Curitiba, quinta-feira, 27 de setembro de 2012
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Divulgação Sanepar
redacaolona@gmail.com
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Ano XIII - Número 753 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo
A vida na dança. Entrevista com Kika Sampaio. pág.5
PERFIL
Presidente da Sanepar nega todas as acusações sobre a falta de tratamento dos esgotos “São declarações inverídicas e caluniosas destinadas a atacar a imagem da empresa construída em meio século de história”, disse o presidente da Sanepar Antonio Hallage. p. 3
Resultado de pesquisa aumenta preocupação com o tabaco Número de jovens entre 12 e 16 anos que já experimentaram cigarro é alarmante. 50% das meninas e 38% dos meninos já provaram a droga. O Vigescola, realizado pelo Instituto Nacional do Câncer, tem como objetivo controlar o acesso dos jovens ao cigarro. p. 4
Géssica perdeu a visão aos 18 anos. Hoje tenta elaborar um cubo mágico para cegos. p.8
ESPECIAL Violência e confusão das torcidas organizadas nos estádios afasta público p. 7
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Editorial
A inocência de Protógenes Há algum tempo, elementos antes considerados infantis tem sido usado para fazer humor adulto, como as animações Family Guy e American Dad. São desenhos que tratam de sexo, drogas e outras temáticas que fogem ao universo das crianças. Eis que o deputado Protógenes Queiroz leva seu filho, um menino de 11 anos, para ver o filme Ted, do criador de Family Guy e co-criador de American Dad, apesar da censura indicativa de 16 anos. Depois de sair da sala de cinema, o deputado decidiu pedir aos ministérios da Justiça e da Cultura que suspenda a exibição do filme. Protógenes, indignado com o conteúdo do filme, acredita que o filme é uma apologia ao uso de drogas. Seguindo a lógica do deputado, outros filmes que mostram o uso de drogas, como Pulp Fiction, Trainspotting, Planeta X e muitos outros, deveriam ser censurados no país, afinal que tipo de influência esses filmes teriam nas crianças brasileiras? Coitado do pequeno Juan, filho do deputado, que aprendeu com o ursinho Ted que beber, usar drogas, não trabalhar e não estudar é bom. Mas espera um pouco... O menino se dirigiu sozinho ao cinema ou foi o pai, que mesmo ciente da censura indicativa de 16 anos, levou o filho para ver o filme? De acordo com o Twitter do deputado, “O filme “TED” não esta apropriado para nenhuma faixa etária. Incentivar o consumo de drogas e crime, usando ainda ícones infantis”. No mundo ideal de Protógenes, todas as obras culturais não incentivariam as drogas e os crimes, em nenhuma idade. O Brasil seria privado dos filmes do Tarantino, do livro da Christiane F., do Clube da Luta e até mesmo da trilogia Millenium. Ainda: os brasileiros não fariam a menor ideia de quem é o Dr. Hannibal Lecter. Todas essas censuras, claro, criariam um país livre de drogas e crimes. Não sejamos inocentes a ponto de acreditar que todas as crianças cresceriam educadas se o Estado simplesmente proibisse tudo que pode corrompê-las. A palavra final sempre foi e deve ser a dos pais e das escolas, os verdadeiros responsáveis pela formação das crianças. Se for a opção do pai criar o filho em um mundo cor-de-rosa sem drogas ou violência, ótimo. Agora querer impor a proibição de filme para o país inteiro simplesmente porque você o considerou inapropriado é no mínimo absurdo.
Expediente Reitor: José Pio Martins | Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração: Arno Gnoatto | Pró-Reitora Acadêmica: Marcia Sebastiani | Coordenação dos Cursos de Comunicação Social: André Tezza Consentino | Coordenadora do Curso de Jornalismo: Maria Zaclis Veiga Ferreira | Professores-orientadores: Ana Paula Mira, Elza Aparecida de Oliveira Filha e Marcelo Lima | Editores-chefes: Gustavo Panacioni, Renata Silva Pinto e Vitória Peluso | Editorial: Redação O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo. Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 - Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba - PR. CEP: 81280-30 - Fone: (41) 33173044.
Opinião
Sim ao diploma, não à obrigatoriedade Rodrigo Schievenin
Desde o dia sete de agosto, assisto a muitos de meus colegas jornalistas aplaudirem com satisfação a aprovação da PEC pelo Senado, que estabelece a obrigatoriedade do diploma de curso superior em Jornalismo como requisito mínimo para o exercício da nossa profissão. A votação foi esmagadora: 60 votos a favor e somente quatro contra. Na realidade, a decisão foi um tiro no pé de quem pretende caminhar por um país mais democrático e bem informado. Mesmo com a não obrigatoriedade, acredito que os veículos de comunicação continuam preferindo contratar profissionais que passaram pelas faculdades de comunicação. O ensino formal não é inválido, porém não é o detentor do conhecimento. As ferramentas teóricas estão acessíveis também em outros lugares. Aliás, a maior parte dessas teorias aprendidas na universidade foi formulada por gente de outras áreas, como das ciências sociais e das ciências políticas. Por que na prática precisa ser diferente? Qualquer pessoa razoável concordaria que é uma melhor ideia deixar responsável pela cobertura de uma crise na bolsa de valores, por exemplo, aquele cara que escreve bem, é formado em matemática e fez PHD em ciência política. Do que aquele formando em jornalismo, que pode ser facilmente enrolado. Já que não decifra com exatidão as informações financeiras e por isso não vai ser capaz de questionar porta-vozes do governo com suas estratégias cada vez mais rebuscadas e falsificadas pelo marketing. Muitos argumentam projetando uma baixa qualidade de apuração da informação em um mundo de não diplomados. Sendo que a epidemia de cursos de comunicação, que faz nascerem escolas de baixo nível, é a principal responsável por jogar jovens despreparados nas redações. Sem contar os baixos salários a que esses recém-formados se submetem. A decisão do Supremo Tribunal Federal em 2009 não tirou o candidato à jornalista do crivo do editor e da competição pelo melhor. Ou você é bom profissional para conquistar seu espaço ou não é. Se é assim, por que esses jornalistas comemoram? Simples: corporativismo. Com o diploma obrigatório, garante-se uma reserva de mercado. Argumento válido, mas nada heroico para quem diz querer usar a profissão como ferramenta para “salvar” o mundo. Como bem lembrou Lúcia Guimarães, colunista do Estadão, em seu artigo contrário à decisão do Senado: “Quando Thomas Jefferson disse que era melhor ter um país sem governo do que um país sem jornais, a inspiração era o civismo, não o corporativismo”.
Não pague!
Lis Claudia Ferreira
Após uma longa semana de esforços concentrados no trabalho, faculdade e outras coisas que são parte da rotina do cidadão comum, tudo o que você quer é reunir a família em um restaurante, ou os amigos na pista de dança. Conversa vai, conversa vem e você percebe que perdeu a comanda de consumo: o que prometia ser o ápice da semana acaba se tornando um pesadelo sem fim. O uso das comandas de consumo individual (na qual são anotados todos os gastos do cliente) é cada vez mais comum em bares, restaurantes e casas noturnas. Em quase todas elas – senão em todas – existe um aviso de que no caso de perda da mesma, o cliente deverá pagar uma multa (que em alguns locais pode chegar a R$1.000,00) ao deixar o estabelecimento. Quase todos nós já passamos – ou conhecemos alguém que passou – pelo constrangimento de ser “orientado” quanto ao pagamento da multa ao comunicar a perda da ficha. E muitas vezes pagamos o valor determinado pelo estabelecimento para evitar o embaraço, ou por não conhecer o Código de Defesa do Consumidor que declara que “a cobrança de multa sobre a perda de comanda é considerada ilegal”. O estabelecimento não pode cobrar do cliente o que ele não consumiu e é de sua responsabilidade manter o controle de consumo. Nos casos em que a comanda é a única forma de controle, a casa deve acatar a palavra do cliente sobre os produtos consumidos. Portanto, na próxima vez em que perceber o “sumiço” da comanda, você pode (e deve) se negar a pagar essa multa (a regra também se aplica a cartões de estacionamento). Alguns estabelecimentos acabam “coagindo” o cliente por meio de exposição em frente a outras pessoas, ou ainda com conversas ameaçadoras envolvendo os seguranças da casa. Nesses casos, o cliente pode realizar o pagamento, solicitar uma Nota Fiscal com a descrição da multa e fazer uma reclamação no PROCON. O estabelecimento deverá fazer a devolução do valor. Infelizmente são comuns no Brasil casos de cobrança abusiva como essa. Contribui para isso a falta de informação sobre os direitos do consumidor causada pela dificuldade de comunicação com órgãos regulamentadores como o PROCON. Enquanto isso, a população continua sendo lesada por indivíduos que muitas vezes alegam estar apenas cumprindo as normas para esse tipo de situação.
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Esgoto prejudica moradores do bairro Belém em Curitiba Aproximadamente 200 mil pessoas devem ser afetadas pela falta de tratamento do esgoto Daniel Martini Rodolpho Roncaglio No Paraná existem mais de 225 estações de esgoto, sendo que a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Belém é uma das maiores, e é responsável por tratar o esgoto de aproximadamente 500 mil pessoas. Levando-se em conta que 40% do esgoto não é tratado, mais de 200 mil habitantes do bairro Belém estão sendo prejudicados. Segundo o Ibama, a Sanepar vem sendo multada por falta de tratamento de esgotos, desde 2001. O valor das multas já ultrapassou a casa dos R$ 30 milhões, sendo que existe uma multa diária de R$ 20 mil, por não entregar relatórios ao Ibama. Somente com essa multa diária, o valor já chega a outros R$ 30 milhões. As multas estão divididas entre o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Ministério Público, Secretarias municipais, Tribunal de Contas e a Agência Nacional das Águas. Pelo IAP, as multas chegam à R$ 300 mil, por conta de maus tratos com o esgoto e por dejetos lançados nos rios. As cidades afetadas foram: Guarapuava, Araucária e Umuarama. Pelas Secretarias municipais, o valor é bem mais alto, já que somente a prefeitura de Londrina aplicou uma
multa de R$ 50 milhões. Em Maringá, o motivo da multa foi por despejo de esgoto em três ribeirões, com o valor de R$ 13 milhões. “Na última semana, fizemos uma visita na Estação do Belém, e verificamos que uma rampa, onde os caminhões precisam passar para ter acesso à estação, estava inadequada”, disse o superintendente do Ibama em Curitiba, Jorge Augusto Callado Afonso. Segundo Afonso, a rampa não foi construída de maneira certa, e agora está
Afonso. Com essa rampa inadequada, uma multa foi aplicada a Sanepar, no valor de R$ 35 milhões, e não de R$ 38 milhões, como havia sido noticiado. Caso as obras não tenham continuidade e não sejam concluídas, uma nova multa será aplicada, e a situação da Sanepar se agravará com o Ministério Público e o Ibama. Além disso, foram coletadas amostradas de água e esgoto (entre 2011 e 2012), que comprovam as irregularidades no tratamento.
da existe a preocupação quanto ao investimento na área do saneamento, que em 2008 passava dos R$ 20 milhões, e em 2010 registrou um valor de apenas R$ 7,7 milhões. Na manhã desta quarta-feira, empregadores da Sanepar participaram de manifestações em defesa da companhia. Cerca de 800 funcionários abraçaram o prédio da sede da Sanepar, no bairro Rebouças, em Curitiba. “Estamos ofendidos pela forma truculenta e desnecessária com que a empresas e seus
presidente do Conselho da Associação dos Profissionais Empregados da Sanepar (Apesan), Domingos Budel. “Aos nossos clientes asseguro: nossa água tem segurança e não poluímos o meio ambiente. Conheçam o processo primeiro, se informem e conversem antes de assustar os paranaenses”, completou Budel. Ainda sobre as acusações recebidas pela Polícia Federal e pelo Ibama, a Sanepar negou as acusações feitas sobre a poluição do Rio Iguaçu. Segundo o presidente da empresa, AnMarcelo Casal Jr. tonio Hallage, eles estão indignados pela má interpretação e da forma que estão tratando a empresa. “São declarações inverídicas e caluniosas destinadas a atacar a imagem da empresa construída em meio século de história”, disse Hallage. A empresa defende a sua integridade com o prêmio conquistado no 19º Prêmio Expressão de Ecologia. A categoria vencida foi a de Controle de Poluição, e a premiação veio com o programa Se Ligue na Rede: um Caminho para a Sustentabilidade. Sobre o não envio de relatórios, a Sanepar diz que eles são enviados regulartendo que passar por reforDevido à falha na rampa, empregados foram trata- mente ao Ministério das mas. “Ontem (25) fizemos os caminhões podem fazer dos. Os dados e todos os Cidades. Para verificar o uma vistoria, e foi cons- com que dejetos sejam lan- esclarecimentos poderiam banco de dados do Sistema tatado que as obras estão çados no rio, agravando ser obtidos sem humilhar Nacional de Informações sendo feitas”, completou ainda mais a situação. Ain- os trabalhadores”, disse o sobre Saneamento, basta
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Especial
A luta contra o tabaco Rodrigo Schievenin Tiago Francisco Pereira
Em Curitiba, os números colhidos pelo Vigescola, em 2002, apontam que 50% das meninas e 38% dos meninos, entre 12 e 16 anos, já experimentaram cigarros. Outros números da pesquisa na capital paranaense, entre jovens dessa mesma faixa etária, mostram que 10% dos meninos e 16% das meninas são fumantes. Foi considerado fumante o estudante que consumiu um ou mais cigarros nos últimos 30 dias. O Vigescola é realizado pelo Instituto Nacional de Câncer, em parceria com as secretarias estaduais e municipais de Saúde. Seu objetivo é levantar números que ajudem o país a direcionar os seus programas de controle do tabaco a fim de evitar que os jovens adquiram o vício de fumar. Segundo o chefe da Vigilância Sanitária Estadual do Paraná, Paulo Costa Santana, o consumo de tabaco aumentou muito entre os jovens, mas entre os adultos houve diminuição. “O aumento entre os jovens se deve às estratégias da indústria do cigarro em ligar o fumo com eventos esportivos e culturais, além do acréscimo de aditivos ao cigarro, que dão mais gosto”, acredita ele. “Atingir o jovem pode ser mais eficiente mesmo que o custo para atingi-los seja maior, porque eles estão desejando experimentar, eles têm mais influência sobre os outros da sua idade do que eles terão mais tarde, e
porque eles são muito mais leais à sua primeira marca”, escreveu um executivo da Philip Morris em 1957, em arquivos secretos de grandes empresas transnacionais do tabaco, os quais foram revelados depois de uma ação judicial.
Conscientização Anna Monteiro, diretora de comunicação da organização não governamental Aliança de Controle do Tabagismo (ACT), considera datas como o Dia Nacional de Combate ao Fumo muito importantes, pois é um momento de chamar a atenção da população sobre os males do tabagismo e fazer um trabalho de conscientização sobre várias questões relacionadas ao tabagismo. “Este ano, a ACT está alertando as vigilâncias sanitárias municipais e estaduais para a importância de fiscalizar a publicidade de cigarros nos pontos de venda”, conta ela. Uma das mais novas iniciativas da organização é o lançamento do documentário “Dois Pesos e Duas Medidas”, que tem como intenção mostrar como a indústria do tabaco consegue exercer grande influência no Poder Judiciário. O filme contará a história de José Carlos Carneiro, cujas pernas foram amputadas por uma doença causada exclusivamente pelo uso de cigarros. “Ao mostrar a vida de José Carlos, que se tornou uma referência no combate ao tabagismo já que sua imagem estampou as
primeiras advertências sanitárias brasileiras, queremos deixar explícito que a Justiça usa pesos e medidas diferentes quando trata de questões relativas ao direito do consumidor”, diz Paula Johns, diretora-executiva da ACT. O projeto foi lançado no dia 28 de agosto na plataforma de financiamento Catarse (http://catarse. me/pt/doispesosduasmedidas). A verba arrecadada será usada para financiar o filme e comprar uma cadeira de rodas motorizada para José Carlos. Até o fechamento desta matéria, a ideia tinha 36 apoiadores e juntado R$ 3.123. Sobre os programas de combate ao fumo, anualmente a ACT publica um relatório sobre a implementação da Convenção Quadro para o Controle do TabacoCQCT -, tratado internacional do qual o Brasil é signatário. Nele, a ACT aponta diversos pontos em que o controle do tabaco avançou no país e nos quais houve ou há obstáculos. “A Comissão Nacional para Implementação da Convenção Quadro para o Controle do Tabaco – CONICQ – é um espaço que limita a participação da sociedade civil e carece de autonomia política administrativa para fortalecer a governança das políticas públicas que promove, em face das divergências manifestas com Ministérios, que expressam interesses associados à indústria do tabaco”, critica a ACT. Em 2011, portanto, eles observam que a política de preços e impostos avançou de maneira favorável ao controle do tabagis-
mo. “O reconhecimento que ambientes de trabalho livres do fumo são uma questão de saúde ocupacional e um direito fundamental do trabalhador, e reconhecer que não há nível seguro de exposição à fumaça do tabaco. O MTE – Ministério do Trabalho e Emprego - deve inserir o tema na rotina de seus fiscais, capacitando-os”, cobra a ACT. “Infelizmente para a saúde pública, mesmo o progresso substancial da implementação
da CQCT é pouco suscetível de conduzir a um declínio repentino e dramático no consumo global do tabaco. Embora o percentual de fumantes esteja se reduzindo em muitos países, a população global continua crescendo, com rápida expansão do número de fumantes, principalmente nos países em desenvolvimento. Como resultado, as vendas de tabaco e cigarros tem previsão de aumentar num período curto de tempo (2010-2015)”, é o que acredita no curto prazo a ONG. Divulgação
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Entrevista
Acervo pessoal
Sapateado como profissão CarolinaPereira Radaela Guimarães
A bailarina Kika Sampaio é uma das precursoras do sapateado no Brasil, e única representante oficial, no país, do método de ensino de sapateado americano Kahnnotation. É formada em dança clássica, moderna, flamenco e sapateado, além de já ter feito cursos no exterior com professores renomados como Steve Zee, Dany Daniels, Stanley Kahn, ente outros. Kika já trabalhou em musicais dirigidos por Wolf Maia, Jorge Takla, e, recentemente, coreografou para a minissérie Dercy de Verdade, dirigida por Jorge Fernando e exibida na Rede Globo. Hoje, além de proprietária e professora de sua escola, atua como diretora da KS Cia de sapateado profissional. Seguir carreira profissional na área de Sapateado Americano sempre foi um sonho? Conte mais sobre como decidiu seguir a carreira. Sempre gostei de artes em geral e dançar fez parte da minha vida inteira. O sapateado americano era um amor platônico, eu adorava os filmes dos anos 30, onde seus principais dançarinos eram um sucesso mundial, o gênio Fred Astaire, o incomparável Gene Kelly e a garota prodígio dos cachos dourados, Shirley Temple. Morei em Londres nos anos 70 e lá fazia aula de balett clássico, foi quando tive meu primeiro contato com o sapateado americano. Voltei ao Brasil e tive aulas com o professor Gualter da Silva (autodidata) e foi ele quem me incentivou a, inclusive, buscar mais técnica nos Estados Unidos. Em São Francisco (Califórnia), conheci Stanley Kahn,
que me impulsionou a aprofundar na técnica de sapateado, e a vida seguiu o caminho natural. Trabalhar com dança, no Brasil, é muito difícil? Há reconhecimento? Como todo trabalho bem feito, colhemos frutos. A dança não é diferente, temos sempre de estar atentos aos caminhos da modernidade e sempre acreditar, estudar e se dedicar, pois o conhecimento não tem fim. O reconhecimento é uma questão muito delicada aqui no Brasil, somos um país jovem sem herois e sem memória, isto é fato. Não entendo muito o que é ser reconhecido, me considero uma pessoa de sucesso pelo empenho e bom trabalho naquilo que decidi fazer. Você é a única representante oficial, no Brasil, do método de ensino de sapateado Kahnnotation. O que é exatamente esse método? Não existe ensinamento sem metodologia, é preciso entender 100% sobre aquilo que vamos ensinar. Kahnotation é um método de ensino escrito que foi desenvolvido numa época onde não existiam filmadoras, internet, etc.. Fora a escrita, ele é todo desenvolvido através de exercícios que vão se somando e com pequenas rotinas de dança aonde o aluno vai adquirindo o conhecimento de uma forma divertida e tranquila. Você já trabalhou com diretores conhecidos da Rede Globo. Como é trabalhar com Jorge Fernando e Wolf Maia? Trabalhar com grandes diretores é sempre um aprendizado, uma nova experiência. Sendo produtora, diretora,
bailarina, como concilia trabalho com vida pessoal? Sobra tempo? Sim. É só saber dividir o trabalho da vida pessoal. Fale um pouco sobre a sua escola de sapateado Kika Tap Center. Eu ministrava em escolas de danças, só que sempre os piores horários eram do sapateado e sempre tinha linóleo [tipo de piso] nas salas; foi quando, em 1982, decidi ter uma escola só de sapateado americano, com o piso apropriado para a modalidade. Desde lá já passaram mais de cinco mil alunos e já estou na terceira geração. Sente falta de mais brasileiros na área do sapateado? O mundo do sapateado americano é bastante amplo. Temos, hoje em dia, muitos profissionais que foram meus alunos também e que, hoje, se dedicam a esta arte. O que acontece é que o sapateado é pouco divulgado. Você foi assistente de direção do musical Vitor ou Vitória, como é o processo de execução americano? É muito diferente do que você passa para os alunos aqui no Brasil? O processo de criação e ensinamento é igual no mundo inteiro, a forma de trabalhar é que é diferente. Nós, brasileiros, somos excelentes professores, de alta qualidade e temos mais jogo de cintura, mais dramáticos e menos racionais. Mas o resultado final é igual. Como surgiu a ideia de montar a KS Cia de Sapateado? Houve algum critério para escolher os integrantes? Fui convidada para ser júri
Bailarina Kika Sampaio em vários festivais e fui descobrindo muitos sapateadores talentosos. Resolvi, então, juntar estas pessoas que são de vários lugares (São José dos Campos, Santos, Ribeirão Preto, Paranaguá) e fazer a Cia, onde o objetivo era desenvolver a criatividade deles. Eu dirijo a Cia e eles criam as coreografias. Tenho muito orgulho deles todos e sou feliz por ter conseguido produzir um trabalho de qualidade. Hoje a KS já tem uma outra Cia, só de adolescentes, a Ksinha, que se chama KatadoSporaí, com uma moçada muito boa, também vinda de várias cidades diferentes. O critério para escolher os integrantes da Cia são os meus olhos, minha intuição. São sempre convidados por mim, não faço audição.
Este ano a sua academia faz 30 anos, qual a sua expectativa para essa comemoração? Engraçado que quando ficamos mais velhos adquirimos sabedoria e as expectativas não são mais tão importantes. Realmente fico muito emocionada de pensar em tudo que já fiz e vivi. Fui homenageada em São José dos Campos, uma surpresa que sempre choro quando lembro. Mas os 30 anos serão comemorados dia 2 de dezembro com convidados do sapateado brasileiros, americanos e muitas surpresas. Vai ser uma grande festa! O espetáculo de comemoração dos 30 anos do Kika Tap Center será no dia 2 de dezembro, no teatro União Cultural em São Paulo.
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Literatura
Na Fronteira Um dos mais intrigantes e audaciosos estudos sobre Jornalismo e as suas novas implicações é “Os elementos do Jornalismo – O que os jornalistas devem saber e o público exigir”, dos norteamericanos Bill Kovach e Tom Rosenstiel, publicado no Brasil em 2003 pela Geração Editorial. Os dois integram o Comitê dos Jornalistas Preocupados, grupo de 25 jornalistas renomados que realizou pesquisa abrangente entre profissionais da área e cidadãos norte-americanos (ao todo, 21 discussões públicas, com a presença de três mil pessoas e o testemunho de mais de 300 jornalistas), desenvolvendo
teses para entender o declínio do jornalismo e debater suas possíveis saídas. O capítulo 10 se chama Os jornalistas tem a responsabilidade de ser conscientes e abre com um curioso caso do impresso Boston Globe. Matt Storin, editor-chefe, estava com um problema. A nova colunista, uma escritora negra promissora, Patricia Smith, sucesso entre os leitores do periódico, estava despertando desconfiança da redação sobre a veracidade de suas histórias de cotidiano, suas conversas com taxistas, vendedores e afins. As histórias eram tão boas que pareciam inverossímeis. Storin
resolveu desenvolver um método profundo de checagem da informação em toda a redação e incluiu a colunista no rateio. Resultado: a autora admitiu inventar as histórias e escreve uma coluna de mea-culpa afirmando que usava a ficção para desvelar a verdade. Ela acabou se demitindo do jornal, num exercício claro de que há, sim, diferenças entre o puro invencionismo e uma visão mais sensível da realidade. Jornalismo é literatura sob pressão, dizia Tristão de Athaíde. Contanto que sob compromisso ético de buscar estabelecer a melhor realidade possível – sempre intangível.
Daniel Zanella
danielaugustozanella@hotmail.com
Literatura
Diário de um Skinhead É um livro-reportagem de um renomado jornalista espanhol que assina sob o pseudônimo de Antonio Salas. As razões para que ele mantenha se no anonimato são óbvias, pois já recebeu diversas ameaças de morte. Salas conseguiu o que poucos conseguem. Para isso, se desvinculou completamente da sua vida por mais de um ano e se infiltrou no movimento neonazista, se tornando um dos membros mais ativos movimento skinhead espanhol. Esta não foi a primeira vez que o autor se infiltrou em alguma organização, em vários trabalhos ele já teve que adotar nomes, nacionalidades e religiões diferentes, mas certamente este foi um dos seus trabalhos mais difíceis. Seus primeiros contatos foram feitos pela internet, onde era conhecido como tiger88. Neste
primeiro momento o seu trabalho era mais de estudo e observação, e como a ideia era se tornar um deles era fundamental saber de onde vinha tanto ódio e quais eram os objetos desse ódio. Em seguida Salas acaba transformando a sua personalidade, passando por um processo muito parecido com um ator ao construir um personagem. O mais difícil era fazer um ódio sem sentido parecer natural, o autor jamais teve qualquer traço racista em sua personalidade. E assim ele passa a viver com um daquelas dezenas de jovens que tem em comum as cabeças raspadas, as jaquetas bomber, os coturnos e principalmente um ódio visceral que só podia ser liberado espancando aqueles que eram considerados “inimigos”. Estes inimigos variavam de acordo com a decisão dos lí-
deres, algumas vezes eram travestis, negros, árabes, maltrapilhos, mendigos, mauricinhos, judeus, ou simplesmente torcedores do time adversário. E a missão do grupo frente ao outro lado é roubar, espancar, apedrejar – praticar agressão gratuita, e depois de cada agressão ainda roubavam um objeto qualquer que seria entregue a um dos líderes, algo que servisse como um troféu, de preferência sujo de sangue da própria vítima, podia ser uma mochila, um casaco, qualquer coisas que viesse dos massacrados. Além do ódio, outro sentimento que aparece de maneira constante na narrativa é a presença do medo do autor em ser descoberto. Salas participa de todos os eventos, desde as “caçadas” até um simples encontro num bar, munido de uma câmera escondida. O seu maior temor era ser descoberto e, obviamente morto, ele cita o caso
Ana Elisa Cristina Santos
ana.aecs@gmail.com
do jornalista brasileiro Tim Lopes que morreu assassinado após ter se infiltrado num ambiente de prostituição e narcotráfico. Como todo livro reportagem que se preze é extremamente interessante, até mesmo para aqueles que não se sentem atraídos pelo tema. Especificamente, creio que este seja o fascínio que o livro exerce, pois fala não só do movimento neonazi, mas também fala do ser humano – e não há quem não se interesse por este tão complexo ser humano.
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Economia
Estudantes de Curitiba terão menos opções de vestibular este ano Andressa Turin
Este ano, os alunos que irão prestar vestibular de medicina em Curitiba poderão optar somente por três faculdades, pois devido às eleições em outubro a PUC/PR e a Faculdade Evangélica terão que realizar suas provas no mesmo dia, 21 de outubro. Por se tratar de um curso no qual a concorrência é grande e já existirem poucas opções de faculdades (UFPR, PUC/PR, Universidade Positivo e Faculdade Evangélica), os estudantes sentiram-se pre-
judicados. A estudante Kerellyn Follador, 18 anos, que vai prestar vestibular pela primeira vez acredita que as chances de passar diminuíram, mas a concorrência também será menor, uma vez que os alunos vão se dividir entre as duas faculdades. Já Lia Beatriz, 20 anos, acha um absurdo os vestibulares serem na mesma data, pois além de diminuir a chance de passar, reduz-se o leque de opções. Segundo Sandy Gutierrez, supervisora de comunicação da Faculdade Evangélica, a escolha das datas dos vestibulares é feita pelas instituições
de ensino, contudo antes é feita uma pesquisa para que se evitem as coincidências de datas principalmente em relação aos vestibulares do mesmo estado. A Faculdade Evangélica verificou anteriormente que não haveria vestibular no dia previsto para sua prova e divulgou no dia 21 de junho em seu site e na Gazeta do Povo que seu vestibular seria no dia 21 de outubro. Uma funcionária da PUC/ PR que não quis ser identificada afirmou que a data do vestibular da Universidade foi escolhida no início do ano junto com a programação do calendário acadêmico, porém só foi
divulgada dia 20/08 quando foram abertas as inscrições. Para ela, as datas coincidiram devido às eleições, pois não poderá haver provas no primeiro domingo de outubro nem no último, porque mesmo que não haja segundo turno a data deve ser reservada. Além disso, o vestibular da PUC/PR não poderia ser dia 14/10, pois neste dia haverá a 2a fase do Concurso para Profissional do Magistério Docência I e Educador na Universidade. Outro fator que complicou a escolha de datas foi a aprovação de um projeto de lei que proíbe a realização de concursos e vestibulares aos sábados
em respeito as religiões que guardam este dia. Depois de divulgadas ambas as datas e de muita reclamação por parte dos alunos, a Faculdade Evangélica decidiu mudar suas provas para o período da manhã, com exceção do vestibular para o curso de medicina, que continuará no período da tarde. A mudança de horário do curso de medicina não foi possível por se tratar de uma prova mais elaborada que terá até 6 horas de duração, enquanto que os demais cursos terão 4 horas para realização da prova, das 8 as 12 horas.
Violência das torcidas organizadas afasta torcedor dos jogos Flávio Foltran
Confusão, pancadaria, mortes. Não é mais incomum vermos essas palavras estampando capas de jornais quando o assunto são as torcidas organizadas. O que era para ser um entretenimento, virou guerra. Em Curitiba, temos três grandes torcidas: a Império Alviverde, do Coritiba; Os Fanáticos, do Atlético Paranaense; e a Fúria Independente, do Paraná Clube. Recentemente, tivemos a morte de Diego Raab Goncieiro, um rapaz de 16 anos, torcedor do Tricolor, que foi alvejado por tiros em frente à sede da organizada paranista. Os suspeitos, representantes da facção atleticana, estão foragidos. Exemplo de punição à tor-
cida ocorreu em 2009, ano do centenário do Coritiba, quando o clube foi rebaixado. As imagens da barbárie proporcionada pelos “torcedores” alviverdes rodaram o mundo. O clube foi punido com 10 mandos de campo, tendo que mandar seus jogos na cidade de Joinville, e a Império, proibida de entrar no estádio. Cada vez mais amedrontados, torcedores de verdade deixam de ir ao estádio, ressabiados com os constantes confrontos entre torcidas rivais. Para Thiago Canselher, de 23 anos, brigar por futebol não tem sentido e muito menos perdão: “Eu acho lamentável brigar, xingar e matar alguém por ele vestir uma camisa azul e eu uma vermelha. Pessoas deste tipo deveriam ser proibidas de sair nas ruas”. Em São Paulo, por diver-
sas vezes as torcidas organizadas foram impedidas de entrar nos estádios, o que causava certa revolta por parte dos membros das facções. Já em Belo Horizonte, a solução para acabar com os confrontos foi excluir a torcida visitante dos clássicos, como ocorreu aqui no Paraná, em dois clássicos Atletiba. Em Minas, de nada adiantou: a violência aumenta cada vez mais e os torcedores que não podem ir ao estádio, armam emboscadas em terminais de ônibus e vielas, o que dificulta o trabalho policial e prolifera a pancadaria. Moacir Breda, de 70 anos, que acompanha o Paraná Clube desde a década de 50, reprova a maioria das atitudes das organizadas fora do estádio: “Dentro do campo elas dão um aspecto bonito, vivo, animam as pessoas. Mas fora
dele só servem pra brigar e arrancar dinheiro do clube”. Outro problema amplamente discutido pelos torcedores “comuns”, é a proibição da venda de bebidas alcoólicas dentro dos estádios de futebol. Esta lei entrou em vigor por conta dos vários confrontos ocorridos, e que fatalmente acabaram sendo associados à famosa cervejinha. Para Leandro Lima, 22, o torcedor tem o seu direito de acompanhar a partida com maior prazer, negado por conta da proibição das bebidas. “Nós não podemos mais tomar a nossa cerveja dentro do estádio por conta de alguns baderneiros das torcidas que já entram bêbados. A lei é ridícula, ninguém fica alcoolizado no campo, os que vêm para brigar já vêm deste modo da rua, onde tomam o
‘tubão’’’. Outro problema detectado nas torcidas é a venda de ingresso que recebem do clube. Toda partida, a maioria das torcidas organizadas recebe uma quantidade X de ingressos para distribuir entre seus integrantes. A maioria nega, mas a prática é comum e não é difícil de se encontrar cambistas travestidos de torcedores organizados vendendo seus ingressos em frente a bilheteria do clube, tirando o dinheiro que seria de direito do time. O colorido que as organizadas dão nas arquibancadas aquece o coração dos torcedores e fazem os jogadores correrem mais, suarem mais e buscarem a vitória a cada instante. Nos resta torcer para que este colorido, não vire um preto e branco de luto.
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Curitiba, quinta-feira, 27 de setembro de 2012
PERFIL
O nome dela é Géssica ao professor Ivan Colling que lhe ajudou muito. Para acompanhar as aulas utilizava métodos como: um gravador digital, computador com sintetizador de voz, digitaliO nome dela é Géssica, zação de livros e inúmeras dizia o pagodinho cantado reuniões com cada professor por Bebeto, não, não está es- para sanar as dúvidas, além crito errado, é com gê mes- do Multiplano que é utilimo e não com jota como é comum, como é a Jéssica da música. De comum só o fato de, assim como milhares de pessoas, é casada, funcionária pública, estuda inglês, formada Engenheira Elétrica, e aqui sim, tem um detalhe que a difere de todos os outros. Foi a primeira engenheira cega formada pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná. E já que começamos com música vamos terminar o parágrafo assim também. Como se sabe que o pagode não agrada muita gente é melhor mu- zado para compreensão de dar o ritmo. “Viver, e não gráficos e diagramas. Além ter a vergonha de ser feliz” – de, obviamente, muita, mas grande Gonzaguinha – e foi muita força de vontade. Ainda lhe restava um mícom essa canção que Géssica entrou no teatro para receber nimo de visão para que ela pudesse gravar o rosto do seu diploma. Mas antes de chegar a amado pela foto que fora formatura a caminhada foi transferida da memória do árdua. Teve que enfrentar as celular, para sua memória. dificuldades todas de uma Quem lhe apresentou seu graduação e mais as cau- marido foi uma Santa. Sansadas pela cegueira, além ta Joana Darc, esse é o nome disso, teve que provar para da senhora que apresentou professores e familiares de- Géssica a Fabiano. Isso, em sacreditados que ela era ca- 2007, no Programa de Intepaz. Ela acredita que grande gração do Novo Empregado parte do seu sucesso deve-se da empresa onde trabalham.
Flávio Martins Gustavo Panacioni
Em um dia dos namorados Fabiano lhe enviou flores e um ursinho de pelúcia. A chefe de Géssica leu para ela o bilhete que dizia algo sobre a amizade deles. Sueli, a chefe, disse: “fala para esse seu amigo que hoje é dia dos namorados e não dia do amigo”. Para desmistificar a
que causa mudanças estruturais na córnea. Tentou tudo que estava a seu alcance e ao da medicina. Passou por dois transplantes de córnea em São Paulo. Nada adiantou. Qual será a melhor maneira de se dizer para um paciente que ele está cego? Géssica pen-
Flavio Martins
data casaram-se em 11 de setembro de 2010. Desde os 12 anos Géssica sofria com alergias oculares recorrentes, que caracterizam-se basicamente por processos inflamatórios nos olhos que são disparados por alérgenos. Para combater as alergias utilizava colírios com corticoide. O uso contínuo desse tipo de medicamento provocou de forma gradativa o aumento da PIO (pressão intraocular). Aos 18 anos descobriu-se que ela tinha ceratocone, que é uma doença degenerativa do olho
sava estar doente, que teria cura. A médica foi categórica: “Géssica, já te falei que você precisa usar a bengala”. Géssica só lembra de que não se lembra de alguém sequer ter mencionado o uso da bengala para ela. O que pensaria se alguém te dissesse que tem o sonho de brincar com um cubo mágico? Pareceria fácil de realizar esse sonho. Mais estamos falando da Géssica, para ela é tudo mais difícil. Ela não quer os cubos para cegos que tem no mercado. Ou são monocromáticos, ou de
texturas diferentes. Ela quer o colorido, e se não tem, ela faz. E fez mesmo, além das cores, o cubo tem símbolos para que as cores possam ser diferenciadas pelo tato. O segundo projeto que ela está envolvida é para um software de matemática. Existem hoje vários softwares para escrever funções, porém, eles não têm abertura para leitor de tela. Essa foi uma das dificuldades que teve na faculdade, tendo que criar uma codificação diferente com os professores para que eles pudessem passar a informação para ela e para que ela pudesse mostrar que havia absorvido essa informação. Como outro sonho dela é fazer mestrado, quer desenvolver esse projeto antes, para que, quando houver a necessidade de ler ou escrever um artigo possa utilizar a codificação global. Além da intimidade com os números, também gosta de escrever e tem um blog, que no começo não era divulgado. Passou a divulga-lo por insistência de sua acupunturista. O nome é bem sugestivo, mais24horasdefelicidade.blogspot.com.br Questionada sobre seu sonhos, além do mestrado e de querer ser mãe diz,“todo cego tem o sonho de voltar enxergar, mas eu não posso dizer isso em uma entrevista, senão ninguém vai me levar a sério”.