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prefácio Conquistas valiosas são as mais árduas. As tarefas desafiantes, as mais engrandecedoras. Caminhar com adolescentes em direção à capacitação argumentativa compreende labor e tenacidade, por isso é missão tão preciosa. A reprodução de ideias, o comodismo, característicos da frouxidão do pensamento, não podem fazer parte desse universo. A sujeição passiva é resultado da inércia. Na peça Os saltimbancos, Chico Buarque emprega, de maneira irônica, o eco de termos e a seleção lexical para criticar essa postura: “Lealdade eterna-na/ Não fazer baderna-na/ Entrar na casernana/ O rabo entre as pernas-nas.” A conduta dos que subordinam seu próprio bem-estar a serviço de interesses alheios é a do alienado, do sujeito que repete conceitos, sem refletir sobre sua própria identidade e esfera social. A subserviência é resultado da ineptidão, muito mais do que da apatia. A docilidade diante de um sistema excludente deriva do adestramento ideológico, da inabilidade de compreensão dos forças-motrizes da realidade política, econômica, social. Cabe aos meios acadêmicos alterar esse padrão. Amesquinhar a capacidade de compreensão crítica condiz com um projeto de ideologização e é base para a atomização social, a desconfiança diante do diferente e plural, a servidão passiva, a sujeição a padrões regressistas. Muitos de nós, diante de cadernos, livros e estudos de nossos filhos, somos levados a diferentes sensações que remetem a experiências de nossas vidas escolares. Submetida a bases curriculares nacionais e propostas de ensino que se pautam na aquisição de fórmulas e conceitos, algumas poucas escolas se sobressaem porque ousam extrapolar paradigmas e oferecer momentos de questionamentos revigorados em provocações que retirem o aluno de sua zona de conforto e o levem a posicionar-se diante da realidade cotidiana. Exemplo dessa concepção de ensino, o curso de Produção Textual do Colégio Magno encoraja a capacitação de pensadores críticos, hábeis a posicionar-se diante de injustiças, desigualdades, explorações. Nada disso seria possível, se não tivéssemos o suporte, a confiança e a legitimação de nosso trabalho dada pelo Coordenador de Área Eduardo Francini, o Coordenador Pedagógico Carlos Sassi Júnior, a Orientadora Educacional Maria Raquel Campos e a Diretora Pedagógica Cláudia Viegas Tricate Malta. Além disso, nosso livro é resultado do suporte técnico incondicional da querida Silvia Salazar.
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Em ambiente de debate contínuo, o exercício argumentativo – impulsionado por propostas de dissertações em torno da interpretação das forças motrizes da sociedade pós-moderna - visa instigar o estar consciente no mundo. Vencer esse desafio significa destacar-se como pensador, potencial acadêmico, capaz de colaborar com contribuições importantes para a vida social e – por que não? – político-econômica. Esse projeto pode ter motivado o incômodo de muitos diante da desestruturação de ideias preconcebidas, enraizadas e confortáveis, mas, se há adolescentes conservadores, cabe incitar o abandono do conhecido e cômodo e promover o senso crítico. Eis aqui textos de jovens que ousaram desafiar os próprios parâmetros e posicionar-se diante do que motiva a permanência de preconceitos, violência, exclusão. Além desses, muitos outros cresceram significativamente durante o ano e poderiam ter sido escolhidos. Agradeço a todos pela parceria no desconfiar de ideias prontas. Essa é uma pequena mostra do nosso trabalho. Como é importante veiculá-lo e, com ele, estimular a desalienação! O título do livro segue o mesmo propósito do curso: estimular o senso crítico e a interpretação. De acordo com o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, a origem da palavra grito encontra-se no latim vulgar critare, do latim quirito, quiritare que se refere a chamar, invocar, protestar. Aproveitamos a sonoridade de “cri” como uma sugestão onomatopaica de grito e uma alusão à etimologia do termo. Deixamos fora dos parênteses a palavra ações como ênfase à relação entre palavra e atitude. Surge, assim, a primeira edição do que pretendemos tornar a Série (Cri)ações, livros compostos por uma seleção de textos dos alunos dos 3os. anos do Ensino Médio do Colégio Magno que revelem uma invocação e uma atitude crítica diante do conservar de preceitos regressistas. A (cri)atividade da diagramação e da capa ficou a cargo do talento da say, Ana Luísa Sayuri Tanaka Gibson, além de agradecê-la, precisamos enfatizar que nos sentimos honrados por fazer parte de seu portifólio que já dá mostras de ser genial. Muito obrigada, queridinha! Hoje, temos acesso a diferentes mídias e possibilidade de examinar por diversos vieses os motores dos acontecimentos, no entanto, nem sempre estamos dispostos a extrapolar os limites do senso comum. Uma lição de como fazê-lo é dada por nossos alunos que não serão fieis mordomos dos interesses alheios, como alegoriza a personagem de Os saltimbancos, mas já se revelam potenciais motivadores de um mundo melhor. Obrigada por me acompanharem nesse processo de promoção da diversidade, Profa. Dra. Maura Böttcher
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odelot aixela
involuntários “O que você faria se ninguém pudesse te ver? / Se você tivesse o poder de desaparecer? / Pra fazer o que quisesse fazer/ Será se ainda assim seria quem tanto parece ser?”. Os versos da música de Fabio Brazza sugerem uma falsa moralidade dos indivíduos, os quais não seriam o que aparentam se não fossem observados pela sociedade e, às vezes, vangloriados. Por essa ótica, pode ser avaliada a divulgação de atos caridosos em prol da autopromoção do beneficiador. Nesse sentido, o volunturismo é expressão de uma sociedade superficial. O voluntariado no exterior pode atrapalhar mais do que ajudar. Muitos dos lugares onde estrangeiros costumam prestar ajuda são criados apenas para garantir doações e o lucro dos donos, segundo artigo do The Guardian. Ademais, são levantadas questões quanto à idoneidade de instituições irregulares de orfanato, como o sequestro de crianças com família e a permanência delas em condição precária de saúde e higiene, com o intuito de que os lugares fiquem mais “atraentes” aos ajudantes. Contudo, volunturistas perpetuam essa violência, pois, para alguns, pouco interessa ajudar de fato. Na realidade, colocar o serviço no currículo para que possam adentrar universidades prestigiadas ou publicarem em suas redes sociais o quão generosos figuram ser é, muitas vezes, o suficiente. Motivos cada vez mais explorados no sistema neoliberal encaixam-se na teoria de “capital simbólico”, cunhada por Pierre Bourdieu. Em síntese, trata-se da exposição de índices de prestígio que diferenciam os socialmente valiosos. Por essa ótica, o favor aos necessitados torna-se um meio para a burguesia mostrar seu brilho. Corrobora esse prisma a obra de Guy Debord, “A sociedade do espetáculo”. O sociólogo francês analisa a maneira como a exposição de imagens é presente nas relações humanas e empregada pelo Capitalismo como recurso para salientar o predomínio de alguns em detrimento de outros. Na era digital, as redes sociais potencializaram esse estratagema. Assim, “white saviors” (brancos salvadores), supostos heróis humanitários brancos e privilegiados revelam-se os capazes de salvar pessoas não-brancas de países intitulados miseráveis, como os da África, e veiculam sua generosidade. Essa lógica, além de ser racista, está historicamente equivocada, dado que foram os europeus que impuseram sua soberania ao continente africano e disseminaram a pobreza. O salvador branco perpetua esse paradigma por meio de projetos de voluntariado com pouquíssima interferência do povo nativo. O resultado dessa prática são publicações de atos de caridade, que contribuem para a manutenção do sistema político-econômico de dominação. Volunturistas não estão dispostos a abdicar da autopromoção. Contudo a superficialidade nesses atos falsos de filantropia é celebrada por uma sociedade incapaz de analisar criticamente a realidade vigente. Nesse sentido, cabe reiterar Brazza: “Afinal, você faz o bem por que é bom ou/ Por que a moral diz que é o certo a se fazer?”.
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alexia
toledo
Meu nome é Alexia Toledo, nasci em 2002, virginiana, fui gestada a maior parte em Cuiabá, Mato Grosso, mas sou paulistana e vivi na cidade de São Paulo minha vida inteira. Eu estudei os anos do Ensino Fundamental e o primeiro ano do Ensino Médio na Escola Waldorf Rudolf Steiner, onde a pedagogia é alternativa e ensinam música, poesia, jardinagem, euritmia, e diversas matérias de artes como cerâmica, marcenaria, xilogravura, litogravura, esculturas com metal, entre outras. Em seguida, me mudei para o Colégio Magno, com um ensino mais tradicional. Minha história com a escrita sempre foi de muito amor, eu a via como uma das melhores maneiras de me expressar. Por isso escrever diários sempre fez muito sentido para mim. Eu gosto das obras literárias de ficção, mais ousadas, as quais desafiam o intelecto e que, preferencialmente, tenham finais imprevisíveis e ideias para decifrar. Entretanto, a partir de 2019, tive de aprender a me encaixar nos modelos de redação para o vestibular e adaptar minha escrita fantasiosa e pessoal para um modo normativo e didático. Esse processo exigiu bastante de mim no começo, briguei muito com meus textos, mas toda a dificuldade transformou-se em habilidade e amadurecimento. Com o tempo, eu descobri que minha verdadeira vocação era a Psicologia, e a estou cursando na faculdade PUC-SP, porém, espero me envolver com outros projetos literários no futuro, uma vez que estar entre os escolhidos para o projeto (Cri)ações me aqueceu o coração e significou muito para mim e minha relação com o escrever.
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IRUYAS ASÍUL ANA
Negritude “Não queremos ser o futuro/ Somos o presente/ Na chamada, a professora diz ‘Pantera Negra’/ Eu respondo: presente”. Os versos de “Olho de Tigre”, do rapper Djonga, promovem uma crítica ao racismo e configuram um hino de empoderamento para o movimento negro. Eles se inserem em um contexto em que afrodescendentes permanecem como alvo de preconceito e segregação. Todavia, cabe salientar que a valorização de vidas negras é uma forma de alteração do paradigma de dominação e supremacia branca. Afrodescendentes foram oprimidos ao longo de toda a história. Durante a colonização, eram traficados como objetos, violentados, escravizados e isentos de direitos. Embora em “Casa Grande e Senzala”, Gilberto Freyre, mostre um Brasil miscigenado, e motive o mito de uma nação sem discriminação racial, é necessário perceber que aqui, bem como em outros países, há o racismo estrutural. A história, o corpo social e as instituições garantem a manutenção de preconceitos que resultam em números alarmantes. Levantamento do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro aponta que negros compõe 80% das mortes em operações policiais, além de estarem entre os mais pobres e com menos anos de escolaridade. Essa realidade, entretanto, não é exclusiva do país verde-amarelo. Esse paradigma de desigualdade é preservado pela necropolítica, como proposto por Achille Mbembe, a ausência do Estado em políticas afirmativas revela seu poder de decidir as vidas que valem ser preservadas e as que são descartáveis. Cumpre, por outro lado, valorizar a luta por direitos iguais e por um Estado que proteja a vida como direito fundamental. É lícito salientar que os negros são relevantes na constituição da identidade cultural brasileira e têm muito a contribuir com exemplos de relações sociais internacionalmente. Por essa óptica, valorizar as suas vidas é colocar em xeque um padrão social baseado na indiferença, na banalização do descaso pelo sofrimento alheio. O movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), desde 2014, expõe o racismo, a necropolítica e intenta empoderar esses indivíduos. Também vale citar o movimento Negritude, criado por Aimé Césaire, na revista L'étudiant noir ("O estudante negro"), que visa combater o eurocentrismo e reafirmar a identidade negra. A substituição do desdém pela solidariedade é proposta que ecoa no direito à vida, em geral. Por conseguinte, a valorização de vidas negras vai além de sua condição específica, trata-se da defesa dos direitos humanos. A valorização das vidas negras é imprescindível para a alteração de paradigmas de exclusão e desigualdade de direitos. Uma sociedade em que o racismo é institucionalizado depõe contra o direito à vida. Cabe, pois, retomar Djonga: “Sou reflexo da sociedade, reflexo virou matéria”.
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ANA
LUÍSA
SAYURI Meu nome é Ana Luísa Sayuri Tanaka Gibson, mas esse é apenas o meu alter ego. Eu sou a say, com licença poética para manter todas as letras minúsculas. Nasci em 22 de fevereiro de 2003, no momento tenho 18 anos e curso Publicidade e Propaganda na Escola de Comunicações e Arte da USP. Desde criança sou muito criativa, eu adorava pintar, desenhar, fazer colagens, artesanatos e nunca deixei isso de lado. Minha família também sempre teve uma veia artística já que o meu bisavô era pintor e isso foi um grande incentivo para não me desligar dessa área. Minha relação com a leitura e escrita é muito prazerosa e um tanto afetiva. Como qualquer boa préadolescente, eu devorava livros de ficção e sempre dava uns pulinhos na biblioteca do Magno desde que eu era um pitoco de gente. Inclusive, foi nas aulas de Produção Textual que desenvolvi esse amor pela escrita, sempre viajando entre as palavras para a criação de universos paralelos ou criticando a realidade (um tanto trágica) em que vivemos. Fazer parte desse livro digital significa muito para mim, não apenas por poder explorar minha capacidade criativa com o design, mas também porque adoro escrever e acho incrível a capacidade da palavra de transmitir tudo aquilo que pensamos e sentimos. Espero que um dia todos tenham a possibilidade de sentir um pouco dessa magia. Encontrei-me no ramo das artes e da comunicação em atividades extracurriculares oferecidas pelo colégio e hoje tenho certeza de que esse foi o melhor caminho que eu poderia escolher, apesar das pedras que tive que enfrentar até entrar na faculdade (piada literária clichê, eu sei, mas eu não podia deixar essa passar). A escola foi um grande catalisador do ser humano que sou atualmente e serei para sempre muito grata pelos privilégios que tive de estudar em um ambiente tão próspero e aberto para novas possibilidades. Pretendo um dia poder retornar isso para a sociedade no futuro. Um adendo para os futuros vestibulandos: sim, estudar matérias que você não gosta é terrível, mas eu prometo que vale a pena. Não desista e também não se desgaste, leve na paz porque logo, logo, isso passa :) cr
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ZEUGNIM ADRAUDE
À Thomas Jefferson A figura de um político se confunde com a de um marinheiro diante da roda de leme, repleta de microfones pertencentes à imprensa. A ilustração de Kuczynski parece alegorizar o processo de desinformação em prol da amnésia social. Por meio de discursos que disseminam falácias, a minoria detentora do poder político polui o sistema informacional e molda a confiança social de acordo com os seus interesses pessoais. Nesse contexto, insere-se o negacionismo como estratégia hodierna de manutenção do poder de caráter. Fulcral entender a origem do interesse de certos grupos empoderados em produzir culturalmente a ignorância e disseminar a desinformação. Essas ações, evidentes em artigos de Think Tanks, instituições sem fins lucrativos, responsáveis por divulgar dados, reforçam o negacionismo ao eclipsar o verdadeiro conhecimento produzido. No âmbito político, a crença do público nas fake news afeta o processo eleitoral e a escolha dos candidatos. A confusão e desconfiança geradas dificultam a distinção do verdadeiro e do falso pelos eleitores. Assim, incompetência, demagogia e corrupção emergem como consectários. Segundo Berly Suárez, doutor em Direito no Peru, a desinformação é proposital e, ao mesmo tempo, desonesta, uma vez que atravanca o rumo do processo de cidadania e cria amnésias prejudiciais ao bemestar coletivo. Consequências dessa estratégia avultam com a atuação das mídias sociais. A utilização, pelos detentores do poder, da comunicação de massa para criar um cenário de ansiedade e insegurança populacional direciona os cidadãos à descrença na ciência. Assim, o consenso cíclico da nação é estabelecido por meio do negacionismo. Por esse enviesamento, sujeitos passam a contrariar as comprovações científicas e as descobertas históricas, e consolidam seus preconceitos políticos e sociais ao selecionarem apenas mídias que confirmam suas crenças anteriores. Por conseguinte, o ciclo se retroalimenta: a polarização e a desconfiança nas informações verdadeiras são impulsionadas bem como a seleção de mídia de confirmação e o apoio político àqueles que reproduzem essencialmente a sua "verdade". O negacionismo, fenômeno invariavelmente acompanhado pela desinformação e pela contestação da ciência, é uma estratégia de manutenção do poder daqueles que dominam a influência comunicativa. O direito à informação pública de qualidade e ao verdadeiro conhecimento é negligenciado, o que inibe a preservação da base democrática e o progresso de uma nação igualmente livre. O negacionismo cerceia a formação do senso crítico ao passo que prejudica avanços e conquistas coletivas que visam ao bem-estar da sociedade. À Thomas Jefferson vale afirmar: "A informação é a moeda da democracia".
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Eduarda
minguez
Minha experiência com a escrita revelou evolução. Como sempre fui uma pessoa de biológicas/exatas, ler nunca foi meu forte e escrever era como uma obrigação. Mas aos poucos é inevitável perceber a importância da escrita para além dos muros da escola. “Quebrar a cara” no começo é normal, mas nunca desista de tentar o seu melhor no próximo texto. Ao longo da minha trajetória, eu me deparei com diversos obstáculos e é justamente por causa deles que eu estou aqui. Não podemos desanimar. Diante do caos e do isolamento que hoje vivenciamos, é possível entender, mais do que nunca, a importância da inspiração e da arte: elas movem o mundo. Minha nova etapa trará muita liberdade, mas também inúmeras responsabilidades. Afinal, tudo isso faz parte da vida e meus planos agora são outros: criar vínculos ainda maiores na nova cidade e me tornar ótima profissional. Estar entre os escolhidos para o livro digital é gratificante, uma verdadeira honra. Saber que todo o esforço valeu a pena e ter orgulho de minha própria produção é sensacional. Espero, do fundo do meu coração, que essa iniciativa tenha despertado em outros alunos uma inspiração.
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LEAMSI SARIEUGIF ODRAUDE
À Thatcher Byung-Chul Han, filósofo sul-coreano, denomina "Sociedade do Desempenho" o modelo de sociabilidade em que a competição e afirmação do eu sobre o outro é mais importante do que a alteridade. Trata-se de forte crítica à mentalidade neoliberal que acaba por trazer grandes prejuízos à sociedade. Nesse contexto, a economia é um método que objetiva alterar o modo de pensar do homem moderno em prol de interesses dominantes. A sociedade atual manipula a "alma" humana em favor de uma ideologia que beneficia a manutenção do statu quo. Contribui para essa compreensão o sociólogo Herbert Marcuse e seu conceito de "Homem unidimensional", o indivíduo cujos pensamentos, ações e desejos condizem com os interesses capitalistas. Vulnerável a manipulações, produto da ideologização do consumo, a massa não se insurge quando países soberanos economicamente, que cresceram através de políticas protecionistas, impõe o neoliberalismo e impedem a ascensão de países da periferia do Capitalismo. O individualismo, imposto pela alta competitividade derivada da proposta de livre mercado, atomiza a sociedade e mantém padrões econômicos opressores e injustos. A competição brutal por uma vaga em um mercado saturado por privatizações torna palavras de ordem a "produtividade" e "trabalho". Dessarte, o homem perde a preocupação com o outro e começa a procurar apenas meios de superá-lo. Não é à toa que uma parcela significativa da população recorre a meios ilegais para a obtenção de recursos. Sem embargo, o indivíduo é forçado, por um interesse de mercado, a voltar- se contra o outro e drogar-se para produzir mais, beneficiar uma elite. Esse princípio já analisado por Hannah Arendt no contexto do holocausto como banalização do mal é revisitado por um sistema político-econômico que restringe direitos, amplia a concentração de renda, promove a miséria e a violência, com a aprovação de indivíduos alienados. Como afirma Byung- Chul Han, o homem se torna uma máquina autista de produção. Trata-se da adoção do princípio neoliberal à Thatcher: “A economia é o método, o objetivo é mudar o coração e a alma”. Inanimados, sujeitos seguem servilmente um sistema promotor da própria derrota.
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EDUARDO
FIGUEIRAS
ISMAEL
Dois anos importantes: 1934 e 1942. Em 1934, Fernando Pessoa escreveu Mensagem, e em 1942, Albert Camus escreveu O Estrangeiro. Se falo de mim e de produção de texto, preciso citar esses dois livros. Ambos foram grandes inspirações em minha vida. Meu nome é Eduardo Figueiras Ismael, nascido em 2003. Sou amante do estudo e das artes: poesia, literatura, música, cinema e gastronomia. Atualmente, curso direito na PUC-SP - muito feliz por estar onde estou! Sobre o futuro, não sei muito na verdade, tenho o costume de deixar portas abertas. Muito provavelmente seguirei carreira no Direito, mas penso em fazer algumas viagens nesse meio tempo e procurar a tão sonhada felicidade da qual todo mundo fala, mas desacredita. Sobre a escrita, inspirado por meus dois queridos autores do começo do texto nas respectivas obras, sempre amei escrever, mas em estilo mais livre, distante do que o dissertativoargumentativo. Moldes sempre foram uma coisa complicada para mim. Por isso, os textos da Professora Maura se mostraram como um desafio desde o princípio. Mas, com o tempo e muito refazer de texto, fui conseguindo encaixar meu estilo quando era necessário. Ter meu texto publicado neste livro organizado por minha querida professora significa muito para mim. Não só por ser um dos meus primeiros textos publicados, mas também por mostrar uma conquista minha na área da redação.
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AVLIS P C EUQICITNEV OICÍRBAF
Os desdobramentos do racismo inato A escultura Anamorfose, do francês Matthieu Robert-Ortis, retrata, de um ângulo, um mapa distorcido e, sob outra perspectiva, um homem sentado confortavelmente em sua poltrona. O artista parece criar uma metáfora para denunciar o fato de que a alteração de panoramas é necessária para manter os privilégios de alguns. Por essa ótica, pode-se analisar a negligência quanto à importância da valorização da vida negra. Cumpre enfatizar, no entanto, que o racismo enraizado na sociedade desencadeia consequências catastróficas. O racismo estrutural, evidente no Brasil, permeia a história de várias outras nações. No decorrer da colonização do Brasil e de outros países americanos, foi realizado, em grande escala, o tráfico transatlântico de escravos, o qual foi baseado na segregação racial. Fruto de diversos preceitos racistas, o Apartheid, da África do Sul, ecoa na permanência dos negros em números relacionados à pobreza, violência e falta de escolarização. Não bastassem esses dados, estigmas os mantêm em cargos subalternos, sob olhar de desconfiança e prevenção dos considerados cidadãos de bem. A negligência quanto à vida negra reflete o descaso com a contribuição que o intercâmbio cultural pode oferecer. Ideais racistas impactam diversos âmbitos, segundo o último relatório do PNUD/ONU de 2019, 75% dos negros estão nos 10% mais pobres, além da diferença média de salário de 40%, em comparação com trabalhadores brancos. Os dados denunciam o racismo estrutural. Essa postura suscita o descaso pelas ações do Estado e de parte da população em repressões violentas aos negros. Se a cada 23 minutos um negro é assassinado e nada se faz para alterar esse modelo, há uma questão ideológica que o sustenta e impede que a troca cultural possa ser efetivada. Os desdobramentos do preconceito resultam em genocídio e indiferença. A assaz negligência à importância da valorização da vida negra sugere que as raízes históricas não foram cortadas e o preconceito potencializa a exclusão. Tratase de um sistema que reitera uma imagem à Ortis: o homem branco, confortavelmente acomodado, manipula a realidade do outro de modo a torná-la caótica.
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FABRÍCIO
VENTICIQUE
SILVA
Meu nome é Fabrício Venticinque de Camargo Penteado Silva, nasci no dia 07/12/2001, e sempre gostei muito de escrever. Entretanto, desenvolvi essa habilidade com maior potência no decorrer do Ensino Médio, de forma que criei uma relação afetiva por redação. Com a pandemia do Covid-19, o Colégio Magno foi condicionado ao Ensino à Distância. Nesse novo formato, o corpo docente elevou a importância da redação de forma exponencial, com aulas frequentes, que motivavam os alunos a pesquisar e conhecer mais os temas abordados, de modo que agregassem repertório sociocultural. Outrossim, o Colégio Magno disponibilizou aulas adicionais de dinâmicas em grupo, fomentando ainda mais a minha vontade de participar de debates e argumentar, fator imprescindível para minha evolução também em redação. Destarte, o Colégio Magno teve participação incisiva em desenvolver minha capacidade e gosto por escrever e argumentar, e, mais do que isso, deixar de ser uma disciplina escolar para ser uma aptidão pessoal. Hoje, fazer redações passou a ser algo mais leve e prazeroso. Além disso, foi decisivo para garantir a minha vaga na primeira lista do curso de Administração de Empresas na Fundação Getúlio Vargas-Escola de Administração de Empresas (FGV-EAESP).
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INIMARDNEV EMEL ANNAVOIG
O Ódio e Seu Exército de Alienados Em uma caixa lacrada, nove cabeças idênticas têm um adesivo vermelho com a palavra “sim” sobre suas bocas. A obra “Reina Tranquilidade”, de Carlos Zilio, parece sugerir alegoricamente uma crítica à padronização, que gera passividade. Essa reflexão é pertinente no que tange ao papel desempenhado pelo ódio na contemporaneidade, uma vez que esse sentimento é usado como mecanismo para a alienação e controle populacional, por meio da polarização ideológica. Por esse viés, o ódio atua como agregador de massas. Cumpre salientar que a sociedade contemporânea é marcada, de acordo com o sociólogo Jacques Derrida, pelo binarismo. Trata-se do estabelecimento de uma identidade ou um comportamento modelo e universal, que gera a marginalização dos demais grupos populacionais, que agem ou pensam diferente. Nesse sentido, a divisão do corpo social em dois núcleos opostos acarreta a polarização política e ideológica, fomentada pelo ódio ao juízo discrepante e a adoração aos semelhantes. Como na Guerra Fria, em que a segmentação do mundo em duas correntes contrárias, o capitalismo e o comunismo, o homem contemporâneo continua a encarar o diferente com desconfiança e preconceito. Entretanto, importa ressaltar que a fragmentação em cernes ideológicos, os quais não aceitam a multiplicidade, corrobora a formação de uma sociedade de massa, caracterizada pela falta de consciência coletiva ou de preocupações com o espaço público. Ademais, o surgimento dessa massa populacional sem raciocínio próprio ou comunitário faz com que os indivíduos permaneçam, conforme afirma Immanuel Kant, na menoridade. Nesse estágio do desenvolvimento, o sujeito, influenciável e adepto a sugestões, é incapaz de tomar decisões sem ajuda externa, por não ter capacidade de autodefinição. Nesse estado de alienação, é manipulado e subjugado a ideologias que incentivam o ódio e o desprezo por determinadas etnias ou ideais políticos e econômicos. Depois de mais de setenta anos do final do nazismo que incitava o antissemitismo e idolatrava a raça ariana a fim de promover a expansão territorial alemã e a ascensão de Hitler, há os que acreditam-se superiores e inferiorizam o diferente. Nesse sentido, a aversão contra determinado grupo é responsável não somente por unir indivíduos, como também por deixar grupos suscetíveis a discursos radicais e preconceituosos, que podem ser usados como instrumento de controle. Dessarte, pode-se inferir que o ódio é um importante mecanismo agregador de massas, pois favorece a união de indivíduos acríticos em torno de ideais extremistas, suscitados pela polarização política e alienação ideológica. Nesse contexto, à Zilio, “Reina Tranquilidade” para alguns pela padronização do pensamento gera a aceitação passiva de princípios preconceituosos e a intolerância ao divergente.
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GIOVANNA
LEME
VENDRAMINI
Oi! Eu sou a Giovanna Leme Vendramini. Nasci há 18 anos no dia 5 de maio DE 2003 e fui uma das alunas sortudas que teve o seu terceirão arruinado pela pandemia. Fora isso, diria que sou, na maior parte do tempo, uma pessoa determinada, sincera, teimosa (até demais) e demasiadamente atrapalhada, a ponto de poder causar um desastre. Sou tímida com aqueles que não conheço e tagarela com os mais próximos. Em relação aos meus hobbies, sou apaixonada pela leitura, especialmente quando se trata de livros de fantasia. Também adoro dançar, patinar, ver filmes de comédias românticas e comer bastante chocolate (se quiser me presentear fica a dica: prefiro o chocolate “ao leite”). Já quanto aos meus sonhos que, por sinal, são muitos, posso dizer que pretendo, ao menos, fazer a diferença na vida de alguém (viajar o mundo também seria legal). Sobre a escrita, sempre foi uma das atividades de que mais gostei na escola, tanto os gêneros mais criativos, como contos e crônicas, nos quais eu podia fingir ser a autora de um dos meu livros, quanto os argumentativos (nesse caso, gosto de temas polêmicos, um negócio bem “vamos colocar fogo no parquinho”). Brincadeiras - e ironias - à parte, sou muito grata por ter sido escolhida para participar desse projeto e poder compartilhar um pouco do meu mundinho. Continuo na luta pela minha vaga na universidade, porém não pretendo desistir tão cedo (inclusive, vou para os vestibulares ao som de “Don’t stop me now”). Por último, para os vestibulandos em apuros (tipo eu): continue a nadar. O futuro nos espera.
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ONIFUR EMEL SEAP ALLEBASI
Luta inacabada “Umas facadinhas de nada.”. A obra da artista Frida Kahlo retrata a frieza de um marido ao assassinar sua mulher, em 1934, no México. Apesar de o fato ter ocorrido há quase cem anos, a brutalidade contra a vida das mulheres permanece comum no mundo contemporâneo. Nesse contexto, atesta-se a perpetuação de uma sociedade patriarcal que dificulta a aprovação de políticas públicas que envolvam a proteção desse grupo. Em outros termos, o conservadorismo é responsável pela falta de representatividade política das mulheres. A sociedade patriarcal está associada à cultura androcêntrica. Para o sociólogo Lester Ward, a visão de mundo masculina como superior à feminina mantém o paradigma de dominação. Essa tese dialoga com o conceito de violência simbólica do sociólogo Pierre Bourdieu, uma forma de agressão velada, de forma que os envolvidos, muitas vezes, não a percebem, pois pauta-se na perpetuação de estigmas. Tal fenômeno estimula a padronização dos papéis de gênero e condiciona mulheres a se manterem acuadas e culpabilizadas pelas várias formas de hostilidade a que estão sujeitas. Corrobora esse padrão a falta de representatividade política desse grupo e a permanência de princípios culturais androcêntricos. Resultado desse processo, a violência é intensificada. O lugar de fala é, pois, primordial para a alteração do processo. De acordo um estudo divulgado pela ONU Mulheres em 2020, o Brasil é o penúltimo colocado entre os países da América Latina, no quesito representatividade feminina. Ainda que a “Carta da Mulher Brasileira aos Constituintes”, de 1986, escrita por mais de 1000 mulheres, requisitasse direitos ao grupo e que a Constituição Federal de 1988 tenha apresentado a preocupação com a garantia de igualdade entre gêneros, não foram definidas sanções para a ilegalidade da violência contra a mulher, especificamente. Deve-se considerar que se trata de consequência de o país ter apenas 15% de representação feminina no Congresso Nacional. Assim, houve crescimento de 4,2 % nos assassinatos de mulheres entre 2008 e 2018 no Brasil, de acordo com o Atlas da Violência de 2020. Em suma, pode-se dizer que a escassez de mulheres na política mantém o padrão de exclusão e agressividade. Dessarte, a sociedade patriarcal perpetuada pela falta de representatividade política da mulher padroniza a opressão e estimula a violência. Nesse sentido, cumpre valorizar o papel de iniciativas como a de Frida Kahlo para a exposição crítica do problema.
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ISABELLA
PAES
LEME
RUFINO
Eu sou Isabella Paes Leme Rufino, nasci em agosto de 2002 e, como uma boa leonina, sou bem extrovertida. Eu adoro conviver com meus familiares e, claro, me divertir com meus amigos. Aliás, gosto muito de conhecer novas pessoas e culturas, tanto que um dos meus planos futuros é viajar por vários países. Mas, enquanto não realizo esse meu desejo, eu viajo pelo mundo literário. Desde pequena, eu sempre me entretive com contos e histórias. A cada ano que passa, meu amor pela literatura aumenta, com destaque aos livros de suspense e investigação de Agatha Christie. Também tenho um carinho enorme pela escrita, principalmente de dissertações. Por fim, eu queria dizer que estou muito feliz que um dos meus textos foi selecionado e sou muito grata por ter estudado no Magno com professores e amigos tão legais.
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LARBAC ITOD ORDEP OÃOJ
Estado Ausente “A massa nunca se eleva ao padrão do seu melhor membro: pelo contrário; degrada-se ao nível do pior”. A frase do ensaísta Henry Thoreau critica o comportamento do indivíduo em sociedade de massa. A degradação, no entanto, deve-se ao abandono do Estado em sistema econômico excludente. Em contexto neoliberal, a isenção governamental potencializa a exclusão e o desamparo dos mais pobres, enquanto empresas blindam os mais ricos. Resultado desse projeto são a violência e outros conflitos socioculturais. O Neoliberalismo promove a desigualdade, porém não se atenta aos efeitos colaterais dessa ação. Em decorrência do desamparo social, outros meios são encontrados para impor a paz. Pesquisa publicada pelo O Globo aponta que apenas aproximadamente 18% das comunidades têm as UPPs como principal força, enquanto 45% são dominadas por milícias. O fato de milicianos se aproximarem a mercenários faz parte do jogo de interesses repleto de violência e taxas de criminalidade altíssimas. Em contrapartida, países que adotam o Keynesianismo, com maior intervenção do Estado, conseguem amortizar as desigualdades e amparar populações mais carentes, diminuindo o espaço para o surgimento de milícias, por exemplo. Nesse sentido, Welfare State de Keynes ameniza desigualdades, enquanto o caos neoliberal provoca medo e insegurança. Esta é a bandeira neoliberal: economia como em prioridade. Resultado dessa proposta é a violência. Numa tentativa faciosa de remediar esse fato, surge um sistema penal falho, que não se preocupa em recuperar o desamparado. Segundo matéria do G1, menos de 20% dos presos trabalham e apenas 1 em 8 estudam. Por conseguinte, são poucos os presidiários que conseguem mudar de vida após a prisão, e acabam retornando ao crime. Ademais, os presídios superlotados e em péssimas condições incitam ódio nos detentos, o que gera um sentimento de vingança e, muitas vezes, as rebeliões. Quanto maior o abandono do Estado, maior é a violência resultante. A violência resulta da desigualdade social implantada por um sistema com Estado pouco presente. As ideias de Keynes que propõem melhor distribuição de renda, auxílio a empresas e empregados, oportunidades para toda a população, sem restrições, atenuam conflitos em países que não se subordinam ao corporativismo. A massa alienada, no entanto, defende um modelo que contribui com sua degradação.
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JOÃO
PEDRO
DOTI
CABRAL Olá! Sou João Pedro Doti Cabral, ex-aluno do Colégio Magno, e hoje estudante de Engenharia Elétrica na POLI-USP. Desde sempre fui apaixonado por tecnologia e computadores, além de sempre ser apaixonado por estudar. Pretendo um dia poder seguir meus sonhos, trabalhar em uma multinacional ou num negócio próprio, e acima de tudo ser feliz. Nunca gostei muito de gramática e redação, mas sempre gostei de poesia e de criar histórias. No meu último ano de ensino médio, criei uma relação muito boa com produção textual e sem dúvidas foi o que garantiu minha aprovação no vestibular. Fiquei surpreso por ser escolhido neste projeto, considerando que minhas notas ao longo do curso não foram nem um pouco altas, mas estar aqui hoje me mostra o quão recompensador é a dedicação e foco naquilo que almejamos. Quem acredita sempre alcança!
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ONEUB AMIL ODNANREF SiUL
Ignorância é força Uma fábrica de esmaltados e munições. Esse foi o local onde o alemão, Oskar Schindler, membro do Partido Nazi, salvou a vida de 1200 judeus durante o Holocausto, período no qual uma nação inteira se uniu a partir de um sentimento em comum: o ódio. Tal ira, incentivada pelo líder político Adolf Hitler, resultou na eclosão da 2ª Guerra Mundial e causou a morte de aproximadamente 60 milhões de pessoas. Entretanto, o estímulo ao ódio não é exclusivo desse período, permanece como instrumento agregador extremamente eficaz em uma sociedade de massa. O inimigo do meu inimigo é meu amigo. O princípio influencia a mente humana desde a Grécia Antiga. Na época constantes conflitos internos interromperam-se para favorecer o combate a um inimigo em comum: o Império Persa. Tal concepção ampliou-se na sociedade contemporânea, por meio da Indústria Cultural, pela lógica capitalista do consumo, em operosidade e avidez de lucro que acaba por promover o esvaziamento da subjetividade dos indivíduos. Para a maximização do lucro e manutenção do pensamento dominante, programas excessivamente simples distraem e eliminam a capacidade de reflexão crítica, o que confere a função ideológica de apaziguamento obliterante dos espíritos. Essa anulação gradual do sujeito resulta na vulnerabilidade à atomização social e à massificação que sujeitam a manipulações pela construção de inimigos públicos. Em um mundo globalizado, as redes sociais se tornam as principais fontes veiculadoras de discursos de ódio, responsáveis por incitar violência. Essas mídias contribuem para homogeneizar ideologias por meio da propagação de informações enviesadas, o que torna a noção de “verdade” um exercício de poder. Exemplifica essa tendência a hashtag "Cancel Christianity", movimento iniciado no Twitter, baseado no ódio em massa voltado aos cristãos. Dessa forma, o ódio amplia-se em uma sociedade pautada na impunidade e anonimato, fazendo as pessoas perderem a capacidade crítica. Esse processo é intensificado pela alienação social. Dessarte, o potencial agregador do ódio é a falta de coesão social dos alienados. Essa força só pode ser combatida pelo acesso irrestrito à informação. Assim, é possível sair de uma fábrica, não de esmaltados, mas de seres acríticos, vulneráveis à manipulação.
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LUiS
FERNANDO
LIMA
BUENO 1944. Esse foi o ano em que uma das obras sociológicas mais revolucionárias foi escrita: “Dialética do Esclarecimento”. Nela, Adorno e Horkheimer criam o conceito de “Indústria Cultural”. A partir do momento em que me deparei com esse conceito eu comecei a me interessar pela leitura e pelo conhecimento. Essa informação foi responsável por me impulsionar como indivíduo em meio à sociedade. Olá, meu nome é Luis Fernando Lima Bueno e nasci em 14 de janeiro de 2003, sou um amante de obras com bases científicas e análises sociológicas como a obra citada anteriormente e “Sapiens - Uma Breve História da Humanidade”, de Yuval Noah Harari. Hoje em dia, estou me preparando para cursar Medicina e enquanto isso, estou me transformando e, gradualmente, extinguindo minha dependência das redes sociais. A respeito de meu futuro, ele está nas mãos de Deus. Oro para que um dia eu me torne um cirurgião renomado e tenha uma bela família. Não desejo nada além do necessário para ter uma vida confortável e ter condições para proporcionar uma qualidade de vida tão boa quanto a que me foi proporcionada pelos meus queridos pais. Quanto ao futuro da sociedade, estou batalhando para que nós possamos transformá-la, de tal forma a alterarmos a natureza individualista que a rege. No que concerne à minha experiência com escrita, serei sincero, minha dificuldade derivou da falta do hábito de ler. Por isso, meus textos não tinham coesão e não atendiam os requisitos. Isso mudou quando comecei a ler e, coincidentemente, foi nesse exato momento que a Professora Maura começou a dar aula para minha turma. Essa junção foi a chave para a melhora do meu desempenho, não só acadêmico. Sinceramente, fiquei bem surpreso e me senti muito privilegiado com a notícia de que fui escolhido para fazer parte do livro digital.
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ADNOH ARIEVILO ED SALOCIN
volunturismo Cotrim praticava atos de caridade constantemente divulgados em noticiários e reconhecidos pelos outros. Pela personagem de Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis sugere uma crítica à filantropia motivada por interesses particulares. Trata-se de uma conduta que permanece na sociedade atual em que a autopromoção é potencializada pelo volunturismo e pela divulgação nas mídias sociais. Nesse contexto, o volunturismo é reflexo de uma sociedade superficial que distorce a ideia de herói. Faz parte da cultura civilizada o arquétipo do herói. Porém, atualmente houve uma ressignificação de tal signo. Tradicionalmente, o “herói” se sacrifica por algo, por um bem maior e, por esse motivo, é reconhecido pela sociedade. É o que apontam estudiosos, como Ana Figueiredo, mitologista membro do Instituto Joseph Campbell Brasil, ao afirmar que “Não existe um herói que almeje ganhar dinheiro, fama e reconhecimento. O que ele quer é cuidar da sociedade [...].”. Todavia, essa ideia foi alterada e a caridade, como ato “heroico”, passou a ser motivada por interesses pessoais de reconhecimento. A distorção dos valores é um dos fatores que demonstram a superficialidade da sociedade. Corrobora a relação entre o volunturismo e a superficialidade a ideia de “capital simbólico” de Pierre Bourdieu e a base fetichista da sociedade. Karl Marx, importante sociólogo alemão, analisou o fenômeno do fetichismo, ou seja, a valorização de marcas e objetos no ponto de vista econômico. Tal fenômeno tem sido potencializado, como se verifica pela pesquisa da IPSOS no Brasil, de 2016, pela qual 72% das pessoas afirmam que marcas trazem significados aos produtos. Esse viés valida o conceito de “capital simbólico”, de Pierre Bourdieu, de acordo com o qual, objetos de luxo, ações prestigiadas divulgadas assumem formas de lucro e poder. O volunturismo segue essa lógica. Voluntários despendem enormes quantias que poderiam impulsionar iniciativas locais, para autopromoverem-se em postagens ao lado de crianças pobres nas regiões mais exploradas do globo. “[...]o prazer do beneficiador é sempre maior que o do beneficiado.” O aforismo exposto na mesma obra de Machado de Assis expressa a força-motriz do assistencialismo. A realidade dos que recebem esmola permanece a mesma, mas a promoção de quem pratica a caridade o transforma em “herói”. O paradigma excludente é mantido por atitudes superficiais.
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NICOLAS
DE OLIVEIRA
HONDA
Sou Nicolas Honda, nasci em 2003 na cidade de São Paulo, sou ex aluno do Colégio Magno e atualmente curso engenharia elétrica na EPUSP. Desde pequeno, sou uma pessoa simples que gosta de passar as tardes jogando vídeo game com os amigos, ouvindo música ou aprendendo algo novo e interessante. Grande parte dessa minha personalidade se reflete nos meus planos para o futuro, quero ampliar meu conhecimento técnico na minha área de estudo e o conhecimento sobre o mundo à minha volta no geral. Sobre a escrita, tive uma experiência um tanto quanto traumatizante já que não era algo que dominava muito bem. Apesar disso, persisti em aperfeiçoá-la e hoje vejo o quanto essa habilidade é fundamental. O trabalho envolve a busca, exposição e correlação de múltiplos conhecimentos. Estar entre os escolhidos para o livro digital é uma grande satisfação uma vez que é o resultado de meu esforço e meu desenvolvimento tanto acadêmico quanto pessoal.
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adot opmac ed segrob ordep
A urgência pela maior valorização da vida negra “Em nós, até a cor é um defeito, o estigma de um crime. Mas nossos críticos se esquecem de que essa cor é a origem da riqueza de milhares de ladrões que nos insultam”. A frase do abolicionista Luiz Gama destaca a desigualdade e estereotipação das pessoas afrodescendentes na sociedade. Fruto da ignorância, o racismo é um problema que persiste nas relações humanas até os dias atuais, seja de forma pessoal ou estrutural, mesmo com o maior reconhecimento da desumanidade desse ato ou das contribuições socioculturais da comunidade negra. Por essa ótica, deve-se evidenciar a importância da valorização da vida negra. Ampliar a atribuição de valor à vida negra é relevante no contexto atual, principalmente com o maior espaço dado a movimentos como o Black Lives Matter (Vidas Negras Importam). Por mais que muitos critiquem esse tipo de iniciativa e afirmem que se trata de um desrespeito a não-negros, é necessário notar que a vida de afrodescendentes deve sim ser exaltada e priorizada, em uma realidade de violência e desigualdade que possui raízes históricas. O racismo estrutural, o qual consiste na desigualdade marcada na própria estruturação social e que nem sempre é consciente, é uma das principais marcas da contemporaneidade. De acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população de cor preta constitui 75% da camada mais pobre do Brasil. Esse fator, juntamente à exclusão social cotidiana, educacional e profissional, serve de exemplo da segregação racial e da imagem de inferioridade atribuída aos negros, de modo a potencializar a violência para com eles por parte de diversos agentes. Nesse contexto, reafirma-se a valorização que deve ser dada à contribuição que a cultura negra fornece para toda a sociedade. Segundo a especialista em relações sociais Nayara Oliveira, os pretos deram origem a diversos gêneros musicais e cinematográficos, tendências de moda, inovações científicas, entre muitos outros exemplos de influência em todos os âmbitos sociais e culturais existentes. Em outras palavras, a comunidade negra é responsável por grande parte dos fatores que constituem identidades de inúmeras nações, mas continua a não receber crédito ou respeito por isso, uma vez que o racismo violento presente na atualidade é intenso. De acordo com a graduanda em Relações Internacionais, Isabella Vieira de Moura, os atos odiosos que muitas vezes levam cidadãos negros a óbito, revelam necropolítica, isto é, o poder de escolha de grupos sociais e políticos considerados superiores sobre vidas que, para eles, podem ser descartadas. O caráter racista enraizado no corpo social evidencia a urgência por mudanças que eliminem a ignorância. A discriminação individual ou estrutural ressalta a contínua desconsideração pela influência da cultura negra na sociedade e da importância de uma maior valorização desse inegável impacto. A vida negra deve ser valorizada, em decorrência não apenas de princípios básicos de igualdade e respeito, como também para desfazer injustiças históricas. Nesse sentido, cabe reiterar a crítica de Luiz Gama, primeiro jornalista negro brasileiro: “A escravidão é uma espécie de lepra social: tem sido muitas vezes abolida pelos legisladores e restaurada pela educação sob aspectos diversos”.
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pedro
borges
de campo
toda
Meu nome é Pedro Borges de Campos Toda e nasci em 2003. Nunca fui uma pessoa que lê e escreve com frequência, mas sempre foi algo de que, quando faço, gosto bastante, por isso costumo me sair bem ao escrever. Vejo a escrita como algo muito importante, e eu diria que a minha foi se desenvolvendo muito com o tempo, e pude praticá-la mais que nunca durante o curso de produção textual do último ano do Ensino Médio. Por isso, fico muito feliz em ser escolhido para participar desse projeto!
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ETACIRT ALEAFAR
A carteirada como síntese da democracia formal Pés sob fundo escuro trazem uma etiqueta com os dizeres “Identidade ignorada”. A escultura de Carlos Zílio sugere uma reflexão a respeito da dificuldade de distinguir quem é uma pessoa, enquanto mero corpo. Essa análise implica uma crítica ao sentimento de superioridade de alguns. Por essa lógica, deve-se analisar a carteirada, como síntese da democracia formal. Primordialmente, é válido ressaltar que o Artigo 5 da Constituição Brasileira garante igualdade de todos os cidadãos perante a lei. Entretanto, alguns indivíduos utilizam cargos, profissões, condição social ou financeira, como prova de relevância em prol da obtenção de vantagens e privilégios. De acordo com o antropólogo Roberto DaMatta, a frase “você sabe com quem está falando?” é resultado de uma sociedade que tem um padrão aristocrático extremamente forte. Nesse sentido, a carteirada é um princípio de manutenção. Essa foi a conduta do desembargador Eduardo Siqueira, que humilhou guardas civis de Santos (SP), ao ser multado por não utilizar máscara, item obrigatório na cidade no período da pandemia. Tendo em vista que a democracia formal é definida como uma sociedade com leis igualitárias, porém com práticas desiguais, a conquista de vantagens em decorrência de títulos sintetiza e exemplifica tal conceito. Pelo princípio da igualdade não pode haver hierarquização entre as pessoas. Corrobora essa ideia o filósofo prussiano Immanuel Kant, de acordo com quem toda pessoa existe como um fim em si mesmo e, por isso, é valiosa, merece respeito e consideração, independentemente de suas crenças, cultura, cargo, ou orientação sexual. Entretanto, o Capitalismo potencializa diferenciais de poder e prestígio por índices de cultura, luxo e relações sociais. Com base nesse pressuposto, o sociólogo francês Pierre Bourdieu, cria os termos capital social, capital cultural e capital simbólico, para revelar capitais tão importantes quanto o financeiro para a obtenção de honra. Considerar a igualdade como base da democracia em uma sociedade em que a carteirada é recurso para privilégios valida a crítica de Bourdieu e coloca em xeque falácias jurídicas. A igualdade jurídica é garantida por constituições democráticas, porém esse direito fundamental é demolido pela carteirada. Nesse sentido muitas identidades continuam a ser ignoradas.
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RAFAELA
TRICATE
Sou a Rafaela Tricate, nascida em 19 de agosto de 2003. Sempre fui muito comunicativa, gosto de falar, de conhecer pessoas, de novidades e, sobretudo, de dançar. Como a escrita é uma forma de expressão, faz parte de meu modo de ser. A organização dos meus textos teve muita influência do Magno que dá atenção especial a essa capacitação. Durante meus anos escolares, a escrita foi se tornando cada vez mais presente e, assim, eu evoluí muito. Pensei, inclusive, em ser jornalista. No entanto, decidi prestar Administração e hoje faço o curso na ESPM. Ser selecionada para fazer parte do livro digital foi muito gratificante, pois mostrou que todo trabalho é recompensado e ser reconhecido por algo que se fez é incrível!
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SNITRAM SEREP OHLAVRAC LEAHPAR
Pronome neutro: piada ou revolução? “É preciso sair da ilha para ver a ilha”. A frase de Saramago é um aforisma importante que alerta para a importância de diferentes perspectivas para uma análise abrangente da realidade. Entretanto, a manutenção de estigmas alguns como diferentes por sua orientação sexual ou índices étnicos. Para alterar esse paradigma, a linguagem inclusiva deve impor-se como antítese de uma cultura alienante. A palavra “representar” vem do latim representare e significa simbolizar, retratar e refletir. A linguagem inclusiva tem o propósito de tornar a comunidade LGBTQI+ não binária parte do ideário comum. Rosa Parks, uma das líderes do movimento filosófico da aceitação do povo negro nos Estados Unidos, afirmou: “ Não tinha nem ideia que estava fazendo história. Só estava cansada de me render”. Ao contestar as leis jurídicas e morais da época e não ceder seu lugar no ônibus para uma pessoa caucasiana, a mulher providenciou enorme representatividade para a sociedade afrodescendente. Romper com um padrão excludente é também a proposta da linguagem inclusiva busca. Nesse sentido, mídias livres, como o Catraca Livre, por exemplo, já empregam o pronome neutro. Para a amplitude de alteridade, tal fato é estritamente necessário. Conjuntamente com a homofobia, machismo é o preconceito mais comum em solo brasileiro. O sexismo evidencia-se também na língua de base latina que tem o plural de palavras femininas e masculinas formado pelo predomínio do masculino. A linguagem sexista associa-se frequentemente com a misoginia ou com um desprezo real e aparente pelos valores femininos, que, segundo a Wikipédia, e é ainda pior em relação à aversão à comunidade LGBTQI+. Pesquisa feita pelo projeto de jornalismo sustentável #Colabora mostra que vários gays, homens e mulheres trans, travestis, lésbicas são mortos por terceiros, tanto por tiros, quanto por espancamentos e asfixia, além de suicidarem-se, em decorrência da exclusão. O ideal de superioridade hétero sobre a sociedade resultando, pois, na morte desnecessária e injusta de inocentes. Essa ideologia pode ser corrigida pela inserção de termos que concretizem pela linguagem a existência de indivíduos cuja orientação sexual destoa do padrão vigente. “Não nos vemos se não saímos de nós”. A proposta de José Saramago refere-se à empatia pela perspectiva do outro pelo abandono de ideias preconcebidas. Trata-se de postura importante que pode ser concretizada pelo incluir concretamente o outro não só pela inserção de termos neutros, como também pelo plural que inclua o feminino. Cabe enfatizar que não há pluralidade, sem aceitação da diversidade.
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RAPHAEL
CARVALHO
PERES
MARTINS
Me chamo Raphael Carvalho Peres Martins, nasci em 2003, na cidade de São Paulo. Gosto de passar meu tempo livre ouvindo música e tocando contrabaixo, assistindo a séries, filmes e futebol. Na escola, sempre fui uma pessoa da área de exatas, principalmente química. Por isso, planejo ingressar para a Escola Politécnica na Universidade de São Paulo, cursando engenharia química. Desde o ensino básico, a redação sempre foi meu pior pesadelo. De longe, a matéria na qual eu tinha as menores notas. Com muito tempo e dedicação, fui melhorando minha escrita até chegar ao nível que me fará ser aprovado no segundo vestibular mais difícil do Brasil. Estar dentre os escolhidos para o livro digital significa que todo o esforço que coloquei sob minha redação rendeu resultados incríveis, e me deixa com alta confiança na concretização do meu plano futuro. Enfim, aqueles que alcançam são os mais resilientes.
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ERITRAM DAAS AIROTCIV
volunturismo “[...] o prazer do beneficiador é sempre maior que o do beneficiado. [...]”. O trecho de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, retrata o que a personagem, Quincas Borba, chama de “Teoria do benefício”. Embora essa tenha sido desenvolvida na obra de 1881, muito do que é por ela retratado permanece na atualidade. O exemplo disso é o volunturismo, nome dado ao turismo para trabalho voluntário, que resulta na espetacularização da filantropia. Com os avanços da tecnologia e da sociedade, as formas de prestígio social se transformaram e evoluíram, criando novos tipos de capital. Hoje, esses variam em diversas esferas e podem se manifestar em postagens de redes sociais. Contribui para isso o volunturismo, já que seu fim parece ser a autopromoção, o que, muitas vezes, atrapalha mais do que ajuda quem realmente precisa. De acordo com um artigo do The Guardian, de 2018, uma casa construída em Honduras por voluntários, que custou cerca de 30.000 dólares, poderia ter sido construída pelos próprios moradores com custos menos elevados, se eles só tivessem recebido o dinheiro e não os voluntários. Entretanto, o glamour de estar num país pobre e fazer-se útil aos miseráveis atrai mais do que a simples doação de recursos. As publicações nas redes sociais também não contribuem em nada com a situação dos beneficiados, já que só os colocam como coitados e não mudam a sua situação de forma eficiente. Muito pelo contrário, elas ajudam a perpetuar a imagem infantilizada e rebaixada desses povos, como incapazes de resolverem seus próprios problemas. Desse modo, ganham com tais postagens os “volunturistas”, que se divulgam em seu complexo de “white savior”. O branco como salvador, altruísta e capaz perpetua desigualdades e mantém o sistema inalterável. Assim, o “Fardo do Homem Branco”, que moveu pessoas, também superficiais e egoístas, no período imperialista é revisitado e ressignificado. Nesse sentido, vale reiterar Machado de Assis: “A persistência do benefício na memória de quem o exerce explica-se pela natureza mesma do benefício e seus efeitos.”. A atemporalidade da imagem do beneficiador eclipsa a do beneficiado. Cumpre enfatizar a superficialidade não só dos voluntários que se submetem às ações, mas da sociedade como um todo que as apoia.
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VICTORIA
SAAD
MARTIRE
Meu nome é Victoria Saad Martire e eu nasci em 2003. Tenho vários planos para o futuro, entre eles, minha mudança para estudar na Universidade da Califórnia Berkeley em alguns meses. Estudei no Magno desde 2005 e minha trajetória com textos foi de muitos altos e baixos. Costumava ir muito mal em redação no ensino fundamental e nunca tirava nada além de Bom nos meus textos. Até que, um dia, comecei a ler, conversar mais com meus professores e me empenhar mais nas aulas. Percebi que o que faltava nos meus textos era cor e criatividade. A partir daí tive uma melhora significativa e me adaptei às diversas propostas. Demorou bastante, mas eu aprendi, me desenvolvi e, hoje, eu amo escrever. Estou muito feliz de estar entre os escolhidos do livro digital porque para mim isso significa que, mesmo com meus altos e baixos, eu consegui.
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NEEUQ AÊRROC AIROTCIV
estereótipos O cartunista Malcolm Evans ilustra, em uma charge, duas mulheres que se entreolham: uma delas, em roupas de banho e óculos escuros, diz, referindo-se à outra que veste burca completa: "Tudo coberto, menos os olhos. Que cultura cruel dominada pelo homem!” A fala revela o viés da sociedade ocidental diante de costumes que não compreende. Todavia, é importante salientar que quebrar estereótipos das representações da mulher árabe contribui para a ampliação da alteridade. Existem leis severas quanto à vestimenta e à participação da mulher como cidadã em certos países do Oriente Médio, porém, interpretar esse dado como subordinação corresponde a etnocentrismo. O mundo no Oriente Médio conta com uma variedade de povos, religiões, regras e graus de aceitação quanto aos hábitos ocidentais. Inclusive, as mulheres árabes vêm conquistando cada vez mais cargos importantes, desatrelando-se da cultura patriarcal imposta historicamente: o setor espacial dos Emirados, por exemplo, conta com as maiores taxas de emprego feminino do mundo: de acordo com a Agência Espacial dos Emirados, as mulheres representam 45% da força de trabalho do setor espacial dos Emirados Árabes Unidos. No Ocidente, por outro lado, onde se defende, pela lei, a igualdade entre gêneros, a mulher permanece com salários mais baixos e vítima de violência. Exercer alteridade demanda ser solidário. Colocar-se no lugar do outro é uma tarefa complicada, uma vez que depende da abdicação de conceitos predefinidos. Nesse sentido, há de se levar em consideração que as próprias mulheres árabes têm valores e concepções diferentes das mulheres ocidentais. A reflexão sobre as diferenças culturais exige que a informações sobre a cultura do Oriente Médio não cheguem de maneira enviesada, etnocêntrica, isto é, baseada na superioridade dos parâmetros ocidentais. A evidência do desequilíbrio de direitos entre homens e mulheres no Ocidente deve motivar o questionamento sobre o papel da mulher na região, mais do que discursos de salvadores de supostas oprimidas à distância em oposição à aberta indiferença pelos problemas do próprio cotidiano. A quebra de estereótipos e a compreensão de que o mundo é composto por inúmeras culturas distintas serão possíveis pelo respeito a diferenças e singularidades. Para a muçulmana da charge de Malcom Evans, o corpo à mostra e só os olhos cobertos são reflexo de um mundo machista e cruel. Retirar vendas impostas por estigmas exige o intercâmbio cultural a partir de informações livres de controle e enviesamento. A tolerância ocorre, pois, a partir do reconhecimento do outro como semelhante.
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VICTORIA
CORRÊA
QUEEN
Meu nome é Victória Corrêa Queen, nasci em 25 de agosto de 2003. Sou carioca e amo a Cidade Maravilhosa, mas, também, paulistana por criação e apreço pelas experiências que a Terra da Garoa me proporcionou. A praia é meu lugar favorito. Deitar na areia, sentir a água gelada molhar meus pés e me aquecer com o calor do sol são o que eu procuro fazer quando quero esquecer a rotina e refrescar meus pensamentos. Por isso, morar perto do mar sempre esteve nos meus planos e não pretendo mudá-los tão cedo. No Magno, aprendi a escrever academicamente, mas minha relação com a escrita não se resume a isso: como uma pessoa reservada, consigo expressar o que sinto e penso por textos, ainda que não os compartilhe. Estar entre os escolhidos para o livro digital é surpreendente e gratificante. Surpreendente, pois argumentar não é uma tarefa fácil, muito menos dentro de modelos específicos, mas gratificante, pois é esse o sentimento de ver um trabalho, fruto de um ano inteiro de prática e aprendizagem, ser reconhecido.
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