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QUINTA-FEIRA, 22 DE NOVEMBRO DE 2007
Desterro: quedas d’água formam piscina e favorecem prática de esportes radicais
Cunha
>Cachoeirasetrilhasnaterradacerâmica
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CUNHA >> BELAEPITORESCA VISUAL NOTA 10 > Se o dia estiver claro na Pedra da Macela, aventureiro pode ver Paraty e Angra
Cerâmica,trilhaseFuscas DIVULGAÇÃO
lucas.frasao@grupoestado.com.br
Cunhaangarioufamaportersetornadoumimportantepóloceramista no Brasil – e esse é, sim, um de seusgrandesatrativos.Masahospitaleira cidadezinha no Vale do Paraíba,a218quilômetrosdeSãoPaulo, também tem trilhas ecológicas, boas opções gastronômicas e muitas histórias para contar. Partedelas,comocostumaacontecer no Interior, está relacionada de alguma forma com religião (leia mais abaixo). Isso inclui a Igreja da Matriz, de 1731, que mostra um lado bem provinciano de Cunha. A paróquia tem uma espécie de programaçãoradiofônica,quechegaaos“ouvintes”atravésdeumsistema de alto-falantes, em vários pontos da cidade. Notas de falecimentoeavisosdeinteressepúblico –quandofaltaáguaoualguémperde os documentos – preenchem parcela considerável do programa. Com sorte, você vai ouvir. Aproveite para conversar com os moradores na praça na frente da igreja. Além de receber dicas de lugaresparaconhecer,vocêvaidescobrir que boa parte deles, especialmenteosmais velhos,acreditapiamente em lobisomem, mula-semcabeça e saci-pererê. Assustou? Não se preocupe, pois Cunha é uma cidade cheia de graças. Muitos dos carros que circulam pelas ruas, por exemplo, são Fuscas. Algo bem curioso – e um tanto engraçado. Com um saco de pipoca nas mãos, experimente sentar
no banco da praça e contar quantos deles vão passar por ali (em cinco minutos, contei 14). São de todas as cores e épocas, um prato cheio para quem é fã do carrinho. O segredo está no preço baixo,namanutençãosimplesena tração traseira – com 80% dos 25 mil habitantes da cidade morando em área rural, os Fuscas vencem com facilidade as estradas de terra. Pelos caminhos de Cunha, inclusive,passa umapartedaestradareal. Nos séculos 17 e 18, a região era rota dos tropeiros que levavam o ouro de Minas até Paraty. O ponto inicial de uma das trilhas que leva ao Litoral fica no percurso da Pedra da Macela, destino de aventura famoso em Cunha. De lá, épossível avistar, em dias decéu limpo, as Baías de Paraty, Angra dos Reis e Ilha Grande. Mas parte do trajeto até a Macela é feita de carro, assim como outros passeios a cachoeiras e a ateliês de cerâmica mais distantes – você vai precisar rodar bastante para chegaremalgunslugares.Porisso,vale lembraraimportânciadeestarmotorizado(melhorseforcomum4x4 ouumFusca).Nocentrodacidade, ao contrário, o ideal é estacionar e fazer tudo a pé. A Doceria da Cidinha fica na rua lateraldaigrejaeéparadaobrigatória. A anfitriã da casa, Dona Cidinha, ficou famosa pelos doces antes mesmo de abrir a loja. Cada um custa, em média, R$ 2 e você vai se confundir com tantas opções. A dica é pedir o suculento bombom de
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FOTOS LUCAS FRASÃO/AE
LUCAS FRASÃO
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Parte do caminho até a Macela (1) é feita de carro – os bons e velhos fusquinhas são os mais vistos no centro (2 e 3)
morango, uma das delícias mais procuradas na doceria. Pertodali,visiteoMercadoMunicipal, apenas para ter uma idéia do que se compra em Cunha. De chapéuebotina,porexemplo,asprateleiras estão cheias. Bem do lado do mercado,umacuriosidade:o“mictóriopúblico”,gratuito,paraocaso de você ficar com vontade de ir ao banheiro. Deufome?AdicaéiratéorestauranteDrão,tododecoradocommotivos indianos. Você pode pedir o filémignonaomolhodegorgonzola, para uma pessoa, por R$ 17,50. Massepreferirumpetiscomaisbarato, vá ao Bar do Veloso, que tem pastéis por R$ 2 e refrigerantes típicos de Interior, desses que vêm em garrafas de cerveja. Ande mais um pouco até chegar ao “salão” do cabeleireiro Francisco Ovídio de Castro Filho. Ele tem um humor que faz morrer de rir qualquercareca.Seu “salão”, porsi só, já é uma piada – deve ter uns 2 metros quadrados e apenas uma poltrona. Talvez a alegria com que Castro trata os turistas se deva ao fato de que ele já foi palhaço de circo. Hoje, quando não está cortandocabelos,seu passatempoétocar violão para quem passa na rua. É especializado em cortes masculinos e sabe valorizar seu trabalho: “Sou um dos cabeleireiros que cobram mais caro aqui em Cunha.” Jura? Quanto é? “Custa R$ 5.” VIAGEM FEITA A CONVITE DO HOTEL FAZENDA SÃO FRANCISCO
Umlugarcom muitasfestas ehistórias LUCAS FRASÃO/AE
Igreja da Matriz é point da cidade
Diz a lenda que Nossa Senhora da Conceição foi quem escolheu, em 1731, o centro da cidade como endereço para Igreja da Matriz. Na época, os portugueses da família Falcão,umadasprimeirasachegar naregião,ergueramumacapelaparaasantaemoutrolocal.Aimagem sumiu de lá três vezes e apareceu ondefoifeitaeaindaestáaconstrução. Hoje, é por lá que ocorrem as principaisfestasdacidade,sobretudo as religiosas. Um dos eventos mais esperados do ano, que ocorre no entorno da IgrejadaMatriz,éaFestadoDivino EspíritoSantodeCunha,umatradição iniciada há mais de 250 anos. A comemoração, sempre em julho, consegue reunir boa comida, oraçõesemuitasapresentaçõesfolclóricas. Os grupos de jongo, moçambique e congada são os destaques da festa. Os dois últimos homenageiam São Benedito. Outracomemoraçãobem popular em Cunha é a festa de Nossa SenhoradaConceição,apadroeirada cidade, que ocorre em 8 de dezembro. Além de missas e procissões, a festa tem barraquinhas com comidas e bebidas. Milagreiradacidade Ela(ainda)nãotemfesta,muitomenoséreconhecida comosantapela Igreja Católica. Mas, em Cunha, a curandeira Maria Guedes, nascida no século 19 e conhecida como Sá Mariinha, é “santa” milagrosa das mais populares. A lenda diz que ela foi declarada morta aos 12 anos e, sem ter sido enterrada, voltou à vida. Então, virou vidente, benzedeiraepassouareceitarremédiospara a população. Depois de sua morte, em 1959, o bairro das Três Pontes, ondemorava,viroucentrodeperegrinação. (L.F.)
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CUNHA >> ARTESANATO LUCAS FRASÃO/AE
VOCAÇÃO HISTÓRICA > Dos índios do passado aos moradores atuais, todos fabricam utilitários
Estilode vidamoldado emargila O
s índios que habitavam a regiãodeCunhaséculosatrásjá moldavampeçasdebarro–oclima úmidodaáreagaranteargiladequalidadeatéhoje–,masfoisóem1975 que a cidade começou sua trajetóriacomopólodacerâmica.Naqueleano, AlbertoCidraes, Toshiyuki e MiekoUkeseki,eosirmãosVicente e Toninho Cordeiro se instalaram no local em que funcionava o antigomatadourodeporcosdacidade, cedido a eles pela prefeitura. O objetivo: fazer cerâmica. Com a ajuda de amigos, construíram o primeiro noborigama, uma espéciedefornoemdegraus.Deorigem oriental,atécnicaéusadaparavitrificar a cerâmica, com queimas que duram até 30 horas (a temperatura ultrapassa os 1.400 graus). A arte encantou os moradores. Tanto é que hoje há cinco desses fornosna cidade – o que foi instalado no matadouro não existe mais e o espaço deu lugar à Casa do Artesão, onde é possível encontrar peças cerâmica e artesanato. Alguns moradores montaram
seus ateliês, como Leí Galvão e AugustoCampos,queforamaprendizesnoantigomatadouro.Alémdisso, novos ceramistas chegaram e, assim, Cunha se consolidou como um dos maiores pólos ceramistas daAméricaLatina,reconhecidointernacionalmente. Oficinas O português Alberto Cidraes – do grupo inicial, só ele e Mieko continuamlá–criouumprogramadeoficinas na cidade. “Acho importante o intercâmbio com os visitantes. Não gosto da palavra ‘turistas’, que meparecemuitosuperficial”,justifica.Emseu ateliê,Cidraesmontou umalbergue,comdiáriaaR$25por pessoa,emquartocoletivo.Noateliê do Antigo Matadouro, como ele batizou seu local de trabalho, uma das peças mais interessantes é o Udu,instrumentomusicaloriginário da África. Custa R$ 150. No ateliê de Gilberto Jardineiro e Kimiko Suenaga, a abertura do fornovirouumaverdadeira festa.Trata-sedeumprocedimentogradual,
em que as fornalhas do noborigama são abertas uma a uma, a cada duashoras.Oeventoreúnehojecercade 400 pessoas, com direito até a coquetel. Jardineiro explica o processo da cerâmica com entusiasmo e, no fim, não há quem não saia de lá com, pelo menos, alguns copos ou pratos,quecustamR$5eR$7.“Nós não queremos só vender, gostamos de conhecer as pessoas que compram. Isso é muito positivo.” A opinião de Mieko é parecida. Paraela, ocontatocom oconsumidor final é enriquecedor. Quando cria suas peças, que podem custar atéR$2mil,ajaponesatentaseinspirar na natureza. Plantas, nuvens, eatéodetalhedeumasemente:em suasmãos,tudopodevirarcerâmica. Para o marido e ceramista Mario Konishi, o trabalho é também questãodedisciplina.“Nossocasamentofuncionaemregimedeseparação de ateliês.” Raku Dulce Madalena e Arthur Guimarães de Almeida preferem ser chamados pelos nomes budistas, Gitika e Zahiro Anand. Eles foram a Cunhapelaprimeiravezemfevereirode2001.Emjulho,mudarampara lá e começaram a produzir cerâmica usando a técnica do Raku, muito mais rápida que utilizar os noborigamas. Osdoisfazemumaapresentação que reúne 30 pessoas (custa R$ 10 para cada um) e duracerca deduas horas. Vale a pena esperar: quando ofornoéaberto,aspeçasaparecem incandescentes, um momento de euforia para os convidados, que queremfazerinúmerasfotografias. A regra é não usar o flash, para não estragar a luminosidade natural. (Lucas Frasão)
Cachaçaéarte nacidadedas peçasdebarro
N
Criações do artesão Alberto Cidraes, que tem até albergue em seu ateliê
a cidade da cerâmica, até cachaça vira arte em peças de barro. Quem lançou a moda foi o ceramistaJoséCarlosCarvalho,para o alambique do empório Renzi, há dois anos no mercado. Ele criou uma peça para engarrafar uma série especial da bebida, produzida commalteimportado.CustaR$60, enquanto o preço da garrafa normal de 750 ml sai por R$ 20. Outra graça no Renzi é a forma comoadestilariafoiconstruída.Como os fornos noborigamas de Cunha,oalambiquefoifeitoemdegraus,comníveisdiferentesparafacilitaroescoamentodolíquido.Por isso, o turista que for até lá, além de ser bem recebido pelos funcionários, vai entender de uma maneira bemdidáticaoprocessodadestilação da cachaça. Já no alambique da Colar de Ouro, com 13 anos de existência, a cachaça só sai dos tonéis de carvalho depois de envelhecer por cinco anos.Lá,aproduçãoanualdabebida chega aos 4 mil litros. Outra especialidade da casa é o poire, um destilado à base de pêra. Parafazer 200litros anuais dabebida, a fazenda tem cerca de 500 pés da fruta. A garrafa de 700 ml custa R$ 45. “No free shop, o turista vai pagar cerca de R$ 200 por uma garrafinhade350 mililitros”,diz oproprietário do alambique, Paulo Capellari.JáacachaçadaColardeOuro sai por R$ 15. Quando for a Cunha, aproveite para fazer um estoque da bebida. (L.F.)
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CUNHA >> AVENTURA LUCAS FRASÃO/AE
MUST > Reserve um dia para visitar o topo da Pedra da Macela, a 1.860 metros de altura, com vista impressionante; trecho final requer preparo físico
Nocardápio, trilhaerapel
Muitaágua Reserve pelo menos uma manhã
para conhecer as Cachoeiras do DesterroedoPimenta.IndopelaEstrada do Monjolo, a primeira fica a 6 quilômetros a partir do asfalto. A outra está 3 quilômetros adiante. NoDesterro,duasquedasd’água formamumapiscinanaturalefavorecem a prática de esportes radicais, como o rapel. No Pimenta, a queda é um pouco maior e a piscina, mais rasa. Delá,caminhemaiscincominutoseváaté omuseu daantigausina hidrelétricadacidade,ondenãohá muito mais para conhecer do que uma turbina velha – é verdade. Aproveite para se abastecer na pequena lanchonete. Outras aventuras próximas de CunhaestãonoParqueEstadualda Serra do Mar, onde há três opções de trilhas. Duas delas só podem ser percorridascomauxíliodeguiasespecializados. O passeio pode ser marcado pelo telefone (0--12) 3111-2353. Para chegar lá, saindo do centro da cidade, são 30 quilômetros,20porterra.Oacessoépela Cunha-Paraty, na altura do km 56,5. (Lucas Frasão)
Cachoeira do Pimenta tem queda considerável e forma uma piscina rasa, boa para espantar o calor
Guia JT Hoje: Interior ONDE FICA MG SP
RJ
Guaratinguetá
Paraty Cunha
São Paulo PR SC
Atmosferadefazendaantiga
C
achoeira de 15 metros, trilha até o mirante e muitos animais, incluindo um jegue de 16 anos – o mascote Virgulino. AtraçõescomoessasfazemdoHotelFazendaSãoFranciscoumaopçãode hospedagem familiar em Cunha. O clima é de montanha. Os chalés têm lareira e, na piscina, um bar molhadoéaalternativaparaosdias mais quentes.
CUNHA >>DeSãoPaulo,váatéokm65da Rodovia Presidente Dutra, no trevodeGuaratinguetá.PelaRodovia Paulo Virgínio (SP-171), são mais 47 quilômetros até Cunha. Você vaigastarR$41depedágio
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metros de uma subida íngreme, que dura 40 minutos. No caminho, háo início de uma outra trilha, a do ouro,quesegueparaoLitoral.Aqui e ali, você poderá ver a plantinha quedánomeàmontanha.Aaromática macela é muito usada, por exemplo, para fazer travesseiros. Logoqueentrarnaestradadeterra,vocêvaificarcuriosoquandoencontrar um galpão: ali são cultivados shitakes deliciosos. Deixe para passar lá na volta, e aproveite o almoço no Taberna, um restaurante em que o cogumelo é base para os pratos. Durante o verão, a dica é a feijoadadeshitake,quecustaR$19. Para o produtor Carlos Shuch Filho,oclimaúmidodeCunhafavorece o crescimento do shitake nas torasdeeucalipto(sãooitomesesparaficarnoponto).Osprodutoresestão acostumados a receber turistas eexplicamoprocessotintimportintim, quantas vezes for necessário. Se quiser levar shitake para casa, o quilo sai por R$ 25.
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solada pelas Serras do Mar, da Bocaina e da Quebra-Cangalha –são quase1.500 quilômetrosquadradosdemuitoverde(áreaparecida com a de São Paulo) –, Cunha temopçõesdesobraparaquemestá em busca de aventura. E um dos roteiros mais famosos na região é, sem dúvida, a Pedra da Macela. Para alcançar o topo, a 1.860 metrosdealtura,vocêprecisarádeum dia inteiro. Mas cada minuto vale a impressionante vista das Baías de Paraty, Ilha Grande e Angra dos Reis.Comocéubemlimpo,avisibilidade é tanta que será possível ver o risco das lanchas no mar. O trajeto, no entanto, não é simples.Saindodocentrodacidade,dirija por meia hora até o km 65 da Estrada Cunha-Paraty. Lembre-se de levar água e algum petisco na mochila – lá em cima, não há nada. A partir daí, há mais 2,7 quilômetrosemumatortuosaestradadeterra. Se chover, a previsão é de algum stress no caminho. A última etapa até o topo, apesar deserasfaltada,requerpreparofísico dos turistas. São mais 2,7 quilô-
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