LONA 729 - 04/06/2012.

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Curitiba, segunda-feira, 4 de junho de 2012

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Ano XIII - Número 729Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo

Sala de cinema exclusiva para filmes nacionais é anunciada em festival Oscar Cidri

Milton Durski, criador e gerente comercial da rede de cinema Cineplus, anunciou em palestra durante o festival internacional “Olhar de Cinema”, que a cidade terá uma sala de cinema que exibirá somente filmes nacionais. pág. 3

CINEMA

ESPECIAL

PERFIL

LITERATURA

Festival traz seminários com importantes figuras do cinema brasileiro

Trabalhadores que procuram o Ministério do Trabalho reclamam de fila grande e espera

Sicupa, Barcímo, Cracão da camisa 8: conheça mais sobre o ex-jogador do Atlético

Marçal Aquino: “Sou apenas espectador”

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Apenas uma visão ultrapassada

Editorial

Com toda a discussão que tem acontecido nos dias de hoje e a cada vez maior aceitação dos casais homoafetivos pela população, não seria de se espantar que um arco-íris fosse incluído no céu estrelado da bandeira nacional. Atualmente, apesar de eventuais controvérsias, os brasileiros já estão mais maduros para lidar com homossexualidade e aceitar com naturalidade que existem pessoas que não se atraem pelo sexo oposto. É inexplicável, então, a relutância que muitos ainda encontram em relação à adoção de crianças por casais homossexuais. Afinal, ano passado o STF finalmente aprovou a união estável de indivíduos do mesmo sexo, o casamento gay. E qual é a visão prática que se tem de um casamento? Duas pessoas vivendo juntas, compartilhando seus bens e, eventualmente, criando filhos. Não permitir adoção de crianças por casais homossexuais não é pensar no bem da criança, é não deixar a luta contra o preconceito progredir. O preconceito acaba quando os dois lados entendem que possuem os mesmos direitos e isso deve ser respeitado. Além disso, a adoção não é simplesmente um presente para os novos pais. É, também, dar a uma criança a chance de ter uma família que a dê carinho, educação e uma chance de ter uma vida plena. Um argumento que muitos gostam de usar para ser contra a permissão é de que os filhos adotivos de casais homoafetivos sofreriam bullying por parte de outras crianças. É um argumento que se baseia na incapacidade do ser humano de se livrar de um preconceito ultrapassado. Mais inteligente seria se, ao invés de impedir as crianças de serem adotadas por gays, fosse ensinado desde cedo que existem tipos diferentes de casais e que eles merecem tanto respeito quanto os tradicionais. Chega a ser ridículo que se permita uma pessoa solteira a adotar uma criança quando se nega que casais tenham essa chance. Mesmo a decisão do Ministério Público (deixar que a criança, com mais de 12 anos, decida se aceita ou não a adoção) demonstra algum preconceito. E se uma criança não aceitar se adotada por um casal de negros? Ou então não querer ir para casa com um pai solteiro? É importante que fique claro que, seja quem for o pretendente, a adoção é um benefício para essas crianças.

Opinião

Lotte Reiniger Priscila Pacheco

Quando falamos em cinema de animação, os primeiros nomes associados a esse tipo de produção normalmente são de homens, como Walt Disney, Irmãos Fleischer, Chuck Jones, John Lasseter, entre outros grandes expoentes deste estilo cinematográfico. De fato, a história desta técnica de cinema teve em sua trajetória grandes realizadores masculinos. Mas, qual será à participação das mulheres na construção desse gênero? O que poucos sabem é que um nome feminino teve fundamental importância no cinema de animação. Nascida em Berlim em 1899, Lotte Reiniger foi pioneira no cinema de animação no inicio do século XX. Apaixonou-se pelo cinema de George Meliés ainda na adolescência, encantada pela 7ª arte, Lotte passou a trabalhar no grupo de Paul Wegener chegando a construir logo no início de sua carreira os ratos de madeira animados do filme “O Flautista de Hamelin”, de 1918. A partir daí, Lotte Reiniger não parou mais, tornando-se mundialmente conhecida por desenvolver em seu trabalho a técnica de animação com recortes de silhuetas, técnica inspirada no teatro de sombras chinês e também no contraste de claro e escuro do expressionismo alemão. Lotte Reiniger dedicou sua vida ao cinema de animação, fazendo toda a família contribuir na construção de seu trabalho, já que na mesma casa em que Lotte Reiniger era mãe de família, era também cineasta. Infelizmente, Lotte Reininger é pouco conhecida no Brasil, suas obras são de difícil acesso e até mesmo os conteúdos publicados sobre seus trabalhos foram pouco traduzidos e distribuídos mundo a fora. A alemã que realizou o primeiro longa-metragem do gênero animação não recebeu tantos prêmios e reconhecimento como, por exemplo, Walt Disney. Morreu em 19 de junho de 1981 deixando uma filmografia rica, porém, desconhecida.

Felipe Gollnick

Despreparo climático curitibano

Mais um inverno se aproxima. Já vá tirando seu cachecol, sua toca e sua blusa de lã do fundo do armário – se você já não o fez. Apesar de o fato de, dizem as más línguas, os invernos curitibanos já não serem tão rigorosos quanto os de décadas atrás, o frio feito na capital paranaense ainda castiga e não perdoa quem está despreparado. E eis aí um problema: Curitiba parece não estar preparada para enfrentar o clima que possui. Fique uma tarde de agosto parado em casa (na casa de seus parentes, de seus vizinhos) para entender. Mesmo que abrigado e bem agasalhado, alguma hora o frio aperta. Ou então caminhe pelos corredores de sua escola ou de sua faculdade para sentir até seu dedinho ficar arrepiado com ventos gelados que atravessa edifícios inteiros sem vedação. Há um evidente despreparo climático em Curitiba. Poucos são os prédios ou casas com calefação ou um ar condicionado adequado. Ônibus superlotados circulam de vidros fechados para evitar o ar frio e se transformam em grandes meios de cultura para transmissão de doenças respiratórias. Nem mesmo os agasalhos usados por aqui parecem ser apropriados ao clima: você pode até vestir duas ou três blusas grossas, mas seus pés continuarão gelados. O despreparo também fica evidente nos dias mais quentes do ano: em dia de sol, bastam cinco minutos de espera dentro de uma estação tubo para as primeiras gotas de suor começarem a escorrer pela sua testa. Vá a uma das tantas lojas de rua sem refrigeração e tente não se sentir sufocado com o ar abafado dentro dela. Não que o despreparo climático curitibano seja um grande problema estrutural da cidade. Podemos continuar convivendo com Curitiba como ela sempre foi. Mas até que essa situação não mude, continuaremos sempre sujeitos a resfriados frequentes, gripes e rinites desconfortáveis.

Expediente

Reitor: José Pio Martins | Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração: Arno Gnoatto | Pró-Reitora Acadêmica: Marcia Sebastiani | Coordenação dos Cursos de Comunicação Social: André Tezza Consentino | Coordenadora do Curso de Jornalismo: Maria Zaclis Veiga Ferreira | Professores-orientadores: Ana Paula Mira, Elza Aparecida de Oliveira Filha e Marcelo Lima | Editora-chefe: Suelen Lorianny |Repórter: Vitória Peluso | Pauteira: Renata Pinto| Editorial: Julio Rocha O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo. Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 - Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba PR. CEP: 81280-30 - Fone: (41) 3317-3044.


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Curitiba terá sala de cinema exclusiva para filmes nacionais Oscar Cidri Rodrigo Schievenin

de material, de mão de obra e de produção é mais caro aqui do que em qualquer outro lugar do mundo”. Já Milton Alexandre Durski – dono da Cineplus – apresentou também todos os problemas e percalços por que passam os proprietários de cinema no Brasil, salientando que “às vezes o culpado por não serem exibidos filmes nacionais é o próprio público que esvazia as salas quando o filme é brasileiro”. Ao finalizar sua palestra o empresário contou que em breve lançará na capital paranaense a pri-

Oscar Cidri

Esta é a promessa de Milton Alexandre Durski, criador e Gerente Comercial da rede de cinema Cineplus, em palestra realizada na última sexta-feira no SESC Paço da Liberdade, dentro da programação do I Seminário de Cinema Contemporâneo de Curitiba. Neste, que é o quarto dia de palestras, além de Durski, palestraram também Frederico Machado Cineasta, produtor, fotógrafo e ganhador de mais de 100 prêmios internacionais com seus curtas metragens e, também, sócios da Lume Filmes. Frederico contou toda

sua experiência na produção de filmes com baixo custo e como angariar recursos junto aos órgãos de fomento à cultura, tanto de fundações públicas quanto das privadas. A terceira a compor a mesa foi Claudia Natividade, formada em filosofia e mestre em ciências sociais pela UFPR com especialização em ciência política. Em 2000 fundou a produtora Zencrane Filmes. É dela o longa-metragem ficcional, “Estômago”, que arrebatou 36 prêmios, sendo 17 deles internacionais, e foi vendido para 25 países. Claudia Natividade expos todas as dificuldades de produção cinematográfica no Brasil, segundo ela, “fazer cinema no Brasil é mais caro do que fazer no Japão”. Ele frisa que “o custo técnico,

meira sala de cinema “exclusiva para filmes nacionais”. Dentre oficinas, debates, filmes e seminários, são várias as atividades que acontecem na cidade dentro do Festival

Internacional de Cinema de Curitiba – Curitiba Int´l Film Festival. O último dia do evento é hoje, com exibição de filmes à partir das 9h30min no SESC de Esquina.

Modos alternativos de produção no cinema são tema de seminário

Festival Internacional de Curitiba “Olhar de Cinema” traz para a cidade inúmeros seminários com importantes figuras do mercado cinematográfico que ficar de pé. A mesa era composta pelo palestrante André da Costa Pinto, idealizador do Comunicurtas – Festival Audiovisual Na quinta-feira no SESC de Campina Grande, também Paço da Liberdade, aconteceu coordenador de Audiovisual o terceiro dia de seminários do DECOM/UEPB. Juntado Festival Internacional de mente com Hernani Heffnner, Curitiba “Olhar de Cinema”. curador de Documentação e A discussão girou em torno Pesquisa da Cinemateca do de modos alternativos de pro- Museu de Arte Moderna do dução, devido ao baixo orça- Rio de Janeiro e professor de mento do cinema nacional, e cinema na PUC-Rio e UFF. O debate sobre o tema se o impacto disso na linguagem cinematográfica. Os 56 luga- torna de extrema relevância, res do local estavam todos quando observamos que a ocupados, na maioria por es- maioria das produções de citudantes, e muita gente teve nema no Brasil tem um orça-

Oscar Cidri Rodrigo Schievenin

mento que não passa dos R$ 150 mil. Se torna importante também, quando assistimos à maior premiação do cinema escolher como melhor filme de 2009 “Guerra ao Terror”, com seu orçamento de US$ 11 milhões. Diante de um “Avatar” que custou US$ 500 milhões. Mais recentemente, vimos o Oscar dedicar a estatueta de melhor filme para “O Artista”, longa metragem mudo e em preto e branco. Em outras décadas, a mais avançada tecnologia custava muito dinheiro, era essencial para a produção de um filme e as alternativas eram escassas.

O panorama mudou. O computador foi inventado, junto com ele veio a internet banda larga, canais públicos como o You Tube, o digital barateou o equipamento. “Abriu-se uma perspectiva como nunca no mercado audiovisual brasileiro”, afirma Hernani. Ele continua e diz que “não é mais uma diferença técnica” ou de “número de linhas, pixels”. O processo criativo é o que rende um bom filme. André é um ótimo exemplo de quem trabalha com modos alternativos de fazer cinema e conseguiu bons resultados. Financiado pela UEPB, uma

parceria inédita, lançou o primeiro longa metragem campinense, “Tudo que Deus criou”. Alguns dos primeiros patrocinadores de projetos de Costa Pinto lhe pagaram em 300 garrafas de cachaça, 3 caixões e rifas de R$ 1 para uma noite na melhor suíte de motel da cidade. Tudo isso foi vendido e o dinheiro revertido para concretizar as ideias do realizador audiovisual paraibano. Para os aspirantes a cineasta, ele dá um conselho sobre a importância de valorizar cada oportunidade: “o filme na escola, universidade, pode ser o filme da sua vida”.


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ESPECIAL

A fila que nunca acaba Danaê Bubalo Marjori Von Jelita

Marjori Von Jelita

Em Curitiba, quem precisa dar entrada em documentações para a liberação de serviços do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) tem que acordar cedo, enfrentar fila e ainda corre o risco de não ser atendido no dia, devido ao número limitado de senhas para o atendimento. Muitas vezes as pessoas que tentam dar entrada na documentação para garantir o benefício do seguro desemprego, acabam perdendo o prazo e não solicitando o serviço a tempo. É comum ver a população madrugando na fila à espera de uma senha, mas nem sempre o resultado é favorável, o trabalhador não consegue garantir seu atendimento. Alguns reclamam que só são distribuídas 50 senhas por dia no posto do bairro Fazendinha e que muita gente aproveita a grande procura para vender as vagas na

fila. “Comigo nunca aconteceu, mas já vi diversas pessoas venderem a senha por R$ 50,00. Isso já virou rotina aqui no posto da Fazendinha”, afirma Tamya Cristina de Freitas, estudante de 24 anos. Muitos também comparam a fila do MTE - para dar entrada no seguro desemprego - com a fila do Sistema Único de Saúde (SUS). “Meu filho veio às oito da manhã na semana passada e não conseguiu pegar a senha, eu cheguei às cinco da manhã e vou conseguir. Essa fila está pior que a do SUS”, observa José Antonio Nascimento, aposentado. Em toda história do MTE sempre houve uma grande demanda de trabalhadores para a emissão da primeira ou segunda via da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), solicitação do seguro desemprego e outros serviços. “Essa é a quarta vez que eu venho aqui (no posto do MTE na Rua da Cidadania da Fazendinha). Antes eu estava tentando tirar a primeira via da minha carteira de trabalho, não consegui. Na segunda tentativa deu certo, e agora é a segunda vez que venho pra tentar dar entrada no meu seguro desempre-

Guichês vazios em resposta a falta de funcionários

go”, desabafa Tamya. Não só a procura por esses serviços é grande, mas também o número de reclamações diariamente é constante. Otílio Mendes, 37 anos, está desempregado há um mês e procura as ofertas de trabalho do Posto de Atendimento da Rua da Cidadania do Pinheirinho, mas suas tentativas estão sendo em vão. “Eles falam que vão atender a partir das sete da manhã. Você pode ligar, procurar vagas na internet, vir até aqui, mas não adianta. É sempre a mesma história, a mesma palhaçada”, afirma indignado. Mesmo com a realização de mutirões de atendimento, não é possível amenizar a situação. Em 2010 foi criada pelo Ministério do Trabalho uma ferramenta no site oficial onde o trabalhador pode solicitar o adiantamento no atendimento. Juntamente com o Sistema Nacional do Emprego (SINE), órgão responsável pelo seguro desemprego, as pessoas que desejam solicitar o benefício podem acessar o site da Secretaria Estadual do Trabalho e agendar o dia e o horário de atendimento. A criação deste auxílio foi para tentar amenizar as enormes filas e a procura por serviços, mas a ferramenta está sendo pouco utilizada pelos trabalhadores. Falta de informação e acesso são os principais fatores que impedem que o adiantamento colabore com os atendimentos solicitados. “Na verdade eu só fiquei sabendo que

podia fazer o agendamento pela internet porque você me falou”, comenta Suzana Matheus Chagas, 32 anos, que chegou à fila do posto da Fazendinha às cinco e meia da manhã. “Não sei se com o agendamento ia ficar mais fácil, mas eu tenho certeza de que não ia precisar vir pra cá de madrugada. Eu acredito que eles fazem isso porque não respeitam o desempregado. Como não trabalho, então eu posso acordar cedo e posar aqui no terminal. Mas não é bem assim que funcionam as coisas”, desabafa Suzana. No posto de atendimento da Rua da Cidadania do bairro Fazendinha, são trabalhadores que dormem na fila e outros que buscam atendimentos por mais de três tentativas. Para piorar a situação, as primeiras 25 senhas são para o período da manhã e o restante é atendido à tarde, o que dificulta ainda mais o serviço para a população. Maria da Penha Kavalac está tentando dar entrada na sua aposentadoria. Ela pediu para o neto entrar no site e agendar um horário. Ele fez o procedimento e acreditou que tinha facilitado a conclusão do processo, porém o atendimento levou bem mais tempo do que o esperado. “Não sei do que me adiantou ficar duas horas na frente do computador fazendo isso, já que demorou mais de meia hora o meu atendimento. Inventaram isso na internet para tentar fingir serviço”, questiona indignada a trabalhadora. Na Rua da Cidadania do Pinheirinho, idosos, jovens e mulheres com crianças no colo são obrigados a chegar cedo e mesmo assim correm o risco de ficar sem senha. Das mais de cem pessoas que passam a noite lá, apenas 55 são atendidas. “Eu sempre que chego aqui mais tarde, umas sete, sete e meia da manhã, conto quantas pessoas estão na fila. Se passar o número das senhas distribuídas eu vou embora, fazer o quê?” afirma Custódio Dias dos Santos, 29 anos, desempregado. O número de funcionários tam-

bém é pequeno. São apenas três atendentes para dar entrada no seguro-desemprego e mais três atendentes para o restante dos serviços. Delegacia Regional do Trabalho Outro local com grande movimento é a Delegacia Regional do Trabalho de Curitiba (DRTC). O órgão, que fica no centro da capital paranaense, é o que mais tem atendimento e o que também tem recordes no tamanho das filas para a retirada das senhas, muitas vezes elas acabam dando a volta na quadra. Por dia, mil e quinhentas pessoas passam pelo local procurando emprego, dando entrada em seguro desemprego, e retirando primeira e/ou segunda via da carteira de trabalho. O posto concentra a maior parte dos atendimentos, e todas as manhãs são distribuídas cerca de 200 senhas, mas mesmo assim o número é insuficiente para dar conta da demanda. “Sou de São José dos Pinhais, vim pra cá cedinho, pra ver se consigo dar entrada no meu seguro, porque lá na nossa regional é um caos. Mas pelo jeito aqui não vai ser diferente”, contou Andréia Matias dos Anjos, de 27 anos, que chegou no centro de Curitiba às sete da manhã e entrou na fila que já estava na outra esquina da rua José Loureiro. Além das enormes filas, e grande tempo de espera, muitos trabalhadores questionam a forma como são atendidos pelos funcionários e a qualidade dos serviços. Descaso com algumas pessoas, demora no atendimento, desleixo na procura de soluções e falta de respeito com quem passa horas na fila para solucionar questões que são comuns - e que não necessitam de muito tempo para chegar a uma conclusão. Pessoas que procuram o primeiro emprego encontram com muita facilidade os serviços na DRTC. São muitas as ofertas que aparecem diariamente no sistema do MTE. O que incomoda


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alguns dos trabalhadores é a deficiência que existe no mercado para pessoas que possuem uma idade mais avançada. “Eu não aguento mais! Faz três horas que estou aqui para tentar conseguir uma vaga de emprego. Na televisão eles mostram que aqui tudo é muito fácil, tudo lindo, mas não é. É muito difícil uma pessoa com a minha idade conseguir um emprego digno!”, desabafa Cleonice Correia Alves, 43 anos, colocando mais um problema em pauta. Agora, além das filas diárias para os serviços do MTE, os grandes incômodos que o trabalhador está sujeito, a baixa qualidade dos serviços ofertados, pouca remuneração e o alto grau de exigência para alguns casos, a falta de ofertas para pessoas acima de 40 anos vem trazendo mais dor de cabeça para os desempregados. Realmente são ofertadas diversas vagas diariamente, mas muitas vezes o perfil do desempregado não está compatível com o mercado ao qual ele é direcionado pela DRTC. O superintendente do Ministério do Trabalho e Emprego,

Neivo Beraldin, deixou claro quanto o sistema está com grandes problemas de administração e organização. “Por ano em Curitiba são emitidas cerca de 350 mil carteiras de trabalho. Existe uma carência muito grande de funcionários para atender esta demanda”, afirma Beraldin, salientando ainda mais os problema que a população está submetida a encontrar quando procura por esses serviços. Na opinião do superintendente, o MTE precisa urgentemente passar por uma reciclagem, com novos funcionários, mais agências, uma maior estrutura. Em carta que o superintendente encaminhou formalmente ao Ministério Público do Trabalho em Brasília, ele pediu mais funcionários para a melhoria do atendimento ao público, mas a resposta foi negativa com a desculpa de que o Ministério do Planejamento não está liberando novas contratações. Beraldin ainda afirmou que os funcionários do MTE se aposentam e é difícil a reposição destes, e quando acontece uma reposição, essa leva cerca de cinco meses.

Trabalhadores reclamam do sistema e exigem respeito

Suposta solução As enormes filas nos postos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) diminuíram após a escolha do governo em adaptar seus serviços para o atendimento eletrônico, que agora pode ser feito por telefone ou internet. Não é mais necessário sair de casa para marcar uma perícia e as cenas que antigamente eram vistas nos postos da Previdência Social agora são bem diferentes. Antigamente o segurado podia levar meses para conseguir marcar um atendimento e, aí sim, requisitar benefícios como salário-maternidade, auxílio-doença ou aposentadoria. Antes eram comuns as críticas feitas pelos jornais com as fatalidades que corriam na fila do INSS e com o grande descaso que o governo tinha com os idosos ou doentes. Atualmente faz muito tempo que não são vistas manchetes em jornais criticando a fila do INSS. Agora já possível ser feito um adiantamento virtual, o que facilitou muito o atendimento para os idosos e para os que necessitam dos serviços do INSS. “Eu fui à busca do meu auxílio de afastamento, pois tive um acidente no meu trabalho. Demorei um ano para ter o processo concluído”, relembra Shander Iverson Leonardo, 31 anos. O prazo de espera para as conclusões dos serviços que antes demoravam meses, e até mesmo anos, agora possui um tempo médio de 60 dias, se o idoso ou beneficiário fizer o agendamento pela internet. As filas que não existem mais nos postos de atendimento, agora são consideradas filas virtuais, pois ainda existe uma demora, mas num tempo muito inferior comparado com anos atrás. Segundo o jornal Gazeta do Povo, na edição do dia 25 de fevereiro de 2012, no Paraná as agências do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) são as mais demoradas para analisar os pedidos de aposentadoria, auxílio-doença e auxílio-maternidade, entre outros. Enquanto a média nacional do tempo estipulado para dar início aos processos dos benefícios é de 25 dias, no Paraná este tempo é dobrado. Foi divulgado pelo regulamento do INSS que a primeira

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parcela do benefício do trabalhador deve ser paga em até 45 dias após a entrega da documentação exigida, mas no estado essa espera é muito maior. A culpa por essa demora não é somente da burocracia, mas, também, da

falta de estrutura das agências. Assim como o Paraná é o estado mais lento na concessão dos benefícios, também é o mais sobrecarregado. Enquanto o número de funcionários diminuiu a demanda aumentou.

Apenas um descaso

Em entrevista com o superintendente da Regional do Ministério do Trabalho e Emprego, Neivo Beraldin, ele confirmou o grave problema que o sistema está enfrentando com a falta de funcionários e o descaso da parte do governo federal e a do Ministério do Planejamento com a situação. Beraldin informou que teria em seu gabinete documentos que comprovam tal descaso do poder público e que ele iria divulgar e mostrar para a imprensa. Infelizmente, no caminhar da construção da matéria, isso não aconteceu. Depois desta entrevista que foi concedida pelo telefone, a equipe do Lona marcou alguns encontros para obter mais informações e fazer registros fotográficos. Todas as três vezes que a reportagem tentou falar pessoalmente com o Neivo Beraldin – em horário de expediente – ele não estava. Em uma breve conversa com a assessoria de imprensa do M T E, a jornalista responsável também confirmou a falta de mão de obra e alegou que o problema vem de Brasília. Inclusive citou a grave crise que o Ministério do Trabalho e Emprego de Guarapuava, no interior do Paraná, está passando e que o descaso seria por culpa dos mesmos: Brasília. A assessora desconversou a respeito de documentos que está na posse de Beraldin e que comprovam a falta de vontade por parte do governo federal. Com documentos ou sem, a grande prova está na própria Regional do Ministério do Trabalho e Emprego aqui em Curitiba, onde existem sete guichês de atendimento aos trabalhadores à disposição e apenas três em funcionamento – como mostra a nossa foto – e, em conseqüência, uma longa fila de espera.


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CULTURA

Somos todos Binho Fazem oito anos que o Bar do Binho, que fica em São Paulo, apresenta o seu tradicional Sarau. É uma reunião de escritores, poetas e amigos locais do Campo Limpo, distrito onde reside Binho. No entanto, completam oito anos também os pedidos de alvará para que o local se torne um bar, conforme a Lei. Nesse meio tempo, enquanto era driblado pela Prefeitura, Binho realizou os mais diversos tipos de Sarau. Local de eferverscência cultural, lá se faz presente todo tipo de discussão, dentre elas a contestação das políticas públicas naquela comunidade. O bar articulava os questionadores populares, e é claro, com eles, seus questionamentos. Enfrentava de maneira artística e inteligente a falta de investimentos públicos em Cultura no Campo Limpo. Com seu próprio dinheiro e apoio da comunidade, Binho também tenta manter uma biblioteca pública para

estimular a leitura e o pensamento crítico entre os jovens do local. No entanto, viu fracassarem suas tentativas de regularização junto ao poder público e, na última segunda-feira, o Bar do Binho foi fechado. Enquanto isso, na quarta-feira, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 416, que institui o Sistema Nacional de Cultura (SNC). A ideia é destinar mais recursos à área da cultura, alinhando políticas federais, estaduais e municipais para promover e fomentar a democratização e a descentralização na gestão de cultural no país. O SNC é a garantia de que o Estado passa a reconhecer a Cultura enquanto expressão inata e dinâmica por parte do povo. Ele se torna responsável por aplicar políticas públicas contínuas, atestando a importância da cultura na identificação do indivíduo como parte de uma so-

ciedade. Garante, ainda, o direito à cultura previsto pelo Artigo 125 da Constituição Federal: “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais”. Produtores Culturais das mais diversas áreas estão comemorando em todo o país. O sistema deve ser capaz de oferecer aos produtores e à população estrutura e equipamentos capazes de fomentar a produção e o consumo de cultura local.Inicia-se um processo de valorização de cineastas, escritores, artísticas plásticos e dramaturgos, mas também de rappers, grafiteiros, artesãos, músicos tradicionais e remixadores. Se um povo sem história não tem memória, um povo sem cultura não existe. A cultura nos esculpe enquanto indivíduos e povo, mas é ao mesmo tempo construída por indivíduos e pelo povo em um processo dinâmico que se retroalimenta. Por isso deve ser valorizada em pequena e grande escala, em grandes teatros e no quintal de casa. A produção cultural espelha seu criador, e portanto, espelha a sociedade em que se insere. E nesse refle-

Beatriz Moreira

bea.smoreira@gmail.com

xo conseguimos observar a direção em que caminhamos, nos autocriticar e nos manifestar por mudança. Enquanto cresce a hegemonia, cai o Binho. Erguemos as mãos aos céus na esperança de que o Sistema Nacional de Cultura faça reconhecer os diversos Binhos país afora, reative a plenitude dos Pontos de Cultura e valorize um pouco mais a cultura tão rica e plural do Brasil.

CINEMA

SUPER 8 – Nostalgia, Mistério e Paixão Além de ser um cinéfilo de carteirinha, também coleciono filmes. Como sou estudante e moro sozinho, não é sempre que sobre um bom dinheiro no fim do mês para eu gastar com a minha coleção. Na minha última visita ao Shopping Barigui, não resisti à tentação e comprei alguns filmes que estou ensaiando faz muito tempo para comprar. O primeiro deles foi indicado ao Oscar do ano passado, do diretor Darren Aronofsky, Cisne Negro. O suspense psicológico, estrelado pela belíssima Natalie Portman, era um filme que eu estava fazia muito tempo querendo comprar para poder me deliciar com todos os extras. O segundo, foi o nostálgico e divertido Super 8, e é dele que vou falar aqui hoje. Super 8 é um filme de 2011, dirigido por J.J Abrams, que o fez repleto de homenagens e referências

a seu maior ídolo e mestre: Steven Spielberg, produtor do longa. O próprio enredo do filme, repleto de referências a filmes dos anos 70/80 como “Os Goonies”, “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” e “E.T. – O Extraterrestre”, é prova disso. O filme se passa em 1979, em Lilian, uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos. Um acidente com um trem de carga acontece e, sem querer, alguns adolescentes que estão no local filmam todo o ocorrido. Coisas anormais começam, então, a acontecer na cidade: objetos estranhos aparecem, peças de carro são roubadas, pessoas e cachorros somem… Os cenários são maravilhosamente bem construídos, fazendo com que o filme pareça que foi realmente gravado na década de oitenta. Como se fora uma obra esquecida de Steven Spielberg. A direção do

filme é praticamente perfeita, Abrams consegue construir o mistério sem que nada soe forçado e também monta uma das cenas de acidente mais bem executadas que eu já vi. Mais uma vez J.J. fez parceria com Michael Giagino (trilha sonora). Os dois já trabalharam juntos em Lost e Star Trek. Giagino é também o responsável pela trilha sonora da belíssima animação da Pixar, “Up – Altas Aventuras”. O elenco é quase que inteiramente liderado por crianças. O maior destaque do filme é com certeza da iniciante Elle Fanning. A menina, de apenas 14 anos, consegue superar a sua irmã mais velha, Dakota Fanning (que também é uma ótima atriz). O filme não é um clássico de ficção científica como E.T, mas o final da obra é satisfatório. Mesmo com toda essa trama bem elaborada, te-

Matheus Klocker

mpklock@gmail.com

mos aqui um filme sobre problemas familiares, aceitação e perdão. Modesto, divertido e emocionante, “Super 8″ é uma ótima opção para curtir com os amigos no fim de semana ou para pessoas que sentem falta de uma boa e emocionante aventura a lá anos 80.


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Perfil

Ana Helena Goebel

Inteligente, carismático, amigo e, claro, craque de bola. Poucos adjetivos são capazes de resumir algumas das inúmeras qualidades de um dos maiores ídolos da torcida atleticana, Barcímio Sicupira Junior. Sicupa, Barcímo, Cracão da camisa 8, como queiram. Nasceu na Lapa, na região central do Paraná, no dia 10 de maio de 1944. No fim daquela tarde de outono, dona Ana e seu Barcímio não imaginavam o tamanho do orgulho que um dia sentiriam do recém-nascido. Barcímio. Eita nomezinho estranho! E pra ajudar, Junior! Você quer saber da onde surgiu essa nomenclatura e suas procedências? Bom, o nome que já vem do pai do nosso craque não tem lá um significado ou história. ”Meu pai, que também é Barcímio, era do Recife e lá no Nordeste eles costumam ter uns nomes meio esquisitos.” Curioso, o ex-jogador foi em busca da raiz da palavra e o mais longe que conseguiu chegar foi “bar de macaco”. E a família, não satisfeita com dois nomes nada comuns, decidiu continuar a saga: “Foi um nome que eu me acostumei e dei pro meu filho. E ele decidiu que vai dar pro dele também! O gurizinho não merece, mas ele vai fazer isso”, conta aos risos. Sicupira mudou-se para Curitiba com meses de vida. E, acredite se quiser, a primeira paixão do lapeano foi uma bola e seu primeiro calçado, um par de chuteiras. Infância tranquila e bem vivida. Criado em casa, último filho de três, espoleta e descalço para tudo que é lado, sempre na rua e com muitos amigos. “Isso ajudou minha educação, a minha criação, a formação do meu caráter. E lamento muito que as crianças de hoje não possam fazer o mesmo!”

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Artilheiro de bigodes

A história de Sicupira no futebol começou desde a infância, jogando nas ruas com seus colegas. “Eu jogo futebol desde que me conheço por gente”. A coisa passou a ficar séria por volta dos dez anos quando ele iniciou em times organizados, como Independência e Linense. Até que Sicupira começou a jogar no time dos grandes. “A manga da camisa do time ficava comprida pra mim porque eu era muito pequeno”, recorda ele. Por volta dos 12 anos, Sicupira entrou no infantil, se destacou, cresceu, criou responsabilidade, subiu para o juvenil e quando viu já estava no profissional. “Essa é a minha profissão, foi a minha profissão”, sentencia. O ex-jogador, que também é professor de Educação Física, deixa claro que o curso foi só um complemento para sua carreira, que foi essencial, mas não chega nem perto da importância do esporte. Aos 19 anos, o comentarista já estava no Botafogo, time sensação da década de 60, com craques como Garrincha, Didi, Zagallo e Nilton Santos. “Eu joguei com e contra os maiores jogadores do mundo. Fiz parte de uma geração de gênios e esses craques não iam pra fora. Eu convivi com boa parte da safra campeã do mundo em 1958. Cheguei ao Atlético bem mais rodado, com 24 anos”, conta Sicupira. Atlético Paranaense. O clube que marcou a vida do ex-jogador. Foram oito anos vestindo a oitava camisa rubro-negra. Chegou na baixada em 1968 e marcou um gol inacreditável de bicicleta logo na estreia contra o São Paulo. “Eu tive muita sorte. Fiz gols em todas as minhas estreias. Isso fez uma baita diferença.” Foi artilheiro e campeão em 70 (20 gols) e artilheiro em 72 (29 gols). Até hoje ostenta o posto de maior artilheiro do clube, com 158 gols. O fim da carreira de jogador é uma incógnita para muitos. E é algo que até hoje incomoda Sicupira. “Na volta de uma excursão do Espírito Santo, percebi que não tínhamos respaldo e apoio algum da diretoria. Aí simplesmente resolvi parar, sem um jogo de despedida, sem nada. Não tenho nada pra falar contra a instituição Atlético - nem contra a torcida que sempre me tratou muito bem, mas sim contra algumas pessoas que passaram pelo clube. Mas a gente passa e o Atlético fica, e eu sou muito grato a esse clube”. Devido ao diploma de professor de educação física, o ex-jogador seguiu no ramo esportivo, lecionando em escolas da capital paranaense. Carismático e desenvolto, foi na mídia que Sicupira se reconstruiu. Utilizou a experiência e os anos no futebol para informar e entreter o público. Virou comentarista esportivo aos 36 anos e continua firme até hoje. “Claro que agora com muito mais respaldo para falar.” Atualmente, atua nas jornadas e programas da rádio Banda B e no programa Balanço Esportivo da Rede CNT.

Muitas vezes questionado por um segmento no ramo político, Sicupira demonstra um leve interesse, que já é logo substituído pelo cansaço e comodidade. “Não troco nada pela minha vida tranquila e meus trucos de fim de tarde.”

Que loucura!

O ex-jogador conta o jogo mais bizarro e inesperado da sua carreira. Foi no dia 7 de setembro de 1963, quando ele ainda jogava pelo Ferroviário. Era uma partida contra o Primavera e Sicupira recebeu a bola, deu chapéu em três adversários e bateu de perna esquerda para o fundo do gol. “A torcida não sabia nem como comemorar aquele gol. Alguns aplaudiram, outros gritavam e tiveram alguns que chegaram a jogar dinheiro no campo!”, conta com sorriso nos lábios.

Barcímio ou Aurélio?

Para quem pensa que Sicupira só mandava bem dentro de campo, o homem é quase um dicionário! Uma vez em Maringá, num encontro casual, o zagueiro do time local adentra no bar e é recebido pelo presidente do clube. “Fulano, sente-se aqui e coma conosco.” O zagueiro respondeu: “Obrigado, eu vou aceitar um conosquinho!” A partir daí, Sicupira trouxe o apelido para o que chamamos de aperitivo para a capital. “E já tem um bar que colocou no cardápio ‘Conosquinhos’”. Quem diria, hein?

Ping-pong com o ídolo rubronegro Um amor: “Minha família.” Uma bebida: “Cuba.” Uma frase: “Unidos venceremos.” O fato que mais marcou sua vida: “Nascimento dos meus filhos!” Um bar: “O bar do Ulysses.” Um gol: “Gol de bicicleta contra o São Paulo na estreia do Atlético em 1968.” Uma partida: “O Atletiba de 1974, que o Atlético ganhou de 4x3.” Um livro: “Código Matarezi” Um filme: “O Segredo de Brokeback Mountain” Um(a) artista: “Julia Roberts” Um jogador: “Pelé” Um esporte: “Futebol, é claro!” Um lazer: “Ah, pescaria! E quantas histórias...” Uma comida: “Feijoada” Uma mulher: “Várias!”


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Curitiba, segunda-feira, 4 de junho de 2012

Manancial de miséria e maravilha Jéssica Carvalho

Marçal Aquino se diz andarilho. Não de um jeito vulgar, como quem larga a família e sai vagando por aí, mas do tipo que gosta de andar para ver o mundo. É por isso que não leva livros para onde quer que vá, mesmo que os adore. “Rua não é lugar de ler, rua é lugar de ver gente”, explica. E vez ou outra, assistindo a vida alheia, presencia uma cena do jeitinho que gosta e a transforma em prosa. Um dia desses o escritor passeava, distraído, quando ouviu uma frase que lhe chamou a atenção. “Deve ser esquisito ser mulher”, dizia um dos dois caras fortes que conversavam ali por perto. Marçal não sabia o contexto, mas gostou do que ouviu e pensou que ainda

Kraw Penas

usaria essas palavras. O mesmo aconteceu com o título de sua obra mais recente, “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios”, de 2005, que foi adaptada para o cinema e estreou no mês passado. Sobre sua relação com o cinema, o escritor é curto e grosso: “sou apenas espectador”, com ênfase no “apenas”. Pode parecer contraditório, já que seu nome assina vários roteiros e outras de suas obras já viraram filmes, mas ele jura de pés juntos que nunca pensou nisso. As coisas simplesmente foram acontecendo. A única vez que viu letras num papel e ao invés de pensar em literatura ou jornalismo pensou em cinema, foi quando leu “O Cheiro do Ralo”, de Lourenço Mutarelli, e percebeu que “aquilo dava um puto filme”, em suas próprias palavras. E deu. Após passar os últimos seis anos sem publicar novos livros e ouvindo as reclamações de seu editor, que sempre pede por material novo, Aquino não tem novos projetos em vista. Também não se queixa de bloqueio criativo ou qualquer um desses caprichos de escritor que são resolvidos por seus colegas de ofício com rituais peculiares, assunto que lhe aguça o humor. Ele ainda escreve - tudo a mão - e não acredita que precisa de uma nova mania “como escrever pelado”, sugere, para que lhe surjam ideias. Em resumo, diz que vai muito bem, obrigado, só não é o momento. Logo depois começa a monologar sobre gente que, em sua opinião, perdeu a chance de parar de escrever. Diz que as pessoas precisam perceber quando já publicaram tudo de relevante que poderiam e com esse comentário deixa o ambiente pesado, pois dá a entender que anda refletindo demais sobre fins de carreiras literárias. Mas a verdade é que se vai parar, nem ele sabe. Reconhece apenas que já chegou muito além do que imaginava quando era aquele menino pobre e alfabetizado tardiamente mentindo a idade no cadastro da biblioteca de Amparo, sua cidadezinha natal, para que pudesse emprestar livros. Nessa época, via o lugar como um mercado - cheio de opções - e não sabia que possuiria o acervo de mais de 5.000 livros que hoje, aos 54 anos, invade seu quarto, sala e cozinha, na casa em que mora com a filha de 19 anos. O que Marçal sempre soube, em versão moleque ou adulta, foi ouvir. Durante a infância eram as histórias que as pessoas mais velhas lhe contavam antes de dormir. Hoje ouve os sons do dia-a-dia, que classifica com três palavras iniciadas por “m”, curiosamente a primeira letra de seu nome: “manancial de miséria e maravilha”. Assim, finalizou a conversa.


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