Os parques pedem socorro Unidades de preservação sofrem com a falta de políticas públicas Divulgação
Milena Tachji Ogeia
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ais de 1.646 parques foram focos de incêndios em 2021 até meados de setembro, batendo o recorde, desde 2011, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). “Aquecimento global”, “queimadas” e “descaso”: termos como esses têm sido comuns na rotina das unidades localizadas em São Paulo. Atualmente, São Paulo abriga 30% da mata atlântica, de acordo com o governo estadual, e conta com mais de 30 reservas ecológicas. São aproximadamente 700 mil hectares de áreas preservadas, como o Parque do Jaraguá e Parque Ecológico do Tietê. Gilberto Natalini, 69 anos, médico e ex-vereador paulistano pelo do Partido Verde, comenta que, dentre esses, ainda estavam prevista a criação de mais de 40 parques na cidade: “O orçamento para o setor era 0,37% do orçamento global da cidade. Havia 180 milhões de reais que, no final, ficou em 150 milhões por ano pra cuidar de 104 parques. É impossível”, afirmou. Com o intuito de preservar e conscientizar, alguns espaços passaram a oferecer visitas agendadas, como o do Parque Estadual do Jaraguá, onde cada pessoa recebe informações sobre a importância do local e sua preservação. Segundo Gustavo Lopes, 33 anos, gestor da reserva, o local é a principal unidade da Fundação Florestal, e se destaca, recebendo maior atenção da administração pública. Com apoio da Polícia Militar Ambiental, o espaço oferece visitas que têm como missão mostrar a importância e benefício da área protegida, ressaltando o porquê de valorizar a sensibilização para essa causa. Para despertar o interesse, são apresentados ao convidado o bioma, fauna e flora preservados, no intuito de passar a sensação de
Quati explorando o espaço da Reserva ecológia Parque do Tietê
pertencimento ao público. Mesmo assim, a comunicação ainda é um obstáculo. “Acaba sendo um desafio você passar para um visitante a importância de estar nessa área de maneira harmoniosa, sem gerar grandes conflitos”, diz Gustavo. Mesmo com um programa de proteção e fiscalização diária, algumas pessoas ainda insistem em desobedecer às regras de cuidado, dificultando a abordagem entre convidado e equipe local. Com um clima predominantemente tropical, 80% das chuvas se situam entre os meses de outubro e março no Brasil, e isso favorece queimadas nas estações mais secas. Como prevenção, Gustavo comenta algumas medidas adotadas no parque Jaraguá. “Nós realizamos a confecção de aceiros, que dividem a área em levas, e acabam agindo de maneira preventiva combatendo os incêndios com maior efetividade, garantindo a integridade da unidade”, explica. O empresário Estêvão Esdras, 33 anos, costuma frequentar o local para fazer trilhas e ressalta a limpeza, organização e sinalização da equipe. Ele ainda lembra sobre a conscientização que muitos ainda não têm: “O mundo é a nossa casa e os recursos não são inesgotáveis. As pessoas, em geral, não pensam assim no Brasil”, lamenta.Como médico, Gilberto Natalini aborda o problema como uma
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atitude “imbecil”. “É como se você tivesse um chicote, batesse em alguma coisa que está ao seu lado e o chicote viesse exatamente em cima de você. Você é o meio ambiente, você está dentro do meio ambiente, não é uma coisa à parte”, diz. Dentre os espaços que se destacam, o Parque Ecológico do Tietê, de acordo com o site oficial do Governo de São Paulo, conta com área verde de 1 milhão de m² remanescente da Mata Atlântica.O local ainda oferece o CRAS (Centro de Recuperação de Animais Silvestres), fundado em 1986, que conta com a atuação de profissionais provenientes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Corpo de Bombeiros e Centro de Controle Zoonoses (CCZ), e incentiva a importância do desenvolvimento de atividades a favor do meio ambiente e seu cuidado. O site oficial do parque informa que o local abriga mais de 7 mil animais, com destaque para as aves, que ocupam cerca de 80% do espaço. O fotógrafo Franklin Francisco da Silva, 40 anos, explora o local como cenário e confirma o cuidado e preservação da área. “O parque é muito bonito. Na fotografia a intenção é fazer sempre a composição ser mais bonita, e posso afirmar que, bem explorado, dá pra achar vistas espetaculares”, afirma.