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Jane Barreto ... meu braço parou, minha vida não 34 a
Eu tenho consciência de que dificilmente voltarei a fazer um solo de guitarra como antes... Mas nessa minha busca por fazer o que amo, tenho planos de adaptar um violão para bater as cordas com meu pé, usando um pedal de bumbo de bateria enquanto faço acordes com minha mão direita (membro funcional). Aí está uma grande dificuldade, pois eu antes batia as cordas com essa mão e fazia os acordes com a esquerda (hoje paralisada). Vai ser como reaprender a tocar violão do zero. Se vale o esforço, quem pode dizer somos nós... Pra mim vale! (Jane) O que realmente importa na vida de uma pessoa com uma limitação causada por uma deficiência? (Tomaz) O que importa para nós é sermos aceitos e tratados como pessoas comuns, que somos. Limitações todos temos! Medos, inseguranças, traumas, fraquezas... As limitações de um PCD apenas se evidenciam mais facilmente e causam estranheza nas pessoas, em forma de capacitismo. (Jane) Como é o teu olhar para inclusão? (Tomaz) A inclusão, para mim, é a inserção das pessoas com deficiência, adaptando e criando meios de permitir que essas possam ter uma experiência o mais próxima possível da experiência de um não-PCD. Trata-se, por exemplo, de deficientes frequentando escolas ‘comuns’, mas com instrumentos e práticas que permitam um alto aproveitamento do que a escola oferece! Necessitamos adaptações que possibilitem aos deficientes irem a shows, passeios, parques, viagens, praticar esportes e viver experiências! (Jane)Tomaz também é instrutor de ciclismo e pilotagem em São Paulo, ajudando pessoas com e sem deficiência a ganharem segurança e destreza sobre duas rodas. Paraciclista amador do mountain bike, treino diariamente para participar de competições, passeios e viagens, compartilhando tudo isso em minhas redes sociais no Instagram, YouTube, Facebook, etc. (Tomaz) sim, convido a acessarem e deixarem um comentário, falando que vieram pela #RevistaLivreAcesso ! *http://www.youtube.com/VidaAdaptada *http://www.instagram.com/VidaAdaptada *http://www.facebook.com/VidaAdaptada
“Eu resolvi adaptar a minha vida e fazer o que amo, ao lado daqueles que amo e me amam de volta….”
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Contato:janenova@terra.com.br (#janecriativa)
Psicologizando o cotidiano Dificuldade de Acesso:
aprendizado de casa
Fabíola Furlan
Onco-Psicóloga Especializada
Olá, meus queridos leitores!! É muito bom poder contribuir para esse projeto e, quando recebi o convite, inevitavelmente pensei em como poderia contribuir e – rapidamente essa história (que é real!) me ocorreu de forma imediata. Estar atento às pessoas com dificuldade de acesso sempre passou pelas inúmeras recomendações que minha mãe fazia lá em casa. Ela era enfermeira, sendo assim trabalhando em hospital, era comum no dia a dia ela se encontrar pessoas com dificuldades de locomoção – fosse temporariamente em razão de cirurgia, acidente ou doença, fosse por condições permanentes e irreversíveis. Observar, facilitar a passagem, respeitar, auxiliar entre outros ensinamentos sempre foram válidos, mas a grande verdade é que em 1970 não era tão comum ver pessoas enfrentando dificuldades para conseguir circular em cadeiras de rodas pelas ruas do bairro da Mooca, que foi onde eu passei minha primeira infância e, como os tempos eram difíceis, minha família e eu não passeávamos muito. Contudo, entendam: o fato de não ser comum ver cenas assim não representa dizer que havia facilidades de acesso, ao contrário, a maioria das pessoas com necessidades especiais viviam em ambientes controlados e extremamente protegidos (por vezes reclusos), em suas casas por exemplo. O fato é que a experiência mais próxima que tive ainda na juventude, sobre entender as dificuldades de alguém usando cadeira de rodas, foi quando um amigo de classe dos tempos do colégio sofreu um acidente de bicicleta e se quebrou em tantos lugares que somente indo
Foto: Lambuja/Superinteressantebril.com.br com cadeira de rodas ela conseguia frequentar as aulas e, depois com os meses de recuperação, ele evoluiu para uso de muletas – acreditem, a experiência era de deixar os cabelos arrepiados, pois esse colega parecia ter uma grande vocação de desafiar os limites, tanto os dele quanto os da turma, pois ficávamos sem folego com as acrobacias e falta de controle. Mas em 1994 minha mãe, já bastante doente, e em decorrência de complicações graves do Diabetes Mellitus II, precisou fazer uma cirurgia para amputação de parte de sua perna esquerda!. Ela lutava há anos para tentar controlar a doença e evitar as sequelas mais graves, porém o fato é que se fez necessária a intervenção – de modo que após a cirurgia, o sofrimento com as dores acabou e, ela passou a ter uma melhora clínica significativa. Mas, a realidade se impunha: o que fazer agora? Porém, antes de essa decisão ter sido tomada, nossa família junto com os médicos que a acompanhavam, debatíamos as opções para o pós-operatório e recuperação. Diante de tanto sofrimento, todas as discussões sobre o caso eram importantes, mas sempre o foco era tirar minha mãe daquela situação, pois a falta de circulação gerada pelas complicações da doença causava dores dilacerantes e, já não era mais humano nem possível seguir daquela forma. E essa foi a primeira lição que aprendemos: as muitas dores, dúvidas, incertezas, medo fazem parte do início da história de pessoas com necessidades especiais – aos que nascem com essas limitações existe a superação, aos que se tornam portadores de necessidades especiais após doença, acidente existe aceitação, adaptação e para todos existe a resiliência. No caso da minha mãe a opção seria uso de uma prótese ortopédica (“perna mecânica”) e, isso nos trazia alívio e esperança. Depois fomos entender que essa ideia simplista escondia muitas etapas e grandes dificuldades, mas falarei disso mais à frente. Feita a cirurgia, como era esperado, a recuperação foi excelente. Sem dores, recebemos alta. Vamos para casa! Segunda lição: a casa precisa ser preparada, adaptada para que a pessoa tenha chance de se adaptar. Como bons italianos, morávamos em um sobrado! Como fazer? Rapidamente minha mãe, muito disposta e confiante decidiu que só faria as mudanças extremamente necessárias! Meu pai, um italiano durão, falava entusiasmado ao ter minha mãe em casa, que logo ela estaria fazendo tudo o que sempre fizera, com a diferença de não sentir mais dores. E por decisão de ambos, nada de cadeira de rodas. Minha mãe usava uma cadeira de escritório daquelas com rodinhas e, se movimentava apoiando o pé e firmando para dar impulso. Terceira lição: cada pessoa é única e, voltar à “vida normal” ganha novos tons, rotinas e