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Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim? Não no rock ‘n’ roll. Com hormônios e rebeldia de sobra, os roqueiros nem sempre viveram relacionamentos tranquilos e estáveis. Pelo contrário, nos romances que pontuam a história do gênero há desde traições descaradas a escândalos sexuais, e em doses nada homeopáticas. Neste Dia dos Namorados, a Gazeta passa em revista os dez casos de amor mais rumorosos do rock. De John e Yoko a Sid e Nancy, hoje você vai conhecer o lado mais selvagem dessa história. Não perca | LUÍS GUSTAVO MELO Estagiário
Nos longínquos anos 50, quando a ‘juventude transviada’ do pós-guerra dividia-se entre maçãs do amor e visões apocalípticas de cogumelos atômicos povoando os mais negros pesadelos, a ideia de que cada minuto poderia ser o último era comum a milhares de jovens que viam nos trejeitos do ator James Dean e na urgência dos primeiros rocks uma forma de reagir à caretice de seus pais e às convenções impostas pela sociedade. A velha máxima do “viva rápido, morra jovem e deixe um belo cadáver”, tão largamente associada à figura de Dean e à atitude desregrada dos primeiros ídolos da ‘infância’ do rock ‘n’ roll, passou a fazer parte do imaginário da garotada ao longo de sucessivas gerações e, por incrível que pareça, resiste sabe-se lá como nos dias atuais, mesmo após quase seis décadas da popularização do gênero. No rock ‘n’ roll, escândalos, violência, atitudes grotescas e uma certa dose de arrogância são componentes básicos do pacote, o que implica dizer que ser bonzinho, agradável e estar de bem com o mundo, neste ramo, corresponde a dar um tiro no pé. No rock, mesmo as paixões e romances mais incandescentes se processam num nível de intensidade equivalente ao de uma letal canção de dois minutos. E entrar no assunto dos romances intensos, baseados nos mais ‘nobres’ princípios da desobediência e do ultraje, e não lembrar do ‘Killer’ Jerry Lee Lewis, seria o mesmo que falar das pornochanchadas e não mencionar o ídolo Paulo César Peréio. Jerry Lee era um caipira do estado da Louisiana e tinha apenas 21 anos quando chegou a Memphis, em 1956, com o firme propósito de ser o próximo Elvis
Presley – o que teria conseguido, não fosse uma polêmica danada na qual se envolveu ao casar com sua priminha Myra Gale Brown, de 13 anos. Na época o episódio desencadeou uma verdadeira onda de ódio e indignação perante a opinião pública nos dois lados do Atlântico, soterrando sua promissora carreira, a qual o incendiário pianista levou anos para reestabilizar. Nos anos 60, época que representou o auge criativo, ideológico e de maior relevância do rock, a quebra de tabus naturalmente atingia outros níveis e direções. Por exemplo: perto da imagem de promiscuidade sexual vendida pelos Stones, das atitudes, digamos, mundanas de Jim Morrison e do pessoal da Factory de Andy Warhol em meados da década, o inconsequente casamento de Jerry Lee Lewis com a prima adolescente nos anos 50 parecia então pura bobagem. Entre diversos casos com groupies e fãs menores de idade, o histórico de relacionamento dos Stones com atrizes e modelos como Anita Pallenberg e Marianne Faithfull – ambas jovens que receberam flores e presentes de praticamente toda a banda – já entrou para o hall das lendas e histórias escabrosas do gênero. Entre os conjuntos ingleses da chamada invasão britânica, havia ainda o caso do beatle John Lennon, que casado há dois anos com Cynthia Powell (mãe de seu primeiro filho, Julian), no auge da beatlemania era obrigado a esconder o casamento para agradar às milhares de fanzocas americanas – no que ele devia fazer de muito bom grado. A pobre Cynthia passou por situações realmente embaraçosas ao longo de praticamente toda a trajetória dos Beatles e, quando Yoko Ono entrou em cena, a jovem senhora Lennon teve de jogar definitivamente a toalha.
OS DEZ CASAIS MAIS ‘SINGELOS’ DO ROCK ‘N’ ROLL Explosivos, violentos, escandalosos... No rock, até os romances mais incandescentes se processam num nível de intensidade equivalente ao de uma letal canção de dois minutos
John Lennon e Yoko Ono numa de suas incontáveis sessões de foto
NOS SUBTERRÂNEOS DE NOVA YORK Os anos 70 foram pródigos em paixões e romances marginais. Numa estrada da Califórnia, Erick Purkisher, um garotão de Ohio, avista uma ruiva no acostamento. Para sua moto e oferece uma carona. Era 1972 quando o futuro cantor dos Cramps conheceu a mulher que, junto a ele, dividiria os créditos pela invenção do psychobilly, uma degeneração do rockabilly da década de 50 com elementos de punk rock e temática baseada na cultura trash. A jovem Kristy Wallace aceitou a carona e de cara os dois se apaixonaram. O mais incrível é que eles estavam indo justamente para a mesma escola, estudar arte e xamanismo (!). Depois de dois anos perambulando por Sacramento, Califórnia, fazendo pequenas contravenções, a dupla resolveu deixar a cidade quando a polícia local marcou em cima. Adotaram os nomes de Lux Interior e Poison Ivy, fizeram as malas e colocaram toda a tralha na traseira do Chev. Ao contrário de Eduardo e Mônica, da canção do menino Renato Russo, Lux e Poison dividiam absolutamente os mesmos interesses por filmes B, rock dos anos 50, surf music e garage rock dos anos 60. Mudaram-se para Nova York e começaram os Cramps, banda que tocava com certa regularidade
no lendário clube CBGB’s. O CBGB’s era o berço do novo movimento da new wave nova-iorquina, lar dos Ramones e de vários outros grupos com livre trânsito na ponte aérea Londres/Nova York que daria no punk – o fenômeno sociocultural que mudaria para sempre a face da música pop. E mesmo ali, nos subterrâneos da grande maçã, em meio a um ambiente povoado por michês, traficantes e junkies, havia espaço para relacionamentos tórridos. São famosos os casos de groupies e strippers literalmente perigosas, como Connie Ramone, companheira de inúmeras baixarias e pândegas monumentais com o falecido baixista dos Ramones Dee Dee Ramone (19522002), e Nancy Spungen, que após circular por um longo tempo às voltas com os músicos do underground nova-iorquino tornou-se famosa ao envolver-se com Sid Vicious, baixista do grupo inglês Sex Pistols. “Quando Nancy Spungen entrou na minha loja foi como se Dr. Strangelove tivesse mandado essa doença pavorosa especificamente para a Inglaterra e especificamente para a minha loja”, disse Malcom McLaren (19462010), empresário do grupo. “Pensei: ‘Mandaram isso de propósito, de algum daque-
les horripilantes clubinhos sinistros e imundos de Nova York! É um revide contra mim, estou certo disso’”. Com o cinismo da década de 80 e o advento da famigerada onda politicamente correta dos anos 90, personagens interessantes no universo pop tornaram-se cada vez mais raros. Os últimos deles talvez sejam o casal grunge Kurt Cobain e Courtney Love. Protagonistas de várias polêmicas e escândalos envolvendo drogas e quebra-paus fartamente divulgados na mídia mundial, a história dos dois por vezes foi comparada à dos punks Sid e Nancy. É curioso observar que a própria Courtney chegou a fazer uma ponta na cinebiografia Sid & Nancy, do realizador inglês Alex Cox. E se antes até as baixarias tinham lá seu charme, de uns tempos para cá os escândalos ficaram apenas na esfera do constrangimento. Quando a Barbie tamanho família Pamela Anderson pintou na área, há cerca de 15 anos, o máximo que o rock ‘n’ roll ofereceu foram as histórias da moça com o baterista do Mötley Crüe Tommy Lee, em vídeos amadores de sexo para lá de capengas, e seu caso com outro farofeiro terrível, o bufão Kid Rock. É, não se fazem mais casais cool como antigamente... |LGM
John Lennon e Yoko Ono O mais famoso casal do universo pop e, possivelmente, duas das mais emblemáticas personalidades do século 20 – seja pelo incrível rebuliço causado pelo episódio de sua união, que agravou o já crescente mal-estar instaurado no núcleo dos Beatles na segunda metade dos anos 60, seja pelas inúmeras e marcantes aparições na mídia em fotos comprometedoras e protestos que os levaram a bater de frente com a alta cúpula do governo americano. Os dois se conheceram em novembro de 1966, numa galeria em Londres onde Yoko promovia sua exposição. Na época, Lennon era casado com Cynthia Powell, mãe de seu primeiro filho, Julian, que passou por toda sorte de humilhações durante praticamente toda a trajetória dos Beatles. A atração inicial entre John e Yoko logo se transformou numa paixão avassaladora. Tanto que em meados de 1968 os dois não se desgrudavam um minuto sequer. Lennon a levava para todos os seus compromissos, o que incomodava terrivelmente os outros Beatles. Em 20 de março 1969, os dois se casaram numa cerimônia em Gibraltar e fizeram de sua lua de mel uma coletiva de imprensa de uma semana, posando para fotos na cama de um hotel em Amsterdã – como protesto contra a Guerra do Vietnã. Em meados de 1973 a relação esfriou e eles passaram cerca de 18 meses separados. Reataram em 1975 e tiveram um filho, Sean. O relacionamento de John Lennon e Yoko Ono durou de 1969 até 1980, quando ele foi assassinado em Nova York.
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OS DEZ CASAIS MAIS ‘SINGELOS’ DO ROCK ‘N’ ROLL Fotos: reprodução
Explosivos, violentos, escandalosos... No rock, até os romances mais incandescentes se processam num nível de intensidade equivalente ao de uma letal canção de dois minutos
Kurt Cobain e Courtney Love Ike e Tina Turner Constantemente comparado ao casal punk Sid e Nancy, o caso do líder do Nirvana com a encrenqueira ex-vocalista do Hole, Courtney Love, como todos sabem, também não acabou nada bem. Num dos mais contundentes (e sensacionalistas) documentários sobre o suicídio de Cobain, o realizador britânico Nick Broomfield vasculha o passado do astro e de sua esposa a fim de encontrar uma resposta. Em meio a uma rede de intrigas, contradições e conspirações, sempre que possível o autor traça o perfil da viúva do músico grunge como uma oportunista que poderia
muito bem ter sido a responsável pela morte do marido. Kurt e Courtney casaram-se em fevereiro de 1992, ambos de vestido. No mesmo ano nasceu a menina Frances Bean Cobain. A dependência de heroína de ambos foi exposta pela revista Vanity Fair e custou ao casal a perda da guarda da filha por um breve período. Os sérios problemas psicológicos de Cobain, sua saúde extremamente debilitada e a dependência cada vez mais acentuada das drogas formaram uma trilha sem retorno que culminou no seu derradeiro ato de fraqueza, no dia 05 de abril de 1994.
Quando Ike Turner conheceu Tina – à época uma colegial de 17 anos chamada Annie Mae Bullock –, já não era nenhum menino e possuía um belo currículo como músico no circuito noturno de sua região. Em 1951, com apenas 20 anos, participou da gravação de Rocket 88, de Jackie Brenston, para muitos o marco zero do rock ‘n’ roll. Trabalhou com lendas do blues como Elmore James, Howlin’ Wolf e Sonny Boy Williamson, e em meados de 1956 era o líder do grupo mais quente de Saint Louis, no Missouri. A jovem Annie Mae foi descoberta por Ike, que a convidou para cantar em seu conjunto
batizada com o nome artístico de Tina Turner. A união da dupla resultou numa sonoridade criativa que misturava rock, rhythm’n’blues e soul em performances explosivas e sensuais. A relação profissional logo se desdobrou num conturbado relacionamento de anos de agressões e pressão psicológica. “Ele possuía uma arma na época. Ele sempre me fez sentir que, a qualquer hora, iria puxar o gatilho”, disse ela numa entrevista concedida à jornalista Nancy Collins para a revista Rolling Stone, em 1986. A história do casal rendeu um drama hollywoodiano, Tina – A Verdadeira História de Tina Turner
(1993), dirigido por Brian Gibson e com Laurence Fishburne no papel do maridão carinhoso, Ike. Após 16 anos suportando agressões, ameaças, infidelidade e o vício em cocaína de seu companheiro, Tina o abandonou levando consigo apenas alguns objetos pessoais e 36 centavos no bolso (!). A parceria profissional entre eles foi encerrada oficialmente em outubro de 1976, e o divórcio só saiu em 1978. Em meados dos anos 80, a artista deu a volta por cima com um empurrãozinho do promotor de shows Roger Davies, que armou para ela uma bem-sucedida turnê com os Rolling Stones.
Ela então combina de levar Iggy e seus amigos ao The Scene Club, casa noturna na qual a certa altura Jimi Hendrix deu as caras e foi apresentado aos Stooges por Nico. Meses depois ela vai morar na Fun House, a residência da banda, em Ann Arbor, Michigan. Foram longas e intensas semanas de relacionamento nas quais, nesse meio tempo, a artista chegou a armar um projeto de filme ‘cabeça’ em 16mm com Iggy, financiado por um ricaço do Texas. “Nico ficou bastante tempo, cerca de três meses”,
relatou o guitarrista do grupo Ron Asheton no livro Mate-me Por Favor. “Iggy nunca disse se estava apaixonado por ela ou não. Mas lembro que, depois dela ter ido embora, Iggy desceu as escadas em busca de algum conselho. Chegou para mim e disse: ‘Bem, eu acho que tem alguma coisa errada, talvez você possa me dizer o que é.’ Daí tirou o pau fora, apertou, e apareceu um corrimento verde. Eu disse: ‘Meu chapa, você pegou gonorréia.’ Nico passou para Iggy a primeira gonorréia dele”.
Iggy Pop e Nico
Arnaldo Baptista e Rita Lee A história do casal Arnaldo Baptista e Rita Lee começou ainda na adolescência, em meados de 1966, quando eles fundaram um grupo com o irmão mais novo de Arnaldo, Serginho, no bairro da Pompeia, em São Paulo. Naquela época, na região havia um conjunto de rock ensaiando em cada quarteirão. Acontece que o grupo de Arnaldo e Rita não era uma banda qualquer: eles eram os Mutantes, a formação de vanguarda que sob a batuta do maestro Rogério Duprat se tornaria peçachave para fazer da Tropicália um movimento viável. O namoro-casamento de Arnaldo e Rita, aliás, se confunde com a própria história dos Mutantes e, à medida que a aventura musical
dos garotos ia tomando rumos que abriam brechas para os primeiros desentendimentos, a relação do jovem casal começou a azedar, numa espiral de ciúme, inveja e incompatibilidade musical (principalmente quanto ao direcionamento que o grupo passou a seguir em meados dos anos 70, sob influência do rock progressivo). Após muitas brigas, veio o ultimato que, para Rita, permaneceu para sempre como uma nota amarga desse período de sua história: ela foi expulsa da banda no final de 1972. “Virei persona non grata na nova proposta e, como fui contra, escolheram me despachar na marra”, disparou a cantora, que jamais perdoou seus antigos companheiros.
Em 1969, o grupo pré-punk The Stooges gravava seu histórico primeiro álbum com o produtor John Cale, ex-integrante do Velvet Underground. Durante as sessões, vez ou outra a modelo, atriz e cantora alemã Nico (também ex-Velvet) aparecia na cabine de Cale para acompanhar as gravações, embora seu interesse ali fosse outro. Com o disco pronto, Cale levou os Stooges para conhecer a Factory de Andy Warhol. Naquele local cheio de homossexuais, speedfreaks e modernos de todos os matizes, os meninos dos Stogges, típicos garotos do meio-oeste americano, ficaram pouquíssimo à vontade. Daí que finalmente surge Nico, atraindo para si a atenção do vocalista do grupo, Iggy Pop. Nico tinha fama de se envolver com poetas e artistas emergentes. Foi assim com Alain Delon, Brian Jones, Leonard Cohen, Bob Dylan, Lou Reed e Jim Morrison, e chegara a vez do vocalista daquela banda que seu amigo Cale gravara outro dia.
Mick Jagger e Marianne Faithfull O relacionamento de Mick Jagger com a musa da Swinging London Marianne Faithfull rendeu algumas páginas picantes na história do rock. Filha de uma baronesa austríaca, Marianne foi educada nos melhores colégios e era casada com um proeminente dono de galeria de arte, mas não resistiu aos ‘encantos’ do sórdido universo mundano que girava em torno do cotidiano dos Stones. O primeiro encontro com Jagger foi numa festa, durante a primavera de 1964. Marianne era então uma belíssima jovem de 17 anos, que prontamente chamou a atenção do empresário do grupo, Andrew Loog Oldham. Fascinado, Oldham contratou-a como cantora. A famosa canção As Tears Go By, inclusive, foi composta por Jagger e Richards para ela interpretar e dar uma forcinha em sua carreira. Com o sucesso, Marianne caiu na badalação e no inevitável encontro com as drogas através de Brian Jones. “Meu principal objetivo era ter um Rolling Stone como amante. Eu dormi com três e decidi que o cantor era o melhor”, disse ela sem maiores cerimônias. Sua relação com Mick começou depois de assistir ao lado do vocalista a um show de Ike e Tina Turner em 1966 e foi marcada por inúmeros casos escabrosos, muitos dos quais a cantora escancarou em sua autobiografia lançada em 1994, na qual ela dedica 159 páginas aos segredos mais cabeludos dos Rolling Stones! Mick Jagger e Marianne Faithful ficaram juntos por quatro anos. Separaram-se poucos meses depois do desastroso festival montado pela banda em Altamont, EUA.
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Lou Reed e Rachel O roqueiro Lou Reed sempre fez de tudo para entrar em choque com a moral e o pensamento medianos, mas em certos momentos de sua vida exagerou consideravelmente na dose – quando, por exemplo, viveu anos com um travesti conhecido com Rachel. Filho de família abastada, possivelmente muito da revolta de Lou e de seu apreço pelo mundano vieram dos traumáticos tratamentos de choque elétrico a que seus pais o submeteram na infância para desestimular inclinações homossexuais. Com o grupo Velvet Underground, Lou entrou de sola no mundo de promiscuidade que cercava a Factory, o lendário ateliê do artista multimídia Andy Warhol. No início de sua carreira solo, em meados de 1972, Reed estava casado com uma bela jovem loira chamada Betty, que o acompanhava nas turnês mais como uma espécie de babá do que qualquer outra coisa. Lou nunca nutriu qualquer sentimento em relação à pobre garota e tão logo conheceu Rachel, um transexual de traços mexicanos, largou a esposa. “Eu a encontrei pela primeira vez no Greenwich Village e percebia que ela me olhava e veio até mim quando eu a convidei”, lembra Reed. “Eu falei por horas e horas e ela apenas me ouvia. Eu estava vivendo com minha antiga esposa e queria que morássemos os três juntos, mas ela achou demais e acabou se mudando. Com isso, Rachel veio viver comigo. Ela era completamente desinteressada em quem eu era ou o que eu fazia”. Numa das lendárias entrevistas com Lou, o crítico Lester Bangs descreveu Rachel da seguinte forma: “Era grotesco. Não só grotesco, era abjeto, como algo que poderia haver entrado rastejando furtivamente quando Lou abriu a porta de casa para pegar o leite e os jornais da manhã e simplesmente acabou ficando”. Lou era realmente apaixonado por Rachel e escreveu até mesmo um poema para ela, The Chemical Man.
Jon Spencer e Christina Martínez Jon Spencer e Christina Martínez formam o mais louco casal da cena roqueira norte-americana dos últimos anos. Afinal de contas, estamos falando de uma dupla que desde meados dos anos 80 divide o palco em shows completamente alucinados, nos quais em raras ocasiões a patroa não se apresenta completamente nua – algumas vezes vestindo apenas luvas e botas de salto alto. Spencer é o responsável por uma pequena revolução no cenário alternativo de meados dos anos 90, com seu alucinado trio Jon Spencer Blues Explosion, grupo que subverteu as estruturas do blues com uma explosiva fusão de gêneros que vão do rock de garagem dos anos 60 aos delírios noise de grupos como o Sonic Youth e o Birthday Party. Segundo os anais, o casal se conheceu num show dos ingleses do Jesus & Mary Chains, em 1985. Dessa época até me-
ados de 1990, eles barbarizaram o underground americano com o Pussy Galore, uma das mais barulhentas e radicais formações do rock ianque de todos os tempos. Com o fim do grupo, o casal continuou com suas perversões ‘noise libidinosas’ com o Boss Hog. O relacionamento do casal sempre foi pontuado por lendários quebra-paus, muitos dos quais causados por ciúmes de ambos os lados. Reza a lenda que o visual desleixado de quando Jon esteve aqui perto, tocando no festival pernambucano Abril Pro Rock em 2001 com o Jon Spencer Blues Explosion, fora motivado por um chute-na-bunda dado pela esposa após ela ter descoberto um caso do rapaz com uma atriz americana. Eles continuam casados e Christina largou a carreira musical para cuidar dos filhos e dedicar-se a outras atividades, como as de produtora e designer.
Sid Vicious e Nancy Spungen O romance do ícone punk Sid Vicious com a americana Nancy Spungen fechou em definitivo o ciclo de violência e ultraje propagado pelo fenômeno Sex Pistols. Retratada no cinema em 1986 pelo cineasta inglês Alex Cox e com Gary Oldman perfeito no papel do inepto e inconsequente baixista dos Sex Pistols, a história já foi definida
por alguns como uma espécie de Romeu e Julieta do final dos tempos. Nancy Spungen era uma groupie de Nova York que vivia na cola de Jerry Nolan, antigo baterista dos New York Dolls. Quando o músico voou até a Inglaterra numa turnê com seu novo grupo, os Heartbreakers, ela foi atrás e após tomar um tremendo passa-fora do bateris-
ta, não se apertou e logo começou a investir em Sid Vicious, o novo membro da bandasensação do momento naquele verão inglês de 1977. A moça era vista por todos como encrenca na certa, especialmente pelos outros três Pistols e pelo empresário Malcom McLaren, que tentavam mantê-la afastada sempre que podiam. E certamente Nancy foi responsável por apresentar Vicious à heroína, visto que até então os punks ingleses basicamente usavam anfetaminas. Com o fim da banda, o casal foi morar em Nova York, mergulhando numa vertiginosa espiral de degradação física e moral misturada com a falta de sucesso. A violenta e degradante rotina do casal terminou com Nancy esfaqueada no quarto do Chelsea Hotel, em outubro de 1978, com Sid próximo a ela e absolutamente fora do ar. Vicious foi preso acusado de assassinato. Solto sob fiança, não ficou muito tempo na ativa e acabou morrendo de overdose de heroína quatro meses depois.
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OS DEZ CASAIS MAIS ‘SINGELOS’ DO ROCK ‘N’ ROLL Explosivos, violentos, escandalosos... No rock, até os romances mais incandescentes se processam num nível de intensidade equivalente ao de uma letal canção de dois minutos Ozzy e Sharon Osbourne Por um bom tempo o famigerado reality show dos Osbournes pôs a figura do ex-cantor do Black Sabbath em evidência para um público que pouco sabia sobre sua história. Com Ozzy pagando micos extraordinários ao lado de sua esposa e também empresária Sharon Osbourne, o
programa era a prova definitiva de que não há limites para essa turma quando o assunto é grana. Sharon era filha do megaempresário Don Arden – um dos maiores gângsters do showbusiness dos anos 60 e 70 e que tinha entre seus ‘vassalos’ grupos como Electric Light Orches-
tra, The Small Faces e o Black Sabbath – e conheceu Ozzy em 1974, quando ainda trabalhava para o pai. Expulso do Black Sabbath em meados de 1978, o cantor ficou na pior e foi literalmente tirado da sarjeta por Sharon, que para empresariar Osbourne em sua carreira solo brigou in-
clusive com seu poderoso pai. Os dois se casaram em 1982 e, por mais que se fale o quão megera a mulher é, a verdade é que ela trabalhou duro para afastar o marido do álcool e das drogas, o que não era nada fácil devido às suas constantes recaídas. Para se ter uma ideia de como
as coisas eram, o próprio bolo de casamento levou 7 garrafas de conhaque (!) e depois da festa Ozzy ficou tão chapado que desmaiou no corredor do hotel, em plena lua de mel. Em 1989, quando esteve no Moscow Music Festival, ganhou algumas garrafas de vodca russa. Sharon não quis aceitar, pois tinha sido uma luta fazê-lo largar a bebida. Mas ele insistiu em ficar com o presente como decoração. Numa noite de sábado, sozinho e entediado, disse que ouviu as garrafas chamando por ele, não resistiu e, num certo momento, invadiu o quarto da esposa completamente fora de si, dizendo “Nós decidimos que você tem de morrer!” e partindo então para estrangulá-la. Foi a gota d’água. Sharon conseguiu que a justiça o proibisse de se aproximar dela e dos filhos, mas depois o perdoou, sob a condição de que se internasse para desintoxicação.