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Ano XIII - Número 712 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo
Curitiba, 10 de maio de 2012
lona.up.com.br
Geral
Editorial
Perfil
ONG é criada para alertar sobre acidentes de surfistas com itens de pesca
Desacato à autoridade não será mais considerado crime
Conheça parte da carreira do escritor Jaime Prado Gouvea
Pág. 4
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Feira de Empregabilidade na UP aproxima alunos e empresas
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Angelo Sfair
A segunda edição da Workshare termina hoje, na Universidade Positivo. A feira dispõe de 18 estandes de diversas empresas, nos quais os alunos podem receber orientações e deixar currículos. Há também um ciclo de palestras para os universitários, abordando temas como empreendedorismo e empregabilidade.
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Editorial
Desacatar o cidadão pode, a autoridade não
Quando se entra em muitas repartições públicas, comumente se encontra a enfadonha placa: “Artigo 331 – Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa”. A lei protege todos os que trabalham no serviço público contra as agressões que possam sofrer no exercício da atividade profissional. Ocorre que o uso dessa lei – de 1940 – acaba se tornando um Habeas Corpus preventivo para aqueles que, amparados por um contrato de trabalho que prevê a estabilidade no serviço, não estão dispostos a bem atender a sociedade que lhes provê os salários. Quando se fala nos vultuosos valores pagos para o exercício de algumas carreiras públicas, os olhos dos estudantes de cursinhos preparatórios reluzem só de imaginar a aprovação no concurso, todavia, a vontade, vocação e até mesmo o preparo para o exercício da função nem sempre se equipara aos astronômicos salários percebidos por estes servidores. Uma das muitas mudanças previstas para o novo Código Penal sentencia o fim do Artigo 331. No seu lugar ficará o crime de injúria que, ao ser cometido contra um funcionário público no exercício de sua função, será agravado pelo enquadramento de crime contra a honra. Importantíssimo que se perceba que o delito continua existindo, só mudando sua tipificação dentro do Código: o desacato agride a condição jurídica, ou seja, a função, o cargo; já a injúria, atinge a pessoa. Independentemente da mudança do enquadramento do tipo penal, o draconiano “desacato à autoridade” é um despropósito que não precisa encontrar revisão e sim ser extirpado da Lei. Ninguém agride quando encontra bons serviços e adequado atendimento, da mesma maneira que um funcionário do INSS merece ser respeitado, a atendente de uma companhia telefônica também precisa. Qual o cliente que bem atendido haverá de ser hostil e agressivo? Quem agride indevidamente qualquer trabalhador, do serviço público ou privado, merece ser enquadrado da mesma forma. Na mesma proporção, um mau atendimento ao público deveria ser alvo de sanções que coibissem a prática do “desacato ao cidadão”, reserva legal na qual se refestelam as instituições ineficientes e aqueles que maltratam os clientes/cidadãos.
Opinião
Na minha terra Maximilian Rox
Eu nasci em uma cidade que já foi capital do Paraná. Ela já foi rota de viagens comerciais, pousada para aqueles que levavam mercadorias até Sorocaba. Já hospedou um imperador; teve cinemas que convidavam toda a região dos Campos Gerais para sua tranquila praça. Foi noticiada por incidentes, por descobertas de corrupções envolvendo seu prefeito. Essa cidade é Castro, e assim como Lapa e diversas outras cidades paranaenses, apresenta as típicas características de uma cidade interiorana: bagagem histórica e marcante. Enquanto o desenvolvimento econômico centra-se nas grandes cidades e em nossa querida capital, a influência política das pequenas cidades consegue, aos poucos, trazer pequenos avanços. Ainda bem, pois avanço em demasia causaria uma situação delicada: a cidade perderia sua identidade. Aquela cidade onde os passos lentos das senhoras misturam-se ao fluxo esparso de carros, onde das lojinhas entram e saem pessoas no pequeno fervo do centro comercial - que são apenas algumas quadras. Que venham as indústrias, o desenvolvimento, se assim for, mas posicionem-se distante desse centro, dessa identidade. Eu moro em uma casa nessa pequena cidade em que nasci. Na frente dela há uma estrada de chão, que há cinco anos pedimos para asfaltar. Essa mesma estrada é uma das rotas em que tropeiros passavam, e o atraso na realização desse pedido nos faz acreditar, pouco a pouco, que a própria cidade quer manter sua história original.
A sociedade pede socorro! Tayná de Campos Soares
Em ano de eleição é muito comum vermos os políticos fazerem promessas sobre vários assuntos. Porém, o que me deixa mais indignada é quando eles falam sobre educação dizendo que ela é prioridade, mas o que vemos quando eles se elegem é total descaso. A educação no Brasil sempre foi muito precária, desde quando os padres jesuítas vieram para o Brasil no ano de 1549, onde por mais de 200 anos foram os únicos educadores. Em 1759, os padres foram expulsos de Portugal e de suas colônias, abrindo um enorme vazio que demorou a ser preenchido. A educação “sofreu” muitas mudanças. E durante muito tempo pessoas de classe baixa e mulheres não tinham o direito de estudar. Apenas em 1879, as mulheres ganharam o direito de estudar em instituições de ensino superior. Mas, mesmo assim, quem começou a estudar sofreu grande preconceito da sociedade. Podemos ver então, que o problema com a educação vem desde quando ela surgiu. Porque apesar de o tempo ter passado, a educação continua sendo precária. A diferença é que nos dias de hoje todos têm o direito de estudar e, com as Universidades, temos professores mais “capacitados”. O fato é que os políticos precisam valorizar mais a educação no País, incentivando os professores a ensinar, a educação no Brasil só vai melhorar quando houver um “acordo” entre governo, professores e a sociedade. Estamos em ano de eleição e esta é a hora de a sociedade falar, deve haver uma pressão por parte da população. O maior exemplo para isso acontecer é o caso do governador Beto Richa que, em uma declaração, disse que não é necessário os PMs terem ensino superior. Isso é “deprimente”, saber que figuras políticas tão importantes pensem assim. A verdade é que eles preferem pessoas ignorantes a pessoas inteligentes que talvez possam bater de frente com o governo.
Expediente Reitor: José Pio Martins | Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração: Arno Gnoatto | Pró-Reitora Acadêmica: Marcia Sebastiani | Coordenação dos Cursos de Comunicação Social: André Tezza Consentino | Coordenadora do Curso de Jornalismo: Maria Zaclis Veiga Ferreira | Professores-orientadores: Ana Paula Mira, Elza Aparecida de Oliveira Filha e Marcelo Lima | Editoras-chefes: Renata Silva Pinto, Suelen Lorianny e Vitória Peluso | Editorial: Oscar Cidri O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo. Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 - Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba - PR. CEP: 81280-30 - Fone: (41) 3317-3044.
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Último dia para conferir a Workshare Angelo Sfair Camila Cassins Gustavo Ribas
Começou ontem a 2ª edição da Workshare - Feira de Empregabilidade 2012, da Universidade Positivo. O evento foi organizado em parceria entre a Central de Carreiras e a Escola de Negócios da UP. Segundo a analista da central de carreiras, Larissa Rafaela Pelá, o objetivo da Workshare é aproximar o aluno da empresa, de modo que eles “consigam ficar mais próximos das empresas e ter uma chance de entrar”. Para alcançar seu objetivo, o evento dispõe de 18 stands de diferentes empresas, como IEL, HSBC, O Boticário, Eletrolux e GRPCom, que funcionam das 9h às 13h e das 17h às 21h. Eles contam com um funcionário responsável pela contratação, que deve fornecer informações sobre o funcionamento da empresa. Apenas o IEL e o CIEE buscam estudantes de todos os cursos. Havendo interesse do aluno, pode-se deixar o currículo ou fazer cadastramento na hora, dependendo de cada empresa. Já as palestras, todas realizadas no auditório 2 do bloco amarelo, devem auxiliar os alunos com questões referentes ao mercado de trabalho. Nesta 2ª edição, algumas mudanças foram tomadas. Ainda de acordo com a analista Larissa Pelá, foi realizada uma enquete com os alunos. A partir do resultado da enquete, foram escolhidos os temas pertinentes para as palestras. A relação com as empresas também foi alterada para o evento este ano. “Ano passado as empresas foram só convidadas, dessa vez estão pagando para estar aqui, a expectativa é mais alta”, diz Larissa. Primeiro dia de palestras Ontem, as palestras tiveram início às 8h30. A palestra “Liderança de Futuro - Um sistema global de sistemas” foi ministrada por Almir Neves, especialista em gestão empresarial, e teve como foco a evolução tecnológica, seu
impacto e sua necessidade nas empresas. Em sua palestra, Almir usou exemplos e pesquisas extremamente recentes. Além disso, foram utilizados vídeos, afim de complementar as falas e tornar a apresentação mais dinâmica. O efeito foi alcançado e a palestra foi leve e, ao mesmo tempo, didática. A primeira palestra teve fim às 9h45, possibilitando que os alunos visitassem os stands da feira com tranquilidade durante o intervalo. Os stands da GRPCom e do HSBC detinham a maior quantidade de estudantes no período da manhã. A partir das 11h, teve início a segunda palestra, “Marketing Pessoal - como se colocar no mercado de maneira autêntica e eficaz”, ministrada por Melina Kunifas, publicitária especialista em marketing pessoal. Com bom humor e usando diversos exemplos do cotidiano, ela mostrou que o marketing pessoal precisa ser trabalhado por todos, e como fazê-lo. As palestras da noite tiveram início às 19h30, após o fechamento do Lona. As informações sobre as palestras foram disponibilizadas pela central de carreiras, a partir dos slides iniciais de cada palestra. Não foi possível o contato com os palestrantes para mais informações. A primeira palestra foi realizada por Eridan Magalhães, especialista em gestão estratégica de pessoas, com o título “Assumindo o comando de sua carreira”. O objetivo do palestrante foi mostrar as etapas para o planejamento e a posterior realização da carreira profissional. Às 21h, teve início a palestra “Finanças pessoais e Carreira”, ministrada por Marlon Moura, administrador com vasta experiência em recursos humanos. A palestra tinha por objetivo mostrar como se dá o controle de finanças, possibilidades de investimentos, e a importância das finanças pessoais na carreira profissional.
Angelo Sfair
São esperados 3 mil visitantes nos dois dias da feira. 18 empresas estão abertas aos alunos
Feira é uma oportunidade para universitário conhecerem o mundo dos negócios
Programe-se O segundo e último dia da Workshare também estará repleto de atividades para alunos universitários. Além dos stands, que continuam atendendo no mesmo horário (das 9h à 13h e das 17h às 21h), mais quatro palestras serão apresentadas. Os stands estão instalados no eixo de vivência da Universidade Positivo e as palestras são ministradas no Auditório 2 do Bloco Amarelo. A primeira palestra do dia acontece às 8h30. Bernardo Wouk, diretor de criação da Eikón Comunicação e Mestre em
Comunicação e Linguagens, apresenta a palestra “Comunicação Eficaz”, dissertando sobre como utilizar o conhecimento como ferramenta empresarial e de relacionamento de negócios. Às 11h, a palestra “O Profissional de Sucesso” será apresentada pela especialista em Psicologia Organizacional e em Coaching Executivo e Empresarial, Maria Helena Milano, propondo uma reflexão sobre o sucesso e a importância de um planejamento de carreira. Na parte da noite, mais duas palestras fecham a 2ª
edição da Feira de Empregabilidade. Tiago Davi, nomeado empreendedor do ano de 2011 pela revista Pequenas Empresas e Grande Negócios, apresenta “Empreendedorismo”. E a palestra que fecha o Workshare é “Empregabilidade”, por Guilherme Jorge Bittencourt, gerente geral de Sistema de Qualidade da Bosch Curitiba. Esta é uma apresentação institucional da Bosch, que visa uma reflexão sobre o conceito de empregabilidade baseada na experiência própria do palestrante.
Serviço 2ª Workshare | Feira de Empregabilidade 2012 Local: Universidade Positivo. Rua Viriato Parigot de Souza, 5.300, Campo Comprido. Horário: Stands (9h às 13h e 17h às 21h) | Palestras (8h30, 11h, 19h30, 21h) Informações: (41) 3317-3250 | atendimento@adeventos.com.br
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Acidente com surfista estimula a criação de ONG Organização Não Governamental Parceiros do Mar quer reduzir os acidentes de surfistas com artefatos de pescas no litoral do Paraná Angelo Sfair Camila Cassins Gustavo Ribas
pesca traz aos surfistas e banhistas, Matos também constata que a instalação de redes fixas na beira da praia não traz nenhuma vantagem econômica para quem está pescando. “É uma questão cultural. Provou-se na justiça, no Supremo Tribunal Federal, que é uma atividade ilegal e nós precisamos divulgar isso para a sociedade”, afirma Matos. O papel da ONG Parceiros do Mar, criada pela família da Renata, é conscientizar a população e o governo para o acidente com os artefatos de pescas instalados ilegalmente. Para isso, a ONG já possui a página Surf Seguro no Facebook, que conta com mais de mil seguidores apoiando a causa. “Nós criamos a página para tornar pública a nossa luta, a nossa causa. O Surf Seguro é apenas um dos projetos
que a ONG está trabalhando”, afirma Lucile Turra, mãe de Renata. Além do objetivo de divulgar esse tipo de acidente e conscientizar surfistas e pescadores para os perigos constantes, Lucile também quer a ONG com objetivos ambientais e sociais, querendo apresentar propostas para mudar a legislação que regulamenta a atividade, intensificar a fiscalização e criar uma secretaria da pesca, por exemplo. Mesmo com esse tipo de enfoque, mais voltado à regulamentação da atividade pesqueira, Lucile explica que a intenção dos trabalhos da ONG Parceiros do Mar é trabalhar em harmonia, respeito e, assim, não querendo criar um conflito desnecessário entre pescadores e surfistas. “A nossa luta, a nossa causa, é a
favor da pesca, desde que seja feita dentro da lei. A nossa postura é de que possamos conviver todos juntos harmonicamente”, explica Lucile. Gil Cordeiro apoia a intenção de Lucile e comenta que na praia de Matinhos já há uma conversa desenvolvida entre pescadores e surfistas. “Na verdade há um acordo de cavalheiros. Os pescadores procuram não pescar em determinadas áreas e nós [surfistas] não surfamos em outras”, esclarece Cordeiro. A ONG Parceiros do Mar ainda está em processo de constituição, mas o projeto Surf Seguro já ganhou força na internet. Na página do projeto você pode acompanhar as principais informações a respeito do assunto. Para mais informações, acesse facebook. com/surfseguro. Lucile Turra
Acidentes envolvendo surfistas e artefatos de pesca ilegais são comuns, mas pouco divulgados. No início deste ano, um dos artefatos instalados fora da área delimitada pelo Instituto Ambiental do Paraná levou uma surfista à morte. No dia 02 de fevereiro deste ano, Renata Turra Grechinski morreu afogada após ficar com o pé preso no mar da praia de Coroados, em Guaratuba. A partir disso, a família de Renata mobiliza-se para a criação da primeira ONG direcionada ao dilema entre pesca e surf no Paraná. Por se tratar de uma morte por afogamento e também pela falta de conhecimento geral, o acidente da Renata chegou a ser divulgado como atitude irresponsável da própria surfista. De acordo com Paula Turra Grechinski, irmã da vítima, o artefato que causou o acidente de Renata era sim ilegal, pois estava instalado fora da distância mínima regulamentada pelo Instituto Ambiental do Paraná. “Segundo o IAP, que é o único órgão que tem uma portaria para regulamentar a pesca no litoral, essa pesca só pode ser praticada a partir de uma milha do litoral”, afirma Paula. Nos últimos meses a família de Renata mobiliza-
se em eventos de surf, feiras, festas e shows, a partir de parcerias com pessoas e empresas que se interessam em divulgar o assunto. Durante uma mobilização no Campeonato Paranaense de Surf, na Praia de Leste, Paula ouviu declarações de que muitos surfistas já se envolveram em acidentes parecidos. “O caso da Renata, apesar de ter sido fatal, não é um caso isolado. Em conversa com outros surfistas eu ouvi vários depoimentos de pessoas que ficaram presas em redes ilegais, mas conseguiram se soltar. Esses casos não vão a público”, comenta Paula. O vice-presidente da Federação Paranaense de Surf Gil Cordeiro diz que além da morte de Renata, apenas mais um acidente fatal ocorreu, mas casos de surfistas que conseguiram se soltar dos artefatos são bem frequentes. “Nunca houve um trabalho de segurança para a área de esportes aquáticos e, principalmente, para o surf. Temos como obrigação acompanhar e apoiar o desenvolvimento dessa ONG”, complementa Cordeiro. O diretor da OMG Mar Seguro, do Rio Grande do Sul, Virgílio Matos afirma que acidentes com artefatos de pescas ilegais no litoral gaúcho ocorrem há muitos anos. “A primeira morte no litoral do Rio Grande do Sul ocorreu em 1983. Se fizermos os cálculos, veremos que ocorreram em torno de duas mortes por ano, nos últimos 28 anos”. Além do risco que essa prática de
Manifestação de família e amigos em um campeonato de surf na Praia de Leste
Curitiba, quinta-feira, 10 de maio de 2012
O montanhês Jaime Prado Gouvêa, quatro livros, um único romance, mais de 35 anos de carreira Daniel Zanella Produção Integrada da Rede Teia
O ditado de que o montanhês para defender uma tolice, dirá três, não vale para o mineiro Jaime Prado Gouvêa, nascido em Belo Horizonte de 1945, autor de um tempo próprio, econômico, 4 livros em 35 anos de carreira. Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), passou um curto período pelas redações do Jornal da Tarde e de O Globo para depois se estabelecer no jornalismo literário. Gouvêa integrou a geração responsável pelo Suplemento Literário de Minas Gerais, criado pelo jornalista e escritor Murilo Rubião em 1966 e que contou com nomes como Humberto Werneck, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Rezende e Hélio Pellegrino, um dos mais importantes periódicos culturais do século XX, que sofreu diversas represálias durante o Regime Militar e revelou ao cenário literário nacional muitos jovens escritores. [Para designar o grupo que irrompeu de Minas, o crítico itabunense Hélio Pólvora cunhou a expressão Geração Suplemento. Jaime é o atual superintendente do periódico. Entre suas influências literárias declaradas estão Scott Fitzgerald, Julio Cortázar e Albert Camus.] Escritor de verve lírica e texto sem concessões, Jaime estreou em livro com os contos de Areia tornando em pedra (Editora Oficina), de 1970, que venceu o Concurso Nacional de Contos Estado do Paraná, à época um dos mais importantes pr~emios nacionais. Em 1975 publicou Dorinha Dorê – alguns roteiros para a classe média (Editora Interlivros). Em 1986 publicou Fichas de Vitrola (Editora Guanabara), vencedor do Prêmio Nacional
Guimarães Rosa da Secretaria de Cultura de Minas Gerais em 1982, e que foi relançado com contos inéditos em 2007 com o título de Fichas de Vitrola & Outros Contos, vencendo o Prêmio Jabuti de 2008. Guardando roupa suja é um dos principais contos desta seleção. [...] Fez questão que tudo fosse igual desta vez, o mesmo chalé, a mesma praia. Fizeram de conta que não foi construído um bar ao lado e que o cheiro de peixe no lixo não os incomodava, ali mesmo onde havia um canteiro de grilos e jasmins que compunham a lembrança do homem ainda adormecido enquanto ela, despojada, ficava imaginando o tempo que teriam pela frente, imaginando com calma, alisando os desenhos da camisola de cetim, os pelos do braço dele, um suspiro, ele está acordando e vem de novo para cima de mim, meu querido, tanto tempo se passou e essa mala estufada sobre a cama, cheia de roupa suja, e ele lá no bar se despedindo dos amigos, uma última rodada de truco, cerveja e batida. É em 1991 que Jaime Prado Gouvêa determina seu nome como crucial no entendimento da literatura brasileira contemporânea. Neste ano ele lança seu único romance, aquele que é considerado a sua obra-prima e uma das peças mais marcantes de sua geração: O altar das montanhas de Minas, publicado pela Editora Siciliana e relançado em edição especial pela Record, em 2010. O altar das montanhas de Minas, título retirado de um hino religioso mineiro, narra a história do jornalista Dirceu Dumont, empenhado na descoberta da vida e obra de um escritor obscuro chamado Garreto. Durante as pesquisas ele se depara com um velho amigo e com uma mulher determinante em sua trajetória. É um roteiro de erros e perdições, de grossa melancolia, linguagem dura, obscena e lírica, um susto atrás do outro.
Divulgação Paiol Literário
Dumont reconheceu a fidelidade das pilhas do material de Garreto, esse tempo todo esperando por ele na mesma posição em que se despediram, e ele julgou, ao ver entre lágrimas de emoção sua velha amiga, que a garrafa de conhaque quase vazia abanava o rabo de alegria ao vê-lo finalmente de volta. Abraçou-a comovido, arrancou-lhe afoitamente a rolha e deu-lhe um beijo apaixonado, engolindo o que restava de sua alma. (Pág. 106) Recebido com entusiasmo pela crítica – Caio Fernando Abreu considerava O altar das montanhas de Minas um livro comovente, de estrutura sólida e criticava o autor por escrever tão pouco... – na adolescência, Jaime escreveu poesias. Ele costuma repetir em entrevistas o que Paulo Mendes Campos disse certa vez sobre a época: “Adolescente não é um poeta, é uma vítima da poesia”. Jaime sabe fazer poesia, assim como sabe ser virulento. No desfecho O altar das montanhas de Minas muitas das intenções do autor: Dirceu Dumont firmou a perna no chão para fazer cessar o ruído da cadeira de balanço no momento exato em que a superfície do sol tangenciou a linha da montanha e o primeiro raio de sua iluminação. Ele queria acompanhar, milímetro por milímetro, o dia e o rosto da realidade morrendo e testemunhar o nascimento da noite, que viria envolta em seu manto recheado de sonhos, fantasias e sombras no qual, agora sim, ele poderia recriar a vida à sua maneira, e desta vez sem pressa ou ansiedade.