Lookvision42

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LOOK VISION EDIÇÃO PORTUGAL • Nº 42 • FEVEREIRO 2016

Marco Bilimória

Distribuição exclusiva a profissionais • Preço de Capa: € 7,50

O homem com um sonho

Especial lentes de contacto A força de um produto em ascensão

Ron Arad

O design como vida

TM

Óptica Cruz

Renascer sobre uma tradição de meio século



Fevereiro de 2016 • Nº 42

10 | BREVES

Índice OPTI’16

A revolução da feira alemã

20 | CAPA

MARCO BILIMÓRIA

O homem com um sonho

24 | ESPECIAL LENTES DE CONTACTO 32 | OLHAR EM PORTUGUÊSS

A força de um produto em ascensão

ÓPTICA CRUZ

Renascer sobre uma tradição de meio século

34 | OUTROS OLHARES

LUÍS miguel FEIJÓ

Optometron e os seus 20 anos de história

44 | OLHAR O MUNDO

RON ARAD O design como forma de vida

47 | ARTIGO CIENTÍFICO

MIGUEL FARIA RIBEIRO

Compensação da presbiopia com lentes de contacto: rumo à personalização?

Tema de Capa: Marco Bilimória brindou-nos com a sua faceta artística, o sonho que acompanha e completa a sua atividade de ótico.

Diretora: Editora: Redação: Consultor e Diretor Artístico : Paginação : Fotografia: E-mail: Tel: Periodicidade: Tiragem: Impressão: Preço de capa em Portugal: LookVision PortugalTM é propriedade da Parábolas e Estrelas – Edições Lda. com sede na Rua Manuel Faro Sarmento, 177, 4º esquerdo, 4470-464 Maia, Portugal. NIF: 510195865 Qualquer crítica ou sugestão deve remeter-se para: lookvision_portugal@hotmail.com

Patrícia Vieites Carla Mendes Carla Mendes, Mariana Teixeira Santos Emanuel Barbosa Paula Craft Paula Bollinger, Rodrigo Cabral lookvision_portugal@hotmail.com 96 232 78 90 Mensal 2000 exemplares Penagráfica – Artes Gráficas Lda. 7,50 euros Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusive comerciais. Os artigos de opinião e os seus conteúdos são da total responsabilidade dos seus autores. Isenta de registo na ERC ao abrigo do Decreto Regulamentar 8/99, de 9 de Junho, Artigo 12º, nº 1, a)


Editorial 4

LOOK VISION EDIÇÃO PORTUGAL • Nº 42 • FEVEREIRO 2016

ESPECIAL LENTES DE CONTACTO A força de um produto em ascensão

RON ARAD

O design como vida

TM

ÓPTICA CRUZ

Renascer sobre uma tradição de meio século

MARCO BILIMÓRIA

Distribuição exclusiva a profissionais • Preço de Capa: € 7,50

O homem com um sonho

A técnica e a ciência no centro da edição Temos desde o número um da LookVision Portugal o desafio de melhorar constantemente a nossa forma de captar o mercado. Nesta edição 42, assumimos o compromisso com a indústria da ótica de forma incondicional. Inteirámo-nos sobre empresas, estudiosos e profissionais ligados às lentes de contacto, sabendo das suas experiências e ambições. Divulgamos agora uma imagem fiel deste segmento através das vozes de quem o compõe. Para a capa, percorremos meio Portugal para satisfazer a curiosidade sobre Marco Bilimória. Figura bem disposta, descendente de uma importante família do setor, deliciou-nos com a sua ambição de ser artista e, claro, com o olhar que tem sobre o setor. Descubra o sonhador que há no ótico! E por falar em figuras criativas, este mês tivemos o privilégio de ouvir a voz de Ron Arad. Este grande homem do design sucumbiu ao eyewear, deixando-nos uma espólio curvilíneo irresistível e super funcional. O espaço às empresas e ao seu trabalho inovador e conquistas merece sempre o nosso respeito. Assim se constrói o mercado e registámo-lo na primeira linha. A optometria está estabelecida no nosso ADN e desta forma recebemos o contributo de Miguel Faria Ribeiro afeto às lentes de contacto, tema que privilegiamos este mês. Na altura de conclusão desta revista, estamos de partida para Milão em busca de novos desafios e perspetivas refrescantes sobre um setor que continua a transmutar-se e a renascer. De lá trazemos mais ótica para si! Entretanto vire a página e boa viagem!




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MAKING OFF CAPA

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No palco de Marco Bilimória A objetiva da nossa câmara teve um casamento perfeito com este ótico de alma artística. Comprovámos assim o brilho especial que provocam as paixões às pessoas. Na realidade, embora soubéssemos desta faceta ligada ao teatro de Marco Bilimória, não sabíamos que nos íamos deparar com a sua transformação, ou melhor na sua redescoberta. Desta forma, encarámos o palco cénico e absorvemos ao máximo as energias deste empresário tão especial.


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Breves 10

UBI Optometria portuguesa cresce em expressão A Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior inaugurou a 21 de janeiro o Centro Clínico Experimental em Ciências da Visão. Esta plataforma de investigação representou um investimento de 400 mil euros e prevê, entre outros objetivos, contribuir para a prevenção e deteção de problemas na saúde ocular da população da Covilhã e arredores. “Tem como principal objetivo promover e fomentar linhas orientadoras para o desenvolvimento da investigação na área das Ciências da Visão, no âmbito do ensino pré e pós-graduado, através da aplicação de metodologias e práticas clínicas que promovam os cuidados primários em saúde visual junto da comunidade”, realçou o professor da universidade e diretor do novo centro, Francisco Ferreira, em entrevista à plataforma académica Urbi et Orbi. O Centro Clínico Experimental em Ciências da Visão funciona na antiga Fábrica do Moço, junto ao campus principal e inclui serviços de tomografia de coerência ótica, retinografia, biometria, microscopia endotelial e topografia corneal. Este local privilegiado para novos conhecimentos está ainda registado na Entidade Reguladora para a Saúde e o seu funcionamento é assegurado pelos docentes da universidade e por três optometristas que estão a concluir o mestrado.

Coco Song Luxo nos detalhes Seda, penas, flores secas e pedras preciosas são os elementos singulares que se combinam ao ritmo de ambas as criatividades ocidental e oriental. O resultado? Óculos mágicos com um encanto único. É esta a essência da coleção Coco Song, desenhada pela Area98 e apontada às personalidades mais elegantes e ecléticas.

opti 2016 A revolução da feira alemã Mais negócio, mais visitantes e mais popularidade são as informações que se destacam nesta opti de recordes. O certame realizado em Munique entre 15 e 17 de janeiro lançou uma previsão enérgica para o setor. A primeira feira do ano contabilizou mais de 27 mil e 500 pessoas de 81 países, responsáveis por negócios na ordem dos 153 milhões de euros. As impressões recolhidas por ambos visitantes e expositores são positivas. Os inquéritos da organização recolheram opiniões desde excelente até bom, de 95,3 por cento, no caso dos visitantes e 91,7 por cento, junto dos expositores. O aumento de oito por cento de entradas, sendo que a maioria dos visitantes são decisores da indústria, segundo entrevistas feitas durante o evento, é a grande bandeira de 2016. Dieter Dohr, CEO e presidente da empresa que estrutura a opti, a GHM, declarou que o compasso acelerado impresso por Munique no primeiro mês do ano favorece os negócios. “Este certame anual da indústria da ótica conquista todos os players pelo foco na qualidade, espírito criativo e a atmosfera intimista. A opti impulsiona novas tendências, já que a sua flexibilidade no sentido de ir ao encontro das necessidades do mercado, consegue potenciar novos impulsos.”



Breves 12

Safilo x Swatch A aventura de colorir a face A fabricante de óculos e a marca de relógios assinaram um acordo de colaboração para a faceta eyewear da Swatch, a Swatch The Eyes. Criativa, alegre e orientada ao lifestyle, a mais recente marca de óculos “vê” a luz do dia na próxima primavera e acresce de cor a campanha da insígnia suíça I Always Want More Looks. A Safilo irá fazer o design das peças em conjunto com a Swatch e depois contar com a sua rede europeia de produção para materializar modelos audazes, irónicos e coloridos. A CEO da Safilo Luisa Delgado declarou em comunicado que “esta parceria, representa mais um ponto fulcral no nosso plano estratégico de 2020. Adicionamos uma marca icónica ao portfólio, complementando a nossa presença no vasto e crescente segmento de consumo de mass cool, com uma proposta única à altura do ADN inteligente, divertido e inovador da Swatch. Reforçamos também o compromisso com o fabrico europeu”. Do lado da Swatch, Nick Hayek, presidente, disse que “recriar uma história de sucesso em eyewear através da reinterpretação da categoria é um desafio excitante. A Safilo é um parceiro de qualidade que proporciona a mais alta qualidade de trabalho artesanal e estamos felizes por unirmos forças com eles.”

PaperStyle Quando o papel se transforma em arte eyewear Este projeto original assenta na perícia do trabalho manual, em materiais renováveis e num design pleno. PaperStyle lançou-se há dois anos e foi no ancião papel que encontrou a sua base de trabalho. Cada armação criada a partir deste material é única e original e expressa a personalidade da empresa e do seu usuário final. O projeto PaperStyle cresceu a partir de uma longa jornada de experimentação, protótipos e testes que visaram culminar na peça perfeita. Através de um processo patenteado, usam-se 15 a 18 folhas de papel de qualidade premium que são prensados, colados e secados em vácuo e depois moldados com uma ferramenta especial a 3D. Da “forja” surge um produto espantoso, moldável, incrivelmente duradouro, compacto, ligeiro e apelativo. É a alternativa perfeita para espíritos irrequietos.



Breves 14

Ultra Limited O mundo colorido dos Ultra Kids A casa italiana criou uma linha para os pequenos usuários de óculos. Ultra Kids “vestese” de cor, conforto e segurança em três modelos de prescrição: o feminino Jesolo e os unissexo Livorno e Viareggio. São pequenas joias criadas através do inovador e patenteado processo de fabrico que combina as mais recentes tecnologias e as técnicas de produção comummente associadas aos produtos artesanais. Ou seja, são necessários 41 dias para construir cada peça que terminam com óculos inéditos e irrepetíveis e que combinam desde oito a 12 cores.

J.F. Rey revive 1985 Na celebração dos seus 30 anos de trabalho, a casa de Jean-François Rey lança uma edição limitada especial. Modelos de sol e prescrição homenageiam os anos ’80, altura em que o criador impôs um ritmo diferenciador no mercado do eyewear, ritmo este que ainda hoje define a assinatura da marca. O designer escolheu reproduzir as peças mais icónicas lançadas em 1985, respeitando fielmente os desenhos originais. Produziram-se 500 cópias de cada e envolveram-se com estojos de alta qualidade, preservando o espírito dos anos ’80. Um livro especial com fotos originais de Joëlle e Jean-François Rey permite aos seguidores da insígnia francesa partilhar a sua fabulosa história.

Ana Sousa Moda num tom ousado A mais recente marca da Iodel Ibérica atrai os dias soalheiros com oito novos modelos. Uma coleção eclética e colorida, com vários formatos, tamanhos e materiais. Azul, violeta e bege são algumas das cores predominantes, a juntar aos clássicos de sempre, com misturas e efeitos que fazem lembrar mármores e madeiras. Ana Sousa chega desta forma ao mercado eyewear com uma variedade que chega a todas as personalidades e espíritos.

Silhouette A favor da liberdade criativa A nova coleção Titan Accent imbui--se das tendências que marcaram as passarelas de Paris, Nova Iorque e Milão. Cada modelo adota uma liberdade criativa grandiosa, com um toque sagaz de subtileza e idoneidade. Os padrões impressos nas hastes lisas remetem para tecidos sofisticados em que a cor tem o papel principal. Tons suaves imiscuem-se com cores eletrizantes, irradiando energia em todos os 12 modelos rimless. Este conjunto aponta a homens e mulheres e tem ainda 12 propostas de formatos de lentes que se completam com materiais da mais alta qualidade, como o SPX e o titânio.



Breves 16

La Dolce Vita apresenta Le Corbusier 2.0 Os óculos redondos lançaram-se desde sempre para lá dos limites de simples objetos para contar uma história que vem atravessando os tempos. Desde o século XIII, presente no mais antigo documento iconográfico que relata a existência dos óculos e ainda sem hastes, até ao mítico Beatle, John Lennon, este formato tem sido recuperado vezes e vezes sem conta. A marca La Dolce Vita pesquisou estes arquivos essenciais e descobriu o brilhante arquiteto suíço Le Corbusier com um modelo redondo e especial, que acabou por inspirar todo o conceito da marca. Assim, e a partir de um acetato Mazzucchelli bem espesso, renasce o primeiro modelo da casa transalpina, desta feita como Le Corbusier 2.0. Mate ou brilhantes, os frontais saltam à vista e concedem uma luz evanescente ao rosto, tanto na versão de sol como de prescrição.

Ørgreen Os óculos com alma Cada tipo de personalidade encontra na nova coleção a sua armação perfeita. A Ørgreen ecoa as últimas tendências em cada modelo num resultado sempre intemporal. Nesta temporada, a inspiração centrou-se num pulsante bairro berlinense, na música que mexe com o mundo, na aerodinâmica dos aviões, nos atores intensos, nos artistas icónicos e muito mais. Pode constatar-se isso nas linhas fortes, em cada curva elegante, no ultra minimalismo e na meticulosa dedicação ao primor.

RETINA Um grupo europeu de óticos independentes O fim do mês de janeiro marcou a criação da primeira cooperativa europeia que reúne três grupos de ótica: Vision Group de Itália, Cione de Espanha e Atol les Opticiens de França. São mais de 11500 óticos e 3500 pontos de venda que ficam sob égide da Retail International Alliance, ou RETINA, representados na oficialização do acordo por Marco Procacciante, CEO da Vision Group, Fernando Flores, CEO da Cione e Eric Plat, presidente do Atol les Opticiens. Esta aliança conjuga ambições comuns e apoia o acréscimo da qualidade do serviço dado à rede de associados e aos seus consumidores. Tudo isto será possível através da partilha das mais-valias, do profissionalismo e das competências chave de desenvolvimento de cada parceiro, incluindo as capacidades técnicas dos óticos, os serviços inovadores e as marcas exclusivas.


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Premiere Classe X Silmo Uma união de força As duas importantes feiras, Silmo e Premiere Classe, firmaram uma colaboração que arranca em setembro de 2016. Dedicadas aos óculos e acessórios de moda, respetivamente, reforçam a presença dos seus produtos nos eventos, sob égide das suas renomadas marcas. Ou seja, já a 2 de setembro, na Porta de Versailles, o certame Premiere Classe terá uma área dedicada ao eyewear de design, a Village Silmo. Adicionalmente, o salão Silmo, que acontece de 23 a 26 de setembro, reserva um espaço primordial aos acessórios de moda, sob o desígnio de Premiere Classe. Na oficialização desta união de forças estiveram Boris Provost e Sylvie Pourrat, em representação da Premiere Classe, e Isabelle Beuzen e Eric Lenoir pelo Silmo.

Maui Jim Novos estilos que conquistam A marca de origem havaiana anuncia o lançamento de três novos designs que se adaptam às mais exigentes tendências do mercado. Fiel aos formatos intemporais, a Maui Jim homenageia a constância do desenho aviador com Castles e Upcountry. O primeiro compromete-se com a sofisticação através de linhas finas de metal e lentes SuperThin. Upcountry mantém-se fiel ao quadro que celebrizou esta armação, num registo clássico com a garantia Maui Jim de uma excelente visão. Orchid é a proposta mais feminina destas novidades. Com o nylon como matéria primordial, é no tamanho oversize que tem a sua assinatura e completa-se nas fabulosas lentes de cor Maui Rose.

Liu Jo A frescura de novas linhas A designs modernos e atuais, a Liu Jo Eyewear adicionou aplicações brilhantes e intrincadas que demarcam a nova coleção em qualquer circunstância. Super femininos e “pintadas” com cores sedutoras, as novidades desta marca ícone da moda exalam uma sensação de preciosidade, um brilho inevitável e a sofisticação exigida pelos seguidores das tendências.



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Marco Bilimória

O homem com um sonho Fotografia: Rodrigo Cabral e Paula Bollinger

Viajámos até Alcácer do Sal com expectativa de conhecer o líder da MB Óptica. E mal entrámos na cidade ali estava a publicidade à marca de Marco Bilimória, com a sua imagem como mote. Quando o vimos a caminhar na nossa direção, duvidámos que seria o mesmo ótico que cruzámos em tantas ocasiões.


“Perde-se e investe-se muito tempo no teatro e, ainda para mais, quando se trata de teatro amador o nosso único retorno é o público levantar-se a bater palmas.”

Uma imagem renovada, ousada e, sem dúvida, melhorada fez com que Marco fosse mais ele próprio. Descobrimos, por isso, o homem que sonha com o teatro, mas que se define na óptica e nos seus inúmeros projetos profissionais. Não foi fácil direcionar a MB Óptica para “bom porto”. Sacrifícios, estratégias de proximidade e um espírito muito positivo colocaram esta casa dedicada à saúde visual numa posição “confortável”. Mas o primeiro grande desafio de Marco Bilimória centrou-se na libertação da imagem de família. O famoso Oculista Pilú, de Lisboa, foi a sua escola de ótica, lado a lado com o pai. Fugiu literalmente para um sítio onde pudesse começar de novo, sem a sombra paternal e com os seus valores bem assentes, mas com os ensinamentos preciosos das suas origens familiares. Embora saísse de “casa” em jeito de ruptura, voltou recentemente a abraçar o homem que lhe deixou como herança conhecimentos e garra e que reconheceu que o caminho da MB Óptica era frutuoso. Desta vez não resistimos a inverter a nossa entrevista. Começámos por satisfazer a nossa curiosidade relativamente à faceta artística de Marco Bilimória. O teatro é a sua ambição de jovem e, só não fez dele a sua vida, porque o percurso afigurouse, na altura dos seus 20 e pouco anos, complexo e com um casamento já no currículo, guardou o sonho. Hoje exprime-se com os colegas do TELA, ou Teatro Estranhamente Louco e Absurdo, de Águas de Moura, como guionista, encenador e ator. “Quem corre por gosto não cansa e não há outra resposta”, garantiu-nos. Claro que, a sua personalidade

divertida, intensa e confiante tem ajudado no sucesso do grupo. E, desta forma, os planos acumulam-se e ganham dimensão, rumo ao que sempre ambicionou. A sua figura “nova”, de barba protuberante e indumentária elegante, de facto, faz com que se destaque mais o Marco e a sua essência, numa ligação natural. Estamos ansiosos para ver mais deste sonhador e empreendedor. “Adoro ser ótico-optometrista de profissão, mas ser ator tem algo especial no meu coração.” O teatro é um “contraponto” ou um motivo de equilíbrio? É sem dúvida um equilíbrio. Faço teatro desde 2002, com uma paragem de três/ quatro anos. Porém, após uma reunião com os meus colegas decidimos relançar o grupo dos veteranos, numa nova peça de teatro. O problema que se impôs foi que tínhamos perdido o nosso encenador por falta de verba. Surgiu então a ideia de eu assumir esse papel e a minha reação foi: “sem problema, eu escrevo uma peça para nós os seis, sou encenador e também ator! Se não há dinheiro temos de ser nós mesmo a avançar!” Eles aceitaram o desafio e eu escrevi uma peça em pouco mais de um mês, para uma hora e um quarto de espetáculo. Intitulou-se o Império Amoroso e estreou-se após cinco meses e meio, desde a escrita até aos ensaios. Sem intervalos, uma comédia, ao meu bom humor e imagem e com muitas brincadeiras. Foi um sucesso! Vamos ainda fazê-la mais uma vez e depois passamos para outra. É tão simples. Não há desculpas, quando se quer, faz-se. Perde-se e investe-se muito tempo no teatro e, ainda para mais, quando se trata de

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teatro amador o nosso único retorno é o público levantar-se a bater palmas. E como foi a nova experiência em todas estas vertentes? Não tenho palavras para descrever. A companhia TELA tem 20 anos de existência, com condições simples, mas é a nossa companhia de teatro. Se saísse da TELA teria que ser para uma companhia profissional…embora nunca se saia do teatro amador. Ganhou-lhe o gosto, então? Claro! Só tenho um problema: falta de tempo. Tenho muitos projetos na minha cabeça tanto ao nível da ótica como a nível artístico e como não dá para ser ator, encenador e ainda guionista, então decidi, com os meus companheiros, ser apenas encenador. Tenho pena de não representar neste próximo trabalho, mas é necessário optar. Será a primeira vez que assumo esta tarefa. Vibrei em fazer a peça anterior, foi um sonho realizado! Porque uma coisa é termos um texto escrito, um encenador que estamos a pagar e está ali a trabalhar um texto já existente, outra é vir tudo de dentro de nós! Foi tão engraçado ver os meus colegas lerem o texto e não perceberem a piada e eu comentar: “Não se riem?” e eles responderam que não acharam muita piada! Olhava para eles e imaginava o texto a ser interpretado com um tom de comédia,


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pois fazer rir o público é muito difícil, mas sou muito exigente e se me ria era porque o público, em princípio, iria reagir! Posso dizer que nos ensaios eu ria-me sempre nas mesmas cenas (risos). Tive muitos amigos no nosso ramo que viram o Império Amoroso e como são educados disseram que acharam imensa piada (risos). Fizemos seis ou sete espetáculos, todos na zona de Palmela. Por outro lado, a ótica absorve-o muito? Claro, sou responsável pela MB Óptica! Temos duas lojas, uma em Águas de Moura e outra em Alcácer do Sal. E como dividir-se entre duas lojas e dois locais distintos? Somos duas equipas num total de seis pessoas. Tenho duas pessoas permanentes em cada loja e duas deste grupo são variáveis, ou seja, eu e a minha colega alternamos a presença na loja, mediante a necessidade. Eu sou o único optometrista. Os nossos clientes estão habituados a que eu seja o rosto da MB Óptica. Tenho o objetivo de ter mais um optometrista, mas antes quero que o mercado me conheça, essencialmente em Alcácer do Sal.

Celebrou 15 anos de atividade. Recorde-nos este percurso de década e meia. Começou muito antes. Já o tio do meu avô era ótico na Índia, o meu avô em Moçambique e os meus pais em Moçambique e Portugal. Eu abri com a minha mulher (apenas como sócia) a MB Óptica em dezembro de 2000, convencido que seria uma excelente aposta para mim e foi muito, muito difícil durante os primeiros anos. Primeiro tive que pagar o investimento, porque abri sem dinheiro. Tive uma pessoa, a quem hei de agradecer eternamente pela ajuda financeira que me deu, que foi o meu sogro. Sem esse impulso financeiro eu não tinha na época qualquer hipótese de fundar a MB Óptica. A minha mulher foi outro elemento fundamental, porque a forma como tratou de toda a burocracia foi inigualável. Foram as pessoas que tornaram a MB Óptica possível. Após a abertura tive de crescer muito. Tinha 25 anos. Estava rotulado como filho de alguém, dizia-se que a empresa não era minha. Eram ideias que se criavam e até conseguir criar o meu nome no mercado e provar que eu era o responsável e que conseguia gerir a loja, foi complexo. E porquê abrir em Águas de Moura? Muito simples. O meu senhorio conhecia-me, porque o sobrinho foi meu colega de carteira e perguntou-me se queria conhecer a localidade para abrir uma loja. Vendeu-me uma ideia tão interessante que acabei mesmo por abrir lá. Era um excelente vendedor (risos)! Mas quando viu o investimento que fiz na loja, ficou preocupado. Foi mesmo muito dinheiro e, na altura, tudo era mais caro do que agora. Hoje

podemos recorrer a empresas alternativas com preços mais competitivos, de forma mais equilibrada e justa. Como conquistou este público difícil? Foi com uma receita muito simples! Integrei-me na sociedade. Em 2002 metime na comissão de festas a convite e no mesmo ano surgiu o teatro, para o qual fui também convidado. Integrei-me rapidamente. Quanto tempo demorou até sair do período difícil? A partir de 2006. Cinco anos de pagamentos duros e má gestão na época. Mas feita por si? Sim, claro, porque temos que dizer o que é verdade, nas coisas boas e nas más. Eu baralhava um bocadinho as coisas. Em Águas de Moura mudei de loja, porque houve uma oportunidade de aumentar a área comercial. Nessa altura apercebi-me da quantidade existente e sem previsões de venda. Entendi que não podia continuar assim e avisaram-me que tinha a empresa a caminho da ruptura. Hoje tenho uma outra visão sobre o nosso negócio, com mais experiência, acompanhamento e uma gestão mais afinada. E então aconteceu a expansão. Sim, sempre gostei desta loja de Alcácer do Sal e descobria-a livre quando vim cá uma vez entregar uns óculos a um cliente. Enganei-me no caminho e vi-a para alugar. Falei com o responsável. Negociei logo ali e dois dias depois o proprietário telefonou-me e chegámos a acordo. Nesse mesmo momento recordo-me


“Confesso que me caíram lágrimas de receio. Era a responsabilidade de ter a cabeça a prémio. Sei que a minha equipa foi fantástica e que parte do projeto também lhe devo.”

e também porque quem está na frente é o Rui Teixeira com quem tenho uma relação especial. Achei que devia ser um parceiro de negócios e não um “franchisado” com a marca do grupo nas lojas que tenho. Neste grupo tenho vantagens nos serviços de marketing e os preços são muito competitivos. Saber vender é muito importante mas na compra é onde está o ganho.

que me levantei e tinha as pernas a tremer. “Como vou fazer isto?” Em dois meses e tal tinha a loja aberta. Falei com os meus fornecedores, que são meus parceiros de negócios e ajudaram-me. Só tenho que agradecer, mais uma vez. Começou tudo novo. Com o mesmo frio na barriga de Águas de Moura? Sim e tive muito medo. Confesso que me caíram lágrimas de receio. Era a responsabilidade de ter a cabeça a prémio. Sei que a minha equipa foi fantástica e que parte do projeto também a ela devo. A responsabilidade foi conjunta, cada uma das colaboradoras o seu jeito. Todas elas sabem disso…são só mulheres e eu! (risos) Pensa ainda expandir mais? Claro! Não sei quando. Ando sempre à procura, mas não procuro nada. Assim que aparecer algo que me agrade, serei muito rápido a pensar e contactarei logo quem me apoia. Mas não quero abrir por abrir, porque manter um projeto destes custa muito. Para já tenho duas marcas a salvaguardar: a MB Óptica e a MB Vision, esta última vocacionada aos cuidados primários da saúde visual. Porque não continuar o trabalho dos seus pais em Lisboa? Os meus pais foram pessoas que nos anos ’80 tinham muita influência e detinham o Oculista Pilú. Vindos de Moçambique em 1974, onde a empresa já existia, começaram tudo do zero com muitas dificuldades e construíram um mundo. Porém, tudo desapareceu por vários motivos que penso que não é nesta entrevista

que devo explicar. Sei que sou filho de um empresário de ótica que teve muita influência no mercado. Aos 21 anos fiz a minha primeira tentativa de saída, mas com essa idade somos uns miúdos. A minha mãe conseguiu dar-me a volta e eu fiquei até aos 24, quando eu e o meu pai discutimos e eu decidi procurar o meu rumo. Posso dizer que sai em fevereiro e em abril casei desempregado. Confesso que foi muito complicado. Nessa época andava à procura do meu sonho...e de teatro (risos). Não seguiu o seu sonho de ser artista. Falei com pessoas conhecidas na área do espetáculo, que eram nossos clientes, mas disseram que devia ter formação, mas não podia porque tinha que arranjar um emprego. No entanto, decidi que um dia iria fazer teatro, nem que fosse para a vizinhança. Antes de casar já havia uma luz. Houve um senhor, o Carlos Mackay, que deu o meu contacto ao Rui Teixeira de Linda-a- Velha e este na primeira entrevista deu-me emprego alegando que “por ser filho de quem é, está contratado!” Numa altura em que muitos falavam mal do meu pai, ele foi contra a corrente. Por tudo isto, continuo a dizer que temos que manter relações pessoais e profissionais com as pessoas no nosso mundo. Trabalhei lá ano e meio e foi muito importante para o meu crescimento. Comecei muito sozinho esta nova fase da minha vida, mas com um muito orgulho posso dizer “Consegui!”. E sobre a Cecop? O que o levou a sair? Fui o associado nove e o terceiro mais antigo quando saí. Tenho muita estima pelo grupo, por todo o apoio que me deram, mesmo nas dificuldades financeiras e foi onde me senti em casa. Fui o primeiro ótico a ir a Espanha conhecer a sede a título próprio. Hoje estou na Nacional Óptica, porque temos pontos em comum

Que ideia tem do mercado da ótica considerando que já nasceu no meio? O mercado está virado de cabeça para baixo. Cada um vai para onde quer. É bom para uns e mau para outros, claro. Nós sabemos o caminho que queremos traçar e como nos diferenciarmos em relação aos colegas mais próximos. Enquanto o sector não for regulamentado, cada um faz o que lhe apetece. É um serviço ligado à saúde visual, por isso, tem de haver responsabilidade, respeito e acima de tudo saber o que se comercializa. Poderia estar aqui a exemplificar muitas situações mas penso que elas são faladas todos os dias. O mercado está diferente, ora pela abertura de novos conceitos de loja, ora porque aqui há espaço para mais um. Não sou contra, mas isto vai dar prejuízo a alguém. Portanto, que futuro auspicia? Acho que o mercado se vai dividir em dois: clientes que procuram só preço e clientes que procuram diferenciação. Temos é que definir o nosso caminho porque não podemos seguir os dois ao mesmo tempo. Não se pode ter o melhor dos dois mundos a não ser se tiver dois conceitos em separado! O mundo mudou… e a óptica também.

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ponto de vista

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Lentes de Contacto

A força de um produto em ascensão O segmento retalhista da ótica, na sua generalidade, tem nas lentes oftálmicas a sua maior fonte de vendas, mas numa sociedade sempre mais intensa e exigente e com a supremacia da imagem a impor-se, assegurar uma solução para além dos óculos pode ser importante. Tem sido este o grande chamariz dos consumidores para as lentes de contacto. Ainda há poucos anos representava um produto de difícil acesso, pelas soluções limitadas que proporcionava. Porém, a ciência e a indústria debruçaram-se sobre esta resposta à acuidade visual, que em alguns casos tem também uso terapêutico. De rígidas a maleáveis, de limitadas nas graduações a aplicações amplas, de incómodas a verdadeiros “oásis” de conforto oxigenado, as lentes de contacto estão no centro das conquistas do setor. Abrimos aqui as páginas da LookVision Portugal à “voz” de quem investiga e corre atrás de soluções vanguardistas e abrangentes, das empresas que usam esta informação para produzir verdadeiros “focos” de futuro e ainda aos embaixadores primordiais deste segmento: os óticos. A consequência de toda esta polvorosa criativa reflete-se nos números disponibilizados por empresas de estudos de mercado e académicos empenhados em contribuir para o conforto e qualidade de vida das populações e para a consequente evolução do mercado. Este levantamento exaustivo de opiniões, estudos e estatísticas reais quer ainda servir de ponto de partida a uma interação entre cientistas, indústria e retalhistas. E como é um

tema “em construção” convidamos os leitores a refletirem e a contribuírem com mais perspetivas, no sentido de edificar um caminho seguro para todos os intervenientes da área da lentes de contacto. Estamos disponíveis 24 horas por dia e sete dias por semana para recolher ideias e críticas e comprometemo-nos a darlhes o privilégio da infinidade nas nossas páginas. As lentes de contacto em números Os investigadores ligados à saúde visual da Universidade do Minho vêm avisando desde as primeiras Jornadas de Contactologia que este mercado tem um potencial de crescimento sem igual no mercado da ótica. De facto, diferentes estudos de variadas fontes demonstram que só uma ínfima parte da população amétrope recorre às lentes de contacto. Segundo a Vision Needs Monitor, Market Probe de 2015, entre uma amostra de 2004 portugueses, estimou-se que 68 por cento da população portuguesa usa óculos e metade tem mais de 44 anos. Destes, só sete por cento usa lentes de contacto e 83 por cento nunca experimentou sequer esta opção, sendo que


22 por cento deles não imagina colocar um corpo estranho no olho. Importante referir que dez por cento afirma que o seu ótico não recomendou o uso das lentes de contacto. O dado central deste inquérito está nos 26 por cento das pessoas que nunca experimentaram lentes de contacto que admitem estar dispostos a experimentar a curto prazo, caso a graduação esteja disponível, e 24 por cento pensa fazê-lo no futuro. Interessante é também o número elevado de usuários com menos de 24 anos, 31 por cento, e que grande parte dos seguidores do produto são mulheres, 61 por cento. O abandono centra-se nos dez por cento de utilizadores, 30 por cento dos quais por desconforto e irritação, 17 por dificuldade de manuseamento, 11 por dificuldades de visão e nove pelo preço. Entre quem adere às lentes de contacto, 58 por cento usa esféricas e 32 por cento tóricas, 76 por cento mensais/ quinzenais e 16 por cento diárias. Já o International Contact Lens Prescribing Survey Consortium, do qual a Universidade do Minho faz parte desde 2007, referiu a assimetria das faixas etárias dos utilizadores. representando mais de 15 por cento dos estudantes universitários e muito abaixo desse valor em faixas etárias mais precoces e mais avançadas. Contudo, esta realidade está a mudar com a crescente adaptação de lentes de contacto a crianças antes dos 12 anos com o intuito de diminuir a progressão da miopia e em pacientes de mais de 45 anos para a correção da presbiopia. Este último segmento domina e tem feito aumentar a idade média dos usuários de lentes de contacto nos últimos anos de um modo mais expressivo nalguns países como o Canadá, Reino Unido, Estados Unidos e mesmo Portugal. Entre 2010 e 2015 a evolução da adaptação de lentes de contacto em Portugal tem-se caraterizado por um aumento médio na idade de adaptação de 0,6 anos por cada ano (de menos de 30 em 2010 para 33 anos em 2015), um aumento de 1.6 por cento ao ano na proporção de pacientes que utilizam as lentes em part-time (de quatro para 12 por cento), um aumento de três por cento ao ano na proporção de lentes de contacto hidrófilas descartáveis diárias (de 15 por cento em 2010 para 30 por cento em 2015) e um aumento de 4,4 por cento ao ano na proporção de presbitas adaptados com lentes de contacto que passam a usar lentes de contacto multifocais (de 7 por cento em 2010 para 29 por cento em 2015). Observa-se assim que Portugal acompanha e, nalguns casos, até ultrapassa as tendências de melhores práticas observadas em países referentes como Canadá, Reino Unido ou Canadá.

Fonte: International Contact Lens Prescribing Survey Consortium.

Ainda da prescrição de lentes em 2015, a plataforma de informações clínicas sobre as lentes de contacto, Contact Lenses Spectrum, no seu relatório anual em 2015 deu números sobre 23 mil adaptações em 34 mercados. De realçar a maioria feminina entre os usuários dentro dos países abrangentes, indo até aos 80 por cento em alguns mercados asiáticos (Coreia, China, Tailândia e as Filipinas em particular), apresentando-se mais baixo no mercado europeu. Adicionalmente, a idade de adaptação também apresenta tendência para descer, ao longo dos últimos anos. Em mercados emergentes das lentes de contacto, como as Filipinas e Bulgária, a idade é mais baixa (abaixo dos 30) e em países mais “maduros” com América do Norte e Europa Ocidental é mais alto (acima dos 35). Entre os tipos de lentes, dominam as lentes moles, com 84 por cento de novas adaptações e 87 por cento de readaptações com os silicones hidrogel como “reis” das adaptações, nuns amplos 54 por cento. As lentes de contacto através de José Gonzalez-Méijome

É um tipo de correção que pelas suas características tem sido associado a alguns contratempos de saúde. O uso de lentes de contacto exige um cuidado criterioso com a sua manutenção, nomeadamente a limpeza e desinfeção e substituição das mesmas, conforme as recomendações dos fabricantes e profissionais de saúde. No entanto, outros cuidados, tais como a higiene das mãos antes do manuseamento das lentes, evitar a utilização em ambientes potencialmente contaminados tais como piscinas, água do mar, duches, entre outros, podem levar a um aumento da incidência de complicações oculares. Os riscos distribuem-se de modo similar por todas as faixas etárias, sendo no entanto mais frequentes as ocorrências nas populações jovens, por serem aquelas que agregam o maior número de usuários, em particular entre os 18 e os 34 anos de idade. Curiosamente, entre as faixas etárias mais baixas (<16 anos) é onde há uma menor quantidade de ocorrências, em parte pelo ainda menor número de usuários e, possivelmente, por um acompanhamento mais intensivo por parte dos pais.

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E a nível terapêutico? Tem-se desenvolvido o seu uso? A aplicação terapêutica das lentes de contacto foca-se em diversas vertentes, desde a utilização em contexto cirúrgico, na sequência de intervenções refrativas para a compensação da miopia com algumas técnicas a laser à administração de fármacos. No entanto, a área dominante continua a ser a aplicação com o propósito de reabilitar a visão na sequência de patologias da córnea, intervenções cirúrgicas ou traumatismos com a característica comum de apresentarem uma córnea irregular apenas compensável com lentes de contacto de características especiais. E qual o futuro que se espera em materiais, graduações e produção de lentes de contacto? Sendo difícil realizar uma previsão do que o futuro trará a este campo, podemos já atentar algumas linhas de evolução entretanto iniciadas e que seguramente irão sofrer importantes avanços nos próximos anos. Trata-se das evoluções dos materiais para permitirem realizar uma libertação controlada na superfície ocular de fármacos impregnados nas próprias lentes, a utilização de biossensores incluídos nas lentes de contacto, para controlo de parâmetros biológicos e fisiológicos do olho e outros órgãos, aplicações tecnológicas em dispositivos de realidade aumentada, entre outros. No âmbito dos materiais esperam-se evoluções no sentido de garantir uma menor interação com a superfície ocular mediante a incorporação de superfícies com menor coeficiente de

“Neste momento precisamos apostar mais na informação e na quebra de algumas barreiras que ainda existem entre o consumidor e o mundo das lentes de contacto. A nossa população está pouco esclarecida.”

atrito, que promovam a renovação lacrimal e evitem e previnam a contaminação por microrganismos. Será ainda necessário que se evolua em termos de geometrias óticas para a compensação da presbiopia e controlo da progressão da miopia para aumentar a sua eficácia na visão de perto e na retenção do crescimento axial do olho acima dos atuais patamares já alcançados, respetivamente. As lentes de contacto RPG de grande diâmetro (corneoesclerais, mini-esclerais e esclerais) continuarão a evoluir no sentido de consolidar os procedimentos de adaptação assentes em novas tecnologias de imagem. A tecnologia de impressão 3D também se antecipa como uma via possível para uma produção mais personalizada de lentes de contacto para aplicações avançadas, embora ainda seja cedo para se antever uma implementação efetiva desta tecnologia na produção de elementos com a qualidade óptica e os padrões de segurança exigidos a estes produtos sanitários.

“Apresentamos muitas vezes esta solução por variadas razões e de acordo com cada caso particular, por razões de melhoria da acuidade visual, por razões de estética, porque permite uma maior liberdade de movimento, entre outras. Os consumidores reagem muito bem e fazem eles muitas vezes a abordagem neste sentido, sobretudo por razões de estética, conforto e liberdade de movimentos. A introdução de novos materiais e novas graduações pode sempre potenciar as vendas. Nos casos de presbiopia, por exemplo, ainda há muito a fazer. Trata-se de um mercado com grande potencial de crescimento uma vez que as pessoas trabalham cada vez até mais tarde e a oferta ainda é muito limitada. As questões económicas também condicionam muitas vezes a opção dos clientes e por outro lado, temos uma concorrência menos saudável através da oferta pela internet, que desvirtua as condições de mercado.” Heliana Silva – Opticalia da Maia

Os “adaptadores” em direto Paula Silva – Novo Oculista de Loures

“Damos a conhecer as lentes de contacto como possibilidade primordial de correção em alguns casos específicos, como desportistas, graduações elevadas, casos clínicos ou profissões que



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assim o exijam. No entanto, na maioria dos casos, o ideal é conseguirmos que o usuário faça uma utilização equilibrada entre lentes e óculos. A abertura dos consumidores ao uso de lentes depende muito do tipo de público. Ainda existem falhas na informação e alguns mitos em torno do uso de lentes. Mas é de facto um mercado com potencial e onde ainda há muito a explorar e a conquistar. As lentes de contacto são um produto bastante desenvolvido. Neste momento precisamos apostar mais na informação e na quebra de algumas barreiras que ainda existem entre o consumidor e o mundo das lentes de contacto. A nossa população está pouco esclarecida. Aqui temos um papel fundamental.”

desenvolve as lentes darem ferramentas para trabalharmos mas muitas vezes temos as ferramentas e deixamo-las por usar. Eu, pessoalmente invisto imenso. Existem soluções muito transversais, mas cada caso é um caso.”

mim as lentes descartáveis diárias são a solução ideal, mas tem grande peso económico, pelo menos em Portugal. É necessário também aumentar a permeabilidade dos materiais para se diminuir sempre mais as margens de risco.”

António Carlos Fernandes – Optocentro

José Carlos Cardoso – Centro Óptico Jardins da Parede

visões de perto e de longe. Creio que o preconceito criado em torno da idade mínima para as crianças usarem lentes de contacto ainda está impregnado entre os profissionais. Na minha opinião devia diminuir-se a idade limite ou erradicar-se por completo.” A indústria na linha da frente Alcon A Alcon distingue-se sobretudo por duas vertentes: o compromisso com a inovação, (desenvolvendo produtos de alta performance que proporcionem um aumento da qualidade de vida dos doentes através de uma visão melhorada) e com a formação. O resultado final é o reflexo da capacidade de execução destas duas vertentes.

Marco Bilimória – MB Óptica

A voz de Tiago Semelhe Senior Professional Customer Developer

É um mercado que tem muito para explorar e não vende mais porque nós optometristas não abrimos a boca às vezes. É muito importante que os optometristas quando exercem não se esqueçam que também são contactologistas. É importante ter banco de ensaios, estou sempre a tentar incutir a experiência, a motivar. Parte, claro, dos fabricantes e de quem

“Adaptamos em particular a quem tenha atividades desportivas e de lazer, a quem tenha relutância em relação aos óculos e até como uma alternativa para os dias de verão, por exemplo. Antigamente, os consumidores eram mais “maduros”, entre os 20/25 anos e os 45, porque havia menos opções e até porque o uso abusivo das lentes de contacto trazia más experiências e até problemas na córnea. Por isso se contabilizavam muitas desistências. Hoje a curva de idade é mais ampla, tanto para os jovens, como para os presbíopes. É só a questão de se fazer uma boa preparação e haver sempre apoio profissional. De qualquer forma falta ainda evoluir. Para

“Sugiro lentes de contacto a 60 por cento do meus pacientes, como uma primeira opção de correção, ou como um plano B para “dias de loucura”. A recetividade da esmagadora maioria é boa, mas ainda existem limitações nos parâmetros de fabricação, ou seja, ainda não existem lentes de contacto abrangentes o suficiente para culminar todas as necessidades dos pacientes. Por outro lado, cresce sempre mais a vontade de usar lentes descartáveis diárias, mas ainda representam um grande custo para as famílias. A outra faceta deste segmento que também suscita muito interesse centrase nas multifocais, porém ainda não conferem acuidade visual satisfatória para ambas

“O que impede o crescimento de mercado é a elevada taxa de abandonos no uso de lentes de contacto que ocorre anualmente, cerca de 10 por cento/ano em Portugal. É claramente o grande travão e o profissional da visão terá neste campo


um papel fundamental, garantindo o seguimento e a monitorização do utilizador de lentes de contacto e evitando a insatisfação e diminuindo o risco de abandono. Se assim não fosse, o número de utilizadores de lentes de contacto seria significativamente superior. Para aumentar a informação deste segmento de produtos temos que o fazer diretamente ao consumidor. É fundamental para qualquer empresa ter um plano de comunicação, visibilidade e marketing ao consumidor para sustentar o crescimento de um mercado com enorme potencial e esse será um dos caminhos que a Alcon tomará em Portugal para 2016 para fazer crescer o mercado, beneficiando com isso os envolvidos no setor (fabricantes, profissionais e ópticas). O futuro das lentes de contacto passa pelo desenvolvimento de materiais que consigam proporcionar ao utilizador mais conforto. Aqui, a lente de contacto descartável diária será, certamente, a principal bandeira. Ao mesmo tempo o futuro das lentes de contacto passará para outras áreas de aplicação como as lentes de contacto inteligentes acomodativas ou as lentes de contacto com sensores de glucose (para avaliar a glicemia através da lágrima), sistemas que a ALCON já está a desenvolver em parceira com a as Google Life Sciences. Bausch + Lomb Na B+L o departamento de investigação e desenvolvimento foca-se exclusivamente no cuidado da visão, com o objetivo do consumidor Ver Melhor para Viver Melhor. Existe uma grande consciencialização sobre a formação profissional

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e, por isso, proporcionam-se programas que permitem ao profissional do cuidado da visão manter-se atualizado. A colaboração com os congressos mais importantes também é central, permitindo mostrar os últimos estudos de investigação. Adicionando a tudo isto, a B + L tem uma equipa de optometristas que visitam diariamente os profissionais, oferecendo formação e colaboração acerca da adaptação de lentes de contacto. A voz de Patrícia Rocha Product Manager Junior “Como ponto positivo, os ópticos Portugueses na sua maioria têm um nivel de conhecimento e técnico elevado de lentes de contacto, facto que torna possível a evolução e crescimento do mercado das lentes de contacto em Portugal. Apesar disto, como ponto negativo, existem actualmente ainda muitas ópticas que não apostam nesta área de mercado. Como sugestão e solução, o segmento de mercado das lentes de contacto deveria ser uma nova aposta para muitas óptica. Trata-se de um produto em constante inovação, disponibilizando atualmente soluções para a maioria dos defeitos visuais e com um enorme potencial de crescimento. CooperVision A CooperVision tem um portfólio de produtos completo e avançado. Para além desta vantagem, a grande aposta da empresa é na parceria com os seus clientes. É fulcral proporcionar as melhores ferramentas e condições para que os parceiros possam crescer no seu negócio e que

a adaptação de lentes de contacto seja uma mais valia para a sua prática diária. A voz de Tiago Ferreira - Professional Service “Sabemos que a evolução do mercado, das tecnologias, materiais e tipos de correção vão exigir cada vez mais dos óticos e dos adaptadores de lentes de contacto, tornando o serviço e o knowhow fatores importantes e diferenciadores. Assim para que as lentes de contacto consolidem o seu crescimento e o seu papel como sistema de correção versátil, e produto de fidelização, temos de fazer com que este segmento seja interessante para os óticos a nível comercial bem como um produto potenciador de reconhecimento profissional para os adaptadores de lentes de contacto. Quando um mercado é interessante para quem o pode fazer crescer as coisas irão ocorrer naturalmente, e assim é obrigação da CooperVision fazer com que este mercado seja interessante para quem o pode consolidar, evoluir e desenvolver. Para isso, a CooperVision disponibiliza uma série de ferramentas que ajudam os profissionais a criar, reter e desenvolver cada vez mais os seus utilizadores. É importante que os profissionais se mantenham atualizados e sempre conhecedores das novas tendências e produtos do mercado para que este evolua, mas ao mesmo tempo nós, fabricantes, temos de assumir as nossas responsabilidades de tornar este produto cada vez mais interessante para os óticos e utilizadores.” Disop Na Disop prevalece a crença que através da contactologia o ótico pode afirmar-se como o profissional de saúde que é. Esta empresa espanhola aposta forte numa abordagem diferenciada ao associar cada um dos seus produtos ao tipo de olho e estilo de vida do paciente, associação esta que só pode ser feita através do trabalho próximo do ótico com o seu cliente. Desta forma, a Disop acredita que o trabalho deste verdadeiro embaixador das lentes de contacto fica mais rico.


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A voz de Cristina Mendoza Responsável de Marketing “Este segmento de correção visual tem um potencial de crescimento enorme que pressupõe vendas acrescidas e oferece a possibilidade de dar um serviço com valor acrescentado, coisa que outros canais não proporcionam. Acreditamos na Disop que a recomendação de um sistema adequado de manutenção as lentes de contacto é muito importante, considerando o tipo de lente e ainda o estilo de vida da pessoa.” Lenticon A Lenticon quer distinguirse das restantes empresas através do seu laboratório altamente especializado em soluções para uma contactologia de vanguarda/ avançada (ortoqueratologia/ controlo de miopia, córnea irregular e lentes de contacto multifocais) e também soluções “comfort” com lentes RGP e híbridas. Outro fator que diferencia a Lenticon consiste no backoffice destes produtos, isto é, para uma correta adaptação dos mesmos, a Lenticon disponibiliza ao profissional um programa de formação (e-learning e/ou presencial) para que o objetivo desse mesmo produto, seja facilmente alcançado. Por último e não menos importante, o fato de contar com um departamento de assistência técnica em português é outra mais valia dos laboratórios Lenticon. A voz de Rafael Clérigo Gonçalves - Serviços Profissionais “A nossa perspetiva relativamente ao mercado da contactologia, tanto a nível mundial e neste caso em concreto, Portugal, é muito

O dado central deste inquérito está nos 26 por cento das pessoas que nunca experimentaram lentes de contacto, admitem estar dispostos a experimentar a curto prazo, caso a graduação esteja disponível (...)

otimista. Confirmamos que há muito potencial de mercado, já que oferecemos determinados tipos de soluções que ainda não são consideradas como primeira opção por parte dos profissionais. Essa tendência pode ser facilmente “manipulável”, porque com a Lenticon existe um suporte técnico muito forte que permitirá ao profissional recorrer a produtos/soluções mais completas, sem qualquer margem de dúvidas. É possível observar que hoje em dia o profissional só tem acesso a soluções segmentadas. No entanto, a Lenticon já vai um passo mais à frente e oferece soluções globais.” Optiforum A Optiforum tem uma gama de produtos diferenciados, que vão das simples lentes diárias, até às lentes esclerais, passando pelas lentes extra parâmetros de fabrico e personalizáveis, pelas lentes hidrófilas mensais, pelas lentes semi-rígidas com os materiais mais avançados do mercado e pelas inovadoras e mais recentes lentes híbridas. Na Optiforum propõe-se uma forma diferente de fazer contactologia, com uma gama de produtos únicos no mercado e uma equipa pronta a ajudar no que for preciso, com workshops, ajudas em adaptações difíceis e uma parceria que ajuda o óptico a descobrir novos caminhos, novos segmentos importantes no seu negócio e até um novo estatuto e papel no mercado onde se insere. A voz de Daniel Pereira - Director Técnico “Acreditamos que é um mercado que está muito confuso, porque todos apostam basicamente no mesmo tipo de produtos, provocando uma guerra de preços grande e um aproveitamento dessas guerras e dessas apostas, por parte das empresas de vendas online. Este ciclo vicioso compromete a saúde do negócio das lentes de contacto. Na Nova Optiforum, por exemplo, propomos um caminho de diferenciação, com produtos de parâmetros especiais, a possibilidade de marcas próprias e um maior aproveitamento no segmento das lentes especiais. Por outro lado, a fidelização é garantida, porque uma lente especial e o acompanhamento no seu uso, nunca se poderão comprar “ao virar da esquina”. Em suma o óptico fica assim “com a faca e o queijo na mão...”, não podemos esperar que algo mude, se não fizermos nada para que isso aconteça... o lamento de nada vale... procurar novos caminhos, sim! É isso que propomos na Nova Optiforum!”


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EDIÇÃO

Salão Internacional da Ótica e Optometria

8-10 Abril 2016

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Colaboram:

Em coincidência com:


OLHAR EM PORTUGUÊS

Quatro, vencedores, aliás, do primeiro prémio do campeonato da Escola de Magia do Porto e ainda o grupo de coro de câmara Contraponto, com músicas bem conhecidas por todos. Bolo e um brinde fervoroso encerraram o primeiro dia da Óptica Cruz.

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Óptica Cruz

Renascer sobre uma tradição de meio século A Rua da Bandeira, em Viana do Castelo, esteve em festa graças à inauguração da renascida Óptica Cruz. Nascida em 1962, conheceu a 16 de janeiro o lançamento de uma nova etapa, com um espaço amplo, intimista, moderno e irresistível. Pelas 9h30, as portas da Óptica Cruz abriram com renovada energia. Sedeados na mesma loja desde o dia em que Francisco e Marina Cruz se aventuraram por conta própria, a família Cruz mudou-se, em janeiro, para o espaço ao lado. Com uma área maior, incluindo o gabinete de optometria, que até então estava no primeiro andar de um edifício vizinho, a nova Óptica Cruz tem várias vantagens. “Proporcionamos mais conforto, tanto aos clientes como à equipa de trabalho e conseguimos condições mais adequadas à exposição, visibilidade e acesso a marcas de armações e óculos de sol, ao mesmo tempo que se assegura um atendimento totalmente personalizado e especializado”, acrescentou Rui Cruz, a mais recente geração desta família de óticos, neto dos fundadores. Estes profissionais querem, desta forma, estar a par das exigências dos seus 20 mil clientes, registados na sua base de dados, e conquistar mais mercado num ambiente requintado e moderno. Na celebração desta conquista, a Óptica Cruz dedicou o dia 16 à festa. Amigos, clientes e fornecedores não quiseram faltar ao arranque de uma nova fase para esta empresa. E para eles, os proprietários dedicaram momentos de descontração e arte. A dinamizar as celebrações estiveram o grupo de magia Quase

O requinte como premissa O objetivo da renovação centrou-se numa imagem que incluísse inovação e classicismo. E o desafio foi lançado à empresa Artefacto, que juntamente com os proprietários atingiu este ambiente acolhedor, com estilo requintado ao ritmo de uma verdadeira boutique. A luz intensa clama as atenções para os produtos, de forma agradável e apelativa. “Desde o início que tivemos intenção de criar um espaço intimista e moderno, inspirado nas lojas de grande requinte que conhecemos nas cidades de referência da Europa. Aliado a isso os nossos requisitos, como por exemplo a transferência de um vitral que tínhamos no tecto há 16 anos e que agora se encontra numa parede, conferindo assim um grande destaque ao mesmo. Foi essa a razão da escolha de parceiro para executar o projeto ter recaído na Artefacto, pela conhecimento que tínhamos com a equipa, bem como o know-how que têm do sector e que permitiu fazer a execução da forma pretendida”, explicou à LookVision Portugal.



OUTROS OLHARES

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Optometron

20 anos de uma história focada nas pessoas Luís Miguel Feijó falou com a LookVision Portugal numa altura em que celebra os 20 anos de atividade da “sua” Optometron. Sim, entre aspas, porque considera esta casa comum a todos os que contribuem para o seu dinamismo. Hoje a marca japonesa Nidek é a grande bandeira da empresa, mas são as pessoas que a tornam uma verdadeira mais valia. Fomos a Lisboa celebrar duas décadas de trabalho da Optometron. O melhor para o fazer com toda a pompa e circunstância é mesmo regressar ao passado, porque é aí onde assenta o atual sucesso desta casa portuguesa. Depois de um arranque profícuo, mesmo à medida das necessidades do mercado, a empresa liderada por Luís Miguel Feijó passou um período delicado, entre 2011 e 2012, recordado agora como uma vitória. “Emagrecemos obrigatoriamente, com muita pena minha. Somos uma pequena empresa e as relações pessoais são muito importantes. Quando estamos com os colaboradores, e eu gosto muito de todos eles porque estamos muito tempo juntos, é desolador termos de tomar a decisão de rescindir um contrato para bem da marca e da empresa. O que aconteceu, felizmente, é que recuperámos e estamos a trazer de volta quem se afastou na altura, por força maior, com renovada energia!”, descreveu o empresário. E sair de um período económico menos favorável “de espada em riste” confirma a idoneidade da Optometron na sua área de intervenção. Profissionais exímios e acarinhados, uma evolução atenta e formada e muita proximidade aos seus clientes compõe uma companhia não se fica por menos de qualidade máxima.

a Optometron quando decidiu seguir o caminho por conta própria e foi crescendo lado a lado com o desenvolvimento tecnológico da medicina. Novas empresas, novos produtos pautaram os primeiros anos da companhia. No entanto o objetivo era mais ousado. Luís Miguel Feijó ambicionava uma relação estável e consistente com uma marca de topo.

A paixão pelos equipamentos A Optometron nasceu em 1996 pelas mãos de um homem ligado à indústria da ótica. O fascínio pela área dos equipamentos definiu o percurso profissional de Luís Miguel Feijó. “A empresa da minha família consistia numa fábrica de armações, mas havia um pequeno departamento onde vendíamos alguns equipamentos. Foi a introdução do tonómetro de sopro na optometria e depois na oftalmologia. Avançamos ainda para os campos visuais, com a perimetria. Sempre fui a primeira pessoa a fazer ações de formação e a criar condições para que os optometristas pudessem entender o que era isto dos campos visuais. Demos muita formação, foi fascinante”, reforçou o líder da Optometron. Foi este o nicho que trouxe para

Nidek partilha valores com Optometron A vida da Optometron mudou através do “casamento” com a Nidek. Foram dois anos de preparação para efetivar a aliança com a empresa japonesa, mas o passo qualitativo dado depois disto foi considerável. “A Nidek tem qualidade superior e


dá gozo poder vender equipamentos que garantem funções exatas, durabilidade e muita qualidade”, sublinhou Luís Miguel Feijó. Apesar da conjuntura financeira complicada da Europa, a japonesa está satisfeita com o desempenho português e a relação continua de boa saúde. Claro que a Optometron faz um trabalho de campo incansável. A presença nos grandes encontros europeus da oftalmologia e da optometria, a aposta sem medida na formação dos seus colaboradores junto da casa mãe da Nidek, assim como na sua filial de Paris e a contínua integração de quadros altamente especializados lançam a Optometron na esfera dos óticos e médicos oftalmologistas. Fortalecimento depois da “tempestade” A Optometron sofreu na sua estrutura as “intempéries” do mercado económico mundial. Com as alterações dos câmbios das moedas e consequente enfraquecimento do euro, a importação de equipamentos do Japão passou a ser mais caro. A acrescer a isto, a debilidade da economia nacional levou a companhia a sofrer um revés. Hoje, a recuperação vai alta. “Claro que, com o mercado mais aberto, nós beneficiamos, mas também tem a ver com o facto de existirmos há 20 anos. Nós vamos crescendo e influenciando os nossos clientes, que depois influenciam outros. Ou seja, reconhecem o nosso trabalho e, desta forma, tudo cresce de forma orgânica. Na realidade, Luís Feijó nunca deixou de apostar no essencial da Optometron: conhecimentos e recursos humanos. A integração de optometristas na equipa que elevam o discurso dos comerciais favoreceu a comunicação com os oftalmologistas e tem apoiado o desenvolvimento da atividade dos optometristas.

Crescer ao ritmo do conhecimento científico Com a entrada da imagiologia na área do diagnóstico as máquinas e as suas funções têm hoje uma dimensão incrível. No centro das instalações da Optometron está a prova viva dessa evolução, um tomógrafo de coerência ótica, o OCT RS-3000 Advance Angio da NIDEK, que relembra e reforça a importância destas ferramentas na saúde visual. “Antigamente quando se falava em “tirar uma fotografia” ao fundo olho, parecia algo do futuro e depois nem havia máquinas que dispensassem a dilatação da pupila o que trazia constrangimentos aos optometristas, que não podiam fazer isso. Hoje em dia há ferramentas extramente úteis, tanto para os optometristas como para os médicos. Estamos a falar de OCT, biómetros óticos, microscópios especulares e muito mais”, especificou Luís Miguel Feijó. O futuro tem as pessoas no centro A empresa quer consolidar sempre mais, mas a Optometron, na pessoa do Luís Miguel Feijó, quer apostar

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em quem colabora com a empresa. “No fundo, isto é um projeto meu, mas também das pessoas que estão comigo, porque não posso estar em todo o lado e é quem colabora comigo, e de quem eu gosto muito, que fomenta a Optometron.” Portanto, o futuro passa por quem compõe a Optometron, pela sua remuneração e pelo prazer que têm no seu trabalho. “Tudo o resto vai acontecendo sem dificuldade. Se houver boa base, bons profissionais comprometidos e que resolvem problemas o apoio aos clientes está garantido de forma incondicional e com qualidade”, termina o empresário.


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Os dois jovens norte-americanos alcançaram a fama na internet em tempo recorde. Milhões de pessoas seguem as aventuras de Jay Alvarrez e Alexis Ren em cenários paradisíacos através de imagens espetaculares, habitualmente relacionadas com o mar e com desportos radicais. O novo spot da Opticalia reflete precisamente o estilo de vida que despertou este interesse inusitado. Os dois jovens só no Instagram contam já com mais de 7,5 milhões de seguidores. Rumo às conquistas O crescimento da marca continua a ser um dos objetivos primordiais do grupo ibérico de óticas. 2015 encerrou com 203 lojas e contribuíram para este sucesso as lojas no shopping Rio Sul, no Gaia Shopping, no Freixial, Valença, Sapadores, Benfica, Praça de Londes, Bairro Alto – Chiado, Marquês, no Porto, e Pingo Doce de Santa Maria Feira. Para 2016, a estratégia assenta em aumentar esta contabilidade com óticos que continuem a edificar a Opticalia em Portugal.

Opticalia

Energia no arranque de 2016 Entre o estabelecimento de novos desafios de expansão e o reconhecimento dos seus consumidores, a Opticalia lança-se ao novo ano com vigor. E nada melhor que rostos jovens e apelativos para disseminar este conceito de ótica. Jay Alvarrez e Alexis Ren protagonizam novo anúncio da Opticalia O par mais famoso do Instagram surge na televisão numa celebração aos dias quentes. O seu eterno verão é o tema escolhido para apresentar a mais recente colecção de óculos Pull&Bear.

Opticalia reconquista Prémio Cinco Estrelas A Opticalia foi reconhecida pelo segundo ano pelos consumidores como marca de ótica cinco estrelas. A empresa viu recompensada a qualidade dos seus produtos e serviços ao ser distinguida com o Prémio Cinco Estrelas 2016 na categoria Moda & Beleza em Serviços Óticos – Rede Nacional, com uma classificação global de 8,31 numa escala de 1 a 10. Em análise estiveram critérios como satisfação pela experimentação, preço/ qualidade, intenção de compra, confiança na marca e inovação. O Prémio Cinco Estrelas 2016 premiou ao todo 69 marcas, em diferentes categorias, entre as quais Casa & Decoração, Compras, Banca, Moda & Beleza, Saúde & Bem-Estar, Alimentação e Bebidas, Serviço Auto, Media e Outras.


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Hi-Vision LongLife: testes independentes confirmam superioridade Água, gordura, pó e outros fatores ambientais são os responsáveis pela sujidade das lentes. Uma simples mancha é o suficiente para reduzir a claridade, enquanto outros danos, como riscos, podem ser irreparáveis para a lente e distorcer a visão. Estes factos ajudam os óticos na hora de recomendar uma solução que preveja ambas as situações. Testes independentes, garantem que o tratamento Hoya Hi-Vision LongLife demonstrou ser o mais duradouro e mais fácil de limpar disponível hoje em dia. Os testes foram realizados em Agosto de 2015 por NSL Analytical Services1, utilizando um sistema desenvolvido em cooperação com Lens Advisory Board, uma organização americana reconhecida pelo Vision Council Technical Committee. As provas mais precisas, que simulavam a experiência do usuário na vida real, mostraram que o Hi-Vision LongLife é: • O mais duradouro: cerca de 29 por cento mais duradouro que o seu concorrente mais próximo, • O mais fácil de limpar: conserva as suas propriedades, repelentes ao pó, sujidade, água e inclusive gordura após uma longa utilização e repetitivas limpezas, • Extremamente resistente aos riscos: o tratamento premium mais resistente disponível hoje em dia. O último estudo ao consumidor2 confirmou também que estas três características são as mais valorizadas pelos usuários de óculos no momento de escolher as lentes. Isto supõe uma base de clientes considerável. Para os que passam muito tempo a conduzir, ao computador, a praticar desporto com muita exigência

visual ou simplesmente porque querem uma visão precisa, o Hi-Vision LongLife oferece um rendimento e uma durabilidade excepcional. Além disso, o HVLL está incluído como standard no BC e UV Control, dois dos outros tratamentos premium da Hoya que oferecem mesmo uma melhor proteção e conforto: • BlueControl neutraliza a luz azul emitida pelos dispositivos digitais. Previne o stress e a fadiga visual, reduz o deslumbramento e melhora o contraste, oferecendo uma visão mais confortável. • UV Control previne o envelhecimento dos olhos produzido pelos raios UV e protege contra os distúrbios e doenças oculares relacionadas com a radiação UV. Com o tratamento vencedor da Hoya Hi-Vision LongLife, os óticos podem ter a certeza que estão a proporcionar aos seus clientes produtos de uma qualidade superior. Além disso, todos os tratamentos premium da Hoya estão seguros durante três anos3, oferecendo uma garantia adicional de qualidade e tranquilidade. SL Analytical Services é um laboratório independente em Ohio (EUA) especializado. N Resultados do estudo Allensbacher 2011. 3 Contra defeitos de fabricação. 1

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iGreen

Armações em alta resolução A linha iGreen concilia estilo e tecnologia num só modelo. As cores trendy e enérgicas são as características fulcrais desta coleção, permitindo que quem as use tenha uma aparência irrepreensível e vigorosa. Adicionalmente, o revolucionário polímero com o qual se materializam os óculos concede propriedades únicas. Entre elas a ligeireza, comprovada nos apenas cinco gramas de peso, o que dá a sensação de não ter nada no rosto. A flexibilidade está também presente através da memória de forma surpreendente, consentindo a flexão extremo da armação sem estragar. Aliada a estas duas características, a resistência e durabilidade dos modelos permite um uso intenso e diário. Finalmente, e porque não pode faltar, o conforto surge como consequência da construção exímia dos óculos.

Em www.igreeneyewear.com estão disponíveis todas as coleções, desde a 1.0 até ao mais recente lançamento, a 5.0. iGreen Custom! O que significa iGreen Custom? Escolher um estilo próprio ou mesmo deixar o cliente criá-lo à medida dos seus gostos. A facilidade na troca das hastes dos modelos iGreen inspirou este novíssimo conceito. Porquê limitar a mudança às hastes e não


do que fazer a combinação mais divertida e colorida. Estão à disposição 18 tons, também neste caso na modalidade brilhante e opaca. Mas não acaba aqui, pois persiste a dificuldade da escolha entre mais de 300 mil combinações à qual se adicionou uma ferramenta irresistível denominada Random e através da qual se visualiza imediatamente uma combinação de cores aleatória. Desta forma, os óculos estão prontos! É possível fazer uma foto do fabuloso resultado para que se eternize a seleção ou para partilhar com amigos e família. Ou seja iGreen-se!

alargar esta possibilidade à totalidade dos óculos, escolhendo também a forma e a cor? Graças ao novo configurador 3D, que se encontra facilmente online no endereço www.igreeneyewear.com/new_igc_ configurator, pode-se “jogar” e integrar a construção de um modelo mediante as preferências do consumidor. Os passos são muito simples e intuitivos. Escolher o desenho do frontal a partir das 31 formas diferentes e entre as quais se pode “perder”, do clássico phantos ao retângulo. As medidas do calibre e do nariz são sempre indicadas, para que a seleção aconteça em absoluta liberdade e sem receio de errar. A cor do frontal é o passo seguinte e há a possibilidade, pela primeira vez, de conferir em antevisão mais de 100 cores, que estão em actualização constante, na peça. A divisão em categorias (tinta unida, transparente, brilho, bicolor, havana, multicamadas e multiestrato) foi estudada para facilitar a escolha. Atém disto, todas as tonalidades estão disponíveis seja em opaco como em brilhante. As cores duplicam! A fase seguinte passa pela seleção da cor da haste de forma a completar o conjunto. Estas peças apresentam-se sempre flexíveis, super coloridas e super ligeiras. Depois de se eleger a espessura adaptada (130, 140 e 143 milímetros), não falta mais

iGreen-Armações de Alta Tecnologia e iGreen Custom são produzidas pela Thema Optical SRL que também está presente no mercado internacional com as linhas Giorgio Valmassoi - occhiali dal 1971, Valmassoi - Classic for Men, Eclectico, Donna Fontana - occhiali per lei, Thema - Basic Line, 99 John ST., Philosopheyes, Foves, Ultem, Titan Class, Luxhorn e Yakuta.

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música, aquela que nos segue dia após dia e marca a nossa vida, e ao movimento artístico lançado por Andy Warhol na sua fábrica em Nova Iorque. Os modelos da marca combinam modernidade e nostalgia, bem como qualidade e acessibilidade. Cada modelo remete automaticamente para um estilo retro ou pop e os nomes dos modelos evocam, inclusive, algumas das tendências musicais mais icónicas. Entre eles destacam-se Marley, Clayton ou Bowie. A nova marca distribuída pela Proóptica divide a coleção em três linhas distintas. As armações com detalhes essenciais, como charneiras trabalhadas manualmente, acetatos de qualidade e modelos em metal trabalhados preciosamente. Os óculos de sol com lentes polarizadas e antirreflexo, com um design vintage e cores irreverentes. A última linha é a Little Vinyl composta por modelos dedicados às estrelas de rock mais pequenas. Todos os modelos da marca, sejam para crianças ou adultos, armações ou óculos de sol, possuem a assinatura da marca através das suas ponteiras em forma de guitarra. A energia criativa é sempre o artista principal nesta Vinyl Factory.

Proóptica refresca portfólio A empresa nacional responde às exigências do mercado da ótica com uma nova marca eyewear original e melodiosa e uma ferramenta de apoio aos profissionais no mundo digital. Vinyl Factory e Fitting Box são os nomes a reter com a assinatura da Proóptica. Vinyl Factory A Proóptica lança este nome no mercado português, que remete, precisamente, para os mundos da música e da arte, imbuídos do espírito dos anos ’60 e ’70. A Vinyl Factory garante muita audácia e irreverência, através de óculos clássicos, reinterpretados através das últimas tendências e ritmos. As fontes de inspiração das coleções são inúmeras, continuamente renovadas e recicladas. No entanto, é possível reduzir a inspiração a dois universos: à

Fitting Box As palavras que melhor definem esta solução proporcionada pela Proóptica são tecnologia, realidade aumentada e conhecimento do mercado. Esta Fitting Box foca-se na concepção e criação de recursos Virtual Try-on para óculos, fotografia profissional de óculos para concepção de catálogos digitais e de websites chave na mão facilmente configuráveis. No fundo, cada uma destas soluções tem como objetivo melhorar a experiência de compra de óculos para os clientes da internet e em loja, aumentar a concretização de compras e a atratividade dos pontos de venda, sejam eles virtuais ou não. A Fitting Box possui ainda, segundo a empresa, a maior base de dados mundial de fotografias digitais de óculos, com modelos de óculos em 2D e 360 graus. Tanto na web, com soluções para o Facebook e site, como in store, com soluções para iPad ou com espelho interativo, a Fitting Box surge como um apoio fulcral para os óticos nacionais.



OLHAR O MUNDO

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Ron Arad

O design como vida O criador israelita consagrou-se na linguagem curvilínea das suas invenções. Grandes marcas não resistiram à expressão original de Ron Arad que vai deixando a sua marca no mundo, moldando objetos e ideologias. A relação que criou com os óculos foi simples e livre de preconceitos. Inovou nos materiais e na produção, mas sempre fiel ao seu mundo curvo na sua PQ Eyewear. À LookVision Portugal revelou a sua faceta divertida e uma forma de estar positiva na vida, rodeado, claro de uma equipa especial e multifacetada.

Gostávamos de começar revisitando as influências que o transformaram no atual Ron Arad. Foi Tel Aviv ou Londres que moldou o designer em definitivo? Tudo serve como inspiração. As pessoas, a rádio e tudo o que nos envolve. E quando se vive num “país periférico”, o que acontece nos grandes centros do mundo parece magnético e, por isso, embora tenha crescido em Tel Aviv, Londres foi importante, Nova Iorque foi importante, Paris foi importante... Vivi grande parte da minha vida em Londres, desde os 21 anos, e portanto posso dizer que tudo o que vejo agora, o que vi ontem e o que vi há 20 anos influencia o meu design.

Porquê Londres? Bem, na realidade queria ir para Lisboa mas não me aceitaram (risos). Brincadeira. Foi porque quando estava a crescer, nos anos ’60, Londres parecia um lugar incrível, pelo menos assim à distância. E, nessa altura, víamos mais filmes ingleses do que americanos. Diziam-nos que eram melhores, não que seja verdade, mas éramos adolescentes (risos). Pensávamos em Londres como um lugar exótico, não americanizado, nem com os traços de Hollywood e também mais próximo. Também pensei que podia falar inglês...não falo português senão teria corrido para aí (risos).

Que outros fatores fez nascer este estilo curvilíneo? Tudo o que me rodeia. Não existe uma única fonte de inspiração, mas para mim, a determinado ponto, o meu próprio trabalho foi a maior influência. Ou seja, por vezes criam-se peças de uma certa forma e até podíamos ter feito de outra. E acaba-se por concluir um trabalho e usar todas as ideias que surgiram nesse no próximo. E por aí fora, tudo o que se faz serve como mais um passo para outra coisa que vem.

Na sua carreira trabalhou com inúmeras grandes marcas. Mas entre esses projetos e os que tiveram menos peso mediático, qual lhe deu mais prazer? Ora, a Vitra foi a primeira grande marca a pedir-me para trabalhar para eles. Tínhamos boas relações de trabalho e quando construíram o seu museu, The Vitra Design Museum, eu fiz a primeira mostra da instituição. Mas depois disso, trabalhei com imensas casas italianas. Aliás, estou agora a trabalhar numa


exibição que penso chamar-se “30 anos de colaboração com a Moroso”, que estará aberto ao público em abril, em Milão. Onde gosta de criar? Trabalho no meu estúdio em Londres, mas por vezes continuo noite dentro em casa ou num voo. Porém, o estúdio é central na criação. É um local especial para mim. Parece um jardim de infância progressivo (risos). Por exemplo, neste momento ia começar um jogo de ping pong e alguém me chamou: “tens uma entrevista no telefone”. E como se lançou no eyewear? Foi o eyewear que se lançou a mim. Houve um senhor que me começou a convencer a desenhar uma coleção de óculos para ele. Não foi fácil convencer-me mas ele acabou por vencer. Qual foi o segredo? Ele foi persistente. Dizialhe, “porque não voltas dentro de dois meses e três dias?” E ele voltava! Juntos construímos uma marca, a respetiva imagem e tudo o que implicava. Fizemo-lo aqui no estúdio. Teve que adaptar técnicas para desenhar este produto específico? Tive que aprender imenso. Eu era novo na indústria, o que representou uma grande vantagem, porque desta maneira não repetimos todos os clichés instituídos. Inventámos uma nova forma de o fazer. No fundo é bastante simples: duas lentes, duas hastes e um apoio para o nariz. Mas há muito que fazer e já executámos coisas que depois pensámos: “porquê que ninguém o fez antes?”

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Faltava alguma coisa então? Sim, na generalidade é um mercado muito conservador e trata-se de um produto central para quem o usa. Não é simples para as pessoas que usam óculos. Têm que pensar na imagem que projetam, como estão, ou seja, vêm-no como uma extensão das suas caras. A primeira coleção foi a A-frame. É muito única! A imagem de pessoas a procurar pequenas peças de óculos no chão impeliu-me a criar algo simples. No fundo, não construí algo só porque é assim que normalmente se faz na área. E nós, neste momento, estamos a reinventar esta coleção, porque há tanta coisa que podemos fazer melhor. Não posso revelar os segredos, mas serão públicos em breve. Mas sempre ajustáveis? Claro, porque não temos todos o nariz e a cara igual, nem a cara. Se ajustamos um cinto, porque não podemos ajustar os óculos? Existem muitas questões, os óticos são muito conservadores assim como a indústria. Embora haja já muitas mudanças nunca são rápidas o suficiente.

Pessoas como o Ron, que nada têm a ver com a área, são provavelmente as maiores mudanças da nossa indústria. Não há nada de mal em ser-se especialista e há muitos nesta indústria. Nós infelizmente tornámo-nos especialistas (risos). Tentamos concentrar esforços no design e na imagem da marca. Quanto ao futuro? Neste momento a customização é o futuro. As pessoas podem agora digitalizar os rostos e ter armações feitas à sua medida. Será um elemento normal. E para a PQ Eyewear? Estamos a apostar no mercado americano, claro. Será um grande investimento e temos muitos, muitos desenhos novos que nascem um atrás do outro, todos os dias. E serão revelados nas duas épocas importantes do eyewear: Mido e Silmo. É difícil criar tantas novidades. Nós criamos mais depressa do que aquilo que a indústria consegue produzir (risos).


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Zeiss reforça “veia” desportiva A multinacional vai patrocinar até ao final do ano três áreas desportivas em Portugal: automobilismo, bodyboard e atletismo paralímpico.

Ou seja, a Carl Zeiss Vision acompanhará os pilotos internacionais Filipe Albuquerque e Manuel Gião, a campeã mundial de bodyboard, Teresa Almeida e o atleta paralímpico João Correia, que está de regresso aos grandes palcos desportivos depois de 10 anos de paragem. “Para além de apoiar o desporto, que consideramos de extrema importância, estas parcerias representam uma forte aposta nestas pessoas em concreto, na sua ética, na vontade de vencer, no espírito de sacrifício e no respeito pelo adversário. São valores que também nós, enquanto empresa, incutimos e praticamos no nosso quotidiano. Estamos certos que estes quatro atletas portugueses são embaixadores deste mesmo estado de espírito. Estes atletas, que têm idades diferentes, trabalham em ambientes distintos e diariamente enfrentam obstáculos apenas seus têm como missão, tal como nós, dar o máximo diariamente naquele

que é o seu trabalho. Continuamos empenhados em assegurar uma visão ideal, que é algo tão individual como as impressões digitais de cada um. É esta a exigência Zeiss para que apenas o melhor chegue aos olhos de cada um”, afirma Ana Afonso, diretora de marketing da Carl Zeiss Vision Portugal. Filipe Albuquerque confirmou, esta semana, a presença nas 24 horas de Le Mans, assegurando assim a sua participação no campeonato do mundo de resistência. Manuel Gião tem pela frente a Copa Europeia de 2016 da sua modalidade. Por seu turno, Teresa Almeida vai mostrar o que vale em três campeonatos de bodyboard: nacional, europeu e mundial. Já João Correia, com o seu lema “nunca desistas!” vai dar tudo por tudo para chegar ao Campeonato da Europa de Grosseto, em Itália, bem como aos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, no Brasil.”


optometria

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Compensação da presbiospia com lentes de contacto: rumo à personalização? Com o envelhecimento populacional e o crescente aumento da esperança média de vida, espera-se que o número de pessoas nas faixas etárias acima dos 45 anos, e portanto presbitas, venha aumentar de ano para ano. Segundo fontes nacionais o número de indivíduos acima dos 40 anos poderá atingir os 6 milhões já na próxima década (Figura 1). Associado a este factor temos ainda a questão do prolongamento da idade activa, que se especula que possa no nosso país atingir os 70 anos para os indivíduos que estão agora a entrar no mercado de trabalho. Neste cenário um indivíduo que se torne presbita aos 45 anos e viva até aos 80 passará quase metade da sua vida como presbita, em que numa grande parte desse tempo estará ainda em idade activa, a exercer actividades que poderão ser mais ou menos exigentes do ponto de vista visual. O alargar de soluções que permitam aos presbitas usufruir de uma boa visão funcional para todas as distâncias é não só uma prioridade social como também um atractivo mercado para os vários prestadores de serviços e fabricantes. A geração de novos presbitas, que cresceu no boom tecnológico dos últimos 40 anos, não se irá contentar com as soluções mais clássicas. A procura de soluções mais inovadoras e que, acima de tudo, permitam obter independência dos óculos tornar-se-á cada vez maior e irá criar a necessidade de uma nova oferta de soluções mais eficazes, seguras e não invasivas, em alternativa à cirurgia refractiva.

População em milhões

Texto: Miguel Faria Ribeiro, MOptm | Clinical & Experimental Optometry | Research Lab (CEORLab) | Universidade do Minho | mig.afr@gmail.com

5.6

6.0

4.9 3.8 2.9

3.2

1960

1970

1981

4.2

1991

2001

2011

2024

Década

Figura 1 – Número de pessoas com mais de 40 anos em Portugal, por década. Os valores correspondentes a 2024 foram extrapolados com base no crescimento médio das décadas anteriores. Fonte: www.pordata.pt.

Neste campo, a correção da presbiopia com lentes de contacto (LC) tem-se revelado um enorme desafio devido à complexidade associada à produção de desenhos capazes de aumentar a profundidade de foco do olho, por forma a proporcionar ao usuário


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uma visão nítida e simultânea ao longo de um determinado intervalo de vergências/distâncias. Ao contrário do que sucede com uma lente oftálmica progressiva ou bifocal, em que o olho tem a liberdade de se mover de forma independente da lente para alinhar a pupila com a zona da lente correspondente à potência refractiva mais indicada para cada distância, a maioria das LC para compensação da presbiopia utilizam uma técnica denominada imagem simultânea. Estas LC também possuem zonas com potência mais positiva (perto) e menos positiva (longe), mas aqui a luz refractada pelas diferentes zonas da LC é projectada em simultâneo sobre a retina do usuário. As estratégias de desenho actualmente utilizadas para obter uma extensão da profundidade de foco através de imagem simultânea seguem basicamente duas abordagens: (i) através de uma progressão gradual da potência desde o centro até ao limite da zona óptica ou (ii) variando a curvatura local por zonas concêntricas (duas ou mais) optimizadas de forma alternada para diferentes vergências. Na primeira abordagem são utilizadas superfícies asféricas/bi-asféricas capazes de induzir maior potência na zona mais central da lente (desenhos centro-perto) ou na periferia (desenhos centro-longe). O efeito obtido é, de certa forma, equivalente a induzir aberração esférica de forma controlada. Nestes desenhos a potência refractiva varia de uma forma mais ou menos suave, em função do escalão de adição, desde o centro até ao limite da zona óptica.

Figura 2 – Imagens exemplificativas de uma lente de contacto multifocal asférica (esquerda) e bifocal concêntrica (direita). Fonte: www.allaboutvision.com

Na segunda abordagem, a zona óptica da lente é dividida em pequenas áreas anulares com potência alternada entre longe e perto (desenhos bifocais). Dentro de cada uma dessas áreas pretende-se que a potência refractiva se mantenha mais ou menos constante, de forma a optimizar a visão para uma distância específica–normalmente longe ou perto. A junção entre cada uma das zonas é feita através de uma curva de ligação (blending), de forma a suavizar a brusca transição entre as zonas de longe e perto. O propósito subjacente a estes desenhos é o de

conseguir uma zona óptica “pupilo-independente”, i.e., tentar que independentemente do diâmetro pupilar a luz seja refractada por pelo menos um anel de perto e um anel de longe. A grande desvantagem de qualquer dispositivo de imagem simultânea está no limite físico imposto na qualidade final da imagem retiniana. A extensão da profundidade de foco do olho conseguida às custas de uma repartição do contraste total por diferentes focos pressupõe que por cada imagem bem focada o usuário perceba em seu redor uma mancha anular fora de foco, formada pela luz refractada pelas zonas da lente correspondentes a outras distâncias. Felizmente, esta imagem fora de foco acaba por ter um peso menor na percepção final do usuário devido a um suposto efeito de adaptação neural do sistema visual, que permite, apesar da degradação óptica sofrida, manter a acuidade visual em alto contraste bastante robusta. Existe, porém, uma grande variabilidade no que diz respeito ao grau de satisfação dos pacientes usuários deste tipo de LC. Embora alguns pacientes estejam perfeitamente satisfeitos com a visão obtida, outros há em que essa satisfação fica muito aquém do desejado. Esta variabilidade inter-individual aparenta estar relacionada com factores ópticos e fisiológicos inerentes a cada paciente e transforma cada adaptação num desafio, que no desconhecimento de algumas variáveis pode acabar por se tornar mais arte que ciência. Influência do diâmetro pupilar O diâmetro pupilar é um dos factores fisiológicos que mais condiciona o desempenho deste tipo de dispositivos, tal como se pode perceber pelas imagens da Figura 3. A performance destas lentes está directamente relacionada com o diâmetro pupilar do paciente, uma vez que mesma LC produzirá diferentes imagens mediante o diâmetro pupilar que esteja por trás.

Figura 3 – Lente asférica em pupila com 6 mm (esquerda) e 3 mm (direita).

Ao passo que na imagem à esquerda o diâmetro pupilar permite usufruir de toda a zona óptica da LC, no exemplo da direita a visão de longe (lente centro-perto) ficará comprometida. Já a visão ao perto será certamente melhor com a pupila mais pequena, uma vez que nesta situação quase toda a luz fora de foco – neste caso refractada pela zona mais periférica da LC – será barrada pela íris.


Aberração Esférica Tal como foi referido anteriormente, este tipo de dispositivos tem como função estender a profundidade de foco do olho presbita às custas de um aumento na aberração esférica do sistema LC-olho. A aberração esférica é uma característica de alguns sistemas ópticos, nos quais a luz refractada pelas zonas mais periféricas não sofre o mesmo desvio que a luz próxima do eixo óptico. Em consequência, um sistema óptico com aberração esférica é incapaz de focar toda a luz num só ponto.

Figura 4 – Imagem formada por uma lente com aberração esférica positiva. Fonte: http://www.bokehtests.com/styled/

Ao contrário do que sucede com uma lente oftálmica progressiva ou bifocal, em que o olho tem a liberdade de se mover de forma independente da lente para alinhar a pupila com a zona da lente correspondente à potência refractiva mais indicada para cada distância, a maioria das LC para compensação da presbiopia utilizam uma técnica denominada imagem simultânea

Conjugação aditiva de aberrações: Parte da variabilidade inter-individual responsável pelo maior ou menor sucesso das adaptações de LC multifocais está de certa forma relacionada com a aberração esférica de cada indivíduo. Tal como se pode perceber pelo gráfico da Figura 5, este valor é em média positivo, aumenta com a idade e tende a apresentar uma grande variabilidade, o que significa que determinados indivíduos podem apresentar valores mais positivos do que a média, menos positivos, neutros ou até negativos. 0.25

McLellan et al. (7.3 mm) Spherical aberration (D/mm2)

O nome “aberração esférica” advém precisamente do facto de a luz se comportar desta maneira quando é refractada por uma lente com curvatura esférica. De um ponto de vista geométrico pode dizer-se que quando um raio de luz incide sobre uma lente convergente com um raio de curvatura esférico, o ângulo que este forma com a normal à superfície da lente é maior para os raios mais periféricos e menor para raios centrais (Figura 4), fazendo com que os primeiros sejam mais refractados (aberração esférica positiva). A correção da aberração esférica positiva faz-se com recurso a lentes asféricas, desenhadas para que a curvatura na periferia seja menor do que a curvatura central. Caso essa aplanação periférica seja “demasiada”, o valor da aberração esférica passa de positivo a negativo, situação na qual os raios mais próximos do eixo óptico são mais convergentes que os raios marginais. A aberração esférica pode ser reportada em mícrons (µm) ou unidades de comprimento de onda () (ex.: 1 = 0,555 µm, 0,5 = 0,278 µm, etc.), referindo-se desta forma ao valor do coeficiente do polinómio de Zernike simétrico de quarta ordem c40 , que quantifica a diferença de caminho óptico induzido por esta aberração para um determinado diâmetro pupilar, ou ainda de uma forma mais clínica em dioptrias por milímetro ao quadrado (D/mm2). A título de exemplo, uma aberração esférica de 0,15 µm para uma pupila com 6 mm de diâmetro corresponde a um valor de 0,10 em D/mm2, o que significa que a vergência da luz no bordo dessa pupila (neste caso a 3 mm do centro) é 0,90D (0,10 x 32) mais convergente do que a luz que entra pela zona junto ao eixo óptico (paraxial).

Applegate et al. (6 mm)

0.20

Atchison & Markwell (5 mm)

0.15 0.10 0.05 0.00 0

10

20

30

40

50

60

70

80

Age (years) Figura 5 – Aberração esférica do olho humano em função da idade.

Se uma determinada LC multifocal for desenhada para que obtenha a sua melhor performance quando conjugada com um olho “médio” o resultado será com certeza sub-óptimo num outro olho “fora da média”, tal como pode ser percebido pelos exemplos da Figura 6. Nestes gráficos é assumido que tanto a LC como o olho possuem simetria rotacional (ausentes de astigmatismo, coma, etc.). Cada curva representa então a variação da potência refractiva desde o centro da pupila/zona óptica até ao seu bordo, para a LC, olho e olho+LC.

49


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Multifocal Lens Design – Miguel Faria Ribeiro – Beta Version 1.2

2

Multifocal Lens Design – Miguel Faria Ribeiro – Beta Version 1.2

2.5

1.5 1

1.5

Vergência [D]

Vergência [D]

0.5 0 -0.5 LCMF Olho Olho + LCMF

-1 -1.5 -2

0

0.5

1

1.5

2

Distância Radial [mm]

2.5

3

3.5

Multifocal Lens Design – Miguel Faria Ribeiro – Beta Version 1.2

2 LCMF Olho Olho + LCMF

1.5 1

Vergência [D]

0.5 0 -0.5 -1 -1.5 -2 -2.5 -3

1 0.5 0 -0.5

-2.5 -3

LCMF Olho Olho + LCMF

2

0

0.5

1

1.5

2

2.5

Distância Radial [mm]

3

3.5

Figura 6 – Perfil de potência de uma LC multifocal asférica centro-perto com adição média (~+1.25) e potência nominal neutra, conjugada com um olho com aberração esférica = +0.15 D/mm2 à esquerda e -0.08 D/mm2 à direita.

Neste perfil de potência, correspondente a um desenho asférico de adição média, existe uma clara divisão entre a zona de visão próxima/intermédia e a zona de visão longe, com uma progressão da potência (no sentido negativo) mais rápida entre 0 e 1,4 mm de distância radial. O incremento negativo de potência deste desenho a partir deste ponto – é mais suave entre os 1,4 e os 3,5 mm – está calculado para conseguir uma zona homogénea de correcção para visão de longe quando conjugado com um olho com aberração esférica média (+0.15 D/mm2; exemplo acima). Já no caso de um olho “fora da média” com aberração esférica negativa (-0.08 D/mm2) como o do exemplo abaixo, o efeito desejado não é atingido. Em vez de uma zona homogénea com a prescrição de longe (neutra), a conjugação LC+olho resulta numa zona de potência progressivamente negativa, que se irá refletir numa acuidade visual reduzida e por consequência numa adaptação insatisfatória. Essa dificuldade poderá ser ultrapassada com a utilização de um desenho com aberração esférica positiva (centro-longe), como o apresentado na Figura 7.

-1

0

0.5

1

1.5

2

Distância Radial [mm]

2.5

3

3.5 3.5

Figura 7 – Perfil de potência de uma LC bifocal centro-longe com adição média (+1.25) e potência nominal neutra, conjugada com um olho com aberração esférica negativa (-0.08 D/mm2).

Neste exemplo a LC possui um perfil bifocal, com uma zona de longe e outra de perto unidas por uma curva de ligação que, por vezes, faz com que este tipo de desenhos sejam também apelidados de multifocais. No entanto, esta curva não tem funcionalidade visual, uma vez que a pequena área que ocupa associada ao brusco declive da potência refractiva são insuficientes para aumentar a profundidade de foco em vergências intermédias, servindo apenas para suavizar a transição entre as zonas principais. A adaptação de LC multi/bifocais é, portanto, um enorme desafio para os profissionais da visão, quando parte das variáveis relacionas com o sistema óptico do paciente não são conhecidas e a oferta deste tipo de dispositivos é ainda, de certa forma, limitada. Num cenário futuro cabe aos fabricantes alargar a oferta para que as adaptações possam ser mais direcionadas a cada paciente, com a introdução de potências cilíndricas e perfis de potência mais variados com opções “fora da média”. Neste cenário será necessário introduzir novos protocolos na prática clínica tais como medição das aberrações oculares antes de cada adaptação. Enquanto isso, cabe aos profissionais da visão conhecer os princípios físicos deste tipo de dispositivos para que assim consigam contornar as limitações impostas da melhor forma possível utilizando as alternativas e as estratégias actualmente disponíveis.

Nota: Este artigo é escrito sem utilização do novo acordo ortográfico por opção do autor.




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