ÂME - FANZINE 4

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Trabalho acadêmico apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco, como requisito para a avaliação parcial da disciplina de Arquitetura Contemporânea realizado pelos alunos Estácio Anacleto e Lucas Tavares. Orientadora: Ana Luisa Rolim.


Neste volume final da Fanzine ÂME, iremos focar na arquitetura contemporânea na era digital, abrangendo os modos de representação e tipos de técnicas abordadas por Lisa Iwamoto. É imprescindível na revista a relação da arquiteta Odile Decq com as suas instalações arquitetônicas presente, as quais são um ponto de inspiração para a criação do protótipo fundamentado nessas estratégias. A séria escolhida foi a clássica American Horror Story, produzida por Ryan Murphy e Brad Falchuk, no qual cada temporada narra uma história diversa, com ambientações e personagens distintos. É com base nesse universo pavoroso que destacamos algumas temporadas que se interligam com os métodos utilizados nas instalações.


“(…) A arquitetura não deve mais ser reduzida a uma educação profissional ou especializada: é uma disciplina que se abre para o mundo, uma maneira de ver o mundo e a capacidade de atuar no mundo. A arquitetura hoje precisa ter uma ambição mais humanista.” Odile Decq



SUMÁRIO 1. ARQUITETURA NA ERA DIGITAL ......................................................... 8/9 2. FOLDING ......................................................................................... 10/11 3. FORMING ........................................................................................ 12/13 4. TESSELLATING .................................................................................. 14/15 5. SECTIONING ................................................................................... 16/17 6. CONTOURING ................................................................................ 18/19 7. ODILE DECQ ................................................................................... 20/22 8. UNWRAP ......................................................................................... 23/25 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 26



ARQUITETURA NA ERA DIGITAL O ato de projetar, criar na arquitetura passou por diversos aperfeiçoamentos no decorrer dos tempos, foram-se agregando novas técnicas e meios que possibilitam executar visões de uma forma mais elaborada e precisa, além de propiciar construções mais inovadoras. A era digital fez com que houvesse um grande salto no que se refere a representatividade arquitetônica, porque através do auxílio de novas tecnologias, como por exemplo o corte à laser e a impressão 3D de peças, possibilitaram a facilidade de novos ensaios plásticos.


Máquina corte à laser Máquina corte à laser

Máquina impressão 3D Máquina impressão 3D


FOLDING

A dobradura tem como princípio a construção de corpos a partir de dobramentos de elementos que o compõe. É uma técnica antiga, bastante conhecida por meio dos origamis e que teve um grau de desenvolvimento aumentado por causa das inovações tecnológicas. Uma das suas principais características são as brechas entre os espaços permitindo ser em escalas maiores. Este projeto tem como partido a asa de uma libélula, onde o seu processo de design buscou estruturar-se através da forma em que os contornos se inter-relacionam, criando um fluxo de forças que suportam a estrutura. Foram criadas digitalmente as peças que foram feitas pela EMERGENT e Buro Happold, onde foram calculadas cada modulo e formato, produzidos com exatidão, desde a sua espessura, ângulo, localização e corte estivessem dentro dos conformes.

Dragonfly, Tom Wiscombe/EMERGENT

Dragonfly, Tom Wiscombe/EMERGENT


A temporada de American Horror Story: Coven tem como principal tema a bruxaria, os poderes sobrenaturas e supostas conexões com as forças obscuras. Os seres humanos que nascem com esses poderes extraordinários permitem que possam praticar a magia, onde a grande maioria de tais seres são do sexo feminino, considerada as mais fortes, embora também existem os do sexo masculino. As bruxas necessitam ter um líder, a suprema, que precisa ter domínio em todos os elementos desse universo, assim como a técnica de dobradura que busca criar uma conexão entre as partes, mesmo que com lacunas, para que sejam criados um elemento maior.

COVEN


O modo de representação arquitetônica da fôrma é gerado a partir de uma fôrma preestabelecida e o resultado é o seu preenchimento no espaço vazio. Podemos comparar essa técnica com o método de fazer bolo, o qual colocamos a massa numa vasilha específica e depois posicionamos dentro do forno até criar a sua fisionomia. É importante citar na arquitetura a natureza do concreto que se baseia nesse mesmo artifício de complementação de módulos. Esse processo é menos comum por causa da densidade da forma fabricada, sendo mais relevante partes sigulares do edifício como a fachada. Um exemplo de fôrma é o P_Wall feita para a exposição Sensate: Bodies and Design no SFMOMA, produzido por Andrew Kudless. O material usado são cavilhas de madeira como molde e tecido de náilon, logo o peso da pasta líquida de gesso faz com que o tecido ceda e expanda introduzindo na forma. A parede ganha um valor imenso na galeria que geralmente é regular e lisa, e agora com essas saliências e dobras que dão característica a pele carnuda dos seres humanos.

FORMING

P_Wall, Andrew Kudless/Matsys - San Francisco


FREAK SHOW

Freak Show é uma temporada que possui como tema principal a discriminação. A história fala sobre um circo somente com pessoas consideradas “aberrações” as quais se apresentavam fazendo seus respectivos atos, ou seja, sua própria forma eram o “show da noite”. A temporada levanta questões necessárias sobre autoaceitação e resistência de minorias com um humor voltado para o horror sarcástico, mas com uma experiência de autoanálise constante durante os episódios. A fôrma, como ja vimos, aborda o modo de preenchimento de um módulo assim como Freak Show ilustra com seu enredo, o qual os personagens ao longo do tempo tentam entrar em padrões preestabelecidos para serem aceitos na sociedade.


TESSELLATING

A tesselagem é a união de partes que formam um todo, criando um plano ou superfície de modo que o seu encaixe seja preciso, evitando assim brechas entre os elementos. Podendo ser trabalhado um padrão que defina formas que possam se fragmentar em pedaços e que sejam estabilizadas, resistindo à deformação.

O Centro de Exposições do Planejamento Urbano de Ningbo, Localizado em Ningbo Chi, na China realizada no ano de 2019, nos apresenta um exemplo do uso da tesselagem na sua fachada. É possível perceber o modo como as peças do revestimento de cerâmica se conectam, criando uma pele que abraça toda a edificação. Para a criação desse formato foi utilizado um script de computador feito sob medida, que gerou automaticamente um modelo 3D da fachada.

Bone Wall, Urban A&O - New York


A temporada de American Horror Story: Hotel tem a sua história situada num hotel antigo, onde os seus frequentadores são pessoas peculiares, desde os funcionários, aos hóspedes e a dona do hotel, a Condessa. A história segue diversos caminhos que acabam conectando-se para um ponto em comum, e assim como a técnica de tesselagem, os enredos se agrupam e conectam-se formando uma grande rede onde cada ponto está interligado ao outro.

HOTEL


Clinica Odontológica Care Implant Denstistry - Austrália

O seccionamento trata-se de uma técnica que busca trabalhar com projeções em seus objetos, promovendo uma estética nos volumes que são definidos através de seções e coordenadas cartesianas e vetoriais numa série de perfis cujas as bordas seguem as linhas da geometria da superfície. Dentre as técnicas de construção de seccionamento, o objetivo é promover formas dinâmicas, fluxo e organização, podem se citadas: as costelas seccionadas, a laminação ou empilhamento horizontal e a malha tipo wafle.

Na Clinica Odontológica Care Implant Denstistry, que fica localizada em Chastwood na Austrália, concluída no ano de 2014 mostra uma composição de peças para a ambientação da recepção da clínica. O método de seccionamento utiliza laminas inseridas verticalmente e se interligam ao teto, criando esse formato ondulado que propõe delimitar os ambientes.

SECTIONING


ASYLUM

A temporada de American Horror Story: Asylum tem como plano de fundo para a sua história a investigação de maus tratos supostamente ocorrentes num sanatório. Para buscar os reais fatos, uma repórter infiltra-se no estabelecimento como uma paciente e passa a vivenciar as atrocidades e os mistérios que acontecem naquele lugar. A história de Asylum trabalha com uma narrativa que traz os mistérios sendo desvendados meticulosamente por camadas, que no final ganha corpo e proporção, assim como a tesselagem que tem como técnica o agrupamento de objetos que concebem um todo.


CONTOURING

O modo de representação arquitetônica do contorno é criado através da subtração de um objeto. Esse tipo se assemelha com a fôrma porém ele não adiciona massa e sim retira para gerar o contorno. O processo construtivo quando pronto concebe texturas na terceira dimensão na maioria das vezes, produzindo diferentes gabaritos e sensações. O Bone Wall é uma boa amostra para o procedimento do contorno, o qual foi feito pela Urban A&O. A ideia do projeto é investigar a continuidade da superfície e a modulação da luz dentro da parede, cujo mesmo objeto gera elementos pragmáticos como assento e armazenamento no próprio volume. É a partir dessa geometria complexa que podemos observar uma configuração espacial com redução de espaços para constituir essa estrutura intrínseca.

Bone Wall, Urban A&O - New York


Em Cult, a proposta da temporada é completamento diferente das anteriores pois não há nada sobrenatural, eles trazem o “horror real”, como tema essencial o medo. Tudo começa com o resultado das eleições dos E.UA. em 2016 a qual Donald Trump vence, gerando revolta na protagonista que também sofre de várias fobias como coulrofobia e tripofobia. A história aborda a formação de cultos com ideologias rigorosas contemplando diversas questões relevantes políticas atuais. O medo pelo fanatismo exagerado e a delizadeza dos sentimentos são particularidades primordias que Cult consegue passar pelo meio de um terror psicológico e importunador.

A associação que é feita com o contorno é com a sua leveza e continuidade nos detalhes, os quais a qualquer momento pode cair e despedaçar reproduzindo o caos instalado. As decisões sociopolíticas muitas vezes estouram com pequenas subtrações feitas no sistema.

CULT


Odile Decq nasceu em Laval na França, no ano de 1955, e é considerada no ramo arquitetônico como a “rockeira da arquitetura”. Casada com Benoit Cornette, fundaram seu primeiro escritório em 1985, porém tempos depois ele faleceu em um acidente de automóvel, contudo Decq continua seu trabalho firme e forte com o seu visual exótico, preto gótico e expressivo, o qual conseguia passar para as suas obras. Ela foi considerada a representante feminina da arquitetura em Paris, título importante pois, antigamente, a França tinha uma descriminação muito forte por arquitetas mulheres. Em 2012, Odile abre a sua própria escola, a Confluence Institute for Innovation and Creative, em Lyon, exercendo até hoje na parte educacional. Dentre as suas principais características pode-se destacar o vermelho como sua marca, luz natural em feixes específicos, uso de elementos de alta tecnologia, acabamento de qualidade e experimentação dos metais e vidro, e a aplicação de tons vibrantes. Odile ja se inspirou no modernismo de Mies van der Rohe e de Le Corbusier, e também de antemão foi considerada uma arquiteta desconstrutivista pela sua quebra de formas e assimetria. Em suma, é notável que Decq não segue nenhum modelo estético e sim encontra a melhor solução para o projeto de acordo com espaço, orçamento e material disponível. Dessa forma, sem seguir qualquer processo criativo preestabelecido, apenas na busca pela assimilação física, artística, sociológica da ligação do “corpo e espaço”, a arquiteta ousa e transforma a arquitetura em uma obra desafiadora e singular.

ODILE DECQ


Greenland Pavilion, Odile Decq - Xangai

O Greenland Pavilion, em Xangai na China, é uma das obras mais famosas de Odile que logo a primeira vista você pode observar uma composição de formas geométricas no volume. O edifício possui uma forma única com a aparência de uma flor aberta, acolhendo os visitantes e permite que seja visível a pirâmide de vidro no meio, a qual fica translúcida à noite com sua iluminação interior. A sua estrutura é estabelecida por 3 mastros que promovem efeito de sinalização, e as fachadas são produzidas com painéis de alumínio coloridos de vermelho brilhante.


Odile Decq Herzog & De Meuron

SNOHETTA Robert Venturi e Denise Scott-Brown

Marina Tabassum

Aires Mateus Peter Eisenman Bernard Tschumi

Steven Holl Amale Andraos Christian Portzamparc

David Chipperfield

Rem Koolhaass Sauerbruch Hutton

Frank O. Ghery

O processo de criação vale mais do que o resultado; Compreensão da relação corpo e espaço; Arquitetura complexa e contraditória; Análise empírica através de comparação e contraposição;

Projetos com noções de sustentabilidade social; Relação inteligente entre a tectônica do lugar e contexto urbano dos materiais locais;

Arquitetura como função social e cultural; Variedade de materiais, predominando o vidro e o tijolo. Composições elaboradas por volumes simples, uso de um mesmo material e de tons claros; Obras com grandes fendas como abertura e plantas baixas bem elaboradas, como labirintos;

Arquitetura que busca a valorização do espaço, movimento e evento;

Fenomenologia; Composições cromáticas; Experiência multissensorial; Curvas e formas simétricas; Preocupação com a percepção sensorial do objeto (textura, cor e forma);

Desmaterialização, formas limpas e decompostas;


UNWRAP O unwrap foi desenvolvido a partir das estratégias técnicas de projeto da professora Lisa Iwamotto, com o objetivo de criar um objeto arquitetônico para o propósito de uma arquibancada-abrigo para ser posicionado no jardim da biblioteca da UNICAP. Nossa inspiração foi o Greenland Pavilion e o MACRO (Museu de Arte Contemporânea, Roma), ambos assinados por Odile Decq. Podemos pegar as distintas “pétalas” em abertura do pavilhão e a experiência introvertida no museu e juntos extrair a translucidez do vidro e o tom vibrante do vermelho.

MACRO - Museu de Arte Contemporânea, Odile Decq - Roma

É a partir desses estudos que começamos com uma fôrma retangular preexistente, depois seccionamos ela em 4 partes e no meio geramos um retângulo vazio para a entrada transparente. Em seguida, as 4 paredes formadas foram soltas da estrutura e inclinadas para passar a sensação de desembrulho, a qual instala-se o próprio assento. Dessa modo, no final temos esse protótipo de arquibancada o qual adotamos o nome de Unwrap pela sua forma inicial de caixa e consequentemente vai ao poucos se destampando e reproduz esse módulo convidativo para as pessoas.


Perspectiva 1 - Unwrap

Perspectiva 2 - Unwrap

Corte Longitudinal

Planta Baixa

Em sumo, a materialidade presente é feita de madeira no piso e na coberta, as cadeiras são de aço na sua borda e no meio utiliza-se corda de nylon. A parte estrutural da coberta e da cadeira são um mastro de aço que sustenta todo o corpo. É ponderoso enfatizar o vazio no meio, de plástico pvc transparente grosso, que transmite luminosidade para o interior do Unwrap com uma tonalidade diferente que é gerada pela sua base de tom mais avermelhado.


Unwrap - Perpesctiva jardim UNICAP.

Em síntese, podemos afirmar que a arquitetura contemporânea está ligada diretamente as experimentações atráves das novas tecnologias e materialidades, vinculando-se com o edifício e o espaço urbano. Dessa modo, é fato que as artes plásticas foram uma inspiração para essa arquitetura física e sensorial, a qual se exemplifica a Land Art que usa o ambiente natural como partido para a criação da obra, integrando a edificação com o terreno.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MONEO, Rafael. Inquietação teórica e estratégia projectual na obra de oito arquitectos contemporâneos. Actar, 2008. IWAMOTO, Lisa. Digital fabrications: architectural and material techniques. Princeton Architectural Press, 2013. BUCK, Brennan. Who’s afraid of fabrica;on? Why teach digital fabrica;on now . In: Gramazio F.; Kohler M.; Langenberg, S. Fabricate 2014: Nego;a;ng design and making. Berkeley: UCL Press,2014. <Disponível em hPps://www.jstor.org/stable/j.cP1tp3c5w.7> Acesso em 28 de novembro de 2020. ROLIM, Ana e LEMOS, Vinícius. Casula: o projeto paramétrico aplicado a um protótipo experimental construído por seccionamento. In Revista Geométrica Gráfica, v.4, n.2, 2020, p.42-59. Disponível em: <hPps://periodicos.ufpe.br/revistas/geometriagrafica/issue/view/3123> Acesso em 27 de novembro de 2020. HARROUK, Cristele. Odile Decq é escolhida para presidir o júri do RIBA International Prize 2020. Disponível em:< https://www.archdaily.com.br/br/926719/odile-decq-e-escolhida-para-presidir-o-juri-do-riba-international-prize-2020>. Acesso em 30 de novembro de 2020. SHIRES, Megan. A história por trás da arquitetura de Odile Decq. Disponível em:< https://www.archdaily.com.br/br/916398/a-historia-por-tras-da-arquitetura-de-odile-decq> Acesso em 30 de novembro de 2020.


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