Revista (EN)CINE DIREITO | Ed. 06 | Tema: Direito e Educação | O Contador de Histórias

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ABRIL

2019

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(EN)CINE

DIREITO

REVISTA (EN)CINE DIREITO

O Contador de Histórias DIREITO E EDUCAÇÃO

ED.

06


ABRIL

2019

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(EN)CINE

REVISTA (EN)CINE DIREITO Reitora Conselho Editorial Ângela Maria Paiva Cruz Professores Efetivos Vice-reitor José Daniel Diniz Melo Prof. Dr. André Melo Gomes Pereira Reitora de Extensão Maria de Fátima Freire de Melo Prof. Dr. Carlos Francisco do Nascimento Ximenes Prof. Dr. Dimitre Braga Soares de Carvalhos Prof. Dr. Elias Jacob de Menezes Neto Editor científico Prof. Dr. Oswaldo Pereira de Lima Prof. Dr. Fabrício Germano Alves Junior Prof. Dr. Marcus Vinicius Pereira Junior Editora Executiva Luana Cristina da Silva Dantas Prof. Mário Trajano da Silva Junior Prof. Dr. Orione Dantas de Medeiros Comissão Executiva Carla Daiane Medeiros de Oliveira Prof. Dr Oswaldo Pereira de Lima Junior Gabriela Sousa de Medeiros Prof. Dr. Rodrigo Costa Ferreira Luana Cristina da Silva Dantas Maiara Araújo de Figueirêdo Prof. Dr. Rogério de Araújo Lima Matheus Mazukyewsky Professores Substitutos Vinicius Pereira de Medeiros Prof. Luiz Mesquita de Almeida Neto Saulo de Medeiros Torres

Revista (EN)CINE DIREITO

encinedireito.blogspot.com.br @encinedireito encinedireito@gmail.com

DIREITO

ED.

06


60

OTIERID

ENIC)NE(

|

9102

LIRBA

Uma produção do curso de Direito de Caicó - Ceres da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Rua Joaquim Gregório, s/n Penedo, Caicó/RN CEP: 59.300-000 (84) 3342-2238

.DE

REVISTA (EN)CINE DIREITO


PARA O LEITOR


abril, 2019.

O ser humano esteve sempre a contar (produzir) histórias. A condensar o vago no preciso (inventivo) da palavra.

Tal fato coloca-se como uma necessidade humana. Longevo produto da cultura. É-nos, pois, inato-inerente “urdir”, criar e exeperenciar narrativas. Dos grandes enredos com nascente na antiga tradição oral à invenção da escrita e desenvolvimento dos múltiplos gêneros literários-artísticos, o ser humano “busca” a experiência simbólica da ficção – entre outros fatores - por sua aproximação com a realidade sensível. Nessa senda, a linguagem (experiência) cinematográfica produz sentidos e significados ao ser humano. Fico a devanear sobre o que sentiram as pessoas, no viver caudaloso do sec. XIX, quando enfim se foi possível gravar a imagem e surgiu o cinema. Nas salas escuras das primeiras projeções eis o produto imediato da narrativa fílmica: o espanto diante da realidade inventada. Platão afirmava que o conhecimento e a arte nascem do espanto. O espanto é a experiência “do que é, tal como é” provocanos a pensar – e repensar – uma realidade. Nesse passo é o que o projeto de extensão (EN)CINE DIREITO intenta uma dialética entre o Cinema e o Direito. Buscando, a partir de uma metodologia zetética, ampliar o conhecimento da ciência jurídica. Multiplicar os “espantos”. Não somente da práxis vive o bom jurista. O Direito deve caminhar pari passu com as manifestações artísticas do ser humano.

A linguagem fílmica, como também a literária e assim por diante, carregam denso conhecimento “da vida”. Educam a sensibilidade humana porque portam e ecoam, in situ, uma voz para além da nossa. Coloca-nos em contato - mesmo que incorpóreo – com diferentes realidades ou versões de uma realidade antes imutável e habitual. Em um contexto saturado em que há uma tendência generalizada de se converter o direito em mera técnica de aplicar leis – ou de relativizá-lo em suas conquistas e fundamentos mais relevantes – um projeto que se propõe a multiplicar as formas de “ver e experenciar” o Direito Justo surge como catalisador de um processo constante de sensibilidade, reflexão crítica e científica e de defesa dos alicerces fundantes e indispensáveis às práticas jurídicas.

- Luana Cristina da Silva Dantas (discente do curso de Direito). - Equipe “(EN)CINE DIREITO”


BREVIÁRIOS

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EDITORIAL

10 O CONTADOR DE HISTÓRIAS "DIREITO E EDUCAÇÃO" 16 DIREITO E EDUCAÇÃO EM O CONTADOR DE HISTÓRIAS: ALGUMAS IMPRESSÕES 22 A REALIDADE E SUA (RE)CRIAÇÃO EM “O CONTADOR DE HISTÓRIAS”. 76 CONTANDO HISTÓRIAS

ESTÉTICA JURÍDICA EM "O CONTADOR 26 DE HISTÓRIAS"

DE "O 78 COMPÊNDIO CONTADOR DE HISTÓRIAS

NA TRAMA

NUANCES JURÍDICAS NA PELÍCULA "O CONTADOR DE HISTÓRIAS", P. 56

30 ECOS DO FILME 34 PLURIPERSPECTIVA NA PELÍCULA "O CONTADOR DE HISTÓRIAS"

42 ANÁLISE FÍLMICA 46 O DIREITO COMO EXPERIÊNCIA: REFLEXÕES SOBRE O FILME “O CONTADOR DE HISTÓRIAS.” 50 "O CONTADOR DE HISTÓRIAS" E O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA)

LISTA DE SUGESTÕES, P. 82

CRÔNICAS DE UMA EQUIPE: MOMENTO (EN)CINE, P. 80

62 NARRATIVA FÍLMICA: "O CONTADOR DE HISTÓRIAS" 66 "O CONTADOR DE HISTÓRIAS" À LUZ DOS ASPECTOS

HISTÓRICOS REFERENTES AOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

74 RASCUNHOS DE "O CONTADOR DE HISTÓRIAS"

ENCINEDIREITO.BLOGSPOT.COM


O CONTADOR DE HISTÓRIAS


ABRIL

Cena 1. ferrovia. noite. Roberto Carlos, um menino de rua, negro, com cerca de 13 anos, vem andando pelo meio dos trilhos. Ele tem vários machucados espalhados pelo corpo. Manchas de sangue tingem sua roupa, que está em farrapos. Parece estar vindo de uma briga, de uma guerra. Cena 2. Um trem avança pela linha férrea. Roberto Carlos deita-se entre os trilhos. - Roberto carlos: "Naquele dia eu resolvi morrer". Extraído do roteiro do filme "O contador de Histórias, direção de Luiz Villaça, 2009.

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ED.

Contador de Histórias Direito e Educação Por Oswaldo Pereira de Lima Junior Doutor em Direito e professor Adjunto II do Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Coordenador do Projeto de Extensão (En)Cine Direito.

10

06


VIDA AO AVESSO: "O CONTADOR DE HISTÓRIAS

O

filme

biográfico

“O

Contador

de

Histórias, de 2009, delineia o retrato bastante comum do brasileiro pobre, marginalizado, condição diante

ignorante

de

de

cidadão,

um

prestação

de

sua

mas

Estado serviços

de

que,

omisso

na

públicos

de

qualidade e pouco honesto quanto à qualidade ainda

daqueles

acredita

que

nas

presta,

promessas

de

bem-estar de uma modernidade que, na

sua

inteireza,

Brasil.

As

sempre

duas

de

o

riquezas

mostram

subliminar

chegou

realidades

espreitam

divisão se

nunca

que

debate

no

nosso

mimetizadas na

ao

da

Estado

de

modo

propaganda,

que

incute desejo, que cria expectativa e força

a

confiança,

e

distante

do

realidade, alheia

à

distorce

dignidade e

nela

da

prejudica

existência

desses

fiaram,

desconfiança

na

indene

prometido, pessoa,

ainda

que

mais

brasileirinhos

a

que

fabricando

e,

a

consequentemente,

naturalizando

novas

formas

de

marginalização.

Embora

se

na

década pobre

de que

materna

1970, se

e

numa

família

estrutura

na

passe

na

muito figura

necessidade

de

alimentar 09 bocas, o quadro não se afasta

nem

um

recentemente

pouco

daquilo

observado

nos

que

é

rincões

mais pobres da nação (e, mesmo, nos mais ricos).

11


eficiente

do

condução

da

amolda-se

Estado res

publica

perfeitamente

recentes

na

nas

discussões

administrativistas modernização

acerca

da

constitucional

do Direito Administrativo e, de igual

modo,

do

aperfeiçoamento da execução de

políticas

Estado

imperativo

burocrático, modelos

calcado libertários

inspiraram Francesa,

a passa

de institucional.

A

figura

estrutural histórico peso

da

marginalização,

no

desenvolvimento

brasileiro,

da

estrutura

seguindo

o

machista,

estetiza

familiar

jaez

aponta

o

que,

patronal

para

o

pai

inexistente, figura do abandono, e

a

sem

mulher

como

escolha,

cria,

e

ser

própria

e

e

vive,

nunca

falsas

e

juras,

repleto

duras,

de

É

se

ao

não

na um

e

sua filme

personagens

literalmente.

aparece,

e

e

mata,

tocar,

cidadania.

que,

procria,

culpabiliza,

sem

nas

forte,

fica,

se

desespera, morre,

aquela

O

Estado

infelizmente,

como

Saturno filicida que devora seus rebentos

antes

possam

estes

questionar

deficiências serviços inclusão

que

na

de

suas

prestação qualidade,

de de

econômico-social,

de

respeito à dignidade da pessoa, olvidando,

em

destrutiva,

a

democrática soberania

do

sua

fúria

delegação povo,

original,

titular à

da

força

política que o sustenta. O papel ativo, direto, reto, verdadeiro e

12

públicas.

O e nos que

Revolução por

momento

aprimoramento


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O circo imaginário (frames da película)

Não se deve prender mais às fórmulas de

Um

direito

a

problema, tem a capacidade de piorar e

o

requintar

sua

que

somente

condição

particular, entende

mostram

de

império

vinculando-o

ser

apenas

melhor

sobre

àquilo

para

si,

que

fazendo

o

modelo

ainda

se

institutos falhos, distantes da realidade e

concretizar

das

1988.

por

exemplo,

e

administrativista Moreira

Neto

em

de

(2014),

do

do

formas

de

a

desvirtuado

daquilo

inclusiva

busca

cidadania

Não

na

Constituição

sem

ascendeu

à

sentido

a

condição

Federal

Magna

de

Carta

principiológica

administrativista ideais que miram o que,

o

outra

o

rei),

ao

as

parte

Figueiredo

que

superou

(interesse

Fala-se,

memória

Diogo

contemporâneo absolutista

brasileiro.

que

mais

completamente

que

do

mais

exclusão econômica e social, mostrando-

indivíduo perder-se nos seus meandros de

necessidades

que,

Estado modelo

costurava

mais,

Moreira

como

sendo

Neto

(2014),

preceitos

de

estatista

aproximação do Estado à sua verdadeira

(o interesse do Estado burocrático), para

e maior função que é a observância (com

servir-se

necessariamente,

Constituição, paradigma

que

é

o

vez

à

Cidadã,

democrático

no

qual

luz

da

eficiência)

dos

direitos

dos

de

um

administrados.

Desses

citemos

apenas

age

em

dois, talvez os mais explícitos, que são a

parceria com as pessoas visando atender

moralidade

aos

num

interesses

difundidos

e

legítimos

dessas

uniformizados

no

últimas, interesse

da sociedade.

“conceber

e

o

princípio

possibilidade

de

benefícios

exercício de

um

pleno

projeto

e

de

mazela

mostra um anacronismo sem precedentes.

Robertô.

Reforça

essas

injustiça.

institucionaliza

a

Promete

violência

e

diplomas o

e

descaso

de seu

da

do É

para

o

e

CF),

autor,

sofisticados

descurando sociedade

serviço,

instrumentos

bem

se

descreve

na

película.

composição norte

Estado

valores”,

Postulado

preciso,

da na

na

ao

que,

biografia

pois,

mas

atentar

ainda

participação

de para

não

se

efetiva

da

interpretação administrativos

modernização do Estado.

13

de

especialmente

eficiência.

mudanças,

entre agentes públicos e beneficiários do como

clama,

37,

definitivamente, se concretiza na grande

vida inclusivo, solidário e participativo se

a

que

(art.

instrumentos juspolíticos de filtragem, de

apontando

dos

eficiência

novos

O Estado que alija o cidadão, afastando-

efetivo

a

pluralismo

seleção

da

e

desses de


ABRIL

Embora

representadas

mandatários, possuem

o

poucos

tempo,

interesse

o

na

sérias

que

seus

sociedade

conhecimento

suficiente

escolhas

por

a

ou

entender

aqueles

o as

operam

nas

chamadas “reformas administrativas”.

Essa

condição,

infelizmente

brasileiro,

deve

momento

de

políticas, possa

de

ser

típica

considerada

imposição

maneira

participar

de

que

de

democráticos

do

a

novas

população

debates

e

no

prévios,

verdadeiramente

informativos, fazendo que a escolha seja pautada

por

aquilo

autonomia

da

que

fundamenta

pessoa

que

é

a a

capacidade de exercer um consentimento informado. Como isso pode acontecer se o debate se verticaliza demais, se faz de cima o

para

baixo,

administrado,

simplifique,

nesses

sem

se

compreender

da

que

detalhe

antes

moldes,

fracassará,

Administração se e

de

porquanto

explique, se

se

permita

mudar?

a

para

Feita

modernização debruçada

sobre

bases insólitas, sobre o desconhecimento social,

sobre

consciente

e,

a

ausência

portanto,

de

sobre

escolha

fundações

frágeis. A intenção pode ser boa – como parecia

ser

da

mãe

de

Roberto,

ou

da

própria FEBEM enquanto instituição – mas os resultados podem ser catastróficos, tal como

no

Filme.

É

preciso

mudar,

mas

para mudar é preciso antes conhecer...

14

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DIREITO

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6 – Rua de favela. Cena 1: Uma pipa voa sobre uma favela. A cena tem uma direção de arte levemente mágica. - Roberto carlos: "Quando eu era pequeno, a coisa que eu mais gostava era de empinar pipa. A pipa se prende no fio. Roberto tem uma reação de contentamento. Na sequência mais duas pipas diferentes se prendem. Plano geral da favela com várias pipas presas nos postes. - Roberto carlos: "Eu achava que um dia as minhas pipas iam fazer a minha rua voar."

15


DIREITO E EDUCAÇÃO EM O CONTADOR DE HISTÓRIAS: ALGUMAS IMPRESSÕES Por Mayara Vívian de Medeiros - Licenciada em História e discente do curso de Direito – UFRN (CERES). Componente da mesa de "O Contador de Histórias.

16


ABRIL

Direito

e

educação.

Dois

conceitos

e

dois

universos contidos em duas pequenas palavras, cheias de complexidades. A relação entre estas duas

áreas

análise, temas

de

estudo

discussões

na

e

é

um

na

problemática

rico

campo

proposição de

sua

de

para novos

apresentação

dentro e fora do campo institucional.

É notória a exploração de diversas matérias de estudo

no

unindo

a

cinema arte

humanos

em

nacional

de

atingir

conjunto

expressões

faladas

acerca

mais

dessa

dos

forma,

entre

percebida

de

brasileiro

e

vários as

em

inúmeras por

e

existentes Não

relação

à

seria,

ligação

apresentada

maneiras

Luiz

sentidos

palavras

assuntos.

educação,

dirigido

internacional,

escritas

diversos

e

os

com

diferente

direito

e

Vilaça,

no

O

e

filme

contador

de Histórias.

Produzido em 2009 e ambientando-se na cidade de Belo Horizonte/MG da década de 1970, este filme

apresenta

Ramos, como

um

história

garoto

cujo

“irrecuperável”

internos

da

pedagoga mais

a

FEBEM,

uma

chance

dentro que,

Margherit

de

Roberto

Carlos

comportamento

mas

francesa

de

da com

tido

lógica a

Duvas,

transformar

é

sua

ajuda

de da

consegue realidade

para melhor.

É

um

filme

detalhes, de

cheio

poesia

humor,

mas,

de

e

sensibilidade,

emoção,

por

outro

até

riqueza

com

lado,

um

de

de

pouco

expressão

dura e difícil da realidade de muitos. Trata, por meio

da

alcance

arte, da

questões

educação,

complexas a

pobreza,

como

o

relações

familiares e de amizade, violência, preconceito, bem

como

relacionados

temas à

relacionados

institucionalização

ao e

direito, políticas

públicas para crianças e adolescentes, e, entre outros, a ligação entre educação e direto.

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DIREITO

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A educação é um direito garantido

Dessa

na constituição federal de 1988, no

educacional,

artigo 6 , entre os demais direitos

perceber

sociais,

por

º

este

e

no

reza

artigo

que

a

“direito

de

Estado”

(BRASIL,

deste

205,

e

educação

todos

mesmo

quando

e

dever

1988).

artigo,

o

por

um

viés

é

interessante

papel

desempenhado

Margherit

Duvas

como

é

pedagoga e sua influência positiva

do

na vida de Roberto Carlos Ramos.

Dentro

os

forma,

objetivos

É

presente,

estudos

especialmente

pedagógicos

e

de

da educação são delineados como

licenciaturas,

sendo o pleno desenvolvimento da

professor-educador,

pessoa,

importância na vida e na realidade

para

bem

como

exercer

a

qualificação disposição

seu

preparo

cidadania

para

deste

o

e

sua

trabalho.

artigo

a

nos

figura

do

e

sua

dos jovens alunos.

A

abre

a

O

educador

é

alguém

consciência

seria

mundo inteiro dentro da mente de

chamado

“pleno

desenvolvimento

da

Quais

conhecimentos

e

habilidades,

experiências

para são

atingir

os

são

esse

aspectos

pessoa”.

necessárias

objetivo?

da

vida

cada com

um

convívios,

que

a

realidade

das

famílias,

dificuldades,

por

mais

realidade

nos

habilidades,

aluno

do

plenitude?

Histórias

alunos,

opiniões e influencias diferentes. E

alcançar

de

vários

um

Quais

seja,

contador

seus

existe

capacidades,

que precisam ser tocadas para se esta

dos

que

tem

possibilidade de discussão do que o

de

que

O

mostra

instituições

desafiador

tenta

e

aproximar de

através

o

que

ensino

seus

de

inovadoras,

difícil

da

tutelados,

metodologias

conversas

e

ajuda

de ensino é bem diferente daquilo

especializadas, e um planejamento

que

que

visam

normativas, grande

o

que

parte

Vemos

uma

lógica

estáticos

se

até

mantém

a

ensino para

e

de

sucateada, e

uma

massificada,

integre

vivência

mais

do

aprendizado

jovem,

à

inserindo

nesses conhecimentos a lógica de seus

direitos,

da

realidade

social,

do cuidado com sua saúde física e mental, entre outros.

conhecimentos

pouca

realidade

em

atualidade.

desgastados

de

voltada

disposições

educação

profissionais

à

as

dos

proximidade jovens.

Isto

Na

atualidade,

deficiências

de

em

virtude

estrutura,

das

baixos

dificulta não só suas hipóteses de

salários, falta de apoio ou demais

crescimento

dificuldades, é raro de se ver este

levando

pessoal,

em

vindas

da

sociedade

instável,

preconceituosa,

incerto

de

as sua

socioeconômica,

exercício

para

também

consideração

dificuldades estrutura

mas

o

cidadania

e

e na

trabalho, e

muitas

perspectiva otimista.

o numa

perigosa

e

preparação num vezes

futuro sem

tipo

de

educador,

mas

possível

observar

procuram

fazer

relação

Margherit,

esta

à

a

ainda

alguns

que

diferença.

ultrapassa

é

nítido

é

Em que

barreiras

institucionais e entra intensamente na um

vida

de

Roberto,

relação

familiar

construindo com

este,

ensinando-o não só conhecimentos

18


simples,

o

que

acaba

por

prejudicar o esforço pela proteção de

seus

direitos

mais

fundamentais,

gerando

desigualdades

que

obstam

e

melhoria da qualidade de vida para

alguns.

jurídico

O

ordenamento

regula

o

campo

educacional, mas na prática, sua

lógica

não

se

apresenta

de

forma clara e proveitosa neste.

Torna-se

manifesta,

importância políticas sociais

e

necessidade

públicas

que

assim,

e

alcancem

conhecimento

e

a de

projetos

e

incluam

exercício

o

de

direitos dentro das existências dos jovens

e

suas

especialmente

as

famílias,

que

estão

em

situação de vulnerabilidade social. técnicos, de

si

como

também

mesmo,

a

Porém,

cuidar

entender

uma

maneira

construir

um

diferente

futuro

com

vida

inserção

também

do

permissão

do

família que

e

ela

jovem

do

contexto

vive,

situação

e

de

muitas

risco,

da

de

em

dezes

de

dentro

possível

de

que

dentro

ensino,

das como

universidades, o

direito

estudo

e

não

é

presente

campo

de

uma

falta têm

de

perceber

conhecimento acerca

do

fato

que

e

a

extra-

ajuda visão

de

exposição

tanto

para

o

arraigada

e

que

muitas

existe crianças

que

vivem

vulnerabilidade ao

em

crime,

em social

bem

como

compartilhamento quem para

de

podem mais

e

ser

de

atitudes

como esta, que fazem a diferença

de

da vida de alguém.

de

maneira

este

à

inspiração

proveitosa e enriquecedora, sendo possível

vezes

individual

à

experiências

observar

internamento,

um

é

combate

e

escolas,

de

muitas

de

situação

desta

instituições

suas

adolescentes

através de O contador de Histórias é

compartilhar

é

no ponto

mais

exemplo,

relação

relação mais aproximada.

Outro

adotar

preconceituosa

sua

social

Margherit

institucional. Todavia, este tipo de

uma

educador,

e

iniciativa

questão complexa, em virtude da vontade

de

ao

habilidades,

mais

é

adulta,

crianças

e

dignidade e esperança. Este limite de

exemplo

Duvas e do próprio Roberto em sua

seus

direitos e deveres, enxergar a vida de

a

na

muitos próprio

ordenamento jurídico em questões

19


ABRIL

Por

fim,

mais

importante

um

aspecto

de

observação

em

A

concepção

ideia

de

de

Foucault

que

o

não

este é

se

ED.

baseia

06

na

essencialmente

Histórias, por um outro viés, é a

mais exercido do que possuído e existente tanto nos

relação

dominantes

prevenção condutas

e

a

punição

criminosas.

conhecimento

com

geral

É

às

filme,

de

mundo

que

institucionalização

espécie

manifestação poder por

por

Michel

de de

vezes

controle relações

em

do

crime.

entre

os

Foucault

A

jovens

sendo

exemplo, na

apresenta

rua

no

e

no

também

o

e

a

possibilidade

de

alguns

agirem

sobre

a

ação

dos outros. Aquele investe nos sujeitos e os analisa e

de

sua

obra A microfísica do poder.

relações

dominados,

produz,

conceito de poder disciplinar, numa sociedade que

trabalhadas

Foucault,

nos

e

a

observação dos jovens serve a uma

nas

quanto

incentiva

DIREITO

repressivo,

direito

ele

(EN)CINE

sobre

poder

que

|

relação ao filme O contador de

do

mas

2019

no

sentido

habilidades trabalho.

de

ver

que

Esse

instrumentos

os

suas tornam,

poder

como

normatizadoras

a

que

competências

é

ou

não,

aptos

demonstrado

vigilância

guiam

e

das

e

por

para

meio

ações,

punem,

se

suas

de

o

de leis

necessário,

e por meio de exame, destacando suas qualidades e especificidades. procurar

e

econômica, diminuir

Essas

análises

estimular proveitosa

sua

uma para

possibilidade

têm

por

ótima

objetivo

preparação

a

produção,

de

revolta,

além que

de

está

ligada ao meio ideológico (FOUCAULT, 1987).

O direito ainda tem um longo caminho, a percorrer no

trabalho

de

prevenir,

especialmente

no

tocante

às crianças e adolescentes em situação de risco, no âmbito

social

e

econômico,

em

virtude

da

falta

de

investimento na melhoria da educação e projetos de cunho

social

e

erecuperação mais

presente

políticas

da o

vida

públicas,

em

combate

vários às

para

prevenção

aspectos,

condutas

sendo

criminosas

por meio das punições e medidas socioeducativas,

20


que

muitas

combatem

vezes

de

forma

criminalidade,

segurança própria

servem

necessária

desses

jovens

sociedade.

do

direito

definido

Di

O

e

Renato

Dio

para

a

da

à

sociedade,

da

estudo

Alberto

como

sendo

de grande importância, não só

a

educacional,

por

Teodoro

efetiva

nem

readequação

não

os

mais

variados

existência

esforço

individual

mas

para

satisfação daquilo

campos

o

e

em

também

no

bem

social, que

estar

cuidando

se

acredita

essencial à vida humana.

“o

conjunto de normas, princípios,

Referências

leis e regulamentos que versam

ALBUQUERQUE, José Augusto

sobre

Guilhon.

as

relações

professores,

alunos,

administradores,

especialistas enquanto

de

e

técnicos,

envolvidos,

e

mediata

Michel

Foucault

e

a

teoria do poder. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 7(12): 105-110, outubro de 1995.

ou imediatamente, no processo ensino-aprendizagem” imensa

é

importância

entendimento

da

para

o

estrutura

do

campo

educacional

com

suas

deficiência

de

brasileiro,

complexidades, e

potenciais

para

BRASIL.

Constituição

Constituição

da

Federativa

Brasil.

do

DI

DIO,

Renato

humano (DI DIO, 1982).

sistematização

de

histórias,

uma

forma

dura

e

ao

Carlos

de

contador

apresentar mesmo

sensível

Roberto pela

ao

O

a

Margherit

manifesta

uma

tempo

vida

Ramos,

de

de

tocada Duvas,

infinidade

de

Faculdade

de

FOUCAULT, punir:

microfísica

O

Organização

campo

Michel.

Vigiar da

Michel. do e

A poder.

tradução

Roberto

tanto na melhoria da qualidade

Janeiro: Edições Graal, 1979.

vida

e

da

muitos,

como

esforço

pelo

relações

sociais

em

geral.

realidade

de

também

no

equilíbrio e

nas

pacificação

Além

disso,

é

relevante na defesa e proteção dos

direitos

e

dignidade

humana. Assim, sua abordagem por

meio

ensino,

das

instituições

inclusive

por

de

iniciativa

dos personagens presentes nos cursos de ensino superior, são

21

e

prisão.

educacional, pode ser de ajuda

de

da

27. ed. Petrópolis: Vozes, 1987.

quais estes são apenas alguns. no

1982.

Educação

nascimento

FOUCAULT,

inserido

Paulo,

dos

direito,

direito

Universidade de São Paulo.

de

ponderação,

São

à

(Livre-docência)

e

do

Tese

temas e aspectos interessantes análise

Alberto

Contribuição

educacional. película

Brasília:

Teodoro.

a

República

Senado Federal, 1988.

melhoria no âmbito estrutural e

Assim,

(1988).

Machado.

Rio

de de


A REALIDADE E SUA (RE)CRIAÇÃO EM “O CONTADOR DE HISTÓRIAS”. Por: Luana Cristina da Silva Dantas Discente

do

curso

de

Direito

UFRN

(CERES).

Bolsista-

voluntária no Projeto de Extensão "(EN)CINE DIREITO".

O

desenho

brasileira

da -

desigualdade

fadado

a

social

suprimir

e

Nessa

senda,

cinematográfica,

cercear quaisquer possibilidades de

literária

acesso

artísticas

à

amiúde,

cidadania objeto

cinegrafia violência das

nos

da

injustiças

projetada leva

sobre

e

nacional. e

e

a

A

estética

histórias

olhar

com

em

que

como

demais do

também

a

manifestações

humano,

portam

forma

de

indispensável

da

“experiência” e conhecimento sobre a

vida.

Educam

nossa

sensibilidade

sociais

por ecoarem uma voz para além da

fílmica

nossa:

reiterado desfechos

o

e

linguagem

da

inflamável

narrativa

um

sido,

enredo

apartações

ter

traumáticos

tem

natureza

para a

-

a

produto

o

outro.

Recurso

composição

de

bonitos

o

é

a

película

como

conceitos da

de tão

Alteridade

e

Empatia.

inexorável da miséria e de políticas públicas vezes

equivocadas –

descortinados

e

muitas

enganosas, e

mais dura crueza.

revelados

em

Desse

modo,

escolhida

são

pelo projeto “(EN)CINE DIREITO”, “O

sua

Contador de Histórias” (Luiz Villaça, 2009), destoa dos finais trágicos.

22


A

urdidura

uma

do

espécie

filme

de

conclui-se

epílogo

transfigurado

do

possível

de

através

em

incomum

O

e

conta

personagem, um

processo

de

filme

foi

projetado

autobiografia

que

texto-fonte:

“A

a

arte

serviu

de

filme,

Luiz

descobriu

Carlos

a

Ramos

Villaça,

história

de

enquanto

lia

para o seu filho uma de suas obras infantis.

partir

lhe

do

que

Roberto

acolhimento, afeto e educação.

O

diretor

da

Pesquisando com mais profundidade

de

a

construir

vida

do

autor,

descobriu

a

autobiografia de Roberto. Ficou, por

cidadãos: as 15 lições da pedagogia

dias,

do

dito “irrecuperável”, que acabou por

amor

(2004)”,

escrita

por

imerso

do

FEBEM

mundialmente. Teve a ideia de levar

para veio

o

Bem-Estar

a

se

tornar

do

Estadual

Menor)

um

que

Contador

a

de

história

espoco

pedagogo

menino

se

Fundação

um

história

Roberto Carlos Ramos, ex-interno da (antiga

tornar

na

para

fidedigno

mundo criando e contando histórias.

“peraltagens”

ao

fabulação obra

traz

criança:

à

tela

Roberto

a

vida

de

Carlos.

uma

e

vive

poéticas.

governamentais

roupas

As

Ele

construir

sua

imagina varal

e

pelo

ar

mãe

que

quarando

ela

que

as

são

imagens

pendura

gotas

pingos

nuvens

que

de

e

no

escapam

uma

chuva

e

depois de

vermelho...

garrafas

depois

olhando

com

líquido

azul,

através

Ramos.

No

equivocada ação

arco-íris

Margherit

chega seu

com

a

olhar,

o

ambiente.

mãe

à

Febem

o

pátio

da

e,

Ele sob

em

instituição

a

palhaço. meio

da

imaginação

capacidade

e

e

exclusão

elaborando

seu

e

cidadania

por

grande

de

sua

internados

a de

do

de

de

Menor Roberto da

imediato, de

antiga

a

dois

Febem

da

que

e

a

francesa

empenhou-se

“recuperar”

Carlos

dia,

inventiva,

marginalização infância,

a

Fundação

o

menino.

Esse esboço é definitivo na vida de

portões são abertos por um guardadia

da

Duvas,

cuidar

Roberto

recria,

70.

“contar”

pedagógica

torna-se um grande picadeiro e seus

Ele

de

mundos: A metodologia educacional

colorido

cruza

temos,

de

políticas

a

Bem-Estar

a

tom

hiato

comparação

que, sob o fluxo da luz, formam um que

trazem

olhos

contida

amarelo,

o

década

pelos

do

em

da

(Febem)

experiência,

passo,

nas

do

Carlos

às

mediante

Estadual

provocada. Ele observa o balconista bar

Nesse

falhas

narrativas

e

imaginário-

ironias,

omissões

o

manter-se

do

esboça,

emocional

com

texto-base

trafega pelas ruas da favela em que a

de

infantil.

película

Roberto

cinema

precípuo

Histórias: Um pedagogo que viaja o

A

o

respeitado

Ele

inconcebível

maioria

dos

naquela

reformatório

sua

Ramos.

que,

na

alcança para

a

garotos

espécie

de

contramão

da

promessa propalada, era incapaz de

próprio

oferecer-lhes dignidade mínima.

refúgio. A antiga Febem, no idos da década Desse

modo,

imaginação, trama Direito

urde à

à

luz

tempo

do e

questões Filosofia,

liame

entre

memória, que

vão

de

a

70,

como

do

era um

carentes.

Sociologia,

pela

Ontologia...

popularmente colégio

Muitas

para

crianças

famílias,

cativadas

propaganda

governo

-

e

conhecida

no

televisionada galgar

de

inocência miséria - levavam seus

23

do sua


à

tutela

o

que

oferecida ocorreu

pelo

Estado.

com

a

mãe

Foi

Roberto

de

depois

Roberto Carlos Ramos.

Na

política

podia

da

levar

Febem,

apenas

de

caçula tornar

Roberto

cada uma

de

seis

anos

“Doutor”.

erigia

o

idealizado crianças

o

pelo

se

termos

se

carentes

no

Na

dali

responsável

em

diante,

por

possibilitar

sobrevivência Infelizmente,

e tudo

urde-se

de

passo

um

criada

sua

grande

as da

e

esteio,

as

digressões

o

tom

da

vida

nas

pela

fugas ruas

e

em

a em

da

narrativa descrevem o percurso de

24

brasileira

rascunhos que

pelo

de

de

nos setenta

poéticos

retrata uma

governo,

tangíveis época

realístico-cáustico

década

as

(não

no

falhas

instituição

como

também

desigualdades

realidade atual).

triste equívoco.

Nesse

de

educacionais

ficaria

formação.

era

inumeráveis

realidade

meandros

"Disciplina e Educação" institucional que,

trama,

da

receber

“colégio”

passagem

e

da instituição governamental.

introduzido-

governo:

antes

reatualizam as determinantes falhas

o

iria

Lá,

Ramos

uma grande metrópole evidenciam e

criança.

que

sua

experiências

família

escolheu:

Nesses

sonho

de

instituição.

Desse modo, entre os nove filhos, a mãe

Carlos

díspares

à

sociais nossa


Em

seu

suspiro

de

linguagem,

a

narrativa deslinda a importância da Educação pilares

e

da

cultura

cidadania.

conquista.

Ela

paulatina agentes

como

se

efetivos

Cidadania

concretiza

conscientização

sociais

pautada

é na

dos

na

busca

pela justiça social.

É

essa

estética

concepção

de

que

permite

que

acontece

que

torna

cidadania

observar e

é

uma

não

justo,

a

lente

apenas

mas

o

o

que

deveria acontecer enquanto justiça. Isto

é,

apenas impõe

nos o

permite

que

como

“é”,

um

observar mas

o

dever-ser.

não

que Ouvir

se e

ver o outro. Ir da injustiça à justiça.

25


ABRIL

2019

|

(EN)CINE

DIREITO

ED.

06

DIREITO EDUCAÇÃO

Estética Jurídica em "O Contador de Histórias" Por: Gabriela Sousa de Medeiros Discente

do

curso

de

Direito

UFRN

(CERES).

voluntária no Projeto de Extensão "(EN)CINE DIREITO".

26

Bolsista-


O Contador de Histórias

da

é

marginalizados, de modo

entendimento

de

que

todo

qualquer

um

filme

dirigido

Luiz

Villaça,

que

trata

em

2009,

pobreza

e

a

cor

apresenta

o

e

indivíduo

do contador de histórias

fatores

deve

Roberto Carlos Ramos.

são infratores e por isso

visando

e somente isso, merecem

ressocialização.

apodrecer

Todavia,

obra

biografia

a

como

escura de suas peles são

A

da

por

Febem

cinematográfica

indicadores

que

atrás

passar

punido

por

isso sua

apesar

do

jus

daquelas

capital Belo Horizonte, e

vista

retrata a história de vida

alternativa para aqueles

ferramenta

de

jovens.

reintegração do cidadão

anos

na

desde

Febem,

Fundação

em

depois,

anos ser

francesa

se

até

mãe,

ainda

o

Duvas

conseguir

a

que

e

formar, casa o

de

na

supra

tivesse

para

uma

vida

melhor.

do

sentido,

filme,

diversos

ao

percebemos

momentos

que

personagens

filme,

ou

próprio

longo

até

em do

mesmo

o

protagonista,

referem-se às crianças

piniendi do Estado dever ser

entendido

para

com

com

uma de

a

sociedade,

E assim, o presente e o

as cadeias superlotadas

futuro

e

deles

definidos,

vão

sendo

como

se

instituições

Febem como

para aquela finalidade,

obstáculos

sem

concretização

quaisquer

maiores

perspectivas.

disso,

consequência

a

verdadeiros para

com

a

desse

objetivo. Ora,

Diante

como

apresentam-se

tivessem vindo ao mundo

é

que

se

como

pode

uma

criança, no auge de seus 10

(dez)

anos

de

idade,

faça uma conexão entre

imaginar que existe algo

a

a

de

o

quando

situação

película Nesse

outra

deixou

pequeno

instituição que

que,

pela

Margherit

sua

até

após

adotado

haver

atual

Casa,

momento

retorna

seus

não

haja

ser

se passa nos anos 70, na

Roberto,

grades,

a

que

que

retrata

Direito,

que

e

detém

da

competência

para

entender

punir

jovens

como

infratores.

percebe-se ordenamento

Assim,

que

jurídico

brasileiro, de fato,

27

o

bom

na

vida

se

diariamente

ainda,

percebe

inserido

um local caótico?

em


Nesse óbvio

diapasão, que,

torna-se

talvez,

repensar

os

sobretudo

o

sistema

seus

em

quase

razão

deva

métodos,

de,

desde

os

tempos em que Roberto estava na Febem,

não

fornecer

necessário

para

o

aparato

promover

reinserção

dessas

crianças/adolescentes/jovens corpo

a

social,

falhando

com

no estes

reiteradamente.

- Roberto Carlos: "Outra coisa que eu gostava era ir conversar com o Seu Jorge. Eu tinha superpoderes pra fazer ele mudar de cor a toda hora." O Contador de Histórias, 2009.

28

Portanto,

no

filme,

Margherit

faz

aquilo que raramente acontece na nossa sociedade. Ela percebe que Roberto, como a maioria dos jovens que

se

encontram

instituições

para

infratores, histórico

nessas menores

possuem

que

os

leva

todo a

um

trilhar

por

caminhos errados e a desencadear seus

vícios

e

medos,

como

seres

humanos inseridos em situações de vulnerabilidade.

Mas,

acima

de

tudo, Magherit simboliza o ideal de que

nada

delimitar

e até

ninguém onde

podem

cada

daqueles jovens podem chegar.

um


ABRIL

29

2019

|

(EN)CINE

DIREITO

ED.

06


ECOS DO FILME Por: Priscila Raquel dos Santos Dantas Discente do curso de Direito – UFRN (CERES).

PRIMEIRO CONTATO.

30


ABRIL

2019

|

(EN)CINE

DIREITO

ED.

06

"Um grande varal de roupas como uma imensidão de nuvens." (Personagem Roberto Carlos, em O contador de histórias).

Pipoca

de

milho

especialmente momento.

para

Um

feita aquele

filme

era

esperado.

Na

película,

diferentes

três

são

Roberto

os

Carlos

varais e

expostos

cheios

percebidos ali – ele, que é o

brancos,

personagem principal e tem a

mãe.

no

de

quintal lençóis

lavados

por

sua

sua vida contada e percebida Mas como pode? Um

mister

de

cronologicamente sentimentos

aspecto

estrondou a minha mente com

distinto

as

havia

narrativas

A

daquelas

realidade

sobrestada

pelos

cenas.

brasileira berros

sob

um

comportamental à

uma

medida

em

que

interferência

em

seu meio.

O

segundo,

um

aprendiz,

que teve de crescer rápido com os novos amigos para conseguir driblar o sistema e ser “descolado” perante

de

seus

pares.

Rude,

uma criança abandonada não

O primeiro, o menino Roberto,

incontrolável, se habitua a

por sua mãe, mas pelo sistema

singelo, que tem a inocência

ganhar

que

e imaginário de uma criança

demonstração de um

e

a

deve

Entremeada

a

“mudanças”. histórias

vividas

pelo

principal

Roberto

também

um

salto

duras

personagem Carlos, à

liberdade

que

miséria

mesmo

em

econômica,

meio

à

comportamento

possui

o

e

elo familiar e lembranças de uma

vida

feliz de

através

das

pipa

nas

que vem junto a um pulo sobre

empinadas

o muro da FEBEM-MG pelos

“grandes

garotos dali.

imaginara o garoto, com os

nuvens”,

31

espaço

como

tido

como

socialmente.

com

a

“marginal”

irrecuperável


Outra coisa que eu gostava era ir conversar com o Seu Jorge. Eu tinha superpoderes pra fazer ele mudar de cor a toda hora. - Roberto Carlos

O

segundo,

um

aprendiz,

que

teve

de

Roberto,

como

qualquer

outro

morador

crescer rápido com os novos amigos para

de rua, teve de aprender a conviver com

conseguir

as diferenças econômicas e a driblar a

driblar

o

sistema

e

ser

“descolado” perante seus pares. Rude,

falta oportunidade de uma vida melhor,

incontrolável,

através dos furtos, do apoio em drogas e

se

habitua

a

ganhar

espaço com a demonstração de um comportamento

“marginal”

e

tido

em outras crianças carentes que viviam como

de

irrecuperável socialmente.

igual

modo.

Entretanto,

Roberto,

conhece

altruísta

na

figura

de

uma

pedagoga

pensamento de rua e o ganha de volta

Areia

de

caricatura

para

da

visão

chamados

Santo

“marginais”,

social pessoas

dos

margem da sociedade: “E achava que a

mudanças

sua

alegria

norte

era

para a desgraça daquela vida” (p.60, 1937).

a

pouca

32

Em

Agostinho, o

liberdade

e

sociedade.

bibliográfica,

daquela

perdidas

a

em

espiritual.

menino

Confissões nesta

autor vida

Mas

do

e

a figura de Sem-Pernas em Capitães da uma

retira

genuíno

francesa,

Amado,

qual

amor

terceiro

Neste mesmo contexto, por que não citar

Jorge

a

um

o

nosso

partir

de

obra

estabelece a

o

de

as um

personagem

principal necessitava apenas de alguém que se importasse com ele.


ABRIL

2019

|

(EN)CINE

DIREITO

ED.

Teve de aprender desde muito novo a ser independente e não temer à vida que se apresentava mãe

em

até

seu

então,

aspecto

acolhedora,

e

uma

mais

possível

abrangente,

compreensível

e

determinada, colocou Roberto Carlos de pé

direito

para

enfrentar

seus

verdadeiros medos. Agora formado, doutor para a sua mãe biológica,

cumpriu

o

que

ela

outrora

pensara ao deixá-lo pequenino naquela instituição.

E

estagiário,

se

voltando torna

a

um

FEBEM

como

contador

não

apenas de histórias, mas de emoções e ganha lugar no coração de cada criança que

o

melhor.

como As

continuam

esperança

fugas

não

mais

de

daquele através

um

espaço de

muros, mas pelos sorrisos e espantos daqueles pequenos que o escutam.

33

dia

seus

06


PLURIPERSPECTIVA NA PELÍCULA "O CONTADOR DE HISTÓRIAS"

Por: Damião Marcos Pereira Silva Acadêmico e licenciando do quarto período do curso de História do CERES/UFRN-Caicó-RN.

60 .DE OTIERID ENIC)NE( | 9102 LIRBA

34


ABRIL

2019

|

(EN)CINE

DIREITO

ED.

Da imaginação à dura realidade. (frames da película).

Partindo filme

principalmente

brasileiro

Histórias”,

esta

desenvolver

do

“O

resenha

um

fio

enredo

do

vista

Contador

de

discussão:

tem

fito

de

Contador de Histórias”.

capaz

de

o

condutor

a

base a

que obra

irá

conduzir

esta

cinematográfica

“O

dialogar com as concepções de autores

Intitulado de “O Contador de Histórias” e

como

dirigido

Gylberto

Nascimento; históricos

acerca

referentes

segregação diz

Freire

respeito

do

negro

aos

e

Abdias

dos a

do

processos

emergência

brasileiro

espaços

de

no

por

Luiz

bibliográfico

da

produções

Villaça,

representa

cinematográficas

este

filme

uma

das

brasileiras

que

de maior sucesso nos últimos dez anos.

no

Isso se evidencia não só pelos roteiristas

poder

Brasil; para dessa forma diagnosticar os

(Luiz

impactos

Mariana Veríssimo, Maurício Arruda) e a

que

ainda

podem

ser

Villaça,

percebidos e estão colocados no tecido

produção

social

Ramalho

brasileiro,

como

bem

retrata

o

José

(Denise Jr.)

que

Roberto

Fraga,

estavam

Torero,

Francisco por

trás

da

filme. Tendo em vista que as discussões

criação deste último; mas também pelos

desta

de

prêmios

que

esta

a

Grande

Prêmio

do

resenha

temáticas

que

girarão envolvem,

em

torno

sobretudo,

reflexão sobre as construções da minoria negra este

do

Brasil;

respectivo

é

possível

texto

irá

afirmar

Brasileiro

Melhor Trilha Sonora Original, etc.

que Sendo lançado no dia sete de agosto de

discurso essencialmente com relação ao

2009, o filme “O contador de Histórias”

estudante

de

se passa em Belo Horizonte em meados

educação a que este último geralmente

dos anos setenta, a menos de um século

e

ao

o

Cinema

conquistou:

seu

afro-brasileiro

pautar

obra

tipo

entra em contato no Brasil, tendo em

35

da Lei Áurea, a qual selava o processo

06


de

abolição

Brasil.

Tendo vindo para o Brasil com o intuito

Tendo em vista que no período em que se

de recolher dados para a uma pesquisa

passa

passava

acadêmica, Margherit não só se depara

pelo governo de Ernesto Geisel, o qual

com o quadro do garoto Roberto - que

acontece

agora já fumava, roubava e era viciado

o

da

filme

escravatura

(1978),

durante

o

o

no

Brasil

regime

militar;

é

importante destacar que é nessa fase da

em

história do Brasil em que a desigualdade

conhece-lo

social

Roberto recusa a proposta alegando que

dispara

“milagre

mesmo

com

econômico”

concentração

de

-

renda

o

famoso

devido

a

mãos

da

nas

iria

cola

-;

fugir

também

e

ajuda-lo.

da

Contudo,

elite governante.

mas

FEBEM,

após

se

dispõem

A

princípio

mais

grande

a

uma

vez.

insistência

de

Margherit e depois de ter sido violentado por alguns de seus colegas da FEBEM, o

É

nesse

contexto

menino

em

Roberto

interpretada

por

que

a

mãe

Carlos Ju

do

adolescente

decide não

para o

casa

decide

também o educa em vários os aspectos, assim

acolhe,

da

pedagoga

dando

a

Ramos,

Colombo,

que

ir

as

como

repassar a guarda do seu filho mais novo

lhe

condições

para a FEBEM, uma vez que esta última

necessárias para que o menino mudasse

não possuía mais condições de ficar sem

a sua conduta.

trabalhar para cuida-lo, uma vez que a mesma

ainda

possuía

para

sustentar.

anos

Roberto

desta

Sendo

é

mais

assim,

entregue

instituição,

a

nove aos

aos

qual

é

filhos

É

cinco

Roberto

cuidados

com

sentir

coordenada

os é

cuidados

alfabetizado

inferior

acompanhar

por Pérola (Malu Galli).

de

por

os

Margherit e

ser

éticos

concluído

a

e

sua

de

negro.

avanços

sobretudo

deixa

de

morais

que se

Após

Roberto -

pesquisa;

e

tendo

Margherit

Ao chegar na FEBEM com apenas cinco

decide adotar o garoto e leva-lo para a

anos,

França

Roberto

se

depara

com

a

dura

consigo.

Foi

devido

a

isto

que

realidade do local que logo frustra a sua

Roberto conseguiu não só se formar em

fantasia

pedagogia

incrível.

de

estar

Ideia

que

indo sua

para

mãe

um

lugar

analfabeta,

literatura

e

se

infantil,

pós-graduar

mas

também

em

retornar

negra e pobre alimentara em sua mente,

para o Brasil e ajudar a sua mãe. A obra

devido

cinematográfica

as

propagandas

que

o

governo

encerra

relatando

fazia da FEBEM pela televisão. É com a

também

ausência

se

adotou treze garotos que viviam nas ruas

deparando com a maldade das crianças

e que o mesmo cuidou de sua mãe até a

mais

morte da mesma em 2006.

de

um

velhas

da

frequentemente espancavam construíam

afeto

familiar

FEBEM

lhe e

um

e

de

que

insultavam, certa

Roberto

É

forma

parecido

que,

se

posteriormente,

praticamente

inevitável

Roberto

assistir

a

história de vida de Roberto Carlos Ramos

com

e

não

se

fazer

uma

reflexão

histórica

estes últimos; que a pedagoga francesa

capaz de nos esclarecer as causas que

Margherit (Maria de Medeiros) conhece o

promoveram

garoto

se evidencia não só pelo fato de Roberto

Roberto,

que

agora

possui

treze nos.

a

sua

dura

realidade.

ter nascido em um dos últimos países

36

Isso


que mas

aboliu

o

processo

também

pelo

de

fato

escravatura,

de

após

Com esse ponto de vista, Gylberto Freyre

esta

queria defender a ideia de o Brasil desde

suposta abolição neste último não haver

a

uma

naturalmente

inclusão

Durante

o

dos

século

escravos

XVII

Minas

libertos.

Gerais

foi

lei

filme

mais

retrata,

escravos,

devido

a

descoberta de ouro naquela região.

“O

nove

por

evidencia

discriminado,

e

o

escravizado

local

onde

ele

e

e sua

não

menino

mãe biológica residiam não se deu por

mas

acaso. Foram para os morros e para os

Abdias

espaços mais precários e periféricos que

tese

os

Freyre:

negros

tipo

de

foram

parar,

políticas

pudessem

e

de

inseri-los

sem

nenhum

inclusões

nos

Em

não

aos

como

Histórias” depois

o

bem desta

também do

da

de

escravidão

naturalmente.

Roberto

pela

pelo

ponto

democracia

““Isso

que

é

sendo

com

uma

de

filme, de a

Gylberto

que

vem

desde

Brasil

de

do

relação

piada

do

gosta

se

vista

martelada

Brasil

Isso

no

de

racial

descoberta

espaços

no

realidade

apresentada

Nascimento,

que

espaços

especial,

de

anos

sumiu

fazem com que alguém possa ascender socialmente.

possível

Contudo,

anos

quinhentos

Brasil

foi

uma

Contador

Roberto é descendente deste povo que tempo

racial.

caminhando

declaração de Gylberto Freyre; o reflexo de

muito

estar para

democracia

um dos principais territórios do Brasil que recebeu

áurea

(...)

a E

o

repeti-la

pelo

Mas

uma

escolares de qualidade e aos postos de

mundo

trabalho bem remunerados. Esses últimos

imensa

mentira.

já possuíam os seus poucos seus, desde

sabem

disso.

sempre.

sentem na carne a mentira que

Mesmo

estampada

na

com

essa

história

do

realidade

Brasil

é

ainda

a

afora.

E

é

os

negros

Os

democracia

negros

racial.

Basta

olhar as famílias negras. Onde

houveram aqueles mais otimistas:

elas moram? Ou olhar para as “A

verdade

contrário noutros da

é

do

que

que

países

ameríndia

América

como

a

educadas? tudo

e

-

Vê-se

mentira”.

africana

Partindo

do

que

disse

conclui-se

duros,

meio

reversão

indigestos, ao

de

com

relações entre as duas raças,

ocorrera

a conquistadora e a indígena,

ódio

de

adstringente,

cujo

protestante.

Suavizou-as

o

óleo

miscigenação 2003, p.123).

da (...).

justiça nos

deste

social,

Estados

negros

condições

ouvidos de todos os países de anglo-saxônica

a

alunos

aos

colonização

que

do

um

quadro:

como

Unidos

a

por

que volta

uma educação de qualidade no Brasil, os

ranger,

chega-nos

Abdias

dos anos sessenta. Contudo, para se ter

aguçaram-se nunca na apatia no

2014,

educação de qualidade em consonância

sistema

social do europeu (...) Nem as

ou

(GATES,

é

tanto

Nascimento,

inassimiláveis

que

a

não se vem isolando em balões secos,

logo

p. 44).

recente

europeia,

primitiva

crianças negras. Como são

ao

observa

de

colonização cultura

se

da

África

Brasil,

seus

e

vez

aqui

financeiras

estudos que

o

precisam

em

para

escolas

ensino

(FREYRE,

37

custear

privadas,

público

os

uma

brasileiro

encontra em estado precário.

profunda

possuir

se


ABRIL

2019

|

(EN)CINE

DIREITO

ED.

06

A surpresa. (frames da película).

Partindo

do

que

disse

Nascimento,

conclui-se

meio

reversão

de

Abdias

que

deste

do

Para

um

profissional

quadro:

de

se

ter

boa

deve-se

qualidade.

E

é

ter

uma

dessa

que

ocorrera

nos

Estados

Unidos

a

por

que volta

econômica,

mas

sim

a

vista

o

este ciclo não se limita a uma questão

como

em

forma

com

social,

tendo

educação

ciclo

justiça

perpetua,

qualificação

educação de qualidade em consonância a

se

uma

uma

que

questão

dos anos sessenta. Contudo, para se ter

histórica pautada numa desigualdade de

uma educação de qualidade no Brasil, os

contextos

alunos

casos; além de todo o preconceito racial

negros

condições seus vez

financeiras

estudos que

o

precisam

em

para

escolas

ensino

possuir

custear

privadas,

público

os

desfavoráveis

se

Foi

através

afirmativas

condições

conseguiu

necessário

se

ter

um

emprego

isso de

é boa

de

políticas

que estudar

Barack em

de

ações Obama

Columbia,

e

conseguir se formar na Escola de Direito

remuneração. Para se ter um emprego de

em Harvard.

boa remuneração precisa-se de uma boa qualificação profissional.

dos

uma

brasileiro

para

maioria

envolvendo tudo isso.

encontra em estado precário. Para se ter financeiras

na

38


Quem

ocupa

em

sua

maioria

as

periferias? Quem ocupa em sua maioria o

sistema

carcerário?

predominantemente brasileiros

está

considerados

Quem entre

pobres

e

os muito

raramente entre aqueles brasileiros que

- Roberto Carlos: "O seu Jorge era casado com a Wilma, uma giganta que vendia biju. Eu não tinha medo dela, mas tinha do seu Artur. Ele usava armadura e andava uma bicicleta que cospia fogo." O contador de Histórias.

possuem

um

grande

poder

aquisitivo

e

conseguem ocupar os espaços de poder no

Brasil,

que

vão

desde

um

ensino

de

qualidade até um posto de trabalho bem remunerado? se

deu

A

minoria

por

realidade história

é

de

acaso fechar

vários

negra. e

os

Isso

ignorar olhos

estudantes

não esta

para

negros

a no

Brasil que estão incluídos nesse quadro social que praticamente os predestina ou a

evasão

escolar

ou

a

uma

educação

sucateada

e

precária,

provavelmente

seria

o

Carlos

Ramos,

caso

caso

como

de

Roberto

Margherit

não

interferisse em sua situação.

REFERÊNCIAS: Brasil.

Constituição

(1998).

Constituição

da

República Federativa do Brasil. Organização de Alexandre de Moraes. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2000. FREYRE,

Gilberto.

Casa-grande

&

senzala:

formação da família brasileira sob o regime da

economia

patriarcal;

apresentação

de

Fernando Henrique Cardoso. – 48’ ed. rev. – São

Uma

vez

a

minoria

negra

possuindo

as

Paulo:

Global,

2003.

(Introdução

à

história da sociedade patriarcal no Brasil; 1).

oportunidades necessárias para atuarem

GATES

nas

América Latina. São Paulo: Companhia das

esferas

dizer

que

do

os

poder

judicial,

espaços

de

pode-se

MENARD,

inciso

I

de

com

nossa

art.

50,

caput

constituição

basta

olhar

para

na

Federal,

na

RUSSEL

R.;

SCHWARTZ,

Stuart

B.

Carolina

Tamás.

(O

do

Sul.

rg).

In:

História

SZMRECSÁNYI, econômica

do

período colonial. São Paulo: EDUSP, 2002, p. 3-19.

tecido social brasileiro que logo nota-se

STRUM,

que

Brasil, Portugal e Países Baixos (1595-1630).

praticamente

espaços

negros

do

determinados

os

Os

da força de trabalho no Brasil, no México e

e

que diz “todos são iguais perante a lei”; mas

Louis.

Por que a escravidão africana? A transição

de uma segregação racial explícita. Há concorde

Henry

Letras, 2014.

concentração

de poder no Brasil não estarão ausentes

quem

JR,

grupos

predestinadas

tipo específico de lugar social.

estão

para

Rio

um

39

de

Daniel.

O

Janeiro:

comércio

Versos;

do

São

Odebrecht, 2012, p 25-53; 137-327.

açúcar.

Paulo:


Rua da favela. Cena

1:

A

mãe

de

Roberto

Carlos

prende

nuvens num varal. -

Roberto

Carlos:

"A

minha

mãe

era

lavadeira. Ela deixava as roupas tão brancas que parecia que que parecia que colocava nuvens no varal... Cena 2: Gotas caem sobre Roberto Carlos. -

Roberto

Carlos:

"Minha

mãe

era

tão

poderosa que até fazia chover".

Extraído do roteiro do filme "O contador de Histórias”, direção de Luiz Villaça, 2009.

40


41


A N Á L I S E F Í L M I C A "O contador de Histórias" Por: Clarissa de Araújo Fernandes Discente do Curso de Direito - UFRN (Ceres).

frames da película.

42


O filme “O contador de histórias”, de Luiz

Aos 07 anos, as crianças saiam da turma

Villaça, narra a história real do

dos pequenos e passavam a dividir os

menino Roberto Carlos Ramos. A ideia do

espaços com jovens de até 14 anos, com

longa é fazer um paralelo entre o modo

Roberto não foi diferente. A maioria das

como Roberto imaginava o mundo ao seu

crianças e adolescentes que lá estavam

redor

e

a

dura

contraposta.

A

realidade

trama

a

ele

eram

fruto

começa

em

cometidos

de e

pequenos eram

meados da década de 1970, na cidade

irreparáveis,

de Belo Horizonte – Minas Gerais, numa

direcionada

época

inúmeras

tentativas

época,

Estado

em

fundou

que

uma

o

Governo

instituição

Brasileiro

governamental

o

intitulada de FEBEM - Fundação Estadual

do

para o Bem-Estar do Menor.

instrumento

antigo

severa,

considerados

denominação a

que

Roberto de

Código

transferia

sob

que, o

foi

suas

Naquela a

de

para

logo

após

fuga.

estava

legislativo

delitos

vigência Menores:

de

maneira

Estado

a

Conta o autor, através da narrativa feita

responsabilidade de cuidar das crianças

pelo próprio Roberto Carlos, que toda a

e adolescentes que viviam à margem da

comunidade

se

sociedade. Neste sentido, muitas famílias

para

televisão

assistir

vizinho os

um

reunia

pouco

na

domingos um

que perdiam o controle sob a educação

abastado.

Entre

de seus filhos os encaminhavam para o

veiculava-se

a

internato a fim de que lá eles pudessem

mais

comerciais,

aos

casa

de

propaganda do novo projeto de governo:

ser

a

pessoas através do estudo.

criação

possível

de

um

crianças

local pobres

em

que

era

aprenderem

sobre fé, moral, ciências e o bem-estar em sociedade.

43

educados

e

se

tornassem

boas


Aos 07 anos, as crianças saiam da turma

Mais do que uma lição de vida, o filme

dos

retrata a conjectura social sob a qual se

pequenos

e

passavam

a

dividir

os

espaços com jovens de até 14 anos, com

encontravam as crianças e adolescentes

Roberto não foi diferente. A maioria das

em meados das décadas de 70 e 80, em

crianças e adolescentes que lá estavam

que estes eram considerados como seres

eram

imperfeitos, “objetos da tutela estatal”

fruto

de

cometidos

e

irreparáveis,

pequenos eram

denominação

direcionada

a

delitos

considerados

(LIMA,

que

Leonardo Macedo; JOSÉ, Fernanda São,

Roberto

logo

após

foi

suas

Renata

Mantovani

de;

POLI,

2017).

inúmeras tentativas de fuga. Naquela

época,

o

Estado

estava

sob

a

Naquele momento, o legislador brasileiro

vigência do antigo Código de Menores:

só se preocupou em proteger os jovens

instrumento

considerados

severa,

legislativo

transferia

que,

para

de

o

maneira

Estado

a

inadequados

(delinquentes

e

à

sociedade

abandonados),

ou

responsabilidade de cuidar das crianças

aqueles que já não eram tolerados por

e adolescentes que viviam à margem da

suas famílias. Outrossim, com a evolução

sociedade. Neste sentido, muitas famílias

do

que perdiam o controle sob a educação

com a entrada em vigor da Constituição

de seus filhos os encaminhavam para o

de 1988 e, subsequentemente, da Lei n

internato a fim de que lá eles pudessem

8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto

ser

da Criança e do Adolescente, o Estado

educados

e

se

tornassem

boas

direito

da

educação,

adolescentes como sujeitos de direitos e

Roberto,

garantias fundamentais.

sexualmente das

ruas,

por

alguns

companheiros

refugia-se

na

casa

de

uma

pedagoga francesa que o conheceu na FEBEM. Após muita resistência por parte de Roberto, a pedagoga Margherit Duvas conseguiu estabelecer um vínculo com o jovem

adolescente.

passavam

e

o

jovem

As era

semanas

incentivado

a

ler, escrever e aprender sobre números. Assim,

pouco

a

pouco,

Roberto

conseguiu se libertar das amarras sociais impostas

por

sua

vulnerabilidade

e

tornou-se um homem íntegro.

Após FEBEM

alguns como

anos,

Roberto

estagiário

e

voltou

à

atualmente

segue pelo Brasil contando suas histórias e

incentivando

jovens,

através

os

sonhos

da

sua

de

outros

formação

em

pedagogia.

44

crianças

º

O ápice do filme ocorre quando o jovem violentado

as

como

passou

ser

enxergar

bem

pessoas através do estudo.

após

a

e

e


ABRIL

2019

|

(EN)CINE

DIREITO

ED.

Rua da favela. Cena 3: A família está em frente de casa, como que posando para uma foto. Uma escadinha de meninos vai da esquerda para a direita, do mais alto até o mais baixo, que é Roberto. Ao lado dele está sua mãe. Ele segura uma pipa.

- Roberto Carlos: "Eu vivia com ela e com os meus nove irmãos. Eu era o menor de todos, o caçula. A gente morava numa casa com teto de zinco.

(...a mãe entrando na casa e segurando uma galinha viva. Ela desaparece. A câmera procura uma janela, onde a mãe entra...)

- Roberto Carlos: "Ele deixava a nossa casa tão quente, mas tão quente, que se alguém entrasse com uma galinha viva num instante ela ficava assada."

Extraído do roteiro do filme "O contador de Histórias”, direção de Luiz Villaça, 2009.

45

06


O DIREITO COMO EXPERIÊNCIA: re lexões sobre o filme “O contador de Histórias.” Por: Jardelly Lhuana da Costa Santos Discente do Curso de Direito - UFRN (Ceres).

O

filme

“O

brasileiro,

contador

lançado

de

em

História”

2009

e

é

um

filme

dirigido

pelo

cineasta Luiz Villaça. A trama tem como base o livro

autobiográfico

“A

arte

de

construir

cidadãos: as 15 lições da Pedagogia do amor (2004)”

de

Roberto

Carlos

Ramos.

Roberto,

uma criança negra, viveu dos 06 aos 13 anos na Febem

(1971-1978),

conheceu Duvas

a

pedagoga

que

pesquisa

saindo

veio

para

ao

uma

de

francesa,

Brasil

quando Margherit

desenvolver

denúncia

uma

internacional

de

maus-tratos às crianças do Brasil.

Inicialmente, é válido ressaltar que estando na contracorrente maioria

dos

filmes

apresenta

uma

brasileiros, ideia

onde

de

a

infância

marginalizada e excluída associada ao tráfico de drogas e as diversas facetas da violência, “O

contador

discussão

em

momentos as

falhas

época,

de tom

com das

histórias” mais

ironia,

emocional,

como

Políticas

sobretudo

a

apresenta

forma

em de

uma alguns

criticar

Governamentais

Fundação

Estadual

da do

Bem-Estar do Menor (FEBEM).

Para entendermos a ideia do roteiro do filme em

questão,

diacrônica,

faz-se

retomando

retratado no filme.

46

necessário o

uma

contexto

análise histórico


Passando-se mostra

na

um

década

Brasil

que

de

1970,

vivia

a

as

película

facetas

Assim começou o meu contato

da

com

as

pessoas

Ditadura Militar. É durante o governo de Médici

incompetentes

(1964),

maneira critico aquele tipo de

que

Nacional

se

do

cria

as

Bem-Estar

chamadas do

“Fundação

Menor

profissional

(Funabem)”,

escola.

Política Nacional do Bem-Estar do Menor.

do Menor (Febem) com sedes espalhadas por

assumir

a

crianças

do

Brasil,

com

responsabilidade carentes

e

da

a

função

educação

menores

infratores.

de

colégio

para

crianças

pobres, e operavam sob o lema: “Disciplina e Educação

para

publicidade

que

Militar, mesmo

crianças estava

dominante ano,

sofreram

essas

uma

na

à

carentes”,

serviço

época.

instituições

do

uma

Governo

Porém,

nesse

governamentais

reformulação

e

além

haviam

Febem

não

pedagógica determinou,

cometido possuía para

a

delitos.

estrutura função

impedindo,

Contudo, física

que

sua

o

e

a

nem

Estado

eficácia

educadores,

assistentes

sociais,

médicos

medíocres

e

incompetentes.

filme

a

sobre

próprio

de

do

os

Direito

políticas sua

partir

Direito,

podemos

mecanismos

possui

para

intervenção

institucionalização,

nas

como

que

o

legalizar famílias

e

aconteceu

na década de 70, quando o Estado passa a

assumir

uma

o

problema

questão

do

social,

“menor”

como

através

do

paradigma Funabem/Febem.

de

orfanatos, passaram a abrigar, também, jovens que

em

Em uma primeira tentativa de analisarmos o

Inicialmente, essas unidades eram reconhecidas de

escola

(RAMOS, 2004, p. 27).

refletir

espécie

no

Tais

reguladora o chamado Código de Menores.

uma

Aquela

psicólogos

das

unidades de internação tinham como legislação

como

conheci

particular; com seus péssimos

Surge, pois, a Fundação Estadual do Bem-Estar

Estados

que

Dessa

contexto de minha ida para a

às quais foram dadas a missão de implantar a

diversos

[...].

a na

É

necessário,

compreendermos

que

as

políticas implantadas pela Funabem, que permaneceram

ativas

de

1964

a

1990

(quando há a publicação do Estatuto da Criança

e

do

Adolescente),

tinham

viés

assistencialista e de longe garantiam os

tentativa da ação educativa.

47


ABRIL

direitos

de

crianças

e

jovens.

Em

uma

Roberto

como

cidadania

a

ideia

vinculada

comportamentos sociais

de

e

da

partir

exercício

de

pedagoga

cívicos

em

comunitários

espaços

que

(EN)CINE

experimentou

construção

ao

|

DIREITO

ED.

06

nos afeta de algum modo e nos marca.

segunda análise, podemos tentar pensar se

2019

do

olhar

e

à

da

francesa,

Educação

sensibilidade

desde

seu

a da

primeiro

encontro. Ele, uma criança negra, suja e

permitam

recém

capturada

de

uma

das

suas

interações com base na igualdade e no

inúmeras fugas. Ela, uma pedagoga que

respeito pelos direitos de cada um. Nesse

se interessou pela história daquele sujeito

sentido,

desde

ainda

problemas contexto jovens

hoje,

muitos

enfrentados de

para

os

dentro

instituições

infratores

são

que

um

do

o

vira

chegar

e

sentar

no

banco, desconfiado. Essa cena é narrada

recebem

processo

que

da seguinte maneira por Roberto:

de Pela primeira vez na vida, naquele lugar,

“reabilitação”.

alguém

se

aproximou

de

mim

e,

antes

de falar alguma coisa referente à minha

Além

do

mais,

“operadores” conhecimento

são

do real

poucos

Direito e

que

concreto

cor da pele, ao meu cheiro de xixi, ao

os

meu nariz escorrendo catarro ou ao meu

têm

do

cabelo com piolhos, me olhou bem nos

que

olhos

e

fez

fantásticas

acontece dentro desses estabelecimentos

uma

que

das

um

ser

coisas

mais

humano

pode

fazer para o outro, que é sorrir com os

que mais se configuram como dépositos

olhos. Assim ela fez e me disse algumas

de jovens que ao saírem dali não terão

poucas palavras que, para mim, tiveram

oportunidades

um significado sagrado: – "Com licença,

de

exercerem

sua

por

cidadania, já que o esteriótipo delegado

favor.

"Por

ideia

louca,

sujeitos,

uma

ressocialização

permanecendo

a

desses

maioria

gostaria

de

falar

com

você". [...] Quando a francesa me disse

a esses indivíduos infratores, sobrepõe a de

Eu

favor", pois,

eu

achei

até

então,

que

ela

fosse

ninguém

havia

ma tratado daquela maneira. (RAMOS,

deles,

2004, p. 107).

a margem da sociedade o que contribui Para Larrosa (2002, p. 24), o sujeito da

para sua não “reabilitação”.

experiência é um sujeito “ex-posto, com Uma

ultima

análise

e

não

tudo

menos

que

isso

contém inseparavelmente a dimensão de

Educação

a

como

de

pensar

a

travessia

“experiência”.

e

perigo”

palavra

e

nos

é

a

vulnerabilidade

risco.

fazer

Assim

de

importante que “O contador de histórias” permite

[…]

tem

Uma

experiência

das

cenas

que

de

talvez melhor retrate essa “passagem” de

experiência, dado por Larrosa (2002) que

Roberto é o momento em que este resolve

entende

procurar

Assenhoramo-nos

nos

ao

“experiência”

passa,

como

conceito

como um

aquilo

que

território

de

após

ter

abrigo sido

na

casa

violentado

de

Margherit,

pelos

garotos em um rito de “iniciação”.

passagem, uma superfície sensível que

48

outros


ancado no banheiro, de onde só sai no dia seguinte, depois de muita insistência, Roberto toma um demorado banho que aqui pode

ser

interpretado

como

uma

mítica

da

purificação,

simbilizando um momento de decisão e ruptura com a vida de fugas

e

capturas.

A

experiência

da

Pedagogia

do

amor

de

Margherit transpassou Roberto e lhe fez tornar-se sujeito em travessia, disposto e aberto a transformação.

[...]

"Quando

Vigotsky

Piaget

não

der

falhar,

certo,

quando

abrace

seu

aluno como ser humano, e tudo vai dar certo".

[...]

Foi

nesse

instante

que

ela

me abraçou e realmente me conquistou. E aquele velho motivo do nosso primeiro encontro

fazer

internacional

uma

de

denúncia

maus-tratos

às

crianças do Brasil – tinha dado lugar a uma outra coisa: salvar uma criança do Brasil, em particular. Uma criança pela qual

ela

havia

apaixonado,

um

maternamente tal

de

se

Robertô.

(RAMOS, (2004, p. 150)

Destarte, o filme tem um importante papel, sobretudo dentro do Curso de Direito, uma vez que se faz pertinente e nos motiva a refletir sobre que tipo de direitos estão sendo garantidos e que tipo de “operadores” seremos se não levarmos em consideração que a Educação e o Direito devem ser pautas permanentes na nossa formação inicial, base esta que adquirimos a partir das disciplinas propedêuticas que muitas vezes são desligitimizadas por

discentes

importância

e

até

para

docentes,

uma

técnica dos juristas.

como

construção

se

mais

estas

não

humana

tivessem e

menos

Que a experiência de Roberto possa nos

“ex-por” a transformação. Que possamos fazer a travessia de um

Direito

futuros

técnico,

operadores

para do

“experiência” do outro.

49

um

Direito

direito,

ao

“experenciado” bebermos

por

também

nós, da


"O Contador de Histórias" e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Por: Verônica Maria da Silva Discente do Curso de Direito - UFRN (Ceres).

“O contador de Histórias” é um filme brasileiro baseado na

história

da

vida

Roberto

Carlos

Ramos,

nascido

na

década de 60, na cidade de Belo Horizonte/MG, onde vivia com sua família, em situação de extrema pobreza. Entre

várias

questões,

o

filme

mostra

a

realidade

dos

sistemas de internação brasileiros antes da Constituição Federal de 1988 e da entrada em vigor do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90).

Conta a história que Roberto, ainda criança, no início da década

de

Fundação

70,

foi

deixado

Estadual

do

por

sua

mãe

Bem-estar

do

na

Febem

Menor,

uma

instituição do Estado de Minas Gerais, onde conviviam crianças

e

adolescentes.

Algumas

delas

eram

levadas

para lá pelo fato de não terem família, ou porque essa não tinha condições financeiras de oferecer educação digna a seus filhos, como foi o caso de Roberto, e não por que eram crianças “delinquentes”.

O

filme

menino,

retrata

uma

triste,

negro,

que,

com

mas

real,

apenas

trajetória

06

anos

de

de

um

idade,

passou a sofrer, pelas “mãos do Estado”, todo tipo de maus

tratos

(físicos

aparecesse

e,

transformasse que

era:

conta

de

Roberto

ver

vida,

criança

uma na

psicológicos)

apenas

sua

uma

e

com

mentirosa televisão,

de

alguém

e

afeto,

enxergar

talentos

propaganda resolve

que

atenção

fazendo-o

cheia

até

e

que

entregar

a

pessoa

amor! a

Por

mãe

seu

filho

de à

Febem, nutrindo a esperança de que estaria fazendo o melhor e não fazia ideia de que aquela era a sua pior escolha.

Na

entrada

mostra

a

disfarçar

50

de

Roberto

política a

de

crueldade

Carlos

“pão que

e

na

unidade,

circo”

o

utilizada

permeava

os

caminhos daquela instituição de internação, que

vídeo para

sinuosos


18

prometia

educação

crescimento diferente,

de

profissional,

era

um

lugar

qualidade mas,

onde

de

e

Roberto Carlos fugiu númeras vezes da Febem.

forma

O filme mostra algumas dessas fugas e exibi

a

que Roberto, quando era recuperado de uma

“pedagogia da pancada e da mentira”, onde

“saída”, já estava planejando a fuga. Seguinte.

existiam profissionais de boa qualidade, mas

Foi

também

que iria mudar o rumo daquela história de idas

profissionais

prevalecia

extremamente

inescrupulosos. Um lugar onde um professor

assim

quando

ele

conheceu

a

pedagoga

e vindas.

de educação

física

não

era

profissional

de

educação física e assim por diante. Aliás,

foi

a

vimos se desfazer por completo, em Roberto

aparece

na

e em muitas outras crianças, a desesperança

anos

na humanidade, a desconfiança nas pessoas

experiência

que

morar e

carregado

de

física

fracasso

na

fala

película,

idade, do

rua,

do no

portanto,

que

era

mostra

garoto,

quando

auge

de

com

uma

morar

na

criatividade

seus

vasta

Febem em

13

e

contar

obra cinematográfica. Daí em diante, quando

da criança que esperava o papai Noel cheia

esse adolescente começa a ser ouvido, o que

de

até então não acontecera, deslancham as

Mães

e

de

de

primeira

estadia naquele lugar, que fez ruir o sonho

esperança.

o

é

história, que, inclusive, é talento que dá título à

e

redor

educação

histórias”

sua

sonhos

seu

de

de

sutilezas, pois isso recomenda-se assista-lo “mil vezes...”

ao

aula

contador

que

estavam

na

“O

pais

não

tinham ideia do que era aquela instituição.

histórias

Mas as crianças sabiam e sentiam na pele...

entradas,

e fugiam!

“tristes saídas

e

emocionantes” e

de

sua

de

suas

permanência

51 naquele sistema deformado, abusivo e


criminoso

desenvolvido

e

mantido

pelo

A continuação das senas mostra que não foi

Estado, onde Roberto conheceu um de seus

fácil situar Roberto em quem ele era de fato:

piores

um

“mal

feitores”:

seu

ex-colega

de

menino

inteligente,

gente

boa,

criativo,

internato e ídolo “Cabelinho de Fogo”, que

cheio de amor, que estava abandonado pela

mais tarde foi seu estuprador.

família, pela sociedade e pelo Estado, mas aos

As

sequencias

incrédulo trazer

de

sua

ouviu

uma

do

da

tudo

essência

Margherit, história

mostram e

que

de de

todos,

volta

pedagoga

menino

por

educadora,

o

chefe

começa

a

quando

que

sua

garoto,

surgi

entrou

teimosia, da

poucos

Margherit

vai

conquistando

a

confiança de seu inquilino.

É marcante quando os dois vão ao Estádio

na

ver futebol. Em senas emocionantes, o filme

pois

faz mais uma crítica à sociedade racista na

instituição,

“que Roberto era incorrigível!”

qual

a

própria

criança

se

ver

“diferente”

e

“menor” por conta de sua cor. O menino com medo dos policiais que, em regra estavam lá

Foi

um

desafio,

mas

a

pedagoga

sabia,

como mostra o filme, que uma criança não poderia

ser

“irrecuperável”.

Margherit

para

protege-lo,

pedagoga é

todas

as

sobre outras

mediante sua

a

insistência

igualdade

pessoas,

diz:

da

perante “mas

eu

mostrada como uma pedagoga destemida e

continuo preto”. E foi difícil convence-lo de

que

que

acredita

na

humanidade.

Ela

permite

que o menino more na sua casa e enquanto

poder

entrar

qualquer constrangimento.

isso vai ouvindo sua história, que fará parte de um trabalho acadêmico.

ele

52

no

Estádio

sem


A

verdade

das

concretizadas trouxe

de

por

palavras,

ações

volta

para

E

quando

confiança.

a

sempre

pela

vida

pedagoga,

de

Roberto

Roberto

a

aprendeu

Com

a

entrada

Criança

e

mais

ser

essa

proteção

menino

que

o

trampolim

nem

que

mesmo

resgatou

ele

o

acreditava

de

integral

se

internacionais,

um

pedagogo

e

volta

à

e

Febem para fazer a diferença na história da

Direitos

instituição.

signatário.

Quando

encontra

sua

tudo

adulto

certo?”

mãe

que

e

mãe, A

e

e

esta

pergunta

estava

abandonara

formado,

pergunta:

foi

diante

queria

Roberto

feita do

tirar

a

Na

da

época

da

certo,

A

absoluta 1988, no

documentos

Convenção quais

o

criança

dos

Brasil

era

é

vista

de

que

tem

lazer,

sua

criança como o adolescente são tidos como

e

que,

sistema

errado!

a

da

criança não é ouvida, não tem direito, não

sabia

tinha

princípio

uma

por

acordo

que

dos

ao

como objeto, e isso é bem mostrado no filme:

portanto, ela tinha acertado na escolha. Não ela

a

Febem,

é

aprisionada.

desenvolvimento

dado

do

demais

Criança,

do

tinha

são

graças

prioridade

como

sujeitos

que

liberdade,

e

nos

consciência por isso fazia questão de ouvir filho

crianças

da

“deu

filho dor

Estatuto

posto na Constituição Federal de ECA,

também,

de

cumprimento

existir. Então Roberto passa à vida adulta e torna,

do

Adolescente,

privadas

dever

foi

vigor

passíveis de medidas protetivas e não podem

novamente a confiar, recebeu e deu afeto, e troca

do

em

mãe

de

de

com

direitos

a

passíveis

ordem

Hoje

e de

jurídica

socioeducativo

tanto

seres

em

proteção, em

atual

de

vigor.

não

a

O

tem

Roberto não imaginava as dores que o filho

pretensões punitivas, embora ainda existam

experimentou e que apenas o afeto de uma

muitas “Febens” Brasil afora!

então

desconhecida

o

fez

respirar

vida

novamente.

A história mostrada na película é um “tapa na cara” da sociedade e mostra a realidade de crianças e adolescentes que viveram na Febem.

Infelizmente,

isolada

e

Mudou, Carlos

não

mas

a

é

internação,

uma

história

ainda

adolescentes

não

é

uma

história

de

vida

realidade

que cuja

é

vivem

nos

política

de

história passada.

de

Roberto

de

muitos

sistemas

de

atendimento

socioeducativa tem avançado e melhorado, mas

ainda

é

ressocializador,

precário ou

seja,

e são

quase sistemas

nada que

estão longe de cumprir sua função primordial e

essencial

na

vida

dos

adolescentes

infratores que é o de ressocializar.

53


ABRIL

Cena

11

chuviscos). correm

por

Febem.

(imagem

Crianças um

da

brincam,

gramado.

As

tV

P&B

recebem letras

com

comida,

citadas

vão

aparecendo na tela.

Propaganda:

"Para que as crianças tenham um

futuro, elas precisam de cinco coisas: o “f” da fé, o “e” da educação, o “b” dos bons modos, o “e” da esperança e o “m” da moral. Sabe onde elas vão encontrar tudo isso? Na Febem.

Aqui as crianças carentes terão a chance de se tornar

homens

tornar

médicos,

de

bem!

Terão

engenheiros,

a

chance

advogados.

de

se

Febem,

mais uma vitória do nosso governo!

Este é um país que vai pra frente/ Rô, rô, rô, rô, rô,/ de uma gente alegre e tão contente,/ Rô, rô, rô, rô, rô."

Extraído do roteiro do filme "O contador de Histórias”, direção de Luiz Villaça, 2009.

54

2019

|

(EN)CINE

DIREITO

ED.

06


55


ABRIL

2019

|

(EN)CINE

DIREITO

ED.

NUANCES JURÍDICAS NA PELÍCULA "O CONTADOR DE HISTÓRIAS" Por: PARCÉLIO PEREIRA DA SILVA Discente do Curso de Direito - UFRN (Ceres).

Este

trabalho

analise

objetiva

critica

baseado

uma

breve

do

filme

acerca

em

rotina

exigente

“disciplinadora”

da

nova

casa.

Contador de Histórias”, que retrata

rapazinho

precisa

a vida de uma criança pobre que

lugar

passa

instituição

finalidade, onde passar a conviver

governamental na década de 70 no

com colegas de igual sina, até seus

Brasil.

13 anos de idade aprendendo ali se

O

roteiro

da

película

é

para

um

idade,

sair

daquele

outro

de

a perspectiva histórico- legislativa

daquele

nacional de proteção da criança e

recorrente. E do lado de fora, após

adolescente.

as

baseado

em

atos

reais

“pequenos”

crimes.

Roberto

dos

anos

70

e

também diversos

se

Brasil

o

praticar

no

no

orfanato,

fugas,

que tem a direção de Luiz Villaça, passa

drogas

igual

virar

filme

usar

o

refletido a partir de um olhar sobre

Esse

sozinho,

de

Ao

7

numa

anos

e

completar

residir

reais

a

“O

a

fatos

com

novo

abrigo

e

e

fugir

que

era

aprendeu A

outros

convivência

na

um

a

rua

faz

de

“adolescente

conta a história de Roberto Carlos,

problema”, ou um “menor infrator”

uma criança que aos seis anos de

conforme

idade é entregue a um orfanato do

época

governo (FEBEM), pois circulava na

adolescentes

sociedade

delitos.

daquela

entendimento instituição

de

infantil

época, que

o

aquela

seria

uma

onde

para

No

tornarem-se “doutor”.

Duvas,

a

conhecer

Roberto

sente

dias,

o

pequeno

extremamente

a

na

crianças

e

cometiam

entanto,

o

residia,

orfanato certo

dia

recebe a visita e uma pesquisadora francesa

primeiro

usada

que

Roberto

possibilidade de “filhos de pobres”

Nos

nomenclatura

chamada qual a

se

interessa

história

rebelde

criança.

“menor”

se

Margherit

de

em

vida

Inicialmente

esquiva

diante

da o da

ausência da mãe e familiares, mas

aproximação daquela “dona”, mas

aos poucos vai se acostumando

aos poucos é construída entre os

56

06


dois uma linda relação de respeito,

Essa

conhecimento mútuo e afeto.

com o ser humano em sua fase de

Roberto vai residir com Margherit e

infanto-juvenil

não

diante de cada atitude de rebeldia

eficaz,

vez

dele,

indivíduos

a

mulher

o

acolhia,

cuidava

perspectiva

uma eram

de suas dores e necessidades mais

pela

elementares, e ensinava: respeito,

governamentais

limites, alfabetização, cultura, e o

sujeitos

mais

decisões

importante,

uma

nova

diminuta

se

e

e

esses tratados

por

práticas

como

meros

passivos, de

mostrou

que

vistos

sociedade

para

objeto

outrem

de

(ou

seu

oportunidade de ver a vida de uma

representante legal), sem qualquer

maneira

capacidade

mais

promissora

e

feliz.

Daquela relação de respeito, brota

condição

uma

de

linda

história

de

mãe

e

filho

para

de

sua

Margherit

influenciarem vida.

no

A

filme,

a

atitude

pode

ser

adotivos, a qual faz de Roberto um

comparada com um novo momento

homem

da legislação nacional de busca de

apaixonado

por

contar

lindas histórias, dentre elas a sua:

um

que

para

adolescente, enquanto sujeitos de

visitar sua mães biológica e dar-lhe

direitos, ou seja, dotados de uma

a notícia que ela tanto almejada:

progressiva autonomia no exercício

O

de seus direitos em função de sua

quando

filho

adulto

volta

tornara-se

“doutor”.

olhar

sobre

Roberto volta ainda a FEBEM lugar

idade,

onde a vida o oportunizara tantas

desenvolvimento

histórias

capacidades.

doloridas,

professor

e

para

continuar

ser

escrevendo

sua linda história de vida.

a

criança

e

maturidade

e

de

(Martins,

o

suas 2004).

A

partir dessa nova perspectiva para com a criança e adolescente surge a compreensão da necessidade de

A

evolução

crianças

e

dos

direitos

adolescentes

uma

proteção

integral

dessa

Brasil,

população, o que vai desembocar,

partiu do denominado “direito do

na positivação dessa proteção na

menor”

Carta Magna brasileira de 1988, a

expressão

importância

da

que

no

das

reduzia

criança

como

a ser

qual

elenca

em

seu

artigo

artigo

humano, para o direito da criança

227 que : “É dever da família, da

e

sociedade e do estado assegurar à

adolescente.

O

Código

do

Menores, a rigor, “não passava de

Criança

um

absoluta

código

Penal

vez

que

suas

um

caráter

protetivo código

normas

uma

tinham

mais

do

do

assistencial.

traz

Irregular”,

Menor”,

sancionatório

ou

“Doutrina

do

ainda Menor

Esse

consigo em

a

Situação

expressões

estigmatizavam

que

crianças

que e

adolescentes. (Fonseca 2011).

vida,

à

e

ao

Adolescente,

prioridade, saúde,

educação,

à

direito

à

alimentação,

à

lazer,

à

ao

profissionalização,

à

o

com

cultura,

à

dignidade, ao respeito, à liberdade e

à

convivência

comunitária, salvo

de

negligência,

além toda

de

familiar

e

colocá-lo

a

forma

de

discriminação,

exploração, violência, crueldade e opressão.”

57


Portanto, conforme ressalta o roteiro do filme em analise, é tão somente a partir da compreensão do

ser

em

sua

fase

infanto-juvenil,

enquanto

sujeito em uma condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;

destinatário

de

absoluta

prioridade.

E principalmente que seja garantido, tal qual o foi a

Roberto,

não

“estrangeira”,

que

pela a

FEBEM,

criança

e

mas

pela

adolescente,

sujeitos desses

direitos,

sejam

partícipes

ativos

desse

assim,

sejam

processo de construção de uma vida

digna

e

plena,

para

que

contadas Brasil a fora, outras histórias lindas de outros “Robertos”.

58


ABRIL

Cena 12 - Casa – amanhecendo. Roberto Carlos e os irmãos estão deitados numa grande cama de casal. Roberto está na pontinha da

cama.

A

mãe

empurra

a

cortina

que

faz

as

vezes de porta e um facho de luz se projeta sobre as pernas deles. Ela entra no quarto e olha para cada um dos filhos. Faz um carinho em Roberto. Cena 13 – ônibus. Roberto Carlos e sua mãe estão sentados num dos bancos de um ônibus praticamente vazio. Ele olha pela janela. Roberto está feliz, inquieto. Sua mãe está apreensiva. Acha que está fazendo o certo, mas está triste com a separação. Roberto Carlos vira-se para a mãe e pergunta:

- "O que tem lá na FEBEM?" - "Um monte de coisa boa."

Extraído

do

roteiro

do

filme

"O

contador

Histórias”, direção de Luiz Villaça, 2009.

59

de

2019

|

(EN)CINE

DIREITO

ED.

06


frames da pelĂ­cula

60


Cena 14 – febem imaginária. Roberto

está

diante

de

um

enorme

portão

enfeitado. Um homem vestindo um fraque multicolorido e uma cartola (Tal qual um apresentador do circo) abre o portão e entra uma música alegre. Entramos num travelling

frontal

e

vemos

o

pátio

cheio

de

bandeirinhas. Personagens coloridos cruzam o seu caminho: – uma malabarista faz belos movimentos com um bastão, – um acrobata passa dando saltos, – um engolidor de fogo passa à sua frente fazendo seu número, –

e

um

palhaço

que

lhe

oferece

um

enorme

algodão-doce. – eles se aproximam de um Bedel mágico que está próximo a duas torneiras.

Extraído

do

roteiro

do

filme

"O

contador

Histórias”, direção de Luiz Villaça, 2009.

61

de


Narrativa Fílmica: "O Contador de Histórias" Por: Alcivan Santos de Medeiros Discente do Curso de Direito - UFRN (Ceres).

62


ABRIL

O

que

é

um

caso

perdido?

Esse

foi

o

2019

|

(EN)CINE

DIREITO

ED.

06

Como menino de rua, deu-se o fundo do poço

diagnóstico de uma criança de 13 (treze) anos

de Roberto, de pedinte a usuário de drogas,

internada

foi

na

FEBEM

(Fundação

Estadual

do

um

salto;

Bem Estar do Menor), nos meados da década

sexualmente,

de 70. Contudo, tal criança não se “perdeu”,

trevas,

como

guarda

previam

opressivos

da

os

moldes

de

de crianças e adolescentes abandonadas ou

portuguesa

em

francesa,

eram

processo chamou qual

tidas

pelo a

como

qual

esse

atenção

buscou

do

social,

as

“irregulares”.

O

menino

diretor

representa-lo

foi

“salvo”

Luiz

Villaça,

no

filme

o

“O

qual

desce

(interpretada

vulnerabilidade

em

dele

garoto,

à

de

essas

anjo

o

o

Duvas

brilhante

Medeiros),

da

salvar,

Margherit

forma

Maria

a

o

para

de

abusado

meio

total”,

terra

nome

a

Em

“irregularidade

que o Estado era visto como um reeducador

quais

brasileira,

ladrão

“dejavu”.

pelo

de

militar

um

atendia

situação

ditadura

institucionais

da

de

pela

pedagoga

que, mesmo com a resistência do

no

começo,

aproximou-se

dele

e

lhe

mostrou a importância que uma mãe tem no processo

de

formação

das

crianças

e

adolescentes.

Contador de Histórias”, ao passo que foi dado ênfase à historia de vida da criança que não

Nessa perspectiva, Margherit fez cessar todos

tinha mais “solução”. Nesse contexto, Roberto

os

Carlos

vista

Ramos,

um

menino

negro,

pobre,

males

que

recaiam

abrigá-lo,

sobre

tanto

“Robertó”,

fisicamente

como

oriundo de uma favela de Belo Horizonte (MG)

psicologicamente,

e filho mais novo de uma família de 10 irmãos

inerentes

conta

com uma disciplina diferente, a disciplina do

a

frente

história

às

Roberto

da

sua

dificuldades

passava,

sua

vida. que

mãe,

Inicialmente,

a

família

incentivada

de pela

ao

bom

passagem,

para

“irrecuperáveis”,

aos cuidados da FEBEM, com a esperança de

decide

que

adolescente

pudesse

ser

doutor

algum

dia.

Não

convívio

social

os

valores

e

familiar,

amor. Como Margherit estava no Brasil só de

publicidade governamental, decidiu entrega-lo

ele

mostrando-o

haja

voltar

estudar

como para

a

Roberto

Carlos,

França,

sobre

e

seus

o

cuidados,

ideais

os

Pedagogia.

se

garoto que não tinha mais “solução”, seguiu o

e

nobre ofício de professor, na própria FEBEM,

fins

almejados,

transformou

e

disciplina,

ao

em

um

passo

não

que

depósito

atingiu apenas

de

crianças

adolescentes.

o

levou

possibilitando

ordem

menino

ela

obstante, tal instituição estatal, pautada nos de

ao

jovens

aprendizado

da

Ao retornar para o Brasil, aquele

além do que adotou mais de vinte meninos que estavam em situação similar a dele.

Diante

disso,

nota-se

que

a

criança

foi

marginalizada na própria instituição, já que saiu

do

idade, na

seio

familiar

quando

FEBEM,

diagnósticos

e

foi

deixado

teve de

aos

que

6

(seis)

pela

própria

conviver

especialistas

anos

com

sobre

Diante disso, a história narrada no filme, com de

mãe

vários

as

mais

variadas doenças.

um

fundo

de

brasileiro

crítica

de

ao

sistema

educação,

institucional

torna

o

filme

imperdível, haja vista propiciar a possibilidade de

uma

analise

crítica

da

importância

da

educação para a formação das crianças e dos adolescentes,

demonstrando

Quando completou sete anos, na instituição

necessitada

de

governamental,

foi

desenvolver, o Estado não sendo, literalmente,

crianças

velhas,

mais

removido em

para

que

a

ala

das

aprendeu

o

“uma

mãe”.

Tal

uma

que

todo

família

constatação

jovem

para

apenas

se

reforça

gosto da violência. Nesse sentido, pela lei da

que as crianças e adolescentes também são

sobrevivência,

pessoas

delinquente,

para

acabou não

ser

se

tornando

subjugado

pelos

demais, e fugindo mais de 100 vezes do local que representava a prisão de horrores.

estágio

dotadas de

psicológico

de

dignidade

humana,

desenvolvimento diferenciado

dos

em

físico

e

adultos,

63necessitando de um tratamento especial em


razão

de

suas

educação

limitações,

dessa

repartidada

parcela

entre

estando

da

família,

a

população

sociedade

e

Estado, sempre em busca da efetivação do direito humano fundamental à educação. Portanto,

ao

recomendação apresenta como

o

telespectador do

muitas

encontro

resta

presente

filme,

nuances

interessantes,

entre

duas

o

a

qual

pessoas

de

culturas diferentes e realidades diferentes, ligadas pela linguagem universal do afeto, atrelado

a

ocasionou muito

bem

Villaça, “um

mudança

na

vida

de

trabalhada

transformando

caso

perdido”

que

em

a

leitura

Roberto

Carlos,

pelo o

diretor

menino “O

que

Contador

Luiz era de

Histórias”.

64


Direito e Educação

65


Aa Bb Cc

"O CONTADOR DE HISTÓRIAS" À LUZ DOS ASPECTOS HISTÓRICOS RFERENTES AOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Por: CARLOS MAGNO DE SOUSA CORDEIRO Discente do Curso de Direito - UFRN (Ceres).

66


I - DO FILME O

estabelecida

filme,

“O

baseado

em

biográfico,

Contador fatos

conta

de

Histórias”,

reais

a

e

de

história

de

é

cunho Roberto

Carlos Ramos, conhecido pela alcunha de o “contador de histórias” (que deu origem ao título do longa-metragem). Lançado no ano

de

2009,

o

filme

dirigido

por

Luiz

Villaça descortinou a realidade vivida pelo protagonista

e

adolescentes da

década

por

que,

de

70,

realidade

de

parte

família,

da

na

várias

crianças

época,

em

vivenciaram

abandono da

e

e

meados

uma

dura

violência

comunidade

por

e

do

no

Constituição substituiu

a

art.

da

da

República

doutrina

da

situação

irregular, oficializada pelo Código de Menores de 1979, mas de fato já

implícita

Mattos, doutrina

de

no

Código

1927.”

da

(2017,

situação

Mello

p.

60)

irregular

amparada pela lei de n

º

A

foi

6.697 de

10 de outubro de 1979 (conhecida como Código de Menores), que no seu art. 2

º

definia tal situação, in

verbis: ““Art. 2

º

Para os efeitos deste

Código,

Estado.

227

considera-se

em

situação irregular o menor:

Como alternativa a um crescente número de meninos de rua que, diante de inúmeros

I

-

privado

de

condições

essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória,

problemas afligiam,

socioeconômicos

eram

Condenados

relegados

a

esse

que

ao

os

ostracismo.

modo

de

viver,

a

ainda que eventualmente, em razão

de:

a)

omissão

falta,

dos

responsável;

margem drogas

da e

sociedade,

ao

crime.

eram Com

expostos o

fulcro

as de

combater tal realidade e, de acordo com

b)

impossibilidade responsável -

vítima

ação

ou

manifesta

dos

para

de

ou

pais

pais

ou

provê-las;

maus

tratos

Il

ou

castigos imoderados impostos

os

ditames

da

legislação

menorista

vigente, surge a FEBEM.

pelos pais ou responsável; III em perigo moral, devido a: a) encontrar-se,

“A Febem representava uma instância estadual

da

Fundação

Nacional

do

Bem-Estar do Menor – Funabem, criada em

1964

e

instituições Política Menor

extinta

emergiram

Nacional –

em

PNBEM,

do

1990. a

Essas

partir

da

Bem-Estar

do

também

criada

no

primeiro ano do Regime, e da lógica do Código 1927

de e

Menores,

promulgado

reformulado

em

em

1979.”

(MIRANDA, 2016, p. 45)

habitual, contrário b)

aos

contrária

aos

OTIERID ENIC)NE(

Código

de

Menores,

da

eventual

vigorava

a

o

“doutrina

da situação irregular”. Esta se tratava de uma

doutrina

anterior

a

da

“Proteção

costumes;

dos

responsável; de

V

conduta,

pais -

Com

em

virtude

sendo

aquele

ou

mãe,

título, ou

ou em

por

que,

não

exerce,

de

voluntariamente seu

a

vigilância,

educação

poder

o ou

companhia,

pela norma do art. 227 da Carta Magna

judicial.”

67

de

Parágrafo

independentemente

“A doutrina da proteção integral

de

autor

penal.

pai

direção

traz

-

Entende-se

qualquer

menor,

VI

Integral”, atualmente em vigor, amparada

de 1988. Em conformidade, leciona AMIN:

ou desvio

grave inadaptação familiar ou

único.

época,

atividade

bons

ou assistência legal, pela falta

responsável

menorista

costumes;

em

IV - privado de representação

infração

legislação

modo ambiente

bons

exploração

comunitária;

II - DA SITUAÇÃO DO “MENOR” Na

de em

de

ato


No

filme

criança

fica e

claro

do

que

a

questão

adolescente

era

““Naquele ínterim, os menores

da

infratores

tratada

eram

afastados

como um problema de segurança pública e

de

que pedia repressão policial. Era utilizada

estabelecimentos

retratado

algumas

no

filme,

mães

levava

a

voluntariamente

filhos

generalizada,

em

como

a

desrespeitada

a

dignidade da pessoa humana

inclusive

e

o

termo

“menor”,

passando

entregarem

seus

forma

FEBEM,

uma máscara de fins educativos que, como foi

da

sociedade, sendo segregados,

a

ser

pejorativamente.”

para

em:

inclusive, usado

(Disponível

<http://www.ambito-

receberem a “educação” do Estado, foi o

juridico.com.br/site/?

caso de Roberto Carlos.

n_link=revista_artigos_leitura &artigo_id=12051>. Acesso em 27 de maio de 2019.)

“A

conjuntura

doutrina

da

utilizada

histórica

situação

para

que

irregular

envolvia

uma

a

fosse

grande

Conforme

retratado

protagonista,

na

no

filme,

medida

em

o

que

quantidade de menores infratores que, diante

da

demasiada

desigualdade

social do início do século XX, recorriam aos delitos das ruas para promover o sustento forma,

próprio

a

e

legislação

da

família.

não

garantir

sempre

que

material

a

houvera

intervenção

houvesse

ou

moral.

A

sido

jurídica

qualquer lei

de

sistemáticas

transgressões

era,

considerado

um

criança

jeito,

cada

vez

mais,

problema,

uma

Dessa

criada para proteger os menores, mas para

realizava

Ainda para

sem

com

07

outra

“irrecuperável”.

anos

ala

foi

onde

mandado

os

internos

risco

menores

preocupava-se apenas com o conflito instalado e não com a prevenção. Os

tinham foi

uma

idade

submetido

a

mais

elevada

mais

e

sofrimento

ainda do que antes. Era notório o

jovens não eram tratados como sujeitos de direitos, mas sim objeto de medidas

sentimento de abandono e revolta,

judiciais.”

na medida que sofria mais violência

(Disponível

em:

<http://www.ambitojuridico.com.br/sit

piorava.

e/n_link=revista_artigos_leitura&artigo

““A

_id=12051>. Acesso em 27 de maio de

a

partir

do

que

se

do convívio em sociedade aquelas crianças

margem.

Em

OTIERID ENIC)NE(

desinteresse,

eram

uma

por

relegados

conjuntura

parte

do

estado,

torna

favorecido,

o

incapaz

indivíduo de

a

Estado,

família.

pela

assim

marginalizados,

dentre

outras

com

excluídos, expressões

que caberiam para qualificar tal situação. O

próprio

utilizado

uso de

do

termo

forma

conformidade, HOLANDA:

ao ditado

correcional

por

pelo

que

o

completo

preocupação e

não

da era

afetiva.”

(AMIN, 2017, p. 51-52)

menos

concorrer

tornando-os

A

era

menor,

mesmo

afastasse

de

igualdade de oportunidades com os mais favorecidos,

vínculos

objetivo

o

comportamento

educação pública e pela emancipação dos cidadãos,

O

adequando-o

e jovens que, afetadas pela desigualdade econômica,

quebra

familiares,

por

recuperar

regime

com

vínculos

substituídos institucionais.

e

pelo

internações

dos

pode

nesse

histórico,

captar na obra, a real intenção de afastar

social

infância,

caracterizava-se de

nítida,

da

momento

2019.)

Ficou

tutela

“menor”

pejorativa.

68

era Em

Criado Roberto

nesse

mundo

Carlos,

sagaz

das que

ruas, era,

percebeu que vigorava entre essas crianças inversão

e de

adolescentes valores

onde,

uma o

mais

rebelde e criminoso era justamente o mais respeitado entre eles.


Logo, ensaiava palavras de baixo escalão

Após

para

uma

com

procurou

elas o

se

impor,

criminoso

sendo

mais

assim,

famoso

que

alguns grande

e

grupo.

Foi

diante

passou

a

violência

conhecer que,

por

mais

dentre

esse

grupo

uma

face

várias,

a

de

e da

cunho

que

maioria

fariam desistir,

demonstrando grande sensibilidade

conhecia e pediu para fazer parte de seu violentado

eventos

empatia,

a

de

pedagoga,

sério

mesmo

risco

e

sem

qualquer motivação externa, seguia ajudando

Roberto

Carlos

que,

em

sexual gera um abalo psicológico de alta

um momento de grande desespero

escala,

de

(após ser vítima de abuso sexual),

caso

buscou apoio na única pessoa que

especialmente

pessoa

em

retratado

se

tratar

desenvolvimento.

no

filme,

protagonista, cometer

por

chega

suicídio.

2):

a

“A

vítima,

que

inclusive

a

Para

criança

sexual

No

Ballone

que

é

foi

o

tentar

(2005,

vítima

prolongado,

de

p.

abuso

usualmente

desenvolve uma perda da auto-estima, tem a sensação de que não vale nada e adquire uma representação anormal

aparentava

oportunidade

considerar

o

suicídio,

quando

existe

pessoa

que

violência

se

até

a

a

principalmente

possibilidade

abusa a

chegar

ameaçar

criança

negar-se

ter

estabelecer

dificuldades

relações

conseguiu foi transpor as barreiras

adultos

que

também

provar e

necessário

a

do

ao

força

do

afeto

ser

tão

humano

e

Mais do que um trabalho, optou por

para com

abusam

e

especialmente aos de tenra idade.

outras pessoas, podem se transformar em

uma

de aos

harmônicas

encontrar

da

seus desejos. Algumas dessas crianças podem

de

Margherit na vida. Porém o que ela

acolhimento

pode

ele

maioria, não tiveram e nem terão a

profissionais

e

com

adolescentes, na verdade a grande

se muito retraída, perder a confiança adultos

preocupar

nos últimos anos. Muitas crianças e

da sexualidade, além de poder tornar-

em

se

de

adotar Roberto Carlos e seguir com seu projeto que passou a ser mais do

que

mas

um

um

trabalho

projeto

profissional,

de

vida.

Uma

outras crianças, podem se inclinar para

escolha de ambos que, a princípio

a

tinham interesses diversos, contudo

prostituição

problemas

ou

podem

sérios

ter

quando

outros

adultos.”

(Visualisado

em

<http://www.mp.go.gov.br/portalweb/

foram

ligados

pelo

laço

do

afeto.

Para BORDALLO, in: MACIEL:

hp/10/docs/revista_do_mp_n_17.pdf> ““(...)

no dia 27/05/2019)

Podemos

dizer,

sem

qualquer sombra de dúvida, como o

III - DA SUPERAÇÃO DO ESTIGMA

faz

via

de

filhos

Desde

muito

OTIERID ENIC)NE(

rotulado

de

pequeno,

Roberto

“irrecuperável”,

Carlos

todavia,

é a

criatividade e o modo lúdico com o qual conta

sua

parar

na

história, FEBEM,

pedagoga

acerca

chama

francesa

de

a

Margherit

como

foi

atenção

da

Duvas

Lúcia

que,

mão

se

desafios

viera para

ao os

Brasil seus

em

busca

estudos

de e

habilidades. A mesma procura a todo custo fazer um estudo acerca da realidade e do modo de ver o mundo daquela criança.

69

dupla,

adotam

de

Paula

que

e

não

pais os

e

pais

aos filhos e que essa relação de troca

vai-se

familiar mais

dando

mais

quando

é

efetivação

filhos,

construção teremos

do

art.

227,

com

ocorrer nova

335).

troca

entre

relação

que

º

6 ,

seja

aos sua

haverá a do

todos

família”.

§

qualquer

a

a

mandamento

verdadeiramente quando

a só

essa

qualquer

origem.

é

pois

proíbe

discriminação

órbita

que

que

do

constitucional

da

o

verdade,

ocorre

sentimental

na

ampla’,

pura

que

claramente

Maria

Freitas, que a ‘adoção é sempre

adoção sentimento

os

(2017,

membros p.

334-


“Art. 101. Verificada qualquer das

A partir dessa história o filme retrata mais

hipóteses

um

importante

criança

e

corolário

do

dos

direitos

adolescente

que

da

é

a

convivência familiar e a modalidade mais completa

de

substituta

colocação

de

nosso

em

sistema

dentre

seguintes

medidas:

quando

prioridade

outras

e

sim

soluções

a

que

última

a

ratio,

preservem

98,

a

poderá

outras,

as

I

aos

mediante

-

pais

ou

termo

de

responsabilidade; II - orientação, apoio

ser

art.

determinar,

responsável,

adoção. A vida em uma instituição jamais deve

no

competente

encaminhamento

família

jurídico:

previstas

autoridade

e

acompanhamento

temporários;

III

freqüência

obrigatórias

-

matrícula

e em

estabelecimento oficial de ensino

a

fundamental;

convivência familiar se tornem ainda mais

serviços

e

IV

e

MORAES e RAMOS, in: MACIEL:

de

promoção

criança

inclusão

programas

comunitários

nocivas a criança ou ao adolescente. Para

-

e

oficiais

proteção, da

do

em ou

apoio

família,

da

adolescente;

V

-

requisição de tratamento médico,

“A internação precisa ser excepcional. Isso

significa

somente

se

que

sua

justifica

psicológico

aplicação

quando

não

ambulatorial; programa

à

de

As

exceções

pressupõe

a

o

VI

-

oficial

auxílio,

em ou

inclusão

ou

em

comunitário

orientação

e

existência de uma regra. Neste caso a

tratamento

regra é da manutenção do jovem em

toxicômanos;

VII

-

acolhimento

liberdade.” (2017, p. 1177)

institucional;

VIII

-

inclusão

programa

de

familiar;

Com

psiquiátrico,

hospitalar

outra que se apresente mais adequada situação.

ou

regime

fim

de

priorizar

outras

a

IX

alcoólatras

e

em

acolhimento

-

colocação

em

família substituta.” (BRASIL, 1990)

medidas

socioeducativas o ECA, no seu art. 112 traz as

modalidades

de

medidas

Dentre as medidas indicadas supra, constatada

socioeducativas, in fine:

a

inviabilidade

de

a

criança conviver em um cenário de Art.

112.

Verificada

infracional, poderá

a

a

prática

autoridade

aplicar

ao

de

ato

competente

adolescente

as

seguintes medidas: I - advertência; II obrigação prestação IV

-

de de

reparar serviços

liberdade

em

regime

internação

o à

assistida;

de

dano;

III

comunidade; V

-

inserção

semi-liberdade;

em

-

VI

-

estabelecimento

educacional; (BRASIL, 1990).

violações adoção

graves é

a

que

possibilidades direitos

do

propor formação

de

de

direitos,

tem

maiores

salvaguardar

infante

e

com

contunuidade

Pois

os

vias

na

educacional,

sentimental.

a

de sua

física

e

integrará

um

núcleo familiar, mesmo que novel. Cabe

ressaltar

que

tais

medidas

são

“De

todas

as

colocação

aplicadas para aqueles que cometem ato infracional,

OTIERID ENIC)NE(

substituir

não a

financeira,

possuindo

família

nem

o

caráter

em

amparar

o

de

dificuldade órfão,

nem

tampouco coibir a prática da mendicância

previstas

em

jurídico,

a

essas

e

outras

situações

de

ameaça

ou

violações de direito, o art. 111 do Estatuto da

Criança

e

do

Adolescente

prevê

as

nosso

ordenamento

adoção

no

seio

familiar,

conceder

de

um

é

a

novo

enquanto e

tutela) ao

mais

núcleo

as

demais

limitam-se

responsável

a

alguns

dos atributos do poder familiar. A adoção

transforma

acriança/adolescente membro que

da a

família,

em o

proteção

dada

ao

adotando

mais

integral.”

que que

seja

faz será

muito

(BORDALLO

AMIN, 2017, p. 334).

70

de

substituta

inserção da criança/adolescente

com

seguintes medidas de proteção:

família

completa, no sentido de que há a

(guarda

ou de outra face da questão social. Para

modalidades

em

in:


Roberto Carlos vai com Margherit para a

lúdica,

França, e lá segue seus estudos. Quando

retratação

formado em Pedagogia volta para o Brasil

institucionalização

e,

doutrina da “situação irregular”.

desta

FEBEM. do

vez

Em

como

rápida

protagonista

verificar

que

quantidade

educador,

pesquisa

da

o

sobre

história,

mesmo

numerosa

volta

é

a

possível uma

crianças

da

referida instituição. Por

da

adoção

será

exercida

a

paternidade em sua forma mais ampla, a

paternidade

paternidade

do

afeto,

do

escolhida,

amor.

que

A

nas

políticas

de

pautadas

na

Mesmo

com

a

evolução

ordenamento

jurídico,

do que

acompanhou tardiamente o cenário

das

ainda

antigas

instituições jovens

temos

muito

FEBEMs,

de

nas

internação

infratores.

Todavia

dos

sob

a

égide de um ordenamento jurídico

é

mais

a

verdadeira

paternidade,

adotiva

está

pois

a

ligada

à

função, escolha, enfim, ao desejo. Só uma

pessoa

amadurecida adotar,

de

terá

fazer

esta

condições

de

escolha,

ter

de

Justamente por ser uma escolha que requer um certo grau de amadurecimento é que

habilitação

o

para

cadastro

adoção.

conformidade, o art. 50,

para

os

direitos

humanos.

§ 3º

No

cenário

temos,

geral

também,

muito

dos

ainda

problemas

sociais da época, crianças pedindo

MACIEL, 2017, p. 334)

realizado

voltado

verdadeiramente

um filho do coração.” (BORDALLO, in:

ser

verdadeira

palavras de Rodrigo da Cunha Pereira

paternidade

deve

das

internacional,

meio

uma

vida

adotou

de

a

assistir

e Em

dinheiro

nos

pequenos outros

sinais,

furtos

atos

e

que

praticando

roubos,

os

dentre

deixam

ainda

mais marginalizados. E em grande escala, mais uma vez a solução que

do ECA:

tentam ecoar no cenário político é “Art.

50.

A

autoridade

manterá,

em

cada

regional,

um

registro

adolescentes adotados

em

e

interessadas

judiciária

comarca de

outro

foro

crianças

condições

na

ou

de

de

e

serem

pessoas

§

adoção.

3o

A

inscrição de postulantes à adoção será precedida

de

preparação orientado Justiça

um

psicossocial pela

da

da

Infância

e

da

municipal

da

Juventude, apoio

pela de

de

jurídica,

técnica

com

responsáveis

política

e

equipe

preferencialmente técnicos

período

dos

execução

garantia

do

OTIERID ENIC)NE(

direito à convivência familiar.” (BRASIL,

a

criminalização

patamares social,

O

filme

retrata

realidade

públicas juvenil.

ao

momentos

Assistir

o

para filme

históricos

da

especialmente

tratamento

voltadas

com

a

penal

necessário,

voltando

justiça

para

o é

das

público uma

políticas infantoexcelente

oportunidade de, através de uma encenação

71

16

É

que políticas

olhos

para

uma

social

e

que,

ao saudável nos

da

anos.

proporcionar

crescimento

não

escala

redução

nossas

nossos

possamos

da

outrossim,

renovemos

maior

baixos

um menos

para

deixando

pelos erros do passado.

brasileira,

relacionados

mais

maioridade

público,

IV - CONCLUSÃO

público

infanto-juvenil que se enquadra nos

minimamente

1990).

do

esse

seduzir


Cena 20 – Roberto folheia o livro e se interessa pelas ilustrações. - Margherit: "O nome desse livro é Vinte Mil Léguas Submarinas. Conta a história do capitão Nemo. Ele construiu um submarino supermoderno, sabe?, que passava o tempo todo viajando embaixo do mar." r

Roberto Carlos: - O mar é muito fundo? Margherit: - Você nunca viu o mar? r

Roberto carlos: - Nunca. r

Margherit: -

Deixa eu ler um pedaço da história

para você. Quando eu encontrar os meus óculos. r "No

ano

de

inexplicado

e

1866

aconteceu

inexplicável,

que

um

fenômeno

provocou

muitos

comentários entre a gente do mar...”

Roberto carlos: -

Aquele livro me levou para outro

OTIERID ENIC)NE(

mundo."

Extraído

do

roteiro

do

filme

"O

contador

Histórias”, direção de Luiz Villaça, 2009.

72

de


ABRIL

OTIERID ENIC)NE(

73

2019

|

(EN)CINE

DIREITO

ED.

06


RASCUNHOS DE "O CONTADOR DE HISTÓRIAS" Por: JANAÍNA CONCEIÇÃO DE ARAÚJO Discente do Curso de Direito - UFRN (Ceres).

O filme nos despertar para a realidade de

Sua mãe vendo as precárias situações em

grande

que

Brasil. que

parte A

infância

mora

cidade.

da

na

população difícil

periferia

Roberto,

do

viviam

e

diante

da

propaganda

na

de

uma

criança

televisão sobre a FEBEM, que prometia que

de

uma

grande

a

carente

teria

futuro,

até

se

tornar “Doutor”. Como uma mãe querendo

da história, tinha cinco anos quando tudo

um futuro melhor se desfaz de seu filho na

começou. Foi o seu acordar numa manhã e

busca

a mudança de vida para o “despertar de

Será

mundos”.

que ela buscava para o filho?

Roberto amava a vida no moro. Na cabeça

Certo

de

arrumou e levou para a FEBEM. Chegando

menino,

Empinar

pipa

bar

seu

do

personagem

criança

principal

um

o

carente

tudo

era

seu

Jorge,

estava

perfeito.

divertimento,

observar

ir

todos

ao

lá,

que

de que

de

afastar

tudo

isso

infância. apesar

que

simbolizava Sua

das

mãe

mãe

parte

sempre

sua

um

tchau. com

Que

A

estudos,

propaganda

anos

idade,

Dias

das

era

tradição

ele.

entender

perceber,

ela

percebeu

pedagogia

crueldade

procurava sempre o melhor para os filhos. já

para

o

o

algo

um

estranha,

filho

de

sua

mãe. Roberto mudou literalmente de vida.

afetuosa, e

de

menino

mundo.

domingo

condições

lavava

da

capazes

ninguém

daquele

de

poucas

sua

melhor

estranho, sua mãe foi embora sem se quer dar

brancos

sem

pequeno

moravam naquele local, olhar o varal cheio lençóis

amanhã

somos

dia,

o

um

assistir

de

crianças

não

era

Quando o

mais

a

completou

enviaram velhas.

realidade

para

o

07

setor

Chegando

lá,

televisão na casa do senhor José. Apesar

quanta diferença de onde estava para lá.

de uma vida simples, era algo encantador

Roberto fugiu milhares de vezes.

para

aquela

criança.

Como

tanta

simplicidade pode encantar uma criança.

74


banheiro sem querer sair. Medo e insegurança o

assombrava.

vida

de

Assim

Roberto,

começa

que

agora

a

mudança

tinha

um

de

teto

e

alguém para olhar e perceber suas carências.

Apareceu

repentinamente

Margherit,

que

banheiro

passou

e

ao

na

entrar

mais

de

casa

correu um

dia

de

para

o

preso

no

banheiro sem querer sair. Medo e insegurança o

assombrava.

vida

de

Assim

Roberto,

que

começa agora

a

mudança

tinha

um

de

teto

e

alguém para olhar e perceber suas carências. Passado

certo

tempo,

Margherit

tinha

terminado seu tempo no Brasil.

A FEBEM era o “faz de conta” que as crianças

Como

estão sendo bem educadas para a sociedade

novamente seria deixada por alguém que ele

pensar que as crianças carentes teriam futuro.

gostava.

Num

uma

percebeu a casa toda alagada, além de fitas

pedagoga francesa que estava no Brasil para

destruídas e outras coisas. Ela então procurou

fazer

por ele, mesmo com toda raiva que ela estava

certo

uma

mundo

dia

ele

conheceu

pesquisa,

daquele

a

Margherit,

pessoa

pequeno

que

menino.

mudou Ela

o

por

ficou

uma

criança

Ao

chegar

dentro,

procurou

poderia

em

entender

casa,

entender

que

Margherit,

porque

ele

curiosa em saber a história daquele menino de

tinha feito aquilo. Ele explicou que tinha feito

cabeça

por

aquilo de proposito, mas ela com doce olhar o

favor a ele, ela chegou fazendo perguntas e

explicou que o levaria para a França. Assim,

Roberto

não,

aquele menino, que tinha tudo para ser mais

Dona.”. Após o mesmo contar a “história” que

um nas estatísticas dos menores envolvidos no

ele

mundo do crime, viu seu mundo virar.

baixa.

Aquela

falou:

decidiu

“não

mulher

vou

contar

a

pedindo

falar

ela,

nada

foi

saindo

e

Margherit logo perguntou: “posso vir amanhã

Passaram

falar

homem, mudou da França para o Brasil e foi a

com

você”,

ele,

Roberto,

foi

ao

do

se

que seu filho sairia Doutor daquele local.

hipocrisia fazendo

do o

está

Governo

bem

para

noite”.

achar

tantos

Quanto

que

jovens

aquela

que

virou

dar

fugir

mãe,

menino

procura

vou

sua

aquele

ouvido dela e na qual o filme retrata: “não vai Dona,

de

anos,

acreditava

estava que

Roberto

ali

deu

um

grande

abraço

nela

e

tudo

estavam jogados.

estava da mesma forma que ele tinha deixado

A partir daí, os mundos dos dois começaram a

antes

mudar. Certo dia, ele foi até a casa dela no

“Doutor”

intuito de roubar seus pertences, porém nada

virou contador de histórias.

levou, com

mas um

a

empurrou,

leve

pânico.

deixando

a

Passaram

mesma

se

dias,

Roberto se agrupou a meninos mais velhos que o

espancaram

e

o

abusaram

sexualmente.

A

falta de um futuro o quase levou a morte.

Apareceu

repentinamente

Margherit,

que

ao

entrar

na

casa

correu

para

de o

banheiro e passou mais de um dia preso no

75

dele do

sair

daquele

saber,

local.

transformou

Roberto, seu

virou

mundo

e


ABRIL

2019

|

(EN)CINE

(EN)CINE DIREITO Contando histórias

DIREITO

ED.

RESENHA CRÍTICA DE "O CONTADOR DE HISTÓRIAS" Por: Gabriel Beserra do Nascimento Discente do Curso de Direito - UFRN (Ceres).

Roberto,

13

anos,

rouba,

fuma,

cheira

cola

contar-lhe

“irrecuperável”! Abordado na instituição para

ela

recuperação

infantilizada,

jovem

de

mulher

menores,

FEBEM,

estrangeira

e

por

seu

uma

gravador

o

sua

história,

convence

se

a

sua

apresentar.

contar,

miserável

de

e

Assim forma

verdadeira

história.

(EN)CINE DIREITO querendo

lhe

conhecer,

interessa

em

saber

como veio parar ali.

Ele conta que influenciada pela propaganda estatal, no único dia que eles poderiam assistir

Após contar sua estória, de um roubo a banco

a televisão, na casa de um vizinho, sua mãe

com sua família, ele avisa à ela que irá fugir,

resolve

havendo

uma

instituição. Ao que para ele é caso de orgulho,

semana voltará a encontrá-la, na praça Castro

pois pela primeira vez foi preferido à alguma

Alves.

coisa. Mas, lá chegando e vendo sua mãe ir

que,

para

Convidado

sua

a

ir

surpresa,

na

casa

em

da

“dona”,

intrigado pelo convite, ele finalmente aceita

mas

somente

roubar.

Assim,

com

perante

o

uma

sem

propósito

mesa

farta

de

que

deixá-lo,

ele,

a

propaganda.

Ali,

irritá-la,

uma

ele

parte

para

caçula,

começa

a

naquela

cair

e

a

perceber que aquele lugar não parece com a

delinquência,

conseguindo,

filho

verdade

nunca tinha visto antes, ele começa a tentar não

seu

nova

ele

é

aprende

postura, a

exposto

uma

nova

uma

escola

a

escola

linguagem,

nova

não

é

da

forma

mais

a

de

analisar o ambiente e ao que finalmente fazer

sobrevivência,

que

cumprir seu propósito, roubar.

levará a ser uma pessoa melhor, mas sim um

o

sobrevivente a tudo e a todos. De

volta

às

quadrilha

de

ruas

ele

meninos

tenta

Aquela

estrangeira,

estuprado. Ao que isso o leva, envergonhado e

garoto

problema

humilhado,

pedagoga

deitar

numa

velhos,

numa é

a

mais

entrar

linha

quando

férrea,

pois

que

para aqui

acredita

sorte narrado, na

do é

nosso uma

recuperação

decidiu morrer. Mas, nem isso consegue, pois

infantil, apegada por laços de amor, ela passa

deitou

a dar a uma criança de 13 anos oportunidades

na

linha

paralela

por

onde

passou

o

trem. Sem muita explicação, ele volta à casa

que

de sua jovem estrangeira interessada, invade e

adota, e ele se transforma num jovem adulto

se

a

interessado pela leitura e com sentimento de

de

ajudar outras crianças em situação de risco, o

e

que lhe trás de volta ao Brasil, como estudante

silencio

e estagiário da FEBEM, para que, contando-

abriga

entrada. chamar

no

Ela, a

deixando-o

banheiro o

ameaça,

polícia, ficar.

social

mas

Depois

inicialmente,

acaba de

forçando

dias

cedendo de

do garoto, ela então decide falar e passa a

a

família

e

o

Estado

o

negaram.

lhes histórias possa fazer diferente.

76

Ela

o

06


(EN)CINE DIREITO

O filme revela um passado não muito distante do Brasil, onde o Estado cria uma instituição para

tratar

miséria, uma

e

um

assunto

ausências

solução

de

de

educação,

fome,

oportunidades

como

institucionalizada

que

hoje

sabemos ser a escola do crime. A história da FEBEM é uma sequencia de decisões terríveis, de

ausências

de

oportunidades

educativas

a

uma grande parcela da população jogada nas favelas

dos

grandes

centros

urbanos.

O

Estado decidiu tomar integralmente para si, de forma coletiva, a educação de crianças, sem uso

de

meios

qualquer

meio

corretos,

educação,

pois

mas,

saudável não

pelo

ou

lhes

uso

dos

deu

nem

a

os

deu

a

contrário,

terrível oportunidade de serem jogados, como leões,

aos

montes,

para

suas

próprias

(EN)CINE DIREITO sobrevivências. expostas cultura

a

sua

da

somente

E

quando

própria

violência,

sendo

e

crianças

sorte,

eles

num

são

meio

aprendem

transparecendo

ser

o

de

que

mais

forte possível, poderão sobreviver.

O tema é sensível, pois ainda hoje vivenciamos nessa

mesma

condição.

Crianças

“com

problemas” são levadas, todos os dias, mesmo por

decisões

judiciais,

para

as

escolas

do

crime em todo o país. O Estatuto da Criança e Adolescente da

afirma

sociedade,

das

taxativamente famílias

e

ser

do

papel

Estado

à

educação de crianças e adolescentes. Então, pela

resenha,

vivenciada acreditar

pela

experiência

repetidamente, que

nenhum

fracassada

desses

podemos

atores

legais

pode ser excluído dessa tarefa. A ausência de oportunidades,

de

justiça

social,

de

distribuição de renda, da garantia do mínimo existencial, e o mais importante, da educação inclusiva, que dê a criança pobre o direito ao acesso a uma alimentação, a uma escola de qualidade,

e

adequada, formação forçados como

de ao

forma

a

uma

orientação

provocará um

exército

mundo de

do

a de

repetição

da

marginalizados,

crime,

sobrevivência,

familiar

e

da ao

violência caos

da

nossa sociedade.

77


ABRIL

2019

|

(EN)CINE

DIREITO

ED.

06

Compêndio de "O Contador de Histórias" Por: Isadora Medeiros Araújo Discente do Curso de Direito - UFRN (Ceres).

Baseado

em

contador

fatos

de

película

reais,

histórias"

sob

o

brasileiro

representa

apresentada

Direito,

filme

no

enfoque

a

Projeto

do

"O

sexta

(En)Cine

tema

"Direito

e

Educação", que se relaciona diretamente com a trama.

Roberto

Carlos

família

muito

Ramos pobre,

era o

um

menino

caçula

de

entre

dez

irmãos. Pela esperança de sua mãe em tornálo

"doutor",

teve

que

deixar

sua

família

aos

seis anos de idade para ir morar na Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor, a FEBEM. À época, durante a ditadura militar, a instituição vendia uma imagem de solução para famílias menos

abastadas,

prometendo

preparar

as

crianças para serem verdadeiros profissionais: O convívio entre Margherit e Roberto torna a

futuros "médicos, engenheiros e advogados".

trama instigante e emocionante. Fica evidente Porém,

ao

contrário

do

que

se

esperava,

como

a

a

educação

e

a

família

possuem

um

que

papel essencial na vida de todo ser humano,

passava na TV. Roberto, com sua imaginação

principalmente na daqueles que vivem em um

fértil e criatividade, entendeu que mostrar uma

cenário

te

Margherit, o garoto, que foi julgado incapaz

o

de desenvolver-se intelectualmente, estudou e

realidade

era

deveras

formação

no

trazer

benefícios

levou

a

distante

daquilo

aprendizado

dentro

afastar-se

da

da

poderia

FEBEM,

o

que

alfabetização.

tornou-se

Ao

Roberto

realizando

passou

diversas

a

fugas

se

um

(mais

de

100,

A

ao

história

de

Imaginemos,

uso

em

anos,

substâncias

foi

entorpecentes.

considerado

dos

maiores

Graças

a

contadores

de

marginalizar,

total), cometendo pequenos furtos e fazendo de

marginalização.

histórias do mundo.

mudar-se para a ala de garotos entre 7 e 14 anos,

de

Aos

irrecuperável

13

se

ambientes

Robertos

pela

Roberto

não

a

foi

educação

como

teriam

sua

prioridade

FEBEM, vida

quantos

salva?

planos de governo, nossas crianças cresceriam

figura

de

Margherit Duvas, uma pedagoga francesa que

sabendo

veio

escreveriam

ao

Brasil

estudar

comportamentos "incorrigíveis", paciência

e

crianças

apontados como

o

dedicação,

dele.

com

linhas

como Com

Margherit

foi

distinguir o

o

futuro

edificantes,

certo da

do

nossa

levando

o

lugar

a

completamente

a

primeiro

Se

educação

surge

em

fosse

exceção.

referida instituição. A história do garoto muda quando

estivesse

a

uma

nos

errado nação

país

a

e

com um

patamar acima e diminuindo a desigualdade

sua

tão presente.

para

Roberto o que ele mais precisava: mãe.

78


79


Crônicas de uma equipe: Momento (En)Cine

NOSSO SEGUNDO FILME EM 2019.1 FOI APRESENTADO NO DIA 30/04. Em que discutiu-se o tema

Direito e Educação ,

com a escolha

do filme " O contador de histórias", Luiz Vilaça, 2009.

80


ABRIL

2019

|

(EN)CINE

DIREITO

ED.

06

O Projeto de Extensão “(EN)CINE DIREITO” tem por

escopo

a

integração

e

compreensão

de

temas relevantes para/do Direito através das manifestações histórico-culturais presentes em uma

plêiade

de

filmes

criteriosamente

escolhidos a ser apresentada à plateia a cada mês (dois filmes), seguida de debate. Através do

estreito

diálogo

cinema/direito

e

do

caráter sensível da narrativa cinematográfica, a ideia central é estimular alunos e docentes a desenvolver

novas

estratégias

de

ensino

e

aprendizado e, igualmente, estimular o debate e

o

esclarecimento

de

ideias

junto

à

comunidade de Caicó e do Seridó.

Nesse

esteio,

representa

o

discurso

potencial

cinematográfico

ímpar

para

atingir

variada gama de pessoas transmitindo ideias e reforçando assuntos

o

debate

caros

à

Democrático

de

conhecimento

e

social

e

jurídico

manutenção Direito,

à

propagação

do

Estado

Justiça de

de

uma

e

ao

cultura

lastreada no Saber, no Ensino Participativo e na execução dos Direitos Humanos. A exibição fílmica da película "O Contador de Histórias" foi a segunda película as do projeto “(EN)CINE

DIREITO”

2019.

Além

do

Lima

Junior,

no

primeiro

professor

mediador

semestre

Oswaldo

do

de

Pereira

debate,

de

tivemos

a

participação da discente do curso de Direito Mayara Vívian de Medeiros e dos professores Rogério

de

Araújo

Lima

(Dep.

de

Direito

UFRN) e Caio Dantas (Santa Terezinha). Após a

apresentação

discussão

acerca

Educação”.

do

filme,

do

tema

Estabelecerem

o

iniciou-se

a

“Direito

e

liame

do

tema

com Direito. Aspectos

sociológicos

e

filosóficos

foram

elencados, como também as problemáticas da custódia realizada pelo Estado na antiga Febem, grande equívoco na tutela de crianças e jovens.

( E N ) C I N E

D I R E I T O

81

| 0 6


quadro: Noite Estrelada, Vincent van Gogh, pintado em 1889

lista de sugestĂľes

82


CAMINHOS 1

OS INCONPREENDIDOS de François Truffaut, 1958

2

O GAROTO SELVAGEM filme francês, 1970,

3

PEDAGOGIA DA AUTONOMIA

Livro da autoria do educador brasileiro Paulo Freire, 1996.

4

A ELEGRIA DE ENSINAR A Alegria de Ensinar é um livro de crônicas do escritor Rubem Alves, publicado pela editora Papirus, voltado para a temática do ensino, aprendizagem e vida.

83


PUBLIQUE CONOSCO REGRAS DE SUBMISSÃO A

revista

(En)Cine

Direito

é

desenvolvida

pelo

Departamento

de

Direito

do

Centro de Ensino Superior do Seridó da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. A

avaliação

da

resenha

pelo

parecerista

reside

na

sua

clareza

informativa,

crítica e crítico-informativa. A resenha deve ser crítica. O arquivo para submissão deve ser em formato PDF. A resenha poderá ter, no máximo, 3 (três) autores. A

resenha,

em

consonância

configurada

com

observando

direita/superior/inferior

2,5

o

que

as cm;

prescrevem

seguintes

margem

estas Normas indicações:

esquerda

2,5

cm;

fonte

Gerais,

é

margem Times

New

Roman no corpo 12, com espaçamento entre linhas 1,5 cm. Nas citações (a partir de quatro linhas), o espaçamento é simples e a fonte, 11. As resenhas enviadas para submissão devem ser originais e inéditas, bem como possuir entre 500 a 2000 palavras. Esta contagem inclui notas de rodapé e espaços em branco. Sugerimos a contagem de palavras antes da submissão. As citações no manuscrito deverão estar entre aspas no corpo principal do texto ou

em

parágrafo

com

recuo

(para

as

citações

com

mais

de

três

linhas).

A

referência bibliográfica correspondente deve ser colocada logo a seguir entre parênteses e no sistema autor-data, de acordo com a seguinte formatação: (Sobrenome, ano, p. páginas citadas). O mesmo se aplica às notas de rodapé. Ex.: (Serfati, 2002, p. 61-62). O título deverá conter, no máximo, 100 (cem) caracteres com espaço. Para os filmes resenhados deverá conter título do filme em português (Título original). País de origem, ano de lançamento, Duração (em min.). "Dirigido por" Nome do Diretor. Caso o artigo contenha figuras ou gráficos, estes devem ser enviados em boa resolução para garantir a qualidade da leitura e a visualização dos dados em interface eletrônica.


Projeto de Extensão da UFRN (EN)CINE DIREITO Apresentou o filme "O CONTADOR DE HISTÓRIAS" discutindo o tema "Direito e Educação"

Flor: Azaleia.


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