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O
BRASIL QUE CANTA
ARTES CÊNICAS. Com mais de 30 anos de estrada, o Grupo Ponto de Partida conquistou plateias de norte a sul do país. Em excursão pelo Nordeste a bordo do Programa Vivo EnCena, a companhia chega a Maceió com os espetáculos Travessia e Os Gnomos Contam a História do Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, que têm apresentação hoje e amanhã na cidade, no Teatro Gustavo Leite. Em entrevista à Gazeta, a diretora Regina Bertola fala das montagens, ressaltando a ‘essência’ de cada uma delas
Rodando o mundo há 20 anos, Travessia oferece uma representação da identidade brasileira a partir da música que é produzida no país
De Fernando Meirelles, 360 é atração nos cinemas. B2
LUÍS GUSTAVO MELO REPÓRTER
“O Brasil não conhece o Brasil”, já dizia a letra daquela canção do Aldir Blanc. Com suas dimensões continentais, nosso país está repleto de tradições e costumes que se manifestam em diferentes culturas espalhadas pelas mais remotas regiões. Nação das mais ricas e híbridas do ponto de vista cultural, esse vasto espectro muitas vezes não é devidamente reconhecido (e apreciado) pelos próprios brasileiros. Para levar ao mundo um espetáculo capaz de traduzir os traços e as diversas facetas dos vários ‘Brasis’ que somos, a companhia mineira Ponto de Partida criou Travessia, musical que integra o repertório do grupo há 20 anos e que teve em Angola, na África, o início de sua vitoriosa trajetória. “O Ponto de Partida foi convidado pelo governo de Angola para apresentar-se em Luanda (a capital do país) com vários espetáculos do nosso repertório, mas nos solicitaram que levássemos algo que mostrasse um pouco da música brasileira. Travessia nasceu desse propósito”, explica à Gazeta a diretora Regina Bertola. “O musical tem uma carreira de sucesso tanto nacional como internacionalmente. Representou o Brasil nos 50 anos da Unesco, em Paris, para delegações do mundo inteiro, fez temporadas em Montevidéu, viajou por Portugal, Bélgica, Alemanha e por quase todo o Brasil”, ela conta. Companhia que contabiliza mais de três décadas de envolvimento pleno com as artes cênicas, o grupo aporta em Maceió neste fim de semana para dar mostras de toda essa paixão pelo ofício: atração no Teatro Gustavo Leite, o Ponto de Partida encena na cidade, respectivamente hoje e amanhã (19),
o musical Travessia e o espetáculo infantil Os Gnomos Contam a História do Gato Malhado e a Andorinha Sinhá (leia matéria nesta página).
com todos os temperos e sabores”, diz ela. A construção do espetáculo também nada tem de racional – e convenhamos, em se tratando de música brasileira seria
FILOSOFIA Travessia traduz bem a filosofia de trabalho do Ponto de Partida. Para conduzir o espectador pelo que pretende Cena da peça ser uma ‘viagem’ Os Gnomos Contam pela alma do povo a História do brasileiro, o espetáGato Malhado e a culo mistura eleAndorinha Sinhá mentos de show e teatro, promovendo uma verdadeira garimpagem na obra de composi- um tanto estratores como Villa-Lobos, nho se assim o fosTom Jobim, Chico Buar- se. “As letras das músicas que, Milton Nascimento, inspiram algumas vezes a Caetano Veloso e Gonza- cena, mas às vezes é a cena que determina a músiguinha, entre outros. No elenco, dois músicos ca. Esse musical tem uma assumem a função de dar linguagem muito especial, cores ao espetáculo: o per- portanto é difícil definicussionista Serginho Silva lo”, observa Regina. Vivo e em constante e o violonista Gilvan de Oliveira, também respon- movimento, o espetáculo sável pelos arranjos e pela busca a interação com o direção musical da monta- público o tempo inteiro. gem. Sobre os critérios “No final é como se uma adotados para a escolha mola levantasse o público das canções, a mentora ao mesmo tempo e não há da trupe esclarece que a mais fronteiras entre o ideia surgiu da necessida- palco e a plateia, pois tode de realizar um apanha- dos estão envolvidos na do da música brasileira mesma celebração. Traves“em ótima companhia”. sia é uma festa!”, diz ela. Mas reconhece que a definição do repertório também passa, inevitavelmente, pelo gosto pessoal da direção do show. “A expeO quê: apresentação do riência tem nos mostrado Grupo Ponto de Partida em que foi uma seleção acerMaceió, com os espetáculos tada, pois nesses anos toTravessia e Os Gnomos Condos Travessia já se apretam a História do Gato Masentou para milhares de lhado e a Andorinha Sinhá pessoas, emocionando plaOnde e quando: no Teatro teias do mundo inteiro”, Gustavo Leite, respectivapontua Regina Bertola. mente hoje e amanhã “Esse show devolve a (19), às 21h e 17h todos nós um pouco desse Ingressos: R$ 20 (inteira) Brasil que às vezes esquee R$ 10 (meia); preço cemos que existe, mas que promocional para a está aí com a força da sua classe artística – R$ 5 música e da sua gente, Ponto de venda: estande num convite permanente Sue Chamusca (Maceió para tomarmos posse desShopping) sa terra como nação contiInformações: 3235-5301 nental que é, configurada e 9925-7299 como colcha de retalhos, como um mexido feito
Serviço
Sábado 18/08/2012
ROMEU E JULIETA À MODA BAIANA
REGINA BERTOLA ATRIZ E DIRETORA TEATRAL
“Esse show devolve a todos nós um pouco desse Brasil que às vezes esquecemos que existe, mas que está aí com a força da sua música e da sua gente, num convite permanente para tomarmos posse dessa terra como nação continental”
Adaptação do livro lançado em 1976 pelo escritor Jorge Amado, Os Gnomos Contam a História do Gato Malhado e a Andorinha Sinhá conta uma história de amor improvável entre um gato e uma andorinha. O romance entre os dois animais sobrevive durante três estações, mas esbarra na evidência de que uma andorinha jamais poderia se casar com um gato. Escrita no período em que o autor esteve exilado em Paris, a obra vem sendo bastante divulgada por diversos veículos como o “único texto de Jorge Amado para crianças”, informação que a diretora Regina Bertola rechaça. “Dizem que é o único texto de Jorge Amado para crianças, mas não caia nessa. O Gato Malhado é um texto para meninos de todas as idades, um Ro-
meu e Julieta à moda baiana que tem emocionado e divertido milhares de pessoas”, ela afirma. “Outro clássico do repertório do Ponto de Partida, Os Gnomos Contam a História do Gato Malhado e a Andorinha Sinhá também é uma montagem com carreira internacional que está em cartaz há 21 anos. Esteticamente, é um espetáculo muito bonito que nos remete imediatamente ao encantado. Levá-lo a Maceió é também uma forma de juntarmonos ao mundo e homenagear Jorge Amado, nosso amigo querido, que faria 100 anos em 2012”. Plena de lirismo, a história cujo tom fabular remete aos contos infantojuvenis tem apresentação neste domingo (19) no Teatro Gustavo Leite, com sessão às 17h. LGM ‡
O nascimento do ‘Gato Malhado’ Jorge Amado colheu a história do amor impossível entre um gato e uma andorinha de uma trova do poeta Estêvão da Escuna, que costumava recitá-la no Mercado das Sete Portas, em Salvador. Não era uma narrativa para ser publicada em livro, mas um presente para o filho, João Jorge, que completava um ano de idade. A seguir, confira um trecho da apresentação de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, que ganhou reedição em 2008 pela Companhia das Letras A história de amor do gato malhado e da andorinha Sinhá eu a escrevi em 1948, em Paris, onde então residia com minha mulher e meu filho João Jorge, quando este completou um ano de idade, presente de aniversário; para que um dia ele a lesse. Colocado junto aos pertences da criança, o texto se perdeu e somente em 1976 João, bulindo em velhos guardados, o reencontrou, dele tomando finalmente conhecimento. Nunca pensei em publicá-lo.
Mas tendo sido dado a ler a Carybé por João Jorge, o mestre baiano, por gosto e amizade, sobre as páginas datilografadas desenhou as mais belas ilustrações, tão belas que todos as desejam admirar. Diante do quê, não tive mais condições para recusarme à publicação por tantos reclamada: se o texto não paga a pena, em troca não tem preço que possa pagar as aquarelas de Carybé. Londres, agosto de 1976 J. A.