Spielberg diz que mercado do cinema viverá revolução. B9
MÚSICA. Um dos mais talentosos nomes da música brasileira contemporânea, Wado retorna trazendo boas-novas. Em seu novo disco, Vazio Tropical, registro realizado a partir de um frutífero processo colaborativo, o artista acena para o passado sem deixar de olhar para o presente. Acompanhado por parceiros/amigos da nova geração da música popular brasileira – entres eles Momo, Cícero, Mallu Magalhães –, o compositor catarinense radicado em Alagoas reafirma seu talento deixando um pouco de lado sua capacidade natural para a invenção, levando sua música para novas frentes FELIPE BRASIL
DIVULGAÇÃO
Em seu novo álbum, Wado aposta na canção como elemento primordial: “É um disco que ia ser triste, mas acabou se transformando num disco belo”, disse ele
Domingo 16/06/2013
TERRITÓRIO DA CANÇÃO LUÍS GUSTAVO MELO REPÓRTER
No cenário musical independente da última década, ele se destacou como uma das grandes surpresas da nova geração surgida no início do século 21. Mesmo declarando não ter medo do pop, o cantor e compositor Wado jamais recorreu às fórmulas de sucesso formatadas pela indústria para aproximar-se do gênero; preferindo pautar a carreira na consistência de uma obra que, até o momento, se caracteriza pela coerência e integridade típicas de quem mantém uma ética de trabalho voltada para aquilo que acredita. Cria da cena alternativa alagoana dos anos 1990, quando integrou bandas como Ball e Santo Samba, o artista já conta com bons (e prolíficos) anos de estrada como solista. E contrariando a ‘certeza’ de muitos de que um caminho artístico digno só seria possível na terra prometida do eixo Rio-São Paulo, Wado prova que ainda hoje consegue manter uma agenda de shows razoavelmente movimentada. “Minha vida funciona estando aqui, e a vida no Rio está muito cara tam-
bém”, justifica ele. “São coisas que eu acho que chega um ponto que é a vida que escolhe. Não seria mais uma escolha minha, eu teria que atender a uma demanda externa para poder partir para lá”. Além disso, o compositor ainda aponta o fato de que com as facilidades da era digital o conceito de ‘distância’ tornou-se relativo. “A gente acaba ficando muito próximo das pessoas em qualquer lugar. A proximidade é a vontade das pessoas estarem próximas mesmo”. Com o novo CD Vazio Tr o p i c a l n a a g u l h a ( o show de lançamento acontecerá no dia 20 de junho, no Teatro Sérgio Porto, no Rio de Janeiro), Wado está otimista e mostra-se bastante satisfeito com a atual fase de sua carreira. Nitidamente mais relaxado com a condição de artista independente (com tudo que isso representa de bom e de ruim), o compositor parece ter superado o momento de incertezas, que o levou a questionar seriamente a viabilidade de viver de música. No sétimo álbum de uma discografia caracterizada pela experimentação, pela primeira vez Wado buscou a canção como
elemento primordial. “Esse disco tem uma unidade estética que nenhum disco anterior meu teve. As canções estão na frente, em primeiro plano”, explica. “Tudo entra em função delas. São arranjos sutis, é um disco que ia ser triste, mas acabou se transformando num disco belo. Eu sempre tive essa coisa da experimentação como norte. Nesse álbum, o norte é o belo, o que deve me dar um trabalhão pra canta”, avalia ele.
RUMO AO VAZIO “O Vazio Tropical começou quando, numa palestra em Salvador, eu e Kassin (produtor de Vanessa da Matta e Los Hermanos, entre outros) filosofávamos sobre questões da cena de música em que estamos inseridos”, conta o cantor. “Em determinado momento, revelei: ‘Só tenho paciência de gravar um disco novo se for no formato violão e voz’. Estava sem paciência de fazer em condições adversas com muitas camadas. Kassin, de bate-pronto, mandou: ‘Vamos fazer lá em casa Wado!’. O tempo correu e meses depois, quando mostrei as músicas para ele, ficamos pensando em qual seria a melhor
WADO CANTOR E COMPOSITOR
“Esse disco tem uma unidade estética que nenhum disco anterior meu teve. As canções estão na frente, em primeiro plano. Tudo entra em função delas. São arranjos sutis. É um disco que ia ser triste, mas acabou se transformando num disco belo. Eu sempre tive essa coisa da experimentação como norte. Nesse álbum, o norte é o belo, o que deve me dar um trabalhão pra cantar”
forma de realizar isso. Daí, nesse entremeio, fui premiado pela Oi e o dinheiro que não se tinha, agora existia verdinho para ser gasto”. Com verba suficiente para viajar em planos mais audaciosos, Kassin joga a ideia de fazer um disco de tango na Argentina, com músicos do país. No batepapo com a reportagem, Wado conta que na época achou a ideia genial, mas que, por conflitos na agenda de ambos, o disco acabou não rolando. “Os compromissos dele e os meus foram jogando o projeto pra frente, daí que essa ideia sensacional não se realizou. Mas esse desejo ainda lateja”, garante. De todo modo, a história estava apenas começando. Foi quando um novo parceiro musical surgiu na jogada. “Antes de seguirmos adiante, Kassin me deu mais um presente: me apresentou o Cícero [Lins, cantor e compositor carioca], e nos colocou num projeto bem legal. Nós três realizamos uma trilha sonora de seriado de TV a cabo. Ficou bem massa. Foram muitas músicas que surgiram e pude me confrontar com o tamanho e a exuberância do talento desse menino Cícero.
Do encontro ainda surgiram três canções que estão no disco novo e que foram determinantes para o caminho que o Vazio tomou”, explica Wado, que revela ainda que a ideia de convidar Marcelo Camelo para a produção partiu do jovem cantor, que foi o vencedor do Prêmio Multishow de Música Brasileira de 2012. “Não fosse Cícero, acho que isso jamais teria passado pela minha cabeça. E tenho de dizer que tive certo receio”, ele admite. ‡ Continua nas págs. B2 e B8
Serviço Disco: Vazio Tropical Artista: Wado Gravadora: Oi Música Internet: Disponível para audição em streaming no endereço: http://on.rdio.com/13uj5dn
B 2 Caderno B
GAZETA DE ALAGOAS, 16 de junho de 2013, Domingo
FOTOS: VERA MARMELO/DIVULGAÇÃO
CONTINUAÇÃO DA PÁG. B1. Wado releva a satisfação por ter Marcelo Camelo, “o grande expoente de sua geração”, como produtor do disco
“É ENCANTADOR VIVER ISSO E OUVIR O RESULTADO” Gravado em Portugal, Vazio Tropical contou com a colaboração de músicos do cenário alternativo
LUÍS GUSTAVO MELO REPÓRTER
Quando Wado então resolveu convidar Marcelo Camelo para produzir o álbum, o artista carioca topou no ato, sem qualquer restrição. “Eu disse para ele: ‘Olha, Marcelo, tenho um dinheiro aqui para você trabalhar uma semana com a gente’. Mas aí ele: ‘Não, eu quero trabalhar dois meses’. Daí, eu disse: ‘Dois meses, o dinheiro não vai dar’; e ele: ‘O dinheiro é esse aí, mas eu quero trabalhar dois meses no disco’. Ele se comprometeu mesmo”. A primeira etapa das gravações foi realizada no estúdio do selo Biscoito Fino, no Rio de Janeiro, onde a turma usou o mesmo aparato de medalhões como Chico Buarque e Maria Bethânia. “Os técnicos de lá contaram histórias bonitas do método de Bethânia gravar; é um lugar muito especial. Apesar disso, pouca coisa dessa etapa entrou no disco”, explica o cantor, dizendo que o registro deslanchou mesmo em Portugal, onde Camelo e Fred Ferreira (baterista dos grupos portugueses Buraka Som Sistema e Orelha Negra) puderam, de fato, ‘mergulhar’ nas canções. Em Portugal, o disco foi produzido em três estúdios diferentes, nos quais a dupla buscou extrair o melhor de cada ambiente. “O esmero e o comprometimento do Camelo foram realmente de outro mundo. Descobrimos outras re-
WADO CANTOR E COMPOSITOR
“Estou bem otimista. O disco está bem bonito. Ele é pop em alguns momentos em que ele precisa ser pop. Ele é bem maduro em outros momentos – os arranjos estão muito maduros. Está bem sofisticado, tem uns metais... O resultado é bem bonito”
giões e intenções de emissão de voz, nos deparamos com novidades. Aqueles dias foram aulas e, mais que isso, foram momentos divertidos onde pudemos conviver bastante. Meu irmãozinho Momo, compositor talentosíssimo, também contribuiu muito com canções, alto astral e toda sorte de instrumentos vintage, e Mallu Magalhães e Gonzalo Deniz cantaram de forma sublime”. Orgânico, Vazio Tropical não traz na instrumentação nem um elemento eletrônico. Além da produção, Marcelo Camelo tocou percussão, baixo, guitarra, piano, xilofone e violão de aço e nylon. Fred Ferreira gravou algumas baterias. “Conversamos diariamente por e-mail e, de vez em quando, por Skype”, conta Wado. “Ele toca quase todos os instrumentos. A própria escolha do repertório... o disco tem muito essa cara, bem por conta dele. É um disco
bem melódico. O balanço não é prioridade nesse disco – não mesmo. É um disco de canção bonita. Eu acho que esse disco prioriza o belo”, explica o compositor, que não poupa elogios para o amigo: “O Marcelo trabalhou arduamente na produção do disco. Imagina ver o grande expoente da sua geração nessa função! É encantador viver isso e ouvir o resultado”. Antes dos envolvidos darem o serviço por encerrado, o álbum ainda deu um passeio por Miami, onde o engenheiro de som Felipe Tichauer deu os últimos retoques. Sobre as expectativas em relação ao novo disco, Wado mostra-se confiante. “Estou bem otimista. O disco está bem bonito. Ele é pop em alguns momentos em que ele precisa ser pop. Ele é bem maduro em outros momentos – os arranjos estão muito maduros. Está bem sofisticado. O resultado é bem bonito. E você estar vinculado a uma gravadora fica aquela coisa de misterioso, né? Porque se a gravadora trabalha o disco direito tem uma chance dele ter uma visibilidade maior que a dos últimos seis. Apesar de que o repertório do Samba 808 também era muito forte e ele repercutiu bastante, foram 20.000 downloads, teve o negócio da melhor música do ano na MTV... Então, eu acho que as coisas estão boas, sim. Tenho a expectativa de que a gente dê um passo adiante”.
Uma nova abordagem pela via da melancolia
ACERVO PESSOAL
Usar a expressão “divisor de águas” para definir o novo trabalho de um artista que constrói sua discografia movido pela inquietação seria tão impreciso quanto um completo despropósito. Mas Vazio Tropical é de fato um disco bem diferente dos registros anteriores de Wado. Sétimo álbum de uma carreira iniciada em meados de 2001, o CD produzido por Marcelo Camelo é talvez a mais melódica e introspectiva coleção de temas gravados pelo compositor. Ele não traz músicas dançantes ou qualquer elemento eletrônico – Vazio Tropical é um disco predominantemente orgânico. As boas letras desenham imagens impregnadas de achados poéticos que harmonizam perfeitamente com os
arranjos delicados, no limite da suavidade. O disco começou a ser lapidado em meados de outubro de 2012 no estúdio do selo Biscoito Fino, no Rio, mas a produção deslanchou pra valer em Portugal onde Marcelo Camelo e o batera Fred Ferreira gravaram boa parte do material, em contato diário com Wado pela inter-
net. Entre canções novinhas em folha como Carne (concebida com o músico uruguaio Gonzalo Deniz, do projeto Franny Glass) e Rosa (uma das parcerias com o cantor e compositor Cícero Lins), cantada por Wado ao lado de Mallu Magalhães; composições antigas que esperavam para vir à luz (Cidade Grande, gravada originalmente por Cris Braun, no álbum Fábula) e a recriação inspirada de Flores do Bem, de Marcelo Frota (Momo), Wado entrega aos fãs mais um belo disco e reafirma sua primazia como nosso principal representante no cenário independente brasileiro e uma das maiores contribuições para o pop no que ele tem de mais inteligente e sincero para oferecer.
EM ESTÚDIO Nick Nicotine e Fred Ferreira, músicos portugueses que auxiliaram Marcelo Camelo durante boa parte das gravações do álbum na Europa
DA ARTE PERIFÉRICA AO VAZIO TROPICAL Analisando em retrospecto as mudanças ocorridas ao longo da última década, tudo agora parece fazer muito sentido. Tudo soa até bastante natural. Mas em meados do ano 2000, era possível apenas pressentir que alguma coisa estava prestes a acontecer. O consumo de música via compartilhamento de arquivos estava apenas começando e a indústria perdidona, e sem saber bem o que fazer, experimentava os primeiros sinais de seu franco declínio. Foi nesse cenário que Wado emergiu com seu primeiro CD, O Manifesto da Arte Periférica, editado pelo selo Dubas num esquema de distribuição pela Universal. O álbum foi lançado num momento em que outros artistas do cenário alternativo alagoano também haviam colocado no mercado discos bastante elogiados pela crítica, a exemplo das estreias da banda Mopho e do então duo Sonic Junior. Não demorou muito para o debuto de Wado ganhar as páginas das principais revistas de música e dos cadernos culturais dos maiores jornais do país. Foi nesse momento que o cantor viu seu disco figurar em muitas listas de melhores do ano. Na época, o crítico Alexandre Matias, um dos maiores entusiastas da música independente, escreveu uma resenha apaixonada sobre o álbum: “e agora vem Wado, com seu excelente O Manifesto da Arte Periférica, até agora o melhor disco de 2001. Sai Daft Punk, sai Vídeo Hits – o lugar é deste catarinense radicado em Maceió que conseguiu fazer um disco com
Prestígio Na época do lançamento do álbum Cinema Auditivo, Wado ganhou prestígio participando de eventos de grande porte ao lado de bandas como Lambchop e Public Enemy
sotaque, mas sem soar pós-mangue beat. Os dois discos que mais gostei no ano passado foram o do Mundo Livre S/A e o do Badly Drawn Boy. Wado converge os dois e cria um Damon Gough sambista, praiano”, escreveu o jornalista. Infelizmente, o confete jogado pela crítica especializada não se refletiu em vendas. A história se repetiu no segundo disco: Cinema Auditivo. Mesmo assim, o artista conquista cada vez mais prestígio, participando de eventos de grande porte como o Tim Festival, onde se apresentou ao lado de bandas como Lambchop e Public Enemy. Após uma série de apresentações por quase todo o país, Wado gravou A Farsa do Samba Nublado, álbum selecionado pela Funarte para participar do Projeto Pixinguinha, que levou o cantor a excursionar pelo Sul e Sudeste ao lado de Totonho, Rita Ribeiro e Carlos Malta. Em 2005, a França comemorou um grande evento: o ano do Brasil na França, e a caravana da qual Wado fez parte no Projeto Pixinguinha foi escolhida para representar o Brasil. Foi a pri-
meira apresentação do músico na Europa. No ano seguinte, Wado foi novamente selecionado para representar o Brasil. Desta feita, na cidade de Berlim, apresentando-se na Popkomm, Feira de Música Internacional. Foi nessas andanças que sua música começou a circular no mercado europeu em discos como a coletânea Brazil Luaka Bop e a compilação da revista Tip Popkomm, que saiu com uma tiragem de 80 mil exemplares. O quarto álbum, Terceir o M u n d o Fe s t i v o , d e 2008, é lançado de forma independente e logo em seguida Wado põe na praça o CD Atlântico Negro (2009), registro contemplado pelo Projeto Pixinguinha. A montanha-russa de projetos maiores alternados a discos realizados de forma independente tem sequência com o lançamento de Samba 808, que, apesar das dificuldades encontradas ao longo do processo de concepção, conseguiu reunir um time estelar de participantes como Zeca Baleiro, Chico César, André Abujamra, Marcelo Camelo e Mallu Magalhães, entre outros. O disco que foi disponibilizado gratuitamente na internet em outubro de 2011 repercutiu maravilhosamente. Alcançou a marca de 20.000 downloads e a canção Na Ponta dos Dedos recebeu o prêmio de música do ano no VMB 2012. Em meio às boas vibrações e à resposta positiva que o novo trabalho Vazio Tropical vem obtendo nas redes sociais, o compositor pode esperar mais uma vitória e, quem sabe, atingir um público menos segmentado. LGM ‡
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GAZETA DE ALAGOAS, 16 de junho de 2013, Domingo FELIPE BRASIL
CONTINUAÇÃO DA PÁG. B1.
POR ELE MESMO A pedido da Gazeta, Wado comenta seu novo disco faixa a faixa com exclusividade para os leitores ‡ CIDADE GRANDE
“É uma canção bem antiga, acho que de 2004 ou 2005. A queridíssima Cris Braun já gravou uma versão linda. Adoro. Acho até mais bela que a minha, mas tem uns acordes que faço diferentes, que apontam direções obtusas; e por isso considerei o fato de voltar a ela, e este me parece um disco de reparações, de buscar coisas da minha memória já tão prejudicada. Minha memória funciona sempre pro futuro, para as coisas e compromissos do momento. Então, olhar pra trás foi um exercício. Essa canção é daquele tipo de música de letra grandiosa, que já não pratico tanto. Lembro que o refrão partiu de uma antiga canção engajada em espanhol que conheci numa
coletânea do selo Putumayo, acho que música dos cafezais, que dizia algo como ‘a noite com sua copa larga’. Achei linda essa imagem e, a partir disso, fui construindo a minha”.
‡ ROSA “Fiz com o Cícero. A primeira parte é minha e a segunda, dele, mas fizemos juntos presencialmente. Fomos amolecendo ela. Deve ser a música de trabalho. A melodia é grudenta e Camelo colocou uma batera meio Anna Júlia nela. É meio misteriosa também. O Marcelo ficou intrigado com
ela. Adorou mas ficava tentado entender do que ela tratava. Eu mesmo não sei. Sei que acho as imagens lindas; pode ter a ver com a cor também... Fizemos na casa do Cícero”.
‡ CANTOS DOS INSETOS “Essa é a música de maior carga emocional do disco. Ela é muito direta e universal, assim tipo Caetano cantando Peninha. Estou falando do caráter da música, não que queira me comparar a eles. Digo que a música é deste segmento, desta raça de canção. Quando fiz, achei linda. Daí mostrava pras pessoas e elas: ‘ué! É igual a Pavão Macaco’. Daí dei pro Momo refazer a melodia, que originalmente era em sol (como Pavão) e fomos batendo essa bola, mudamos pra ré, depois surgiu o final em cima de uma imagem bonita do Cícero e minha: ‘deixa
o mar varrer, deixa cicatrizar meu nome’. Fala de separações. Fiz numa circunstância muito ruim, morando numa casa com outras três pessoas. Dormia de porta trancada, com medo delas. Foi uns anos atrás, quando fui trabalhar com texto de publicidade no Rio”.
‡ CARNE
‡ QUARTO SEM PORTA “Essa é minha com o Junior Almeida. O mérito de ser uma boa canção é todo dele, que arredondou a letra, cortou coisas muito pesadas, arredondou arestas, e depois nosso produtor a vestiu num arranjo superdiferente. Camelo e Mallu cantam. Ela ficou mais leve e gostei disso”.
“Essa é a mais abstrata e ousada na poesia. Ela é tão inconsciente que não tenho a menor ideia sobre qual é seu assunto. Ficou com um balanço massa. Gonzalo (do Uruguai) cantou lindamente e colocou uma outra parte da letra que também não esclarece nada. Camelo arrasou nos arranjos”.
“Zelo é uma música irmã de Rosa, também com Cícero. Temos mais de 15 músicas juntos e ele nunca tinha composto com mais ninguém”.
‡ FLORES DO BEM
‡ TÃO FELIZ
“Única versão do disco; é do Momo. Letra superforte. Acho a obra-prima dele. Lembro do desconforto e orgulho dos pais dele num show no Rio de Janeiro. Momo é um grande e antigo amigo e fizemos um dueto para celebrar nossa amizade”.
“O que é o canto do Camelo nessa faixa, hein? Canta demais. Acho o ponta de lança da nossa geração. Música supervelha também. Ela tá no primeiro disco do Momo e compomos num ensaio do Fino Coletivo, sentados num carpete cheio de ácaro”.
‡ ZELO
‡ PRIMAVERA ÁRABE
“Ela fala de primaveras árabes em todas as partes do mundo, desse saudável declínio do macho alfa no mundo. Gosto bastante dela, acho que é minha predileta. Misturamos com um pedaço de letra do Vitor e as bases são dele também; se garantiu”.
‡ CAIS ABANDONADO
“Corta pulso total essa. Minha e do Adalberto. Ia entrar em vários discos passados mas sempre era reprovada, por ser pesada demais”.
‡ VAZIO TROPICAL “Tema instrumental meu e do Peixoto. O engraçado é que o synth foi acidental. Dinho nem lembrava de ter gravado, foi o primeiro take dele ainda tirando a música”.