Especial Rock

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Gazeta de Alagoas

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| DOMINGO, 18 DE JULHO DE 2010 |

Reprodução

DOSSIÊ ROCK Você pode até pensar: “Dia Mundial do Rock, de novo?”. Mas antes de largar o jornal, dê só uma conferida na historieta que abre nossa edição especial de domingo. O texto é do estudante de Jornalismo Luís Gustavo Melo, que faz estágio supervisionado aqui no B desde os últimos dias de maio. Conhecedor de rock com dotes de pesquisador, Guga, como é chamado na Redação, trabalhou com insuspeita sistemática na coleta das informações que compõem este pequeno almanaque histórico. Sempre a consultar suas fontes, espalhadas em livros e revistas de toda sorte, percorreu detalhadamente a trajetória do gênero que transformaria para sempre a cultura ocidental. O resultado de tamanho esmero pode ser constatado ao longo de todo o caderno, numa reportagem que passeia pelas veredas iniciáticas do estilo e revê todos os lances de sua história até aqui. De quebra, você ainda vai conferir uma entrevista com o jornalista e escritor Roberto Muggiati, um dos maiores especialistas brasileiros no tema. Não dá para perder

Elvis Presley, o caipira do Mississipi que se transformou num astro de escala planetária

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Let’s rock, baby! Música híbrida e mutante por natureza, a história do gênero está repleta de rachas, rupturas e retomadas. De sua fase iniciática, lá nos anos 50, até aqui, hoje você vai saber como o fenômeno se espalhou pelo mundo | LUÍS GUSTAVO MELO Estagiário

Há certas coisas que, se analisadas com distanciamento, simplesmente fazem a gente se perguntar como podem ter acontecido de fato. De outra forma, quem em sã consciência seria capaz de imaginar que um caipirão simplório do Mississipi, trabalhando como motorista para uma companhia elétrica e de passagem por um pequeno estúdio de gravação em Memphis, daria início a um dos maiores fenômenos da cultura ocidental do último século? Pois o rock ‘n’ roll surgiu exatamente assim; de um desses rasgos de intuição que muito raramente acontecem e, quando ocorrem, são capazes de mudar o mundo. Foi numa tarde qualquer de julho de 1954 que esse jovem, um tal de Elvis Presley, tirava um som no estúdio da Sun Records com o guitarrista Scotty Moore e o baixista Bill Black, dois músicos brancos, quando de repente começou a extrair estranhos acordes, num ritmo sincopado, em cima de um blues de Arthur “Big Boy” Crudup. A música: That’s Allright. Lá atrás, na mesa de controle, Sam Phillips – produtor e proprietário da Sun – gritou: “Seja lá o que for isso que você está fazendo, vá em frente!”. Segundo os anais, este foi o marco zero. “Se eu descobrisse um branco que canta como negro, faria um bilhão de dólares”, disse Phillips, antes de conhecer Elvis. E Elvis apareceu. Um branco que cantava e dançava como um negro, com um inimaginável crossover de música hillbilly (caipira) e country and western, estilos associados aos músicos brancos das comunidades interioranas dos EUA, com rhythm’n blues, música de origem negra. Um tremendo choque cultural. É claro que tamanha novidade causou certo estranhamento, sobretudo no campo pragmático, pois o mundo do showbusiness não sabia como classificar o novo ritmo, muito menos como encaixálo nas playlists. Tudo era muito segmentado. Música negra numa parada, country em outra, e assim por diante. O rock ‘n’ roll acabou com tudo isso. Música híbrida e mutante por natureza, a história do gênero está repleta de rachas, rupturas e retomadas – justo por seu hibridismo, sempre apresentou uma fantástica capacidade de se reinventar, assimilando elementos de outros estilos e mantendo-se, assim, sempre jovem. Um

jovem senhor que já conta com bem vividos 56 anos. A bem da verdade, é preciso dizer que Elvis não foi o precursor do rock ‘n’ roll. Ninguém, aliás, pode receber esse mérito sozinho. Elvis despontou no cenário pop mundial na condição de elemento catalisador de certas tendências que foram surgindo em meio a um momento bastante favorável para que as coisas acontecessem. Antes dele aparecer, o estilo começava a se manifestar, ainda que em estágio embrionário, por volta de 1952, época em que o primeiro disc-jóquei de rock, Alan Freed, promovia sua Moondog’s Rock and Roll Party, tocando os novíssimos sons de rhythm’n blues em bailes para lá de alucinados. E músicos negros como Little Richard, Chuck Berry e Bo Diddley já “rockavam e rollavam” por aí há algum tempo. Por ser um garotão carismático, bonito e, principalmente,

branco, Elvis Presley era o único entre os pioneiros com potencial para atingir a garotada em escala planetária. Sim, os anos 50 deram sua arrancada em ritmo de mudança. Eram tempos agitados. Os negros começavam a manifestar mais ativamente sua indignação; muita luta, muito sangue... Logo a rebeldia do rock passou a ser identificada à rebeldia racial, e os jovens brancos da classe média norte-americana, que começavam a questionar os valores de seus pais, tornaram-se cúmplices dos negros. A moçada estava a fim de vibração e havia uma necessidade latente de se consumir rebeldia. No lastro dessa demanda, logo surgiram outras grandes estrelas dos chamados “anos heróicos” do rock: Bill Halley, Jerry Lee Lewis, Carl Perkins, Johnny Cash, Gene Vincent, Eddie Cochran, Buddy Holly, entre muitos outros. O rock seguiu sua

alegre cruzada até meados de 1959, quando a maioria de seus representantes caiu em desgraça pelos mais diversos motivos, alguns deles inclusive morrendo tragicamente. Para muitos, foi o fim de uma era. Deu-se aí um nebuloso período, entre 1959 e 1964, no qual se disse que o rock havia se extinguido, deixando o campo livre para modas como o twist e o surgimento de tipos danosos ao gosto da garotada mais esperta, como os terríveis ídolos adolescentes que a indústria impingia na maior cara-de-pau, a exemplo de Frankie Avalon, Neil Sedaka e Bobby Vee. O que muitos não sabiam é que o rock continuava bem vivo, ainda que no underground. Desde meados de 1958/1959, grupos como os Wailers capitaneavam toda uma nova cena de bandas de garagem no noroeste dos EUA, com formações como The Kingsmen, The Sonics e Paul

Revere & The Raiders quebrando tudo em shows incendiários. Outro importante estrato da cultura pop daquele início de década foi o fenômeno da surf music, que num período de dois a três anos gerou uma infinidade de conjuntos instrumentais em diversas comarcas americanas. Mas, de fato, o rock só recuperou o fôlego como fenômeno de mídia quando os Beatles apareceram em território ianque – deflagrando a chamada invasão britânica. Já foi dito que contar a história dos anos 60 sem os Beatles seria tão possível quanto narrar a Segunda Guerra sem Hitler ou Stálin. A influência do grupo realmente é vastíssima. Com eles surgiu uma nova forma de produzir, pensar e consumir música pop. Na segunda metade da década, o caleidoscópio sonoro do rock já apresentava inúmeras novas cores. Num período marcado por rupturas e revoluções

nas mais diversas áreas, o rock mergulhou fundo nas experimentações. As letras das canções passaram a tratar de temas mais complexos e o gênero entrou de sola no perigosíssimo terreno da “grande arte” – que daria a saída para o aparecimento de aberrações como o rock progressivo e o art rock nos anos 70. Por volta de 1967, o cenário era o mais rico e diversificado possível. Ao lado de nomes estabelecidos como Bob Dylan e Rolling Stones, havia estrelas emergentes como The Who, Jimi Hendrix, The Doors e valores mais marginalizados, porém igualmente importantes, como 13th Floor Elevators, The Chocolate Watchband, Velvet Underground, Stooges, MC5 e precursores do heavy metal como os Deviants e o power trio californiano Blue Cheer. Representantes de diferentes correntes e estilos, mas com um importante denominador comum: a invenção. Fotos: reprodução

O adeus ao ‘sonho hippie’ Em 1968, a contracultura estava na crista da onda. Por um breve momento, a juventude sentiu a ilusória sensação de estar no comando. Mas quando a realidade finalmente veio à tona, o baque foi profundo. “História é um assunto nebuloso, por todas as merdas que acabam incluídas mais tarde. Mas, mesmo sem podermos ter nenhuma certeza sobre a ‘história’, parece bastante sensato imaginar que, vez ou outra, a energia de uma geração inteira atinge seu ápice num instante magnífico e duradouro, por motivos que na época ninguém compreende por inteiro – e que, em retrospecto, nunca explicam o que realmente aconteceu”. As palavras do jornalista norte-americano Hunter S. Thompson (1937-2005), em seu livro Medo e Delírio em Las Vegas, sintetizam perfeitamen-

te o sentimento daquela época. Infelizmente os anseios utópicos dessa geração esvaíram-se em meio a contradições e ataques do establishment em todas as frentes. Dentro dessa perspectiva, Woodstock pode até ser visto como uma tentativa da juventude de se apegar aos últimos resquícios do sonho hippie. Esse festival de música popular, realizado numa fazenda no estado de Nova York, em agosto de 1969, virou a maior congregação de pessoas num único lugar até então e, incrivelmente, levou a cabo a promessa de seu cartaz promocional: “Três dias de paz e amor”. Mas o que viria no decorrer daquele ano não teria nada de tão terno ou pacífico. Caça desenfreada aos Panteras Negras, massacre de estudantes em Kent State e o tiro definitivo no sonho hippie: o Festival de

Altamont, a antítese de Woodstock, onde durante um show dos Rolling Stones um grupo de motoqueiros Hell’s Angels (contratados para fazer a seguranças do evento) esfaqueou até a morte um jovem negro de 19 anos. Um dos mais intensos e revolucionários períodos da história da cultura jovem fechava mais um ciclo no rock, de forma trágica. Numa histórica entrevista à revista Rolling Stone, John Lennon declarou: “O sonho acabou. E não estou falando só dos Beatles. Falo é dessa transa de ‘geração’. Acabou e temos que encarar a chamada realidade”. O resto dessa história – pelo menos até aqui –, é o que você confere nas próximas páginas. Dos anos 70 até a década que acaba de terminar, nosso giro pelo universo do rock está apenas começando. |LGM


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| programe-se | TEATRO Quarta no Arena. A Diretoria de Teatros do Estado de Alagoas (Diteal) anuncia a realização da sexta temporada do Projeto Quarta no Arena. Entre os dias 21 de julho e 15 de dezembro, dez espetáculos teatrais de companhias alagoanas serão encenados no Teatro de Arena Sérgio Cardoso – cada grupo fará duas apresentações semanais consecutivas, sempre às quartas-feiras, no horário das 19h30. Quem abre a programação é o Infinito Enquanto Truque (IET), com a montagem Madame, inspirada na obra do escritor e dramaturgo francês Jean Genet (1910-1986). A encenação é de Lael Correa. No elenco, as atrizes Andréia Carvalho, Diva Gonçalves e Ticiane Simões. Ótima oportunidade para conhecer a produção teatral de Alagoas. Anote na agenda. ›› Teatro de Arena. Pç. Mal. Deodoro, s/n, Centro. Abertura: no dia 21 de julho, às 19h30. Ingressos: R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia-entrada). Mais informações: 3315-5665.

EXPOSIÇÃO Olhares para Além do Texto. Resultantes das atividades desenvolvidas na Oficina de Leitura ministrada pela escritora Arriete Vilela, as imagens que compõem a mostra fotográfica buscam revelar os diferentes graus de erotismo presentes no nosso dia-adia. Ao todo, a exposição – cuja abertura será nesta segunda-feira (19), na Galeria de Artes Visuais do Centro Cultural Sesi – traz o olhar de 13 fotógrafos sobre o assunto – e suas temáticas transversais. Os trabalhos podem ser vistos até o dia 22 de agosto. ›› Centro Cultural Sesi. Av. Dr. Antônio Gouveia, 1113, Pajuçara. Abertura: amanhã (19). Entrada franca. Mais informações: 3235-5191 e www.centroculturalsesi.com.br.

Raízes – Nossa Gente. O artista plástico Achiles Escobar apresenta o resultado do projeto desenvolvido em parceria com o Sesc Alagoas. Há cerca de cinco anos, Achiles abriu as portas de seu ateliê para crianças carentes do bairro de Jaraguá e, desde então, elas participam de atividades norteadas pelas expressões populares da cultura de Alagoas. Agora, os trabalhos

podem ser vistos na exposição que será aberta nesta terça-feira (20), às 15h, no Memorial à República. ›› Memorial à República. Av. da Paz, s/n, Jaraguá. Abertura: no dia 20 de julho, às 15h. Visitação: de terça a sexta, das 09h às 17h, e aos sábados e domingos, das 14h às 17h. Aberto ao público. Mais informações: 9908-9584.

›› GAZETA INDICA

Divulgação

MÚSICA Jay Gandharva. O grupo de música indiana se apresenta no dia 23 de julho no teatro do Centro Cultural Sesi, na Pajuçara. No repertório, mantras produzidos a partir de instrumentos ocidentais como violão, viola, violino, percussão e flauta. O Jay Gandharva é formado por Gama Júnior (violão, voz e flauta transversal), Tércio Smith (violino, violão, viola, voz e piano melódico), China (percussão) e Luciano Rasta (percussão). ›› Teatro do Centro Cultural Sesi. Av. Dr. Antônio Gouveia, 1113, Pajuçara. No dia 23 de julho, às 20h. Ingressos à venda na Namastê Casa de Yoga (Av. Sandoval Arroxelas, 830-D, Ponta Verde). Mais informações: 9312-7844.

Latim aos Sábados. Cronista que

TEATRO ›› Quarta no Arena Espetáculo do grupo Infinito Enquanto Truque, Madame é a atração de abertura da 6ª edição do projeto: dia 21 de julho, no Teatro de Arena

Ney Matogrosso. Agora sem o figurino extravagante e o comportamento exuberante do apoteótico Inclassificáveis, o cantor aporta em Maceió com o show de seu mas recente disco, Beijo Bandido, cujo repertório traz a canção A Cor do Desejo, dos alagoanos Júnior Almeida e Ricardo Guima. A apresentação será no dia 17 de agosto, no Teatro Gustavo Leite. Em seu “mais elaborado recital”, Ney divide o palco com os músicos Leandro Braga (piano, direção musical e arranjos), Lui Coimbra (violoncelo e violão), Ricardo Amado (violino e bandolim) e Felipe Roseno (percussão). O figurino é do estilista Ocimar Versolato. Imperdível. ›› Teatro Gustavo Leite. Centro Cultural e de Exposições. Rua Celso Piatti, s/n, Jaraguá. No dia 17 de agosto, às 21h. Ingressos: R$ 150 (inteira) e R$ 75 (meia) – Plateia; R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia) – Mezanino. Ponto de venda: estande Sue Chamusca (Maceió Shopping, a partir de terça-feira). Mais informações: 3235-5301 e 9925-7299.

Divulgação

partir de pesquisas realizadas no Hos-

escreve aos sábados na página de Opinião da Gazeta, o médico psiquiatra Ronald Mendonça lança nesta quartafeira (21), no Memorial à República, o livro que reúne alguns dos textos produzidos por ele ao longo do tempo em que se dedica ao ofício da escrita. A noite de autógrafos é uma promoção da Academia Alagoana de Medicina e da Sociedade Brasileira dos Médicos Escritores. ›› Memorial à República. Av. da Paz, s/n, Jaraguá. No dia 21 de julho, a partir das 19h. Aberto ao público. Mais informações: 8833-7869.

CINEMA/MÚSICA

LIVRO/LANÇAMENTO Por Trás dos Muros. Elaborado a

pital Escola Portugal Ramalho (HEPR), o único hospital psiquiátrico de natureza inteiramente pública do Estado, o livro-reportagem da jornalista Acássia Deliê será lançado nesta quarta-feira (21), no Espaço Cultural Linda Mascarenhas, no Farol. Publicada pelo selo Em Pauta, da editora Multifoco, a obra propõe um mergulho na realidade do universo psiquiátrico em Alagoas. ›› Espaço Cultural Linda Mascarenhas/CEAGB. Av. Fernandes Lima, 1047, Farol. No dia 21 de julho, a partir das 19h30. Aberto ao público. Mais informações: www.portrasdosmuros.wordpress.com.

MÚSICA ›› Ney Matogrosso Depois do sucesso de Inclassificáveis, o cantor retorna a Maceió para mostrar o show Beijo Bandido; a apresentação será dia 17 de agosto

The Big Four. No dia 22 de junho, a rede Cinemark exibiu para os amantes do rock pesado um show, ao vivo, diretamente da cidade de Sófia, na Bulgária. Quem conseguiu ingresso se deparou com quatro grandes nomes do gênero reunidos na turnê The Big Four: Metallica, Megadeth, Slayer e Anthrax. Como as sessões de São Paulo, Brasília e Salvador ficaram lotadas, a rede resolveu dar a oportunidade para aqueles que não puderam conferir “ao vivo”. Assim, 42 salas irão exibir novamente o show transmitido para mais de 800 cinemas de 30 países da América do Norte, Europa e América Latina. A boa notícia é que Maceió entrou no roteiro – a exibição em alta definição (3D) será no Centerplex, nos dias 23 e 24 de julho, às 22h. Pelo jeito, as sessões serão disputadas. ›› Centerplex. Shopping Pátio Maceió. Av. Menino Marcelo, 3800, Tabuleiro do Martins. Nos dias 22 e 23 de julho, com sessões às 22h. Mais informações: 3223-1400.

Contatos: lekemorone@gazetaweb.com | Avenida Aristeu de Andrade, 355, Farol - Maceió-AL - Cep.: 57051-090

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Na ressaca dos anos 60

Elucubrações sobre o fenômeno que marcou a cultura ocidental no último século

Numa era em que a poderosa indústria do disco dava as cartas, vários grupos foram alçados à condição de ‘deuses do rock’; para muita gente havia chegado a ‘hora da eutanásia’, mas o punk chacoalhou essa história Fotos: reprodução

| LUÍS GUSTAVO MELO Estagiário

Os anos 70 começam sob o efeito da violenta ressaca da grande festa da década anterior. Os ideais dos 60 podem ter caído por terra, mas o rock, enquanto máquina de gerar milhões, continuava a funcionar a pleno vapor. Num artigo da revista Time publicado em 1971, lia-se a seguinte análise: “A cultura do rock cresceu de tal maneira que hoje é o estilo de vida predominante entre os 40 milhões de americanos na faixa dos 15 aos 25 anos. A contracultura, o primeiro (e talvez o último) movimento sóciopolítico nascido da força da música eletricamente amplificada, chegou a uma trégua relutante e melancólica com o mundo careta que ela se dispusera a salvar”. Diante disso, é fácil concluir que, mais do que nunca, quem dava as cartas era a poderosa indústria do disco e seus imponentes deuses do rock. O Led Zeppelin, por exemplo, um dos grandes titãs do período, é tido como o grupo responsável pela inauguração da “Era do Mega” – a era dos megaconcertos, dos monstruosos aviões particulares, das orgias inacreditáveis envolvendo groupies, da destruição de quartos de hotel, da fantástica soma de discos de platina, etc. Junto à consolidação de gêneros como o heavy metal, novas tendências sonoras despontaram naquele início de década – o rock progressivo, o efêmero movimento glam rock na Inglaterra, o krautrock alemão e a ascensão meteórica do ídolo Bob Marley à condição de superstar do terceiro mundo podem ser incluídas nesse contexto. Porém, por volta de 1976, a diluição do

“Quando nasci, em 1956, o rock ‘n’ roll estava começando a existir. Por quê? Porque eu o criei. Eu criei Elvis. Eu fiz tudo acontecer. Mesmo antes de nascer, eu já estava comandando”. GG Allin

estilo atingia um ponto crítico. O rock enquanto sinônimo de rebeldia e energia libertadora estava nas últimas. Para muitos, havia chegado a hora da eutanásia. E talvez essa fosse a única saída, se num momento crucial não tivesse surgido o punk. O movimento punk, representado na figura do grupo Sex Pistols, pode ser visto como uma espécie de agente temporário cuja missão seria a de destruir as velhas fundações do rock. No período de um a dois anos, os punks deram uma sacudida e tanto no universo pop, estabelecendo os padrões estéticos que norteariam as mais variadas tendências da música jovem da década de 80 e, por tabela, da de 90. Boa parte dos estilos e tendências que surgiram a partir do punk foram apresentadas ao

mundo no filme-manifesto new wave Urgh! A Music War (1981), que registra um grande concerto de rock ocorrido simultaneamente nos EUA, na Inglaterra e na França, reunindo representantes promissores das variadas tendências que despontaram naquele início de década. Corria o ano de 1981 quando a MTV apareceu como uma das maiores revoluções da história da música pop. Na era dos videoclipes, o rock – ao menos no universo mainstream – assumiu sua nefasta tendência à descartabilidade, e foi no underground que o estilo apresentou sua vertente mais vibrante e inovadora. Grupos americanos como Sonic Youth, Black Flag, Hüsker Dü, Wipers e Dinosaur Jr., entre outros, forneceram todas as bases para o rock da década de 90.

O estouro do álbum Nevermind, em setembro de 1991, fez do Nirvana a banda-símbolo de um fenômeno comparado ao punk na década de 70, o chamado grunge rock. O título de um home-video do Sonic Youth, In 1991: The Year Punk Broke, sintetiza com perfeição esse momento. As velhas premissas do punk inglês finalmente atingiram o mainstream norte-americano, lançando todos os holofotes à cena alternativa ianque, que há anos sobrevivia num vasto e fervilhante underground. A nota negativa dessa história é que a indústria cooptou rapidamente o fenômeno. As majors corriam atrás de qualquer banda que usasse bermudas até as canelas, na tentativa de capitalizar em cima de um próximo Nirvana. Em 1992, o rock alter-

nativo americano entrava em alta rotação nas MTVs do mundo inteiro, deixando, evidentemente, de ser alternativo. Quando a onda grunge finalmente acabou, em meados de 1993/1994, tudo o que restou foram bisonhos êmulos de bandas alternativas – aquilo que cinicamente passou a ser vendido sob o rótulo de “comercial alternative”. No mundo do entretenimento, a cada novidade que dá certo surge sempre uma avalanche de réplicas vagabundas e imitações rasteiras – o cenário era tão desolador que a grande revelação do rock no ano de 1994 foi o punk bubblegum do Green Day. Com alguns raros instantes de brilho, tudo o que surgiu da segunda metade dos anos 90 para cá foram apenas lamentáveis nulidades.

“Não compre discos negros! Eles corrompem a mente dos jovens! Ajude a salvar a juventude da América!”. (Antigo panfleto distribuído nos anos 1930/1940 que boicotava artistas de blues)

“Sou o criador, o emancipador, o arquiteto do rock ‘n’ roll”. Little Richard

“Se eu descobrisse um branco que canta como negro, faria um bilhão de dólares”. Sam Phillips (dono da Sun Records, antes de descobrir Elvis)

“O que eu faço não é novidade. Os negros vêm cantando e dançando dessa forma há muito tempo”. Elvis Presley


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| tv |

| rádio |

›› GAZETA INDICA Divulgação

TV GAZETA Canal 7 05h45 Santa Missa 06h45 Sagrado 06h55 Gazeta Rural 07h30 Pequenas Empresas 08h05 Globo Rural 09h00 Auto Esporte 09h30 Esporte Espetacular 12h40 Aventuras do Didi 13h15 Os Caras de Pau 14h00 Temperatura Máxima – Shrek 15h44 Globo Notícia 15h47 Campeonato Brasileiro – Atlético-GO x Flamengo 18h00 Domingão do Faustão 20h45 Fantástico 23h10 SOS Emergência 23h45 Domingo Maior – Nova York Sitiada TV PAJUÇARA Canal 11 01h15 IURD 05h25 Bíblia em Foco 05h55 Desenhos Bíblicos 06h45 Nosso Tempo 07h15 Desenhos Bíblicos 08h00 Record Kids 09h00 Ponto de Luz 10h00 Alagoas dá Sorte 11h00 Informativo Cesmac 11h30 Conexão 12h00 Tudo é Possível 16h00 Programa do Gugu 20h00 Domingo Espetacular 00h00 Heroes 01h15 IURD TV EDUCATIVA Canal 3 06h00 Via Legal

GAZETA AM 1.260 KHz 04h00 Gazeta revista – 1ª parte 06h00 Despertar com Deus 06h10 Gazeta revista – 2ª parte 07h00 Retrospectiva da semana 09h00 Hoje é dia de praia 13h00 Jornada esportiva 20h00 Programa de domingo

TEMPERATURA MÁXIMA Em Shrek, o ogro mais divertido do planeta vive suas primeiras aventuras

06h30 07h00 08h00 09h00 10h00 10h30 11h00 11h30 12h00 12h45 13h00 13h30 14h00 14h30 15h00 16h00 17h00 18h00

Brasil Eleitor Palavras de Vida Santa Missa Viola Minha Viola A Turma do Pererê Esquadrão sobre Rodas Castelo Rá-Tim-Bum Janela Janelinha ABZ do Ziraldo Curta Criança Um Menino Muito Maluquinho Catalendas Dango Balango TV Piá Stadium A’Uwê Ver TV De Lá pra Cá

18h30 Cara e Coroa 19h00 Papo de Mãe 20h00 Conexão Roberto D’Ávila 21h00 EsportVisão 22h30 Nova África 23h00 Cine Ibermedia 00h45 A Grande Música 01h45 DocTV 02h45 Curta Brasil

SBT Canal 5* 06h00 Aventura Selvagem – Reprise 07h00 Pesca Alternativa 08h00 Vrum 08h30 Ganhe mais Dinheiro com Jequiti 09h00 Clube do Chaves

GAZETA FM 94.1 MHz 05h00 Forró da manhã 06h00 Como é grande o meu amor por você 07h00 Bom dia Gazeta 09h00 Suingue da Gazeta 16h00 Gazeta pediu tocou 20h00 Gazeta toca tudo 22h00 Love is love 01h00 Show da madrugada

11h00 15h00 19h00 19h45 00h00 01h00 02h00 03h00 04h00

Domingo Legal Eliana Roda a Roda Jequiti Programa Silvio Santos De Frente com Gabi Cold Case Without a Trace Nip/Tuck Jornal do SBT – Madrugada 05h00 Jornal do SBT – Madrugada/Reprise * Programação nacional

| horóscopo | BÁRBARA ABRAMO Lua crescente em Libra hoje promete nova semana de muito dinamismo e surpresas.

ÁRIES 21.03 A 20.04 Com a mudança da fase lunar, começa um período mais agitado e de mais demandas para os filhos de Marte! É bom que você tenha suas prioridades claras. Há novidades no ar também!

TOURO 21.04 A 20.05 Com a Lua crescente em Libra você conta com alguns dias propícios para cuidar da rotina, saúde e trabalho. Tratamentos podem ser iniciados com mais sucesso.Seja original e flexível.

GÊMEOS 21.05 A 20.06 Bom para você o cenário astral de hoje, que intensifica o poder da ação e da mudança sobre a realidade concreta. É o sinal verde para você imprimir modificações em sua vida.

CÂNCER 21.06 A 22.07 O prazo para escolhas de consequências amplas começa a se esgotar a partir dessa Lua crescente! O tempo se afunila, as escolhas são múltiplas, é tudo ao mesmo tempo agora.

LEÃO 23.07 A 22.08 Clima astral proveitoso para você investir nos contatos sociais e amorosos. Como dica para a semana, fique atento a pessoas de Libra, Aquário ou Virgem, que irão lhe trazer benefícios.

VIRGEM 23.08 A 22.09 Focalize sua vida financeira nos próximos dias; Lua crescente ativa esse setor trazendo chance de melhorar rendimentos e entradas de dinheiro. Reforce sua rede de contatos.

LIBRA 23.09 A 22.10 A Lua crescente de hoje ocorre em seu signo e anuncia que os próximos dias serão bons para você cuidar de seus interesses pessoais, e de sua saúde também.Alegria em alta.

ESCORPIÃO 23.10 A 22.11 Simplicidade e devoção são os segredos para você ficar bem nesta próxima semana; mudança lunar reforça necessidade de ficar em segundo plano e resolver pendências do passado.

SAGITÁRIO 23.11 A 21.12 Clima astral melhora com Lua crescente hoje reanimando suas intenções e aspirações. Assim você terá mais fôlego pra enfrentar o cotidiano, que se torna mais agitado e complicado.

CAPRICÓRNIO 22.12 A 20.01 O relógio astral aponta para sua reputação profissional, vocação, metas e ambições ligadas a seu trabalho. Nos próximos dias as promessas de mais equilíbrio e justiça se desdobrarão.

AQUÁRIO 21.01 A 19.02 Desenvolve-se o cenário astral, assinalando momentos de tensão e escolas difíceis que vêm vindo por aí nos próximos dias. Preparese para isso assumindo novos desafios.

PEIXES 20.02 A 20.03 É ótimo conservar o aconchego das coisas conhecidas, mas é importante se arriscar um pouco também, para equilibrar o presente.Crie um clima harmônico ao seu redor.


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Imediatismo, a nova revolução A partir do surgimento de um novo modelo de consumo de música – em larga medida potencializado pela internet –, nos anos 2000 o ciclo de vida das bandas passou a ser cada vez mais curto Fotos: reprodução

| LUÍS GUSTAVO MELO

ROCK ‘N’ ROLL EM FRASES

Estagiário

Caso o ciclo de renovação que costumava ocorrer a cada década se confirmasse, 2001 seria o ano de mais uma “revolução”. No entanto, se algo parecido aconteceu, não foi necessariamente com a revelação de um novo ídolo musical, mas a partir do surgimento de um novo modelo de consumo de música, baseado quase que inteiramente no imediatismo. A partir da aparição do grupo nova-iorquino The Strokes, primeiro conjunto de rock a atingir o estrelato via internet, o ciclo de vida das bandas passou a ser cada vez mais curto, e elas foram se sucedendo uma após a outra numa velocidade incrível – nessa sequência vieram o duo de Detroit The White Stripes, o grupo garageiro sueco The Hives, os escoceses do Franz Ferdinand, e assim por diante. Para Eduardo Callado, líder da banda alagoana Kaddish, o rock já não é o mesmo há muito tempo. “Se você enxergar o rock como uma música feita por jovens inconformados de classe média com algum grau de instrução que buscam externar sua insatisfação, o rock já deixou de ser esse estereótipo há muito tempo. Hoje, a urgência ou a demanda é outra. Os meninos estão mais a fim de encontrar ou representar sua ‘tribo’. Eles estão buscando compor a trilha sonora de suas vidas da melhor maneira que eles podem. Não vou entrar no mérito da questão de julgar se o que se faz hoje é melhor ou pior do que em décadas passadas. Vou apenas dizer que as coisas estão diferentes”. Ainda que em tom mais incisivo, essa opinião também é compartilhada pelo jornalista Alexandre Matias. “Rock virou adjetivo pra marca e um jeito fácil de se tornar famoso. Como gênero, segue bem, com milhares de minúsculas bandas boas fazendo bonito com baixo, guitarra e bateria. Mas o rock não tem a importância histórica que já teve. O hip hop, a dance music e até a música brasileira são mais importantes que o rock hoje em dia”, avalia. Ex-integrante das bandas independentes Dash e Autoramas, a carioca Simone do Vale questiona a consistência dos novos grupos. “O cenário atual, pelo que

Elucubrações sobre o fenômeno que marcou a cultura ocidental no último século

“Por que os jovens gostam de rock? Ora, porque os pais odeiam, é claro!”. Chuck Berry

“Se houver sentimento, a música é boa”. Ray Charles

“Se soubéssemos a razão do nosso sucesso, botaríamos quatro rapazes cabeludos num palco e seríamos seus empresários”. John Lennon

eu tenho visto, anda uma chorumela só, com exceção de poucas bandas excelentes e com personalidade. A impressão é de que o rock nacional nunca foi tão chato, tão careta. Parece rock feito para quem não gosta de rock – coisas tipo esse ‘emo-sertanejo’. Quando a choradeira não segue a cartilha de Sandy & Júnior, é aquele monte de cópias brochantes dos Los Hermanos. Mas rock sempre vai ser rock. Sempre vai haver um revoltado maluco a fim de pegar uma guitarra e detonar o mundo (risos)”. Em relação à onda de revivals que deu o tom ao longo da última década, Callado arrisca um palpite. “Toda década, assim que acaba, é negada com todas as forças pela geração subsequente. Passados alguns anos, há uma volta e uma tentativa de se entender o que se passou. Foi assim com os anos 60, depois 70 e 80. A próxima será com certeza a dos anos 90. E essa já é sintomática, pois os anos 90 foram uma releitura de várias fases do rock. Então, quando houver a releitura dos anos 90, haverá também uma releitura da própria história do rock mundial”.

“Eu jamais escrevi uma canção política. As músicas não são capazes de mudar o mundo. Eu já tentei fazer isso”. Bob Dylan

“Estamos interessados em tudo que diga respeito à revolta, desordem, caos, especialmente em atividades que pareçam não fazer sentido”. Jim Morrison

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Relações de mercado no mundo do rock

Elucubrações sobre o fenômeno que marcou a cultura ocidental no último século

“O rock é muito, muito importante... e muito, muito ridículo”.

Dos tempos de Elvis para cá, muita pedra rolou. Agora, com a internet, artistas e público experimentam uma nova realidade | LUÍS GUSTAVO MELO Estagiário

A relação do rock com o mercado remonta aos tempos de Sam Phillips, empresário, produtor e dono da mitológica Sun Records, que sozinho descobriu e lançou alguns dos maiores nomes do rockabilly – Elvis Presley entre eles. Mas em pouco tempo Phillips perdeu sua maior descoberta para os tubarões da RCA. Dos tempos de Elvis para cá, muita pedra rolou e o rock, a indústria e a ligação entre ambos passaram por inúmeros estágios. Até a virada do século, tudo ainda funcionava segundo as estruturas estabelecidas pelo antigo sistema. Por trás de um grupo ou artista solo, havia um verdadeiro batalhão, que ia do poderoso e influente empresário, capaz de arrumar contratos para as bandas venderem até refrigerantes, até o pessoal da gravadora; produtores, executivos, divulgadores, distribuidores, etc. Mas agora que a internet facilitou a vida de quem sempre almejou ter autonomia sobre sua obra e o futuro das grandes corporações é negro, novos e velhos talentos buscam a melhor forma para se adaptar à atual realidade

– e continuam a criar seus próprios nichos. “Quem faz o futuro de um artista hoje em dia é ele mesmo”, afirma o músico alagoano Eduardo Callado. “O YouTube e o MySpace servem, hoje, como canais de divulgação, e a tecnologia tirou das mãos dos senhores diretores da indústria fonográfica o poder de decidir quem pode ou quem não pode gravar e lançar”. Mas se por um lado o auxílio das ferramentas de divulgação da internet permite ao músico expor suas músicas sem passar pelas mãos de atravessadores, por outro a ausência do suporte que uma gravadora oferecia nos velhos tempos torna muito mais difícil a tarefa de se gerenciar uma carreira. É o que pensa o músico e jornalista Rodrigo Carneiro: “Já temos artistas estabelecidos que surgiram para o grande público via internet. Do Fresno a Mallu Magalhães, passando pelo CSS até chegar ao Restart. O lado positivo disso tudo está relacionado à democracia da rede, à liberdade conceitual, ao descompromisso com as regras do mercado fonográfico, etc. O aspecto negativo da coisa talvez resida na impossibilidade, num primeiro mo-

mento, de subsistência das novas bandas. Mas isso deve servir para que um novo modelo de negócio seja criado”. “É possível construir uma carreira sólida e viver de música quando o trabalho tem qualidade, agrada e conquista um público fiel”, diz Simone do Vale. “Mas isso exige muita ralação, persistência e abnegação. E aconselho todo mundo a não parar de estudar (risos)”, brinca ela. O produtor e agitador cultural Fernando Rosa enxerga as novas possibilidades com entusiasmo. “Eu vejo essa situação como bem mais favorável para os artistas. Antes, o artista para existir teria de assinar um contrato com uma grande gravadora. Aos poucos foram sendo criados selos independentes, alternativos, mas ainda poucos, especialmente nos EUA e Europa. Agora, qualquer um pode gravar seu disco, lançar seu disco, ter sua obra divulgada e ouvida por quem se interessar pelo conteúdo. Então, a relação entre artista e público está mais democrática, mais direta. Melhorou, e muito. Já a situação das gravadoras tradicionais é um pouco mais complicada do que parece. Elas vêm tentando fugir do problema faz tempo,

ROCK ‘N’ ROLL EM FRASES

Pete Townshend (The Who)

“Basicamente, eu ajudei a apagar os anos 60”. Iggy Pop

“Hippies? E daí? Eu sou o original”. Jerry Lee Lewis

“Os hippies queriam paz e amor. Nós queríamos Ferraris, desde quando inventaram toda blico. Não sei bem como isso se loiras e canivetes”.

sorte de coletâneas, que vandalizaram obras de artistas importantes. Agora, apostam na venda digital, mas acho difícil isso emplacar, especialmente aqui, onde a indústria sempre foi vista, e atuou, como vilã, cobrando preços exorbitantes pelos discos”, avalia o criador do site Senhor F (www.senhorf.com.br). “Acredito que o caminho é o streaming, audição on line, o que exige um outro formato de relação entre artista, mídias e público. Acredito que caminhamos para o streaming, ou seja, a internet vai virar uma grande rádio on line. Isso vai obrigar outro tipo de relacionamento entre artistas, mídias, gravadoras e pú-

organizará, mas é por esse caminho. É preciso encontrar um modelo de negócio que contemple isso. Com isso, ganha peso o show na relação artista x público”, teoriza. E ainda há possibilidade de acontecer uma nova revolução como nos tempos do punk ou da contracultura? “Sim”, afirma Rosa. “A ‘revolução’ já está ocorrendo. Aliás, é a maior, e mais importante revolução de todas já experimentadas. A internet é um grande ‘Woodstock’, uma revolta ‘punk’. E os novos conflitos geracionais vão ocorrer tendo a internet como canal. Nos anos 50 foi o rádio; depois, a televisão. Agora, a internet”.

O titular da BIP está em férias. Volta no dia 1º de agosto

Alice Cooper

“Eu jamais tive problemas com drogas. Só tive problemas com os policiais que apareciam tentando tirá-las de mim”. Keith Richards

“A finalidade do rock ‘n’ roll não é tornar-se respeitável”. Poison Ivy (The Cramps)


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O ROCK NO CINEMA | Fãs e artistas elegem os filmes que melhor retrataram o gênero. Confira! Fotos: reprodução

“O filme de minha época é o The Great Rock’n’roll Swindle, do Malcom McLaren, uma farsa musical sobre a história dos Sex Pistols. Mas o que me marcou mesmo não foi exatamente um filme rock, mas O Selvagem da Motocicleta, de Francis Ford Coppola. Tudo bem que a trilha sonora era do Stewart Copeland, baterista do The Police, mas não havia nada mais rock’n’roll do que a performance matadora de Mickey Rourke e Matt Dillon”. Joca Reiners Terron, 42, escritor e artista gráfico

“Um que me salta sempre à memória é A Hard Day’s Night, dos Beatles. Sei que pode parecer meio lugar-comum mas, para uma criança de uns dez anos, assistir àquele filme foi impactante. Trazia músicas maravilhosas, algo meio inocente, meio infantil e ao mesmo tempo poderoso que me conquistou de imediato. Eu já conhecia a música deles e meu primo me levou para assistir a Os Reis do Iê Iê Iê (título em português) no antigo Cine São Luís. Foi algo indescritível. Ainda hoje lembro da sensação de ver esse filme na telona. Alimentou minha alma e um pouco do que sou hoje”. Eduardo Callado, 42, pedagogo e músico da banda Kaddish

“Folk Singer, um filme da Slowboat Films (nota: companhia de cinema independente de Frankfurt) que conta a história de Possessed by Paul James e de Scott H Biran, dois músicos oneman band que rodam por aí em tours e situações as mais estranhas possíveis. Esse filme foi dirigido pelo Marc Littler, o fundador da Slowboat, e mostra todos os questionamentos de ser um músico na América, quando não necessariamente se faz grana com música e se tem um casamento e um filho vindo. Então, o filme é basicamente sobre conflitos relacionados a questões como até quando podemos seguir atrás de sonhos quando a realidade bate na porta com contas a pagar, filhos, mulher, família, etc. Tudo isso é retratado da forma mais ‘on the road’ possível, com cenas incríveis da swamp scene e takes fantásticos de Possessed By Paul James e Scot H Biran tocando ao vivo, e ainda tem uma participação especial do Reverend Dead Eye, outro oneman band incrível!”. Marco Butcher, 42, músico das bandas Thee Butchers’ Orchestra e Two Tears

“O Uncle Meat, do Zappa and the Mothers of Invention. Não é bem filme... é mais uma coletânea de trechos, making offs, entrevistas sobre um filme que o Zappa tentou fazer nos anos 60, sobre um supervilão que tenta um plano mirabolante para dominar o mundo. No fim das contas o filme não deu certo e eles lançaram, nos anos 80 eu acho, esse vídeo com o pouco de filmagens que eles conseguiram fazer na época, mais umas coisas ao vivo, umas pirações de backstage, etc... O vídeo é bem parecido com a obra musical do Zappa... uma mistura enorme de elementos, montagens, loucuras ao vivo, sons, etc... Fiquei bem louco quando achei o VHS em um sebo. Eu estava bem numa época de conhecer o Zappa, tinha ganho numa promoção da MTV, uns 40 CDs dele... Ele foi importante pra c****** na minha formação musical, me abrindo os olhos para o caráter experimental que a música pode ter, a visceralidade, a inteligência com que se pode fazer protesto, etc”. Fabio Zanetti, 31, professor de Física da Ufal em Arapiraca

“Nem tem muito a ver com meu estilo, nem nada disso... Mas o melhor filme de rock para mim é o musical Hedwig & The Angry Inch. É uma história muito real e um filme tremendamente bem realizado. O melhor já feito com o tema rock’n’roll. Para quem gosta de rock, considero obrigatório”. Gabriel Thomaz, 34, músico da banda Autoramas

“Trainspotting é um filme arrebatador! O filme me fez ver o quanto eu estava sintonizado com minha própria geração e com o mesmo pensamento viciante em torno do chamado indie rock, cinema, música e afins”. Larry Antha, 40, ator e produtor cultural


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5 MÚSICAS SOBRE CACHORRO

5 COMEBACKS | Um top five com os retornos triunfais do rock Fotos: reprodução

THE BIRTHDAY PARTY (1992)

» Walking The Dog – Rufus Thomas » Hound Dog – Elvis Presley » I Wanna Be Your Dog – The Stooges » Black Dog – Led Zeppelin » Can Your Pussy Do The Dog – The Cramps

Foram apenas algumas músicas executadas pelos membros sobreviventes do grupo no meio de um show de Nick Cave em Londres, em 1992, mas o suficiente para deixar o público atônito – principalmente quem não teve a oportunidade de presenciar as performances da lenda no início dos anos 80.

5 ÁLBUNS AO VIVO DE INCENDIAR

BIG STAR (1993) Influentes e brilhantes na mesma proporção em que são ignorados pelo grande público, o Big Star fez este memorável retorno aos palcos com dois de seus integrantes originais (o cantor e guitarrista Alex Chilton – morto em março deste ano – e o baterista Jody Stephens) ao lado de dois membros da banda de rock alternativo The Posies (o guitarrista Jon Auer e o baixista Ken Springfellow). Daí saiu um belo disco ao

vivo gravado numa universidade no Missouri, nos EUA.

Osbourne e o baterista Bill Ward.

THE STOOGES (2003) BLACK SABBATH (1997) Não importa muito se os caras se odeiam e só toparam essa pela grana. O fato é que há anos os fãs do Black Sabbath esperavam por uma turnê do grupo com sua formação clássica, com o madman Ozzy

Os Stooges deram a largada como uma das principais atrações do Festival Coachella, em 2003, com o baixista Mike Watt (ex-Minutemen e fIREHOSE). De lá pra cá, não pararam de excursionar, lançaram um álbum de inéditas e sofreram

um baque com a morte do guitarrista Ron Asheton, em janeiro de 2009. Atualmente, a banda segue fazendo shows com o guitarrista da segunda formação do grupo, James Williamson.

LED ZEPPELIN (2007) O guitarrista Jimmy Page e o baterista Jason Bonham (filho do

» Kick Out The Jams – MC5 (1969) » Live at Leeds – The Who (1970) » Metallic K.O. – Iggy & The Stooges (1976) » If Want Blood You’ve Got It – AC/DC (1978) » No Sleep ‘Til Hammersmith – Motorhead (1981)

falecido baterista John Bonham) bem que queriam levantar um troco revivendo glórias passadas, mas o vocalista Robert Plant, sempre coerente e avesso a nostalgias, disse que não faria turnê alguma. Restou aos felizardos se lambuzarem no melado ‘apenas’ nesta histórica apresentação na Arena O2, em Londres.

ROCK ‘N’ ROLL EM FRASES Elucubrações sobre o fenômeno que marcou a cultura ocidental no último século

“A maioria não ama a música, apenas compra discos que estão nas paradas”. Ian McCulloch (Echo & The Bunnymen)

“Tudo o que eu sei sobre o pessoal das gravadoras é que eles são vampiros e criminosos, e que eles mataram Elvis Presley”. Björk

“Nos acusam de termos nos vendido. Mas nós vendemos pra caramba! Somos comerciais mesmo!”. Kurt Cobain

“Não uso samples, é contra os meus princípios roubar coisas dos outros” Steve Albini (produtor e integrante da banda Shellac)


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Edilson Omena - Cortesia

Romeu de Loureiro emsociedade@gazetaweb.com

À venda

Os Guinle de Paula Machado colocaram à venda (R$ 15 milhões) seu suntuoso palacete, na Rua São Clemente, no Rio de Janeiro. A família figurou, durante cinco gerações, entre as mais ricas do eixo Rio/São Paulo, possuindo até um famoso haras.

REPRESENTANDO O SEBRAE-AL A socialite (de berço) e já consagrada “flower designer” Marta Brotherhood Pontes de Miranda está em Holambra (SP), participando da 7ª “Garden Fair” (aberta, ontem). Foi como representante do Sebrae-AL, cabendo-lhe a decoração do estande da entidade, onde montou uma elogiada exposição de flores tropicais de Alagoas.

Jantar à francesa

Mais de quarenta francofones atenderam à convocação para o jantar promovido – na base da adesão – pela Alliance Française de Maceió, em comemoração ao Dia Nacional da França (o 14 de julho), que foi realizado no famoso restaurante “Le Corbu”. Com direito a menu especial (decorado com o perfil da “Marianne”), elaborado pelo chef Jorge Brandeira, que teve “entrée” de casquinhas de caranguejo, três opções de pratos principais - “poisson à la Claude” (filé de dourado ao molho de passas, companhado de bananas), “steack au poivre” (filé alto com molho de pimenta verde) e “crevettes au Gruyère” (camarões ao molho de queijo suíço, acompanhado de risoto de espinafre) - e três tipos de sobremesas: “gâteau au chocolat chaud”( torta de chocolate com sorvete), “tarte tatin” (folheado de maçã camaramelizada) e “crème brulée” (creme de caramelo e baunilha caramelizado). Para acompanhar, vinhos franceses

(precisava dizer?) – como o excelente Bordeaux “Sichel” (safra 2006).

O médico e escritor Ronald Mendonça (que é sócio efetivo da SobramesAL e trineto dos barões de Mundaú ) convidando para o lançamento de seu livro de crônicas “Latim aos sábados”, dia 21, às 19 horas, no Memorial da República.

››› CURTINHAS

Compensação

Certo que faltou música ambiente – apesar do “Le Corbu” possuir um piano. Mas, em compensação, o cônsul honorário da França, Daniel Quintella Brandão, proferiu brilhante improviso, no qual enalteceu o marquês de La Fayette – considerado um herói revolucionário, na França e nos Estados Unidos. Não sem um reparo do historiador Romeu de Mello Loureiro, de que La Fayette traiu os reis Bourbon Luís XVI e Carlos X.

Lançamento

››› De idade nova, hoje, a socialite Laura Alice do Monte Vasconcelos Vasco (senhora Ronald Vasco Júnior). Com o grande coro dos parabéns “puxado” por “mommy” Ana Lídya. ››› Amanhã, os 65 anos do renomado jurista e consagrado escritor (sócio do Ihgal e da AAL) Marcos Bernardes de Mello. Festejadíssimo. Laura Alice do Monte Vasconcelos Vasco (senhora Ronald Vasco Júnior) que muda de idade, hoje

››› Outro festejado aniversariante de amanhã: o conceituado advogado Adraildo Calado – que estará completando 50 anos.

Chico Brandão - Cortesia

Divulgação

Má fase

Enquanto o presidente Nicholas Sarkozy enfrenta acusações de ter recebido doações ilegais da mulher mais rica da França, a primeira-dama, Carla Bruni, recebe críticas dos editores de moda por ter comparecido ao desfile militar de 14 de julho usando um vestido de coquetel preto e sem o chapéu pedido pelo protocolo para tal ocasião.

O casal Ana Tereza (nascida Constant) e Georges Sarmento Lins Júnior. Ele diretor da Alliance Française de Maceió

O casal Onira (nascida Coelho) e Marcos Bernardes de Mello - ele completando 65 anos, amanhã

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10 DIAMANTES BRUTOS PARA GARIMPAR LINK WRAY AND THE RAYMEN WITH BUNKER HILL – THE GIRL CAN’T DANCE (1958) A prova definitiva de que o rock ‘n’ roll é mesmo capaz de despertar nas pessoas os instintos mais primitivos pode ser atestada numa rápida audição deste disquinho lançado há cerca de 50 anos. Um simples compacto, duas músicas... O suficiente para causar danos irreversíveis em qualquer “flausinette”. Numa época em que os americanos conviviam diariamente com a ideia de que algum maluco apertaria um botão, mandando tudo pelos ares, Link Wray encarregou-se de antecipar a tão temida hecatombe ao gravar este compacto com seus comparsas, os Raymen, em parceria com Bunker Hill – o mais insano e depravado rock ‘n’ roller de todos os tempos.

Ubu, Dead Kennedy, Devo... Todo mundo que de alguma forma se dedicou a produzir música torta e fora dos padrões baseou-se neste disco.

PSYCHO-SONIC – THE SONICS (1966) Os dois primeiros álbuns da cultuada garage band norte-americana que antecipou o punk e o hardcore no início dos anos 60, reunidos na íntegra num único disco.

NUGGETS: ORIGINAL ARTYFACTS FROM THE FIRST PSYCHEDELIC ERA 1965-1968 (1998) Lançado originalmente como LP duplo, em 1972, esta compilação que reúne a nata dos grupos de garagem americanos dos anos 60 teve a reedição ampliada de 1998 num box com quatro CDs lançado pela Rhino, que expande a seleção original de 28 bandas para mais de 100 grupos. As surpresas vão se sucedendo a cada nova audição!

quelas bandas fundamentais do período pré-punk que nunca deram certo. Em três anos de existência (de 1972 até 1975), a banda operou com constantes mudanças em sua formação, tendo como membros fixos apenas o vocalista Dave E. McManus e o guitarrista John Morton. Nunca tiveram baixistas, e bateristas eram um constante problema; o último deles, Nick Knox, ficaria famoso anos depois, tocando na formação clássica do Cramps. Este disco reúne todo o material gravado pelo grupo. Imagens: reprodução

Em seu segundo álbum, o pesadíssimo power trio californiano Blue Cheer – grupo que antecipou em alguns anos a brutalidade sonora do velho Black Sabbath – consegue superar sua magnífica estreia em Vincebus Eruptum, adicionando toques psicodélicos sem perder a pegada e a potência.

THE PSYCHEDELIC SOUNDS OF THE 13TH FLOOR ELEVATORS – 13TH FLOOR ELEVATORS (1966) Primeiro álbum de acid rock da história, o disco de estreia da banda do louquíssimo Roky Erickson deu ao mundo verdadeiros clássicos da psicodelia de garagem. Temas como You’re Gonna Miss Me, Elevation e Fire Engine são regravados por bandas das mais diversas matizes até hoje.

OUTSIDEINSIDE – BLUE CHEER (1968)

mação antigos integrantes das bandas Stooges e MC5.

DEATH – FOR THE WHOLE WORLD TO SEE (2009)

BOX SET 1974 -1976 – DESTROY ALL MONSTERS (1994) BLACK MONK TIME – THE MONKS (1966) Primeiro e único álbum de uma das mais estranhas e inventivas bandas já surgidas nos prolíficos anos 60. Pere

Belo trabalho de garimpagem do guitarrista do Sonic Youth, Thurston Moore, que reúne neste box com quatro CDs todo o material registrado pelo legendário grupo experimental de Michigan, que tinha em sua for-

– grupo que tinha em sua formação futuros integrantes de duas importantes bandas do rock alternativo dos anos 70, Pere Ubu e Dead Boys – durou pouco mais de um ano e nunca chegou a gravar um disco. O que torna este apanhado de raríssimos registros ao vivo do grupo uma autêntica descoberta arqueológica.

EYEBALL OF HELL – THE ELECTRIC EELS (2001) Elo perdido entre o garage rock dos anos 60 e o punk que tomaria de assalto o cenário musical logo em seguida, o Electric Eels é uma da-

THE DAY THE EARTH MET THE... ROCKET FROM THE TOMBS – ROCKET FROM THE TOMBS (2002) Outra banda ‘maldita’ do underground americano do início dos anos 70 que ajudou a estabelecer os fundamentos de todo o rock que viria na sequência. O Rocket From The Tombs

Inédito por cerca de 34 anos, For The Whole World To See é o disco nunca antes lançado pela obscura banda pré-punk Death. Em meados de 1974, o grupo havia até assinado um contrato com o então presidente da Columbia Records, Clive Davis, mas as exigências do executivo para que os rapazes mudassem o nome acabaram por motivá-los a abandonar a gravadora antes mesmo de concluir as gravações. A banda caiu no esquecimento, mas a justiça finalmente está feita.


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LIVROS & IDEIAS

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ESTANTE

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Doutor em rock

“Faço o melhor que posso, mas não posso fazer o impossível”. Você tem uma longa caminhada no jornalismo musical, cultural – trabalhou na BBC de Londres nos anos 60 e foi editor de Manchete, Fatos&Fotos e Veja, além de ter publicado diversos livros, entre eles O Que é Rock?, Rock: O Grito e o Mito e Improvisando Soluções. Do que ainda falta tratar?

Não é impossível, mas é impensável que qualquer pesquisa séria sobre o rock passe batido pela obra do escritor e jornalista curitibano Roberto Muggiati. Autor de títulos obrigatórios sobre o gênero, o saxofonista bissexto que também escreve sobre jazz fala sobre a música que é ‘som e fúria’ em entrevista à Gazeta Gazeta.. Confira | LUÍS GUSTAVO MELO Estagiário

No campo do jornalismo cultural brasileiro, poucos profissionais possuem uma obra tão rica e representativa quanto o curitibano Roberto Muggiati. Ao longo de mais de 50 anos de carreira, Muggiati destacou-se por seu profundo e vasto conhecimento musical, tendo escrito livros e artigos sobre os mais diversos gêneros. Títulos como Rock: O Grito e o Mito (1973) e Rock: do Sonho ao Pesadelo (1984) configuram-se como importantes referências para fãs e pesquisadores do estilo até hoje. Dono de um currículo que inclui uma temporada de trabalho na BBC de Londres durante os anos 60 e uma brilhante trajetória como editor de publicações como Manchete, Fatos & Fotos e Veja, por ocasião de mais um Dia Internacional do Rock Muggiati conversou por e-mail com a Gazeta. Leia a entrevista a seguir. Gazeta – O que há na ‘essência’ do rock que tanto o diferencia dos demais gêneros musicais? Que tipo de explicação haveria para a ‘comoção’ que ele parece ser capaz de despertar nas pessoas? Roberto Muggiati – Usando

um conceito que vem de Shakespeare (e foi título de um romance de Faulkner), o rock é som e fúria. Uma música que apela para os sentidos, através do ritmo e do grito, mais do que para a razão e a pura estética das notas. (Daí o mote dos anos 60, “Sexo, drogas e rock ‘n’ roll”). Claro que, com o tempo, o “rock”

se amplificou, abrangendo variedades quase infinitas de expressão musical e poética. “Som e fúria” subentende que a música vem acompanhada de alguma rebeldia – social (politizada) ou individual (o caso clássico do “rebelde sem causa”). Por definição, o rock seria a ‘música da juventude’?

Sim, por sua energia e por seu caráter dionisíaco, apela principalmente para a faixa etária mais carregada de adrenalina, mais “ligada”. Mas há exceções e o mundo está cheio de vovôs roqueiros, herdeiros de Elvis e de Woodstock. Se você fosse escrever um livro como Rock: O Grito e o Mito nos dias de hoje, que modificações faria? Melhor: ficaria tentado a fazer alguma?

À altura em que foi publicado, 1973, O Grito e o Mito já tratava das pulsões básicas do rock em seus primeiros 20 anos. A quarta edição, de 1981, incluía o Post Scriptum do Rock: a explosão do punk e a morte (real e simbólica) de John Lennon. Eu reescreveria o livro hoje com pouquíssimas modificações, talvez uma pincelada ou duas sobre os raros lampejos criativos surgidos nos últimos 30 anos. É fácil encontrar fãs e estudiosos que não hesitam em afirmar que o rock morreu. Como você vê essa afirmação? Ela não soa um tanto ‘xiita’?

O rock morreu, viva o rock... ainda que numa versão zumbi. Tenho uma visão radical, mas não xiita: as artes (rock, jazz, música

erudita, o cinema, teatro, a pintura, a literatura um pouco menos) morreram, ou tiraram férias a partir dos anos 70. Não sou fatalista. É apenas um ciclo histórico sem grandes revoluções criativas, como aquelas ocorridas nos anos de ouro do modernismo, na primeira metade do século 20. Quem sabe, daqui a pouco, saímos do conformismo social e do marasmo cultural (causa e efeito) e vivemos um novo renascimento das artes... Você escuta rock ‘n’ roll? Alguma coisa mais nova, contemporânea? O quê?

Só escuto, por acaso, um tipo de rock mais chegado à praia do jazz. Não me sinto tentado a ouvir os Oasis da vida e outras miragens. Michael Jackson e Madonna não são rock, embora muitos os confundam como tal. Talvez por isso os dinossauros do rock continuem na estrada com sucesso: Bob Dylan, Mick Jagger e os Rolling Stones, Paul McCartney. Na sua opinião, enquanto gênero musical, o rock vive mais de ‘achismos’ do que de estudos, de pesquisas?

Apesar de sua premissa anticultural, o rock até que teve brilhantes exegetas, hagiógrafos e críticos que registraram, numa rica bibliografia, as marcas que ele deixou sobre a cultura do século 20. Após o capítulo introdutório de Rock: Do Sonho ao Pesadelo (Os Pais do Rock’n’roll), você dedica estudos específicos a 15 figuras fundamen-

tais: Elvis Presley, John Lennon, Bob Dylan, Mick Jagger, Simon & Garfunkel, Jimi Hendrix, Eric Clapton, Janis Joplin, Jim Morrison, Paul McCartney, Pete Townshend, Yoko Ono, George Harrison, David Bowie e Ringo Starr. Somente por curiosidade: como Yoko Ono entra nessa história?

Na época em que escrevi o livro (início dos anos 80), Yoko Ono representava um rock mais radical beirando a arte conceitual. E sua relação com John Lennon pesou muito. Na perspectiva de hoje, não a incluiria na lista. Na sua opinião, que banda ou músico personificou com uma maior propriedade a essência do rock?

Na faixa do rock-poesia, Bob Dylan (Jim Morrison também). Na do rock-energia, Mick Jagger e os Rolling Stones, o Led Zeppelin. Como uma síntese dos dois: os Beatles. E – por que não? – o space rock do Pink Floyd. Além de saxofonista bissexto, você também se dedica a estudos sobre o jazz, gênero com o qual mantém uma relação muito próxima. Que tipo de ensinamento a música, de um modo geral, te trouxe? Ela pode facilitar a vida das pessoas, de fato?

Sim, acredito que o jazz faz bem à saúde física e mental. Ele nos acostuma a aceitar a vida como ela é – caótica, imprevisível – e a não tentar reduzi-la ou controlá-la por meio de fórmulas rígidas. Traz ao indivíduo uma atitude mais relaxada em relação às coisas e às outras pessoas, tipo

Resumindo, são 72 anos de vida, 56 de jornalismo, muita coisa publicada, principalmente na área do jornalismo cultural. O que falta é transformar em escrita a experiência de vida única, pessoal e intransferível, do indivíduo, seja num livro de memórias, seja numa série de ficções (fatalmente autobiográficas). Este projeto já foi iniciado, nas brechas dos textos utilitários (para jornais, revistas, sites), no romance A Contorcionista Mongol (Record, 2000), em contos esporádicos e em retalhos de memórias, publicados avulsamente.

O PEQUENO LIVRO DO ROCK Cansado das compilações feitas sobre o rock, Hervé Bourhis resolveu fazer do seu jeito. Num diário particular em formato de HQ, o francês recria curiosas situações, nas quais personagens desconhecidos se tornam importantes figuras da cena rock’n’roll. FICHA: Conrad, 224 págs., R$ 45, em média

Como é seu método de trabalho no que concerne à pesquisa no campo da música: você escuta a discografia básica do gênero e depois parte para a pesquisa ou isso funciona de modo inverso?

Eu diria que o método é a própria vida. Fui exposto à música desde cedo, através do cinema (Hollywood) e da Era do Rádio. Comecei a ouvir jazz na infância em velhas bolachas 78 rpm, depois adolescente na era de ouro do LP, em hi-fi e stereo. Os discos foram minha ‘madeleine sonora’, se ouço uma determinada música ela me reporta imediatamente a uma época específica da minha vida emocional. Assim, os sons – e a informação em torno deles – chegaram a mim de maneira improvisada, como o próprio jazz. A aquisição de conhecimento não é um processo laborioso, de estudo, mas um movimento espontâneo de satisfazer a curiosidade. E fica na cabeça da gente para sempre. Ainda puxando Shakespeare, eu não diria que existe método em minha loucura, mas loucura no meu método... Qual seria a discografia básica (digamos, os cinco discos, o Top 5) que você indicaria a alguém que quisesse se iniciar na seara do rock?

É difícil, mas vamos lá: Elvis Presley, 1956 (Elvis Presley); The Freewheelin’ Bob Dylan, 1963 (Bob Dylan); Revolver, 1966 (Beatles); Beggars Banquet, 1968 (Rolling Stones), e Dark Side of the Moon, 1973 (Pink Floyd).

O LIVRO DOS MORTOS DO ROCK O livro de David Comfort é o primeiro a comparar em profundidade as vidas conturbadas e as mortes trágicas de ícones do rock: Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morisson, Elvis Presley, John Lennon, Kurt Cobain e Jerry Garcia. FICHA: Editora Aleph; à venda na primeira semana de agosto

HEAVY METAL – A HISTÓRIA COMPLETA Repleto de fotos e de listas com os melhores discos de cada década, as melhores músicas de cada subgênero, datas importantes e segredos de bastidores, o livro de Ian Christe é obrigatório para qualquer metaleiro. FICHA: Saraiva/Arx, 480 págs., R$ 50, em média

LUIS FERNANDO VERISSIMO David Hockney

Os quatro caminhos O povo San, os primeiros habitantes do sul da África, acreditava que depois da morte o espírito humano se defrontava com quatro caminhos. Três dos quatro caminhos eram estradas magníficas, com chão liso, sombrejadas por árvores altas, que levavam ao Inferno. O quarto caminho era uma estrada calcinada de pedras soltas que levava ao Paraíso. O espírito precisava escolher, e a sua escolha não era entre o Inferno e o Céu, era entre o caminho e o destino. Andar por uma das três estradas largas e prazerosas engrandeceria o espírito, mesmo que levasse à perdição. Escolher o caminho mais difícil castigaria o espírito mas o levaria à salvação. O que era

uma opção para os mortos era um enigma para os vivos: vale mais a viagem ou o seu fim? O que se aproveita da vida se ela for apenas uma provação para a alma? Fiquei sabendo da crença dos San num cenário adequado para reflexões sobre a sabedoria antiga, o Museu das Origens, na grande universidade de Witwatersrand, em Johannesburg. É um museu arqueológico com natural ênfase em evidências de que a África foi mesmo o berço da humanidade, entre estas uma pedra com riscos simétricos feitos há 75.000 anos que foi a primeira obra de arte do mundo. Talvez impressionado com a rede de avenidas, elevadas e minhocões que se en-

trecruzam ao redor de Johannesburg, achei que havia uma metáfora aproveitável na parábola dos quatro caminhos dos San – só ainda não concluí qual é. Johannesburg decididamente escolheu seu destino, que não é mais do que ser uma nova América, ou um conglomerado de shopping centers e condomínios fechados interligados por grandes estradas. Resta saber se perdeu sua alma no caminho. Pois a opção pelas grandes estradas também deu em universidades públicas como a Witwatersrand, onde vimos o que parecia ser uma maioria de estudantes negros, e em vários prêmios Nobel em física, medicina e literatura. As universidades públicas foram feitas na

sua maior parte com dinheiro branco. Afinal, uma raça que produziu a Charlize Theron não pode ser totalmente ruim. TARDE DEMAIS Eu ia propor que as autoridades proibissem a entrada de vuvuzelas no País. Seria uma

medida preventiva, para evitar que seu uso se alastrasse como uma epidemia. Tarde demais. No avião, vindo da África do Sul, vi várias sendo trazidas por brasileiros. Elas se reproduzirão. Elas derrotarão qualquer tentativa de controlá-las. Estamos perdidos.

EU QUERO ROCK’N’ ROLL Até no mundo roqueiro, profissionalizar-se é preciso. Mesmo que não seja para subir no palco, é necessário ter tino para administrar e produzir uma banda. Neste livro, Marcelo Guapyassú dá dicas para quem quer ter sucesso como profissional da música. FICHA: Multifoco, 190 págs., R$ 45, em média


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