Esposa decidida 408

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– Creio que você quer conversar sobre... Nik se voltou para ela com a elegante agilidade que sempre atraía atenção e franziu a testa. – Não. Eu não quero conversar – falou bruscamente antes de beber de um só gole o uísque que colocara no copo. – Então... Por que...? – perguntou ela confusa. – Se thelo... Eu desejo você. – Nik se ouviu dizendo, mesmo antes das palavras saírem de sua boca. Era típico de Nik ser totalmente imprevisível, Betsy pensou, ficando


muito vermelha e sentindo uma onda de calor. Os olhares dos dois se encontraram com tamanha intensidade que pareciam ter colidido fisicamente. Ela sentiu uma contração no ventre. Suas pernas ficaram tão moles que pareciam não poder mais sustentá-la, mas ela se mantinha de pé porque estava presa ao olhar intenso de Nik. – E você me deseja – falou ele em tom rouco. Era o exemplo clássico de Nik lhe dizendo o que ela sentia antes que a própria soubesse.


Querida leitora,

Betsy achou que viveria um conto de fadas quando Nik Christakis a pediu em casamento. Ela era uma simples garçonete e ele um homem muito rico, um verdadeiro príncipe encantado. Só que a fantasia não durou muito… Nik mudou, afastou-se dela, deixou-a decepcionada. Prestes a assinar os papeis do divórcio, Betsy se rende a mais uma noite de paixão. Ela achou que seria uma despedida, mas foi um recomeço.


Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books



Capítulo 1

– UM

DIVÓRCIOpode ser civilizado –

disse Cristo Ravelli em tom diplomático. Nik Christakis quase riu com desprezo ao ouvir a afirmação de seu irmão, cerca de dois meses mais velho, mas o respeito o levou a se conter. Afinal, o que Cristo sabia a respeito das feridas e agruras de um divórcio destrutivo? Cristo era um recém-casado feliz que não passara por aquela


experiência... Assim como nunca deveria ter passado por quaisquer experiências desagradáveis. Como resultado, Cristo era seguro e direto como um juiz, não tinha arestas, curvas ou intenções obscuras. Tinha tanta ideia da vida mais complicada e dura de Nik quanto um dinossauro jogado em um conto de fadas repleto de magia. – Provavelmente você está imaginando como eu tive coragem de sugerir um divórcio – disse Cristo secamente. – Mas você e Betsy já tiveram um bom relacionamento. Eliminar a tensão e esfriar os ânimos seria mais saudável para vocês dois. – Você ficará satisfeito ao saber que eu e Betsy teremos um encontro amanhã


na presença de nossos advogados, para tentar fazer um acordo – resmungou Nik com uma expressão desanimada. – É apenas dinheiro, Nik... Dio mio... – Cristo suspirou, pensando no enorme império empresarial que seu irmão maníaco por trabalho tinha construído. – Você tem bastante. Nik trincou os dentes e seus olhos incrivelmente verdes brilharam de fúria. – A questão não é essa. Betsy está querendo me depenar e levar metade de tudo que eu... – Eu não posso explicar por que ela está fazendo tantas exigências. Eu poderia jurar que ela não tinha um pingo de ganância – declarou Cristo,


aborrecido. – Já tentou conversar com ela, Nik? Nik franziu a testa. – Por que eu tentaria conversar com ela? – perguntou ele, admirando-se com a sugestão que lhe parecia insana. – Ela me colocou para fora de casa, entrou com o pedido de divórcio e está tentando me tirar milhões! – Betsy tinha motivos para expulsá-lo – lembrou Cristo ao irmão asperamente. Nik contraiu os lábios. Sabia exatamente por que o seu casamento implodira. Casara-se com uma mulher que afirmara não querer ter filhos e que mudara de ideia. É verdade que, mesmo depois que ela lhe dissera isso, ele insistira em lhe esconder uma


informação pessoal muito importante, mas presumira que tudo não passasse de um capricho de Betsy, ou de hormônios, e que aquela fase fosse acabar tão depressa quanto começara. – A casa era minha – respondeu Nik. – E, agora, você pretende lhe tirar Lavender Hall e o cachorro – disse Cristo, impaciente. – Gizmo também era meu. – Nik deu uma olhada para o cachorro que estava com ele havia dois meses e que parecia estar deprimido. Deitado sob a janela, cercado de brinquedos, com o focinho apoiado nas patas, o bichinho parecia ter tudo que o dinheiro podia comprar, mas continuava a sentir a falta de Betsy.


– Você tem noção do quanto ela ficou abalada quando você lhe tirou o cachorro? – As três páginas cobertas de lágrimas, com instruções sobre como cuidar dele, me deram uma ideia – falou Nik com ironia. – Ela se preocupa mais com o cachorro do que jamais se preocupou comigo... – Há menos de um ano, Betsy o adorava – disse Cristo num tom de censura. Nik reconheceu que gostara de ser adorado. Mas não gostara quando a adoração se transformara em ódio e se traduzira em questões que ele não podia responder a não ser que se visse


forçado, porque provavelmente as explicações provocariam um olhar de horror ou de piedade que ele não suportaria ver nos olhos de Betsy. Um homem tinha o direito de esconder certas verdades: algumas delas eram chocantes demais para serem reveladas. – Quer dizer... – Cristo hesitou. – Quando você me encorajou a procurar Betsy e a me tornar amigo dela, depois da separação, eu pensei que você estivesse me usando como intermediário porque ainda a amava e queria voltar... O belo rosto de Nik se contraiu. – Eu não a amava. Eu nunca amei ninguém – admitiu ele friamente. – Eu gostava dela, confiava nela. Ela era uma boa dona de casa...


– Dona de casa? – Cristo ficou abalado com a descrição. O termo era muito antiquado para alguém que parecia tão descolado quanto Nik. – Uma boa dona de casa – repetiu Nik, pensando que, como Cristo sempre tivera uma decente, ele não entendia a importância deste talento em uma mulher. – Mas a confiança que eu tinha nela era indevida. Obviamente, eu não a quero de volta. – Tem certeza? – Cristo insistiu. – Ne... Sim – respondeu Nik em grego. Betsy sempre tinha sido uma estranha escolha como esposa de um milionário grego, mas ele a conhecera durante um período difícil de sua vida e


ela fizera parte daquela fase, e não do futuro promissor que ele divisava à sua frente. Desde que o seu casamento tinha acabado, havia seis meses, Nik se orgulhava de ter mudado: resolvera esquecer o seu passado conturbado, aliviara a própria bagagem e se tornara uma versão mais leve dele mesmo. A última coisa que ele pretendia era repetir seus erros. E Betsy fora um grande erro.

SENTADA AOlado de seus advogados na elegante sala de reuniões, Betsy estava tão nervosa que qualquer ruído inesperado seria capaz de fazê-la pular até o teto.


O seu nervosismo era compreensível. Fazia seis meses que não via Nik. Seis meses durante os quais o seu coração partido fora repetidamente pisado e destruído. Ele se recusara a vê-la ou a lhe dar uma explicação para o seu comportamento inadmissível. Subitamente, ela deixara de ser a esposa feliz que tentava ter um filho e se transformara em uma mulher traída, profundamente magoada e confusa. Ela expulsara Nik de casa, mas, na verdade, ele a abandonara. Depois da profunda decepção que lhe causara, ele reagira com uma veemência que a desarmara e fora embora sem olhar para trás, como se três anos de um casamento


que ela sempre achara ser feliz não fossem nada. Quando lhe ocorrera que ela se casara com um homem que nunca tinha dito que a amava, com um homem que afirmava não acreditar no amor e cuja prioridade sempre fora o trabalho, era muito tarde. Portanto, depois de ter sofrido tamanho golpe e rejeição, não deveria ser surpresa que ela tivesse revidado. Betsy sabia que a sua atitude transformaria a aparente indiferença que Nik sentia por ela em ódio, mas não se importava mais com o que Nikolos Christakis pensasse a seu respeito. O amor que sentia por ele morrera quando ela fora obrigada a reconhecer o quão pouco ele a valorizava ou ao casamento.


Agora, estava fazendo o que admitia ser uma tentativa patética para se vingar e puni-lo por ter partido seu coração tão impiedosamente. Vingança. Não era uma palavra bela, mas era a última coisa que um tubarão esperto e manipulador como Nik Christakis poderia esperar de uma futura ex-esposa que sempre fora submissa. Ele não se importava com ela, mas se importava com seu precioso dinheiro. Não havia objetivo maior na vida de Nik que a busca implacável pelos lucros e pela conservação de sua vasta fortuna pessoal. Betsy sabia que, se pudesse dar uma boa mordida na sua carteira, estaria vingada. Afinal, fora preciso que ela


exigisse metade do que ele possuía para fazer com que ele concordasse em encontrá-la pessoalmente. Era evidente que, para ele, o dinheiro sempre importara muito mais que o casamento. Ouviram-se passos no corredor. Betsy ficou imóvel. A maçaneta da porta fez um barulho, mas a porta continuou fechada. Ela ficou gelada e sentiu o coração subir até a garganta. – Deixe a conversa para nós – lembrou o advogado de Betsy, Stewart Annersley. Annersley poderia ter acrescentado que ela estava fora do seu elemento, mas ela já sabia disso: mal conseguia acreditar que passara três anos no mundo de riqueza de Nik, mas que ainda


estava sujeita a se deixar enganar. Isso queria dizer que ela era tola? Que não conseguia avaliar as pessoas e suas motivações? Ela ficara arrasada quando Nik lhe tirara Gizmo, seu único conforto depois da separação. Ele não era do tipo que se importava com animais, mas insistira em levar o cachorro. Por quê? Betsy acreditava que fosse por Nik ser maníaco por controle. O que lhe pertencia continuava sendo dele, a não ser que fosse uma esposa descartável. A sua última ofensiva hostil se concentrara em lhe tirar a casa que ela amava, e da qual ele nunca gostara. Por quê? Com certeza, Nik era o proprietário e pagara a reforma que haviam feito, mas ele só


comprara a casa para agradá-la. Ou não? Talvez ele tivesse visto Lavender Hall como um investimento promissor... Cada vez mais, Betsy duvidava que pudesse saber exatamente os motivos que o impulsionavam. A porta abriu inesperadamente e Nik apareceu, muito alto, corpo bem-feito. Ela sentiu o coração acelerar loucamente e, de repente, falhar. Por um instante, não conseguiu se mexer, respirar, falar ou piscar. Ele irradiava pura energia sexual. Seus olhos extremamente brilhantes cintilavam como esmeraldas no belo rosto moreno, olhos atraentes, espertos. Uma série de lembranças, que iam desde o primeiro encontro desastroso à lua de


mel romântica e à solidão da vida cotidiana, ameaçou consumi-la, mas Betsy se controlou: não deixaria que ele fizesse aquilo com ela novamente, não permitiria que ele a perturbasse. Betsy ergueu o queixo, endireitou os ombros e olhou para ele com um olhar vazio, porque não suportaria encará-lo diretamente. Como tinham atingido aquele ponto? Como o homem que ela tanto adorara teria se transformado no seu pior inimigo? Onde ela errara? O que fizera para que ele a tratasse com tamanha hostilidade e falta de compaixão? E, enquanto a paranoia e a pena de si mesma ameaçavam dominá-la, Betsy


ouvia a voz de Nik soar em sua cabeça. – Deixe de ter complexo de perseguição e de se culpar – dissera-lhe Nik uma vez. – Nem tudo é sua culpa. Você não está sendo castigada por algum pecado que tenha cometido. Coisas ruins acontecem porque fazem parte da vida... Nik observou Betsy atentamente. Ela parecia ter emagrecido. Tinha uma constituição delicada e sempre pesara cerca de 46kg. Rodeada de advogados, ela quase desaparecia. Definitivamente, perdera peso. Ele imaginou se ela estaria se alimentando direito e o seu antigo instinto de proteção despertou, mas ele se controlou porque aquilo não era mais da sua conta, assim como não


era da sua conta que Annersley estivesse olhando para o perfil delicado de Betsy com um ar enlevado, como se cobiçasse um prêmio. E, claro, se recebesse a décima parte do que Nik valia, Betsy iria ser um troféu a ser disputado por todos os homens à procura de dinheiro. Enquanto caía com violência sobre a cadeira que um de seus advogados puxara para ele, Nik disse a si mesmo que essa ideia não o perturbava nem um pouco. Com certeza, haveria outros homens na vida de Betsy: ela era linda. Ele observou o seu perfil. Sempre achara que ela parecia um frágil bibelô, o tipo de mulher que todo homem tinha vontade de proteger e cuidar. E onde a


sua gentileza o levara? A caminho do divórcio e de alguns milhões a menos como qualquer outro tolo, Nik pensou cinicamente. “Eu quero ter um filho”, Betsy lhe dissera com os olhos azuis marejados de lágrimas e os lábios trêmulos, rompendo o acordo prénupcial e tentando, egoisticamente, reescrever a história... E sem perceber que o deixara sem chão. Evidentemente, Betsy teria o filho tão desejado com outro homem. Nik sentiu o coração se encolher diante desta ideia. Engoliu o café quente que haviam lhe oferecido e queimou a boca. Betsy estava tentando roubá-lo, assim como o seu próprio pai gigolô tentara roubar sua mãe, Helena. Mas Helena Christakis


fora mais esperta e não se deixara enrolar por Gaetano Ravelli, e ele, Nik, tinha uma inteligência que deixava a de sua mãe no chinelo... Para começar, ele não se importava mais com Betsy. Como se fosse um alcoólatra, o primeiro passo da sua cura seria voltar a vê-la sem nada sentir. E ali estava ela: pequenina, estranhamente atraente em cada detalhe, desde o manto de cabelos louros sedosos e a pele de porcelana, até o biquinho formado por seus lábios rosados. Nik endureceu o rosto e procurou ver seus possíveis defeitos: a curvatura do nariz, algumas sardas, a magreza excessiva e as curvas modestas. Fisicamente, ela era nada


perfeita... O que ele vira nela? Inesperadamente, Betsy ergueu os olhos e seus cílios macios emolduraram os olhos azuis como o fundo do oceano. Imediatamente, Nik sentiu uma pontada de desejo atingi-lo, fazendo com que ele contraísse os músculos, enquanto o calor lhe descia até a virilha. Apesar de poucas coisas o chocarem, ele ficou abalado com a própria reação. O resultado é que começou a suar frio e precisou recorrer a todas as suas forças para controlar a reação provocada por Betsy, dizendo a si mesmo que a sua momentânea excitação não passava de uma resposta sexual condicionada à mulher que lhe era tão familiar. Betsy olhava fixamente para a mesa


enquanto cumpriam as formalidades legais. Nik estava sentado do outro lado, longe o suficiente para ser ignorado visualmente, mas ela precisava exercer toda a sua força de vontade para não olhar na sua direção. Fazia muito tempo, e fora um longo período agonizante, que ela não tinha a satisfação de olhar para ele. Num impulso repentino e incontrolável, ela ergueu a cabeça e, por um segundo explosivo, seus olhos encontraram os olhos verdes de Nik, que se tornavam irresistíveis em contraste com o seu lindo rosto bronzeado. Ela não conseguiu mais respirar nem se mexer. Sentiu-se dominada por uma reação primitiva que lhe provocava uma


umidade entre as coxas, um intumescimento nos seios, um arrepio nos mamilos. Uma série de imagens eróticas lhe ocorreu e ela ficou muito corada. Mais tarde, ela iria achar triste que Nik desviasse os olhos antes dela, mas, no momento em que ele fez isso, sentiu-se grata por ele tê-la libertado daquela sensação de estar presa à atração que ele exercia sobre ela. Como ele ainda conseguia fazer isso com ela? Como ainda se sentia subjugada ao desejo que ele lhe provocava? Ele a fizera passar pelo inferno. Ficara calado quando deveria ter lhe dado explicações. E ainda deixara que ela passasse pela terrível humilhação de descobrir a verdade através de um de


seus irmãos. – Você vai se arrepender... – ameaçara ele no dia em que ela o expulsara de casa, mas o único arrependimento que ela sentia era de não ter descoberto mais cedo o segredo que ele escondia. Pensando bem, naquele dia, ela se comportara como uma louca. Ficara descontrolada quando o seu mundo desmoronara. Lamentara, gritara, xingara, e ele ficara parado como uma rocha fustigada por ondas tempestuosas, como se ignorasse a sua raiva, suas lágrimas e seus pedidos de explicação. Ele ficara calado e, por fim, limitara-se a admitir calmamente que o que ela


soubera através de seu irmão, Zarif, era verdade: Nik fizera uma vasectomia aos 22 anos, e não existia possibilidade de que ele tivesse um filho com ela. Havia escondido este segredo e deixara que, durante meses, ela tentasse desesperadamente engravidar. Por que ele não lhe contara a verdade? Apesar de ter lhe feito esta pergunta várias vezes, ele não respondera. A famosa especialista em divórcios que Nik contratara, Marisa Glover, analisou Betsy friamente e lhe perguntou por que uma mulher disléxica que não tinha um tostão, que trabalhava como garçonete antes do casamento e que não trabalhara desde então, achava que merecia metade dos bens de seu marido.


– Vamos reconhecer... Você não tem filhos para sustentar – disse a implacável advogada loura. Betsy ficou muito pálida e atordoada, como se tivesse sido atingida pela explosão de uma bomba. Nik contara a eles que ela era disléxica. A humilhação a atingiu como um balde de água gelada. Quanto a assinalar que ela não tinha filhos, o golpe fora ainda mais cruel, porque Nik lhe negara cruel e definitivamente o que mais desejava. O advogado de Betsy desviou o assunto para uma direção mais prática. Nik observou o perfil pálido de Betsy, seus cílios trêmulos, sua boca contraída, e percebeu que ela estava


magoada, humilhada e que tentava se recuperar do ataque direto de Marisa. Ele contratara Marisa por ela ser a melhor advogada de divórcios de Londres e um tubarão impiedoso, mas, naquele momento, ela conseguira fazer com que ele trincasse os dentes e cerrasse os punhos. Betsy estaria esperando que ele fosse ser complacente? Que ainda existiria algo de sagrado que pudesse permanecer em segredo durante um divórcio? Ela ainda seria tão ingênua? Ele estava à espera que os advogados de Betsy atacassem. Com certeza, eles tinham munição. Bastava dizer que ele não queria que os detalhes da sua vasectomia fossem mencionados no


tribunal: este assunto era muito mais pessoal que a dislexia da qual Betsy tanto se envergonhava. Ainda assim, o ar de humilhação e de mágoa que ela tentava esconder do seu rosto tão expressivo o atingia tanto que Nik ficou revoltado por Betsy estar sendo rebaixada diante de testemunhas. Naquele instante, Annersley lembrava Marisa de que Nik se recusara a deixar que Betsy trabalhasse enquanto estava casada, insinuando sutilmente que ele era um dinossauro e um tirano. Marisa retrucava que Betsy não tinha capacidade para trabalhar em outra coisa além de empregos subalternos e que o status social de Nik não permitia


que sua esposa ocupasse atividades tão humildes. De repente, Nik perdeu a calma e, sem pensar no que fazia, levantou bruscamente, assustando a todos. – Diavelos... Basta! Isso acaba aqui. Marisa, você sabe muito bem que Betsy administra o seu próprio negócio em Lavender Hall. – Sim, mas... – Isto é tudo por agora – disse ele em tom peremptório. – Eu não quero mais discutir esse assunto. – Mas nós não chegamos a um acordo – disse Annersley. Betsy deu uma olhada em Nik, sem conseguir acreditar que ele interrompera a humilhante reunião. Recusava-se a


crer que aquela atitude tivesse sido em seu benefício: ele deveria ter algum motivo escuso. Ela se sentira humilhada e magoada com o fato de terem jogado a dislexia em sua cara, de terem mencionado o seu baixo nível de escolaridade que, em parte, se devia a ele. Nik reclamara tanto das suas aulas noturnas, que ela desistira de completar o curso para obter o diploma. Durante o casamento dos dois, Nik estava sempre viajando pelo mundo, mas, quando estava em casa, queria que estivesse presente. Por fim, ela cedera às suas reclamações egoístas, acreditando ingenuamente que ele precisasse dela e ficando feliz pelo fato de que o homem


que nunca dizia que a amava não suportasse ficar longe dela. – Marcaremos outra reunião – decretou Nik, encaminhando-se para a porta sem olhar para Betsy.

BETSY DESCEUdo trem e dirigiu-se para o carro. Estava zangada consigo mesma e envergonhada por ter reagido a Nik de maneira tão instintiva, submetendo-se à sua atração sexual letal como se fosse uma menina tola, indefesa e inexperiente. Não queria sentir absolutamente nada quando estivesse perto dele. Porque nada era o que ele merecia. A esposa de Cristo, Belle,


aconselhara-a a arrumar outros namorados, alegando que só assim ela esqueceria Nik. Infelizmente, a última coisa que ela queria depois do triste fim do seu casamento era se preocupar com outro homem. Os homens davam muito trabalho. Fora isso que aprendera com Nik. A mente conturbada de Betsy deu um mergulho no passado. Ela se encontrara com Nik Christakis pela primeira vez quando trabalhava como garçonete num pequeno bistrô, que ficava diante do edifício onde ele mantinha o seu escritório. Ela gostava do emprego e nunca esquecia o que sua avó costumava lhe


dizer: quando um trabalho é respeitável, vale a pena ser bem-feito. Ela não se deixava influenciar pelo fato de ter um emprego humilde que pagava mal, mas sabia que, se sua avó ainda estivesse viva, teria ficado decepcionada por ela não ter terminado a escola. A avó sempre lhe dissera que, com a ajuda de um especialista e sendo aplicada, ela conseguiria superar a dislexia, e que esta não deveria lhe servir de desculpa para não ter ambições mais elevadas na vida. Pensando nisso, Betsy escolhera um emprego que lhe desse a oportunidade de estudar à noite para poder se formar. Ah, naquela época, ela fizera grandes planos para o futuro. Mas nunca lhe ocorrera que um


homem pudesse se interpor entre ela e o seu discernimento. Como estava com 21 anos, os rapazes iam e vinham, mas não havia um em especial, ninguém capaz de conquistar o seu coração ou o seu corpo. A primeira vez que vira Nik, ele estava sentado em uma de suas mesas: um homem incrivelmente bonito, vestindo um casaco de caxemira, com luminosos olhos verdes emoldurados por longos cílios negros, que lhe provocara um arrepio ao pedir um café. Betsy não notara que Cristo estava com ele nem percebera a presença, junto à parede, de alguns seguranças. Como sempre, Nik ocupara o centro do palco. Ela sentira o coração bater tão forte que temera


desmaiar. Quando ele pedira mais um café, ela colocara mais um biscoito sobre a mesa, mas ele o recusara. – Eu não como açúcar... Jamais – dissera ele gentilmente, com um sotaque sensual que parecia prolongar as sílabas. – Quem dera eu fizesse o mesmo – respondera Betsy, guardando os biscoitos no bolso do avental para comê-los mais tarde. Estava sempre com fome porque o seu contrato de trabalho não incluía refeições gratuitas. – Mas eu preciso trazer um biscoito com cada café. É a regra da casa. – Um desperdício – declarara ele com um sorriso de desdém. – Mas parece que


você bem poderia aproveitar essas calorias. – Eu sou magra. Sempre fui – dissera ela evasivamente, percebendo que o homem que estava com ele franzia a testa. – Encantadoramente magra – declarara Nik, analisando suas proporções e fazendo com que ela corasse. – Muito, muito encantadora. E Betsy saíra correndo para buscar o segundo café, imaginando o que haveria de errado com ela. Ele não fora o primeiro cliente que tentara flertar com ela, mas sempre encarara isso como uma brincadeira, preferindo isso à atitude de certos clientes que ocasionalmente


tentavam tocá-la quando ela se aproximava demais. Não passara pela cabeça dela que um homem elegante, luxuosamente vestido, que deveria ser um alto executivo e, portanto, acima do seu alcance, pudesse estar sendo sincero ao dizer que a achava encantadora. Na vez seguinte em que ela o servira, ele lhe oferecera o biscoito. Ela corara e respondera depressa. – Não, obrigada. O patrão disse que não fica bem comermos os biscoitos. – É mesmo? – Nik erguera as sobrancelhas severamente. – Talvez eu devesse ter uma conversa com ele... – Não, por favor, não diga nada – pedira ela, recuando, constrangida. – Se a preocupa tanto, eu não falo. A


propósito, o meu nome é Nik. Naquela tarde, ele havia lhe mandado uma lata de biscoitos muito cara, acompanhada de um cartão onde estava escrito apenas “Nik”. Betsy ficara satisfeita, mas também constrangida, porque seu patrão, Mark, presenciara a entrega, perguntara se o presente viera de um cliente e lhe lançara um olhar de censura quando ela confirmara. Ao agradecer, Nik dera de ombros com indiferença, mas ele passara a aparecer todas as terças-feiras, sentando-se para conversar com Cristo num idioma estrangeiro e fazendo constantes ligações no celular. Ela ficava toda animada ao vê-lo. Quando fitava seus


olhos, sentia-se eletrizar. Betsy não deixara de notar que ele também olhava para ela e que deixava enormes gorjetas, que inchavam a quantia da caixinha dos funcionários. – Tome cuidado com esse sujeito – advertira Mark certa manhã. – Acabo de perceber quem ele é. Ele é Nik Christakis, proprietário do edifício de escritórios do outro lado da rua, NCI, Nik Christakis Industries. E, quer saber? O seu vasto portfólio de empresas inclui uma enorme cadeia de cafeterias: eu não gostaria de ser seu inimigo. – Ele é dono daquele edifício? – Betsy gaguejara. – Você nunca notou os guarda-costas? – Mark se exasperara com a sua falta de


percepção. – Ele deve ser um homem muito rico para precisar de seguranças. Você deveria estar se perguntando por que ele está se misturando conosco. Besty se sentira tola por não ter percebido que Nik era um peixe fora d’água naquele bistrô. Procurara o seu nome na internet e descobrira que ele era grego e que Cristo era seu meioirmão. Também descobrira que ele crescera num mundo bem diferente do seu. Envergonhada por ter alimentado fantasias adolescentes com Nik, ela adotara um comportamento mais distante quando ele estava por perto. – Nenhum sorriso para mim? – perguntara ele ao vê-la novamente,


segurando-a pelos dedos e deixando-a desconcertada. – Há algo errado? Ela arregalara os olhos azuis e corara. – Não, não há nada de errado. Só estamos muito ocupados, e eu estou distraída. – Jante comigo amanhã à noite – dissera Nik inesperadamente. Surpresa com o convite e duvidando que ele falasse sério, ela puxara a mão e se agarrara à bandeja. – Desculpe, mas não posso. Eu tenho aula. – Na noite seguinte, você estará livre – argumentara Nik. – Não temos nada em comum – protestara ela.


– Mas eu me interesso por você porque você é diferente – confessara ele, fazendo com que ela abaixasse os olhos e estremecesse por dentro. – Não daria certo – dissera ela com um fiapo de voz. – Se eu resolver que vai dar certo, vai dar. Quando? – Nik insistira implacavelmente. – Eu... Sexta-feira. – Ela cedera em meio ao silêncio sufocante, extremamente consciente do olhar perplexo do irmão de Nik. – Estarei livre na sexta-feira à noite. – Irei buscá-la às 20h30 – dissera Nik calmamente e pedira o seu endereço. Enquanto se afastara para atender


outro cliente, Betsy ouvira Cristo discutindo com o irmão e tivera certeza de que falavam sobre ela. Cristo parecia não acreditar que Nik tivesse acabado de convidar uma garçonete para sair com ele. Nik eliminara as objeções que ela tentara apresentar, e ela deveria ter percebido, naquele momento, que ele não desistia enquanto não obtinha o que queria. Ele era implacável, incontrolável e teimoso como uma mula.


Capítulo 2

SENTADO

CONFORTAVELMENTE na sua

limusine, Nik estava com uma bela loura. Jenna parecia ser o antídoto perfeito para um dia difícil. Era alegre, divertida e não queria nada sério. Convidara-o para ir ao seu apartamento e os dois sabiam o que iria acontecer. Naquele momento, ela pressionava o corpo contra o seu e colocava a mão em sua coxa. Ele controlou o impulso de afastar a mão dela porque se lembrou


que estava se divorciando. Era um homem livre. Estava na hora de agir de acordo com o seu novo status. Jenna quase subiu em seu colo para beijá-lo. Nik ergueu a cabeça, e ela acabou beijando o seu queixo. Ele sentiu o seu perfume e lhe pareceu estranho. Não que ela cheirasse mal, mas, de algum modo inexplicável, o perfume parecia estar... Errado. Ele a segurou pelo ombro e, acidentalmente, tocou seus cabelos: eram ásperos, e não sedosos, não lhe davam vontade de tocálos. Furioso, ele disse a si mesmo que não deveria fazer comparações. Talvez fosse por isso que não estivesse reagindo normalmente à investida de uma mulher atraente...


Thee mou... O seu corpo estava reagindo como uma pedra, Nik reconheceu com crescente frustração. Alguma coisa estava confundindo a sua cabeça e a sua libido, e ele não sabia o que era, mas também não estava preparado para discutir o problema com a sua terapeuta. Já fora forçado a revolver várias questões desagradáveis com a boa doutora, mas, apesar de ter muito respeito pelo seu bom senso e pela sua discrição, ainda havia coisas que se recusava a lhe revelar. Podia ter aliviado o peso do seu passado disfuncional e se sentido fortalecido, mas poder voltar a ser taciturno também era um alívio. Expor-se totalmente não


era fácil para um homem reservado e confessar certas coisas seria se lembrar desnecessariamente de que estar envolvido de qualquer maneira com Betsy ainda estava arruinando a sua vida, influenciando suas decisões, acentuando seus limites e sufocando suas energias, seu desejo sexual voraz e a extrema frieza que sempre o impulsionava para ir em frente. O celular de Nik tocou. Ele resmungou uma desculpa, mas já sabia que não iria para o apartamento de Jenna. Evidentemente, ela não o atraía o suficiente. E, quando pensou na possibilidade inadmissível de que, pela primeira vez, pudesse falhar na cama, foi o suficiente para eliminar a sua


necessidade de provar a si mesmo que esquecera seu casamento. Não: para conseguir esquecer, deveria adotar uma abordagem mais civilizada, Nik ponderou, esquecendo momentaneamente a sua acompanhante. Diminuir um pouco da animosidade que havia entre ele e Betsy seria uma boa estratégia. Isso não queria dizer que ele fosse lhe dar um caminhão de dinheiro, atender às suas exigências ridículas ou, pior, conversar com ela, como Cristo sugerira. Ele não queria falar com Betsy porque sabia que corria o risco de não conseguir se controlar, e qualquer benefício decorrente de ter quebrado o gelo entre os dois seria destruído por


uma nova torrente de hostilidade e de ressentimento mútuo. Não: conversar estava fora de questão. Diavelos, a conversa deveria ficar para os advogados.

NO DIAque se seguiu à reunião com os advogados, Betsy colocou os artigos à venda nas novas prateleiras e recuou para ver o efeito da nova disposição. Podia ter passado pelo inferno depois que seu casamento desmoronara, mas, quando se tratava de trabalho, a sua necessidade de se manter ocupada e mentalmente ativa havia garantido que aqueles meses tivessem sido extraordinariamente produtivos e


criativos em termos de negócios. A pequena loja de produtos agropecuários, que vendia vegetais frescos, frutas e ovos, e que Nik permitira que ela abrisse em um galpão desocupado atrás da casa de campo, triplicara de tamanho para dar lugar a uma padaria e à venda de refeições caseiras. E ela ainda acrescentara uma seção de presentes e cartões, onde vendia desde potpourris a artesanato local. Do outro lado do jardim, ouvia-se o barulho das obras que transformariam um antigo chalé em uma cafeteria. Do outro lado do balcão, sua gerente, Alice, conversava com uma freguesa que fazia a sua compra semanal.


Inicialmente, Betsy contratara Alice para ter certeza de que estaria livre quando Nik estivesse em casa, mas, ainda que agora ela tivesse mais tempo disponível, os negócios haviam se expandido e ela resolvera manter Alice, que se mostrara ótima para controlar a parte financeira enquanto ela se ocupava com os fornecedores e com a procura de novos produtos. Além disso, Alice nunca fazia perguntas constrangedoras. Divorciada de um marido que a traíra e mãe de três filhos, ela sabia muito bem o que era ter o coração partido e passar noites sem dormir. E nunca dizia nada quando, em algumas manhãs, chegava e encontrava as mercadorias em lugares diferentes, as


frutas brilhando e o piso tão limpo que parecia um espelho. Quando não conseguia dormir, Betsy se refugiava no trabalho. Mas havia algo mais por trás dos motivos práticos da sua dedicação e do seu esforço. O objetivo de Betsy era fazer com que Lavender Hall se tornasse autossuficiente, porque ela se apavorava com a perspectiva de ficar pendurada em Nik pelo resto da vida. Queria construir uma empresa que a sustentasse, cobrisse os salários dos funcionários e os gastos com a casa e o jardim. Exigir uma enorme fatia da fortuna de Nik não fora apenas um ato de revolta ou vingança, fora também um contra-ataque


à decisão irracional que ele tomara de vender Lavender Hall. A mansão constituía uma fonte privilegiada para os negócios de Betsy, proporcionando-lhe a chance de se sustentar, e ela tinha ideias ainda mais ambiciosas para o futuro. O telefone tocou e Alice atendeu. – É para você – disse ela a Betsy. A governanta da casa da fazenda, Edna, estava do outro lado da linha. – A senhora tem uma visita, sra. Christakis. Ainda posso tirar folga esta tarde? – perguntou Edna, ansiosa. Edna e seu marido, Stan, que cuidava do jardim, haviam ajudado a manter a casa depois que Nik partira, quando ela se vira obrigada a despedir alguns


empregados que Nik mantinha para satisfazer suas próprias exigências, como um chef, um motorista e um bando de arrumadeiras. – Claro que pode. – Betsy assegurou, percebendo que Edna não dissera o nome do visitante. Talvez fosse Cristo, ou sua esposa, Belle, ela pensou, esperando receber alguém que a animasse um pouco. Betsy gostava de Belle, uma irlandesa ruiva com longas pernas, muito alegre e divertida. Apesar de não se poder repetir o que ela costumava dizer a respeito de Nik, Belle se tornara sua amiga. Betsy admirava o fato de ela e Cristo terem assumido a


responsabilidade pelos cinco filhos que a mãe de Belle tivera durante o seu relacionamento com o pai de Cristo e Nik, Gaetano. Nik jamais teria sacrificado sua liberdade para fazer o mesmo, ela pensou entristecida, perguntando-se como fora tão cega a ponto de não perceber que o homem com quem desejava ter filhos não gostava de crianças. Betsy alisou a saia e desenrolou as mangas do suéter cor-de-rosa. Saiu da loja, atravessou o jardim e passou pelo portão do muro de quase 3m de altura, que cercava o jardim dos fundos da mansão e lhe servira de argumento quando Nik questionara o seu desejo de instalar uma loja em casa. Ela alegara


que o muro alto preservaria a privacidade dos dois, mantendo-os longe dos clientes e do movimento. Ele não se impressionara muito, mas acabara concordando porque sabia que ela precisava fazer alguma coisa enquanto ele estivesse viajando. E ali estava ela: não administrando um hobby, como Nik imaginara, mas o seu próprio negócio, ela pensou animada. Quem iria pensar que ela teria aquela capacidade? Com certeza, não seus pais, que nunca esperavam muito dela. Sua avó, professora aposentada, fora a única pessoa que providenciara para que ela tivesse a ajuda necessária para superar sua dislexia. Os pais de


Betsy nunca tinham tempo para ela e se envergonhavam das suas dificuldades para ler e escrever. Betsy se convencera de que nascera por acidente, porque, desde crian莽a, percebera que, apesar da ajuda que sua av贸 lhes dava, os seus pais se ressentiam com os deveres da paternidade. Os dois tinham morrido em um desastre de trem quando ela estava com 11 anos. Quando sua av贸 morrera, ela fora mandada para um lar adotivo e, por tudo que lhe acontecera, convencera-se de que nunca iria querer ter filhos. Betsy atravessou a enorme cozinha vazia, correu para o hall e parou abruptamente ao ver o homem alto, de ombros largos e cabelos negros, parado


de costas para ela, diante da porta ainda aberta. Nik já inspecionara o lugar com interesse e notara as mudanças que tinham ocorrido depois da sua partida, havia seis meses. A mobília estava empoeirada. Não havia flores sobre a mesa e nem labaredas acolhedoras na lareira. E, sobrepondo-se a tudo isso, ele ainda via a imagem de Betsy rodopiando naquele hall antes da reforma que tornara a casa habitável. – Não é maravilhosa? – exclamara ela animadamente, com o rosto iluminado, na primeira vez em que tinham visitado Lavender Hall. – Precisa ser demolida – dissera ele,


sem se deixar impressionar. – Ela ainda não está perdida – argumentara Betsy. – Você não consegue sentir a atmosfera? A personalidade desse lugar? Não consegue imaginar como ele ficaria com um pouco de trabalho? Um pouco de trabalho com uma bola de demolição, Nik pensara, desanimado ao ver tijolos arrebentados, pisos manchados por alagamentos causados por velhas janelas quebradas e goteiras no telhado. Betsy o fizera percorrer a casa, elogiando-a com entusiasmo e dizendo que a construção Elizabetana fazia parte de um tesouro histórico ameaçado de extinção. Desde o início, ele considerara a casa horrorosa e muito


distante do seu ideal de casa de campo confortável, mas Betsy caíra de amores por ela, e ele concordara em comprá-la, um ato de generosidade do qual se arrependera ao ver o custo elevado da restauração. Sim, ele fora um marido decente e zeloso, Nik refletiu com irritação. Tentara fazer sua mulher feliz, dera-lhe tudo que ela queria, com apenas uma exceção, e ainda não conseguia acreditar que o casamento tivesse sido destruído pelo desejo que ela possuía de ter um filho. Antes do casamento, ela descartara esta ideia de maneira bem convincente. Com o rosto contraído por seus


pensamentos sombrios, Nik se voltou exatamente no momento em que Betsy surgia na porta da cozinha. Ela parecia cansada. Com os cabelos louros caindo em volta do rosto delicado, mais que nunca, os seus olhos adquiriam um tom de violeta que acentuava o formato atraente de seus lábios cor-de-rosa. Na mesma hora, o desejo despertou dentro dele e explodiu com o calor de um foguete, tirando-lhe o fôlego. Inesperadamente, ele sentiu tudo que não sentira com Jenna no dia anterior. Cada músculo do seu corpo se contraiu e o seu sangue se concentrou na virilha, levando-o a querer socar alguma coisa para descarregar a frustração. – Betsy – resmungou ele.


Assim que vira o seu visitante, Betsy ficara paralisada. Por que Edna não a avisara? A voz sexy de Nik parecia tê-la envolvido da mesma maneira que o chocolate se espalhava em volta do sorvete, descendo lentamente por suas costas. A voz de Nik era a primeira arma do seu considerável arsenal de atrativos. Nunca esperara vê-lo ali de novo! Seu aparecimento súbito fora um choque. Betsy respirou profundamente e se preparou para receber alguma má notícia. – O que está fazendo aqui? – perguntou ela, sem pensar que deveria estar demonstrando sua apreensão. – Eu precisava ver você.


Betsy duvidava e simplesmente ficou olhando para ele. O terno escuro não tinha uma falha e se ajustava perfeitamente a cada músculo do seu corpo esbelto e forte, mas, por baixo da fachada sofisticada, Nik era uma força da natureza. Durante os meses que tinham passado separados, ele não a procurara nem uma vez. Por que agora? Ela tentava raciocinar, mas sua cabeça rateava ao vê-lo pessoalmente: a beleza de Nik a atraía como uma fogueira no meio do gelo, e ela não conseguia deixar de olhar para ele. Tinha um belo rosto e um corpo de deus grego. Seus olhos brilhavam como esmeraldas, despertando-lhe uma atração primitiva


tão profunda, que ela não sabia de onde vinha e se um dia estaria livre do seu poder. Sentia a pele formigar e os cabelos da nuca se eriçarem. O seu coração estava loucamente acelerado... Felizmente, uma voz soou do lado de fora e quebrou o silêncio. – Volte aqui! – gritou um homem. Betsy arregalou os olhos ao ouvir o ruído das patas e dos latidos. Correu até a porta e uma frenética bola de pelos pulou em cima dela e começou a lambêla. – Sinto muito, senhor. Ele fugiu pela janela do carro – disse o motorista de Nik, quase sem fôlego. Nik teve vontade de dizer que Gizmo nunca se mostrara tão vivo durante o


tempo que ficara com ele. Dispensou o motorista, fechou a porta com impaciência e se voltou para ver o quadro: Betsy, ajoelhada no chão rindo, e o terrier, pulando em volta dela, os dois demonstrando alegria por terem se reencontrado. Nik ficou comovido e percebeu que tomara a decisão mais acertada. – Você o trouxe para me fazer uma visita? – perguntou Betsy, confusa com o aparecimento do cachorro. – Não, ele veio para ficar – respondeu Nik secamente. – Ele não estava feliz longe de você. – Mas ele é seu – disse ela, hesitante, pegando Gizmo e tentando acalmá-lo.


– Ele foi meu até o dia em que a conheceu. – Nik comprimiu os lábios quando ela se inclinou sobre o cão e o suéter se colou aos seus seios, revelando que ela não usava nada por baixo. Ficou tão excitado que chegava a doer. O fato de um homem frio e implacável como Nik ter feito aquele gesto comovente de generosidade deixava Betsy admirada, e ela se perguntava o que o teria levado a tomar tal atitude. Nik podia ser encantador, mas também era extremamente complicado. Ela nunca tivera ideia do que se passava na cabeça dele e, mais uma vez, ele a pegara de surpresa.


Gizmo era um cão perdido, que perambulava pela rua e que fora atropelado pela limusine de Nik, poucos meses antes de ela conhecê-lo. Nik o levou ao veterinário, tentou encontrar seu dono e, depois, procurou uma família que quisesse adotá-lo. Como ninguém se interessava e ele não queria deixar o cão no depósito da prefeitura, onde mais tarde seria sacrificado, Nik o levou para casa, instalou-o no jardim da cobertura e cuidou para que ele fosse bem alimentado e bem cuidado por seus empregados. Enquanto Betsy se lembrava da vida de vira-lata de Gizmo, Nik desejava ter ficado quieto no seu escritório.


Presenciar Betsy demonstrando amor pelo cachorro confundia seus sentimentos. Queria olhar para ela, mas não queria estar com ela e ver o sol entrando pela janela e refletindo em seus cabelos louros, acentuando a sua pele de porcelana e iluminando seus lindos olhos azuis. Principalmente, não queria estar sentindo aquela intensa atração sexual invadir o seu corpo como se fosse um trem descontrolado. – Eu lhe agradeço do fundo do meu coração – disse ela com os olhos cheios de lágrimas. – Eu senti muita falta dele. De volta ao lar, Gizmo corria alegremente, reconhecendo os seus cantos preferidos. Nik fitou-a com um olhar ardente e


Betsy sentiu o coração acelerar: conhecia muito bem aquele olhar faminto que costumava atravessá-la como um raio e prendê-la no lugar. O brilho que via nos olhos dele lhe dizia que ele a desejava, provocando-lhe uma reação que a levou a pressionar uma perna contra a outra, como se pudesse bloquear a manifestação do seu próprio desejo, que umedecia o meio de suas coxas. Mas sentia seus seios se avolumarem sob o suéter, deixando-a consciente dos mamilos roçando na lã. – Vamos para a sala de estar – disse ela, começando a andar na frente dele, como se ele fosse realmente um convidado que não conhecesse a casa. –


Por que Edna não me disse que era você? – Eu pedi a ela que não dissesse. Queria que fosse uma surpresa. – E realmente foi – falou Betsy francamente, ainda tentando acreditar que ele realmente estava ali, com ela, na casa em que tinham morado juntos, apesar de se lembrar que Nik passara mais tempo em quartos de hotéis, pelo mundo, do que com ela. Porém, não conseguia esquecer o olhar que ele lhe dera. Por que a olhara daquele jeito? Não era possível que ainda a achasse atraente. Nos últimos meses do casamento, Nik não se mostrara um amante entusiasmado. Na época, ela pensava em sexo no sentido de


engravidar e achara que a sua atitude o desanimava. Agora que sabia da vasectomia, conseguia entender a sua falta de interesse. Não, não pense em sexo, ela disse a si mesma. – Gostaria de tomar um café? – perguntou ela, porque seria uma chance de fugir para a cozinha e se recompor. – Não, obrigado, mas aceito uma bebida – respondeu Nik, dirigindo-se ao armário de bebidas e se servindo. Irritada com o fato de que ele se comportasse com tamanha naturalidade numa situação em que outros homens estariam constrangidos, Betsy respirou profundamente e se acalmou. – Creio que você quer conversar


sobre... Nik se voltou para ela com a elegante agilidade que sempre atraía atenção e franziu a testa. – Não. Eu não quero conversar – falou bruscamente antes de beber de um só gole o uísque que colocara no copo. – Então... Por que...? – perguntou ela confusa. Os lindos olhos verdes a fitaram com um olhar penetrante. Ela ficou toda arrepiada e a sua respiração voltou a acelerar. – Eu vim para lhe devolver Gizmo. – Ah... – Betsy não sabia o que dizer. Há alguns meses, ela lhe teria dirigido acusações, exigido explicações, revolvido o passado que a consumia e


aborrecido os dois. Essa fase tinha acabado, ela admitiu entristecida, sabendo que qualquer referência a assuntos pessoais o faria sair depressa pela porta. Nik sempre evitara se envolver nos problemas mais pessoais, profundos e confusos em que as pessoas se envolviam. Assim que o casamento deles começara a dar errado, ela ficara sozinha. Nik analisou o rosto dela, tentando encontrar um defeito, querendo descobrir uma imperfeição que esfriasse o seu corpo e o levasse de volta ao normal. Por outro lado, ele estava aliviado e satisfeito por estar excitado, por constatar que não havia nada de


errado com o seu impulso sexual. Não conseguia pensar em nada que pudesse suprimir o desejo que o mantinha rígido: sem dúvida, não a certeza de que Betsy, com o seu 1,54m e a sua falta de experiência antes do casamento, era absolutamente incrível na cama. – Se thelo... Eu desejo você. – Nik se ouviu dizendo, mesmo antes das palavras saírem de sua boca. Era típico de Nik ser totalmente imprevisível, Betsy pensou, ficando muito vermelha e sentindo uma onda de calor. Os olhares dos dois se encontraram com tamanha intensidade que pareciam ter colidido fisicamente. Ela sentiu uma contração no ventre. Suas pernas ficaram tão moles que pareciam


não poder mais sustentá-la, mas ela se mantinha de pé porque estava presa ao olhar intenso de Nik. – E você me deseja – falou ele em tom rouco. Era o exemplo clássico de Nik lhe dizendo o que ela sentia antes que a própria soubesse. Betsy sabia que deveria argumentar e se defender, enumerando os vários motivos para que isso não fosse verdade, sem esquecer o fato de que ele tê-la enganado e dado facilmente as costas ao casamento a levara a odiá-lo com a mesma intensidade com que o amara. Mas, inexplicavelmente, no silêncio só interrompido pelas batidas


aceleradas do seu coração, ela não disse nada, não encontrou palavras porque estava mergulhada na confusão formada por pensamentos e reações ainda mal formulados em sua cabeça.


Capítulo 3

NIK

SEaproximou com a graciosa

agilidade de um predador. Não havia nenhum pensamento coerente em sua cabeça, nenhuma razão. Ele apenas reagia, levado pelo desejo que o mobilizava mais que uma droga, um desejo tão poderoso que fazia o seu corpo doer e latejar. Ele fez Betsy passar os braços pelo seu pescoço e abraçou-a, colando suas curvas ao corpo e dando um suspiro de


alívio. Imprensou-a contra a parede e levantou-a, para poder beijá-la, pressionando a boca sobre seus lábios para abri-los e mergulhando a língua avidamente em sua boca, devorando-a com uma paixão que a fez perder o fôlego. Ele tinha gosto de uísque e especiarias, e Betsy o saboreou como se fosse uma viciada, embebedando-se e ficando tonta. Nik a beijava como se a vida dos dois dependesse disso e o seu frenesi a excitava ainda mais. Betsy gemeu junto aos lábios dele e tentou resistir ao ouvir a voz da razão lhe dizer que ela não queria fazer o que estava fazendo, mas, infelizmente, num momento em que apenas a paixão comandava e a razão não tinha lugar, ela


queria muito fazer aquilo. Além disso, ela não estava sendo passiva. Sua língua se agitava e se enrolava com a dele, suas mãos o agarravam pelos braços fortes, ela se regozijava com a sua força e se sentia frustrada pela barreira formada pelas roupas. Nik enfiou a mão por baixo de sua saia, descobriu que o amor de Betsy por roupas de baixo delicadas ainda existia e, com um só movimento, arrancou-lhe a calcinha de renda. – Você me quer. – Nik se justificou em tom rouco, falando com a boca ainda colada à dela. Ah, como ela quisera, noite após noite, dia após dia, como ansiara pelo


que perdera, como sentira falta da paixão, da proximidade e da intimidade que fizera parte da sua vida, enquanto se perguntava se um dia voltaria a confiar em alguém o suficiente para deixar que ele a tocasse. Todas os poros da sua pele estavam conscientes da proximidade da mão de Nik do ponto mais carente e quente do seu corpo. Betsy não conseguia falar, não conseguia pensar em nada além da necessidade de ser tocada por ele. Pressionando-a contra a parede, Nik tirou-lhe o suéter para poder aproximar a boca ávida do seu mamilo e apalpar a curva do seu seio. Ela gemeu, fechou os olhos e deixou que a sensação descesse pelo seu corpo. A pulsação do desejo


crescia enquanto ele lhe mordiscava e lambia o mamilo. Betsy agarrou-o pelos ombros e envolveu sua cintura com as pernas. Por fim, podia sentir a sua poderosa ereção entre as coxas, através da roupa, enquanto ele pressionava o quadril contra o seu, provocando-lhe um grito de impaciência. Ela arqueou o quadril, estremeceu e gemeu. Os dois agiam como adolescentes, ela pensou subitamente, com um clarão de lucidez. Esta não sou eu. Eu não sou assim. Era a sua última chance de pedir que ele parasse, e ela chegou a abrir a boca para falar, mas, naquele momento, Nik a tocou com o dedo e mergulhou-o dentro do seu corpo. Betsy sentiu uma


explosão de calor invadi-la e se agarrou a ele, ansiosa pela sua carícia, por qualquer coisa que aliviasse o clamor do desejo que crescia tanto dentro dela que ela quase não conseguia se conter. Enquanto a segurava, Nik abriu o fecho das calças. Betsy soltou um gemido ao sentir que ele se afastara. Estava tão excitada que o puxava pelos ombros, apressando-o. Ele ergueu-a e desceu-a, mergulhando no seu corpo lentamente. A sensação era de dor misturada com prazer. Betsy quase chorou ao se sentir possuída, porque, pela primeira vez depois de tantos meses, se sentia viva novamente. – Nik...? – sussurrou ela. – Não diga nada, hara mou – disse


ele, empurrando-a contra a parede enquanto começava se movimentar dentro dela. – Thee mou, o que você faz comigo! Não me diga para parar! Naquele momento, Betsy não seria capaz de tal proeza. Já atingira o auge da temperatura. A agonia e o desespero do desejo a dominavam. Nik segurou-a pelas coxas, com os olhos verdes brilhando. Movimentava-se num vai e vem, mantendo um ritmo perfeito. A excitação de Betsy subia a cada movimento de investida, levando-a cada vez mais alto, até que ela foi sacudida por um espasmo, soluçou e gemeu. – Isso foi incrível... – disse Nik ofegante, colocando Betsy no chão. Ela


parecia estar fraca, tonta, sem equilíbrio, e ele também tremia. Diavelos, o que ele fizera? Apesar daquele lampejo racional, Nik tirou o paletó e a gravata, sem soltá-la. Segurou-a pelo pulso e levou-a até o tapete diante da lareira, onde o fogo agonizava. Os dois se ajoelharam, e ele pegou no seu rosto e beijou-a, enfiando a língua entre seus lábios e tocando o seu palato, até que ela começasse a tremer e lhe apertasse os braços. Betsy não conseguia pensar, respirar, não acreditava que um simples beijo despertasse novamente o seu corpo, inundando-a com uma onda de fogo líquido. O prazer que acabara de sentir fora superado por novas sensações que


lhe incendiavam a pele. Ele a fez deitar sobre o tapete e imobilizou-a com o peso do seu corpo musculoso. – Eu ainda não acabei, hara mou – confessou ele com os olhos de esmeralda cintilando sob as pestanas negras e com o rosto corado. Quase que sem se dar conta, Betsy ergueu a mão e passou os dedos na boca habitualmente contraída de Nik, que agora estava relaxada. Pensou que ele trouxera Gizmo de volta para casa e se sentiu estranhamente em paz e comovida com o que acontecera. Nunca conseguira saber o que Nik iria fazer e achava que nunca seria capaz, porque ele fazia suas próprias regras.


Ele se movimentou com a leveza de um felino, e ela sentiu sua ereção contra a pélvis. – Não me diga para parar agora – resmungou Nik. – Tire a camisa – sussurrou ela, sentindo-se relaxada dentro de seus braços, admirando-se por como parecia natural estar com ele, apesar de saber que, mais tarde, não conseguiria justificar o que tinha feito. Nik se afastou e se despiu rapidamente. Alguns botões da camisa voaram, e um peito moreno e forte, de dar água na boca, apareceu no espaço entreaberto da camisa. Betsy sentiu a boca ficar seca e se arrepiou de desejo.


Arqueou o corpo e se encostou a ele, rejubilando-se pelo contato direto com sua pele, que achara que nunca mais iria sentir. Nik soltou um gemido gutural e beijou-a de novo, levantando-lhe a saia com impaciência e se colocando entre suas coxas. – Desta vez... devagar – prometeu ele. – Eu sou a lebre ou a tartaruga? – provocou ela. – Você tem algo que sempre me faz ser a lebre. – Estamos juntos novamente? – perguntou Betsy sonhadora. – Apenas agora – esclareceu Nik com precisão, beijando-a para calá-la e impedir que ela fizesse mais perguntas, além de saboreá-la.


Ele mergulhou dentro do corpo dela novamente, devagar, como prometera. Betsy ainda sentia o seu gosto na boca e estava sensível a cada movimento que ele fazia. Ela soltou um longo suspiro. – Demais? – perguntou ele, olhando para ela. – Não o suficiente – desafiou-o. – Eu não sou feita de vidro... Não vou quebrar! Ela sentiu o coração e o corpo entrarem em harmonia quando ele remexeu os quadris e adicionou mais energia à sua posse, causando-lhe sensações que se espalhavam pelo seu corpo em ondas lentas e deliciosas. Fechou os olhos para controlar seus


sentimentos e se entregou à excitação que parecia incendiá-la como uma estrela cadente, fazendo com que todos os seus sentidos ansiassem para ser saciados. Nik aumentou o ritmo, intensificando o prazer. Ela gemeu e, contra a vontade, acabou soltando um grito de satisfação enquanto todo o seu corpo estremecia violentamente. Ele também soltava um gemido rouco de prazer. Nik se afastou, deu um jeito nas roupas, abaixou-se e ergueu-a nos braços. – O que está fazendo? – perguntou ela em voz fraca, abrindo os olhos. – Levando-a para o lugar aonde deveríamos ter ido antes: para a cama –


informou ele, dirigindo-se para a escada. – O que fizemos foi mais excitante – balbuciou Betsy, imaginando há quanto tempo não faziam algo tão espontâneo e desinibido. Pela primeira vez, ela reconheceu o quanto a sua ânsia para engravidar custara para os dois em termos de intimidade. Nada fora o mesmo desde que aquele processo começara. Nik levou-a para o quarto que anteriormente partilhavam, parou ao lado da cama e observou o estranho ambiente. A decoração mudara e a mobília era nova. A realidade o atingiu, empurrando-o na direção de


pensamentos que ele não queria ter naquele momento. Ele a colocou sobre a cama baixa e larga e despiu-a com fria eficiência, tirando-lhe o suéter, abrindo sua saia e tirando-lhe os sapatos, antes de cobri-la com o edredom. – Preciso tomar um banho. O banheiro ainda tem chuveiro ou você se livrou dele também? Betsy teve vontade de rir. – Claro que ainda tem chuveiro. Ela ficou olhando enquanto ele se despia. Não pensara ter esta visão novamente, e ela lhe parecia irreal. Nik foi para o banheiro, e ela percebeu que ele não estava à vontade com a nova decoração. Ele não gostava de mudanças. A nova gama de cores e a


nova mobília tinham-no deixado desconfortável. O que ele esperava? Que ela continuasse a dormir na cama que tinham dividido, que deixasse que a casa lhe despertasse lembranças dolorosas do que tinham tido juntos e perdido? Não: Belle a ajudara a mudar tudo e a tentar recomeçar. Nik saiu do banheiro ainda enxugando os cabelos. Ela ficou admirada ao ver que ele ainda estava excitado. Ele achara que Betsy já estaria dormindo, mas ela estava acordada, com os olhos azuis arregalados, enfiada debaixo do edredom e com os cabelos espalhados sobre o travesseiro. Se ela estivesse dormindo, ele simplesmente se vestiria e


iria embora? Para dizer a verdade, ele não sabia. O que sabia é que, olhando para ela, ele não estava preparado para deixá-la. Sem hesitação, Nik ergueu a coberta e deitou ao lado dela. – Estamos em pleno dia – disse ela, corando. – Você só está se lembrando disso agora? – perguntou Nik com ironia. Ela teria retrucado se ele não tivesse passado o braço em torno dela e a puxado contra o peito. – Que diferença faz a hora? – Não faz – admitiu ela e mudou o tom de voz. – Nik? – Shh... – disse ele, com medo do que ela poderia dizer, puxando-a contra a sua ereção e sentindo uma intensa


satisfação. – Você ainda está...– Betsy começou a dizer. – Estou – concordou ele, puxando-a para cima dele com cuidado. – Você acha que pode fazer alguma coisa a respeito disso? – Você não está brincando, está? – Ela sabia que não, porque sentia a sua firme ereção contra o corpo. – Você faz com que eu me torne insaciável, hara mou. Betsy segurou-o pelos ombros. Nik tinha grandes reservas de charme que escolhia quando utilizar, mas fazia muito tempo que não lhe mostrava aquele seu lado. Como resultado, o sorriso


carismático que iluminou o seu rosto deixou-a totalmente enfeitiçada e indefesa. Ele ergueu a cabeça e beijou-a com uma intensidade que desencadeou uma reação que se espalhou pelo sangue de Betsy. Ele tinha um gosto tão bom e acariciava suas costas, encontrando pontos erógenos que ela desconhecia ter. Ainda que quisesse ignorar o calor e a força dos músculos de Nik, ela estremecia, atônita com o que estava acontecendo, mas, ao mesmo tempo, estava lisonjeada por ele desejá-la tão intensamente. – Mais uma vez, e você poderá dormir – disse Nik, deitando-a sob os travesseiros e se inclinando sobre ela com a sua devastadora atração


masculina acentuada pela barba que despontava em seu queixo. – Uma folga por bom comportamento? – Betsy brincou. Ele beijou-a avidamente e pegou seu mamilo, massageando-o suavemente. Ela sentiu uma labareda percorrê-la e atingir o centro do seu corpo, despertando novamente o latejar do desejo que achava estar saciado. – Você sempre consegue me fazer desejá-lo – admitiu Betsy, desesperada. – Houve um tempo em que você só me queria nos dias marcados na tabela – lembrou-a Nik com um traço de rancor na voz. Algo dentro dela se encolheu e


morreu. Betsy daria tudo para que ele não tivesse lhe despertado aquela lembrança que provocara um buraco no casulo que ela idealizara para os dois. Ela comprimiu o corpo contra o dele, pressionando os seios no seu peito largo, e mordiscou-lhe o lábio. – Eu não tenho mais uma tabela... – Siopi... Cale-se – disse ele, beijando-a até fazê-la esquecer sobre o que falavam. Além disso, não importava mais. Nik tinha um sabor gostoso e um cheiro que era só dele e fazia com que suas narinas se dilatassem, despertando sensações familiares que a atormentavam e faziam se sentir segura. Dedos hábeis lhe acariciavam os seios e


desciam até o meio de suas coxas, provocando-a, até fazê-la gemer, se contorcer e soluçar de frustração, querendo mais. Só quando a ânsia que ele lhe provocava atingiu uma intensidade insuportável, ele se colocou sobre ela e entrou no seu corpo com uma agilidade que a fez gritar e arquear as costas. Assim que ela reagiu apaixonadamente, ele mudou o ritmo e a profundidade de suas investidas. Betsy percebeu que perdia o controle e que a sua excitação crescia cada vez mais, até que ela teve um orgasmo, gritou o nome dele e, quase instantaneamente, caiu em sono profundo porque estava exausta.


Do lado de fora da janela, estava escuro, quando um ruído a despertou. Betsy levantou a cabeça do travesseiro, lembrou-se de tudo e foi como se tivesse levado um banho de água fria. Ela sentou abruptamente. Nik estava colocando a gravata diante do espelho. Ela ficou vermelha dos pés à cabeça e se agarrou ao lençol, com medo de raciocinar, de se julgar. – Você está indo embora? – sussurrou ela, acendendo o abajur ao lado da cama. Nik se voltou com os olhos brilhando e o rosto marcado pela hesitação. – Eu deveria ter ido há horas... – Você pretendia sair sem falar


comigo? – gaguejou Betsy, porque sua garganta parecia estar se fechando. Ela puxou o lençol para cima com tanto nervosismo que suas mãos até doeram. – Teria sido mais fácil para nós dois – respondeu Nik, aproximando-se do pé da cama para poder observá-la de cima. – Como assim? – Ouvi dizer que isso... – Ele fez um gesto indicando a cama e os dois. – Isso acontece muito entre casais que estão se divorciando. Betsy sentiu como se tivesse levado um soco no estômago e perdeu a cor. – É mesmo? – disse ela sem entonação. – É – falou Nik secamente. – Acontece, mas não significa nada e não


muda nada. Pela primeira vez na vida, Betsy desejava ver alguém morto e, mesmo assim, jamais perdoaria Nik, ela pensou descontroladamente, mergulhada no abismo da vergonha, da tristeza e, pior, na firme convicção de que causara sua própria humilhação. – Evidentemente, ainda vamos nos divorciar – Nik garantiu, enfatizando o fato sem necessidade, como se receasse que ela fosse tola demais para entender a mensagem. – Claro – concordou ela, sabendo que, mesmo vê-lo caindo morto aos seus pés, não iria satisfazê-la. O seu ódio se tornara tão forte quanto a paixão que a


dominara. Apesar de tudo que ele fizera com ela, sentira sua falta, sentira falta do sexo e agora pagava o preço pela sua falta de julgamento. – Nós dois precisamos seguir em frente – resmungou Nik asperamente. – Até agora, eu nunca tinha percebido o seu gosto por clichês – respondeu Betsy com raiva. – Você foi condescendente, me insultou e me usou. Agora eu sei o que é se sentir uma garota de programa. Nik trincou os dentes. Dissera o que precisava dizer. Era extremamente inteligente e sabia o que aconteceria, ainda que ter dito tivesse sido cruel. Os dois haviam cometido um erro, e ele precisava esclarecê-lo. Não fora feito


para se ligar intimamente a outro ser humano. Depois da infância abusiva que ele sofrera, como poderia? Algo faltava nele, não nela, e ele jamais poderia lhe dar o que ela queria e merecia. – Eu também vou deixar que você fique com a casa – declarou ele. – É bom saber que eu ganhei alguma coisa por me prostituir – respondeu Betsy, abalada, com os olhos cheios de lágrimas que ardiam como ácido. – Por favor, vá embora! E foi isso que Nik fez, sem nenhum alarde, fechando a porta ao sair, mas não antes que Gizmo entrasse e corresse na direção da dona que recuperara. – Ah, Gizmo... – disse ela num tom


abafado por um soluço. Nik acabara de deixá-la novamente. O motorista deveria ter ficado à sua espera durante todo aquele tempo. Isso não o preocupava, e ele não iria se desculpar pela falta de consideração. Filho único de uma herdeira grega muito rica, Nik se acostumara a ter empregados que nunca faziam perguntas ou reclamavam e lhes pagava regiamente para ser bem servido. Uma esposa com comportamento semelhante teria lhe agradado muito mais que ela. Betsy quisera muito dele e batalhara para abrir seu próprio caminho, exigindo ter independência de ação e de pensamentos e, com isso, deixando-o irritado. Mas, lembrando-se do primeiro encontro


catastrófico que tinham tido, ela jamais poderia dizer que não fora avisada de que o mar não seria calmo com Nik Christakis no leme... E porque o passado distante era menos ameaçador que o turbilhão do presente, ela se deixou levar de volta àquela noite, e um sorriso se formou em seus lábios. Nik a levara a uma festa badalada, em que o seu pretinho básico e a ausência de joias e de sapatos e bolsa de marcas famosas tinham-na deixado muito aquém das expectativas. Dez minutos depois de terem chegado, Nik dera uma desculpa e deixara-a sozinha no meio de uma multidão de estranhos, e ela fora abordada por


homens que não conhecia e crucificada por mulheres muito mais bem vestidas. Depois de uma hora e meia sem conseguir encontrá-lo, ela resolvera ir embora e tivera que pegar um ônibus e depois o trem para voltar para casa. Bem depois da meia-noite, ele aparecera furioso na sua porta, perguntando por que ela viera embora, e tinham tido sua primeira briga: uma discussão acalorada em que ele insistia que a deixara sozinha durante apenas quinze minutos. – Você desapareceu por mais de uma hora... Você me tratou como lixo. Eu já deveria saber como você iria me tratar porque, depois de vir me buscar, você passou o trajeto até a festa falando com


alguém no seu celular! Betsy sabia que ele deveria ter perdido a noção de tempo. Talvez a tivesse esquecido por alguém ter lhe feito uma proposta interessante: para Nik, os negócios sempre vinham em primeiro. Na semana seguinte, ele lhe mandara flores e fora tomar café no bistrô todos os dias. – Você está agindo como um perseguidor – avisara ela. – Dê-me mais uma chance. Vou tratála como uma rainha – prometera Nik. – O sr. Christakis geralmente não se dá a tanto trabalho com as mulheres – dissera um dos guarda-costas a ela. – Você deve ser especial.


Quando ela voltara com o café de Nik e ele a fitara com aqueles olhos verdes brilhantes, ela reconhecera que ele fazia com que ela se sentisse especial, concluíra que todos cometem erros e resolvera lhe dar uma chance para provar que podia agir diferente. E, durante muito tempo, ela não se arrependera desta decisão, porque Nik se comportara muito bem. Betsy ainda se recordava do dia em que ele lhe perguntara se ela queria ter filhos. Não se lembrava de como o assunto surgira, mas desconfiara que ele encaminhara a conversa para aquela direção. – Eu não quero filhos! – dissera ela categoricamente. – Passei a


adolescência em lares adotivos e levei muito tempo ajudando a cuidar dos menores. Crianças dão muito trabalho e representam uma grande responsabilidade. Acho que nunca vou querer ter uma delas. Mas Betsy descobrira, da maneira mais difícil, que a mãe natureza tem estranhos caminhos para convencer uma mulher de que o que ela mais deseja é ter um filho. Assim que tinham se casado, ela era Cinderela, e ele, o Príncipe Encantado. Nik lhe dera tanto em termos materiais que ela não tinha como se queixar por ele estar sempre ausente e ocupado com seus negócios. Ele esquecera seu aniversário, o primeiro aniversário de casamento e,


gradualmente, ela ficara só e começara a ansiar por algo que nunca imaginara: um filho a quem amar e que lhe fizesse companhia. Levada por esse desejo, Betsy fizera suposições otimistas, acreditando que, se eles tivessem um filho, Nik ficaria mais tempo em casa; que um filho os aproximaria mais e que quebraria a reserva dele, que ela descobrira não ser capaz de superar. Betsy reconheceu, desconsolada, que cometera diversos erros com Nik. Enxugou as lágrimas com o lençol e acalmou Gizmo, que começara a ganir. Ela raciocinou que Nik também cometera vários erros em relação a ela,


mas que ir para a cama com ele novamente fora o coroamento da sua própria estupidez. Numa silenciosa evidência da sua fraqueza, ela corou e sentiu o corpo se aquecer. Nik se mostrou tão frio e tão seguro de que o que acontecera não tivera significado... Por quê? Porque não significou nada para ele, e ele ficara apavorado com a ideia de que ela pensasse o contrário. Mais uma vez, ele lhe ensinou uma lição. Uma mulher digna de ser tratada como uma rainha precisa manter certos padrões para exercer o seu poder sobre um homem. Quando abandonava estes padrões, era muito mais provável que ela passasse a ser tratada como uma garota de programa.



Capítulo 4

– BETSY? – EXCLAMOU ansiosamente a esposa de Cristo, Belle. – Por que não tem atendido o telefone? Onde você estava? O que estava fazendo? Não era um bom momento para a amiga lhe telefonar, porque Betsy não conseguia se concentrar. Ela afundou na poltrona e contemplou o resultado da sua última ida à farmácia: nada menos que cinco marcas de teste de gravidez com os quais ironicamente estava


familiarizada, e todos indicavam o mesmo. Quando ela e Nik ainda eram casados, a qualquer atraso da sua menstruação, ela corria para comprar um deles, rezando para que desse positivo, mas sempre se decepcionara. Desta vez, tinha sido diferente, e ela não sabia como iria voltar ao consultório do médico sem se sentir envergonhada. Sentira-se mal durante semanas, antes de marcar uma consulta. Um simples exame revelara o fato inexplicável de que ela estava grávida, e a sua reação tinha sido histérica: dissera ao médico e à enfermeira que eles estavam enganados, que eles haviam trocado os resultados com os de outra paciente, que era impossível estar


grávida. – Betsy? – exclamou Belle. – Você ainda está aí? – Sim, desculpe. É que ando meio preocupada. – Com o divórcio, não é? – perguntou Belle. – Você tem estado triste. Foi por isso que se isolou. O que aquele homem execrável fez com você dessa vez? Betsy apertou os lábios ao pensar que ele parecia ter conseguido fazer o impossível. Apesar de Nik ter feito uma vasectomia e ser estéril, e de ela ter passado meses tentando engravidar inutilmente, acontecera um milagre ou uma catástrofe – dependendo do ponto de vista – e ela esperava um filho dele.


Como isso fora possível? Ela respirou profundamente, bem devagar, porque, apesar de estar sentada, sentia-se tonta e enjoada. – Não é algo que eu possa lhe dizer agora – disse Betsy, percebendo a seriedade da afirmativa. – Alguma coisa aconteceu quando Nik foi lhe devolver Gizmo, não foi? – perguntou Belle, preocupada. – Desde aquele dia, você não é mais a mesma... – Sim, algo aconteceu – confirmou Betsy com relutância. – Mas não é algo sobre o qual eu queira falar agora... A gravidez que tanto desejara se transformara em realidade, mas ela não tinha mais a segurança do casamento e um pai para o filho que iria nascer.


Saber disso acrescentava uma nova perspectiva à situação. – Quando ele lhe devolveu o cachorro, eu sabia que era bom demais para ser verdade! – exclamou Belle, indignada. – E, depois, a casa, por favor! Nik Christakis, dando uma de Papai Noel! Tem algo de errado nesse quadro... – Prometo que telefono para você depois de resolver algumas coisas – interrompeu Betsy abruptamente. – Desculpe, mas eu não consigo falar sobre isso agora. Betsy desligou e ficou olhando para o espaço, para não ver os testes de gravidez. Não havia como evitar o


próximo passo: precisava que Nik lhe explicasse como ela engravidara de um homem que fizera uma vasectomia. Não poderia manter sua gravidez em segredo. Gostando ou não, Nik precisava saber que seria pai, mesmo que, para ela, talvez isso significasse passar pela humilhação de ter que submeter seu filho a um teste de DNA. Betsy tinha a dolorosa certeza de que Nik não iria querer a criança e de que, provavelmente, preferiria acreditar que ela engravidara de outro homem. Isso o deixaria isento da responsabilidade e da ameaça de continuar a ter uma ligação com a esposa, de quem estava ansioso para se divorciar. Durante os últimos dois meses, Betsy


estivera deprimida. Aceitar a paixão explosiva que a levara a restabelecer a intimidade sexual com um marido hostil fora um tremendo desafio. A ferida emocional que Nik lhe infligira era quase tão dolorosa quanto a sensação de que ela mesma se traíra. Mas ela não era uma vítima, não era fraca, não era uma daquelas mulheres que perdoavam um homem, por pior que ele a tratasse. Não perdoara Nik e estava envergonhada por ter dormido com ele novamente. O que fazia com que ela se sentisse pior era o fato de ele mal poder esperar para traçar uma linha e assinar o divórcio. Nik lhe devolvera Gizmo e, duas semanas antes, oferecera-lhe um


acordo financeiramente vantajoso, através de seus advogados. Estava tudo acertado. Ele queria acabar com o casamento rapidamente. Ela sabia como ele funcionava. Nik era teimoso, impaciente e implacável como a lâmina de uma faca. Não perdia tempo com o que não queria, queria tudo para ontem e, definitivamente, queria o divórcio. Como ela iria se aproximar de um homem determinado a cortar os laços que tinha com ela e esquecê-la, e lhe dizer algo que ele não queria ouvir? Betsy endireitou os ombros, subitamente se sentindo combativa. Pior para ele! Ele não a engravidara? Nik não a avisara nem a protegera deste risco e era tão culpado das consequências


quanto ela. Podia não querer a criança, mas a emoção que ela sentia por saber que estava carregando o primeiro filho já começava a amenizar o choque desta descoberta. A verdade era clara. Um homem que tivesse feito uma vasectomia tão jovem não pretendia ter filhos. Felizmente, ela não se importava mais com o que Nik queria, e se deixar intimidar por uma situação pela qual os dois eram responsáveis seria estúpido e covarde. E Betsy não era uma coisa nem outra.

– O MOMENTOnão é oportuno. Diga que eu entrarei em contato com ela. – Nik


engoliu a raiva por ser forçado a mentir, desligou e tentou se concentrar novamente na reunião de negócios. Betsy aparecera sem ser convidada e esperava vê-lo. O que viera fazer ali? Ela sabia que ele odiava ser perturbado durante o expediente. Nik trincou os dentes perfeitamente brancos, furioso pela falta de consideração que ela demonstrava. Se quisesse lhe dizer alguma coisa, deveria ter recorrido ao advogado, como ele fazia. Ele não queria encontrá-la pessoalmente: queria um divórcio rápido, descomplicado e civilizado. Ainda assim, uma imagem deliciosa insistia em lhe voltar à cabeça: o corpo perfeito de Betsy espalhado sobre a


cama, em Lavender Hall. Furioso com a lembrança intrusiva, ele se controlou e apertou os lábios sensuais. Dormir com Betsy novamente fora como erguer uma pedra, porque, depois, tudo com que ele preferia não lidar parecia ter sido desenterrado. Mas, com o tempo, as lembranças se apagariam e iriam desaparecer, ele resolveu com firmeza. Nik não acreditara quando a terapeuta lhe dissera que ele estava confuso em relação ao casamento. Quanto a isso, a gentil senhora só dizia bobagens! Nik acreditava em manter as coisas simples e compreendia por que fizera o que fizera. Saíra dos trilhos e, por algumas horas, voltara a um passado que seria


melhor esquecer. Isso era tudo. Logo, o casamento estaria devidamente enterrado, assim como os pesadelos e as lembranças terríveis que o haviam perseguido durante anos. Com um sorriso educado, Betsy ouviu o recado que Nik lhe mandara através do seu assistente, Steve, que, por sua conta, acrescentou um pedido de desculpa. Ela sabia que, ao contrário do patrão, Steve era um bom rapaz. No passado, nas raras vezes em que fora ao escritório, Betsy fora recebida com extrema gentileza porque era vista como alguém importante no mundo de Nik. Mas, agora, estava claro que ela perdera o passaporte que lhe dava direito a um tratamento especial e que era vista como


sendo tão relevante para Nik quanto o jornal do dia anterior. – Obrigada, Steve – disse ela, agarrando-se à bolsa de couro, consciente de que o seu jeans e o seu casaco preto simples tinham atraído olhares de surpresa. Provavelmente, era a primeira vez que Betsy se sentia feliz por ser ela mesma no ambiente sofisticado que cercava Nik, e não a sua versão artificial e sofisticada, que ela acreditara ser muito mais atraente para ele. Portanto, não se vestira para ele e não estava usando saltos altos, roupas caras e muita maquiagem. Nik a enganara, magoara e humilhara. Ela não estava à procura da sua aprovação ou


admiração. Quando o assistente se afastou, Betsy tomou a direção oposta, que levava ao escritório de Nik. Ele já a fizera perder toda a manhã, e ela não estava disposta a perder mais tempo! Por que perderia? Ela não iria mais se submeter a regras sem sentido, que faziam com que ela se sentisse mais como um aborrecimento que como uma esposa que tivesse direitos e necessidades próprias. Ela abriu a porta do escritório e passou os olhos azuis escuros por cerca de uma dezena de homens sentados em volta da mesa de reuniões, antes de pousá-los sobre o rosto de Nik. – Preciso falar com você... Agora – falou ela sem hesitação.


Uma onda de calor subiu ao rosto de Nik, acentuando seus olhos verdes como esmeraldas, que brilhava de raiva. Ele levantou imediatamente, com a flexibilidade de um predador, e dispensou Steve, que viera correndo atrás dela. – Senhores, precisaremos fazer um intervalo. Vamos nos reunir novamente dentro de uma hora – declarou Nik simplesmente aos seus interlocutores. Os outros homens saíram e fecharam a porta. Betsy não desviara os olhos de Nik. O terno não escondia a perfeição do seu corpo atlético e atraente. Ela se lembrou dos pesadelos que ele costumava ter e que o levavam, mesmo


no meio da noite, a ir para a academia que montara no porão e a se exercitar, antes de voltar a cair na cama, exausto e ainda molhado pelo banho que tomara. Parada como uma estátua, ela ouvia a própria respiração abrindo caminho através da garganta, que quase se fechara, e sentia o coração bater tão forte que tinha vontade de colocar a mão no peito para tentar acalmá-lo. Mas isso seria como pedir desculpas, seria demonstrar como estava perturbada, e esse era um erro que ela não pretendia cometer na presença de Nik. – O que você está pretendendo? – perguntou Nik em tom ameaçador, franzindo as sobrancelhas ao perceber a sua estranha aparência. Por algum


motivo, ela se vestira como uma estudante e parecia extremamente jovem, com aqueles enormes olhos azuis arregalados e o rosto em formato de coração. Betsy tinha cinco anos a menos que ele, mas às vezes parecia que a distância entre os dois era um abismo insuperável, porque ela possuía uma inocência e um grau de confiança nos outros que ele perdera em tenra idade. Mas, para ser sincero, Nik pensou, a diferença de visão que eles tinham do mundo tinha sido um dos motivos principais pelos quais ele se sentira atraído por ela. Ele sempre soubera que ela precisaria dele para protegê-la, assim como soubera que o amor a


levaria a ser leal e confiante, e que ela sempre estaria presente para apoiá-lo. Mesmo que ela estivesse vestida sem cuidado, como estava naquele momento, a beleza de Betsy o impressionava. Nik ficou perturbado porque todos os argumentos com que tentara se convencer de que ela era imperfeita pareciam ter acentuado o fato de que ela conseguia, de alguma maneira, fazer com que a imperfeição fosse a definição da beleza. Sentiu o desejo despertar, aumentando a sua temperatura e agitando sua libido. O seu olhar se demorou sobre a curva voluptuosa da boca de Betsy, sobre a pele macia do seu pescoço, que aparecia sob a gola do suéter, e ele se recordou do sabor de


seus lábios sobre os dele. – Chegou a hora da vingança... Daquele momento mágico em que todos os seus pecados se voltam contra você – declarou Betsy impiedosamente, totalmente determinada a não se mostrar submissa ou compreensiva com o erro que ele cometera. – Você precisa me explicar uma coisa. Você fez uma vasectomia, então, como conseguiu me engravidar? Desconcertado com a provocação intempestiva, Nik ficou paralisado diante dela, ergueu as sobrancelhas e suas narinas se dilataram. Betsy precisou se esforçar para não notar sua beleza, mas as lembranças que lhe


surgiam na cabeça a enfraqueciam: ela enfiando os dedos nos seus cabelos macios e passando o polegar sobre seu lábio inferior sensual. Ela teve dificuldades para suprimir aquelas imagens. – Engravidar? – repetiu Nik atônito. – Do que você está falando? Betsy percebeu que a vantagem estava ao seu favor porque o pegara de surpresa. – Eu estou grávida e não dormi com ninguém além de você – falou ela, irritada. – Portanto, me explique como isso é possível. Pela primeira vez na vida, Nik estava sem fala. Grávida? Ele perdeu a sua cor bronzeada e recuou um passo, olhando


para ela como se estivesse em estado de choque, enquanto sentia o medo se espalhar por seus ossos. – Você está... grávida? – perguntou ele num murmúrio rouco, em tom de ceticismo. – Explique isso para mim – repetiu Betsy, impaciente. Nik passou os dedos morenos pelos cabelos negros e olhou para ela com um olhar estupefato. – Você descobriu que está grávida? Sério? – Eu pareço estar brincando? – exclamou ela na defensiva. Nik franziu as sobrancelhas até elas se juntarem e fez uma pausa antes de


voltar a falar, porque o seu cérebro se recusava a aceitar o que ela acabara de lhe dizer. – Eu reverti a vasectomia – confessou ele sem nenhuma entonação. Betsy se aproximou dele sem se dar conta. – Reverteu... quando? – perguntou ela repentinamente desesperada para saber a resposta. – Depois que você me expulsou... – Mas... por quê? – Betsy imaginou se ele tivera a esperança de consegui-la de volta, contando aquela novidade, e se perguntou por que ele não a procurara naquele momento. – Eu percebi que estava na hora de confiar em mim mesmo para controlar a


minha fertilidade. Quando nos separamos, eu nem sabia que a vasectomia poderia ser revertida. Sempre pensei que fosse definitiva... – admitiu ele simplesmente, falando com um candor que ela não estava acostumada a ver nele. – Quando eu descobri que a reversão poderia dar certo desde que fosse feita num período de dez anos depois do procedimento, decidi fazê-la. Eu deveria voltar ao médico para fazer alguns exames e verificar se tinha dado resultado, mas eu estava muito ocupado e nunca tinha tempo de... Betsy piscava enquanto tentava processar todos os detalhes contidos


naquela resposta, mas, por mais que a repassasse, não conseguia entender. O que ele quisera dizer com confiar nele mesmo para controlar sua fertilidade? Do que ele estava falando? E por que revertera o procedimento depois de terem se separado e não se dera o trabalho de lhe contar? Ela admitiu dolorosamente que a resposta a esta pergunta falava em tom alto e claro. Era evidente que a decisão de reverter a vasectomia não tivera nada a ver com ela e o seu desejo de ter um filho, nem com salvar o casamento. Era mais uma bofetada que ela recebia, mais uma ferida para lembrá-la de que nunca tinha compreendido e jamais iria compreender como Nik funcionava.


– Você realmente está grávida? – insistiu Nik, analisando-a atentamente, sem conseguir acreditar, porque aquela possibilidade ainda não lhe parecia real. Agora tinha a prova de que a reversão dera certo, mas também estava assustado com o risco que correra sem querer e com as consequências impensadas e evidentes da sua fertilidade restaurada. A culpa era sua, totalmente sua, por não ter se lembrado de que, pela primeira vez, ao dormir com Betsy, deveria ter usado proteção. Diavelos, e se ele tivesse dormido com outra mulher? E se ele estivesse tendo exatamente aquela conversa com uma mulher que lhe fosse quase


estranha? Mas ele teria sido tão descuidado com outra mulher que não fosse Betsy? Ele achava que não. Mais uma vez, a familiaridade se virara contra ele e Betsy, mas também fazia tantos anos que ele não precisava se prevenir contra o risco de uma gravidez indesejada, que se comportara com a imprudência de um adolescente ansioso para fazer sexo pela primeira vez. – Cem por cento grávida – disse Betsy secamente, desviando a atenção do seu rosto bonito, que ela insistia em fitar, e usando toda a sua autodisciplina para acalmar a reação que ele provocava no seu corpo e que era totalmente indevida. Para o bem do futuro e de seu filho ainda não nascido,


ela precisava se ater aos fatos. – Então, você reconhece que é culpado por essa gravidez e que esse filho é seu? Os cílios fartos e negros abaixaram sobre os olhos verdes subitamente desconfiados, e ele ficou corado. – Você tem alguma dúvida? – perguntou ele secamente. Betsy ergueu o queixo e fuzilou-o com um olhar de desprezo. – Nenhuma. – Você está contente? – perguntou Nik inesperadamente, porque não sabia o que dizer e não queria dizer algo errado. Um filho. Betsy iria ter um filho seu. A novidade o deixara profundamente chocado. Ele não conseguia registrar um


conceito que lhe era tão estranho, porque nunca pensara em ser pai. Reverter a vasectomia fora mais um exercício intelectual e filosófico que um desejo verdadeiro de ter um filho do próprio sangue. Aquele era um acontecimento que, nem em seus momentos mais otimistas, ele ousara imaginar. Afinal, as crianças são muito vulneráveis e, por mais que se tente protegê-las, coisas ruins acontecem com elas. Ao pensar nisso, Nik se apavorou. Betsy respirou tão profundamente que ficou tonta. – Se eu estou contente? – repetiu ela sem conseguir acreditar, sentindo o corpo se enrijecer pela força de seus sentimentos. – Você está brincando?


Quando éramos casados, eu queria um filho, queria uma família. Isso... – Ela abriu os braços como que para enfatizar a distância que havia entre os dois. – Não era isso que eu queria! – Então você não quer o bebê – presumiu Nik, pensando em como ele se sentia a respeito disso, mas ainda muito abalado com a novidade para saber. Um filho. Betsy iria ter um filho, o primeiro Christakis a nascer desde o seu próprio nascimento. – É meu filho... É claro que o quero! – respondeu ela com uma agressividade que nunca demonstrara antes, nem no dia em que o casamento dos dois desmoronara como um castelo de cartas


expulsá-lo de casa. – Você deve saber que eu jamais pensaria em fazer um aborto... – Eu não sou tão estúpido – interrompeu Nik. – Eu também nunca lhe pediria para fazer isso. – Não? – Apesar de tentar manter a calma, a voz de Betsy estava subindo gradualmente de tom. Se exaltar seria uma desvantagem que ela não precisava. – Não pediria? Um aborto não seria mais conveniente para você que o nascimento de um filho que você não deseja? – Não coloque palavras na minha boca. Eu não disse que não queria a criança – retrucou Nik severamente. – Obviamente, você quer...


Betsy não estava disposta a deixar que ele fizesse suposições. Além disso, ela estava frustrada por ele não ter lhe dado nem um sinal de seus verdadeiros sentimentos. – Por quê? O que há de óbvio nisso? Você está errado... Tudo mudou. Eu nunca desejei ser mãe solteira, criar um filho sozinha! Nik trincou os dentes para conter uma resposta impensada. Ela estava grávida. Betsy estava grávida, ele pensou sonhadoramente, maravilhando-se com o acontecimento que chegara muito tarde para salvá-los. Quer ela admitisse ou não, ele lhe dera o que ela mais desejava e estava tremendamente


desconcertado com a satisfação que sentia ao pensar nisso. Ele não queria pensar no bebê: queria pensar no que o bebê significaria para ela. Estava convencido de que a criança seria tudo para Betsy. Nik recordou o dia em que tinha descoberto um esconderijo com roupas de bebê, no fundo do closet, e a sensação de futilidade e de impotência que tinha sentido. Não podia lhe contar a verdade a respeito do seu passado por temer a maneira como ela iria vê-lo depois. Desde o começo, soubera que a sua única defesa seria o silêncio, mas a notícia que ela lhe dera o atingira como um furacão, levando ao caos tudo que ele acreditava sentir e pensar.


– Foi isso que você fez comigo! – Betsy continuou a falar em tom de revolta. – Você não me deu escolha: não me avisou que eu poderia engravidar... Nik soltou um suspiro impaciente e retrucou de maneira prática: – Eu não pensei que a contracepção fosse uma prioridade para nós naquele dia. Eu não estava pensando em algo tão prosaico... – Ah, nisso eu acredito! – respondeu Betsy com os olhos brilhando de desprezo, dando um sorriso sarcástico. – Você só estava pensando em sexo! – Seja prática... No que mais eu poderia estar pensando? – perguntou Nik sem um pingo de culpa. – Você também


não se segurou. Betsy teve vontade de esbofeteá-lo por ele tê-la lembrado disso. Se ela tivesse sido uma mulher sensata e digna, nada teria acontecido. Ela teria olhado para ele, indignada, e dito não. Mas ela nunca conseguia olhar para Nik e dizer não, e isso resumia a essência do relacionamento dos dois. Quando se tratava de sexo, ele sempre estivera no controle, até o dia em que ela mudara tudo desejando ter um filho. A partir daí, notara que o desejo de Nik por ela diminuíra consideravelmente. Betsy ficou corada e voltou os olhos para a mesa. – Eu o odeio e o desprezo... – Precisamos ser práticos – disse Nik


gentilmente, como se não a tivesse ouvido. – Melodramas e acusações de culpa não nos levarão a lugar algum... – Para você, é muito fácil dizer isso – falou Betsy amargamente. – A sua vida não vai parar por você ser pai solteiro! – A sua vida e a minha vão mudar – Nik contrapôs. – Mas, como a falta de recursos não será um problema, sobreviveremos ao desafio. Naturalmente, a partir de agora, vou garantir que você tenha todo o suporte que for necessário. Nik iria pagar para que outros fizessem o trabalho e assumissem a sua responsabilidade como pai, Betsy concluiu com amargura. Ele não estava


se oferecendo, não pretendia fazer nenhum sacrifício. E por que deveria, já que não queria ser pai? – Você sabe o que pode fazer com o seu dinheiro! – retrucou Betsy, ressentida, com o rosto vermelho de raiva e com a revolta cintilando em seus olhos. – Eu só queria um pai para o meu filho, e não ter acesso à sua carteira! Nik olhou para ela com uma expressão de deboche e um olhar cortante. – Você esperava me impressionar com esta declaração? Há poucos dias você estava exigindo metade de tudo que eu tenho – lembrou-a ele com frieza. Determinada a não demonstrar fraqueza, Betsy empertigou os ombros e


pegou a bolsa. – E eu me saí ainda melhor – debochou ela. – Um filho é praticamente um cartão de crédito para toda a vida! Nik fitou-a com fria indiferença. – Vá para casa antes que eu perca a calma, Betsy – advertiu ele. Betsy saiu rapidamente do escritório e só voltou a respirar quando já estava a salvo, dentro do elevador. Agir de acordo com a visão que Nik tinha dela como cavadora de ouro fora um meio de manter temporariamente o controle, mas não fora uma boa ideia, ela refletiu envergonhada, porque azedava ainda mais a relação entre os dois. O que acontecia com a sua cabeça quando


estava perto de Nik? Ela se encolheu ao recordar que chamara seu filho de “cartão de crédito”: teria sido melhor ter acusado Nik de negligência e não recorrido àquele argumento absurdo para se defender. Por que ela se comportara daquele jeito? Odiara a maneira como ele a fizera se sentir, odiara que o momento, que deveria ser maravilhoso e motivo de celebração, tivesse sido estragado pela expressão chocada que ele fizera ao receber a notícia. Por que ela ainda esperava o tipo de reação que Nik jamais poderia ter? Ele não queria um filho, e ela iria ter um. Betsy disse a si mesma que não deveria ficar desiludida. Estava na hora de amadurecer e de


aceitar o mundo como ele era, não de tentar mudá-lo. De qualquer modo, Nik não reagira melhor do que ela esperava? Não exigira exame de DNA, não sugerira que ela pudesse estar grávida de outro homem. Quando saiu do edifício, Betsy parou na calçada e olhou para o outro lado da rua, onde ficava o bistrô em que ela trabalhara e que, fazia tempo, fora transformado em uma imobiliária que vendia imóveis de luxo. Ela relaxou o rosto que estivera muito tenso e sua expressão se suavizou. Antes do casamento, Nik Christakis realmente a tratara como uma rainha, ela pensou com ironia.


Infelizmente, ela se apaixonara por ele tão rápida e profundamente que se perdera. Quando estava com ele, Nik se tornava o seu mundo. Quando ele estava viajando, ela se sentia sozinha e infeliz e só conseguia pensar nele. Até conhecêlo, ela nunca pensara que seria capaz de sentir uma emoção tão poderosa. Quando Nik queria vê-la, ela matava a aula, atrasava suas tarefas e logo abandonara a escola noturna. Betsy ainda se envergonhava da sua perda de interesse e da fraqueza que demonstrara ao abandonar sua vida por causa de um homem e de um relacionamento que poderia não ter durado. Nunca imaginara ser aquele tipo de mulher, mas amar Nik


eliminara qualquer outra ambição que ela tivesse. Quando ele a pedira em casamento, ela ficara admirada porque nunca percebera que ele levava o relacionamento a sério. Naquele momento, ela ainda não dormira com ele e ficava admirada por ele ter se contido. – Você é virgem, não é? – perguntara ele uma noite, depois de terem jantado em um luxuoso restaurante. – Eu não me importo de esperar até que você se sinta pronta para dormir comigo. Na verdade, a espera é refrescante e extremamente excitante. Eles haviam se casado no meio de uma nuvem de flores de laranjeira e de flashes de fotógrafos, cercados por


centenas de convidados que lhe eram estranhos e por uns poucos que ela conhecia. Poucas semanas depois do casamento, Nik começara a mudar e, nos últimos tempos, ela se perguntara se ele mudara com ela pelo motivo mais degradante que poderia haver. Depois que a espera excitante acabara na noite de núpcias e ele a levara para a cama, seu marido começara a perder o interesse porque ela o entediava? Afinal, uma ex-virgem inexperiente nada tinha a oferecer em matéria de sofisticação sexual. Mas ela ficara firme e lutara para que o casamento com um marido sempre ausente desse certo. Fora tola e


acreditara que ter um filho uniria os dois e acabaria com o crescente isolamento de Nik. Um dia, quando ele viajara a trabalho, ela fora a um jantar na casa de Cristo e tivera uma conversa com seu irmão mais moço, Zarif, que queria conhecê-la melhor. Quando ele lhe perguntara o que ela fazia durante as viagens constantes de Nik para o exterior, ela lhe dissera que, já que a reforma de Lavender Hall estava pronta, esperava constituir uma família. Zarif ficara surpreso e perguntara como ela pretendia fazer isso, uma vez que Nik fizera uma vasectomia. A bomba caíra sobre ela e o seu casamento acabara alguns dias mais tarde. Agora, o mundo parecia ter


completado o círculo, Betsy pensou amargamente. Ela teria o bebê que tanto desejara, mas não tinha mais o marido ou um homem que desempenhasse o papel de pai. O casamento dos dois acabara, ainda que o divórcio não tivesse sido assinado.


Capítulo 5

NIK

ESTAVA tendo um péssimo dia.

Tudo desmoronara no momento em que Betsy lhe contara a novidade e, depois que ela fora embora, ele não conseguira mais se concentrar. Cancelou todos os compromissos da sua agenda e disse ao assistente que não queria receber telefonemas. Era estranho não estar trabalhando e voltar para casa no meio do dia, mas ele entrou no seu apartamento de cobertura e foi para o


jardim do terraço. Lá fora estava tudo muito calmo, não havia sequer uma brisa e só se ouvia o barulho abafado do tráfego na rua. Nik jamais iria admitir, mas sentia falta da companhia que Gizmo lhe fazia. Até conhecer Cristo, Nik fora extremamente solitário. Apesar de serem bem diferentes, ele tinha estabelecido um laço com o irmão. Olhando sem ver o horizonte e os telhados da cidade, ele pensou que levava uma vida privilegiada e que ninguém precisava lembrá-lo disso. A sua imensa riqueza abrira caminho em todos os setores da sua vida, impulsionando-o para a frente e para cima, mas havia uma esfera em que ter milhões de nada lhe adiantara: a


esfera da felicidade pessoal. Talvez ele não tivesse o necessário para sentir alegria, Nik pensou entristecido. Ter passado a vida reprimindo seus sentimentos e guardando segredos tinha lhe causado danos e afetado a sua capacidade de confiar em alguém e de manter seus relacionamentos. Durante muito tempo, ele se negara a reconhecer esta verdade e só recentemente começara a aceitá-la como inevitável. Assim como o seu passado amedrontador e sombrio também era inevitável, Nik admitiu com amargura. A notícia que Betsy lhe dera e a sua posterior condenação haviam lhe despertado lembranças indesejáveis.


Naquele exato momento, ele se lembrava do seu primeiro dia na escola, ou melhor, do trajeto de pesadelo, dentro do carro com o motorista, na companhia de uma mãe de temperamento descontrolado. – Ter você arruinou totalmente a minha vida! – gritara Helena para ele ressentida, levantando a mão fechada e acertando-lhe dolorosamente o rosto, por estar furiosa com o pai, que insistira que ela levantasse da cama para acompanhar o filho de 4 anos. – Você destruiu o meu corpo, arruinou a minha vida social, me impede de viajar e de fazer as coisas de que gosto... O que mais você vai destruir, seu pestinha? Helena Christakis nunca quisera ser


mãe, mas, quando engravidara de seu último namorado, Gaetano Ravelli, seu pai, extremamente conservador, ameaçara deserdá-la e, pela primeira vez numa vida de indulgências, ela se vira forçada a encarar algumas consequências. A primeira, que também serviria para garantir a conservação da sua fortuna, fora fazer um casamento de aparência para satisfazer seu pai. Infelizmente, a responsabilidade decorrente de ter um filho e a limitação da sua liberdade para fazer o que quisesse haviam tido efeitos mais pesados. Nem por um instante, Nik achava que Betsy fosse ser tão cruel, egoísta e


violenta como sua mãe fora com ele. Não acreditava que Betsy fosse odiar o filho, como sua mãe o odiava, culpandoo pelas suas decepções. Ele admitia que Betsy engravidara do filho deles em circunstâncias menos cor-de-rosa do que sempre pretendera. Filho deles? Mesmo em pensamento, aquele rótulo não lhe parecia natural, porque ele não conseguia imaginar aquilo acontecendo e nunca tivera nada a ver com mulheres grávidas ou crianças. Mas estava feito, e ele sempre fora um homem prático. Nik não tinha dúvida de que, se levantasse, outro iria ocupar o seu lugar como marido de Betsy e figura paterna na vida de seu filho. Isso seria totalmente inaceitável. Ele admitiu


que não poderia haver meias-medidas. Ou se envolvia totalmente na vida da criança, ou seria excluído, porque uma divorciada jovem, rica e bonita como Betsy não ficaria solteira por muito tempo. Mas como ele poderia se envolver com algo que sempre evitara e temera? A paternidade, com todas as preocupações e perigos que vinham com a responsabilidade. Nik respirou profundamente, arregalou os olhos e retorceu os lábios sensuais com desgosto. Ele iria fazer o mesmo que fizera para sobreviver à sua cruel infância: nunca olhar para trás, reviver o passado esquecido e dar um passo de cada vez.


– ENTÃO DIGA– insistiu Belle. A brilhante ruiva se jogou de volta no confortável sofá de veludo cor de vinho e olhou para Betsy com um ar de expectativa. – Eu estou grávida – disse Betsy, que viera visitá-la exatamente para contar a novidade. Evidentemente surpresa, sua cunhada sentou rapidamente. – Como você conseguiu arranjar um namorado sem que eu soubesse? – perguntou Belle, admirada. – Porque ele já estava por aqui... Quer dizer, mais ou menos – murmurou


betsy. – O filho é de Nik. – Nik? Como pode ser de Nik? – Você não pode contar isso a Cristo. É particular... Entre mim e Nik – explicou Betsy sem graça, desejando que a esposa de Cristo parasse de olhar para ela como se estivesse esperando que um grupo de palhaços começasse a fazer suas piadas. Em poucas palavras, ela contou a Belle que Nik revertera a vasectomia. Belle piscou lentamente. – Compreendo – disse ela. – Ele lhe devolveu o cachorro e você dormiu com ele por gratidão. – Não foi isso – protestou Betsy. – Eu conheço você. Você tem o coração mole. Ele se aproveitou...


– Talvez eu tenha me aproveitado dele. Belle sacudiu a cabeça, pensativa. – Uau... Duas vezes uau. Nik vai ser pai. Considerando que ele nunca aguentou ficar na mesma sala que os meus irmãos, essa perspectiva exige um grande exercício de imaginação... Betsy gostava da esposa de Cristo, mas nunca apreciara a sua atitude crítica em relação a Nik. – Você não está sendo justa, Belle. Nik nunca conheceu o pai e nunca conviveu com crianças. Gaetano Ravelli o abandonou quando ele era um bebê, e Nik nunca mais voltou a vê-lo. É por isso que, para ele, é mais difícil ter uma


ligação familiar com os irmãos mais jovens que você e Cristo adotaram. Naquele momento, Franco, a mais jovem das crianças – um adorável bebê de cabelos negros e grandes olhos castanhos – subiu no colo da meia-irmã e abraçou-a com carinho. Evidentemente, o menino via Belle como mãe. Franco e seus quatro irmãos eram frutos do longo relacionamento que a falecida mãe de Belle mantivera com o pai de Cristo e de Nik. Pela primeira vez, Betsy percebeu um fato que a deixou surpresa: tudo que sabia a respeito da família de Nik lhe fora contado por Cristo ou por Belle. Nik nunca falava sobre a sua infância. O relacionamento que ele mantinha com a


mãe era conturbado, e ele se recusava a falar sobre o assunto. Betsy só se encontrara com Helena Christakis uma vez, quando ela surpreendera Nik e resolvera comparecer ao seu casamento. Helena aparecera com seu último namorado a tiracolo e evitara ter algum contato com os noivos. Ainda assim, sua presença parecera ser mais um castigo que uma satisfação para o filho, porque ela usava um vestido que seria mais apropriado para uma adolescente, se embebedara e, em dado momento, sentara no colo do namorado e se comportara como uma gatinha sexy. Nik não demonstrara se abalar com o comportamento da mãe e


não fizera comentários. Na época, Betsy, ingenuamente, presumira que ele estivesse escondendo seu constrangimento, mas, desde então, aprendera que não existia nada que deixasse Nik constrangido. – Para Cristo também foi difícil – disse Belle. – Ele também não gostava de crianças, mas acho que ele nunca foi tão resistente a elas como Nik. Quando você pretende contar a ele sobre o bebê? – Eu já contei... Na verdade, eu lhe disse hoje de manhã. Foi por isso que vim até Londres. – Betsy comprimiu os lábios porque não queria fornecer maiores detalhes, mas não poderia ter escondido a sua gravidez dos amigos e


da família. Mais que qualquer outra coisa, Cristo e Belle tinham se tornado a família que ela nunca tivera realmente. Os dois haviam encontrado tempo na sua vida agitada para lhe dar apoio durante os meses de desespero que tinham se seguido ao rompimento do casamento, sempre dispostos a ouvi-la e a lhe oferecer palavras de conforto. – E então...? – Ah, pelo menos, Nik não sugeriu que o filho poderia ser de outro... – Por que ele faria isso se você vive como se tivesse feito votos de celibato? – perguntou Belle com um olhar de impaciência. – Um filho vai tornar tudo mais difícil e complicado para você.


– Não vejo por quê – retrucou Betsy com firmeza, erguendo o queixo. – Eu tenho uma empresa, uma casa e um cachorro devotado. O bebê vai se encaixar perfeitamente na minha vida, e vamos seguir em frente. Dizendo isso, Betsy levantou para ir embora porque o turbilhão emocional do dia deixara-a exausta, e ela só queria ir para casa e relaxar diante da lareira com Gizmo aos seus pés. Belle abriu a porta da sala para ela. – Ah, antes que eu me esqueça, você está convocada para vir à minha festa de aniversário, na sexta-feira da próxima semana. Eu até lhe arranjei uma carona... – Uma carona? – perguntou Betsy,


surpresa. – Chris Morrison. Ele mora perto de você e disse que seria um prazer trazêla. Assim, você não precisa passar a noite aqui, porque ele a levará de volta para casa – declarou Belle alegremente. – Eu dei a ele o número do seu telefone para vocês poderem combinar o horário. – Quem é ele? – perguntou Betsy, franzindo as sobrancelhas, e, percebendo que Belle a deixara sem saída, não poderia arrumar uma desculpa para não vir. Mas sua revolta momentânea por se sentir manipulada evaporou quando ela se imaginou ficando todas as noites em casa, sozinha e deprimida. Nik não estava deprimido. Seu futuro ex costumava sair com


belezas da alta sociedade, levando-as a clubes, galerias de arte, teatros. Realmente, Nik, que mal saía com ela depois de se casarem, tornara-se um homem extremamente visado, e o seu sucesso era mapeado através da trilha de fotografias reveladoras que saíam nas colunas de fofocas e nas brilhantes páginas das revistas. Do outro lado do corredor, saindo do escritório de Cristo, onde aquecera o frio crescente que sentia no peito com algumas doses de uísque, Nik parou de repente ao ouvir o som inesperado da voz de Betsy. Bastou dar uma olhada para o irmão para perceber que, mesmo sendo tolerante, Cristo ficara tenso ao


constatar que a romântica Belle já estava arranjando encontros para a ainda legalmente casada ex-esposa de Nik. E, ainda por cima, com um mulherengo como Chris Morrison! Só Betsy poderia estar perguntando quem ele era! Um dos banqueiros mais ricos da cidade! Diavelos! Os olhos de Nik brilhavam como duas esmeraldas enquanto ele tentava controlar a onda de raiva, porque, por pior que se sentisse, não poderia estrangular a esposa do irmão. – Ah, os rapazes também estavam conversando... – Belle brincou, sem se deixar abalar pelo encontro constrangedor. – Não é emocionante? – Betsy... – Cristo deu um sorriso constrangido, que dizia a Betsy que Nik


lhe contara tudo. Ela se perguntou se Cristo teria percebido a honra que recebera, porque Nik era uma das pessoas mais reservadas que ela já conhecera. Betsy criou coragem para olhar para Nik. O impacto de vê-lo ali, parado, com a cabeça erguida arrogantemente e os ombros largos esticados, atingiu-a com a violência de um raio. O nível de estresse que ela atingira quando estivera no seu escritório a protegera contra o seu magnetismo sexual. Repentinamente, ela se sentia exposta aos elementos e revivia os momentos de paixão do encontro que tinham tido semanas antes. Lembrou-se da sensação de tê-lo dentro


do seu corpo, da sensibilidade enlouquecida e incontrolável de todos os seus nervos e da excitação que a dominara. Ela sentiu o calor subir da sua pélvis, espalhar-se por seus seios e lhe queimar o rosto. Mas, por detrás daquela reação indesejada, havia uma raiva e um ressentimento que Betsy sempre reprimira, porque, quando criança, haviam lhe ensinado que tais sensações eram destrutivas, baixas e indesejáveis. – Betsy não precisa pegar carona com Morrison – declarou Nik, irritado. – Como eu também virei à festa, providenciarei para que ela tenha transporte. Betsy não conseguia acreditar no que


estava ouvindo. Nik falava como se ela fosse um caixote que precisava ser despachado. Ou uma propriedade pessoal que ele tivesse o direito de movimentar de acordo com a sua vontade. E isso, vindo de um homem que a enganara, abandonara, e que estava com pressa de se divorciar dela! Repentina e inesperadamente, uma fúria que ela jamais sentira se espalhou pelo seu corpo delicado como se fosse uma onda de lava incandescente, e ela se aproximou de Nik com os olhos azuis soltando faíscas. – Como você ousa...? – exclamou ela com o rosto vermelho de indignação, cutucando o peito dele com o dedo. –


Como você tem coragem de achar que tem o direito de providenciar alguma coisa para mim? Surpreso com o ataque, Nik olhou perplexo para ela. Betsy era a pessoa mais conciliadora que ele conhecia e nunca demonstrara um pingo de agressividade, mas, agora, o enfrentava como se fosse uma guerreira em miniatura. – Eu... – Cale-se... Eu não quero ouvir a sua voz! – Betsy contra-atacou, jogando a cabeça para trás porque se recusava a fitar o peito de Nik, e era difícil manter contato visual com ele, que era muito mais alto. – Eu não quero ouvir nada que você tenha a me dizer! Você não é meu


dono e não tem nada a ver com o que eu faço, para onde vou ou com quem vou! Na semana passada, você estava agarrado com uma loura exuberante em uma festa qualquer em Nova York. Eu não me meti e não disse nada. Por que não? Porque não era da minha conta! A minha vida também não é mais da sua conta! – completou ela, dando uma última cutucada no peito dele. – Você compreendeu, Nik? Ou será preciso que eu escreva em linguagem comercial para que você entenda isso? – Chega – advertiu Nik com o rosto contraído por debaixo do tom vermelho da sua pele. – O que houve com você? – perguntou ele, admirado com a ousadia


que ela tivera ao atacá-lo. – Você me fez explodir, Nik... Literal e metaforicamente. Você foi um marido egoísta e ruim e saiu da minha vida de modo ainda pior... Cristo escancarou a porta do seu escritório e fez um gesto de convite quase cômico. – Você e Nik podem conversar lá dentro... – Mas eu não perderia um minuto desta briga tão animada – confessou Belle sem a menor vergonha. – Dá-lhe, garota! Nik trincou os dentes. – Você está grávida – disse ele secamente para Betsy. – Evidentemente, não vai querer ser forçada a sair com


outro homem... – Por que a gravidez iria me impedir? E quem disse que eu estaria sendo forçada? – perguntou Betsy tão furiosa quanto começara, porque os vários pecados e omissões de Nik se acumulavam dentro de sua cabeça. Ela puxou o braço quando ele tentou segurála e levá-la para dentro do escritório. – Se você me tocar com um dedo, eu o acuso de agressão... – Você não vai brigar comigo publicamente na casa do meu irmão! – protestou Nik com veemência e com os olhos verdes tão cheios de raiva, que eles brilhavam como duas pedras preciosas.


– Tudo bem. Eu não estava planejando ficar e gastar a minha saliva com uma causa perdida. – Ela encarou o olhar irado de Nik com uma coragem que o surpreendeu. – Mas nunca mais ouse me dizer o que fazer! Arranje outra pessoa para se submeter à sua mania de controle... Você não é mais meu marido. Eu passei três anos tentando ser a melhor esposa que podia, me submetendo às suas exigências e expectativas e tentando me encaixar no seu mundo. Graças a Deus, não preciso mais fazer isso! – declarou ela, sentindo uma sensação de liberdade enquanto se encaminhava para a porta da frente. – Você ainda está casada – lembrou-a


Nik com teimosia, olhando-a como se pudesse prendê-la com a força do seu olhar. Betsy se virou rígida de raiva ao ouvir a declaração provocativa, pronta para começar o segundo round da briga. – É mesmo? Por onde você andou durante os últimos oito meses? Ah, sim: ocupado se divorciando de mim, levando o cachorro que sempre ignorou, tentando tirar o meu teto enquanto saía por aí com outras mulheres. Se eu tivesse resolvido dormir com outros, sair com vários homens e me comportar como uma ex-esposa extremamente constrangedora, bem que poderia, porque ter sido boa para você durante anos não me trouxe nenhum benefício!


Você mentiu para mim... – Eu não menti... Nunca menti para você – falou Nik secamente, crispando os punhos, com a pele morena ficando muito pálida. Fez-se um silêncio pesado enquanto ela esperava para ver o que ele iria dizer, mas, como era previsível, ele fechou a boca e apertou os lábios. – Você me enganou por omissão – admitiu Betsy, corando de vergonha por estarem brigando na casa de Cristo e Belle e se encolhendo ao perceber até onde a sua explosão a levara. – A distinção fica ao seu cargo. Você sempre foi inteligente demais para o seu próprio bem, Nik, e eu nunca fui esperta a metade do que você é... Você partiu o


meu coração, Nik, e eu nunca vou perdoá-lo por isso. – Ela sentiu um soluço lhe subir à garganta. Seus olhos começaram a arder. Mais que depressa, Betsy correu para a porta, desceu a escada e só parou ao sentir o peso de uma mão sobre o seu ombro. – Deixe-me levá-la para casa... – Isso seria ridículo – falou ela num tom abafado, olhando fixamente para a rua residencial, recusando-se a se virar. – De qualquer modo, o meu carro está estacionado perto da estação de trem. Nik disse algo em grego, e um homem passou por Betsy e abriu a porta da limusine estacionada junto à calçada. Ela pensou que deveria ser um dos seguranças de Nik, mas sua cabeça


começava a divagar por causa do cansaço físico e emocional. Mesmo naquele estado, ela se perguntou se os seguranças de Nik também os teriam ouvido discutir. Ela lhe passara um sermão, explodira como fogo de artifício, sentira uma raiva que nunca sentira antes e perdera toda e qualquer inibição. Infelizmente, agora se sentia esgotada, envergonhada e dolorosamente constrangida. Apesar de ainda admirado com o comportamento de Betsy, Nik ficou preocupado ao ver que ela curvava os ombros e abaixava a cabeça. Ela lhe dera uma rápida visão do seu ponto de vista e ele estava chocado.


Você partiu o meu coração, Nik. Jamais vou perdoá-lo por isso. Nik a fez virar para ele gentilmente. À luz da rua, Betsy encarou-o com os olhos marejados de lágrimas. Ele se inclinou e pressionou os lábios contra os dela, abraçou-a, ergueu-a do chão e fez com que ela entreabrisse a boca para saborear o seu gosto doce. Betsy sentiu a cabeça girar enquanto a temperatura do seu corpo subia, tinha vontade de se agarrar a ele como se escalasse uma árvore. Sentiu o desejo se espalhar e traí-la, alimentando a reação do seu corpo, aliviando-a da tensão insuportável. Ele tinha um gosto saboroso, mais picante que uma


labareda. Nada poderia ser mais primitivo que aquele beijo ávido. Nada teria sido capaz de acalmar o seu sofrimento emocional com tanta eficiência e trazê-la de volta à normalidade. Nik colocou-a de volta no chão e segurou-a, porque ela cambaleava e estava tonta, num estado totalmente diferente do que estava antes de ele alcançá-la. – O meu carro vai levá-la até a estação... Eu vou ficar aqui – murmurou ele baixinho, em voz rouca. Este era o único sinal aparente de que o que acontecera o afetara de alguma maneira. Betsy precisou fazer um grande esforço para recuperar o raciocínio.


Apesar de ainda estar tremendo, ela conseguiu acabar de descer a escada, atravessar a calçada e se abrigar no conforto da limusine, só voltando a respirar quando o carro se afastou do meio-fio. Aquele beijo... Não: ela não queria pensar nele. Ele fazia parte da confusão que acontecia quando as pessoas perdiam o controle e brigavam, e ela não estava acostumada a brigar com Nik. Até mesmo no dia em que ela dissera a ele para ir embora de Lavender Hall, os dois não haviam brigado de verdade. Enquanto ela o acusava de ter mantido a vasectomia que fizera em segredo, ele se mantivera em silêncio, não explicara nada, não se


justificara, nem pedira desculpas. Enquanto a limusine se afastava, Nik finalmente percebeu que enfrentaria um desafio muito maior do que imaginara. Dizer a Betsy que voltaria para casa e que cuidaria dela e de seu filho seria como atirar um tijolo através de uma janela de vidro, porque ela não o queria de volta. Voltando para dentro de casa, Nik ficou perambulando pelo hall da bela casa de seu irmão, sem nada ver, sem se dar conta de onde estava, sem se preocupar com quem poderia testemunhar o seu momento de fraqueza. Por que simplesmente presumira que Betsy fosse querê-lo de volta? Pelo simples fato de que ele se acostumara a


acreditar que as mulheres sempre o queriam. Este fora um erro que ele cometera no primeiro encontro com Betsy, quando ela o descartara, Nik se lembrou, sentindo as tĂŞmporas latejarem. Claro, Betsy sempre fora diferente das outras mulheres: este fora o motivo pelo qual ele se casara com ela. Quando ele lhe levava flores para compensĂĄ-la por suas longas ausĂŞncias, ela declarava que teria preferido receber uma desculpa, ou que ele lhe telefonasse mais e lhe mandasse mensagens de texto enquanto estivesse viajando. Quando ele lhe dava presentes, ela o


censurava por desperdiçar dinheiro como se fosse uma criança. – Você não vai me impressionar com essas coisas – dissera-lhe ela uma vez amavelmente. – Não é por isso que eu estou com você. Estou aqui porque o amo. E isso não tem preço. Com a testa coberta de suor, ele se perguntou, pela primeira vez, por que Betsy teria tentado exigir metade da sua fortuna. Pelo que ele conhecia do seu caráter, isso não fazia sentido. Nik imaginou como seria amar, porque a única experiência que tivera com o amor resumira-se a ser amado por Betsy. E o amor que ela sentia por ele lhe proporcionara uma estranha sensação de segurança... Absurdo! Como se ele fosse


inseguro! Ele quase deu uma gargalhada diante da ideia, mas não conseguiu despertar nem um pingo do seu bom humor. Nik pensou na possibilidade de raptar Betsy e levá-la para o exterior, onde ela seria forçada a ouvi-lo. Ela iria chamar a polícia? Mesmo assim, seria forçada a ouvi-lo... Reprovando-se por ter tido a ideia absurda de sequestrá-la, ele ergueu as sobrancelhas e se perguntou se estaria ficando louco... Exatamente como Betsy, que agira de modo estranho e investira contra ele. O que acontecera com ela? Talvez tivesse sido efeito da gravidez. Como ele se esquecera disso, nem que tivesse sido


por apenas cinco minutos? Mulheres grávidas costumam sofrer variações hormonais. Definitivamente, Betsy não parecera ser ela mesma. Comportara-se como se estivesse possuída, revelando uma mudança de comportamento que ele ficaria feliz em poder atribuir à influência de Belle, que não gostava dele e que se aproveitaria de seus erros para denegri-lo. Mas era mais provável que o único demônio pelo qual Betsy tivesse se deixado dominar fosse a instabilidade hormonal. Ele ficou aliviado por ter encontrado uma explicação tão óbvia. Aquela mulher selvagem e agressiva nada tinha de parecido com a doce e gentil Betsy com quem ele convivera. E com quem logo


voltaria a morar, Nik se lembrou com satisfação. Ele estava convencido de que Betsy ficaria surpresa, mas também muito feliz. Desde o dia em que ela o expulsara de Lavender Hall, ele fora quase que diariamente procurado e assediado por outras mulheres. Em qualquer lugar onde fosse, deparava-se com olhares sedutores e abordagens ousadas, mas, depois de três anos de casamento, ele achara isso desconcertante e desanimador. Pensando bem, se mulheres que não o conheciam podiam querê-lo tanto a ponto de perder a classe e a dignidade, Betsy deveria querê-lo de volta ainda mais, não


deveria? Naquele dia, ela deixara que ele a espremesse contra a parede. Só de pensar nisso, Nik se excitava. Se ela fizera sexo com ele novamente, não podia realmente odiá-lo, podia? Por que ele estava pensando tanto naquelas bobagens a respeito de relacionamentos? Por um instante, dominado pela frustração, Nik sentiu vontade de bater a cabeça na parede para se livrar daquelas ideias loucas, e foi nesse momento que ele percebeu a presença do irmão a poucos passos de distância. – Você está bem? – perguntou Cristo, preocupado. Nik flexionou os ombros tensos e


esticou o corpo. – Por que não estaria? Cristo não costumava ser sutil, mas sabia que dizer a Nik que ele estava agindo de modo estranho seria mais um peso que uma ajuda. Cristo entendia Nik perfeitamente. Seu irmão se casara com um ratinho que começara a urrar como um leão: ele não conseguia aceitar aquela enervante mudança de personalidade, acrescentada à perspectiva de ter um filho. Nik era um homem tipicamente macho, com pouca imaginação e pouca capacidade de empatia, Cristo pensou. Fazia tempo que ele notara que isso formava um imenso contraste com o


intelecto brilhante de Nik e com a sua extrema habilidade para fazer negociações. Quando uma situação envolvia algo de emocional, seu irmão recuava e ficava totalmente confuso, mas ele podia ver que Nik estava se esforçando para entender e esperava que, mais cedo ou mais tarde, Betsy também pudesse ver isso.


Capítulo 6

NO FINALda tarde, Betsy estava parada no topo da escada da entrada, olhando para o caminhão de mudança estacionado diante de sua casa e para os homens parados ao lado dele. – Com certeza, vocês anotaram o endereço errado. Eu não estou me mudando para lugar nenhum e ninguém está se mudando para cá... – falou ela pela segunda vez. Ao mesmo tempo em que ela falava, o


ruído das hélices de um helicóptero aumentava e abafava suas palavras. Todos, incluindo ela, olharam para o céu, mas só Betsy era capaz de identificar o logotipo desenhado no aparelho que aterrissava no heliporto que Nik mandara construir num canto do jardim. Betsy ficou admirada e confusa com aquele evento preocupante. Nik teria vindo visitá-la? Teria vindo para conversarem sobre o bebê e sobre o acordo que fariam? Por que ele não fizera isso através de seus respectivos advogados? Sem dúvida seria menos penoso que terem mais um encontro traumático. Fazia cinco dias que ela e Nik tinham discutido na casa de Cristo e Belle.


Betsy ainda estava perturbada, intimamente revoltada e constrangida com a lembrança de como, por fim, dissera algumas verdades que há muito precisava dizer a seu quase ex-marido. Infelizmente, ela fizera isso na frente de outras pessoas. Realmente, devia uma desculpa a Nik por ter perdido totalmente o controle. Por outro lado, Nik não era dado à reflexão e provavelmente esquecera as críticas que ela fizera alguns minutos depois de ela ter ido embora. Ele não era um homem sensível e não a amava: por que iria se importar com o que ela dissera a respeito do passado, quando, a não ser pela aprovação legal, o casamento já


estava acabado? E por que ele a beijara depois? Que sentido tivera aquele gesto? Com os olhos azuis arregalados, Betsy viu Nik atravessar a cerca de arbustos que escondia o heliporto e sentiu o sangue gelar ao imaginar o que o teria feito vir até ali pessoalmente. Sempre que podia, Nik costumava delegar responsabilidades para se livrar dos embates mais difíceis do mundo dos negócios. Ela se concentrou em tentar não notar como ele estava sensacional com o elegante terno cor de grafite, como era belo e parecia exótico com aqueles exuberantes cabelos negros, com os admiráveis olhos verdes acentuados


pela pele morena. Mas corou e começou a sentir o sangue aquecer perigosamente em suas veias. Sentiu vontade de se esbofetear por reagir daquela maneira à atração sexual de Nik depois de tudo que ele fizera com ela. Exasperada, Betsy disse a si mesma que tudo não passava de química. Fora por isso que o beijara naquela noite: era triste, mas ela o achava absolutamente irresistível. Ela ficou surpresa ao ver que Nik parara atrás do caminhão de mudanças para conversar com os carregadores. Imaginou o que ele estaria dizendo a eles. Sendo um homem que tinha muito pouca paciência com a falta de eficiência e com os erros alheios, logo


ele lhes passaria uma descompostura. – Betsy... – ronronou ele, subindo a escada com apenas dois passos, com o olhar fixado nos olhos dela. Como se fosse um míssil dirigindo-se para o alvo, Betsy pensou vagamente, sentindo arrepios quentes e frios lhe atravessarem o corpo em ondas enervantes. – O que você está fazendo aqui? – perguntou ela, esforçando-se para dar a impressão de estar calma e controlada. – Não poderia ao menos ter telefonado para me avisar que viria? Uma bolinha de pelo interrompeu-a, esfregando-se alegremente nas calças de Nik para lhe dar as boas-vindas. – Gizmo...! – exclamou Betsy em tom


de repreensão. – Ele deve estar feliz ao nos ver juntos novamente – declarou Nik, dando uma risada e abaixando-se para afagar a orelha do cachorro. – Então ele ficará decepcionado quando você for embora outra vez – retrucou Betsy, irritada. – Sinceramente, Nik, você deveria ter me telefonado para avisar que viria... Nik franziu as sobrancelhas. – Poderíamos conversar em particular? – perguntou ele gentilmente. Betsy franziu a testa quando viu que, atrás dele, os homens estavam abrindo a traseira do caminhão. – Claro. Aconteceu alguma coisa?


– Nada com que você deva se preocupar – garantiu Nik, passando as mãos pelas costas dela e encaminhandoa na direção da sala de estar. Ao entrarem, ele teve o cuidado de fechar a porta. – Pelo visto, aconteceu alguma coisa – pressupôs Betsy, observando-lhe o belo rosto e percebendo, com crescente apreensão, que ele estava tenso. Nik respirou profunda e lentamente. Quando a ideia lhe ocorrera, mudar-se de volta para casa tinha lhe parecido ser a solução mais simples, mas, diante da perplexidade de Betsy com a sua chegada, a solução lhe parecia ser bem mais complicada. Cristo insistira para


que ele falasse com ela antes, mas Nik quisera evitar discussões e a possibilidade de ser rejeitado. Confrontar Betsy com um fato consumado, depois de ter lhe apontado seu direito legal, lhe parecera ser a abordagem mais viável e eficiente. Afinal, ele não costumava avisar previamente uma empresa de que pretendia assumir o seu controle, avisava? – Por que você não diz nada? Está me deixando apavorada... O que há de errado? – perguntou Betsy quando o seu nervosismo atingiu o auge. – Cristo e Belle estão bem? – Claro que estão. – Ele analisou a esposa de cima a baixo, sem perder um


detalhe do seu corpo coberto pelo jeans. Ela ainda não mostrava estar grávida. Nik imaginou quando o seu corpo delicado e esguio começaria a mudar. Desviou os olhos e corou, admirado pela maneira como estava excitado. Betsy tinha a chave para despertar a sua libido ou, talvez, ele fosse um marido excepcionalmente fiel com algum distúrbio mental que o impedisse de procurar satisfação com outra mulher, mesmo enquanto haviam estado legalmente separados. Aliviado, Nik se agarrou à segunda explicação. – Nik... O que foi? – insistiu Betsy, nervosa, com o corpo enrijecido como um graveto.


– Eu estou me mudando para cá – comunicou Nik a novidade e viu que ela abria a boca, mostrando duas fileiras de dentes cor de pérola. – Resolvi voltar para casa... Betsy quase desmaiou de susto. Sentiu um zumbido nos ouvidos e ficou tonta enquanto as palavras ecoavam repetidamente dentro de sua cabeça, mas ela se recusava a acreditar. – Desculpe, o que disse? – perguntou ela em voz fraca. – Eu quero voltar para casa – falou Nik, pronunciando lentamente as sílabas para se certificar de que ela iria entender. – Quero que o nosso casamento volte a dar certo...


Ele realmente enlouquecera, Betsy concluiu atordoada. Na última vez que haviam se encontrado, ela gritara com ele e, agora, de repente e sem aviso, ele lhe dizia que queria voltar e morar com ela novamente. E, pior: ele falava como se aquela decisão tão importante pudesse ser tomada apenas por ele. – Você quer dizer que aquela mudança que está lá fora...? – Ne... Sim. É minha – admitiu Nik, aliviado por ela finalmente ter entendido, sem que ele tivesse que explicar tudo novamente com alguns detalhes embaraçosos. – Não se preocupe. Você não será perturbada. Eu avisei a Edna...


– Você telefonou para a empregada para dizer que iria se mudar de volta e não me disse nada? – perguntou Betsy em tom revoltado, pensando que a chegada da mudança fora menos surpreendente que a chegada dele, mas ele não parecia perceber este detalhe. – Eu liguei há uma hora – confessou Nik, como se isso amenizasse a ofensa. Betsy respirou tão profundamente que chegou a ficar tonta, e olhou para ele, atônita. – Nik... Você não pode simplesmente resolver que quer dar mais uma chance ao nosso casamento sem antes falar comigo – esclareceu ela em voz trêmula, sentindo a pressão emocional se


acumular dentro do seu peito porque não conseguia acreditar no que estava ouvindo. – Eu estou falando com você agora – respondeu Nik calmamente, caminhando na direção da lareira. – Você deveria estar satisfeita. Não era a primeira vez que ele dizia a Betsy como deveria se sentir antes que ela pudesse decidir sozinha. Portanto, não ficou surpresa com a sua evidente falta de consideração. – Nik, você foi embora há oito meses. Agora, esta é a minha casa, o meu lar... Nik se voltou imediatamente com o rosto muito tenso. – Não, não é. O acordo de divórcio ainda não foi assinado. A casa ainda me


pertence. – Ah, então tudo bem – falou Betsy com intenso sarcasmo. – Eu vou fazer as minhas malas, e Gizmo e eu dormiremos no sofá de Belle! Tenho certeza de que ela vai conseguir nos enfiar em algum lugar... – Do que você está falando? – perguntou Nik rispidamente. – Por que você iria embora agora que eu estou de volta? – Nós estamos nos divorciando, Nik – lembrou-o Betsy secamente, imaginando em que planeta ele fora encontrar aquela lógica. – Você não pode simplesmente voltar e se reconciliar comigo sem a minha concordância.


– Eu não quero o divórcio. Nós vamos ter um filho... ou uma filha... e deveríamos criá-lo juntos – disse ele sem rodeios. – Seria o ideal... – falou Betsy debilmente. – Eu não tinha ideia de que você se sentia assim em relação ao bebê. Você jamais quis ter um filho. – Mas agora o bebê se tornou uma realidade inevitável – retrucou Nik. – Nós vamos ser pais, e eu não vou permitir que o meu filho cresça sem mim. Betsy teve medo que suas pernas não conseguissem mais sustentá-la e se deixou cair sobre um sofá, tentando desesperadamente clarear a cabeça que


estava tonta. – Nik? Tudo isso é muito surpreendente, e eu estou extremamente confusa... – Por quê? – perguntou Nik com aparente sinceridade, agachando-se ao lado dela para poder ver-lhe o rosto. – Eu voltei para casa... – Mas essa não é uma decisão que você possa tomar sozinho! – exclamou Betsy, furiosa. – Evidentemente, ela também cabe a mim. Eu sei que é melhor que uma criança, se possível, cresça com os dois pais, mas existe a questão do nosso relacionamento... Nik retorceu os lábios sensuais. – Para começar, não fosse o nosso relacionamento, não existiria uma


criança com quem precisássemos nos preocupar. – Depende da maneira como você olha para a situação. – Betsy ergueu a cabeça e lhe lançou um olhar frustrado. – Vi apenas como sexo e, logo depois, você declarou o mesmo quando disse que é muito comum que os casais que estão passando por um processo de divórcio durmam juntos outra vez. – Eu não deveria ter dito isso. – Nik passou os dedos pelos cabelos enquanto falava. – Mas... Eu estava muito confuso naquele dia. Eu não sabia o que sentia nem o que lhe dizer... Betsy se sentiu estranhamente comovida ao ouvir a inesperada


confissão, mas isso não fez com que ela se calasse. – Não, você simplesmente fugiu... Os olhos verdes de Nik brilharam na defensiva. – Eu não fugi. – Vá por mim... Você fugiu, como se fugisse de um caso de uma noite do qual você se arrependia. Há apenas uma semana, você estava se divorciando de mim. Como pode passar de um extremo a outro e dizer que quer voltar a ser casado comigo? – perguntou ela insegura. Nik levantou e começou a caminhar diante da lareira. Não esperava tantas perguntas e nem a resistência que ela tentava interpor entre eles. Mas, pelo


menos, ela não estava gritando com ele, o que já era um progresso. – É preciso começar por algum lugar... – Mas tudo que mudou foi o fato de eu estar grávida – Betsy observou, tentando ignorar o barulho das portas que se abriam e se fechavam no corredor, o som de vozes e o barulho da mudança, enquanto colocavam os pertences de Nik de volta na casa que antes dividiam. Ela estava traumatizada, mas não queria demonstrar. Não era a primeira vez que o comportamento de Nik a levava a ficar calada. Ele suspendera o divórcio, voltara para ela... Por quê? Ela não entendia. – Não acredito que você se


importe tanto com um filho que nunca desejou. Nik ficou tenso. – Acredite – insistiu ele com firmeza. – Eu também me importo com você e quero estar aqui para apoiá-la e ao bebê agora e no futuro. – É uma incrível reviravolta – falou Betsy, atordoada. – Eu ainda não sei como me sinto em relação a isso. Nik voltou a se agachar ao lado dela e pegou-lhe as mãos. Era um gesto inesperado para um homem que costumava ser tão reservado. – Fique contente. Eu quero voltar para casa, glika mou. Acho que estou lhe pedindo uma segunda chance... Ele estava sendo tão humilde, tão


diferente do homem orgulhoso e totalmente independente que ela conhecia, que Betsy sentiu as lágrimas lhe subirem aos olhos, olhou para ele e o seu olhar ficou preso à beleza de anjo decaído do seu rosto contraído, muito sério. Ela literalmente sentiu a ansiedade com que ele esperava que ela concordasse e percebeu que, para ele, era muito importante. Só um homem complicado como Nik Christakis poderia pensar que era normal voltar a morar com a esposa de quem estava se divorciando sem ao menos conversar com ela antes. Havia algo na sua falta de inteligência emocional que atingia profundamente o coração de Betsy. Nik


era muito inteligente, mas também era completamente desconectado das coisas simples que tinham valor para ela. Ela percebera aquela sua característica incomum na noite em que ele inesperadamente a pedira em casamento. – Eu não sei se serei capaz de confiar em você novamente – disse ela francamente. – Aconteceu tanta coisa... E as outras mulheres... – Eu não dormi com ninguém além de você. Betsy ficou surpresa, até se lembrar que ele caíra sobre ela como um lobo faminto, e foi esta lembrança que a convenceu de que ele estava dizendo a verdade. – Mesmo assim, você foi fotografado


por aí, com várias mulheres... – Mas só fiquei com você – afirmou ele novamente. – Eu só quero ficar com você. Betsy levantou a mão e acariciou o queixo dele, sentindo a aspereza da barba que começava a despontar. Pensou no que estava fazendo e percebeu que o suposto ódio que sentira por Nik servira apenas para preservar o seu orgulho e conseguir sobreviver, porque, quando tentava recorrer a ele para resistir, não conseguia mais encontrá-lo. Ela não odiava Nik: queriao de volta. Isso fazia com que ela se tornasse a mulher mais idiota do mundo? Estaria louca a ponto de pensar em se


reconciliar com um homem que aparecera trazendo um caminhão de mudanças, como se oito meses de separação cheia de reviravoltas amargas durante o processo de divórcio não tivessem existido? – Mas você nunca quis ter um filho... – Betsy se ouviu dizer em tom rouco. – Um filho é uma grande responsabilidade – disse Nik severamente, esquecendo o fato de que era responsável por negócios que constituíam um verdadeiro império e por milhares de empregados espalhados pelo mundo. – As crianças são muito vulneráveis. É por isso que eu nunca desejei assumir a responsabilidade de proteger alguma delas.


Betsy não conseguia entender aquela lógica. Ele parecia estar pensando no tipo de ambiente em que uma criança estaria sujeita a se machucar, mas, como percebia que ele estava falando sério, ela concordou, como se entendesse o que ele estava dizendo. – Foi por isso que fez a vasectomia? – perguntou ela. Nik concordou silenciosamente porque já dera a explicação que tinha preparado de antemão. Bem que ele gostaria de ter encontrado aquela desculpa oito meses antes, porque ela teria poupado muito sofrimento a eles dois. Mas, na época, ainda chocado por Betsy ter descoberto que ele fizera uma


vasectomia, ele pensara que teria que lhe dizer a verdade, e essa era uma opção que ele não podia e jamais poderia contemplar. Betsy observou o rosto magro de Nik, notou as olheiras sob seus olhos, as rugas de tensão em volta da sua boca, e tentou raciocinar com lucidez, mas, inesperadamente, o cansaço e a tensão emocional a atingiram como um trem descontrolado descendo uma montanha. – Eu não posso lhe dar uma resposta agora – falou ela em voz trêmula. – Preciso pensar sobre isso e acho que preciso descansar um pouco... Insatisfeito, Nik enrijeceu o corpo e se afastou enquanto Betsy levantava e, sem ter dado qualquer sinal, revirou os


olhos e caiu, sem emitir um som. Ela desmaiara. Deveria haver algo de muito errado com ela. Apesar de sempre ter se mostrado frio durante qualquer crise, Nik entrou em pânico. Ergueu-a nos braços e carregou-a para o hall, onde encontrou a governanta, Edna, que orientava a equipe de mudança. – Ah, meu Deus, a sra. Christakis desmaiou de novo? – perguntou Edna num tom resignado, aproximando-se. – De novo? Você quer dizer que isso já aconteceu antes? – perguntou Nik consternado. – Algumas mulheres são sujeitas a desmaios no início da gravidez – disse Edna calmamente. – Todos nós


cuidamos dela da melhor maneira possível. Nik pensou em Betsy desmaiando enquanto atravessava uma rua, caindo sob as rodas de um carro. Podia vê-la rolando a escada e quebrando o pescoço. Só de imaginá-la caindo e simplesmente se machucando, ele ficava apavorado. Decidiu que isso não iria acontecer outra vez. Ter um filho poderia matá-la, ele pensou horrorizado. Não podia deixar que ela desmaiasse em qualquer lugar: era perigoso demais, muito arriscado. Ele precisava consultar um médico e levá-la para algum lugar seguro. Quando Betsy retomou a consciência, estava deitada no colo de Nik, dentro de


uma limusine. – Para onde estamos indo? – sussurrou ela, passando a mão na testa, pegajosa por causa do suor frio. – Aconteceu outra vez, não foi? Às vezes, eu levanto muito rápido e desmaio. Sinto muito se o assustei. Eu só estou muito cansada... – Estou levando você para ver um médico... – Isso não é necessário... – Quando você está doente, eu decido o que é necessário. – Mas eu não estou doente. Estou apenas grávida – argumentou Betsy calmamente, percebendo que ele estava preocupado e estressado. Nik não


gostava de imprevistos. Era por isso que ela sabia que cada peça de mobília que ele trouxera na mudança estaria no mesmo lugar que ocupara havia oito meses: ele tinha mania de ordem e de organização. No passado, isso a irritara porque ela gostava de mexer nos móveis, trocando-os de lugar, mas, depois, admitira que cada um tem suas manias e idiossincrasias. – Acho que você precisa de repouso – declarou Nik. Ela estava com o nariz quase colado à camisa dele, e o perfume da sua pele lhe era tão familiar que seus olhos se enchiam de lágrimas. Betsy agarrou a lapela do paletó de Nik e fechou os olhos. Ela o amava, mas isso não queria


dizer que poderia voltar a viver com ele ou criar o filho com ele. Isso seria voltar a ser uma viúva que perdera o marido para os negócios, porque ele sempre estava viajando e nunca estava presente quando ela mais precisava. Seria solitário e penoso, porque ele jamais conseguiria perceber o quanto ela sentiria a sua falta. Ele mal veria o filho, que teria dificuldades para reconhecê-lo depois que ele tivesse ficado fora durante semanas. Ter um pai de meio-expediente seria melhor que não ter pai? Ela voltou a despertar por causa do barulho de vozes e de estranhos sinais eletrônicos.


– Betsy, diga a eles que você sabe para onde estamos indo – pediu Nik, virando o rosto dela na direção das luzes terrivelmente fortes, que fizeram com que ela voltasse a fechar os olhos. – Claro que sei – balbuciou ela, pensando que diria qualquer coisa para que a deixassem em paz. – A minha esposa não está se sentindo bem – disse Nik num tom irritado, que acentuava o seu sotaque grego, enquanto apertava os braços em volta dela. A cabeça de Betsy latejava, e ela voltou a sentir o cansaço que parecia cair sobre ela como uma neblina espessa, porque fazia várias semanas que ela não tinha uma noite de sono


decente. Ela reprimiu os pensamentos angustiantes que insistiam em martelar dentro de sua cabeça: pensaria nos problemas do casamento e em Nik outro dia, quando estivesse com o raciocínio mais claro...

BETSY SEremexeu sobre o colchão confortável, soltou um longo suspiro e abriu os olhos. O quarto estava na obscuridade, e ela ouvia um zumbido intermitente, vindo de algum lugar. – Que barulho é esse? – balbuciou ela sonolentamente. – Volte a dormir... Já é tarde – falou Nik ao pé da cama. – Eu não deveria ter entrado, mas quis ver como você estava.


Sinto muito se a acordei. Betsy se lembrou do que acontecera antes, ficou tensa e deu uma olhada no que conseguia ver do pequeno quarto. Presumiu que deveria estar no quarto de hóspedes do apartamento de Nik, em Londres. Onde mais ele a levaria para consultar um médico? E por que ela não protestara? Porque discutir com Nik nunca adiantara. Quando ele se convencia de que estava fazendo o que era melhor para ela, jamais mudava de ideia. – Por que você veio ver como eu estava? – perguntou ela. Barbado, com os cabelos negros despenteados, sem paletó e sem gravata,


Nik estava parado ao pé da cama como um enorme edifício de vinte andares. – Você desmaiou – falou ele num tom quase de acusação. – Isso não é normal. – Eu tive um desmaio bobo, mais embaraçoso que sério – falou Betsy sonolenta, percebendo que, por algum motivo, a presença dele era reconfortante. – Você parece estar extremamente cansada... – Ultimamente eu não tenho dormido bem – admitiu ela antes de conseguir avaliar o que a sua confissão revelava. – Nos primeiros meses de gravidez, o cansaço é normal. – Amanhã o médico vai nos dizer o que é normal e o que é motivo de


preocupação. – Você não costuma ser tão cuidadoso com algo tão trivial... – O seu estado de saúde não é trivial. Ele parecia tão sério que o rosto de Betsy se iluminou com um sorriso divertido antes que ela voltasse a fechar os olhos. Betsy acordou com a claridade que entrava pela vigia que havia na janela e ficou confusa. Levantou da cama bem devagar e, mesmo antes de chegar à janela e ver as nuvens, percebeu que estava a bordo de um avião. As luzes que a haviam cegado na noite anterior e as perguntas que Nik respondera com irritação deveriam ter vindo da


segurança do aeroporto. Como posso ser tão estúpida?, perguntou-se desanimada. Por que estou num avião? Por que ele me fez entrar num avião sem me informar? Aliás, como poderia saber por que Nik estava fazendo isso? As roupas que ela usara no dia anterior estavam no armário, mas ela ficou aliviada ao ver que haviam embalado vários itens do seu guardaroupa e mandado com ela. Betsy pegou roupas de baixo limpas e correu para o banheiro. O fato de encontrar ali seus artigos de higiene e de maquiagem não serviu para amolecê-la. Ela se sentia como Alice no país das maravilhas, só que, em vez de ter caído, Nik a empurrara para dentro da toca do


coelho. O azul do céu que ela via pela janela fez com que ela escolhesse uma saia leve florida e uma camiseta entre as roupas que estavam à sua disposição. Quando estava pronta, se dirigiu à cabine principal com um brilho beligerante nos olhos. Nik estava trabalhando no laptop como se estivesse no seu escritório. Ele ergueu os olhos verdes emoldurados por espessos cílios. – Eu ouvi você levantar. O café da manhã logo será servido. – Onde estamos? – Daqui a trinta minutos estaremos aterrissando em Atenas... – Atenas? – exclamou Betsy.


– Eu lhe disse que a levaria ao médico. Mikis Xenophon é a maior autoridade do mundo em matéria de obstetrícia – falou ela com evidente satisfação. – Você tem uma consulta com ela esta manhã. – Não me importa quem ele é! – retrucou Betsy com impaciência. – Eu estava disposta a procurar um médico, mas não a voar até a Grécia para encontrá-lo! – Xenophon é o melhor. Eu quero que você tenha o melhor – declarou Nik com teimosia. – Os exames que ele faz são de primeira classe, e os pacientes dizem maravilhas sobre ele... – Mas me trazer para a Grécia sem


me consultar... – Betsy começou a falar num tom uma oitava acima do seu tom normal. – Você estava dormindo profundamente. Deveria estar precisando muito de um descanso. Resolvi não perturbá-la – justificou-se concisamente. Naquele momento, alguém bateu na porta da cabine. O café da manhã que ele mandara trazer chegara. Betsy suspirou ruidosamente e sentou. Não jantara na noite anterior e estava morrendo de fome. Nik fizera de novo: assumira o controle, passara por cima de seus desejos e suas escolhas com um rolo compressor, como se só ele soubesse o que era melhor. A única vez


que ele a deixara resolver alguma coisa fora quando concordara que, se quisesse, ela deveria tentar engravidar. Evidentemente, esse gesto fora seguro, porque ele sabia que a vasectomia que fizera eliminava qualquer possibilidade de ela engravidar. – Por que você concordou em me deixar tentar engravidar no ano passado? – Betsy se ouviu perguntando abruptamente. – Quer dizer, você sabia que isso não iria acontecer. Por que concordou? Despreparado para a pergunta, Nik se limitou a olhar para ela fixamente. – Para deixá-la satisfeita. Eu... Incorretamente e, talvez, estupidamente,


achei que você mudaria de ideia outra vez... Afinal, quando nos casamos, você não queria ter filhos, e eu nunca pensei que isso mudaria. – Infelizmente, as pessoas mudam. Eu achava que não iria querer ter filhos porque os meus pais jamais me quiseram realmente. Isso me causava repulsa. Também passei muito tempo da minha adolescência cuidando das crianças menores do lar adotivo e, para mim, elas representavam uma responsabilidade esgotante, que acabava com a minha liberdade – explicou Betsy num tom arrependido. – Sinceramente, nunca pensei que iria querer ter um filho, mas eu era muito jovem quando tomei essa decisão e lhe disse isso.


Nik concordou desanimado. – Eu concordo com você. Então, o que mudou? Ela endureceu o rosto. – Você estava sempre viajando a negócios. Eu ficava entediada, sozinha, e um dia acordei pensando que um filho seria a melhor coisa que poderia acontecer na minha vida, que tudo iria melhorar com a presença de uma criança. – Mas você se tornou obcecada pelo desejo de ter um filho. – Nik suspirou. – Sinto muito que eu não tenha entendido a importância de ter um filho para você, que era um desejo tão emocional quanto físico.


Betsy partiu o croissant em dezenas de pedacinhos e passou manteiga em cada um enquanto resolvia que nada menos que a sinceridade seria suficiente. – Sim, eu estava obcecada – concordou ela, pensando nas vitaminas que tomara, nas tabelas de temperatura para controlar o seu período de ovulação, na acupuntura e na ioga, no seu estado de espírito e no puro desespero que a convencera de que faria absolutamente qualquer coisa para engravidar. Nik não esperava que ela admitisse. – Eu me sentia excluído e extremamente desconfortável porque


sabia que, por mais que você fizesse, seria inútil. – Claro – concordou Betsy, satisfeita por saber que ele se sentira culpado, ainda que não tivesse usado a palavra certa para definir seu sentimento. – Pensei que você fosse desistir e que eventualmente esqueceria – admitiu ele com o que poderia ter parecido ingenuidade, se o assunto não fosse tão doloroso. – Não: quando não se pode ter uma coisa, ela passa a ser mais desejada – murmurou Betsy, entristecida. E agora ela finalmente tinha o que desejava, estava chegando à Grécia e Nik retornara à sua vida. Era isso que ela queria? Betsy ficou desanimada


porque não sabia mais. Olhou para ele com um olhar perturbado, observando o seu perfil moreno, a curva do seu nariz perfeito e a curva sensual de sua boca. Sentindo que ela olhava para ele, Nik se voltou para ela, fitando-a com os olhos verdes brilhantes, emoldurados pelas grossas pestanas. Ela imediatamente sentiu a boca ficar seca e o coração palpitar. Era apenas o seu corpo reagindo, não sua cabeça, Betsy pensou envergonhada. Infelizmente, como acontecia havia semanas, sua cabeça começava a rodar em círculos cada vez menores, e ela não conseguia chegar a uma conclusão definitiva. O que ela queria? Poderia


perdoå-lo? Ele estava sendo sincero? Como ele pudera simplesmente deixå-la e, depois, voltar? Ele realmente se importava com o filho? E quanto a ela? Às suas necessidades? Suas vontades? Sua felicidade?


Capítulo 7

O

DR. XENOPHONcruzou as mãos e

observou a paciente ansiosa e seu marido ainda mais ansioso. Fizera uma bateria de exames específicos e chegara a conclusões que eram óbvias. – A senhora está muito estressada, sra. Christakis – disse ele a Betsy amavelmente. – Apesar de aparentemente ainda não ter percebido, a senhora terá gêmeos. A gravidez de gêmeos exige maiores cuidados...


– Ela está estressada? – perguntou Nik como se o termo lhe fosse estranho. – Vocês dois estão estressados – disse o médico calmamente. – Não cabe a mim saber por que, mas, em benefício da saúde da sua esposa, vocês dois precisam encontrar um jeito de reduzir o estresse. Betsy por fim conseguiu desgrudar a língua do céu da boca. – Eu estou esperando... gêmeos? – Betsy conseguiu perguntar, só para esclarecer. – O meu avô tinha um gêmeo – informou Nik num tom de quem pedia desculpas por ter mantido um segredo. Não um, mas dois filhos, Betsy


pensou atordoada. Nik deveria estar apavorado com a perspectiva de ser brindado com o que, para ele, deveria ser uma horda de bebês. – Neste momento, a sra. Christakis não está em condições adequadas para uma gravidez de gêmeos, que exigirá muito mais do seu corpo – disse o dr. Xenophon, dirigindo sua atenção para Betsy. – Até mesmo para a sua constituição delicada, o seu peso está muito baixo. Você está anêmica. Evidentemente, não tem se alimentado o suficiente para uma gestante que precisa de toda a sua força. A sua pressão também não está boa. Não está ruim, mas não é o que deveria estar. Felizmente, com o tratamento adequado,


todos esses problemas são facilmente corrigidos. Provavelmente o estresse está causando o aumento da sua pressão. Você precisa encontrar um jeito de lidar com ele. Isso implica em muito repouso e exercícios moderados. A possibilidade de um parto prematuro é maior no caso de gêmeos. Vocês dois devem fazer com que a saúde da futuramamãe esteja no topo das suas prioridades. Enquanto escutava, Nik gradativamente ia perdendo sua cor natural. Estava começando a perceber que a gravidez podia ser seriamente perigosa para a saúde de uma mulher. A simples ideia de que algo pudesse


acontecer com Betsy lhe causava um nó no estômago. Ele engoliu em seco. – Faremos tudo que for possível para melhorar o estado de saúde de Betsy. – Gêmeos – repetiu Betsy, ainda em estado de choque, enquanto eles atravessavam a calçada para entrar na limusine que os esperava. – Eu vi a enfermeira apontando para alguma coisa durante a ultrassonografia, mas não entendi o que ela estava dizendo. Você entendeu? – Eu não estava olhando para a tela nem escutando. Estava olhando para você. Você parecia estar muito preocupada... – Nunca pensei... Gêmeos! Quer dizer, o meu corpo quase não mudou.


Saber que havia duas crianças disputando espaço dentro do corpo frágil e pequenino de Betsy deixava Nik se sentindo culpado e apavorado. Se ele tivesse sido mais cuidadoso, se tivesse usado preservativo, se tivesse contido seu desejo por ela, nada daquilo estaria acontecendo, ele admitiu irritado. Mas, se ela não tivesse engravidado, ele a teria tido de volta? Ele achava que não. Estranhamente, assim que ele reconheceu este fato, todos os seus arrependimentos desapareceram. Quando eles estavam entrando no aeroporto, a esposa de Cristo, Belle, telefonou. – Onde você tem andado?


– Grécia. Nik me trouxe a Atenas para ter uma consulta com um obstetra. – Como sempre... – debochou Belle depois de fazer uma pausa causada pelo choque. – Quando você volta para casa? Betsy perguntou a Nik. Ele abaixou os olhos. – Eu não pretendia voltar imediatamente – confessou ele. – Depois do que o médico disse, pensei que seria mais aconselhável passarmos uma semana aqui para descansar e relaxar... O que você acha? Considerando o lado dominador de Nik, o acréscimo da pergunta ”o que você acha?“ era uma grande novidade. – Eu ligo para você depois – disse


Betsy à cunhada enquanto sentava ao lado do marido, na sala VIP do aeroporto. – Para onde você pretende me levar? – Para a ilha de Vesos, onde passei a infância na casa do meu avô. Como Betsy nada sabia sobre a infância de Nik, nem mesmo daquele pequeno detalhe, e como não estava mais furiosa com ele, ela resolveu que não poderia perder a chance de conhecer a ilha. Conhecendo Nik como ela conhecia, sabia que ele estava seriamente preocupado com o seu estado físico e, além disso, as recomendações sérias do médico tinham feito com que ela se sentisse culpada e alarmada. Com certeza, ela descuidara de si mesma e da


gravidez muito mais do que poderia imaginar. Sabendo disso, ela se sentia abatida. Afinal, passara tanto tempo desejando ter um filho, fora abençoada com dois, e o seu corpo não estava funcionando como deveria porque ela se estressara e se exaurira, pulara refeições e passara várias noites em claro. Agora estava sendo castigada, e a última coisa que queria era discutir com Nik. Na verdade, ela estava disposta a fazer qualquer coisa para que a sua pressão voltasse ao normal e para que o seu estado de saúde melhorasse, de modo a que pudesse levar a gestação dos gêmeos a termo com toda a segurança.


– Como Alice irá se virar sem mim? – resmungou Betsy. – Recebemos mercadorias todos os dias... – Eu já disse a ela para contratar funcionários temporários para ajudarem durante a sua ausência. – Você pensa em tudo... – Não, não penso. Se pensasse, não estaríamos nessa situação. Xenophon estava certo. Nós dois estamos extremamente estressados. O divórcio, a gravidez inesperada, as discussões constantes – falou Nik num tom de arrependimento. – Como não estaríamos estressados? – Eu vou ficar muito mais sensível – garantiu Betsy.


– Em vez de discutir, farei o possível para apoiá-la, glika mou.

NIK DESCEUdo helicóptero carregando Betsy como se ela fosse de cristal. Ela abafou um suspiro frustrado. Podia ser agradável ver Nik se mostrando tão consciente, mas ela sabia que grande parte dos problemas que estava enfrentando poderia ser atribuída ao fato de ela ter teimado em não mudar o seu esquema. Não estivera se sentindo bem, mas continuara a se esforçar para manter a mesma carga de trabalho, recusandose a reconhecer que o seu estado exigiria mudanças na rotina usual.


Afinal, ela sabia que muitas mulheres trabalhavam durante a gravidez e presumira que, no seu caso, não seria diferente, mas talvez devesse ter procurado um médico quando começara a desmaiar e percebera que estava sempre se sentindo mal. Nik colocou-a no chão, debaixo de alguns pinheiros. Ela inalou o ar com cheiro de sal e suspirou de satisfação, olhando a faixa de vegetação que descia até a areia banhada pelas ondas. – É lindo. Onde vamos ficar? – Eu construí uma casa aqui. – Construiu? Pensei que você tinha herdado a casa do seu avô – disse ela surpresa. Nik ficou tenso e abaixou os olhos.


– Apesar de ela achar que a vida na ilha é muito calma para o seu gosto e raramente vir aqui, eu passei a propriedade para o nome da minha mãe. Quando estávamos chegando, sobrevoamos a casa. É aquela enorme monstruosidade de mármore no topo dos rochedos. Você não viu? – Sim, a Villa com uma grande área reservada para a piscina? Nik contraiu os lábios, endureceu o queixo e concordou, pousando a mão nas costas de Betsy e levando-a por entre as árvores. – O almoço deve estar à nossa espera. Quero que você coma e vá direto para a cama.


– Eu não sou uma inválida. Sabe, você nunca mencionou que tinha uma casa na Grécia – lembrou Betsy enquanto saíam do bosque e se deparavam com uma casa ultramoderna e graciosa, cercada por jardins gloriosamente coloridos. – Principalmente uma casa tão bonita. Por que não sugeriu que passássemos a nossa lua de mel aqui? Nik trincou os dentes perfeitamente brancos e relutou em confessar que as lembranças da sua vida na ilha o tinham perseguido durante anos. – Eu construí a casa apenas como um investimento e pretendia vendê-la depois, mas nunca tive ocasião. Para ser


sincero, eu saí daqui quando fui mandado para um internato e, depois que o meu avô morreu, nunca tive um bom motivo para voltar à ilha. – Você está querendo dizer que não tem ligações sentimentais com esse lugar? – adivinhou ela, percebendo que ele contraía os dedos sobre suas costas e ficava constrangido com a torrente de perguntas. Ela se perguntou qual seria o motivo. Mas aquele era Nik, um homem encantadoramente complicado, cheio de mistérios, que nunca fazia o que se esperava e que nunca fornecia informações gratuitas. Sempre fora assim, e ela aprendera a conviver com aquele muro de reserva. Quando os dois haviam se casado, ela


estava encantada com ele e com os seus sucessos e não conseguia entender por que um homem tão bonito, inteligente e rico havia escolhido se casar com uma simples garçonete, quando poderia se casar com alguma socialite rica. Por isso ela nunca se achara no direito de reclamar por ele deixá-la sozinha por tanto tempo. Todo paraíso tem espinhos, ela pensara, tentado ser prática e sabendo que muitas mulheres ficariam contentes apenas por ter uma bela casa e um cartão de crédito à sua disposição. Mas amá-lo cegamente deixara Betsy mais sequiosa pelo tempo e pela atenção do marido. Infelizmente, ela não achava que


qualquer ser humano seria capaz de despertar o mesmo interesse que Nik tinha pelos negócios e desejar mais dele seria como desejar ter a lua. Por infelicidade, fora a incapacidade de Nik lhe dedicar mais tempo que a lembrara dos anos que passara no lar adotivo, onde nunca fora a prioridade de alguém e onde suas necessidades sempre vinham em segundo lugar. Nik a isolara em Lavender Hall, assim como ela tinha ficado isolada em uma série de lares adotivos, onde não tinha elos com as outras crianças e não recebia afeto dos pais emprestados. Naquela época, ela se perguntara se seria incapaz de ser amada. Eles entraram num hall fresco,


decorado com belas plantas, e foram recebidos por uma governanta de meiaidade, chamada Stephania. Nik parou ao pé da escada e pegou Betsy no colo, ignorando seus protestos. – Nada de escadas – falou ele secamente. – Se você ficar tonta no momento errado, pode sofrer um sério acidente. – Você sempre pensa no pior, Nik – censurou Betsy, admirada com o nível de pessimismo do marido e observando o tamanho surpreendente dos seus cílios: para ter cílios semelhantes, ela precisaria usar postiços. Era um desperdício, pensou Betsy, porque Nik era o homem menos vaidoso que ela já


conhecera. – Não: só estou tomando precauções razoáveis em seu benefício – respondeu ele, chegando ao segundo andar sem ter perdido um pingo do seu fôlego. Mas, depois dos comentários que o médico fizera, Betsy achava que, para um homem forte, não deveria ser muito difícil carregá-la. O quarto de dormir era enorme e decorado com móveis de carvalho, paredes de pedra e cortinas esvoaçantes nas janelas, que estavam abertas. Nik colocou-a em cima de uma cama muito larga e coberta por uma colcha suntuosa. Deliciada, Betsy pousou a cabeça no travesseiro com fronha de linho. – Este lugar me lembra um hotel cinco


estrelas. Enquanto Nik lhe tirava os sapatos, ouviu-se uma batida na porta e uma empregada entrou, trazendo uma bandeja. Betsy se ergueu, ajeitou os travesseiros e sentou. Nik pegou a bandeja, entregou-lhe um garfo e sentou ao lado dela, na beirada da cama. – Coma antes de dormir – insistiu ele. Era um frango a caçarola que estava muito gostoso, mas, o fato de ele ter falado em dormir, despertou o interesse de Betsy. – Eu estava pensando – falou ela impulsivamente, colocando a curiosidade acima do tato, por se tratar de um assunto que sempre fora delicado.


– Você ainda tem os pesadelos que costumava ter? Nik ficou claramente na defensiva e abaixou os olhos. – Não. Aparentemente, foi apenas uma fase. Eu estava trabalhando muito no ano passado e não me permitia tirar um tempo para descansar – falou ele com fingida indiferença. – Você nunca iria me contar sobre o que eram os seus pesadelos... – disse ela, não conseguindo resistir a lembrálo. Nik sacudiu o ombro com um desprezo proposital. – Contar a você seria lhes dar uma importância que eles não tinham e fixálos ainda mais profundamente na minha


cabeça – disse ele à guisa de explicação. – Sempre preferi não dar atenção a acontecimentos negativos. Ele tirara a gravata e o paletó. Seus músculos firmes se esticaram por baixo da seda da camisa quando ele pegou a bandeja, depois que ela acabara de comer, e colocou-a de lado. Ele pegou na mão dela. – Agora, você vai dormir. Enquanto ela olhava para ele com os olhos azuis pensativos, Nik acariciava a mão de Betsy, apertava-a e beijava-a. Ela sentiu que as batidas do seu coração ecoavam no silêncio e ficou toda arrepiada enquanto começava a sentir o desejo, que só ele lhe provocava, latejar


na sua pélvis. Betsy sentiu que a sua respiração ficava ofegante e concluiu que não adiantava: a sensualidade torturante de Nik acabava com suas defesas como se fosse um exército invasor. Subitamente, ela queria que ele a beijasse, queria sentir suas mãos sobre o seu corpo... E muito mais. Betsy ficou muito corada e sentiu que seus mamilos se comprimiam contra o tecido do vestido enquanto ela comprimia as coxas para amenizar a ânsia que ele lhe provocara. – Mais tarde – disse ele em voz rouca, de maneira enfática, com a excitação brilhando nos olhos e escrita em todo o seu rosto. – Se você dormir agora, mais tarde eu vou me banquetear


com você... Betsy ficou assustada com a sugestão. – Mas... Não podemos... Nik calou-a, colocando o dedo sobre seus lábios. – Agora a única coisa que importa é que você fique mais forte e mais saudável. Você não precisa fazer grandes escolhas enquanto estivermos aqui – garantiu ele enfaticamente. Betsy arregalou os olhos. – Fazer sexo não é uma grande escolha? Como resposta, Nik deu um sorriso malicioso que serviu para acentuar tanto o seu carisma que ela mal teria notado se o teto tivesse caído.


– Não quando somos casados e você já está grávida. O que poderia acontecer de pior? Que você se divertisse? Ela sentiu o calor no rosto aumentar e desviou o olhar para se proteger, sentindo vergonha da própria suscetibilidade. Sempre se deliciara com ele na cama. Desde a primeira até a última vez, fazer sexo com Nik tinha sido um passaporte para a entrada em um mundo extremamente sedutor de sensações físicas eufóricas. Nik segurou-a pelo tornozelo, subiu a mão e acariciou a batata de sua perna. Ela sentiu o tremor se espalhar pelo corpo e voltou a olhar para o belo rosto anguloso de Nik. Na tentativa de se


defender, ela fechou os olhos, mas já era tarde: a chama explosiva de desejo que ela vira nos olhos dele ficara gravada em suas retinas. Ele a desejava tanto quanto ela o desejava. Saber disso acalmava o orgulho ferido de Betsy, mas de nada adiantava para acalmar as pontadas de desejo que ela sentia na parte inferior do corpo. – Deixe-me... – Nik se inclinou sobre ela para abrir o zíper do seu vestido e, sem nenhuma hesitação, segurou-o pela barra, levantou-o e tirou-o pela sua cabeça. – O que está fazendo? – Betsy cobriu os seios nus com as mãos. – Colocando-a para dormir. – Nik enfiou a mão por debaixo do quadril de


Betsy, puxou as cobertas e fez com que ela se deitasse sobre o lençol frio. – Esqueça a modéstia. Deixe-me apreciar a vista... Com o coração batendo acelerado e sentindo-se tola por se cobrir àquela altura, Betsy afastou as mãos dos seios. Afinal, eles eram casados. E ele lhe dissera que poderiam fazer sexo, sem que ele presumisse que isso significava que tivessem se reconciliado. Ela seria capaz de ter a mesma visão fria e racional? Todas as suas emoções se rebelavam contra tal ideia, mas, ao mesmo tempo, ela não estava preparada para lhe dar uma resposta definitiva em relação à sua crença ou não de que


poderiam reconstruir o casamento. – Você já era linda, mas agora há mais de você para apreciar, yineka mou – sussurrou Nik roucamente, apreciando o contorno arredondado de seus pequenos seios, antes de abaixar a cabeça e lamber um de seus mamilos cor-de-rosa enquanto passava os dedos cuidadosamente em volta do seu seio avolumado. – Estou fazendo isso para agradá-la, e não a mim. Quero que você relaxe. Betsy sentiu a respiração ficar presa em sua garganta ressecada. Deixou-se cair sobre os travesseiros, sentindo-se enfraquecida de desejo e mais que disposta a deixar que ele fizesse o que quisesse com o seu corpo traiçoeiro.


Mas estava longe de se sentir relaxada. Ele acariciava seus mamilos usando toda a habilidade que possuía para despertar a sua carne sensível. Ela sentiu o calor aumentar no meio de suas coxas trêmulas e começou a erguer e descer os quadris, numa ânsia incontrolável. Nik tirou-lhe a calcinha e correu lentamente a mão por suas pernas, separando-as. Com os olhos grudados nos dela, ele soltou um gemido de satisfação assim que seus dedos entraram em contato com a umidade que havia entre as coxas de Betsy. Nik a abraçou, cobrindo-a com o calor do seu corpo e beijando-a, enfiando a língua em sua boca e


provocando-lhe um desejo que subia mais que fogos de artifício explodindo no céu. Betsy agarrou-o pelos ombros e, depois, pelos cabelos. Ele era especialista em beijos sensuais. Enquanto mantinha seus lábios ocupados, ele continuava a passar as mãos pelo seu corpo, até que afastou os lábios da sua boca, puxou-a contra o corpo e gentilmente tocou o vértice de suas coxas. Entre uma batida e outra do coração, Betsy sentiu que o seu corpo se tornava um feixe de nervos e começava a estremecer e a se remexer, reagindo à carícia de Nik. Sua respiração saía aos soluços e gemidos. Sentia a ereção de Nik contra seus quadris, mesmo por


debaixo da barreira formada pelas calças que ele usava. – Faça amor comigo – pediu ela, desesperada. – Mais tarde – murmurou Nik com a voz rouca, colocando a boca em sua garganta, lambendo e mordiscando o seu pescoço e estimulando ainda mais a excitação que ela sentia atormentar-lhe o corpo. – Quero que você chegue lá para mim... Ela sentiu a aspereza da sua barba contra o rosto enquanto ele a acariciava habilmente. E, de repente, não havia nada que ela pudesse fazer porque o seu corpo corria sozinho para a linha de chegada. O fogo líquido parecia atingi-


la como uma onda, o seu ventre se contraiu e estremeceu numa explosão de prazer quase insuportável enquanto espasmos seguidos por outros espasmos faziam com que ela atingisse o êxtase. Nik colocou-a de volta sobre os travesseiros com todo o cuidado. – Agora durma – disse ele. O rosto de Betsy estava quente o suficiente para fritar um ovo. Ela não abriu os olhos enquanto ele cobria o seu corpo suado e quente com o lençol fresco. Estava cheia de vergonha por ter sucumbido à tentação e ao prazer que ele lhe oferecera. Mais uma vez, pisara nos valores que ela mais prezava. Mas ela sempre não fizera isso para manter Nik na sua vida? Casara-se com um


homem que não a amava e, a partir daquele momento, cedera em tudo. Se eles se reconciliassem para criar o filho, ela nunca teria a segurança de se saber amada e precisaria conviver com o fato de que apenas a sua gravidez o fizera voltar para ela. E aquela verdade seria venenosa, Betsy reconheceu dolorosamente, porque iria brotar dentro dela e crescer como o feijão mágico de Jack, acabando com a sua autoestima. Mas, se a única alternativa fosse ficar separada e continuar com o processo de divórcio, seria mais fácil? Com a sua gravidez, eles jamais poderiam ter uma completa separação. Ela conseguiria viver com


Nik sempre na periferia da sua vida, como pai de seu filho? Ficar indiferente quando ele arranjasse outra mulher com quem dividir sua vida? A resposta a esta última pergunta a fez sofrer. Ela entreabriu os olhos e deu uma olhada angustiada para o perfil de Nik, sentindo-se insegura. Por um instante, ela teve uma vontade quase incontrolável de sentir os braços dele em torno do seu corpo. Mais tarde, ela se lembrou, deixando-se envolver pela bolha de calor que lhe aquecia as pernas ao pensar no que essas palavras prometiam. Ela passara a só se sentir segura quando ele demonstrava desejar o seu corpo?


Capítulo 8

NA MANHÃseguinte, durante o café da manhã servido no terraço ensolarado, Betsy apreciava o rosto moreno e severo, porém carismático de Nik, e sentia o ventre se arrepiar. Ao mesmo tempo, ela imaginava por que ele não fora se juntar a ela na cama, na noite passada. Presumia que, ao vê-la dormir tão profundamente e por tanto tempo, ele concluíra que a sua necessidade de descanso fosse mais importante.


– O que você gostaria de fazer hoje? – perguntou ele num tom indolente. – Evidentemente, quero conhecer o lugar onde você cresceu... Aliás, quero conhecer todos os lugares que estejam associados à sua infância – disse ela com entusiasmo. Seriamente perturbado com a declaração bem-humorada, Nik ficou paralisado, mas logo disfarçou sua reação, forçando-se a sorrir enquanto examinava o rosto alegre e relaxado de Betsy. Não, ela não desconfiava de que acabara de soltar uma bomba. Afinal, Vesos era o lugar onde ele crescera. Era perfeitamente normal que ela esperasse que, por ele tê-la trazido até ali, estaria


disposto a lhe contar experiências da sua infância. Quando Nik admitiu isso, amaldiçoou a decisão de vir para ilha. Por que não alugara uma casa em outro lugar? Por eles já estarem na Grécia, Vesos lhe parecera a escolha mais lógica, mas também era o último lugar que ele gostaria de ver novamente, ele pensou mal-humorado. Levantando-se com menos elegância que o habitual, ele ficou olhando as árvores que desciam até o mar, tentando controlar as fortes emoções que ameaçavam atingi-lo como um furacão. Seus ombros e suas costas estavam rígidos por causa da tensão. O erro foi meu, ele reconheceu amargamente. O que poderia fazer para satisfazer a


curiosidade natural de Betsy? Por que não satisfazê-la, já que agora era um adulto e não mais um menino assustado e fraco? Betsy queria visualizar cenários acolhedores, e ele lhe daria imagens acolhedoras e belas, não a terrível e penosa verdade. – Esta foi a sua primeira escola? – perguntou Betsy uma hora mais tarde, observando, fascinada, a casinha de tijolos perto do porto, e as crianças que brincavam no jardim. Nik concordou com a cabeça e conteve um estremecimento. Pensou no dia que a professora tinha lhe perguntado a respeito dos hematomas e nas mentiras que se vira forçado a


contar para esconder o que acontecia com ele em sua própria casa. O período na escola fora difícil, não em termos acadêmicos, mas pela percepção gradual de que outras crianças não pareciam sofrer os mesmo abusos que ele sofria. Para ele, fazer amigos fora um desafio porque ele era discriminado por causa da fortuna da sua família. E brincar fora um desafio ainda maior, porque ele não sabia como brincar. – Eu gostaria que fôssemos ver a casa de seu avô – disse Betsy. Não, não, não, Nik pensou, sentindose nauseado com essa perspectiva. – Mas eu sei que agora a casa é da sua mãe – acrescentou Betsy com ar resignado. – Nós não podíamos apenas


passar por lá? Nik cedeu de bom grado à sugestão menos ameaçadora e pegou a estrada ao longo da costa, que levava aos rochedos. – Você brincava nessa praia? – Nunca me permitiam sair do terreno da casa do meu avô, a não ser que fosse acompanhado por um adulto – disse Nik com ironia, esforçando-se para encontrar alguma lembrança alegre da sua infância, que satisfizesse o desejo que Betsy tinha de saber mais, mas ele não conseguiu descobrir nenhuma. Betsy deu uma olhada na casa através das altas grades de ferro do portão, enquanto Nik olhava pela janela do


carro, sem virar a cabeça, com as mãos apertando o volante do carro esporte. – Esse lugar é enorme – comentou Betsy, olhando para ele e se perguntando por que ele estaria tão quieto e tão... Ela não conseguiu encontrar uma palavra adequada para rotular a atitude de Nik – Em que parte dele você morava? – Na ala mais distante do portão – falou Nik com indiferença. – Era um espaço independente. A minha mãe fazia questão de ter privacidade. – Você foi feliz aqui? – perguntou Betsy amavelmente. – Claro que fui – mentiu Nik.

– QUANDO IREMOS embora? – perguntou


Betsy casualmente durante o jantar, quase uma semana mais tarde. Nik franziu a testa e olhou para ela com um brilho de curiosidade nos olhos verdes. – Por que iríamos embora? Betsy ficou surpresa. – Porque precisamos voltar para ir à festa de aniversário de Belle, na sextafeira à noite – explicou ela. – Eu não vejo por quê – retrucou Nik, envolvendo lentamente os dedos na taça de vinho. – Em vez de irmos, poderíamos lhe mandar um presente especial... – Não. Eu quero ir à festa. Sempre pensei que voltaríamos a tempo para ir.


Nik deu de ombros e olhou para ela satisfeito. Apesar do pouco tempo que haviam passado na ilha, Betsy florescera. Sua pele adquirira uma coloração levemente dourada, seus olhos não estavam mais sombrios. O seu rosto estava mais cheio, mais relaxado, porque a tensão anterior tinha sido remediada por uma boa dieta alimentar, repouso vespertino e seções regulares de natação. Quando o médico local medira a sua pressão no dia anterior, o resultado voltara ao normal, e Nik acreditara que a sua decisão de ficar em Vesos tinha sido justificada. Ali, na ilha, Betsy não tinha nada a fazer além de levantar da cama de manhã. Descansar e


relaxar eram tudo que ela precisava para recuperar as forças. – Nunca me ocorreu que você fosse querer ir à festa de Belle – admitiu Nik com indiferença. – Você está se dando tão bem aqui que eu acho que deveríamos ficar pelo menos por mais uma semana. Betsy ficou na defensiva. – Não. Eu não posso fazer isso... – Claro que pode – disse Nik num tom de quem encerrava a conversa. – Belle vai entender que a sua saúde deve estar em primeiro lugar... – Pelo amor de Deus, não há mais nada de errado comigo! – protestou Betsy, apoiando firmemente as mãos na mesa e se levantando, enquanto


empurrava a cadeira para trás. – Eu estou me sentindo muito melhor, e você sabe disso! Nik desdobrou todo o seu corpo esbelto e muito alto ao levantar, do outro lado da mesa, com uma elegância que parecia zombar dos movimentos impacientes e irritados que ela fizera. – Eu não compreendo por que você está tão aborrecida... – Claro que não compreende. Você está acostumado a me ver fazer tudo que você quer! – Betsy o censurou, irritada com ele e consigo mesma por ter escolhido o caminho da menor resistência nos últimos dias. Durante quase uma semana, ela fora


extremamente sensata e seguira todos os conselhos do dr. Xenophon e, ao mesmo tempo, aceitara todas as sugestões que Nik lhe dera. – Mas não vou continuar a agir como se fosse um capacho! Nik contraiu o rosto. – Eu não tratei você como se fosse um capacho... – Mas eu costumava me comportar como um e você se acostumou com isso – argumentou Betsy com amargura. – Mas eu não sou mais a mulher que era antes de você dar entrada no divórcio. Portanto, ser autoritário, dar a sua opinião e deixar claro o que você não quer não vai fazer com que eu mude de ideia a respeito do que eu quero! Nik ignorou o desafio direto e mudou


de assunto. – Por que essa festa é tão importante para você? – Porque ela é importante para Belle, e ela e Cristo são da família, para não dizer que são meus melhores amigos.... Você não tinha percebido isso? – perguntou Betsy, satisfeita por poder se agarrar a mais um motivo de discussão, porque, mesmo antes que ele tivesse começado a falar, ela já estava de mau humor. – Quem você acha que me ajudou quando o processo de divórcio começou? Seu irmão! Cristo foi realmente muito, muito bom comigo... Nik preferiu não dizer que fora ele quem encorajara aquela amizade, mas


ficara abalado com a veemência de Betsy. – Não pense que eu não sou grato por isso... – Como se, na época, você se importasse! – retrucou Betsy furiosa. – Cristo me ouvia, conversava comigo. Ele me ajudou durante o período mais difícil da minha vida. E Belle foi generosa o bastante para me oferecer a sua amizade desde o início... – Bem, ela nunca a ofereceu a mim – comentou Nik secamente. – Belle se ressente do fato de você nunca demonstrar o menor interesse pela mãe dela e pelos filhos do seu pai! – Eu nunca conheci Gaetano. Por que eu teria interesse nos seus outros filhos?


Com Cristo é diferente... Ele é adulto e nós temos um verdadeiro laço... – Ora, lembre-se de que aquelas crianças serão tios e tias do nosso filho! – lembrou-o Betsy acidamente. – Vamos esperar que eles sejam mais amigáveis com o nosso filho do que você tem sido com eles. Com o rosto contraído de tensão, Nik olhou para ela e lentamente comprimiu os lábios sensuais. – Eu não tinha pensado nisso. Isso acrescenta um novo aspecto à situação. Apesar de admirada com a concessão, Betsy não fez comentários e mudou a direção da conversa. – Por que você é sempre tão negativo


em relação a Gaetano Ravelli? – Por que não deveria ser? Como pai, ele foi uma fonte de constrangimento. Explorava as mulheres como um gigolô... – Mas ele foi casado com a sua mãe, com a de Cristo e com a de Zarif – contrapôs ela surpresa com a sua opinião. – Com certeza, você deve ter notado que Gaetano só se casava com mulheres ricas, pensando no que conseguiria arrancar delas. Ele só não conseguiu nenhum dinheiro da minha mãe porque a cerimônia de casamento que eles realizaram na praia não foi legal – informou Nik com desprezo. – Helena esqueceu de preencher os formulários


oficiais de propósito, porque já desconfiava da infidelidade de Gaetano com a mãe de Cristo. Assim que ela conseguiu uma prova, livrou-se dele, e ele não conseguiu lhe tirar nem um tostão. Como você espera que eu tenha algum respeito por um homem tão calculista e voraz? – Talvez os filhos que Gaetano teve com a mãe de Belle se tornem pessoas decentes. Você não deveria usar a paternidade das crianças contra elas. Afinal, você não usa isso contra Cristo ou Zarif – lembrou-o. O celular de Nik tocou, e Betsy se afastou, deixando-o à vontade para atender, e foi para o pátio.


Ali, ela sentou sobre uma mureta e ficou ouvindo o som distante das ondas quebrando na areia para além das árvores. Respirou profundamente e deixou que o seu mau humor se dissipasse. Com a camisa desabotoada esvoaçando com a brisa, Nik saiu e ficou andando pelo terraço, falando em grego ao telefone. Esticou os ombros para trás e se alongou preguiçosamente, arqueando as costas e acentuando os firmes músculos do abdome, definidos com uma perfeição que dava água na boca. Betsy não conseguia tirar os olhos do seu corpo espetacular e dos pelos que apareciam acima do cós das


bermudas quando ele respirava, enchendo o peito, contraindo o estômago, fazendo com que o cós descesse mais um pouco por causa dos seus quadris. Ela sentiu o rosto e o corpo se aquecerem, meio irritada e meio satisfeita com o seu próprio comportamento, e desviou o olhar, fixando-o na escuridão. Considerando que o “mais tarde” não acontecera na semana anterior, o único prazer que lhe restara fora olhar, ela pensou, ficando tensa com esta ideia e com a mágoa e a rejeição que ela evocava. Por algum motivo, Nik desistira da ideia de intimidade. Carregava-a escada acima e abaixo com a indiferença de uma pedra e resolvera


dormir no quarto vizinho. Nesse sentido, o seu afastamento pegara Betsy de surpresa, porque Nik sempre fora extremamente sexual. E, o pior para ela era que o seu corpo estava inundado de hormônios e clamando para se satisfazer com um entusiasmo que ela nunca sentira. Betsy se lembrou daquele pequeno interlúdio que haviam tido na noite da chegada e respirou profundamente para diminuir a sua temperatura. Depois daquela noite, o que teria feito com que Nik mudasse de ideia? Teria se tornado menos atraente para ele por estar grávida? Isso era perfeitamente possível, principalmente para um


homem que não queria filhos. Agora que as crianças estavam a caminho, Nik podia estar disposto a assumir sua responsabilidade como pai, mas quem poderia saber o que ele realmente sentia a respeito daquele acontecimento? Um homem não se comprometia simplesmente porque dissera que iria se comprometer e fazer o que era certo. Também era possível que a reação pouco entusiástica que ela tivera à sua proposta de reconciliação o tivesse aborrecido e ofendido. Nik era orgulhoso. Ele tentara construir uma ponte entre eles e ela ainda estava parada no meio dela, sem recuar ou ir para a frente, paralisada pela indecisão e pelo medo de cometer um erro.


Ele lhe dera várias oportunidades para falar das suas inseguranças. Mas desde quando as conversas sérias, profundas e importantes tinham funcionado com Nik? Quando ele não respondia, ela sentia que estava perdendo a sua saliva. E quando ele mantinha um silêncio melancólico, ela se sentia ainda pior. E agora que ele achava que, para o bem da sua saúde e do seu sossego, deveria dizer o que ela queria ouvir, Betsy se perguntava qual seria a possibilidade de que ele percebesse que podia ser franco? Durante toda a semana, Nik demonstrara uma extrema preocupação com o seu bem-estar. Felizmente, seu apetite


voltara e ela passara a dormir profundamente depois do cansaço saudável provocado por horas nadando na piscina e longas caminhadas na praia. O perigo imediato passara, e ele precisava aceitar isso e parar de tratá-la como uma inválida. Nik desligou, jogou o celular em cima da mesa e parou diante dela com a boca contraída. – Olhe, se a festa de Belle é tão importante para você, iremos embora amanhã – falou ele em tom grave. – Mas isso não me agrada... Betsy ficou surpresa e satisfeita por ele ter concordado. Nik podia não entender a dimensão da sua amizade com Cristo e Belle, mas estava tentando


respeitá-la. Sem pensar, ela se colocou na ponta dos pés e abraçou-o pelo pescoço. – Eu vou adorar ver Cristo, e Belle me disse que Zarif está tentando abrir espaço na sua agenda para ir à festa... O rosto de Betsy se iluminara com um sorriso. Era relativamente fácil deixá-la feliz. Nik percebera isso há muito tempo e se acostumara, mas, nos últimos dias, precisara destrinchar uma série de malentendidos antes de encontrar o caminho mais certo. Não era o preço do presente que importava, mas a atenção e o esforço que havia por trás dele. Poderia ser um simples telefonema quando estava muito ocupado, ou lhe contar


algum detalhe do seu dia atarefado para fazer com que ela se sentisse incluída. Uma manhã ensolarada, a gentileza de algum estranho ou um cumprimento casual costumavam fazer com que Betsy se desmanchasse em sorrisos. – Ah, maravilha, meu irmão, o rei, com sua enorme boca... – Nik debochou, olhando para ela e abraçando-a. Betsy gemeu alto ao se dar conta de que esquecera essa complicação. – Acho que Zarif lhe fez um favor. Dê-lhe uma folga. Em algum momento eu iria descobrir a respeito da vasectomia – falou ela com tristeza. – Você se enfiou num beco sem saída quando não me disse nada, e acho que não sabia mais como sair dele.


Nik ficou sinceramente surpreso pela perspicácia com que ela analisara o seu comportamento e escondeu o olhar pensativo por sob as pestanas, mas seus pensamentos entraram em curto-circuito quando sentiu que ela pressionava carinhosamente a boca macia no canto da sua boca. Betsy tinha o perfume de pêssego e de baunilha. Todas as barreiras que ele construíra contra a tentação desmoronaram como se ele tivesse sido atingido por uma onda. Ele segurou-a pelas delicadas curvas dos quadris e puxou-a contra o corpo, beijando-a com avidez. – Por que eu tive que esperar tanto tempo por isso? – balbuciou Betsy,


tentando recuperar o fôlego e sentindo toda a sua pele despertar. Nike enrijeceu o corpo, na defensiva, e olhou para ela com um ar circunspecto. – Porque eu não quero começar algo que não possa acabar – falou ele francamente. Betsy franziu a testa. – Por que você não pode acabar? Nick soltou um gemido. –Você precisa descansar, repousar... Betsy ficou corada. – Mas o dr. Xenophon me disse que poderíamos fazer amor... Nik ficou surpreso. – Quando foi que ele lhe disse isso? – Depois do exame, quando eu estava


me vestindo e você estava no consultório. Foi quando eu perguntei a ele o que deveria evitar... – Diavelos! Por que você não me disse? – Nik olhou para ela sem conseguir acreditar. – Ora, na primeira noite que passamos aqui, você parecia estar perfeitamente sossegado... – E eu desci enquanto você dormia... – exclamou Nik, abrindo os braços enfaticamente. – Eu pensei: o que estou fazendo aqui? Por que estou presumindo que uma mulher grávida estaria disposta a fazer uma maratona sexual? No seu estado atual, deve ser a última coisa que ela desejaria fazer!


Betsy começou a juntar os fatos, admirando-se por ter sido tão tola quanto ele. Nik tinha presumido que deveria se manter distante, e ela, que ele simplesmente não a desejava mais. – Nós não conversamos o suficiente – murmurou ela com tristeza. – E não vamos conversar muito esta noite ou pelo resto da nossa estada – profetizou Nik, dando um sorriso sugestivo de tirar o fôlego, erguendo-a do chão e carregando-a escada acima. – Eu tenho outros planos. – Espero que sejam extensos... – Betsy encorajou com os olhos grudados no seu belo rosto, sentindo-se, pela primeira vez em vários dias, cheia de


energia, porque o desejo que via nos seus olhos lhe devolvera a autoestima. – Muito extensos – afirmou Nik, colocando-a sobre a cama, tirando-lhe os sapatos, erguendo-a para abrir o zíper do seu vestido e deitando-a novamente para lhe tirar o vestido e deixá-la usando apenas um conjunto de sutiã e calcinha de renda. – Você está linda... Betsy ficou constrangida. – Não, não estou. Eu estou perdendo a cintura... – Você está linda. Eu jamais digo o que não penso. – Nik tirou a camisa e abriu o botão do cós da bermuda. – Eu quase não dormi esta semana. As noites têm sido quentes e se tornam muito


longas quando se tem uma contínua ereção... Enquanto ele tirava as roupas, Betsy apreciava o seu maravilhoso corpo moreno e sentia o coração acelerar. Ele estava totalmente pronto para a ação e o seu desejo por ela parecia ter ateado fogo dentro dela. Ela sentou na cama, abriu o fecho do sutiã e tirou a calcinha com uma naturalidade que nunca ousara demonstrar antes. Ele deu um sorriso de aprovação ao vê-la desnudar os seios e ajoelhou sobre a cama. – Multiplique a admiração por dez – advertiu ele, roçando os lábios no seu mamilo endurecido. – Você só está sedento de sexo...


– Totalmente – concordou Nik sem nenhuma vergonha. – Eu não faço sexo desde o dia em que a engravidei. – Ou depois de me deixar – lembrouo, acariciando-lhe a ereção de um jeito que o levou a estremecer e a abafar um gemido. Nik deitou-se sobre os travesseiros, oferecendo a imagem da sua sexy masculinidade. Com os olhos brilhando de ânsia, Betsy se inclinou sobre ele, deixando os cabelos louros caírem sobre a sua barriga e roçarem seus quadris. Com um gemido de satisfação, Nik prendeu a respiração. Desejava-a tanto. Não havia nada que já tivesse desejado tanto.


– Chega – falou ele com voz rouca, puxando uma mecha dos cabelos louros de Betsy para detê-la. – Não existem palavras que possam descrever o prazer que você está me dando, mas eu quero estar dentro de você. Betsy já sentia o latejar e a umidade entre as coxas aumentarem. Nik envolveu-a nos braços e colou a boca sobre seu mamilo rosado, acariciando-o com a língua. Ela arqueou as costas, abriu as pernas e apoiou os joelhos sobre a cama, pressionou os quadris sobre os dele, deslizando o corpo para cima e para baixo, roçando-o contra a sua ereção. – Quente – falou Nik, satisfeito, com


os olhos brilhando como joias no rosto magro. – Devo presumir que para você as noites também foram longas e frustrantes? – Deve – confessou Betsy, estremecendo sobre ele e dominada por tantas sensações diferente que aquele contato físico lhe parecia embriagador. Ele a beijou, enfiando a língua em sua boca, segurando-a pelos cabelos para mantê-la no lugar. O seu domínio a excitava intensamente. Com a mão que estava livre, ele explorava as partes do seu corpo que estavam ao alcance, e ela imediatamente deslizou o corpo para cima e pressionou os seios contra o seu peito firme e sólido e abaixou os quadris para montar em cima dele e


tentar amenizar o tormento do vazio que a afligia. – Seja paciente... Nós temos toda a noite – murmurou Nik. – A paciência que vá para o inferno! – Betsy quase soluçou com a boca colada à dele, enfiando os dedos nas suas costas lisas. Nik emitiu um som desconcertado de satisfação, levantou o corpo dela e ajeitou-o sobre o dele. Levantou os quadris e entrou no corpo dela com uma precisão que a levou a soluçar de prazer. – Nunca diga que eu não entendo uma indireta – Nik brincou ofegante, puxando-a contra ele e mergulhando


fundo no seu corpo, antes de soltar um suspiro de frustração e fazê-la virar e deitar debaixo dele, sobre o colchão. – Assim está melhor? Ele a possuiu com firmeza, e ela o sentiu ocupar cada centímetro do seu corpo, e a deliciosa fricção dos movimentos que ele fazia lhe provocava tremores pelo corpo. – Perfeito – disse ela quase sem conseguir falar. E era. Absolutamente perfeito, em todos os sentidos. A cada investida que ele fazia, desencadeava uma tempestade de prazer no seu corpo. Betsy arqueou as costas e ergueu os quadris, acompanhando o ritmo constante que ele mantinha enquanto um delicioso


tormento devastador crescia e provocava um nível insuportável de excitação. Com o coração batendo loucamente nos ouvidos, ela começou a flutuar mais alto que jamais flutuara, levada pelo desenfreado latejar de prazer até o clímax, e o prazer e o alívio pareceram iluminá-la por dentro e por fora. – Então, Cinderela vai ao baile – falou Nik junto aos seus cabelos suados e embaraçados. – Se essa é a sua reação à chance de ir à festa da família, vou fazer com que você tenha uma festa para ir todas as noites. Betsy soltou uma risada trêmula. Nik rolou para o lado da cama, levando-a


com ele e colocando-a por cima do seu corpo com cuidado, passando as mãos por suas costas. Fazia muito tempo que alguma coisa não parecia tão certa para Betsy como a paz que sentia dentro dos braços protetores de Nik. Ela teve a tentação de dizer que o amava, mas engoliu as palavras que um dia lhe dissera com tanta espontaneidade e confiança, sem perceber que ele não lhe dissera o mesmo. Mas deixara de ser ingênua. Ela esfregou o queixo no ombro largo de Nik e inalou avidamente o seu perfume quente e almiscarado. Estava feliz, mas também com medo de estar sendo tola e imprudente em relação ao futuro. Teria coragem de confiar em Nik


Christakis novamente? Ele conseguiria convencê-la a se esforçar ainda mais desta vez? Talvez ela devesse negociar com ele antes de concordar com a reconciliação. Às vezes, Betsy pensou, Nik entendia muito mais de relações de negócios que de relacionamentos humanos. Se ela esclarecesse suas exigências e necessidades, ele iria ouvir? O que poderia oferecer a ele em troca? A segunda chance que ele pedira e tanto sexo quanto ele quisesse? Com o rosto corado, ela riu junto ao ombro dele e tentou voltar a colocar os pés no chão e ser racional. Precisava aprender a ser tão racional quanto Nik e encarar os problemas de maneira mais positiva,


em vez de ser tão crítica.


Capítulo 9

NIK

OLHOUpara Betsy como se ela de

repente tivesse enlouquecido. Seu olhar mostrava surpresa e perplexidade e, sim, um pouco de zombaria. – Deixe-me ver se entendi direito... Você quer negociar os termos do nosso casamento antes de considerar a possibilidade de uma reconciliação permanente? Ao fundo, o barulho dos jatos surpreendentemente parecia música aos


ouvidos de Betsy. Quando estava a bordo, Nik era um ouvinte forçado porque não tinha como fugir, como alegar ter um negócio urgente, nem se arriscava a perder a calma, por medo de que a tripulação pudesse ouvi-lo discutindo com sua mulher. – Sim, creio que é o caminho mais prático. Nós falhamos na primeira vez. Portanto deveríamos analisar os possíveis problemas que possam surgir e tentar evitá-los – respondeu Betsy com teimosia, erguendo o queixo enquanto Nik dava um pulo na cadeira e olhava para ela intrigado. – Mas na primeira vez nós não tivemos problemas. Você resolveu que queria um filho, eu sabia que não


poderia lhe dar um e, a partir daí, tudo começou a desmoronar. – Só desmoronou porque você decidiu não me dizer a verdade, não me contar sobre a vasectomia – protestou Betsy. Os olhos verdes de Nik brilharam com teimosia e ele endureceu o queixo. – Quantos homens iriam dizer a uma mulher que não podiam lhe dar o que ela mais desejava? – perguntou ele em voz baixa e em tom áspero. – Como você acha que eu me senti ao tropeçar nas roupas de bebê que você tinha escondido numa sacola, no fundo do closet? Betsy ficou surpresa com aquela


pergunta repentina, feita num tom exaltado. Pela primeira vez, ela percebeu que a masculinidade de Nik tinha sido crucificada por ela desejar o que ele sabia que nunca poderia lhe dar. Ela fizera com que ele se sentisse diminuído. Quando ele mencionou as roupas de bebê que ela comprara num gesto de esperança e que depois escondera, ela não sabia onde enfiar a cara. Estava tão envergonhada que não queria nem pensar em como ele se sentira. – Eu não sabia que você tinha encontrado aquelas roupas... Por que você não me disse? – perguntou ela desanimada. – Aquilo tudo estava muito acima da


minha compreensão. Era mais fácil e seguro evitar o assunto – admitiu Nik rigidamente. – Eu não via uma saída. Pelo que eu sabia, a vasectomia era irreversível e, por mais que eu fizesse, você iria ficar com o coração despedaçado por causa do que eu nunca poderia esperar lhe dar. – Sinto muito – sussurrou Betsy, comovida, reconhecendo que aquela fase sofrida da vida deles também custara muito para Nik. O seu desejo de ter um filho se tornara uma obsessão e passara a controlar a sua vida e a dele, e ele se vira esmagado por uma verdade que não suportara lhe revelar. Mas agora tudo mudara, ela lembrou a


si mesma com impaciência. Contra todas as probabilidades, ela concebera o bebê tão desejado e precisava lutar para que os dois criassem condições para que o casamento desse certo. – Esses termos que você mencionou... – falou Nik docemente, mas ela não se deixou enganar pelo seu tom. Ali estava ele, sentado rigidamente, com o belo rosto contraído, como se a desafiasse a sugerir condições que ele iria considerar inaceitáveis. – Você estava sempre viajando, e eu ficava em casa sozinha. Isso precisa mudar – falou Betsy com firmeza. Nik olhou para ela com perplexidade. – Mas eu não viajava para me divertir. Eu viajava por exigência dos


negócios... – Eu sei, mas você nunca estava em casa e eu me sentia muito sozinha. – Betsy se forçou a admitir sinceramente. – Eu tinha sorte quando você ficava comigo uma semana por mês. Não era suficiente. Nik ficou totalmente desconcertado. – A minha função mais básica como marido é ser um bom provedor. – Isso seria muito louvável e eu até poderia perdoar suas ausências se os negócios estivessem passando por dificuldades e você já não fosse mais rico que Creso. Mas você não tem estas desculpas. Para mim, o ideal seria ter um marido que achasse que a sua função


mais básica era me fazer feliz – esclareceu Betsy corajosamente. – Eu seria muito mais feliz se você ficasse mais em casa, principalmente depois das crianças nascerem. Para ser um bom pai, você precisa estar presente. Nik ficou pensativo e não disse nada. Nunca lhe ocorrera que ela pudesse se sentir solitária quando ele estava fora. Afinal, nos primeiros anos de casamento, ela nunca reclamara do tempo que passavam separados. É verdade que uma vez ela dissera que a solidão a levara a desejar um filho, mas ele presumira que aquela fora uma causa momentânea de infelicidade e frustração, mais uma desculpa que ela dera do que uma falta pela qual ela


pudesse acusá-lo. – Há muito tempo, o meu avô me ensinou que a única pessoa a quem você pode confiar seus negócios é você mesmo. Você está me pedindo para delegar funções importantes a subordinados – falou ele com severidade. – Eu não sei se consigo fazer isso... Nik estava sério. Muito sério. Ela lhe pedira para viajar menos, para ficar mais em casa, e ele estava reagindo como se ela lhe tivesse pedido para lhe dar diariamente meio litro do seu sangue, ou uma perna. Betsy crispou os punhos ao lado do corpo, para se impedir de tocá-lo. Até aquele momento,


nunca percebera a profundidade da falta de confiança que ele tinha nas pessoas e de como esta desconfiança lhe tinha sido incutida desde muito cedo pelo avô. – Você poderia tentar – falou ela docemente. – Tente e veja o que acontece, porque, se você não tentar viver de outra maneira, não vejo como eu possa ser feliz com você. Nik ficou abalado com a ameaça implícita. Sabia que existiam homens que ficariam felizes ao saber que suas esposas desejavam que eles estivessem mais presentes. Sabia muito bem o quanto ficava contente ao voltar para casa e encontrar Betsy, até mesmo durante a fase em que ela estivera obcecada para ter um filho. De repente,


uma ideia lhe ocorreu: dentro de alguns meses, haveria duas crianças na vida dos dois. E, subitamente, compreendeu qual deveria ser a sua maior prioridade. Não poderia proteger duas crianças que mal visse. Não poderia ser um bom pai e um bom marido sem fazer concessões. Mas, como sempre acontecia quando se sentia ameaçado por uma mudança, Nik ficou inquieto e angustiado com a perspectiva de que a sua rotina fosse ser rompida. – O que há de errado? – perguntou Betsy. – Nada – respondeu Nik depressa, evitando encará-la e respirando lenta e profundamente, repetindo o exercício


que lhe tinham ensinado aos 10 anos. Nenhum filho seu passaria por aflição semelhante. Saber que faria tudo que pudesse para proteger seus filhos deixou-o mais calmo. Betsy se inclinou para a frente consciente de que, como acontecia de vez em quando, ele se isolara e se fechara numa profunda introspecção, deixando-a de fora. Ela subiu a mão pela camisa dele, sentindo a sua força e o seu calor, desejando que ele lhe dissesse o que tanto o preocupava. – Você e eu... Pode dar certo – falou ela, hesitante. – Podemos fazer com que dê certo. A tensão que ele sentia no corpo continuou, mas, agora, causada por outro


motivo, porque seus instintos naturais haviam assumido a primazia. Ele olhou para os olhos azuis ansiosos de Betsy e dezenas de lembranรงas lhe ocorreram. Betsy tentando esconder a dificuldade para ler o cardรกpio na primeira vez que haviam jantado juntos; Betsy rindo sob a chuva, quando o seu guarda-chuva quebrara e ela ficara ensopada; Betsy ensinando Gizmo a trazer a bola de volta, em vez de mastigรก-la e desmanchรก-la; Betsy lhe dizendo que ele a engravidara. Ela era corajosa e franca, tinha uma honestidade irrestrita que ele sempre admirara. Era uma pena que ele nรฃo pudesse ser honesto como ela e lhe contar o que acontecera com ele, mas


Nik acreditava que a verdade só iria enfraquecê-lo aos olhos de Betsy e assustá-la, e ela dependia dele para protegê-la. Ele estava entre a cruz e a espada. – Betsy... – murmurou ele, não sem insegurança, enfiando os dedos nos cabelos dela e afastando-os do rosto. – Nós podemos fazer com que sejamos felizes. Podemos fazer com que dê certo – repetiu ela com intensa convicção. – Cale-se – disse Nik a ela em grego, antes de beijá-la com intensidade. Foi um beijo cheio de frustração e de desejo, mais quente que o fogo do inferno, e que atingiu Betsy como uma flecha flamejante, despertando uma


chama incontrolável no meio de suas coxas. Ela mergulhou naquele beijo como uma estrela cadente e se deixou levar. Quando ele a ergueu nos braços e carregou-a para a cabine privativa, ela olhou para ele com o coração nos olhos, com um misto de ternura, de ânsia e de receio, mas, mesmo assim, não lhe disse as palavras de amor que já dissera com tanta confiança. Assim que as dissesse, não poderia mais apagá-las, eliminaria qualquer distância entre os dois e não poderia mais fazer exigências. Assim que as dissesse, ele saberia que ela estava fingindo, que não lhe daria as costas ou iria embora. Não porque ela não quisesse, mas porque simplesmente


n達o conseguiria...


Capítulo 10

BETSY FEZ uma careta de dor para o seu reflexo no espelho. Estava se arrumando para a festa de Belle, mas seus pensamentos não poderiam estar mais longe da frivolidade. Se Nik a amasse, ela tinha certeza de que teria enterrado toda a sua insegurança para sempre. Mas, infelizmente, estava convencida de que o marido só voltara para ela porque ela estava grávida e, saber disso, era uma


humilhação que só iria envenená-la ao longo dos anos. Os olhos dela se encheram de lágrimas. Ela piscou furiosamente rápido e pegou um lenço de papel para enxugar as lágrimas antes que elas borrassem a sua maquiagem. Mas a verdade é que Nik não a amava e jamais amaria. Ele a desejava com uma intensidade louca, sentia por ela uma atração química que o mantivera fiel durante o tempo da separação. Agradeça o que tem e deixe de querer o que não pode ter, ela disse a si mesma frustrada. Afinal, algumas pessoas matariam para ter o poder de despertar tamanha paixão no parceiro. Deveria ser suficiente. Tinha que ser suficiente. Mal haviam se passado 24h desde que


tinham voltado a Lavender Hall e, grande parte desse tempo, eles tinham passado na cama. Betsy ficou vermelha ao se lembrar. Não conseguia deixar de querer Nik, não conseguia colocar um freio no intenso desejo que ele lhe despertava toda vez que olhava para ele. Mas, se ela continuasse a estar sempre disposta, quanto tempo ele levaria para perceber que a colocara exatamente onde queria? Na palma da sua mão, para fazer com ela o que quisesse. Uma posição de tamanha vulnerabilidade e fraqueza jamais seria um bom começo para uma reconciliação. Com os cabelos louros recémlavados, secos e escovados, com uma


capa de seda sobre os ombros, Betsy voltou para o quarto. Ao mesmo tempo, Nik saía do quarto de vestir, perfeitamente arrumado, usando um imaculado terno preto feito sob medida, que acentuava a sua altura, os quadris estreitos e as pernas musculosas. Ele estava lindo, todo arrumado, irradiando o máximo do seu poder sexual. Ela sentiu o calor aquecer o meio de suas coxas e recorreu a todas as suas forças para tentar conter a excitação. Afinal, de que adiantava tentar se fingir indiferente com Nik para forçá-lo a lhe dar atenção e, ao mesmo tempo, cair na cama com ele toda vez que havia uma oportunidade? Não era isso que ela estava fazendo? Toda vez que olhava


para ele, mal conseguia se conter. Nik olhou para ela com evidente aprovação. – Azul é realmente a sua cor, kardoula mou. O vestido azul escuro de Betsy tinha o corpete justo até a altura dos quadris, e as mangas e a saia eram feitas de renda. Vista por sob a renda, sua pele adquiria o brilho das pérolas, e seus olhos luminosos refletiam o azul do vestido como se fossem espelhos. – Eu aprecio que você vá comigo à festa. Eu sei que você não gosta de festas, a não ser que possa ficar enfiado num canto, conversando calmamente a respeito de negócios – comentou Betsy


penalizada. – Mas os seus irmãos estarão lá para lhe fazer companhia. – E todos os meio-irmãos e irmãs – lembrou-a secamente. – Vou fazer um esforço para conhecê-los melhor, mas, como não sou bom em falar de amenidades e Bella já deve ter lhes passado uma péssima impressão de mim, eu não prometo nada. – Só é preciso que você faça um pouco de esforço – garantiu Betsy, esforçando-se para não sorrir diante do fato de que ele estava disposto a oferecer um ramo de oliveira aos filhos mais moços de Gaetano Ravelli. Ele ouvira o que ela dissera e estava preparado para mudar. Para ela, isso era mais que suficiente para que Nik


merecesse vários pontos a seu favor. – Evidentemente, eu estou disposto a fazer qualquer esforço que seja necessário – retrucou Nik. Betsy olhou para ele com seus olhos muito azuis. – Por quê? Nik abraçou-a pela cintura ainda estreita, puxou-a e fitou-a com seus olhos verdes, que brilhavam de desejo. – Eu quero que você fique feliz comigo, Betsy. – Eu estou feliz – assegurou ela, com a cor lhe subindo ao rosto, muito consciente da proximidade do corpo de Nik e da sua indisfarçável ereção. Ela olhou para ele fascinada pela sua beleza


masculina. Saber que, apesar da separação pela qual haviam passado, quando se tratava do que mais importava, ele ainda era seu, excitava-a e eliminava suas defesas. Ainda que o bom senso tentasse controlá-la e lhe dizer que ela estava toda arrumada e que queria chegar cedo na festa, ela sentia o centro do seu corpo latejar e o seu desejo aumentar incontrolavelmente. Nik abaixou a cabeça para beijá-la, mas Betsy dominou seu instinto e virou a cabeça de lado, antes que ele conseguisse beijá-la e estragar o seu batom. – Eu estou toda arrumada – sussurrou ela a desculpa em tom ofegante. Mas, quando olhou para ele, ficou


desconcertada ao perceber um brilho inseguro e magoado nos seus olhos. Ela sentiu o coração se encolher com a lembrança que aquele olhar despertava. Fora exatamente daquele jeito que ele olhara para ela no dia em fora embora: como se não entendesse muito bem o que havia feito ao esconder que fizera uma vasectomia, sem conseguir acreditar na reação que ela tivera ao saber. Ele ficara terrivelmente magoado. Na hora, ela não compreendera, mas aquela ainda era uma expressão que ela não suportava ver no seu rosto. Betsy se soltou dos braços dele e lhe deu as costas. – Abra o meu vestido – disse ela.


– Mas eu pensei... – Nik começou a dizer, admirado por ela ter mudado de ideia. – Desde quando eu sou tão vaidosa? – Betsy brincou, com os olhos marejados de lágrimas, com os hormônios da gravidez assumindo o controle, porque ela o desejava, sempre o desejava e se admirava por ele ainda não ter percebido esse pequeno detalhe. Ela deixou o vestido deslizar até o chão e ficou só com a roupa de baixo de renda. Ele se deliciou com a visão do seu corpo delicado, cujas curvas se arredondavam enquanto ela abaixava, pegava o vestido e o colocava cuidadosamente sobre uma cadeira.


– Algumas vezes, eu a desejo tanto que chega a doer – falou ele em voz rouca. Betsy ficou corada enquanto ele tirava o paletó e a camisa sem demonstrar nem um pouco do cuidado que ela tivera ao se despir. Ela se aproximou, abriu a calça de Nik e enfiou a mão dentro dela, tocando a potente evidência da sua excitação. Acariciou-o com dedos ágeis, até que ele praguejou em grego e arrancou o resto das roupas ainda com menos paciência do que demonstrara antes. Betsy se ajoelhou diante dele e acariciou-o com a boca. Uma onda de excitação a atravessava a cada vez que ela lhe arrancava um gemido.


– Eu quero fazer amor com você – resmungou Nik, abaixando-se para levantá-la do chão e colocá-la sobre a beirada da cama. Tirou-lhe a calcinha e passou a ponta da língua sobre seu mamilo endurecido antes de esticar a mão e tocá-la entre as pernas com o dedo, para ver se ela estava pronta para recebê-lo. Antes mesmo de ele se deitar sobre ela, Betsy já estava gemendo e arqueando o corpo com uma ânsia insuportável pelo que viria a seguir. Nik ergueu suas pernas e colocou-as sobre os ombros e possuiu-a com uma deliciosa energia. – Você é incrível na cama, kardoula


mou – disse ele com voz rouca, afastando-se e investindo novamente, num movimento que a levou a dar um grito estrangulado. O coração de Betsy estava acelerado, e ela lutava para respirar enquanto a excitação crescia, alimentada pela tensão que contraía a sua pélvis. O ritmo rápido e fluido de Nik se tornou mais intenso, e ela perdeu o controle, levada pela paixão e pela incrível explosão de prazer que não conseguiu mais conter. Mesmo depois, pequenos tremores de prazer continuaram a abalá-la, atingindo-a em ondas. Ela enterrou o rosto no ombro suado de Nik e inalou o perfume quente, almiscarado, do corpo que a mantinha presa sobre o colchão.


– Precisamos nos apressar se quisermos chegar à festa antes da meianoite. – Ele pousou os olhos verdes cheios de ironia sobre o rosto dela e riu ao vê-la parecer voltar a si e ficar apavorada. Betsy empurrou-o pelos ombros, levantou e recolheu suas roupas.

– EU FIQUEImuito contente ao ver Nik dedicar algum tempo para conversar com Bruno a respeito do seu curso de arte – declarou Belle, levando Betsy para o jardim de inverno nos fundos da enorme e elegante casa em que ela e Cristo moravam, em Londres. Eram duas


horas da manhã e a maioria dos convidados já fora embora. – Nik provavelmente acha Bruno menos intimidante que as irmãs. – Betsy brincou. – Hoje eu convidei gente demais. Não tive chance de ficar nem cinco minutos sozinha com você – lamentou Belle, sacudindo a taça de champanhe para enfatizar seu aborrecimento e derramando boa parte da bebida dourada, que escorreu pela haste do copo. Betsy riu. A aniversariante estava definitivamente meio embriagada. – A festa é sua. Naturalmente, todos queriam falar com você pessoalmente... – Mas você e Nik... Realmente vocês


voltaram? – perguntou a ruiva com um interesse que não dava para esconder. – Quando Cristo me disse que Nik voltara para casa, eu me recusei a acreditar. Betsy resistiu ao impulso de dizer que, de início, ela também não acreditara que fosse possível. Mas seria melhor manter algumas coisas em segredo. – O divórcio foi cancelado – declarou ela. – Nós vamos fazer uma nova tentativa... Belle ergueu as sobrancelhas e olhou para ela com um olhar de curiosidade. – Apesar de tudo que aconteceu entre vocês? Apesar de tudo que ele fez? Betsy resolveu que seria melhor


responder a estas questões com sinceridade. – Além do fato de Nik não ter sido o único a cometer erros, eu nunca deixei de amá-lo. Achei que sim, mas, assim que o vi de novo, percebi que só estava me enganando. Ao ouvir esta confissão, Belle ficou estranhamente pensativa e, depois, soltou um suspiro resignado. – Acho que todos nós já passamos por isso – confessou ela com emoção. – Quando eu pensei que Cristo estivesse apaixonado por você, achei sinceramente que o odiava, porque eu fiquei arrasada e tremendamente ciumenta. Betsy ficou paralisada de surpresa e


imaginou se teria entendido errado. – Você pensou que Cristo estava apaixonado por mim? Pelo amor de Deus, quando? – Depois que nós nos casamos, eu descobri que ele carregava a sua fotografia dentro da carteira – admitiu Belle honestamente. – Antes dessa descoberta, eu achava que vocês fossem apenas amigos... – Mas nós éramos apenas amigos – retorquiu Betsy, sentindo-se constrangida e imaginando quanto Belle teria bebido naquela noite. – Nunca houve alguma coisa, nem mesmo um pequeno flerte entre nós... Juro que... Belle franziu o nariz com desdém.


– Claro que agora eu sei disso, mas naquela ocasião eu não sabia. Cristo teve muito trabalho para me convencer, porque, vamos ser sinceras, você é linda e muito feminina, Betsy, e eu podia ver o seu atrativo. Na época, eu temia que você fosse muito mais do tipo que agradava Cristo do que eu poderia ser... Naquele instante, o discurso embriagado de Belle foi interrompido por um ruído atrás de Betsy e por uma furiosa exclamação masculina. Ela se virou, consternada, a tempo de ver a silhueta alta e de ombros largos de Nik dando meia volta na porta e correndo para o corredor. – Nik? – chamou ela, ansiosa,


enquanto se perguntava quanto tempo ele teria ficado parado ali, esperando que ela notasse a sua presença. – Você estava me procurando? Espere por mim... – Ah, droga! – exclamou Belle, apavorada. – Nik deve ter ouvido o que eu lhe disse a respeito de Cristo. As duas correram para fora do jardim de inverno e voltaram à festa. Chegaram ao hall no momento em que Nik agarrava o irmão pelo ombro e lhe dava um soco no rosto. Um segundo depois, Nik imprensava Cristo contra a parede, com a raiva e a revolta estampadas no seu belo rosto. – Minha esposa... Você estava apaixonado pela minha esposa? –


repetia Nik com furiosa incredulidade. Betsy concluiu que Nik realmente ouvira a malfadada confissão de Belle, admitindo que já acreditara que Cristo estivesse apaixonado por ela. Betsy trincou os dentes, frustrada, porque sabia que aquele não era o tipo de revelação que Nik aceitaria sem resistência ou com uma boa dose de perdão. Nik era possessivo e orgulhoso, e até uma amizade como a que ele tinha com o irmão não serviria de desculpa para o que ele via como uma traição imperdoável da sua confiança. Ainda assim, tudo não passava de uma tempestade num copo d’água, Betsy pensou exasperada, sem conseguir


acreditar que as suspeitas de Belle pudessem ter algum fundamento. – Tenha calma, Nik. Pense bem – Cristo contemporizou com uma admirável frieza para quem estava com sangue escorrendo do canto da boca. – Você entendeu tudo errado... – Você tinha uma foto de Betsy na sua carteira? – urrou Nik, aparentemente surdo ao pedido para que ele se acalmasse. – Não é o que parece – protestou Cristo. – Meu próprio irmão? Eu confiei em você totalmente, confiei em deixá-lo perto dela, e você me traiu! – protestou Nik como se Cristo não tivesse dito nada. E, tendo feito a amarga acusação,


ele flexionou o braço para trás e bateu em Cristo novamente. Cristo por fim conseguiu se soltar e despejou uma torrente de palavras rápidas em italiano, dirigidas a Nik. – Por favor! Alguém os faça parar! – exclamou Betsy, desesperada, enquanto os dois irmãos começavam a trocar socos certeiros, e como os dois se igualavam em tamanho e força, não havia esperança de que a briga fosse terminar tão cedo. Belle correu até o salão de recepção, onde ainda havia alguns convidados, e chamou seu cunhado, Zarif. Zarif foi até a porta. Alto e extremamente belo, com a pele morena e


os olhos negros, o jovem rei de Vashir avaliou rapidamente a situação, enfiouse entre os dois irmãos e se esquivou agilmente de um soco que o teria feito voar longe. Felizmente, a iminente ameaça que pairava sobre seu soberano fez com que os quatro guarda-costas de Zarif entrassem na briga e separassem os dois lutadores. Seguiu-se uma discussão com palavras furiosas em italiano e em grego, mas Zarif abriu a porta do escritório de Cristo e falou secamente: – Vamos discutir esse assunto num lugar mais discreto. Belle olhou para o cunhado com admiração, sentindo-se grata pela sua intervenção. Tecnicamente, Zarif era


apenas o irmão caçula, mas ele fora criado como um príncipe árabe, num palácio, fora treinado para ser soldado e combatera de verdade, e tinha o hábito de comandar, além de ter maturidade e capacidade de julgamento bem acima da sua idade. – Ah, meu Deus. O que foi que eu fiz com essa família? – sussurrou Belle, desalentada, tirando nervosamente os cabelos da testa. – Eu provoquei uma grande briga entre os irmãos. Cristo jamais irá me perdoar por ter aberto a boca. – Não importa o que ele ache, Nik não deveria ter explodido daquele jeito e concluído o pior – disse Betsy,


zangada. – Ele deveria ter conversado com Cristo antes. – Nik ainda teria batido nele – declarou Belle sem hesitação. – Nik é do tipo contido, passional, ciumento. Betsy nunca vira o marido daquele jeito e ficou confusa. – Uma vez, Cristo me disse que Nik não lida bem com as emoções. Suponho que isso explique por que você quase se divorciou dele, antes que ele finalmente compreendesse que você é a pessoa mais importante da vida dele. – Eu não diria exatamente isso – murmurou Betsy, constrangida, desejando poder entrar no escritório de Cristo para descobrir o que estaria acontecendo entre os três irmãos. Pela


primeira vez, ela vira Nik perder o controle e explodir daquele jeito e ainda estava chocada. Suas pernas estavam trêmulas por ela ter presenciado um tipo de violência que a apavorava. Ainda mais por ter irrompido entre membros da mesma família. Aquela confusão de socos havia cortado os laços entre os irmãos, e ela estava triste por ter acontecido. – Nik é louco por você – protestou Belle. – Cristo disse que ele sempre foi... Desde o momento em que a conheceu. Betsy sentiu um nó se formar na garganta. Seria possível que Nik realmente gostasse dela? Que ele tivesse


confundido seus sentimentos como ela fizera com os dela? Afinal, ela não chegara a acreditar que o odiava? Mas isso não fora apenas uma maneira de seguir em frente? Uma maneira de ela conseguir sobreviver sem ele? – Cristo vai me matar por causa dessa confusão – murmurou Belle em tom culpado, com as lágrimas lhe subindo aos olhos. – Nem sempre eu penso antes de falar. No fundo, eu nunca superei aquela fase em que acreditei que Cristo gostasse mais de você do que de mim... – Eu não acredito que isso fosse possível – afirmou Betsy com convicção. – Talvez eu quisesse testá-la, ver como você reagiria – admitiu Belle,


envergonhada. – Eu nunca considerei Cristo atraente. – Betsy viu o olhar decepcionado de Belle e sorriu com ironia. – Para mim, nunca houve ninguém além de Nik. Hesitante, Betsy se aproximou da porta do escritório e bateu, antes de abri-la e de dar uma olhada, para ver cada um dos três irmãos com diferentes graus de tensão e de aborrecimento estampados nos rostos incrivelmente parecidos. – Acho que agora deveríamos ir para casa – disse ela para Nik. – Boa ideia – disse ele, cruzando a sala com largas passadas. – E quando chegar lá, você deve


explicar algumas coisas para Betsy – advertiu Cristo. – Este tipo de interferência não é da nossa alçada. – Zarif interrompeu o conselho dado por Cristo com um tom de reprovação. Enquanto ouvia seus irmãos, Nik corava e voltava a empalidecer, passando do desânimo à tensão. Escondia os olhos sob as grossas pestanas e passava o braço em volta dos ombros de Betsy. – Para casa – concordou ele com evidente alívio. – Você pediu desculpas a Cristo? – perguntou Betsy enquanto a limusine se afastava da casa. Nik olhou para ela admirado.


– Não. Por que eu deveria me desculpar? Betsy respirou fundo e soltou um suspiro. – Você o atacou... – Ele recebeu o que merecia – retrucou Nik acidamente. – Pode ter sido um pouco tarde, mas ele recebeu o que merecia. Você é minha esposa e eu a confiei a ele... – E ele nunca traiu a sua confiança – declarou Betsy, escolhendo ser diplomática em vez de apontar que, durante aquele período da sua vida, Nik dera as costas ao casamento e a deixara sozinha para nadar ou se afogar. – Se é verdade que ele teve algum tipo de


atração tola por mim, eu não percebi, porque ele nunca disse ou fez alguma coisa que me sugerisse isso. – Nunca? – insistiu Nik, lançando-lhe um olhar preocupado e ainda desconfiado. – E como você se sentiu em relação a Cristo naquela época? Eu tinha ido embora, tinha dado entrada no divórcio e, a não ser pelo apoio dado pelo meu irmão, você estava sozinha. – Ele pronunciou a palavra “apoio” com uma ênfase desdenhosa. – Eu fiquei grata por ele ter me apoiado e pelo fato de ele estar disposto a escutar minhas digressões – admitiu Betsy francamente. – Eu não tinha com quem conversar, ele era seu irmão. Falar com ele sobre você não me parecia


deslealdade, e eu sabia que tudo que eu dissesse morreria ali. – Eu o encorajei a procurá-la – confessou Nik com amargura, endurecendo o queixo. – Eu confiava nele totalmente. Eu já deveria saber que... – Você o encorajou a ser meu amigo? – perguntou Betsy surpresa. – Mas por quê? Nik se remexeu no assento do carro. – Eu queria saber se você estava bem, se você tinha tudo que precisava... – Mas eu não estava bem – respondeu ela num fiapo de voz contida. – Como poderia estar? Você tinha se recusado até a falar a respeito da sua vasectomia


e do motivo que o levou a fazê-la. E, depois, simplesmente desistiu do nosso casamento. Nik franziu a testa, claramente achando a acusação injusta. – Porque você me disse para ir embora. Você disse que nunca iria me perdoar, que nunca mais voltaria a olhar para mim e que eu matara o nosso amor. Você disse que o nosso casamento estava acabado. Betsy fitou o seu belo rosto moreno, abalada por ouvi-lo repetir as palavras que ela lhe dissera há vários meses quando ela menos esperava. – Mas isso são coisas que a gente diz quando está zangada, magoada e extremamente confusa...


– Mas você não deveria ter me dito essas coisas, porque eu as interpretei literalmente e acreditei que você queria dizer exatamente o que disse – admitiu Nik em tom magoado. Betsy ergueu as sobrancelhas. – Nós deveríamos ter voltado a conversar depois, com mais calma. – Eu não estava preparado para discutir certos problemas com você – explicou Nik, trincando os dentes. – Eu não consigo conversar a respeito de emoções. Se eu não sei sequer como me sinto, como posso saber o que alguém está sentindo? A frustração e a amargura embargaram a voz dele. Betsy virou a


cabeça para o outro lado e abaixou os olhos, imaginando o que ele quisera dizer, mas evitando pressioná-lo depois da noite desagradável que haviam tido. – Você fez as pazes com Cristo? – perguntou ela corajosamente. – Foi... Você está atraída por ele? – perguntou Nik abruptamente, com os olhos brilhando na obscuridade do interior do carro. – A maioria das mulheres parece preferi-lo. Eu sou mais moreno, mais anguloso e muito menos tranquilo. Betsy engoliu em seco, admirada por Nik parecer tão inseguro e impressionado a ponto de ainda estar abalado e desconfiado por causa do que Belle dissera.


– Só posso lhe dizer que eu conheci vocês dois ao mesmo tempo, no bistrô, mas que não reparei nele. Quer dizer, eu vi que você estava acompanhado por um sujeito e, mais tarde, acabei concluindo que vocês eram irmãos. Mas, pelo tanto de interesse que ele me despertou, Cristo bem poderia não ter estado lá – admitiu ela calmamente. – E... depois? – insistiu Nik, pegando na mão dela, que estava apoiada no assento. – Como você se sentiu mais tarde, depois que o nosso casamento acabou? – Eu senti que ele era o meu único amigo, o único que me ouvia e que não me julgava. Que ele estava ali quando eu


precisava de um ombro para me apoiar. Ele foi muito bom para mim... – Ele disse que eu era um péssimo marido, que eu não a tratei devidamente e que ele sentia pena de você – falou Nik de um só fôlego. – É verdade? Eu tratei você muito mal? – Você só viajava muito e era muito... desligado. Você nunca explicava alguma coisa. Mas, afora a vasectomia que você escondeu, eu não diria que você foi um péssimo marido – disse Betsy com sinceridade. – Na maior parte do tempo, eu fui feliz com você... – Mas deveria ter sido o tempo todo – falou Nik, desanimado. – Eu decepcionei você, mas, a não ser pelo seu desejo de ter um filho, eu achei que


estava sendo um bom marido. Infelizmente, eu não sou perfeito. Na verdade, sou profundamente falho e fiz de tudo para remediar este fato. Porém, você também não é perfeita. Quando percebi que você sofria de dislexia, eu me senti mais à vontade com você. De início, o que eu senti por você foi uma intensa atração física, mas, assim que a conheci melhor e percebi que você também tinha limitações, senti que você era perfeita para mim... A limusine parou diante da casa e, por um décimo de segundo, Betsy ficou sentada ali, olhando fixamente para Nik. Você também tinha limitações ainda soava em seus ouvidos, principalmente


o também. – Quando disse que era profundamente falho, o que você queria dizer...? O motorista abriu a porta e o ar frio da noite entrou no carro. Nik pegou na mão dela, ajudou-a a descer, e os dois subiram a escada da entrada. – Eu lhe devo a verdade – falou ele com uma amargura indisfarçável. – Mas é uma verdade que eu teria preferido jamais lhe contar. Betsy sentiu um calafrio lhe descer pelas costas e sua pele ficou toda arrepiada. Observou o perfil moreno de Nik e ficou impressionada com a tensão que via no seu rosto. – Eu não sei do que você está falando


– sussurrou ela, desculpando-se. Nik abriu a porta da sala de estar. Eles entraram, e ele foi servir bebidas para os dois. Em silêncio, ele ofereceu um copo de suco de laranja a Betsy. Ela agarrou o copo com força, sem conseguir deixar de olhar para ele. – Nunca lhe ocorreu que às vezes eu pareço meio estranho? – perguntou ele com sarcasmo. Betsy ficou calada enquanto o via beber a dose de brandy de um só gole e percebia que ele tentava controlar a tensão. – E então? – insistiu ele com ironia. – De vez em quando, você fica um pouco... diferente... – admitiu ela com


relutância, pensando no inesperado pedido de casamento e na reconciliação, que ele não quisera discutir com ela antes de voltar para casa. – Mas não é nada com o qual eu não possa lidar e conviver... – Vamos ver se você consegue descobrir sozinha – falou Nik com um ricto de zombaria no canto da boca. – Eu não mostro nenhuma empatia e tenho dificuldade para saber o que os outros estão pensando. Desconfio instintivamente da maioria das pessoas. O aspecto positivo é que eu sou completamente sincero nos meus relacionamentos. Ainda assim, minhas falhas já causaram inúmeros problemas na área dos relacionamentos pessoais.


Betsy estava pasma. Sua cabeça começava a latejar de tensão, anunciando uma enxaqueca, porque o que ele estava tentando lhe dizer era mais importante que tudo que ela poderia ter imaginado. – Quando criança, eu sofri severos danos por ter sido submetido aos piores maus-tratos – admitiu Nik bruscamente, observando-a com seus lindos olhos verdes, como se esperasse que ela começasse a gritar ou a brigar com ele. – A minha mãe era abusiva... – Sua... mãe? – exclamou Betsy, horrorizada. – Sim, minha mãe. As mulheres também podem ser violentas – falou Nik


asperamente. – Eu sempre desconfiei que ela tivesse algum tipo de distúrbio de personalidade. De qualquer maneira, ela era violenta. Para começar, ela jamais quis ter um filho e, pior, eu a fazia lembrar de Gaetano, a quem ela odiava. Ela achava que o meu pai a havia feito de tola por ter engravidado também a mãe de Cristo. Ela concentrou o seu ódio e o seu ressentimento em mim, porque eu me parecia com ele. Betsy estava atordoada pelo choque. – Eu não sabia, Nik. Por que você nunca me contou isso? Aqueles pesadelos que você costumava ter...? – Lembranças da infância... Eu também comecei a ter flashbacks dos abusos – confessou Nik relutante e em


voz baixa. – Eu demoro mais tempo do que o normal para entender reações emocionais... Como aconteceu esta noite, com Cristo. Eu explodi porque estava furioso e aborrecido. Eu me senti traído. Tive medo que você tivesse desenvolvido algum sentimento por ele, sentimento que você não poderia admitir porque sabia que não seria certo. Eu tive medo de não conseguir saber a verdade e acreditar nela... Porque, se a situação seria difícil para qualquer pessoa, para mim era ainda pior. – Ah, Nik – murmurou Betsy, condoída, sentindo o coração palpitar por ele. Muitas coisas que ela jamais entendera em Nik começavam a se


encaixar. Fora por isso que ele se contivera tanto quando ela lhe fizera graves acusações e ficara em silêncio quando ela começara a falar em sentimentos. Fora por isso que ele se enganara a respeito do que ela sentia por ele e desistira do casamento. Ele realmente pensara que ela não o amava mais, que o que ela lhe dissera era a verdade literal. Ele não tinha facilidade para enfrentar tais conflitos e, às vezes, infelizmente, quando estavam magoadas e zangadas, as pessoas diziam coisas que não queriam dizer, proferiam ofensas e faziam ameaças só para provocar. E fora exatamente isso que ela fizera com ele. – Isso é algo que eu faria de tudo para


evitar – admitiu Nik com raiva, erguendo a cabeça orgulhosamente. – Eu não queria que você soubesse e que me julgasse de maneira desfavorável. – Eu não o julgo de maneira desfavorável... – falou ela, admirada. – Eu não queria que você me visse como alguém traumatizado, e não quero a sua simpatia ou a sua piedade – disse Nik secamente, com o rosto muito pálido, olhando para ela com um olhar de desafio. – Você achava que eu era perfeito, e eu queria muito ser perfeito para você. Queria que você olhasse para mim com admiração, que me respeitasse... – Eu ainda faço isso! – exclamou


Betsy com ardor ao ver como ele estava evidentemente preocupado. – Você é dez vezes mais esperto do que eu e é um empresário brilhante e próspero. É evidente que eu o respeito e nunca poderia deixar de admirá-lo. Na verdade, acho que você subiu no meu conceito por ter resolvido enfrentar suas batalhas em silêncio... Mas por quê? Eu compreendo essa visão machista de esconder o que você considera ser uma fraqueza, mas por que não me contou tudo isso há mais tempo? Pelo amor de Deus! Nós éramos casados! – Aprendi a esconder os hematomas, as feridas e as cicatrizes de todo mundo. Eu me tornei especialista em desviar a atenção das pessoas da minha dor e do


meu sofrimento. Minha própria mãe me via como um ser anormal porque eu nunca reagia aos abusos que ela me infligia. Aprendi rapidamente que, se eu reagisse, chorasse ou pedisse para ela parar, seria pior para mim. Portanto, parei de chorar, de sentir, e me isolei totalmente dela e de todos – confessou Nik com uma voz assustadoramente calma, como se a atitude da mãe para com ele fosse perfeitamente compreensível. – Ela me fez fazer terapia de condicionamento comportamental quando eu tinha apenas 4 anos. Betsy olhou para ele horrorizada, mas fechou a boca e engoliu a exclamação


que teria revelado seus verdadeiros sentimentos. Ele não queria ouvir que o seu coração estava despedaçado por causa do que ele passara. Evidentemente, a infância de Nik fora um teste de resistência à crueldade e ao sofrimento. Sua mãe não o amara e não zelara por ele; chamara-o de anormal. Desde muito cedo, ele fora forçado a ser autossuficiente, e isso só deveria ter aumentado a sua desconfiança e o seu isolamento. Encorajado pela ausência de reação negativa à sua confissão, Nik continuou a falar obstinadamente, determinado a lhe contar tudo agora que já começara. – Helena me odiava. Como se ter um filho indesejado não tivesse sido


suficiente, ela também sentia vergonha de mim. Betsy sentiu os olhos se encherem de lágrimas, mas se controlou porque não queria que ele as visse. Ela não suportava imaginar como tinha sido a infância de Nik. Pelo que ele estava contando, sua mãe tinha sido muito menos que carinhosa, e ele deveria ter achado que a culpa era dele, que ele não era bom o bastante para ela, que ele era defeituoso. Nik deveria ter ficado muito confuso e perdido porque provavelmente não conseguira entender o que acontecia, ela pensou, angustiada ao imaginar o que ele deveria ter passado e sofrido.


– A minha mãe era fisicamente abusiva – admitiu Nik abruptamente. – Mas os pesadelos só começaram pouco depois que eu conheci você. Eu tinha bloqueado todas as lembranças da crueldade da minha mãe... Foi uma maneira de me defender. Eu não tinha esquecido o que ela havia feito comigo. Só não queria lidar com as lembranças. Mas, quando conheci você, pela primeira vez, eu voltei a me abrir para os sentimentos. E de repente comecei a ter flashbacks e pesadelos violentos. Betsy sorveu o ar como se tivesse acabado de ser salva de um afogamento e não conseguiu mais se segurar. Cruzou a distância que havia entre eles e


abraçou-o como se nunca mais fosse querer soltá-lo. – Você nunca deveria ter deixado a sua mãe ir ao nosso casamento – disse ela por falta de ter outra coisa a dizer, com medo de demonstrar compaixão e ferir o orgulho de Nik, porque ela sabia que tamanha sinceridade e exposição tinham sido muito duras para um homem tão reservado quanto ele. – Por que o seu avô não o defendeu? – Nós vivíamos numa ala totalmente separada da casa dele. Ele nunca ouviu ou viu algo suspeito e presumiu que eu me machucava brigando na escola. Porque eu não sabia brincar com as outras crianças – explicou ele com um tom de ironia.


Betsy encostou a testa no peito dele, ouviu as batidas do seu coração e sentiu o seu calor aquecê-la até os ossos, como se fosse uma droga. – Por que você não contou a ele o que a sua mãe fazia com você? – Porque eu achava que merecia por não ser o filho que ela desejava. Betsy abraçou-o pela cintura e engoliu com tanta dificuldade que chegou a arranhar a garganta. Ele era um homem de aço forjado no sofrimento, e ela nunca percebera isso. Nik era forte porque precisara ser forte para sobreviver; era duro porque sabia que as fraquezas significavam vulnerabilidade; e era desconfiado


porque muitas pessoas o tinham decepcionado. – O abuso que eu sofri foi o motivo pelo qual eu resolvi fazer a vasectomia – desabafou Nik em voz baixa. – Eu não queria ter um filho, sabendo que existia a possibilidade de me sentir da mesma maneira que a minha mãe se sentira em relação a mim. Eu não podia me arriscar a fazer uma criança passar pelo mesmo sofrimento que eu passei. Mas eu sei que não sou igual à minha mãe e percebi que a vasectomia tinha sido um exagero da minha parte. A explicação dele era tão simples, mas deixou-a paralisada, porque nunca lhe ocorrera que Nik deveria ter tido um bom motivo para ter tomado aquela


decisão ainda tão jovem. Ela pensara apenas em motivos mais egoístas e menos aceitáveis, relacionados à sua relutância em abrir mão da liberdade e assumir suas responsabilidades como pai. Betsy pressionou a barriga arredondada contra o corpo de Nik e se apoiou nele. – Você é um homem bom e carinhoso. Eu sei que você vai proteger e zelar por esses bebês com todo cuidado. Você não tem nada de parecido com a sua mãe... Nem ouse pensar que tem – falou ela com voz trêmula. Nik segurou-a pelo queixo e fez com que ela erguesse a cabeça. – Eu tinha medo que, quando lhe


contasse a verdade, você fosse me odiar por tê-la engravidado... – Eu jamais iria odiá-lo – sussurrou Betsy, com os olhos azuis grudados no seu belo rosto. – Eu o amo demais para isso e vou amar nossos filhos da mesma maneira... Ele ergueu as sobrancelhas e fitou-a com os olhos emoldurados pelos fartos cílios cheios de surpresa e de curiosidade. – Está dizendo que ainda me ama? Como é possível? – Nunca deixei de amá-lo. No dia em que o mandei embora e disse que você tinha matado o meu amor, eu estava fazendo um melodrama – falou Betsy em tom culpado. – Eu estava furiosa, mas


não queria dizer que... – Nunca faça isso comigo – advertiu Nik, segurando-a pelo queixo. – Eu achei que tinha perdido você para sempre. Quando os meus flashbacks e pesadelos pioraram, eu fui procurar um terapeuta – admitiu ele mal-humorado. – Falar francamente a respeito da minha infância aliviou a carga e me ajudou a lidar com ela como adulto. Resolvi tentar esquecer e não olhar mais para o passado... A não ser que ele se refira a você... – E por que eu sou diferente? – perguntou Betsy de propósito. – Porque você sempre me inspira sentimentos que ninguém mais inspira –


confessou Nik. – Eu não sabia definilos, até quase ser tarde demais. Eu sei que você não era feliz na primeira fase do nosso casamento, mas eu era. Só de tê-la na minha vida, morando comigo, era suficiente. Sem você, a minha vida se tornou um inferno e eu fiquei profundamente infeliz. Betsy abraçou-o e soltou um suspiro de felicidade. – O mesmo aconteceu comigo. Acho que fomos feitos para ficarmos juntos. – Acho que sentir a sua falta, desejála e precisar de você o tempo todo quer dizer que eu a amo – confessou Nik num tom de quem debochava de si mesmo. – Sinto muito se levei tanto tempo para descobrir que você me faz feliz, mas ao


menos eu cheguei lá... Betsy olhou para ele admirada. – Você me ama? – Sem você, não existe nada que me interesse – admitiu Nik corajosamente. – Até o som da sua voz no telefone me faz vibrar... A felicidade tomou conta de Betsy, eliminando suas tristezas, suas preocupações, suas inseguranças, proporcionando-lhe a visão de um futuro gloriosamente promissor. – Eu estava realmente apavorada por você só ter voltado para mim e resolvido dar mais uma chance ao nosso casamento porque eu estava grávida. – Foi apenas uma desculpa. A


verdade é que eu queria voltar, e assim que coloquei essa ideia na minha cabeça, mal podia esperar para realizála – confessou ele, olhando-a com carinho. – Eu não consigo viver sem você. Betsy encostou a cabeça no pescoço de Nik e se deliciou ao sentir o seu perfume, sabendo que ele voltara para ela em todos os sentidos. – Cristo irá perdoá-lo pelo que aconteceu esta noite? – Nós já fizemos as pazes. Ele sabe que estava errado. Betsy olhou para ele desanimada. – Não foi isso que eu quis... – Ele não deveria ter sentido nada por você, e ele sabe disso – repetiu Nik com


teimosia. – Eu estou cansada – sussurrou ela, deitando a cabeça no ombro dele. – Vamos para a cama antes que seja tarde demais. Nik levantou-a do chão para subirem a escada. – Você não precisa mais fazer isso – lembrou-o gentilmente. – Carregá-la me deixa ligado, latria mou. – Ele a deitou na cama e um sorriso luminoso passou por seus lábios sensuais. – E, quando você se desdobrar em três e as crianças nascerem, a vida ainda será melhor, porque eu vou ter mais duas pessoas para cuidar. – E todos nós seremos muito


exigentes – advertiu Betsy docemente enquanto ele abria o seu vestido e a ajudava a tirá-lo. – Eu a amo o suficiente para fazer qualquer coisa que você queira de mim, pethi mou – declarou Betsy, deitando ao lado dela e abraçando-a. – Acho que me apaixonei por você na primeira vez em que a vi, porque eu não conseguia tirá-la da minha cabeça. Ela passou os dedos por entre os cabelos negros de Nik com ternura e relaxou dentro dos seus braços. – Foi mútuo – afirmou Betsy, sonolenta, abraçando-o pelo pescoço. – Eu preciso levantar e tirar a minha maquiagem. Não me deixe dormir... Mas Nik estava feliz demais


abraçando a esposa adormecida, para acordá-la. Totalmente desperto, ele se regalava com a sua nova sensação de paz e de contentamento. Betsy se mexeu e se enroscou nele com um suspiro de satisfação: mesmo adormecida, ele era a sua fonte de segurança. Nik sorriu no escuro. Estava convencido de que aquela era a essência da sua felicidade...

GARGALHADAS INFANTIS se espalhavam pelo ar enquanto Nik corria pela praia, atrás das filhas gêmeas. – Voltem aqui! – gritou ele, reconhecendo ter sido derrotado. Sentada sobre a manta de piquenique,


Betsy sacudiu as canequinhas de suco, e Dido e Ione correram de volta para pegá-las, equilibrando-se sobre as perninhas rechonchudas com rapidez e segurança. Sob a claridade do sol, a aliança de brilhantes que Nik lhe dera de presente no dia em que haviam se tornado pais brilhava no dedo de Betsy. As meninas já estavam com quase dois anos e eram cheias de vida. Eram gêmeas idênticas e tinham cachos negros, pele morena e os mesmos olhos azuis da mãe. Exasperado pela facilidade com que Betsy conseguira conter as duas garotas, Nik abaixou o corpo bronzeado com agilidade e sentou sobre a manta, ao lado da esposa.


– Por que elas não fazem o que eu peço? – perguntou ele. – Você as mima e nunca as repreende seriamente – explicou Betsy enquanto as meninas pegavam suas canecas e bebiam o suco através dos bicos de plástico. Nik franziu a testa e observou as filhas. Se ele não as adorasse, se elas não lhe lembrassem Betsy, seria mais fácil discipliná-las. Mas as meninas haviam herdado os olhos da mãe, assim como sua delicadeza e sua rebeldia. Ser pai era mais gratificante e mais trabalhoso do que ele esperava, mas Nik não trocaria um dia da sua vida, quase sempre caótica e ocupada, por um dia longe das filhas.


Quando eles tinham alguns dias livres, voavam até Vesos e ficavam na Villa, aproveitando para ficarem juntos. As meninas adoravam a praia e Betsy simplesmente gostava de relaxar e de ter Nik só para ela. Agora, Nik raramente deixava Lavender Hall por mais de três dias de cada vez. Ele reduzira seriamente os negócios que tinha no exterior. A mudança do seu estilo de vida começara quando ele percebera que não queria deixar Betsy, ainda grávida, sozinha e continuara depois do nascimento das gêmeas, quando ele sentira que queria participar da vida delas tanto quanto Betsy. Enquanto as meninas comiam


sanduíches, Betsy observava o rosto anguloso do marido se suavizar quando olhava para as filhas. Betsy nunca sonhara ser tão feliz com ele: sem nenhum segredo entre os dois, uma enorme dose de amor e de compreensão mútua, a vida deles mudara para melhor e se tornara mais rica e absorvente. Eles ainda mantinham constante contato com Cristo e Belle e seus meio-irmãos. Felizmente, a briga entre Nik e Cristo não causara um mal-estar duradouro e eles estavam mais próximos do que nunca. Algumas vezes todos se juntavam e voavam para o fabuloso palácio de Zarif, onde aproveitavam o sol do deserto. Mais que tudo, Nik adorava ser


pai e ficar em casa. Claro, nem tudo fora perfeito entre ele e ela, Betsy pensou, entristecida. Assim que Nik descobrira a dimensão da empresa que ela administrava nos fundos da casa, ficara surpreso e insistira para que ela mudasse a loja de produtos agrícolas e outros artigos a eles relacionados para outro lugar. Os dois tinham tido várias discussões acaloradas sobre o assunto, antes de a mudança ser feita para uma fazenda vizinha, que Nik comprara com esse propósito. Betsy agora precisava dirigir até o trabalho, mas também precisava admitir que os negócios haviam crescido exponencialmente, porque o acesso à


nova loja saía diretamente na estrada principal. Graças à visão que tinha de negócios, Nik não podia ser considerado um investidor inativo. Quando todos acabaram de comer, a babá das meninas veio buscá-las para levá-las de volta à Villa, onde deveriam fazer a sesta. – Tempo para os adultos. – Nik suspirou com satisfação, virando de lado para poder olhar para Betsy, que estava se bronzeando, vestida num biquíni vermelho formado por três triângulos. – Quanto tempo vai levar para tirar isso? – Eu não vou tirar. Poderíamos ser vistos de algum barco de pesca – esclareceu Betsy, corando por causa da


ideia e do risco excitante que ela implicava. Nik deu uma gargalhada e abriu maliciosamente o laço do sutiã do seu biquíni enquanto lhe tirava o fôlego com um beijo ávido, que a deixou toda arrepiada. – Você pode ser linda e incrível, mas também é uma tremenda puritana, sra. Christakis... – Admito que sou, mas o amo muito – alegou Betsy em sua defesa, desejando que ele novamente pressionasse a boca sensual sobre seus lábios. Quando ele colocou a palma da mão sobre a sua barriga, perigosamente perto de seus seios, ela sentiu a pele se incendiar.


– Eu também amo você – murmurou Nik, com os olhos brilhando de admiração enquanto olhava para ela. – Para sempre não é o bastante para estar com você. Ele a beijou novamente, e ela se sentiu plenamente satisfeita e feliz. Quando ele desamarrou os laços da parte de baixo do seu biquíni, ela fingiu não perceber, mas passou-se um longo, longo tempo, antes que eles voltassem para a Villa.


DIAMANTE PURO? Susan Stephens

Atravessando cuidadosamente a rua congelada, assim que houve uma brecha no trânsito, deixou-se ocultar pelas sombras da noite. Raffa Leon estava parado no alto dos degraus do hotel, observando a rua, provavelmente à espera de que alguma


socialite deslumbrante descesse de uma limusine. Deus do céu, ele estava de tirar o fôlego! Mas seu plano de uma entrada anônima foi por água abaixo... Não necessariamente. Tudo o que tinha de fazer era escolher o melhor momento para passar por ele e entrar no hotel sem ser notada. E com esse intento em mente, começou a subir rapidamente os degraus no momento em que Raffa olhava em outra direção. Tudo corria bem. Até que pisou num trecho de gelo... O salto da sandália foi para um lado, o pé para o outro e, com uma exclamação assustada, ela se preparou para atingir o chão em


cheio. Mas se enganou. – Leila Skavanga! Ela se manteve em silêncio, atônita, quando o rosto mais bonito do mundo surgiu a meros centímetros do seu. – Raffa Leon! – Recuperou-se o bastante para conseguir fingir surpresa. – Puxa vida, me desculpe. Não vi você parado aí… Jamais se sentira tão constrangida. Se havia braços em que não queria cair nessa noite era nos dele. E Raffa a segurava com tanta firmeza que não teve escolha a não ser permanecer onde estava, com o calor daquele corpo forte e viril se irradiando até o seu. Com a


deliciosa colônia amadeirada dele invadindo seus sentidos. E aqueles olhos… – Obrigada – conseguiu dizer, enquanto ele a erguia e ajudava a recobrar o equilíbrio. – Que bom que segurei você a tempo. A voz de Raffa era possante, sexy e tinha um sotaque leve, agradável. – Oh, sim. – Ela nem sequer queria pensar no vexame de que havia sido poupada. – Você não torceu o tornozelo, não é mesmo? O homem para quem a descrição “moreno, alto e bonito” parecia feito sob medida, olhava para as pernas dela. Ciente de que sua meia-calça estava


arruinada, Leila desviou a atenção dele sacudindo o vestido de maneira um tanto exagerada. – Não, estou bem. – Ergueu um pé e, depois, o outro para mostrar que falava a sério e, então, sentiu-se uma tola. – Já fomos apresentados, é claro. – Sim, na fila de cumprimentos do casamento de Britt. É bom rever você. Raffa tinha olhos tão cativantes que ela não conseguia desviar os seus. Era dono de um magnetismo tão poderoso que a deixava sem ação, sabendo apenas que precisava escapar. Ele, porém, não pareceu com pressa de encerrar o inesperado encontro à entrada do hotel. Estudava seu rosto atentamente. Sua


máscara de cílios estaria borrada? Não levava muito jeito para aplicar maquiagem. – Aliás, não apenas já nos conhecemos, como somos quase da mesma família, Leila. – Como disse? – Quando Raffa a fitava com olhos sorridentes como agora, ela não conseguia pensar com clareza. – Mesma família? – S í – insistiu Raffa com seu charmoso sotaque espanhol. – Agora que o segundo membro do consórcio vai se casar com uma das irmãs Skavanga, só restamos nós dois. Não precisa ficar tão chocada, señorita Skavanga. Só quis dizer que talvez possamos nos conhecer um pouco melhor agora.


Era o que ele queria realmente? E por quê? Imediatamente desconfiada das razões para um homem tão bem-sucedido e irresistível querer conhecê-la melhor, ela o informou: – Não tenho muitas ações na empresa. Raffa soltou um riso e, então, a fez conter a respiração ao se curvar acima da mão dela. – Não tenho a menor intenção de roubar suas ações. Como um simples roçar de lábios nas costas de sua mão era capaz de lhe provocar tantas sensações?, perguntouse Leila admirada. Havia lido sobre coisas como essa. Antes do casamento


ou noivado, as irmãs haviam falado incessantemente sobre encontros românticos, mas esse era um mundo totalmente novo para ela. Não que Raffa pretendesse ser romântico. Era apenas sua maneira de deixá-la à vontade. Então, por que seu gesto estava tendo o efeito oposto?


Próximos lançamentos:

409 – DIAMANTE PURO? – SUSAN STEPHENS

410 – POR UM ANO APENAS… – LYNNE GRAHAM

411 – TOQUE DE OUSADIA – CAITLIN CREWS


412 – DIAMANTE PROIBIDO – SUSAN STEPPHENS


405 – NOIVA REBELDE – LYNNE GRAHAM Após a morte de seu pai, Cristo Ravelli recebe uma herança indesejada: irmãos ilegítimos. Para preservar o nome da família, Cristo precisa da ajuda da linda Belle Brophy, guardiã das crianças. 406 – DESAFIADO PELO DESEJO CAROL MARINELLI Alina Ritchi precisa enfrentar seu medo e ir de encontro ao destino: tornar-se


assistente do lendário playboy Demyan Zukov e provar a ele que é capaz de dizer “não”. Mas por quanto tempo?

407 – NOITE NO PARAÍSO – MAISEY YATES Clara Davis aceitou fingir ser a noiva de seu chefe, o belo Zack Parsons. Agora, os dois terão uma noite de paixão para satisfazer todos os seus mais secretos desejos.


CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ G769e Graham, Lynne, 1956Esposa decidida [recurso eletrônico] / Lynne Graham; tradução Maria Vianna. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Harlequin, 2014. recurso digital Tradução de: Christakis’s rebellious wife Formato: ePub Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions


Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-398-1547-0 (recurso eletrônico) 1. Romance irlandês. 2. Livros eletrônicos. I. Vianna, Maria. II. Título. 14-14712

05/08/2014

CDD: 828.99153 CDU: 821.111(415)-3 08/08/2014

PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM HARLEQUIN BOOKS S.A. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.


Título original: Christakis’s Rebellious Wife Copyright © 2014 by Lynne Graham Originalmente publicado em 2014 por Mills & Boon Modern Romance Arte-final de capa: Isabelle Paiva Editoração Eletrônica: ABREU’S SYSTEM Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4º andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921380 Contato: virginia.rivera@harlequinbooks.com.br


Sumário geral

Capa Teaser Querida leitora Rosto Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8


Capítulo 9 Capítulo 10 Próximos lançamentos Créditos Sumário geral


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