao da

fentanil e rocurónio com o objetivo

realização de pré-oxigenação, o

succinilcolina. Tendo em conta que

de atenuar as repercussões hemodi-

doente deve ser posicionado com a

na PHEA, o objetivo da ISR é manter

nâmicas dos fármacos no período

cabeceira elevada ou em proclive.

o doente intubado e ventilado até à

pós-ROSC, que é geralmente marca-

Caso o cenário o permita, o doente

chegada ao hospital, a duração de

do por uma grande instabilidade

deve ser colocado na maca da

ação do rocurónio consideravelmen-

cardiovascular.23

ambulância com a cabeceira na altu-

te superior à succinilcolina é, na

Nenhuma das três guidelines para a

ra correta para o operador e com

verdade, benéfica. O rocurónio tem

PHEA incluídas na revisão definiu

acesso adequado ao doente.6-8,14

também a vantagem de apresentar

fármacos ou um esquema de

Nos doentes com imobilização

um reversor (i.e., sugamadex),

fármacos específico para a realização

cervical, deve ser realizada imobili-

apesar de nem sempre estar disponí-

de ISR. É sugerido que os fármacos

zação manual e retirado o colar

vel em ambiente pré-hospitalar.1,11,17

indutores, analgésicos e relaxantes

antes da realização da indução e da

Em 2015 R. M. Lyon, sugeriu que a

musculares sejam selecionados de

laringoscopia.14

modificação da ISR tradicional

acordo com as características do

A manobra de sellick consiste na

melhorava a segurança e a eficácia

doente, a situação clínica e a expe-

aplicação de pressão manual ao nível

da PHEA nos doentes de trauma. O

riência do profissional.5,7,14

de cartilagem cricoide com o objetivo

autor demonstrou que um protocolo

Para além da seleção de fármacos, é

de reduzir o risco de aspiração. A sua

de ISR com a utilização de fentanil,

importante ter em conta que a

utilização fazia parte da descrição

cetamina e rocurónio proporcionou

realização de PHEA num doente de

original da ISR.14 No entanto, a

condições adequadas para a

trauma hipovolémico sem uma

evidência para a utilização de pressão

intubação com uma resposta

adequada ressuscitação com fluidos

cricoide é baixa e pode dificultar a

hemodinâmica mais favorável. Foi

se associa a um aumento de

realização da laringoscopia. Apesar

utilizado o esquema de doses 3:2:1

mortalidade. Por este motivo, nestes

de continuar a ser defendida por

(fentanil 3 mcg/kg, cetamina 2 mg/

doentes é essencial a realização de

algumas instituições, quando

kg e rocurónio 1 mg/kg) e, em

fluidoterapia previamente à adminis-

utilizada, deve existir um baixo limiar

doentes hemodinamicamente

tração dos fármacos anestésicos.1

para suspender a pressão cricoide na

Indice

21


22

22

Indice


HOT TOPIC

presença de dificuldades na visualiza-

visualização glótica. Contudo, esta

duração. No entanto, este método

ção da glote.7,8,14

limitação pode ser ultrapassada

está dependente da disponibilidade

O sucesso da intubação traqueal à

com a utilização de um condutor

de material e pode tornar as

primeira tentativa está dependente

rígido adequado.26

transferências mais complexas.

da técnica utilizada. As guidelines

Independentemente da técnica

Alternativamente, podem ser

internacionais para a PHEA conti-

utilizada, a literatura é clara em

administrados bólus frequentes de

nuam a defender a utilização da

defender a utilização por rotina de

fármacos sedativos numa dose

laringoscopia direta clássica como

adjuvantes, nomeadamente de um

baixa de forma a minimizar o risco

estratégia inicial ou são omissas

bougie.7,14 Reitera-se a importância

de repercussão hemodinâmica. A

quanto a esta indicação.5,7,14 No

de, no caso da videolaringoscopia,

utilização de relaxamento muscular

entanto, vários estudos têm de-

utilizar um adjuvante adequado ao

associa-se a risco de awareness na

monstrado a superioridade da

equipamento.26 Na existência de

ausência de sedação adequada.

utilização de videolaringoscopia

dificuldades na intubação traqueal,

Deve ser assim garantida a correta

comparativamente à laringoscopia

devem ser realizadas no máximo 3

sedação do doente antes da

clássica para aumentar a taxa de

tentativas, com esforços para

realização do transporte.14

sucesso e à passagem do tubo na

melhoria das condições de intubação

primeira tentativa no ambiente

entre cada tentativa. Se o doente

CONCLUSÃO

pré-hospitalar, principalmente em

ficar hipoxémico durante as tentati-

A revisão da literatura sobre PHEA

doentes com via aérea difícil.5,7,24,26,27

vas de intubação, deve ser realizada

publicada nos últimos 10 anos

Adicionalmente, a utilização de

ventilação manual com máscara

permitiu analisar a evidência

laringoscopia indireta reduz o risco

facial ou dispositivo supraglótico.14 A

científica e as práticas internacionais

de transmissão infeciosa durante a

correta colocação do tubo traqueal

atuais. A necessidade e a importân-

técnica e limita a mobilização

deve ser confirmada com recuso à

cia da realização de PHEA está bem

cervical nos doentes de trauma.26

auscultação pulmonar e à curva de

estabelecida nos estudos mais

Para a utilização de videolaringos-

capnografia.7,14

recentes. Existe, contudo, necessida-

copia na PHEA, a equipa deve estar

Se a intubação não for conseguida,

de de investigação futura para o

familiarizada com o equipamento,

deve-se proceder à colocação de um

esclarecimento de algumas ques-

visto existirem diversos modelos

dispositivo supraglótico de 2ª geração.

tões, nomeadamente, qual o esque-

com diferentes características e

No cenário de “não intubo, não ventilo”

ma de fármacos mais adequado para

nem todos adaptados à realidade

deve ser realizada cricotirotomia como

a realização de PHEA. Apesar das

pré-hospitalar.7,24 O principal

técnica de resgate.5,14

limitações na realização de estudos

elemento contra a utilização de

em contexto pré-hospitalar, a partir

videolaringoscopia é o facto da

6. Cuidados Pós-Intubação

dos dados de ensaios mais robustos

presença de sangue, secreções ou

Após a intubação traqueal devem

realizados recentemente, foi possível

conteúdo gástrico na via aérea

ser iniciados cuidados pós intuba-

estabelecer um guia orientador para

poder prejudicar a visualização

ção que incluem a ventilação

a realização de PHEA

através da câmara.7,24,25 Também

adequada do doente e a manuten-

foram relatadas dificuldades da

ção da sedação. Assim como

visualização do ecrã em situações

acontece com a seleção dos

de elevada exposição solar.25 Outro

fármacos para a indução, a sedação

fator encontrado em alguns estudos

deve ser realizada de acordo com as

que contribuiu para a não superiori-

características clínicas do doente. É

dade do videolaringoscópio foi a

aconselhável a administração de

dificuldade na condução do tubo

fármacos em perfusão, principal-

para a traqueia, apesar de uma boa

mente em transportes de longa

Indice

23


TAKE HOME MESSAGES 1.

A utilização sistemática de checklists “challenge and response” permite a redução dos eventos críticos de segurança.

2.

Há evidência crescente do benefício da utilização de oxigenação apneica durante a PHEA que, adicionalmente à correta pré-oxigenação, permite aumentar o tempo até dessaturação.

3.

A escolha do esquema de fármacos mais adequado deve ter em conta as características do doente, a patologia associada, o cenário clínico e a experiência do profissional.

24

4.

Em determinados contextos clínicos, a videolaringoscopia poderá ser considerada como a estratégia inicial de intubação.

5.

Equipas treinadas, competentes e proficientes na realização de PHEA são essenciais para garantir o sucesso da técnica.

BIBLIOGRAFIA 1.

Hazel Luck, e. a. (2019). Prehospital Emergency Anaesthesia: Considerations, Pitfalls, and Controversies. World Federation Of Societies of Anaesthesiologists - ATOTW 398.

2.

Turner J, et al. Pre-hospital emergency anaesthesia in the United Kingdom: an observational cohort study. British Journal of Anaesthesia. 2020 May;124(5):579–84

3.

Árnason B, et al. Pre‐hospital emergency anaesthesia in trauma patients treated by anaesthesiologist and nurse anaesthetist staffed critical care teams. Acta Anaesthesiologica Scandinavica. 2021 Aug 3;65(9):1329–36.

4.

Crewdson K,et al. Airway management in pre-hospital critical care: a review of the evidence for a “top five” research priority. Scandinavian Journal of Trauma, Resuscitation and Emergency

Tabela 1. Orientações para a realização de PHEA

24

Indice

Medicine. 2018 Oct 20;26(89).


HOT TOPIC 5.

Rehn M, et al. Scandinavian SSAI clinical practice

survey). Scandinavian Journal of Trauma,

guideline on pre-hospital airway management.

Resuscitation and Emergency Medicine. 2020 Oct

videolaryngoscopy introduction into prehospital

Acta Anaesthesiologica Scandinavica. 2016 Jun

12;28(1).

emergency medicine practice: a quality

3;60(7):852–64 6.

7.

8.

Perkins ZB, Gunning M, Crilly J, Lockey D, O’Brien

improvement project. Emergency Medicine

B. The haemodynamic response to pre-hospital

Journal. 2021 Feb 15;38(7):549–55.

necessary in prehospital trauma patients. British

RSI in injured patients. Injury. 2013

Journal of Anaesthesia. 2015 Apr;114(4):657–62.

May;44(5):618–23.

observational study of a protocol for use of the

Gäßler M, Ruppert M, Lefering R, Bouillon B,

C-MAC videolaryngoscope with a Frova introducer

Lossius HM. Best practice advice on pre-hospital

Wafaisade A. Pre-hospital emergent intubation in

in pre-hospital rapid sequence intubation.

emergency anaesthesia & advanced airway

trauma patients: the influence of etomidate on

Anaesthesia. 2018 Jan 8;73(3):348–55.

management. Scandinavian Journal of Trauma,

mortality, morbidity and healthcare resource

Resuscitation and Emergency Medicine. 2019 Jan

utilization. Scandinavian Journal of Trauma,

21;27(1).

Resuscitation and Emergency Medicine. 2019 Jun

Lockey DJ, Crewdson K, Lossius HM. Pre-hospital

7;27(1).

anaesthesia: the same but different. British

9.

11.

19.

Ottosen C, Bennett Gyldenkærne K, Garoussian J, et al. Ketamine for rapid sequence intubation in

Pre-hospital emergency anaesthesia in awake

adult trauma patients: A retrospective

hypotensive trauma patients: beneficial or

observational study. Acta Anaesthesiologica

detrimental? Acta Anaesthesiologica Scandinavi-

Scandinavica. 2020 Jul 6;64(9):1234–42. 20.

prehospital emergency anaesthesia in patients

D. Apnoeic oxygenation for emergency

with return of spontaneous circulation following

anaesthesia of pre-hospital trauma patients.

medical cardiac arrest: a retrospective

Scandinavian Journal of Trauma, Resuscitation

comparison of ketamine-based and midazolam-

and Emergency Medicine. 2021 Jan 7;29(1).

-based induction protocols. Emergency Medicine Journal. 2021 Sep 28. 21.

Koff MD. Ketamine/propofol admixture (ketofol) is

Saviluoto A, Jäntti H, Kirves H, Setälä P, Nurmi JO.

associated with improved hemodynamics as an

Association between case volume and mortality in

induction agent. Journal of Trauma and Acute

pre-hospital anaesthesia management: a

13.

15.

Elsherbiny M, Hasanin A, Kasem S, Abou-zeid MY, Mostafa M, Fouad A, et al. Comparison of different

Lyon RM, Perkins ZB, Chatterjee D, Lockey DJ,

ratios of propofol-ketamine admixture in

Russell MQ. Significant modification of traditional

rapid-sequence induction of anesthesia for

rapid sequence induction improves safety and

emergency laparotomy: a randomized controlled

effectiveness of pre-hospital trauma anaesthesia.

trial. BMC Anesthesiology. 2023 Oct 3;23(1). 23.

changes to a midazolam-fentanyl-rocuronium

J, Laird C, et al. AAGBI: Safer pre-hospital

protocol for pre-hospital anaesthesia following

anaesthesia 2017. Anaesthesia. 2017 Jan

return of spontaneous circulation after cardiac

3;72(3):379–90.

arrest. Anaesthesia. 2017 Feb 15;72(5):585–91.

Swinton P, Corfield AR, Moultrie C, Percival D,

24.

Rhode MG, Vandborg MP, Bladt V, Rognås L. Video

Proctor J, Sinclair N, et al. Impact of drug and

laryngoscopy in pre-hospital critical care – a

equipment preparation on pre-hospital emergency

quality improvement study. Scandinavian Journal

Anaesthesia (PHEA) procedural time, error rate

of Trauma, Resuscitation and Emergency

and cognitive load. Scandinavian Journal of

Medicine. 2016 Jun 13;24(1) 25.

EDITOR

Miller M, Groombridge CJ, Lyon R. Haemodynamic

Lockey DJ, Crewdson K, Davies G, Jenkins B, Klein

Trauma, Resuscitation and Emergency Medicine.

16.

Care Surgery. 2012 Jul;73(1):94–101 22.

of Anaesthesia. 2022 Feb;128(2):e135–42.

Critical Care. 2015 Apr 1;19(1). 14.

Smischney NJ, Beach ML, Loftus RW, Dodds TM,

2012 Dec 4;68:40–8.

retrospective observational cohort. British Journal

Ångerman S, Kirves H, Nurmi J. A before-and-after

King C, et al. Cardiovascular complications of

Crewdson K, Heywoth A, Rehn M, Sadek S, Lockey

Booth A, Steel A, Klein J. Anaesthesia and

27.

Baekgaard JS, Eskesen TG, Moo Lee J, Ikast

Crewdson K, Rehn M, Brohi K, Lockey DJ.

pre-hospital emergency medicine. Anaesthesia.

12.

18.

Journal of Anaesthesia. 2014 Aug;113(2):211–9.

ca. 2018 Jan 7;62(4):504–14. 10.

Steel A, Haldane C, Cody D. Impact of

Lockey DJ, et al. Advanced airway management is

Crewdson K, Lockey D, Voelckel W, Temesvari P,

17.

26.

JORGE MIGUEL MIMOSO Médico VMER do Barlavento Algarvio

REVISÃO

Trimmel H, Kreutziger J, Fitzka R, Szüts S, Derdak

2018 Sep 21;26(1).

C, Koch E, et al. Use of the GlideScope Ranger

Boulton AJ, Mashru A, Lyon R. Oxygenation

Video Laryngoscope for Emergency Intubation in

strategies prior to and during prehospital emergen-

the Prehospital Setting. Critical Care Medicine.

cy anaesthesia in UK HEMS practice (PREOXY

2016 Jul;44(7):e470–6.

COMISSÃO CIENTÍFICA

Indice

25


26

26

Indice


ARTIGO DE REVISÃO II

ARTIGO DE REVISÃO II

SÍNDROMES CORONÁRIAS AGUDAS – REVISÃO E ATUALIZAÇÃO – ADAPTADA À PRÁTICA NA REGIÃO ALGARVIA ACUTE CORONARY SYNDROMES – REVISED AND ACTUALIZED – TAILORED TO THE ALGARVE REGION Sara Duarte1, Dina Bento2 1 2

Médica Interna de Formação Específica em Medicina Interna, Serviço de Medicina Interna, Unidade Local de Saúde do Algarve, Unidade de Faro Médica Assistente Hospitalar de Cardiologia, Serviço de Cardiologia, Unidade Local de Saúde do Algarve, Unidade de Faro

RESUMO

ABSTRACT

INTRODUÇÃO

A cardiopatia isquémica é a causa

Ischemic heart disease is the most

A cardiopatia isquémica é a causa

isolada mais comum de morte em

common isolated cause of death

isolada mais comum de morte em

todo o Mundo.

worldwide.

todo o Mundo. Atualmente é respon-

Dadas algumas alterações recentes, é

Given some recent changes, it is of

sável por quase 1.8 milhões de

de maior importância rever e atualizar

greater importance to review and

mortes na Europa.1

o conhecimento nesta área.

update knowledge in this area. Acute

A síndrome coronária aguda (SCA) é

A síndrome coronária aguda (SCA) é

coronary syndrome (ACS) is a generic

um termo genérico para condições

um termo genérico para condições

term for conditions caused by a

causadas por bloqueio súbito do

causadas por bloqueio súbito do

sudden blockage of blood supply to

fornecimento de sangue ao cora-

fornecimento de sangue ao coração. O

the heart. The term acute myocardial

ção.2 Variam de uma fase potencial-

termo, enfarte agudo do miocárdio,

infarction implies acute myocardial

mente reversível de angina instável

implica lesão miocárdica aguda com

injury with clinical evidence of myocar-

(AI) a morte celular irreversível

evidência clínica de isquemia miocár-

dial ischemia with elevation of the ST

devido a enfarte do miocárdio.2 O

dica. Além da importância do "tempo é

segment. In addition to the importance

termo enfarte agudo do miocárdio

miocárdio", temos também de

of "time is myocardium," we also need

(EAM) implica lesão miocárdica

reconhecer os padrões eletrocardio-

to recognize electrocardiographic

aguda (elevação das troponinas)

gráficos com critérios de gravidade.

patterns with severity criteria.

com evidência clínica de isquemia

É necessária a rápida avaliação e

The rapid assessment and manage-

miocárdica.2 Designa-se por EAM

abordagem destes doentes, o eletro-

ment of these patients are necessary;

com supradesnivelamento do

cardiograma (ECG) deve ser realizado

the electrocardiogram (EKG) should be

segmento ST (EAMcST), o doente

nos primeiros 10 minutos de contato

performed within the first 10 minutes

com desconforto torácico ou outros

com o doente. Assim que identificadas

of contact with the patient. As soon as

sintomas isquémicos, com elevação

alterações sugestivas de enfarte

changes suggestive of acute myocar-

do segmento ST em, pelo menos,

agudo do miocárdio com elevação do

dial infarction are identified, immediate

duas derivações eletrocardiográfi-

segmento ST, realiza-se contato

contact is made with the angioplasty

cas contíguas.2

imediato com o Centro de angioplastia

center, and the patient should undergo

O tempo desde o início dos sintomas

e o doente deve realizar angioplastia

primary angioplasty within 120

até à angioplastia primária é definido

primária em até 120 minutos.

minutes.

como o tempo total de isquemia. Este é um dos fatores de maior impacto

Palavras-Chave: Síndrome coronária aguda, ECG, critérios de gravidade, angioplastia

Keywords: Acute coronary syndrome, EKG, severity criteria, angioplasty.

prognóstico dos doentes com EAMcST, pelo que o objetivo primor-

Indice

27


dial das equipas do pré-hospitalar é a

decision making for acute ST-eleva-

uma desregulação entre a necessidade

minimização deste tempo.

tion myocardial infarction”,4 “Atypical

e o fornecimento de oxigénio.

No Algarve, a Unidade de Faro

Electrocardiographic Presentations in

Os sintomas podem incluir combina-

pertencente à Unidade Local de

Need of Primary Percutaneous

ções de desconforto/dor torácica/

Saúde do Algarve, é a única com

Coronary Intervention”5 e “2023 ESC

membros superiores/mandibular/

capacidade para realizar angioplastia

Guidelines for the management of

epigástrica, durante o exercício ou em

primária, e está integrada na rede de

acute coronary syndromes: Developed

repouso, ou por equivalentes anginosos

referenciação, a Via Verde Coronária

by the task force on the management

como dispneia, fadiga ou síncope.

(VVC), que garante que todos os

of acute coronary syndromes of the

Estes sintomas não são específicos e

doentes com enfarte agudo do

European Society of Cardiology

podem estar associados a outras

miocárdio com supradesnivelamento

(ESC)”. 6

condições (patologia pulmonar, gastrointestinal, neurológica ou

de ST encaminhados pelo Instituto Nacional de Emergência Médica

DISCUSSÃO

músculo-esquelética).

(INEM) ou admitidos nos Centros de

1. Definição de enfarte do miocárdio

Por vezes, a apresentação clínica pode

Saúde, Serviços de Urgência Básica

O enfarte do miocárdio é definido,

ser menos típica e surgirem sintomas

(SUB) do Algarve ou nas Unidades de

patologicamente, como a morte de

como palpitações ou paragem

Portimão ou Lagos, sejam transferi-

miócitos devida 28a isquemia prolonga-

cardiorrespiratória.

dos imediatamente para realizar

da, processo que vai desde a diminui-

Designa-se por EAMcST o doente

angioplastia primária.3 Para tal, estas

ção do glicogénio celular até à

com desconforto torácico ou outros

unidades dispõem de equipamento

necrose dos miócitos.2 Este evento

sintomas isquémicos, com elevação

que permite a realização e transmis-

pode prolongar-se por algumas horas,

do segmento ST em duas derivações

são via e-mail de eletrocardiogramas

podendo este tempo ser maior, se

contíguas do ECG ou bloqueio de

para o Centro de angioplastia em

presença de fluxo colateral ou

ramo de novo com padrões de

Faro. No pré-hospitalar, esta referen-

oclusão intermitente.2

repolarização isquémica.2

ciação passa pela transmissão do

Para que se designe por enfarte

Além das considerações de EAMcST,

eletrocardiograma para o Centro de

agudo do miocárdio, tal implica lesão

EAM sem elevação do segmento ST

Operações de Doentes Urgentes

miocárdica aguda (elevação da

(EAMsST) e angina instável como

(CODU). A VVC é então ativada após o

troponina) com evidência clínica de

conceito de síndrome coronária

contato telefónico com o Cardiologis-

isquemia miocárdica aguda e pelo

aguda, o enfarte do miocárdio, é

ta de urgência.

menos um dos seguintes:2

classificado posteriormente em vários

Esta revisão tem como objetivo

Sintomas de isquemia miocárdica;

tipos, de acordo com diferenças

salientar a importância da abordagem

Alterações eletrocardiográficas de

patológicas, clínicas, prognósticas e

novo;

da abordagem terapêutica.2

inicial da SCA, da sua referenciação atempada e do papel do profissional

Desenvolvimento de ondas Q patológicas de novo;

3. Classificação Universal de Enfarte

Evidência imagiológica de

do Miocárdio2

inviabilidade miocárdica ou

3.1. Enfarte do miocárdio tipo 1:

MÉTODOS

alterações da motilidade de uma

EAM secundário a doença coronária

Para esta revisão usámos como

parede consistente com etiologia

ateroembólica e precipitado por

métodos a leitura e interpretação de 4

isquémica;

disrupção da placa aterosclerótica

Identificação de trombo coronário

(rutura ou erosão) é designado por

por angiografia ou autópsia.

EAM tipo 1.2 A rutura de placa pode

de saúde no pré-hospitalar e, ainda, o do cardiologista.

documentos, “Fourth universal definition of myocardial infarction

ser complicada por trombose intralu-

(2018),2 “Appropriate Cardiac Cath Lab activation: Optimizing electrocar-

2. Apresentação clínica

minal e por hemorragia intra-placa por

diogram interpretation and clinical

A isquemia miocárdica inicia-se com

disrupção da superfície desta.2

28

Indice


ARTIGO DE REVISÃO II

3.2. Enfarte do miocárdio tipo 2:

3.4. Enfarte do miocárdio tipo 4 e 5:

Complicações cardiovasculares

Deve-se a um desequilíbrio entre

O EAM tipo 4 está relacionado com a

ocorrem em 50% dos casos de Síndro-

suplementação de oxigénio e a sua

angioplastia e subdivide-se em 4a,

me de Takotsubo e a sua mortalidade é

necessidade. Por definição, a disrup-

quando ocorre elevação acima de

similar à do EAMcST (4-5% dos doentes

ção de placa aterosclerótica não é

cinco vezes o valor basal da troponina

admitidos) devido a choque cardiogéni-

uma característica neste tipo de enfar-

com alterações eletrocardiográficas

co, rutura ventricular ou arritmias

te.2 A agudização da doença renal

sugestivas de isquemia e/ou evidên-

malignas.2

crónica, sépsis, acidente vascular

cia imagiológica; 4b, quando ocorre

O supradesnivelamento do segmento

cerebral ou hemorragia subaracnoi-

trombose do stent, caracterizada na

de ST em várias derivações é frequente

deia, tromboembolismo pulmonar ou

angiografia ou na autópsia, além de

(44%).2 O infradesnivelamento do

insuficiência respiratória grave, taqui-

manifestação de isquemia e elevação

segmento ST ocorre em <10% dos doen-

ou bradiarritmias, hipertensão severa,

dos marcadores de necrose; e 4c,

tes após 12-24h, inversão das ondas T e

hipotensão ou choque, anemia severa,

relacionado à reestenose de stent.2

prolongamento do intervalo QT.2

doentes em situação crítica, são

Quanto ao tipo EAM tipo 5, está

A elevação da troponina é transitória e

etiologias que podem desencadear

associado a fatores que podem

modesta. Portanto, suspeitamos quando

lesão miocárdica e consequentemente

causar lesão miocárdica durante a

as manifestações clínicas e as altera-

um enfarte tipo 2.2

cirurgia de revascularização do

ções no ECG são desproporcionais ao

Os limites isquémicos diferem de

miocárdio. Muitos deles devidos à

grau de elevação da troponina. Mesmo

indivíduo para indivíduo e dependem

extensão da lesão traumática direta

assim, esta distinção entre EAM e TTS é

da magnitude do evento precipitante,

ao miocárdio. Aumentos nos valores

um desafio. Outra característica que

presença (ou não) de comorbilidades

de troponina são expectáveis após

poderá ajudar é o prolongamento do

não-cardíacas, extensão da doença

todos os procedimentos de revascula-

intervalo QTc >500ms na fase aguda.2

arterial coronária (DAC) e alterações

rização, pelo que, um valor de

estruturais cardíacas.2

troponina superior a 10 vezes o basal

4.2. Pericardite aguda:

O aparecimento de supradesnivelamen-

48 horas após o procedimento é

É muitas vezes um fator confundidor

to do segmento ST nestes doentes, varia

considerado como marcador de

de EAM.

entre 3 a 24%.2

necrose, acompanhado por evidência

Apresenta-se com supradesnivela-

Nestes doentes é recomendada uma

eletrocardiográfica, angiográfica ou

mento do segmento ST difuso

avaliação clínica criteriosa com objetivo

de imagem de nova isquemia ou nova

(excepto aVR), por lesão inflamatória

da resolução do fator precipitante da

perda de viabilidade miocárdica.2

do miocárdio adjacente ao pericárdio,

lesão miocárdica em detrimento da realização prioritária de coronariografia.2

infradesnivelamento do segmento PR 4. Diagnóstico diferencial

por lesão inflamatória das aurículas e

O diagnóstico diferencial do EAM

taquicardia sinusal.2

3.3. Enfarte do miocárdio tipo 3:

contempla várias entidades, como são

Define-se pela morte de etiologia

exemplo a pericardite, a miocardite e a

4.3. Lesão ou enfarte do miocárdio

cardíaca no doente com sintomas

síndrome de Takotsubo.

associado a Insuficiência cardíaca:

sugestivos de isquemia miocárdica

No contexto de insuficiência cardíaca

acompanhados por alterações de

4.1. Síndrome de Takotsubo (TTS):

(IC) agudizada, ECG e troponina

novo no ECG ou fibrilhação ventricular

Pode mimetizar o EAM e é encontrada

devem ser solicitados a fim de excluir

(FV), mas que sucumbem antes de se

em 1-2% dos doentes que se apresen-

EAM como fator precipitante, espe-

conseguir a determinação de eleva-

tam com suspeita de EAMcST.2 A

cialmente se acompanhada por

ção de biomarcadores cardíacos, ou

Síndrome de Takotsubo pode ser

desconforto torácico ou outros

quando o enfarte do miocárdio é

precipitada por stress emocional ou

sintomas sugestivos. Lembra-se que

diagnosticado na autópsia.2

físico. Mais frequente (>90%) em

a dispneia da IC agudizada é um

mulheres na pós-menopausa.2

equivalente isquémico2.

Indice

29


30

30

Indice


ARTIGO DE REVISÃO II

5. Deteção eletrocardiográfica:

do segmento ST:

6. Equivalentes de Enfarte Agudo

A execução de eletrocardiograma de

• Elevação do ponto J de, pelo menos,

do Miocárdio com elevação do

12 derivações no pré-hospitalar é de

1mm (quadrado pequeno) em, pelo

segmento ST:

extrema importância tornando

menos, duas derivações contíguas

Cerca de 10-25% dos doentes que não

possível a entrega do doente num

(exceto V2-V3).

apresentam critérios eletrocardiográ-

centro com capacidade para interven-

• Nas derivações V2-V3 aplicam-se os

ficos de diagnóstico para EAMcST

ção coronária percutânea emergente

seguintes critérios:

requerem realização de coronariogra-

até 120 minutos após o diagnóstico

∆ Homens:

fia emergente. Neste grupo incluem-

de EAMcST.

• ≥ 40 anos, elevação do ponto J

-se os doentes com padrões eletro-

Se o primeiro eletrocardiograma for

≥2mm

cardiográficos com critérios de

inocente, é necessária a sua seriação

• < 40 anos, elevação do ponto J

gravidade “equivalentes a EAMcST”

a cada 15-30 minutos, pelas altera-

≥2,5mm

que são descritos seguidamente:4,5

ções dinâmicas que poderão estabe-

∆ Mulheres:

lecer o diagnóstico.2

independentemente da idade,

• Bloqueio de ramo esquerdo e:

Alterações profundas do segmento de

elevação do ponto J ≥1,5mm

• Critérios de Sgarbossa9 (necessidade de contabilizar pelo menos 3 pontos):

ST ou inversões das ondas T, em

várias derivações, estão associadas a

Supradesnivelamento do segmento ST ≥1mm em pelo

maior grau de isquemia miocárdica e

menos uma derivação e

a pior prognóstico.2 Por exemplo,

concordância com o complexo QRS (i.e. necessidade do QRS

infradesnivelamento do segmento ST > 1 mm em pelo menos 6 derivações com supradesnivelamento do

ser predominantemente Figura 12. Legenda: 1- Ponto de referência. 2 – Ponto J

segmento ST nas derivações aVR e/

Infradesnivelamento do segmento ST

ou V1 e compromisso hemodinâmico,

isolado ≥ 0.5mm em V1-V3 pode

é sugestivo de doença coronária

indicar EAM de localização posterior

aterosclerótica multivaso ou doença

(oclusão da artéria coronária circun-

do tronco comum da coronária

flexa), pelo que devemos usar as

esquerda. A presença de ondas Q

derivações suplementares (V7, V8 e

patológicas associa-se a pior

V9), estabelecendo-se o diagnóstico

prognóstico.

se supradesnivelamento do segmento

2

[5 pontos]; •

Infradesnivelamento do segmento ST ≥1mm em V1,

Disritmias, bloqueios de ramo,

ST ≥0.5mm.2

alterações da condução auriculoven-

Supradesnivelamento do segmento

tricular, diminuição da amplitude das

ST em aVR e/ou V1 pode indicar

ondas R podem estar presentes no

enfarte ventricular direito e nesse

contexto de EAM.

contexto devemos utilizar as deriva-

2

positivo nessa derivação)

V2 ou V3 [3 pontos]; •

Supradesnivelamento do segmento ST > 5mm com QRS discordante (2 pontos):

Um sinal precoce que poderá

ções direitas (V3R, V4R) para estabe-

preceder o supradesnivelamento do

lecer o diagnóstico, considerando-se

segmento ST são as ondas T

supradesnivelamento do segmento

• EAM de localização posterior isolado:

hiperagudas e simétricas em pelo

ST se ≥0.5mm ou ≥1mm em homens

• Infradesnivelamento do

menos 2 derivações contíguas.

com menos de 30 anos de idade.

segmento ST ≥ 1mm em V1-V3;

O aparecimento de ondas Q de

Relembra-se que as alterações nas

• Supradesnivelamento do

novo indica necrose miocárdica,

derivações direitas podem ser

segmento ST V7-V9 ≥ 0.5mm;

que ocorre minutos a horas após a

transitórias e a sua ausência não

lesão miocárdica.

exclui enfarte do ventrículo direito.

2

2

2

Figura 22. Bloqueio de ramo esquerdo e Critérios de Sgarbossa

Este padrão é sugestivo de doença 2

no território da artéria circunflexa.4

Considera-se supradesnivelamento

Indice

31


Figura 32. Eletrocardiograma compatível com o diagnóstico de EAMcST de localização posterior

Figura 5. Padrão De Winter

• Doença coronária aterosclerótica

4 32 riografia emergente.

sendo necessária a seriação de ECGs.

multivaso ou do tronco comum da

Caracteriza-se por:

Uma potencial causa reversível de

• Ondas T hiperagudas e

coronária esquerda (figura 4):

ondas T apiculadas é a hipercaliémia.4

• Infradesnivelamento do

simétricas

segmento ST ≥ 1mm em pelo

Infradesnivelamento do segmen-

• Síndrome de Wellens (figura 6):

menos 6 derivações;

to ST >1mm nas derivações V1-6.

• Padrão A (25%): Onda T

• Com/sem presença de

bifásica de V2-V3;

Supradesnivelamento do

• Ondas T hiperagudas:

• Padrão B (75%): Onda T

segmento ST em aVR e/ou V1;

simétrica e profunda de V2-V3;

• Instabilidade hemodinâmica.

Ondas T largas e simétricas, desproporcionais à voltagem dos

Apesar de não se tratar de um padrão

complexos QRS.

eletrocardiográfico equivalente a

• Padrão De Winter (figura 5):

Este padrão pode ocorrer minutos

EAMcST é importante o seu reconheci-

Este padrão representa oclusão do

após a oclusão aguda da artéria

mento pois indica estenose suboclusiva

segmento proximal da artéria

coronária, mas as ondas T hiperagu-

crónica da artéria descendente anterior

descendente anterior, o que traduz

das alteram a sua forma rapidamente

implicando internamento e realização

indicação para realização de corona-

para o padrão clássico de EAMcST

de coronariografia não emergente.4

Figura 4. ECG sugestivo de doença coronária multivaso ou do tronco comum da coronária esquerda

32

Indice


ARTIGO DE REVISÃO II

não é recomendada.6

início dos sintomas e o tempo estimado até à realização de angio-

• Nitratos, são vasodilatadores e estão

plastia primária.

indicados na dor anginosa, relaxam e

Nos casos que se apresentam em

reduzem o trabalho do músculo

fibrilhação auricular ou doentes sob

cardíaco, causam dilatação coronária

anticoagulação oral, o inibidor P2Y12

com aumento do fluxo de sangue ao

a ser administrado é o Clopidogrel.

coração. A utilização de nitratos sublinguais é útil no alívio sintomático e deve

• A utilização da heparina não fraciona-

ser considerada. No entanto, estão

da, na dose de 5000 U EV, deve,

contraindicados na presença de

também, ser previamente aprovada

hipotensão, suspeita de enfarte inferior

pelo Cardiologista de urgência.6

e/ou do ventrículo direito, e utilização de inibidores da fosfodiesterase 5 nas

A angioplastia primária é o tratamen-

últimas 24-48 horas.

to de 1ª linha para os doentes com

6

EAMcST porque confere menor

Figura 6. Síndrome Wellens - A - Padrão A; B - Padrão B

• Para controlo da dor que não cede

mortalidade, menor risco de re-enfar-

7. Abordagem prática ao doente com

aos nitratos, podemos recorrer à

te e de acidente vascular cerebral

EAMcST:

morfina com metoclopramida/

comparativamente à fibrinólise.6 A

A abordagem inicial do doente com

ondasentron (Recomendação IIC).6

decisão de recorrer à fibrinólise deve

EAM, além de realizar o ABCDE,

ser tomada sempre em conjunto com

devem ter-se em conta certos

• Se evolução clínica com sinais

o Cardiologista de urgência e em

aspetos práticos que são úteis para o

congestivos ou surgimento de

casos muito selecionados: impossibi-

transporte e para a receção no Centro

hipoxemia, realizar bólus de furose-

lidade de angioplastia primária em

de angioplastia, como apresentados

mida endovenosa (EV).

tempo considerado “aceitável”;

na tabela. Os conceitos aqui defini-

doentes jovens; diagnóstico muito

dos são baseados na literatura atual

• Devemos evitar sobrecarga hídrica e

precoce (<3h início da dor); sem

e ajustados à região do Algarve.

deste modo a administração de

comorbilidades significativas.

fluidoterapia por rotina não está

No contexto de paragem cardiorrespi-

Expôr o tórax do doente

recomendada. É uma exceção o

(retirar roupa)

ratória refratária, a terapêutica

enfarte inferior com hipotensão.

6

Acesso venoso periférico no

fibrinolítica também não está recomendada, associando-se a risco

membro superior esquerdo

• O pré-tratamento com inibidor

hemorrágico significativo, não

P2Y12 – clopidogrel 600mg PO ou

existindo evidência nas recomenda-

ticagrelor 180mg PO deve ser uma

ções de suporte avançado de vida. A

• Aspirina 150-300mg oral (PO) ou

decisão tomada com o Cardiologista

administração de uma terapêutica

75-250mg EV é recomendada a todos

de urgência, pois concluiu-se que não

inadequada na ausência de diagnós-

os doentes (Recomendação IA).

há melhoria significativa da reperfu-

tico estabelecido pode significar

são coronária com o tratamento no

risco acrescido para o doente.

• Oxigénio apenas se hipoxemia,

pré-hospitalar , verificando-se

Assim, na região Algarvia, onde existe

SaO2<90% ou sintomatologia

aumento do risco hemorrágico.

uma rede de Via Verde Coronária em

respiratória aguda (Recomendação

Fatores determinantes na decisão do

funcionamento permanente, o

IC). Suplementação de oxigenotera-

tratamento no pré-hospitalar são a

tratamento de primeira linha é a

pia em doentes sem hipoxemia não

idade e comorbilidades, apresenta-

angioplastia primária, não sendo

está associada a benefício clínico e

ção eletrocardiográfica, tempo de

recomendada a fibrinólise.

Monitorização contínua com cardio-desfibrilhador

6

7

8

Indice

33


34

34

Indice


ARTIGO DE REVISÃO II

CONCLUSÃO

TAKE HOME MESSAGES

2019;124:1305−1314. doi: 10.1016/j.

O diagnóstico precoce e a instituição

1.

amjcard.2019.07.027.

Clínica e eletrocardiograma têm

atempada da terapêutica de reperfu-

papel fundamental na aborda-

são são primordiais para o sucesso

gem inicial, podem ser necessá-

da abordagem do EAMcST.

rios eletrocardiogramas seriados

A realização de ECG no pré-hospitalar

ou derivações suplementares.

é de extrema importância e permite

2.

Eletrocardiograma deve ser

6.

Byrne RA, Rosselo X, Couglan JJ, Barbato E, Berry C, et al. 2023 ESC Guidelines for the management of acute coronary syndromes. Eur Heart J. 2023 Oct 12;44(38):3720-3826. doi: 10.1093/eurheartj/ ehad191.

7.

Montalescot G, van’t Hof AW, Lapostolle F, Silvain

um tratamento célere e adequado aos

realizado nos primeiros 10

J, Lassen JF, Bolognese L, et al.Prehospital

doentes com EAM. O ECG deve ser

minutos de contato com o

ticagrelor in ST-segment elevation myocardial

realizado nos primeiros 10 minutos

doente, seguido do contato

(“Tempo é miocárdio!”), e o contato

telefónico com Cardiologista

com o Cardiologista deve ser realiza-

para ativação da Via Verde

do com brevidade para ativação da

Coronária

catheterization in ST‐segment elevation

Devemos reconhecer padrões

myocardial infarction: Is this the best strategy?

Recomenda-se a realização de

eletrocardiográficos com critérios

Rev Port Cardiol (Engl Ed) . 2020 Oct;39(10):553-

eletrocardiogramas seriados em

de gravidade.

561. doi: 10.1016/j.repc.2020.09.001

Via Verde Coronária.

3.

BIBLIOGRAFIA

como a utilização das derivações

1.

Ibanez B, James S, Agewall S, Antunes MJ, Bucciarelli-Ducci C, Bueno H, et al. 2017 ESC

suplementares (V7,8,9; V3R e V4R).

Guidelines for the management of acute

Realça-se a importância do reconheci-

myocardial infarction in patients presenting with

mento dos padrões ECG com critérios

ST-segment elevation: the Task Force for the

de gravidade: Padrão De Winter;

management of acute myocardial infarction in

Critérios de Sgarbossa; Síndrome de

patients presenting with ST-segment elevation of

Wellens; ECG sugestivo de doença

the European Society of Cardiology (ESC). Eur

coronária aterosclerótica multivaso/

Heart J 2018;39:119–177. https://doi.

Guedes JP, Marques N, Azevedo P, Mota T, et al. P2Y12 inhibitor loading dose before

Sgarbossa EB, Pinski SL, Barbagelata A,

(Global Utilization of Streptokinase and Tissue Plasminogen Activator for Occluded Coronary Arteries) Investigators. Electrocardiographic diagnosis of evolving acute myocardial infarction in the presence of left bundle‐branch block. N Engl J Med. 1996; 334:481–487. doi: 10.1056/ NEJM199602223340801.

org/10.1093/eurheartj/ehx393 2.

Thygesen K, Alpert JS, Jaffe AS, Chaitman BR, Bax JJ, Morrow DA, et al. Fourth universal definition of

interpretação do ECG e/ou na

myocardial infarction (2018). Eur Heart J

abordagem do doente, existe disponi-

2019;40:237–269. https://doi.org/10.1093/

bilidade permanente do Cardiologista de urgência para esclarecimento e

8.

Underwood DA, Gates KB, Topol EJ; GUSTO‐1

primeiro ECG não é diagnóstico, bem

Sempre que existam dúvidas na

https://doi.org/10.1056/NEJMoa1407024.

9.

casos suspeitos de SCA quando o

tronco comum da coronária esquerda.

infarction. N Engl J Med. 2014;371:1016–1027.

eurheartj/ehy462 3.

Marques N, et al. Impacto da via verde coronária e

EDITORA

da angioplastia primária na redução da

discussão dos casos clínicos

mortalidade associada ao enfarte com elevação do segmento ST anterior. A experiência algarvia. Rev Port Cardiol. 2012 Oct;31(10):647-54. doi: 10.1016/j.repc.2012.07.005. doi: 10.1016/j. CATARINA TAVARES Enfermeira VMER Heli INEM

repc.2012.07.005. 4.

Appropriate Cardiac Cath Lab activation: Optimizing electrocardiogram interpretation and

REVISÃO

clinical decision making for acute ST-elevation myocardial infarction. Ivan C. Rokos, et al. 2010. doi:10.1016/j.ahj.2010.08.011 5.

Tzimas G, Antiochos P, Monney P, Eeckhout E, Meier D, et al. Atypical Electrocardiographic Presentations in Need of Primary Percutaneous

COMISSÃO CIENTÍFICA

Coronary Intervention. Am J Cardiol

Indice

35


36

36

Indice


ARTIGO DE REVISÃO III

ARTIGO DE REVISÃO III

A PRESENÇA DA FAMÍLIA DURANTE A REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR – A PERCEÇÃO DOS ENFERMEIROS FAMILY PRESENCE DURING CARDIOPULMONARY RESUSCITATION: NURSE´S PERCEPTION Ana Coelho1, Isabel Soeiro1 , Sara Melo2, Susana Martins1, Tânia André3 Serviço de Urgência Polivalente, Unidade Local de Saúde do Algarve - Unidade de Faro Serviço de Medicina Intensiva 1, Unidade Local de Saúde do Algarve - Unidade de Faro 3 Serviço de Hospitalização Domiciliária, Unidade Local de Saúde do Algarve - Unidade de Faro 1 2

RESUMO

enfermeiros face à presença das

during cardiopulmonary resuscitation

Com o aumento da importância

famílias durante a reanimação

in adults.

dos cuidados centrados na família,

cardiopulmonar no adulto, em

Methodology: A systematic review

a participação desta nas tomadas

contexto hospitalar e quais as suas

was carried out, having as its starting

de decisão e o acompanhamento

experiências relativamente à temática.

point a peak research issue, with the

ao doente, tem sido alvo de

Conclusão: A perceção dos enfermei-

analysis of articles published in the

crescente preocupação.

ros relativamente à presença da

last 5 years (2015-2019), and which

A presença da família durante a

família durante a reanimação

identified the perception of nurses

reanimação cardiopulmonar no adulto

cardiopulmonar no adulto varia

regarding the presence of the family

e a perceção dos enfermeiros relativa-

consoante as suas experiências e o

during the cardiopulmonary resuscita-

mente a esta temática, tornaram-se

seu nível de formação. A implementa-

tion in adults in the hospital context.

foco de discussão e matéria de

ção da presença da família requer

Results: After applying the inclusion

investigação nos últimos anos.

uma maior formação das equipas e a

criteria, 7 cross-sectional and mostly

Objetivos: Identificar a perceção dos

existência de um elemento responsá-

descriptive studies were identified,

enfermeiros face à presença da

vel pelo acompanhamento e suporte

which present the perception of nurses

família durante a reanimação

da família.

in relation to the presence of families

cardiopulmonar no adulto. Método: Realizou-se uma revisão

Palavras-Chave: Perceção dos enfermeiros; reanimação cardiopulmonar; presença da família

integrativa, tendo como ponto de

during cardiopulmonary resuscitation in adults, in context and what their experiences are on the subject.

partida uma questão de investigação

ABSTRACT

Conclusion: Nurses’ perception of the

PICO, com a análise de artigos

With the increased importance of

presence of the family during cardio-

publicados nos últimos 6 anos

family-centered care, their participation

pulmonary resuscitation in adults

(2018-2023), e que identificaram qual

in decision-making and patient

varies depending on their experiences

a perceção dos enfermeiros relativa-

follow-up has been the subject of

and their level of training. The

mente à presença da família durante

growing concern. The presence of the

implementation of the family pres-

a reanimação cardiopulmonar no

family during cardiopulmonary

ence requires greater training of the

adulto no contexto hospitalar.

resuscitation in adults and the percep-

teams and the existence of an

Resultados: Após a aplicação dos

tion of nurses in relation to this theme,

element responsible to the monitoring

critérios de inclusão, foram identifica-

have become the focus of discussion

and support of the family.

dos 6 estudos de tipo transversal e

and research in recent years.

maioritariamente descritivos, que

Objectives: Identify nurses' percep-

apresentam qual a perceção dos

tion of the presence of the family

Keywords: nurses perception; resuscitation; family presence

Indice

37


INTRODUÇÃO

holística do cuidar. Contudo, a

sobrevivência em situação de paragem

Com o aumento da importância dos

satisfação das suas necessidades em

cardiopulmonar. Em eventos críticos

cuidados centrados na família, a

contextos críticos, é frequentemente

como este, a família passa muitas

participação desta nas tomadas de

um desafio para os enfermeiros e para

vezes para segundo plano e compete

decisão e o acompanhamento ao

os seus cuidados5.

ao enfermeiro assistir a pessoa e

doente, tem sido alvo de crescente

À luz do descrito nos Padrões de

família nas perturbações emocionais

preocupação. No entanto, em situações

Qualidade dos Cuidados de Enferma-

decorrentes das mesmas. A inclusão

de emergência e no cuidado ao doente

gem6 p.10, os cuidados devem centrar-se

da família nos cuidados de saúde é,

crítico, o acompanhamento da família

“na relação interpessoal de um

também, uma obrigação ética e moral.

tem sido um tema controverso para os

enfermeiro e uma pessoa ou de um

Assim sendo, os enfermeiros, na sua

profissionais que prestam cuidados.

enfermeiro e um grupo de pessoas

atuação, devem considerar o cuidado

O conceito de presença da família

(família ou comunidades)” e, são várias

centrado na família como parte

durante a reanimação cardiopulmonar

as circunstâncias em que a parceria

integrante da prática de enfermagem11.

[PFDR] tem sido debatido nas últimas

deve ser estabelecida, envolvendo a

Em Portugal, a presença da família nos

décadas. Este conceito destacou-se

família ou pessoa significativa, com o

serviços de saúde está regulada pela

pela primeira vez nos anos 80, num

indivíduo. Assim, segundo a Classifica-

Lei nº15/2014, no seu Artº1412 p.2129, que

Hospital do Michigan, onde se iniciou

ção Internacional para a Prática de 38

define as restrições desse acompanha-

um programa que reconhece a

Enfermagem7 p.143, a família é definida

mento, pelo que “Não é permitido

importância da inclusão da família

como “unidade social ou todo coletivo

acompanhar ou assistir a intervenções

durante a reanimação, com o intuito de

composto por pessoas ligadas através

cirúrgicas e a outros exames ou

facilitar esta prática nas equipas, como

de consanguinidade, afinidade, relações

tratamentos que, pela sua natureza,

resposta ao pedido e desejo da família1.

emocionais ou legais, sendo a unidade

possam ver a sua eficácia e correção

A análise da literatura acerca da

ou o todo considerado como um

prejudicadas pela presença do acompa-

temática centra-se em diferentes

sistema que é maior do que a soma

nhante, exceto se para tal for dada

aspetos, tais como, a perceção dos

das partes” e, reveste-se de especial

autorização expressa pelo clínico

profissionais de saúde e da família, os

importância na prestação de cuidados

responsável”. Ficando assim a cargo

benefícios e barreiras e o desenvolvi-

de enfermagem.

da equipa de saúde a tomada de

mento de políticas em torno da prática.

Seguindo esta linha de pensamento,

decisão do acompanhamento da

Vários são os estudos que vêm

Egenberger & Nelms8 p.1618 consideram

família em situação de reanimação

comprovar que a PFDR ajuda a

que “o cuidado familiar é aprimorado

cardiopulmonar.

ultrapassar o processo de luto e dá

com a presença de enfermeiros que

Através da presente revisão, decidiu-se

garantia à família de testemunhar os

reconhecem a importância de 'Ser

colocar em destaque a perceção dos

últimos momentos de vida do seu

Família' para a família, a importância da

enfermeiros face a esta prática. A

familiar2. Permite ainda, participar em

relação enfermeiro-família e cumpre o

perceção é definida como “a função

decisões de fim de vida, diminuir

compromisso de estar com e para a

cerebral que atribui significado a

conflitos entre a família e profissionais,

família”. Por outro lado, os cuidados à

estímulos sensoriais, a partir do

uma vez que os procedimentos

pessoa em situação crítica são

histórico de vivências passadas”13 p.23. É

efetuados são testemunhados3. Neste

cuidados diferenciados e qualificados,

um processo contínuo de observação

sentido, é recomendável que cada

prestados de forma a dar resposta às

seletiva, que se vai alterando à medida

instituição desenvolva políticas, de

necessidades afetadas, de modo a

em que se adquirem novas informa-

modo a permitir o acompanhamento da

manter as funções básicas da vida9.

ções. Assim, para haver uma adapta-

família neste momento delicado4.

Segundo a American Heart Associa-

ção às mudanças que acontecem, é

A importância da família é transversal

tion10 reanimação é um conjunto de

necessário compreendê-las e, para se

ao ciclo vital do indivíduo, sendo parte

ações de salvamento que têm como

proporem mudanças, é preciso

integrante de uma abordagem

objetivo aumentar as hipóteses de

perceber a sua necessidade13. Neste

38

Indice


ARTIGO DE REVISÃO III

sentido, ao longo desta revisão, assume-se o termo perceção enquanto conceito abrangente que engloba as atitudes, perspetivas e sentimentos dos enfermeiros perante a PFDR. Por sua vez, engloba-se a experiência, o nível de formação, a autoconfiança e as vantagens/desvantagens da prática, enquanto fatores influencia-

Tabela 1. Estratégia PICO

dores da perceção

atendendo à metodologia The Joanna

Da pesquisa realizada, obteve-se o

Desta forma, a compreensão da

Briggs Institute14: tipo de participantes

número de 121 artigos. Após a

perceção dos enfermeiros sobre a

- todos os estudos que incluam

exclusão de artigos duplicados (35

PFDR, pode ajudar na escolha de

enfermeiros que prestem cuidados de

artigos), restaram 86 artigos. Através

uma estratégia eficaz de implemen-

reanimação no contexto hospitalar;

da leitura do título foram excluídos

tação desse conceito na prática

tipo de intervenções/fenómenos de

72, ficando incluídos 14 artigos.

clínica quotidiana.

interesse - todos os estudos que

Destes, após a análise do resumo, 8

incluam a presença de familiares

artigos foram excluídos por não

QUESTÃO DE INVESTIGAÇÃO

durante a reanimação no contexto

apresentarem conclusões relevantes

Considerando a relevância da

hospitalar; tipo de resultados - todos

de forma a responder à questão de

temática, realizou-se uma revisão

os estudos que analisam a perceção

investigação. Assim, resultaram 6

sistemática em linha com as reco-

dos enfermeiros acerca da presença

artigos das seguintes bases de

mendações do The Joanna Briggs

de familiares durante a reanimação

dados: Medline – 1 artigo; Comple-

Institute14, sendo a pergunta de

no contexto hospitalar; tipo de

mentary Index – 3 artigos; Science

revisão: ‘Qual a perceção dos

estudos - todos os estudos primários

Direct – 1 artigo; Directory of Open

Enfermeiros face à presença da

de natureza quantitativa.

Access Journals – 1 artigo.

família durante a reanimação

A pesquisa foi realizada no dia 21 de

Este processo foi realizado por 2

cardiopulmonar no adulto em

Maio de 2023, no motor de busca B-On

revisores de forma autónoma e

contexto hospitalar?’

(Biblioteca do Conhecimento online) e

independente, tendo sido obtidos os

teve em consideração o vocabulário

artigos selecionados após consenso

METODOLOGIA

indexado às bases de dados, assentes

entre os mesmos.

A questão de investigação foi

nos descritores do Medical Subject

No fluxograma seguinte (figura 1),

formulada atendendo o modelo PICO

Headings- MeSH15, tendo sido organi-

descreve-se todo o processo de

(Pessoa/População/Problema,

zada segundo os operadores boolea-

seleção dos estudos, acima relatado.

Intervenção, Comparação ou Contex-

nos, com a seguinte combinação em

A avaliação da qualidade metodológi-

to, Resultados - Outcomes):

inglês: nurses perception; And - resusci-

ca dos estudos analisados, foi

A presente revisão sistemática tem

tation; And - “family presence”; Not -

realizada seguindo as indicações do

como objetivo: ‘Identificar a perceção

children or adolescents or youth or

The Joanna Brigs Institute14, como se

dos enfermeiros face à presença da

child or teenager.

apresenta nas tabelas 2 e 3.

família durante a reanimação

Foram utilizados como limitadores de

cardiopulmonar no adulto’.

pesquisa: artigos publicados nos

RESULTADOS

Após a formulação da questão de

últimos 6 anos, entre 2018-2023;

A tabela 4 apresenta o resumo dos

investigação e a definição dos

analisados por pares (peer review);

resultados obtidos através dos

objetivos da presente revisão, foram

texto integral disponível em Portu-

artigos selecionados para a presente

definidos os seguintes critérios de

guês e/ou Inglês; publicados em

revisão sistemática.

inclusão para a pesquisa dos estudos,

revistas académicas.

Indice

39


40

40

Indice


ARTIGO DE REVISÃO III

Figura 1. Fluxograma de seleção dos estudos

DISCUSSÃO A análise dos estudos revela que os resultados não reúnem consenso em relação à perceção dos enfermeiros face à PFDR. Os profissionais do estudo da Emergency Nurses Association (ENA)4 também expressam perceções divergentes acerca da PFDR. Enquanto alguns apoiam esta prática, outros demonstram reservas. O estudos de Park18 e Gomes19 referem que a maioria dos enfermei-

Tabela 2. Avaliação da qualidade metodológica14

ros concorda com a PFDR, contrariamente, ao que revelam os estudos de Rafiei20 e Ariani21 que discordam ou fazem objeções a esta prática. Os primeiros, vão de encontro com estudo de ENA4, em que alguns profissionais relatam ser uma prática positiva e importante para o doente e família. Também o estudo de Ferreira3 refere que cada vez mais os profissionais de saúde apoiam a PFDR, isto porque, cuidar de alguém implica cuidar também da sua família e, se os enfermeiros conseguirem incutir nas

Tabela 3. Resultados da avaliação crítica para estudos incluídos14 S – Sim; N – Não; NA – Não Aplicável; NE – Não Explícito

famílias o sentimento de confiança de

Indice

41


que todos os esforços foram realizados durante os cuidados de reanimação, levará certamente, a um processo facilitado de aceitação da doença ou do luto dos familiares. Os estudos de Gutysz-Wojnicka16, Park18 e Gomes19 referem existir uma relação de causa-efeito entre as experiências anteriores positivas dos enfermeiros na PFDR e a demonstração de atitudes mais positivas. Do mesmo modo, quem teve experiências negativas ou não teve qualquer experiência, demonstra atitudes negativas em relação à prática. No estudo de ENA4, a maioria dos 42

profissionais tem experiência com a PFDR e todos eles têm atitudes positivas em relação à prática, acreditando que deve ser dada a oportunidade à família de estar presente durante a reanimação, sendo um direito da mesma. Os fatores positivos (benefícios e vantagens) e negativos (barreiras e desvantagens) contribuem para a contínua controvérsia existente entre os enfermeiros, sobre a presença da família nos momentos de crise, particularmente durante a reanimação. Os enfermeiros dos artigos analisados que apoiam a PFDR, referem como benefícios18,19: ser um momento de oportunidade para conhecer o estado de saúde do doente; facilitar a participação da família no cuidado do doente; permitir o apoio ao doente e à família; esclarecer dúvidas da família sobre o que está a acontecer; diminuir o medo e a ansiedade da família; reforçar a ideia, perante a família, de que tudo foi feito; facilitar o processo de luto. Na revisão integrativa de Ferreira3, um dos aspetos positivos relatados, é a oportunidade de promover a comuni-

42

Indice


ARTIGO DE REVISÃO III

doloroso para testemunhar. Nos resultados apresentados por Ferreira3, os profissionais também manifestam desvantagens acerca da PFDR. Para a família, admitem ser um momento traumático e, para a equipa, ao sentir-se observada, pode incutir ansiedade, medo de falhar e é um obstáculo à comunicação dentro da mesma. Ainda segundo ENA4, são várias as barreiras que existem na implementação da PFDR. Uma delas é a perceção dos profissionais de que a família possa interferir no cuidado ao doente, atrasando intervenções ou prolongando a reanimação e incutindo ansiedade e stress nos membros da equipa, afetando a concentração e, por sua vez, a performance. Park18 e Rafiei20 mencionam que a perceção dos enfermeiros está relacionadas com a experiência e o nível de formação acerca do tema. Estes fatores influenciam o grau de

Tabela 4. Resumo dos resultados obtidos

autoconfiança e, por sua vez, as cação entre a família e os profissio-

facilita o processo de luto no caso de

atitudes dos enfermeiros. Assim,

nais e providenciar apoio e suporte

haver insucesso da mesma e dá

enfermeiros com mais autoconfiança,

emocional. Desta forma, a família

oportunidade à família de se despedir,

têm atitudes mais positivas e

compreende que tudo foi efetuado,

facilitando a aceitação da morte do

reconhecem mais benefícios em

facilitando o processo de luto,

seu familiar.

relação a esta prática. Por outro lado,

providenciando explicações e

Por sua vez, os enfermeiros que

a baixa autoconfiança parece estar

demonstrando à família que a sua

discordam com a PFDR, enumeram as

associada a atitudes negativas em

presença é um direito e não uma

seguintes desvantagens

relação à PFDR. Estes artigos estão

opção dos profissionais. Também a

preocupação de que a comunicação

em concordância com o estudo de

evidência de ENA(4) sugere que a

entre a equipa de reanimação possa

ENA4 em que, profissionais com mais

PFDR não influencia a performance de

perturbar a família; a equipa de

experiência e formação especializada

atuação da equipa e, por outro lado,

reanimação não possa cuidar do

no tema, são mais favoráveis a apoiar

tem um impacto positivo nos mem-

doente e da família ao mesmo tempo;

a PFDR. Profissionais com mais

bros da família, uma vez que testemu-

o prolongamento da reanimação e

experiência dão, com mais frequên-

nham o rigor e os esforços efetuados

dificuldade em interromper a mesma;

cia, oportunidade à família de estar

pelas equipa, reduzindo a possibilida-

a interferência da família na reanima-

presente durante a reanimação, uma

de de processos de litígio. Estes

ção ao demonstrar emoções (medo,

vez que se sentem mais confiantes de

profissionais acreditam que dar a

angústia e dano psicológico) e

que conseguirão gerir a família

oportunidade à família de estar

comportamentos perturbadores, uma

durante a reanimação. Profissionais

presente durante a reanimação,

vez que é um momento muito

especializados e com mais formação,

17,19,20,21

:a

Indice

43


44

44

Indice


ARTIGO DE REVISÃO III

concordam com a existência de

CONCLUSÃO

na formação das equipas. O papel do

mais benefícios acerca da prática,

Considera-se que a evidência encon-

enfermeiro, na equipa de saúde,

do que potenciais riscos. Neste

trada na presente revisão sistemática

assume destaque na sensibilização

sentido, muitas das preocupações

descreve a perceção dos enfermeiros

dos profissionais e no suporte à

dos enfermeiros em torno da

acerca da PFDR, dando resposta à

família. Assim, cabe aos enfermeiros,

PFDR, poderiam ser atenuadas

questão de investigação inicialmente

posicionarem-se como defensores dos

através da formação, treino e da

colocada. Concluiu-se que a perceção

direitos da pessoa e da sua família,

contratação de pessoal com

da PFDR não é consensual por parte

unindo esforços, de forma, por um

competências e responsabilidade,

dos enfermeiros. Experiências

lado, a minimizar ou evitar atitudes

de forma a apoiar e esclarecer a

anteriores positivas, influenciam

que possam lesar a família e, por outro

família perante este processo

positivamente a atitude, enquanto

lado, assumindo que a presença da

assustador, de stress e de crise 4.

experiências anteriores negativas,

família no momento da reanimação,

Todos os artigos analisados

influenciam negativamente. São

possa ser a vontade do doente.

referem como limitações, a ausên-

diversos os benefícios e as barreiras

A literatura aponta para a necessidade

cia de protocolos nos serviços, que

identificados nesta revisão, todas elas

de capacitar os enfermeiros nas

implementem a PFDR como prática

em concordância com estudos

organizações e incluir esta temática ao

habitual. Segundo Ferreira3 a

realizados anteriormente. A autocon-

longo do percurso académico e

decisão da PFDR deverá ser

fiança é também um fator que

profissional, a fim de favorecer uma

consensual entre a equipa e

condiciona a perceção dos enfermei-

prática mais bem sustentada no futuro.

sempre que a família se torne

ros, sendo que os que têm maior nível

A diversidade dos resultados obtidos

emocionalmente perturbadora,

de autoconfiança, aceitam melhor

nos artigos estudados, deve-se,

deve abandonar o local. Realça

esta prática.

provavelmente, a discrepâncias

ainda, a existência de protocolos de

As vantagens encontradas de permitir

culturais e contextos assistenciais,

atuação, uma vez que poucos são

a PFDR, parecem compensar as

uma vez que são originários de

os hospitais que dispõem dos

desvantagens. Neste sentido, é

zonas diferentes: Ásia (Coreia do Sul

mesmos. Também o estudo de

crucial a implementação de protoco-

e Indonésia), Médio Oriente (Arábia

ENA 4 refere que a PFDR é uma

los de atuação com acolhimento

Saudita e Barém) e Europa (Suécia).

expectativa de muitos membros da

prévio à entrada e com as devidas

Na literatura nacional, foram encon-

família e as situações devem ser

explicações sobre o que a família irá

trados poucos estudos que avaliem a

tratadas individualmente, questio-

encontrar durante a reanimação,

perceção de quem cuida e de quem é

nando a família se gostaria de estar

diminuindo assim, a ansiedade da

cuidado em situações de reanima-

presente. Conclui também que, dos

mesma e aumentando o nível de

ção. Recomenda-se assim, a realiza-

estudos que analisa, a existência

confiança nos profissionais. Estes

ção de estudos, em Portugal, que

de políticas é rara e esta ausência é

protocolos devem contemplar

invistam neste tema, de forma a

uma barreira ao convite da PFDR,

medidas de apoio emocional, que

contribuírem para a implementação

por parte da equipa. Neste sentido,

deverá ser garantido também aos

da PFDR como prática habitual nos

recomenda-se que cada instituição

enfermeiros. Para atenuar os efeitos

serviços de saúde.

deve instituir políticas com protoco-

negativos mencionados pelos

Após a síntese dos resultados

los específicos, de forma a guiarem

enfermeiros em relação à PFDR,

obtidos nesta pesquisa, importa

a equipa na tomada de decisão de

recomenda-se avaliar individualmente

agora incorporá-los na prática diária,

incluir ou não a família, bem como,

cada caso e responsabilizar um

transportando-os para a nossa

de atender às necessidades da

membro da equipa para acompanhar

realidade, permitindo, dessa forma,

mesma, quando presentes durante

a família neste processo.

o compromisso da prática baseada

o momento da reanimação.

Para que a implementação da PFDR

na evidência

tenha sucesso é fundamental investir

Indice

45


46

46

Indice


ARTIGO DE REVISÃO III BIBLIOGRAFIA

Bousso RS. Enfermeiras e famílias : um guia para

1.

avaliação e intervenção na família. Roca; 2002.

Doyle CJ,Post H, Burney RE, Maino J, Keefe M, Rhee KJ. Family Participation During

2.

Community Hospital Critical Care Nurses Toward

Resuscitation: an option. [Internet] 1987. Annals of

da República n.º 57/2014, Série I de 2014-03-21.:

Family-Witnessed Resuscitation 2019 [Internet].

Emergency Medicine [citado a 21 de maio de

2127 - 2131

American Journal of Critical Care. 28. 142-148.

Tojal, A. Percepção dos Enfermeiros sobre a

[citado a 21 de maio de 2023]. Disponível em:

annemergmed.com/article/S0196-

Formação em Serviço, Dissertação de Mestrado.

http://widgets.ebscohost.com/prod/

0644(87)80069-0/pdf

Coimbra.[Internet]. [citado a 21 de maio de 2023]

customerspecific/ns000290/authentication/index.

Ferreira CAG, Balbino FS, Balieiro MMFG, Mandetta

Disponível em: http://repositorio.esenfc.pt/rc/

php?url=https%3a%2f%2fsearch.ebscohost.

The Joanna Briggs Institute, editor. Joanna Briggs

com%2flogin.aspx%3fdirect%3dtrue%26AuthType

resuscitation and invasive procedures [Internet].;

Institute Reviewers’ Manual:2014 edition [Internet].

%3dip%2ccookie%2cshib%2cuid%26db%3dedb%2

2014 [citado a 21 de maio de 2023]; 32(1):107-13

Adelaide: The Joanna Briggs Institute; 2014

6AN%3d134825020%26lang%3dpt-

Disponível em : https://doi.org/10.1590/

[citado 21 de maio de 2023]. Disponível em:

s0103-05822014000100017

https://joannabriggs.org/assets/docs/sumari/

Ferreira MCS, Coelho P. Presença das famílias no

ReviewersManual-2014.pdf

SN, Abbasi L, Mafi MH. Self-confidence and

MA. Family presence during cardiopulmonary

3.

serviço de urgência durante a reanimação e os

4.

13.

14.

15.

attitude of acute care nurses to the presence of

Medicine. Medical Subject Headings. 2019

family members during resuscitation. 2018

Revista Sinais Vitais. 2014 agosto:66-73

[Internet]. U.S. National Library of Medicine.

[Internet] British Journal of Nursing 2018 27:21,

Emergency Nurses Association. Does family

[citado a 21 de maio de 2023]. Disponível em:

1246-1249 [citado a 2 de novembro de 2019].

https://meshb.nlm.nih.gov/search

Disponível em: http://widgets.ebscohost.com/

Gutysz-Wojnicka A, Ozga D, Dyk D, Mędrzycka-

prod/customerspecific/ns000290/authentication/

procedures and resuscitation? [Internet].; 2017

Dąbrowska W, Wojtaszek M, Albarran J. Family

index.php?url=https%3a%2f%2fsearch.ebscohost.

[citado a 21 de maio de 2023]. Disponível em:

presence during resuscitation – The experiences

com%2flogin.aspx%3fdirect%3dtrue%26AuthType

https://www.ena.org/docs/default-source/

and views of Polish nurses. Intensive Crit Care

%3dip%2ccookie%2cshib%2cuid%26db%3dedb%2

resource-library/practice-resources/cpg/familypre

Nurs. 2018 [Internet] Jun 1;46:44–50. [citado 21

6AN%3d133112026%26lang%3dpt-

sencecpg3eaabb7cf0414584ac2291feba3be481.

de maio de 2023]. Disponível em: http://widgets.

pdf?sfvrsn=9c167fc6_12.

ebscohost.com/prod/customerspecific/

Mitchell ML, Chaboyer W. Family Centred Care—–A

ns000290/authentication/index.

Nurses’ Experience of Family Presence During

way to connect patients, families and nurses in

php?url=https%3a%2f%2fsearch.ebscohost.

Resuscitation in Intensive Care Setting. 2021

critical care: A qualitative study using telephone

com%2flogin.aspx%3fdirect%3dtrue%26AuthType

[Internet] Jurnal Keperawatan Padjadjaran. Abril 1:

interviews. Intensive and Critical Care Nursing.

%3dip%2ccookie%2cshib%2cuid%26db%3dedselp

9, 41-51. [citado a 21 de maio de 2023]. Disponível

Intensive and Critical Care Nursing Journal

%26AN%3dS096433971730143X%26lang%3d

em: https://eds.s.ebscohost.com/eds/detail/

[Internet] 2010. [citado a 21 de maio de 2023]; (26)

pt-pt%26site%3deds-live%26scope%3dsite

detail?vid=1&sid=f7cfc7da-9584-4738-bb6b-b96a6

Waldemar A, Thylen I. Healthcare professionals’

758da6e%40redis&bdata=JkF1dGhUeXBlPWlwLH

iccn.2010.03.003

experiences and attitudes towards family-

NoaWImbGFuZz1wdC1wdCZzaXRlPWVkcy1saXZl

Ordem dos Enfermeiros. Padrões de Qualidade

witnessed resuscitation: A cross-sectional study.

JnNjb3BlPXNpdGU%3d#AN=151299459&db=edb

dos Cuidados de Enfermagem - Enquadramento

2018 [Internet] Int Emerg Nurs. Jan 1;42:36–43.

conceptual Enunciados descritivos Lisboa; 2012

[citado a 21 de maio de 2023]. Disponível em:

Conselho Internacional de Enfermeiros. CIPE

http://widgets.ebscohost.com/prod/

2015: Classificação internacional para a prática de

customerspecific/ns000290/authentication/index.

enfermagem. Lisboa, Portugal: Ordem dos

php?url=https%3a%2f%2fsearch.ebscohost.

Enfermeiros. 2015

com%2flogin.aspx%3fdirect%3dtrue%26AuthType

Eggenberger SK, Nelms TP. Being family: the

%3dip%2ccookie%2cshib%2cuid%26db%3dedselp

family experience when an adult member is

%26AN%3dS1755599X18300727%26lang%3d

154-60. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.

7.

8.

16.

17.

hospitalized with a critical illness. Journal of Clinical Nursing. [Internet] 2007. [citado a 21 de

9.

10.

11.

Rafiei H, Senmar, Mostafaie MR, Goli Z, Avanaki

United States of America National Library of

the patient, family, and staff during invasive

6.

pt%26site%3deds-live%26scope%3dsite 20.

procedimentos invasivos. Qual o estado da arte?

presence have a positive or negative influence on

5.

Gomes B, Dowd O, Sethares K. Attitudes of

Assembleia da República. Lei n.º 15/2014. Diário

2023] (16); 673-675. Disponível em: https://www.

12.

medm 19.

pt-pt%26site%3deds-live%26scope%3dsite 18.

Park J, Ha J. Predicting nurses' intentions in

maio de 2023]; (16): 1618-1628. Disponível em:

allowing family presence during resuscitation: A

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17727583

cross-sectional survey. 2021 [Internet]. Journal of

Ordem dos Enfermeiros. Regulamento n.º

Clinical Nursing. 2021;30:1018–1025.[citado a 21

124/2011. Diário da República n.º 35/2011, Série II

de maio de 2023]. Disponível em: https://

de 2011-02-18:8656 – 8657

eds.s.ebscohost.com/eds/detail/

American Heart Association. Suporte Avançado

detail?vid=1&sid=3509d107-8945-4cd0-9b79-

de Vida Cardiovascular -Manual do Profissional

566b7a203f4b%40redis&bdata=JkF1dGhUeXBlPW

Texas, EUA: American Heart Association; 2016

lwLHNoaWImbGFuZz1wdC1wdCZzaXRlPWVkcy1s

Wright LM, Leahey M, Spada SM, Angelo M,

aXZlJnNjb3BlPXNpdGU%3d#AN=33434307&db=c

pt%26site%3deds-live%26scope%3dsite 21.

Ariani N, Trisyani Y, Mulyati T. An Exploration of

EDITORA

ANA AGOSTINHO Coordenadora de Enfermagem da VMER de Faro REVISÃO

COMISSÃO CIENTÍFICA

Indice

47


48

48

Indice


Indice

49


50

50

Indice


REFLEXÕES BREVES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA

REFLEXÕES BREVES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA

VMER DO BARLAVENTO – A VISÃO DO FUTURO MÉDICO Daniel Sobreira1 1

Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade da Beira Interior

Palavras-Chave: estágio, VMER, Portimão

verificação da carga da VMER que,

de emergência é perigosa, mas

Desde que me lembro, sonhei em

segundo me foi dito, é uma atividade

percebi que a condução é sempre

seguir Medicina com o objetivo de

obrigatória diária para garantir a

defensiva e os enfermeiros estão

poder ajudar a melhorar o mundo.

operacionalidade do meio. Depois,

sempre atentos a tudo.

Durante a minha adolescência, o

com mais calma, foi hora de conhecer

À nossa chegada, o paciente já́ se

mundo da saúde no pré́-hospitalar

“os cantos à casa”, ou seja, fui

encontrava com os cuidados básicos

despertou-me um grande interesse e

conhecer as instalações da base.

instituídos, pois encontrava-se numa

tive a oportunidade de experienciar e

Posto isto e feitas todas as

Unidade de saúde. Apos a avaliação

viver o dia a dia na VMER do

apresentações, era altura de esperar

da vítima, esta foi transportada sem

Barlavento. Atualmente, sou aluno do

pela primeira ativação. Apesar de me

acompanhamento médico, mas toda

primeiro ano de medicina na

sentir atraído pela emergência

a informação foi passada aos

universidade da Beira Interior. Ainda

pré-hospitalar, até esta altura não

bombeiros. Deslocamo-nos de novo à

tenho um longo caminho pela frente,

sabia bem do que se tratava. Estar ali,

base e, ao longo do caminho, a equipa

mas já́ estou um pouco mais perto de

naquele momento, fazia-me sentir a

fez um debriefing apontando os

chegar ao objetivo.

pessoa com mais sorte do mundo.

aspetos positivos e os que poderiam

Neste artigo de reflexão, vou

Depois de uma espera prolongada,

melhorar. Além da parte da decisão

aproveitar para retratar a visão de um

tive primeira ativação. Depois de se

terapêutica, o medico também tem a

aluno do secundário, hoje estudante

perceber a localização e o tipo de

responsabilidade do preenchimento

de medicina, nos vários estágios que

ocorrência, iniciámos a saída.

de um relatório após todas as

pude realizar na VMER do Barlavento.

Durante o percurso, foi-me explicada

ocorrências, na plataforma iTeams.

Quando cheguei à base da VMER, em

a triagem e algumas especificidades

Apesar de não ter havido

Portimão, comecei por conhecer a

do iTeams. Sabíamos que a vítima

acompanhamento médico, à chegada

equipa que iria acompanhar. Depois

era um homem com 80 anos com

ao hospital a equipa dirigiu-se à

da apresentação, a médica começou

dispneia. Enquanto nos

triagem para passar o doente. Embora

por me explicar o que acontecia

deslocávamos, eu tentava absorver

inicialmente não tenha percebido o

desde a chamada 112, ao momento

toda a informação que me estava a

porquê, foi-me explicado que o facto

em que somos acionados e a saída

ser dada, mas percebi que o

de não terem acompanhado foi

da VMER. Essa foi a primeira

enfermeiro, além de discutir o caso

porque o doente estava estável e

informação que obtive porque a

com a médica e a abordagem, se

assim a equipa ficava disponível para

qualquer momento poderíamos ser

preocupava essencialmente com

poder ser ativada para outra

acionados para uma emergência.

uma condução segura. Isto

ocorrência. Como não aconteceu,

Após conhecimento dos

impressionou-me bastante porque,

referiram que a passagem do doente

procedimentos, acompanhei a

vendo de fora, parece que a marcha

na triagem serve para garantir a

Indice

51


52

52

Indice


REFLEXÕES BREVES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA

continuidade dos cuidados.

útil para salvar outras vidas.

BIBLIOGRAFIA

O tempo que decorre entre cada saída

Durante o meu 12º ano tive a

1.

é, talvez, a pior parte deste trabalho.

oportunidade de fazer alguns

Pelo menos para mim. Nesse intervalo,

estágios observacionais na VMER do

a equipa aproveita para estudar,

Barlavento, com diferentes equipas,

esclarecer dúvidas, rever situações. O

mas todas elas com um objetivo

2.

https://www.inem.pt/

ambiente que se vive na base é de

comum: salvar vidas.

3.

https://www.hds.min-saude.pt/wpcontent/uploads/

muita amizade e cumplicidade, o que

Para mim, na altura enquanto aluno,

ajuda muito ao trabalho de equipa,

foram dias muito importantes porque

numa equipa que é constituída só por

foi o ter a certeza que era o que queria

duas pessoas.

para a minha vida. Hoje, enquanto

Para se poder pertencer à equipa da

aluno de medicina, não duvido que

VMER não é necessária nenhuma

estes estágios vão contribuir muito

especialidade medica. No entanto,

para algumas decisões futuras. Aprendi

pude perceber que são necessárias

muito, mas, sem duvida, o melhor

algumas características pessoais:

ensinamento que levo para a vida é que

grande resiliência e capacidade de

um enfermeiro é tao fundamental como

adaptação a diferentes situações,

um medico, que cada um tem o seu

saber lidar com a inevitabilidade da

lugar em trabalhos diferentes, mas que

morte, elevada capacidade de

se complementam. O trabalho em

definição de tarefas prioritárias e

equipa na VMER, quando a equipa é tão

comunicação de forma clara

reduzida, é o protótipo do ‘sozinhos

e objetiva.

vamos mais rápidos, mas juntos vamos

Talvez uma coisa que me tenham

mais longe’.

deixado mais surpreso, é a quantidade

Resta-me agradecer a todos, sem

de vezes que a VMER é ativada para

exceção, pela maneira como me

declarar um óbito, acabando por ser

acolheram, mas principalmente pelo

tornar um problema uma vez que,

modo como salvam vidas no

durante esse tempo, a equipa se

Barlavento Algarvio

encontra ocupada, quando poderia ser

Lemos, J., (2020) EMERGÊNCIA MÉDICA PRÉ-HOSPITALAR: ESTÁGIO NA VIATURA MÉDICA DE EMERGÊNCIA E REANIMAÇÃO - https:// repositorioaberto.up.pt/ bitstream/10216/128250/2/411138.pdf

sites/17/2021/04/Regulamento_VMER.pdf

EDITORA

INÉS SIMÕES Coordenadora Médica da VMER de Portimão

REVISÃO

COMISSÃO CIENTÍFICA

Indice

53


54

54

Indice


LIFESAVING TRENDS - INOVAÇÕES EM EMERGÊNCIA MÉDICA

LIFESAVING TRENDS - INOVAÇÕES EM EMERGÊNCIA MÉDICA

SMARTWATCH, O DISPOSITIVO QUE ESTÁ UM “OLHAR” À FRENTE DA EQUIPA DE EMERGÊNCIA A. Sofia Mendes Pinto1, Rita Lopes Dinis1, Larissa Morais2 1 2

Interna de Formação Específica de Anestesiologia do Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca Assistente Hospitalar de Anestesiologia do Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca

Os recentes avanços na tecnologia

Monitorização de ritmo cardíaco e

fidedigno e necessita de confirmação

combinados com a necessidade de

deteção de arritmias

por ECG.1

acompanhar doentes remotamente, tal

Os dispositivos digitais que

Os eventos de alterações do ritmo

como demonstrado pela pandemia da

monitorizam o ritmo cardíaco

cardíaco como ritmo irregular ou

COVID-19, impulsionaram o

dividem-se em dois grupos de acordo

bradicardia podem desencadear

com a tecnologia que utilizam:

alertas ou levar a que o utilizador

dispositivos digitais à prática clínica.

baseados em eletrocardiograma

grave o traçado eletrocardiográfico,

Os wearables, como são rotineiramente

(ECG) ou baseados em

desde que o mesmo esteja

designados os acessórios que

fotopletismografia (PPG). Os

consciente. Isto pode conduzir à

podemos “vestir”, incluem vários

primeiros geralmente são de

deteção de eventos breves de

dispositivos, sendo os mais populares

derivação única (DI), possuindo 2

fibrilhação auricular (FA) ou outras

os smartwatches e as smartbands. O

elétrodos, um na região posterior do

arritmias que de outra forma

utilizador poderá, assim, adquirir um

relógio e outro de localização variável,

poderiam não ser detetadas pela

maior controlo da sua saúde, através

permitindo a gravação durante 30

normalização do ritmo aquando da

da monitorização de uma variedade de

segundos de um traçado, que pode

realização de um ECG formal. Uma

parâmetros que vão desde os sinais

ser visualizado em tempo real no ecrã

derivação única permite identificar os

vitais até ao nível de eletrólitos ou

do relógio, guardado e exportado para

complexos QRS, apontando os

diagnóstico de arritmias.

PDF. A gravação assíncrona das

estudos para uma correta

A utilidade destes dispositivos vai

derivações bipolares e das 6

diferenciação entre bradicardia

além do que possamos imaginar

derivações unipolares precordiais é

sinusal e bloqueio aurículo-ventricular

tendo um papel interessante no

também possível através da alteração

em 81% dos casos.5

âmbito da medicina de emergência e

da zona de contacto posterior do

Estes dispositivos podem ser também

no pré-hospitalar através da deteção

smartwatch e do segundo ponto de

utilizados durante o aparecimento de

de quedas, de variações importantes

contacto.

palpitações e sintomas vaso-vagais

da frequência cardíaca (FC) ou da

Os dispositivos baseados em PPG

com o objetivo de diferenciar uma

saturação de oxigénio (SpO2) e

monitorizam a FC e detetam arritmias

alteração do ritmo de uma causa não

monitorização do ritmo cardíaco.

através de uma técnica que analisa o

cardíaca, na investigação de causas

Além disso, a sua utilização pode

pulso periférico. A fonte de luz e o

de sintomatologia associada ao

contribuir para otimização da eficácia

detetor são usados para medir as

exercício físico e introdução e manejo

da ressuscitação cardiopulmonar e

alterações no volume sanguíneo na

de fármacos potencialmente

monitorização dos níveis de stress

superfície da pele, detetando

causadores de bradicardia (beta-

das equipas de emergência, levando a

variações na intensidade da luz

bloqueantes, bloqueadores dos

que sejam delineadas estratégias

refletida, gerando uma onda de pulso

canais de cálcio) ou prolongamento

para minimizar o seu impacto.

periférico. Este método é menos

do QRS (flecainida, lítio).5

desenvolvimento e adaptação de 1

2

1

3,4

Indice

55


56

Uma metanálise recente acerca da

A monitorização do intervalo QT,

referidas, é possível detetar eventos

tecnologia do smartwatch demonstrou

especialmente recorrendo à

arrítmicos que podem ser

uma relação de não inferioridade

reprodução das derivações DII e V5,

adequadamente tratados,

quando comparada com as estratégias

também se demonstrou adequada em

nomeadamente com controlo precoce

de monitorização formal da FA. O

85-94% dos utilizadores. Contudo, a

do ritmo, prevenindo eventos com

Apple Heart Study demonstrou que nos

monitorização automática do QTc não

morbimortalidade importante

doentes que receberam uma

está disponível nos smartwatches

associada, como a ocorrência de

notificação de pulso irregular, 84%

comercializados atualmente,

tiveram a confirmação formal de

necessitando de validação futura.

eventos de paragem

ocorrência de um evento de FA.

Com todas as aplicações acima

cardiorrespiratória (PCR). Além disso,

6,7

56

Indice

acidente vascular cerebral (AVC) ou 5


LIFESAVING TRENDS - INOVAÇÕES EM EMERGÊNCIA MÉDICA

a gravação do traçado

doentes com doença arterial

PCR

eletrocardiográfico vai permitir ao

isquémica cruzou os traçados de ECG

O projeto HEART-SAFE (Home

médico que presta o primeiro auxílio,

obtidos com o Apple Watch e o ECG

Emergency Alerting and Response

uma melhor facilidade no diagnóstico

convencional de 12 derivações e não

Technology – Survive A Fatal Event) tem

do evento desencadeante e atuação

demonstrou diferenças na avaliação

o objetivo de detetar de forma precisa

em concordância.1

da onda Q, onda R, segmento ST e

uma PCR fora do hospital, com recurso

No entanto, existem algumas

onda T. Verificou-se uma correlação

à identificação de ausência de

limitações: ainda não existe evidência

muito forte na análise do segmento

pulsatilidade, deteção de queda e

bem estabelecida de que a deteção

ST, forte na avaliação das ondas Q e R

ausência de movimento. Este algoritmo

de ritmos irregulares melhora a

e moderada para as ondas T,

é integrado nos sistemas de

morbilidade e a mortalidade;8 a

sustentando publicações prévias

emergência através da emissão de um

gravação do traçado necessita de ser

acerca da utilização dos

alerta automático. O objetivo é a

ativada pelo utilizador, sendo

smartwatches na deteção precoce

chegada precoce das equipas de

necessários pelo menos 30 segundos,

destes eventos.3,4

emergência para que ocorra uma

pelo que arritmias breves ou com

As limitações deste método são a

recuperação da circulação espontânea

instabilidade hemodinâmica

menor sensibilidade no diagnóstico

com um bom outcome clínico.1,10

associada podem não ser

de alterações da repolarização nas

Relativamente à realização de

registadas;7,8 os falsos positivos

derivações inferiores e na deteção de

ressuscitação cardiopulmonar de

podem conduzir a investigação

enfartes inferiores ou laterais-altos,

qualidade, existem alguns estudos que

diagnóstica desnecessária; e, a

por não ser possível realizar as

incorporam uma aplicação no

derivação DI não é a ideal para

derivações aVR, aVF e aVL.4

smartwatch capaz de monitorizar a profundidade e ritmo das compressões

avaliação da onda P.7 AVC

torácicas, com a possibilidade de

Enfarte agudo do miocárdio (EAM)

A tecnologia atual possui

fornecer um áudio do ritmo adequado,

A utilização dos smartwatches para

acelerómetros que medem alterações

sendo os resultados compatíveis com

deteção de eventos de EAM ainda não

da velocidade no eixo X, Y e Z e

uma melhoria da qualidade com

se encontra validada. Contudo, em

giroscópios que analisam

feedback em tempo real.11

caso de dor torácica, o utilizador pode

movimentos rotacionais. Estes

realizar ECG assíncronos das várias

sensores permitem, através de

Sinais vitais

derivações (DI a DIII e V1 a V6).3,4

softwares que se encontram em

A monitorização de sinais vitais como

Baseando-nos na premissa que

desenvolvimento, detetar alteração

a FC, SpO2, frequência respiratória e

tempo é músculo, o diagnóstico

do movimento (queda/plegia/ataxia),

temperatura pode fornecer alertas

precoce do EAM permite reduzir o

da escrita de texto (em teclado

precoces de exacerbação de doenças

tamanho de miocárdio afetado,

eletrónico), do discurso (afasia/

pré-existentes, nomeadamente

melhorando o prognóstico.4 Com

disartria) e dos sinais vitais (FC ou

respiratórias. Os estudos demonstram

recurso a este método que pode, de

SpO2), gerando um algoritmo capaz

muito boa correlação entre a SpO2

uma forma quase instantânea, fazer

de reunir toda a informação e

avaliada pelo smartwatch e os valores

chegar os traçados de ECG à equipa

levantar a suspeita de AVC. Esta

gasimétricos.12

médica de emergência pré-hospitalar,

tecnologia, para além de ativar os

No futuro, estes dados podem ser

o diagnóstico pode ser agilizado e o

serviços de emergência pode estimar

uma informação valiosa para guiar o

doente transportado com maior

com alguma exatidão, o tempo de

timing de ativação dos serviços de

rapidez para um centro com

início de sintomas, fator que

emergência, podendo ser englobados

capacidade de realização de

apresenta impacto na elegibilidade

num algoritmo que determina o tipo

intervenção coronária percutânea.

do doente para determinadas opções

de viaturas e equipas de emergência

Um estudo observacional com 25

terapêuticas.9

a ativar.

Indice

57


58

58

Indice


LIFESAVING TRENDS - INOVAÇÕES EM EMERGÊNCIA MÉDICA

CONCLUSÃO

3.

Han, C., Song, Y., Lim, H. S., Tae, Y., Jang, J. H., Lee,

11.

Lu, T. C., Chang, Y. T., Ho, T. W., Chen, Y., Lee, Y. T.,

Os smartwatches têm vindo a trazer

B. T., Lee, Y., Bae, W., & Yoon, D. (2021). Automated

Wang, Y. S., ... Turner, A. M. (2019). Using a

revoluções tecnológicas na área da

Detection of Acute Myocardial Infarction Using

smartwatch with real-time feedback improves the

auto-monitorização e deteção de

Asynchronous Electrocardiogram Signals-Preview

delivery of high-quality cardiopulmonary

situações com potencial impacto

of Implementing Artificial Intelligence With

resuscitation by healthcare professionals.

prognóstico. O empoderamento dos

Multichannel Electrocardiographs Obtained From

Resuscitation, 140, 16-22. DOI: 10.1016/j.

utilizadores na gestão da sua saúde

Smartwatches: Retrospective Study. J Med

resuscitation.2019.04.050.

pode fornecer uma motivação para

Internet Res, 23(9), e31129. Doi: 10.2196/31129.

um estilo de vida saudável. Por outro

Arslan, B., Sener, K., Guven, R., Kapci, M., Korkut, S.,

Suárez, M. B., Izcob, M. P., Pueyoc, P. P., Graneroa,

Sutasir, M. N., Tekindal, M. A. (2023). Accuracy of

lado, pode condicionar situações de

C. L., Montalvoa, J. G., Salinas, G. L. A. Smartwatch

the Apple Watch in measuring oxygen saturation:

ansiedade desnecessárias

ECG Tracing and Ischemic Heart Disease: ACS

comparison with pulse oximetry and ABG. Ir J Med

relacionadas com investigações de

Watch Study. DOI: 10.1159/000528116.

Sci. DOI: 10.1007/s11845-023-03456-w.

falsos positivos/ achados

4.

12.

5.

Strik, M., Ploux, S., Weigel, D., Zande, J. v. d.,

artefactuais.

Velraeds, A., Racine, H.-P., Ramirez, F. D.,

Qualquer ativação automática dos

Haïssaguerre, M., Bordachar, P. (2023). The use of

sistemas de emergência necessita de

smartwatch electrocardiogram beyond arrhythmia

um algoritmo robustamente

detection. Trends in Cardiovascular Medicine. DOI:

desenhado e aplicado para evitar

10.1016/j.tcm.2022.12.006.

falsos alertas. Contudo, com a

6.

Perez, M. V., Mahaffey, K. W., Hedlin, H., Rumsfeld,

informação fornecida cada vez mais

J. S., Garcia, A., Ferris, T., ... Turakhia, M. P. (2019).

fidedigna, a escolha do tipo de equipa

Large-Scale Assessment of a Smartwatch to

de emergência e a sua chegada

Identify Atrial Fibrillation. N Engl J Med, 381(20),

precoce poderão fazer a diferença!

1909-1917. DOI: 10.1056/NEJMoa1901183 7.

Pay, L., Yumurtaş, A. Ç., Satti, D. I., et al. (2023).

BIBLIOGRAFIA

Arrhythmias beyond atrial fibrillation detection

1.

Svennberg, E., Tjong, F., Goette, A., Akoum, N., Di

using smartwatches: A systematic review. Anatol

Biase, L., Bordachar, P., Boriani, G., Burri, H., Conte,

J Cardiol, 27(3), 126-131. DOI: 10.14744/

G., Deharo, J. C., Deneke, T., Drossart, I., Duncker,

AnatolJCardiol.2023.2799

D., Han, J. K., Heidbuchel, H., Jais, P., Oliveira

Demkowicz, P. C., Dhruva, S. S., Spatz, E. S., Beatty,

Figueiredo, M. J. de, Linz, D., Lip, G. Y. H.,

A. L., Ross, J. S., Khera, R. (2023). Physician

Malaczynska-Rajpold, K., Márquez, M. F., Ploem,

responses to apple watch-detected irregular

C., Soejima, K., Stiles, M. K., Wierda, E., Vernooy, K.,

rhythm alerts. American Heart Journal, 262, 29-37.

Leclercq, C., Meyer, C., Pisani, C., Pak, H. N., Gupta,

DOI: 10.1016/j.ahj.2023.04.008.

D., Pürerfellner, H., Crijns, H. J. G. M., Chavez, E. A.,

9.

Acute Stroke Symptom Detection and Emergency

Kavoor, P., Turagam, M. K., Sinner, M. (2022). How

Medical Systems Alerting by Mobile Health

to use digital devices to detect and manage

Technologies: A Review. Journal of Stroke and

arrhythmias: an EHRA practical guide. EP

Cerebrovascular Diseases, 30(7), 105826. DOI:

Europace, 24(6), 979–1005. DOI: 10.1093/

10.1016/j.jstrokecerebrovasdis.2021.105826. 10.

EDITORA

Bat-Erdene, B.-O., Saver, J. L. (2021). Automatic

Willems, S., Waldmann, V., Dekker, L., Wan, E.,

europace/euac038. 2.

8.

INÊS PORTELA Médica Anestesiologista, VMER

REVISÃO

Schober, P., van den Beuken, W. M. F., Nideröst, B.,

Kang, H. S., & Exworthy, M. (2022). Wearing the

Kooy, T. A., Thijssen, S., Bulte, C. S. E., ... Schwarte, L.

Future-Wearables to Empower Users to Take

A. (2022). Smartwatch based automatic detection of

Greater Responsibility for Their Health and Care:

out-of-hospital cardiac arrest: Study rationale and

Scoping Review. JMIR Mhealth Uhealth, 10(7),

protocol of the HEART-SAFE project. Resusc Plus, 12,

e35684. DOI: 10.2196/35684.

100324. DOI: 10.1016/j.resplu.2022.100324.

COMISSÃO CIENTÍFICA

Indice

59


60

60

Indice


VAMOS PÔR O ECG NOS EIXOS

VAMOS PÔR O ECG NOS EIXOS

PONTE PARA UM ENFARTE…COMBINADO Nina Den Boer1; Fernanda Munhoz2 1 2

Interna de Formação Específica de Medicina Interna, Unidade Local de Saúde do Algarve - Unidade de Faro Serviço de Urgência Polivalente, Unidade Local de Saúde do Algarve - Unidade de Faro

Figura 1 - ECG de 12 derivações: Ritmo sinusal, 66 bpm, sem desvio do eixo, má progressão da onda R nas derivações precordiais, com supradesnivelamento do segmento ST de 2-3mm nas derivações V3 a V6 e de 2mm em DII, DIII e aVF.

Doente de 55 anos de idade, do sexo

derivações V3 a V5 e de 2mm em DII,

troponina de alta sensibilidade

feminino, sem antecedentes pessoais

DIII e aVF, compatível com enfarte

(hs-cTn) máxima de 1076 pg/mL.

e familiares de relevo. Inicia quadro

agudo do miocárdio com elevação do

Além da terapêutica médica com

de dor torácica retrosternal de

segmento ST (STEMI) combinado

beta-bloqueante (BB)

caráter persistente, associada a

(anterior e inferior). Foi medicada

e bloqueadores dos canais de cálcio

sudorese profusa e náuseas, sem

com aspirina, ticagrelor, heparina não

(BCC), a doente implantou

fatores de alívio. Ativada a

fracionada e ativada Via Verde

um cardioversor-desfibrilhador

emergência pré-hospitalar ao

Coronária e transportada de forma

implantável (CDI) em prevenção

domicílio. Na presença da equipa de

emergente para a sala de

secundária.

emergência, presenciada paragem

Hemodinâmica do Serviço de

cardiorrespiratória (PCR) em ritmo

Cardiologia. Fez cateterismo

A doença cardiovascular (DCV) é a

desfibrilhável em fibrilação

cardíaco (CAT) emergente que

causa mais comum de mortalidade e

ventricular , com recuperação de

revelou: ponte miocárdica do

morbilidade no mundo, com especial

circulação espontânea e ritmo

segmento médio da artéria coronária

incidência nos países ocidentais, onde

sinusal (RS) ao final de 1 ciclo de

descendente anterior (DA), artéria

doença arterial coronária (DAC)

suporte avançado de vida com

esta que se estende para além do

assume o papel principal. Dos doentes

administração de 1 choque não

ápex cardíaco irrigando igualmente a

com dor torácica que desenvolvem

sincronizado. Primeiro

parede inferior do ventrículo

síndromes coronárias agudas (SCA),

eletrocardiograma de 12 derivações

esquerdo – “wrap-around”. Não se

apenas 30-40% apresentam-se sob a

(ECG12d) pós PCR em RS 66 bpm,

observou doença coronária

forma de STEMI no ECG12d à

com supradesnivelamento do

aterosclerótica significativa.

admissão hospitalar, sendo sujeitos

segmento ST de 2-3mm nas

Biomarcadores positivos com

invariavelmente a uma estratégia de

Indice

61


62

62

Indice


VAMOS PÔR O ECG NOS EIXOS

reperfusão emergente. O enfarte do

definitivo comprovado.

10.1016/j.jacc.2014.01.049. Epub 2014 Feb 26.

miocárdio com artérias coronárias não

No que se refere aos enfartes

PMID: 24583304; PMCID: PMC4065198.

obstrutivas (MINOCA) é definido como

combinados, a elevação do segmento

enfarte do miocárdio cumprindo

ST nas derivações anteriores e

Up-to-Date Review. J Invasive Cardiol. 2015

critérios pela 4a definição universal de

inferiores tem sido pouco estudado e

Nov;27(11):521-8. Epub 2015 May 15. PMID:

enfarte do miocárdio, mas que

existem dados limitados sobre o seu

25999138; PMCID: PMC4818117.

apresentam DAC não obstrutiva

significado clínico. Angiograficamente,

(estenose epicárdica <50%),

compreendem 2 grupos distintos:

DA, Ross A, et al. Clinical and angiographic

considerado um “working diagnosis”,

lesão oclusiva em 2 artérias

characteristics of patients with combined anterior

onde se podem encaixar várias

epicárdicas simultaneamente

and inferior ST-segment elevation on the initial

entidades. A prevalência é de 1% a

(habitualmente na DA e coronária

electrocardiogram during acute myocardial

14% dos doentes com SCA

direita (CD)); ou oclusão DA média ou

infarction. Am Heart J. 2003 Oct;146(4):653-61.

submetidos a coronariografia.

distal, artéria esta que se estende para

doi: 10.1016/S0002-8703(03)00369-7. PMID:

Abrange um grupo heterogêneo de

além do ápex cardíaco para irrigar o

14564319.

causas subjacentes, incluindo causas

segmento apical da parede inferior,

coronárias e não coronárias, sendo a

denominada por esse motivo de DA

ponte miocárdica uma das causas

“wrap around”. Este último grupo

frequentes. A ponte miocárdica é uma

(comparativamente com o primeiro)

anomalia congênita na qual um

tem habitualmente uma melhor

segmento de uma artéria coronária

evolução clínica, fruto de uma menor

epicárdica segue um percurso

extensão de lesão miocárdica

intramuscular (intramiocárdico),

provocada pelo enfarte

4.

5.

Lee MS, Chen CH. Myocardial Bridging: An

Sadanandan S, Hochman JS, Kolodziej A, Criger

estando assim sujeito à mecânica miocárdica com compressão dos vasos em sístole, resultando em

BIBLIOGRAFIA

alterações hemodinâmicas que

1.

Robert A Byrne, Xavier Rossello, J J Coughlan,

podem estar associadas a dor

Emanuele Barbato, Colin Berry, et al. 2023 ESC

anginosa por isquemia ou enfarte do

Guidelines for the management of acute coronary

território afetado. Neste contexto,

syndromes: Developed by the task force on the

fenómenos disrítmicos e morte súbita

management of acute coronary syndromes of the

cardíaca podem igualmente ocorrer. O

European Society of Cardiology (ESC), European

seu tratamento não está bem

Heart Journal, Volume 44, Issue 38, 7 October

estabelecido e a evidência é parca,

2023, Pages 3720–3826, https://doi.org/10.1093/

embora a primeira linha de tratamento

eurheartj/ehad191

seja médica com fármacos BB e BCC

2.

L. Erhardt, J. Herlitz, L. Bossaert, M. Halinen, M.

se espasmo associado. A abordagem

Keltai, et al. Task force on the management of

cirúrgica com bypass coronário ou

chest pain, European Heart Journal, Volume 23,

miotomia pode ser uma alternativa,

Issue 15, 1 August 2002, Pages 1153–1176,

mas com resultados pouco

https://doi.org/10.1053/euhj.2002.3194

consistentes. Nos doentes que se

3.

EDITORA

TERESA MOTA Assistente hospitalar de Cardiologia - CHVNG/E EDITOR

Corban MT, Hung OY, Eshtehardi P, Rasoul-

apresentam em PCR por disritmias

Arzrumly E, McDaniel M, Mekonnen G, et al.

ventriculares malignas, a implantação

Myocardial bridging: contemporary understanding

de CDI em prevenção secundária deve

of pathophysiology with implications for

ser considerada, perante a presença

diagnostic and therapeutic strategies. J Am Coll

de uma entidade sem tratamento

Cardiol. 2014 Jun 10;63(22):2346-2355. doi:

HUGO COSTA Interno de formação Específica de cardiologia - CHUA

Indice

63


64

64

Indice


IMAGEM EM URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

IMAGEM EM URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

EDEMA CERVICAL E DOS MEMBROS SUPERIORES Isabel V. Rodrigues1,2,3,4, Paula Pinto5, Claúdia Gaspar1, Joana Oliveira1, André Patraquim1 Internos de Formação Específica em Medicina Interna - ULSAlg – Hospital de Faro Viatura Médica de Emergência e Reanimação Faro/Albufeira 3 Centro de Orientação de Doentes Urgentes - Faro 4 Serviço de Helicópteros de Emergência Médica 5 Interna de Formação Específica em Pneumologia ULSAlg – Hospital de Faro 1 2

Homem, 79 anos, recorreu ao

furosemida e prednisolona,

gástrica perfurada, e

Serviço de Urgência por edema

sem benefício e com

tabagismo (130 UMA).

exuberante do pescoço e dos

desenvolvimento de tosse

Realizou radiografia e

membros superiores, cansaço

hemoptoica. Refere perda

tomografia torácicas com

fácil e dispneia a pequenos

ponderal de 6 Kgs em 3 meses.

identificação de massa

esforços com 3 semanas de

Antecedentes pessoais:

mediastínica com

evolução. Previamente

síndrome depressivo, doença

compressão/invasão da Veia

observado pelo seu médico

hepática crónica de etiologia

Cava Superior (VCS).

assistente, medicado com

etanólica (em evicção), úlcera

Qual é a causa da compressão? A. Mediastinite B. Pneumonia Fúngica C. Tumor de Pancoast D. Aneurisma da Aorta Torácica

Indice

65


66

66

Indice


IMAGEM EM URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

tumores quimiosenssíveis.

TEXTO EXPLICATIVO

Angioplastia com colocação de stent

C (Tumor de Pancoast)

como primeira linha pode ser

O Síndrome da Veia Cava Superior

recomendado. Um bypass cirúrgico

(SVCS) é uma emergência médica

pode ser uma opção paliativa1.

constituída por sinais e sintomas

Neste doente instituímos terapêutica

causados pela obstrução do fluxo

conservadora, com benefício clínico,

sanguíneo nesse vaso. Neste doente,

apesar de manter edema dos

é secundário a tumor de Pancoast

membros superiores. Por não

(sem Síndrome de Horner).

apresentar dificuldade respiratória e

Foi descrito por William Hunter em

por ter um trombo extenso, optou-se

1757 e em 1954 Schechter reviu

por não colocar stent endovascular

casos documentados, 40%

(risco de tromboembolismo no

secundários a aneurismas aórticos

procedimento), estando

sifilíticos ou tuberculose

anticoagulado

mediastínica . Atualmente, 1

aproximadamente 70% dos casos de SVCS são secundários a neoplasias

BIBLIOGRAFIA

do pulmão1,2.

1.

Nickloes, T.A.; Kallab, A.M.; Dunlap, A.B.. Superior

Os sintomas melhoram com

vena cava syndrome (SVCS): Practice Essentials,

tratamento conservador: elevação da

Pathophysiology, Etiology. Medscape [Internet]

cabeceira, oxigenioterapia, diuréticos

2022. [Atualizado a 8 março 2022]. Disponível em:

e corticoterapia (dexametasona) .

https://emedicine.medscape.com/article/460865-

Tratamento emergente está indicado

overview?form=fpf (acedido a 23 janeiro 2024)

1,2

em: edema cerebral, débito cardíaco

2.

EDITORA

CATARINA COSTA Médica VMER. Médica Medicina Interna - CHUA - Faro REVISÃO

Seligson, M.T.; Surowiec, S.M. Superior Vena Cava

reduzido, ou edema da via aérea

Syndrome StatPearls [Internet] 2022. [Atualizado a

superior. A radioterapia é o

26 setembro 2022]. Disponível em: https://www.

tratamento standard no entanto, a

ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK441981/ (acedido a

quimioterapia pode ser preferível em

23 janeiro 2024)

COMISSÃO CIENTÍFICA

Indice

67


68

68

Indice


APEMERG

Indice

69


70

Centro Académico de Investigação e Formação Biomédica do Algarve 70

Indice


APEMERG

Indice

71


CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO – Novembro de 2022

72

1. Objectivo e âmbito

2. Informação Geral

3. Direitos Editoriais

A Revista LIFESAVING SCIENTIFIC (LF Sci) é um órgão de publicação pertencente ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) e dedica-se à promoção da ciência médica pré-hospitalar, através de uma edição trimestral. A LF Sci adopta a definição de liberdade editorial descrita pela World Association of Medical Editors, que entrega ao editor-chefe completa autoridade sobre o conteúdo editorial da revista. O CHUA, enquanto proprietário intelectual da LF Sci, não interfere no processo de avaliação, selecção, programação ou edição de qualquer manuscrito, atribuindo ao editorchefe total independência editorial. A LF Sci rege-se pelas normas de edição biomédica elaboradas pela International Commitee of Medical Journal Editors e do Comittee on Publication Ethics.

A LF Sci não considera material que já foi publicado ou que se encontra a aguardar publicação em outras revistas. As opiniões expressas e a exatidão científica dos artigos são da responsabilidade dos respetivos autores. A LF Sci reserva-se o direito de publicar ou não os artigos submetidos, sem necessidade de justificação adicional. A LF Sci reserva-se o direito de escolher o local de publicação na revista, de acordo com o interesse da mesma, sem necessidade de justificação adicional. A LF Sci é uma revista gratuita, de livre acesso, disponível em https:// issuu.com/lifesaving. Não pode ser comercializada, sejam edições impressas ou virtuais, na parte ou no todo, sem autorização prévia do editor-chefe.

Os artigos aceites para publicação ficarão propriedade intelectual da LF Sci, que passa a detentora dos direitos, não podendo ser reproduzidos, em parte ou no todo, sem autorização do editor-chefe.

72

Indice

4. Critérios de Publicação 4.1 Critérios de publicação nas rúbricas A LF Sci convida a comunidade científica à publicação de artigos originais em qualquer das categorias em que se desdobra, de acordo com os seguintes critérios de publicação: Artigo Científico Original - Âmbito: apresentação de resultados sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar de adultos. Dimensão recomendada: 1500 a 4000 palavras.


CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO

Temas em Revisão - Âmbito: Revisão extensa sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar de adultos. Dimensão recomendada: 1500 a 3500 palavras. Hot Topic - Âmbito: Intrepretação de estudos clínicos, divulgação de inovações na área pré-hospitalar recentes ou contraditórias. Dimensão recomendada: 1500 a 3500 palavras. Rúbrica Pediátrica - Âmbito: Revisão sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar no contexto pediátrico. Dimensão recomendada: 1500 a 3500 palavras. Casos Clínicos (Adulto) - Âmbito: Casos clínicos que tenham interesse científico, relacionados com situações de

emergência em adultos. Dimensão recomendada: 1000 palavras. Casos Clínicos (Pediatria) - Âmbito: Casos clínicos que tenham interesse científico, em contexto de situações de emergência em idade pediátrica. Dimensão recomendada: 1000 palavras. Casos Clínicos (Neonatalogia) - Âmbito: Casos clínicos que tenham interesse científico, que reportem situações de emergência em idade neonatal. Dimensão recomendada: 1000 palavras. LIFESAVING Trends - Inovações em Emergência Médica - Âmbito: Artigo com estrutura de "Correspondência", privilegiando a divulgação de novidades tecnológicas, de dispositivos inovadores, ou de atualizações de equipamentos ou práticas atuais. Limite de Palavras: máximo 1500 palavras; Limite de tabelas e figuras:6

Imagem em Urgência e Emergência - Âmbito/Objetivo: divulgar imagens-chave no diagnóstico e abordagens de patologias no âmbito da urgência e emergência. Podem ser obtidas através do exame físico, investigação básica ou estudo imagiológico. O consentimento informado escrito é requerido no caso em que a imagem contenha a face ou outro detalhe que permita identificar os intervenientes. Estrutura do artigo: Título (que não deve conter o diagnóstico); autores e filiação; nota introdutória com descrição breve da imagem e/ou do seu contexto; 1 a 2 imagens; questão de escolha múltipla com 4 hipóteses (apenas uma resposta correta); texto explicativo da resposta correta com referência à literatura. Máximo de 300 palavras. Imagem: em formato .jpeg, com resolução original. Bibliografia: máximo de 5 referências

Indice

73


4.2 Critérios gerais de publicação O trabalho a publicar deverá ter no máximo 120 referências. Deverá ter no máximo 6 tabelas/figuras devidamente legendadas e referenciadas. O trabalho a publicar deve ser acompanhado de no máximo 10 palavras-chave representativas. No que concerne a tabelas/figuras já publicadas é necessário a autorização de publicação por parte do detentor do copyright (autor ou editor). Os ficheiros deverão ser submetidos em alta resolução, 800 dpi mínimo para gráficos e 300 dpi mínimo para fotografias em formato JPEG (.Jpg), PDF (.pdf). As tabelas/figuras devem ser numeradas na ordem em que ocorrem no texto e enumeradas em numeração árabe e identificação. No que concerne a casos clínicos é necessário fazer acompanhar o material a publicar com o consentimento informado do doente ou representante legal, se tal se aplicar. No que concerne a trabalhos científicos que usem bases de dados de doentes de instituições é necessário fazer acompanhar o material a publicar do consentimento da comissão de ética da respetiva instituição. As submissões deverão ser encaminhadas para o e-mail: revistalifesaving@gmail.com

4.3 Critérios de publicação dos artigos científicos. Na LIFESAVING SCIENTIFIC (LF Sci) podem ser publicados

74

Indice

Artigos Científicos Originais, Artigos de Revisão ou Casos Clínicos de acordo com a normas a seguir descritas. Artigos Científicos O texto submetido deverá apresentado com as seguintes secções: Título (português e inglês), Autores (primeiro nome, último nome, título, afiliação), Abstract (português e inglês), Palavras-chave (máximo 5), Introdução e Objetivos, Material e Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão, 74 Agradecimentos, Referências. O texto deve ser submetido com até 3 Take-home Messages que no total devem ter até 50 palavras. Não poderá exceder as 4.000 palavras, não contando Referências ou legendas de Tabelas e Figuras. Pode-se fazer acompanhar de até 6 Figuras/Tabelas e de até 60 referências bibliográficas. O resumo/ abstract não deve exceder as 250 palavras. Se revisão sistemática ou meta-análise deverá seguir as PRISMA guidelines. Se meta-análise de estudo observacionais deverá seguir as MOOSE guidelines e apresentar um protocolo completo do estudo. Se estudo de precisão de diagnóstico, deverá seguir as STARD guidelines. Se estudo observacional, siga as STROBE guidelines. Se se trata da publicação de Guidelines Clínicas, siga GRADE guidelines. Este tipo de trabalhos pode ter no máximo 6 autores.

Artigos de Revisão O objetivo deste tipo de trabalhos é rever de forma aprofundada o que é conhecido sobre determinado tema de importância clínica. Poderá contar com, no máximo, 3500 palavras, 4 tabelas/figuras, não mais de 50 referências. O resumo (abstract) dos Artigos de Revisão segue as regras já descritas para os resumos (abstract) dos Artigos Científicos. Este tipo de trabalho pode ter no máximo 5 autores. Caso Clínico Com este tipo de publicação pretende-se o relato de caso, ou séries de casos, que pela sua raridade, inovações diagnósticas, terapêuticas aplicadas ou resultados clínicos inesperados, seja digno de partilha com a comunidade científica. Encoraja-se o uso da checklist das CARE Guidelines na organização do artigo. O autor deverá possuir consentimento informado para publicação do caso. Instruções para os autores: - Máximo de 4 autores (sem possibilidade de alterar ou acrescentar autores após submissão à revista) - Subdivisão em Resumo, Relato de Caso, Discussão - Resumo inferior a 150 palavras, acompanhado de até um máximo de 5 palavras chave, dirigido em português com tradução para inglês (Abstract/Keywords). - Descrição do caso e discussão, até 1000 palavras, excluindo referências bibliográficas.


CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO

- As figuras ou tabelas deverão ser clinicamente relevantes e estar devidamente legendadas, com referência bibliográfica caso aplicável; - Máximo de 10 referências bibliográficas, devendo cumprir as normas instituídas na revista. Cartas ao Editor - Objetivo: comentário/exposição referente a um artigo publicado nas últimas 4 edições da revista promovendo a discussão e visão crítica. Poderão ainda ser enviados observações, casuísticas particularmente interessantes de temáticas atuais que os autores desejem apresentar aos leitores de forma concisa. - Instruções para os autores: 1. O corpo do artigo não deve ser subdividido; sem necessidade de resumo ou palavras-chave. 2. Deve contemplar entre 500 a 1000 palavras, excluindo referências, tabelas e figuras. 3. Apenas será aceite 1 figura e/ou 1 tabela. 4. Não serão aceites mais de 5 referências bibliográficas. Devendo cumprir as normas instituídas para revista. 5. Número máximo de autores são 4. Breves Reflexões sobre a Emergência Médica Âmbito: artigo de reflexão/opinião, com a exposição de ideias e pontos de vista sobre tema no âmbito da emergência médica, do ponto de vista conceptual, podendo a argumentação do Autor convidado, ser baseada na sua experiência pessoal ou na citação de livros,

revistas, artigos publicados, entre outros recursos de pesquisa, devidamente assinalados no texto; Estrutura do artigo: título, Autor(es) e afiliação; resumo e palavras-chave (facultativos), introdução, desenvolvimento, conclusão final, referências bibliográficas. Limite de palavras: 1500 Resumo (facultativo): máximo 100 palavras, em formato bilingue (português e inglês) Palavras-chave: máximo 5 palavras chave, em formato bilingue (português e inglês) Limite de tabelas e figuras: 3 Bibliografia: máximo 5 referências bibliográficas “Vamos pôr o ECG nos eixos” - Âmbito: Análise e interpretação de traçados eletrocardiográficos clinicamente contextualizados - Formato: Título; Autores – máx. 2 autores (primeiro nome, último nome, título, afiliação); 2 palavras-chave; 1 imagem (ECG ou tira de ritmo, em formato JPEG com resolução original); Legenda explicativa com breve enquadramento clínico e interpretação do traçado (ritmo, frequência, alterações da despolarização ou repolarização pertinentes no contexto) – máx. 300 palavras; Referências bibliográficas.

5. Referências Os autores são responsáveis pelo rigor das suas referências bibliográficas e pela sua correta citação no texto. Deverão ser sempre citadas as fontes originais publicadas. A citação deve ser registada empregando Norma de Vancouver.

6. Revisão por pares A LF Sci segue um processo single-blind de revisão por pares (peer review). Todos os artigos são inicialmente revistos pela equipa editorial nomeada pelo editor-chefe e caso não estejam em conformidade com os critérios de publicação poderão ser rejeitados antes do envio a revisores. A aceitação final é da responsabilidade do editor-chefe. Os revisores são nomeados de acordo com a sua diferenciação em determinada área da ciência médica pelo editor-chefe, sem necessidade de justificação adicional. Na avaliação os artigos poderão ser aceites para publicação sem alterações, aceites após modificações propostas pela equipa editorial ou recusados sem outra justificação.

7. Erratas e retrações A LF Sci publica alterações, emendas ou retrações a artigos previamente publicados se, após publicação, forem detetados erros que prejudiquem a interpretação dos dados

Indice

75


76

76

Indice


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.