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João Aranha 25 e

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Cida Castilho 71 e

Cida Castilho 71 e

Foto: ROBIN WORRALL - unsplash.com Este outro lado da moeda diz que a meritocracia é uma farsa, pois uma sociedade que busca ser justa não pode se basear só na possibilidade de ser livre para ascender. Casos isolados de meritocracia não justificam a massa dos que sofrem a opressão de uma desigualdade estrutural. Poucos são os que vencem essas barreiras e muitos são aqueles que se amarguram por se verem apartados dos melhores empregos e das melhores escolas para seus filhos. Os ressentimentos gerados abrem as portas para políticos populistas, decorrentes da perda de confiança no conhecimento e nas instituições, onde promessas vagas do tipo “Brasil acima de tudo” nada significam na prática. Uma exceção não funciona quando se analisa o todo. Há os que vivem com dignidade e decência, dando sua contribuição fundamental para a sociedade, embora não reúnam as condições mínimas para ascender, levando a pecha de indolentes, preguiçosos e pouco ambiciosos. Num mar de ansiedade, frustrações e queixas legítimas, não apenas as de caráter econômico, mas também, morais e culturais, as pessoas que não podem ascender sentem-se alheadas ao não se verem como participantes de projetos comuns, não terem acesso à cultura do aprendizado e serem excluídos da vida econômica, social e política da nação. Essa situação se deteriora quando os governantes insistem em fazer uso também da meritocracia, gerando programas sociais que visam beneficiar jovens que se destacam em competições esportivas, ofertando bolsas de estudo para aqueles de bom desempenho em competições acadêmicas e científicas, excluindo dos benefícios a grande massa de famintos e desempregados. Ao se ver sem trabalho o ser humano se torna invisível, não participando do bem comum, nas suas formas consumistas e cívicas, ameaçando os princípios democráticos e a justiça social. Daí a pergunta que não quer calar: O que aconteceu com o Bem Comum e qual será a herança das gerações futuras num ambiente tecnocrático onde o modo meritocrático impera, definindo o mundo como sendo deganhadores e perdedores.

Para Saber Mais: - A Cilada da Meritocracia – Daniel Markovits – Editora Intrínseca - A Tirania do Mérito – O que aconteceu com o bem comum? – Michael J. Sandel – Editora Civilização Brasileira

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MATÉRIA REPETIDA AGORA NA INTEGRA. POR UMA FALHA DE EDIÇÃO A MESMA FOI CORTADA NO NÚMERO ANTERIOR. PEDIMOS DESCULPAS AOS LEITORES E AO COLUNISTA

Aprendizagem na 3ª idade Em busca do envelhecimento saudável

Malu Navarro Gomes Pedagoga Psicopedagoga Educadora no projeto Feliz Idade

Ao tomar conhecimento de uma questão levantada por um amigo sobre aquilo que escrevi na última edição desta Magazine 60+ resolvi transformar sua questão no tema central de nossas reflexões nesta nova edição da revista.

Ary Filler, São Paulo – SP – transcrição resumida de mensagem por áudio de WhatsApp

“Entendi que você irá fazer uma sequência de artigos falando sobre o envelhecimento saudável. Eu acho que você começou a abordar temas básicos, mas tem gente que ainda não discute muito isso. Eu não sou muito de seguir cartilha e vejo que existem muitas cartilhas: faz isso, faz aquilo... Você sugere: geriatria, nutrologia, fisioterapia psicomotora, tudo ligado à saúde, mas, principalmente à medicina ligada à indústria farmacêutica, à indústria da doença, quanto mais doença, melhor. E aí eu te pergunto: e a oriental e a medicina chinesa e coisas como a saúde integral? Então, quando a gente fala numa cartilha: procurem os médicos, procurem não sei o quê, eles vão cair nas mãos dos que estudaram em uma faculdade financiada pela indústria farmacêutica. A medicina integrativa é muito mais completa, muito mais sofisticada do que a medicina ocidental, a nossa. Então, eu acho que o envelhecimento saudável também deve abranger práticas que os orientais têm. A gente podia aprender com eles”. Caro Ary, grata por sua participação. Desculpe-me por ter resumido seu depoimento e só o fiz para que sua pergunta e minha resposta caibam no espaço desta coluna. Primeiramente você tem razão quando nos alerta para o foco no uso exagerado de remédios ao invés de mudança de hábitos de vida e de comportamentos saudáveis. Também concordo com você quanto ao que poderíamos aprender com a medicina tradicional chinesa. Muitos institutos sérios de pesquisa têm trabalhado para investigar os benefícios de técnicas como Shiatsu, Do In, Acupuntura, Reflexologia, Fitoterapia e outras que, se não forem técnicas orientais antigas são, pelo menos, mais naturais e menos invasivas, hoje fazem parte da prática de muitos médicos ocidentais, inclusive que foram

Imagens: Pinterest aceitas no Brasil pelo Ministério da Saúde, como parte da prática possível em nossa medicina. Trata-se das Práticas Integrativas e Complementares encontradas, por exemplo, no Sistema Único de Saúde – SUS – e que hoje conta com um total de vinte e nove dessas modalidades. Vale a pena buscar essa referência no site do Ministério da Saúde. É preciso lembrar que as Práticas Integrativas e Complementares não substituem o tratamento tradicional, porém o complementam. Não podemos nos esquecer também que a medicina ocidental – não gosto destas classificações, mas vá lá... – trouxe avanços como a penicilina, a insulina, medicamentos para a hipertensão, para a tuberculose, HIV, a hanseníase, assim como respeitados cientistas dedicaram sua existência a descobertas que salvaram muitas vidas, como Sabin, Marie e Pierre Curie e tantos outros. A expectativa de vida no ocidente no último século aumentou de 45 anos para 75 anos, mais ou menos, atualmente. Para nós, os idosos, além de mais tempo, melhorou também nossa qualidade de vida, diminuindo as dores antes consideradas normais em idades mais avançadas e isso nos ajuda a resgatar a disposição e energia para fazermos o que temos vontade. Podemos sonhar e construir um futuro melhor para nós mesmos e deixar um legado para as gerações posteriores à nossa. Quanto à indústria farmacêutica não há dúvida de que seu principal motivo para investir milhões em pesquisas é a busca do lucro. Aí entramos em uma questão do modelo econômico e de políticas sociais cujos acertos e erros fogem ao escopo de nossa coluna. O que você chama de cartilha, são de fato recomendações básicas para a saúde do idoso. Em trabalho psicopedagógico facilito o desenvolvimento de processos de aprendizagens para que os idosos superem seus limites físicos, cognitivos, emocionais, entendam que muito ainda podem fazer, descobrir novas ações e colaborar para disseminar suas conquistas e aprendizagens, não somente entre seus familiares como também para a sociedade. Poderia até orientá-los, quando à sua saúde física, a buscar orientação de profissionais da chamada medicina oriental, mas seria temerário desestimulá-los a buscar especialistas formados nas faculdades de medicina, com anos de estudo e conhecimento de terapias que solucionam problemas de saúde dos idosos. Não conheço e não posso opinar sobre a formação e currículo das faculdades de medicina. Como em todas as profissões, estas podem produzir mercenários, gente cooptada pela propaganda e interesse dos laboratórios. Não podemos generalizar. Sejam nutrólogos, fisioterapeutas, neurologistas ou cirurgiões, infectologistas em clínicas e hospitais ou pesquisadores em institutos e universidades, todos eles trabalham pela saúde. Muitos aqui no Brasil pesquisam a Medicina Oriental e publicam trabalhos interessantes. Nesta horrível pandemia, percebo que os profissionais da saúde que se encontram na linha de frente, se expondo à contaminação, muitas vezes distanciados de suas famílias para preservá-las, estafados pela carga de trabalho merecem nossa gratidão e respeito. Nos hospitais se esgotam de tanto trabalho e, se mal formados ou mal informados, essas mesmas pessoas se tornam heróis por sua dedicação, pela frustração que sentem e relatam quando um paciente morre, apesar de todos os esforços feitos para preservar sua saúde e sua

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