Chamuças de Bacalhau Sentada em cima de uma torradeira não dói mais. A Rita continua com um feitio de cão indiano. Ouvindo Rao Kyao até Anjuna, a A Grande Feira. Perdida num labirinto comercial. Ouvindo Bob Marley até casa. Festinhas no cabelo?
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XXIX Lost Acordámos lá para as sete. Eu tinha uma dor particularmente irritante no rabo e foi ai que percebi que a minha apanha de conchas tinha resultado num assustador escaldão traseiro. O aspecto era qualquer coisa como se eu tivesse passado as últimas horas sentada numa torradeira e a dor terrível. A Rita continuava de trombas por isso nem lhe contei isto nem o meu conto americano. Antes de fazer o check out passei pela cabana do Ben, e deixei-lhe amarrada à porta uma das estrelinhas de papel, não era de David mas era como se fosse. Ele já tinha acordado e estava na esplanada a ver se me via passar, então decidimos ir tomar o pequeno-almoço à vila. Dissemos adeus a Palolem. A Rita disse uma asneira em vez de adeus, mas resultou na mesma, não estava nos seus dias. Quando entrámos no autocarro para voltar a Panjin, o cobrador pediu 20Rs em vez das 15Rs que tinham sido na primeira viagem. A Rita, ultrajada, pôs-se a discutir “à portuguesa” com o homem e depois de quinze minutos de baixaria lá lhe entregou uma nota de vinte. Ao qual o homem respondeu “Essa não quero”. A mim só me deu para rir, a Rita parecia que ia explodir. A nota em questão tinha um pequeno rasgão e por isso não a queriam aceitar, lá houve mais 5 minutos que resmunguices que acabou por cessar. Na troca de autocarros em Margao, entre um hambúrguer vegetariano lá contei à Rita o que se tinha passado. Estava a fazer-me falta uma confidente. A Rita só disse “Oh, és tão típica”. E eu achei que era um elogio apesar de ser dito como um insulto, por isso respondi-lhe com um sorrizão. Como milagre, quanto mais nos aproximávamos de Panjin melhor ela se sentia e quando chegámos a casa, ela já tinha recuperado totalmente. Tínhamos combinado com a Premila ir a Anjuna, onde havia uma feira gigantesca, e lá fomos de carro a ouvir os grandes êxitos do Rao Kyao, porque ao que parece a Premila adorava o som do pifarozinho do Rao. A dita feira ficava por trás da praia de Anjuna e era labiríntica. A Rita queria comprar pratas, eu ainda andava atrás dos tops do sari, que ninguém vendia. Foi uma tarde profundamente regateadeira, aliás até fartava ter que ter sempre a mesma conversa, do “compro, não compro, vou me embora, está bem dá cá isso”. Consegui encontrar a colcha a 100Rs, umas calças verdes e um top de sari azul bordado que já tinha sido de alguém, vários anos, tudo por 100Rs.
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Às tantas perdi-me e fiquei sozinha. Não tinha telemóvel e não conseguia encontrar a saída. Passei um mau bocado. O sol estava a pôr-se e em breve iria escurecer, os vendedores metiam-se comigo e eu dava voltas e mais voltas, todas as tendas me pareciam iguais, e não havia maneira de as encontrar. Lembram-se de quando eram mesmo putos e se perdiam no Jumbo? Estava a sentir-me assim. Depois de uma hora de desespero circular, lá encontrei a saída mas não encontrei o carro, havia milhares deles estacionados, entre mendigos que pediam. As pessoas começavam todas a ir-se embora e eu olhava em vão para as caras, a ver se reconhecia a Rita e a Premila. Às tantas decidi pôr me ao lado do camelo e do encantador de serpentes e esperar que elas passassem por mim. Disse Ganesh mil vezes e mesmo ao lusco fusco vejo aparecer no horizonte a Premila. Oh que emoção, abracei-me à senhora, que se ria como ela só, e dizia “Vere wêre riu” e eu encolhi os ombros e sorri. Estava salva afinal. Enquanto voltávamos de carro, íamos a ouvir Bob Marley e a Premila ia filosofando sobre como viver a bela da vida. Parámos numa mercearia para ela ir comprar uma surpresa e eis que o jantar foi Paneer! O meu fatal Paneer que já não comia desde Udaipur. A ceia foi animada enquanto contávamos as últimas aventuras. Acabámos por adormecer todos no quarto a ver filmes, enquanto o Atish me fazia festinhas no cabelo. Esta agora ?!
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