Bruno Azevêdo

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DIVULGAÇÃO

ARTE SEQUENCIAL. Um dos mais inventivos escritores de que se tem notícia no atual panorama da produção literária nacional, o maranhense Bruno Azevêdo edita e distribui seus livros por conta própria – provando, mais uma vez, que chorar pela falta de incentivo não está com nada. Na fronteira entre o kitsch e a escatologia, o autor dos divertidos Breganejo Blues e O Monstro Souza está de volta com Baratão 66, seu mais novo comentário sobre a realidade social e econômica da cidade de São Luís, no espoliado Maranhão. Repleto de tiradas cínicas e sacadas geniais, o livro traça um perfil pouco lisonjeiro da capital maranhense, sem deixar qualquer espaço para sutilezas. Em entrevista à Gazeta, Azevêdo revê sua trajetória, fala de sua primeira graphic novel e explica como enfrenta (ou seria afronta?) o establishment editorial brasileiro. Vale a pena conferir

Domingo 19/01/2014 LIVROS & IDEIAS O adeus a Juan Gelman, um poeta da memória, não do rancor. B8

ANDRÉ LUCAP/DIVULGAÇÃO

O INFERNO É

FOGO

O escritor e tradutor Bruno Azevêdo: voz periférica que recusa classificações, o autor de Breganejo Blues – Novela Trezoitão, O Monstro Souza e A Intrusa fala ao mundo direto do Maranhão

LUÍS GUSTAVO MELO REPÓRTER

No centro das atenções da mídia nacional em virtude de mais um asfixiante sintoma da podridão do poder público local (com a apavorante tragédia no presídio de Pedrinhas levando às manchetes e aos lares brasileiros cenas que não soariam estranhas num filme de terror rasteiro ao estilo Jogos Mortais), o estado do Maranhão não é apenas mais um dos muitos celeiros oligárquicos espalhados pelo território nacional; é o mais longevo feudo patrimonialista brasileiro, que, sob a influência do clã Sarney, há décadas registra o mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), indicador social traduzido na maior taxa de mortalidade infantil do país, no mais elevado patamar de pobreza extrema e no menor número de médicos por habitante. É nesse cenário de grandes contrastes, no qual o moderno e o arcaico convivem lado a lado e os mais obscenos exemplos de concentração de renda herdados do colonialismo português se manifestam de forma escancarada, que o escritor e tradutor maranhense Bruno Azevêdo compõe o universo de suas histórias povoadas por personagens bizarros, em um trabalho autoral saborosamente criativo que mistura linguagens que vão da publicidade à literatura pulp, passando por quadrinhos, fotonovelas, manchetes de jornal e RPG. Foi assim em Breganejo Blues – Novela Trezoitão, romance policial de corno inspirado nos quadrinhos do Tex; no livro mutante O Monstro Souza,

sobre um cachorro-quente serial killer que apavora ruas e becos da cidade de São Luís, e no romance feminino A Intrusa. Primeira graphic novel de Bruno Azevêdo, Baratão 66 não seria diferente. Realizado em parceria com o artista gráfico Luciano Irrthum, o livro, outra obra contundente, traz o habitual arsenal de referências do autor, abrindo espaço para toda sorte de escatologias e excentricidades que, no final das contas, se revelam tão plausíveis quanto qualquer bizarrice estampada nas manchetes dos jornais e presentes nos buracos mais sórdidos das capitais provincianas.

TOLERÂNCIA A história tem como cenário o Baratão 66, proeminente salão de depilação que, com um simples giro no letreiro, a partir das 18h se transforma no Baratão 69, casa de tolerância onde coronéis, políticos e mentecaptos de todas as estirpes se encontram e nos fazem lembrar que este distinto ambiente de trabalho nada mais é do que uma representação da nossa própria realidade nacional. Nas palavras do quadrinista Allan Sieber, que assina o texto da orelha do livro: “O maranhense Bruno Azevêdo faz misérias na Terra da Miséria administrada pelo clã dos Sopraneys”. Entre o grotesco e o escatológico, em Baratão 66 Bruno Azevêdo compõe mais uma de suas imaginativas e ácidas críticas ao panorama social e político da capital maranhense, numa narrativa repleta de ótimas sacadas e citações brilhantes, como por exemplo na passagem em

que o autor incorpora trechos do discurso de posse de José Sarney como governador do Maranhão, em 1966. Nesse aspecto, o autor explica à nossa reportagem que o objetivo é mesmo o de mostrar os contrastes entre os aspectos arcaicos e provincianos da realidade local e as tentativas de impor mudanças estruturais sobre um terreno árido e extremamente miserável. No gibi, tudo isso é representado alegoricamente por um bordel podre, que durante o dia funciona como um salão de depilação prestes a se tornar franquia de uma rede de estabelecimentos de estética do Sudeste. “O livro continua uma proposta que vem desde o primeiro livro, que é a de devolver de alguma maneira a experiência de cidade e de discursos sobre a cidade que São Luís acaba por provocar; nesse caso, me interessavam os discursos sobre a modernização do lugar”, observa o autor, cuja verve criativa rebate formidavelmente aquela conhecida tese, há muito defendida por alguns críticos, de que o Brasil possui muitos ilustradores de talento, mas carece de bons roteiristas. Em entrevista à Gazeta, Bruno Azevêdo, que no momento trabalha na fotonovela Nonato, Meu Tudo, rememora lances de sua trajetória no dinâmico cenário dos fanzines de meados da década de 1990 (período no qual travou contato inicial com muitos de seus parceiros atuais), fala de Baratão 66 e comenta o desafio de editar e promover por conta própria seus livros na periferia do grande mercado. É o que você lê a seguir. ‡ Continua nas págs. B2 e B4

Serviço Título: Baratão 66 Autor(es): Bruno Azevêdo e Luciano Irrthum Editora: Pitomba/Beleléu Preço: R$ 30 (188 págs.) Onde encontrar: no site pitomba.iluria.com ou via email (bazvdo@hotmail.com)


B 2 Caderno B

GAZETA DE ALAGOAS, 19 de janeiro de 2014, Domingo

CONTINUAÇÃO DA PÁG. B1. Bruno Azevêdo fala de seus contatos iniciais no universo dos fanzines, sobre as dificuldades de entrar no grande mercado e do desafio de tocar sozinho um selo editorial de forma absolutamente independente

“TENHO CARTAS DE RECUSA DAS MAIS VARIADAS EDITORAS”, ELE CONTA

MÁRCIO VASCONCELOS/DIVULGAÇÃO

Com Baratão 66, o escritor e tradutor maranhense chega ao sétimo livro LUÍS GUSTAVO MELO REPÓRTER

Gazeta. Bruno, você publicou recentemente o gibi Baratão 66. Eu gostaria que você falasse um pouco sobre esse álbum. Bruno Azevedo. O Baratão 66 é meu sétimo livro, e só com ele pronto fui perceber que é meu primeiro gibi “de verdade”; digo, sempre me vi como um escritor “de quadrinhos”, mas fiz seis livros totalmente diferentes antes de conseguir realizar uma graphic novel. O livro continua uma proposta que vem desde o primeiro livro, que é a de devolver de alguma maneira a experiência de cidade e de discursos sobre a cidade que São Luís acaba por provocar; nesse caso, me interessavam os discursos sobre a modernização do lugar. O livro é desenhado pelo Luciano Irrthum, que conheci ainda nos anos 1990, com os zines e tudo mais. Ele consegue tornar uma proposta e um ambiente podre e escatológico em algo ainda mais podre e mais escatológico.

Em meados dos anos 1990 você esteve bastante envolvido com fanzines. Poderia falar sobre essa fase específica de sua produção? Como era o cenário independente em São Luís naquela época? É intrigante que os zines tenham voltado à pauta este ano. O Baratão 66, se você reparar, é uma pequena reunião de zineiros: O Irrthum, que começou por lá e que eu lia, o Baiestorf (cineasta catarinense), que também conheci pelos zines e de quem sou puta fã, e o Sieber, outro egresso da cena zineira dos 90. Interessante também é sacar que aí tem um maranhense, um mineiro, um catarinense e um gaúcho, que nunca haviam se visto até este ano (o Baiestorf eu não conheço pessoalmente ainda), e se correspondiam quando não havia e-mail. A cena era muito rica e, para mim, bastante libertária, eu não seria um autor e editor não fosse a possibilidade de começar com os zines. Em São Luís rolava uma cena fértil desde os anos 70, com grupos de poesia, entrando nos 80, com grupos de quadrinhos como o Grupo de Risco/Singularplural, com caras como Joacy Jamys (certamente minha maior influência e o maior punch do “faça vo-

Bruno Azevêdo gosta de ter companhia no processo de criação. Tanto, que seu próximo trabalho, a fotonovela Nonato, Meu Tudo, de 150 páginas, sairá como um livro coletivo

Mais do autor

BRUNO AZEVÊDO ESCRITOR E TRADUTOR

“Há pouquíssimas editoras grandes e pequenas no Brasil que não tenham recebido um original meu. Tenho cartas de recusa das mais variadas aqui. Por mais de uma década tentei entrar ‘no mercado’, mas isso não rola se você não preencher certos pré-requisitos que eu não preencho. A Pitomba, minha editora, surgiu dessa sacação. É muito fácil imprimir um livro hoje, desde que você tenha algum dinheiro; eu já tinha alguma experiência com os zines e resolvi tentar no ‘Quer fazer? Faz’. Deu um bocado certo, considerando que é uma operação de um homem só”

REPRODUÇÃO

Em Baratão 66 você divide os créditos com o mineiro Luciano Irrthum. Em seus livros o diálogo entre seu texto e o trabalho dos artistas gráficos com quem você estabelece parcerias parece ocorrer de maneira bastante natural. Você sempre produziu nessa dinâmica de criar junto com os ilustradores? Sim, o trabalho é e sempre deve ser uma coautoria, seja lá com quem for. No Monstro Souza, chegamos a um momento no qual não se sabia mais de quem eram as ideias e as intervenções, de maneira que chegamos a um ponto no qual o Gabriel [Girnos] não era mais o programador visual, por assim dizer, do livro; era tão autor quanto eu era. Com o Irrthum o processo foi puta instigante, primeiro porque eu sou fã do cara há muito tempo, e nunca imaginei que ele toparia uma loucura dessas. O livro foi escrito pensando na porrada do Irrthum e no estilo de narrativa e composição que o desenho de-

le pede, mas o que voltava desenhado (e o Irrthum não manda esboços a lápis como a maioria dos desenhistas) não era exatamente o que estava escrito, tudo vinha recheado de uma podridão fantástica, é como se o Irrthum entendesse o que é estar em São Luís. Quase todos os meus trabalhos têm um coautor. Este mês vou produzir uma fotonovela de 150 páginas, com elenco e tudo mais, e tenho certeza que no final vai ser um livro coletivo. Assinar uma obra coletiva como sua é um lance meio cínico, que foi o que o Gabriel e eu tentamos dizer com “um livro de” na capa de O Monstro Souza (um livro construído por sei lá quanta gente); os cineastas têm essa pachorra de assinar só o que não é só seu. Nós não.

OUTROS OLHOS – No livro A Intrusa, Bruno Azevêdo revisita o universo dos romances femininos de banca e atinge leitores pouco afeitos ao gênero

cê mesmo”); entrei na cena do meio para o fim dos anos 90, com o grupo Área de Mancha/Fator RHQ, mas fiz a maioria dos meus zines só ou com o Diogo Henriques. Alguns desses caras ainda produzem HQs, outros viraram funcionários públicos, mas os zines em geral deram uma caída com os blogs e parecem estar voltando agora. A Pitomba Livros e Discos editará alguns zines em 2014.

Na sua opinião, o cenário de São Luís é mais inspirador agora ou era mais interessante há dez ou 15 anos? Putz, isso é uma pergunta meio foda. Posso dizer que meu desprazer com a cidade é maior hoje do que era há 15 anos, e que há, ao menos na música, muita gente boa produzindo. A cidade continua um gigantesco buraco, e a produção continua engessada pela lógica do apoio oficial, assim como a literatura, em boa parte, ainda tá preocupada em agradar (e agradar é uma merda, convenhamos). Meu interesse na cidade ocorre exatamente da percepção de que não se escreve sobre o lugar fora do discurso oficioso, e que se é para deixar algo, que seja algo pancada. Você parece conseguir obter sempre uma boa repercussão a cada novo título lançado. Como trabalha a divulgação dos seus livros? Antes de publicá-los por sua própria editora tentou levá-los a alguma companhia? Há pouquíssimas editoras grandes e pequenas no Brasil que não tenham recebido um original meu. Tenho cartas de recusa das mais variadas aqui. Por mais de uma década tentei entrar “no mercado”, mas isso não rola se você não preencher certos prérequisitos que eu não preencho. A Pitomba, minha editora, surgiu dessa sacação. É muito fácil imprimir um livro hoje, desde que você tenha algum dinheiro; eu já tinha alguma experiência com os zines e resolvi tentar no “Quer

fazer? Faz”. Deu um bocado certo, considerando que é uma operação de um homem só. A divulgação é feita num esquema de guerrilha, ligo para mil pessoas, mando mil livros, escrevo mil e-mails e tudo mais; só 1% disso causa algum efeito, porque boa parte da grande mídia é comprada ou trabalha com material de assessoria; um livro como A Intrusa, por exemplo, foi enviado para todas as revistas masculinas e femininas, liguei para os repórteres e editores dessas revistas (é inegável que o livro é pauta para essas revistas), mas nenhuma soltou um pio. Por outro lado, quando a coisa bate ela bate, e isso é massa. O fato de estar em uma periferia e falar de marginais me torna uma voz puta periférica, de múltiplas periferias ainda não hypadas. Não me interessa o queixume, enfim. Esse ano continuarei com a guerrilha, mas devo contratar uma assessoria no Centro-Sul.

Em seu livro anterior, A Intrusa, você escreveu um texto que reconstrói minuciosamente a trajetória das publicações voltadas para o público feminino. Como surgiu a ideia de mergulhar nesse universo das revistas Sabrina, Bianca e Júlia? O que te instigou a publicar um livro que remete a esse gênero literário? Como disse anteriormente, me interessam os marginais. Eu tinha passado uns anos estudando o brega, e isso rendeu o Breganejo Blues e uma dissertação que lanço este ano. Como leitor de banca desde criança, sempre fiquei curioso com aqueles livrinhos com nome de mulher e um casal na capa quase se comendo. Em 2008 resolvi simplesmente comprar um e ler, para ver qual era. Bateu gostoso. Empolgado e de pau duro, caí de boca nos romances, que são também marginais no campo literário. A Intrusa é um exercício de reconhecimento do gênero, que deve ficar maior numa pesquisa de doutorado em breve. ‡

Se você ficou curioso e muito a fim de conhecer outras obras de Bruno Azevêdo, vá logo ao site pitomba.iluria. com e garanta seu passaporte para uma viagem por essas narrativas incomuns, mas todas de viés pop

‡ A INTRUSA Definido pelo jornalista e escritor Xico Sá como “um erotismo de banca capaz de reverter a mais enjoada das menopausas de todos os caritós”, o livro é inspirado (e como) no universo de romances populares da estirpe de Sabrina, Bianca e Júlia.

Editora: Pitomba/Beleléu Onde encontrar: pitomba.iluria.com Preço: R$ 20 (105 págs.)

‡ O MONSTRO SOUZA – ROMANCE FESTIFUD Assim como faz em Breganejo Blues, em O Monstro Souza Bruno Azevêdo mistura prosa com outras linguagens para compor a narrativa sobre um tipo corpulento e misterioso a quem muita gente recorre para driblar a solidão. O detalhe (bizarro?) é que essa figura é um cachorro-quente.

Editora: Pitomba Onde encontrar: pitomba.iluria.com Preço: R$ 20 (244 págs.)


B 4 Caderno B

GAZETA DE ALAGOAS, 19 de janeiro de 2014, Domingo

CONTINUAÇÃO DA PÁG. B1. Na última parte da entrevista, Bruno Azevêdo refuta qualquer tipo de ‘classificação cultural’ no que se refere ao público leitor que pretende atingir: “Quero estar nas paradas de ônibus, embaixo do balcão da farmácia, onde a mocinha aguarda a ausência de clientes para ler”, ele diz

“ME INTERESSA SER LIDO PELO PÚBLICO QUE LÊ TEX E SABRINA” Referências do que o senso comum chamaria de ‘baixa cultura’ são marcantes em obras como Breganejo Blues e A Intrusa LUÍS GUSTAVO MELO REPÓRTER

Gazeta. Os livros Breganejo Blues e A Intrusa têm em comum o fato de você usar como referências publicações consideradas pelo senso comum como ‘baixa cultura’. No caso, os gibis do Tex e os livrinhos de banca voltadas para o público feminino. Escrever esses livros utilizando ele-

mentos dessas publicações teria sido uma forma de subverter a velha postura das pessoas de encará-los como uma arte menor? Bruno Azevêdo. Não acredito em alta ou baixa cultura, artes menores ou maiores, mas entendo que estas classificações existem e têm grande eficácia simbólica, geralmente fora de seus nichos nativos. Tive uma formação acadêmica

bastante tardia, e recusei essas classificações, daí que o Tex e as fotonovelas são informação como qualquer outra. Me interessa, sinceramente, ser lido pelo público que lê Tex e Sabrina, quero estar nas paradas de ônibus, embaixo do balcão da farmácia, onde a mocinha aguarda a ausência de clientes para ler, só que quero isso fazendo o que eu faço, e não acho

REPRODUÇÃO

LADO B – Lâmina da graphic novel Baratão 66, desenhada pelo mineiro Luciano Irrthum e escrita por Bruno Azevêdo: na história, uma casa de depilação vira prostíbulo

que isso seja inviável. A questão é que estes locais são ocupados por literatura de grande mercado, o que não quer dizer literatura ruim – que isso, vá lá, nem existe.

Voltando um pouco ao início de sua carreira, quais foram suas grandes referências no universo pop como um todo? Os fanzines e as histórias que você pro-

duzia há dez, 15 anos já apresentavam características e elementos narrativos ao estilo de títulos como Breganejo Blues e O Monstro Souza, por exemplo? Sim, sim. Meus zines tinham colagens, quadrinhos sem desenhos e coisas do tipo, muita coisa roubada, desviada e torta. Naquela época descobri o Mutarelli, lia muito Josué Montello, ouvia punk

rock e lia gibis da Marvel. O acesso a livros e discos em São Luís até a era da web era extremamente precário, então o pouco que caía na nossa mão era devorado. Li Duna umas três vezes e essas coisas ficavam latejando; os zines foram uma mudança paradigmática radical, porque até então eu não sonhava que aquilo pudesse existir. Os RPGs também eram uma fonte de informação e narrativa riquíssima (os romances de Shadowrun são do caralho!).

Você criou a editora Pitomba para lançar seus livros com uma autonomia que dificilmente teria em outro selo, correto? Você também publica livros de outros autores? O que veio primeiro, a revista que você edita em parceria com Celso Borges e Reuben da Cunha Rocha, ou a editora? Correto. A Pitomba sai dos meus trabalhos como tradutor. A editora veio primeiro, através de um manifesto que escrevi em 2009. O primeiro lançamento foi o Breganejo Blues, que lancei no FIQ daquele ano e abriu muitas portas. A revista veio bem depois, por iniciativa do Celso e do Reuben; eles são a mola motriz da revista, dois caras muito mais ligados e antenados com a poesia do que eu e tudo mais.

ROMEU DE LOUREIRO O colunista está em férias e retorna em fevereiro

Você é o criador de uma série chamada O Matador de Funcionários Públicos. Qual a reação dos funcionários públicos de sua cidade a essa história? Pouca. Os funcionários públicos não precisam fazer absolutamente nada para garantir sua bonança vitalícia, incluindo responder a seus detratores. O funcionário público, via de regra (e preciso deixar claro que o Matador é o que o Reuben chama de “uso positivo de um preconceito”), é a pessoa que cumpriu a última etapa daquilo que foi formado para fazer. O cara entra na escola e passa 18 anos aprendendo a passar no vestibular, depois passa mais quatro aprendendo a passar num concurso, para poder passar o resto da vida sem aprender nada ou fazer nada porque seu local no mundo está perfeitamente definido. A própria ideia de estabilidade (nestes termos do FP) é tão monstruosa e imoral que dá vontade de desapropriar um quando em vez. ‡


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