Arquitetura da Liberdade: caderno 1

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ARQUITETURA DA LIBERDADE a experiência do comum


trabalho de conclusão de curso aluna MARCELLA ARRUDA orientadora MARINA GRINOVER ESCOLA DA CIDADE 2016



índice

INTRODUÇÃO 09 corpos livres 10 viadutos como templos urbanos 13 baixio libertas 18 experiência do comum 21 seções 07

PRÉ-EXISTÊNCIAS 24 de fora 27 de dentro 23

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EXISTÊNCIA

COEXISTÊNCIA 40 relações | afeto 43 projeto como tática 49 arquitetura da liberdade 39

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RESISTÊNCIA

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IN.DEFINIÇÕES

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IMPULSÃO

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FOTOLIVRO

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BIBLIOGRAFIA


INTRODUÇÃO 7

“O comportamento, eis o que me interessa. como alcançá-lo a maxima liberdade (...) da participação inicial, simples, estrutural, à sensorial, ou à lúdica (da maior importância), tende-se a chegar a própria vida, à participação interior na própria vida diária.” (OITICICA, 1969, p.8) “A liberdade é bonita, mas não é infinita. Eu quero que você me acredite: a liberdade é a consciência do limite.“ (MAUTNER, WISNIK, 2010, s.p.) “A potência não é proveniente dos elementos sob a óptica da unidade, mas do conjunto composto por esses “átomos” contendo em si uma energia própria, acionável somente pela presença das pessoas e do contato com elas – como um brinquedo. Essas fricções positivas entre as partes distintas e dispersas geram um movimento vigoroso. Lugares em contínua mutação pela simples presença do homem: não o autor único de tudo ali, como a figura do arquiteto, mas o ser comum que usufrui daquele espaço de maneira não passiva. Temos aqui um lugar onde a criação é coletiva” (PERROTTA-BOSCH, 2013, s.p.)

introdução


corpos livres Sempre estive muito interessada em como as relações constroem e transformam o espaço. Nessa pesquisa, busquei explorar as relações do corpo em movimento no espaço, desde a percepção do próprio espaço pessoal1 até como esse limite se transforma a todo momento, dependendo de forças2 e elementos (tanto materiais como outros corpos) que com ele se relaciona. O que é necessário para se expandir os limites do espaço pessoal? Em quais momentos o espaço pessoal sobrepõe ao espaço do outro, criando um compartilhamento de um mesmo instante? Além da relação do eu com o outro e com o espaço, me pergunto o que é necessário para experienciar um espaço livre. Será a partir do pertencer que se materializa a livre apropriação do espaço? Como o reconhecimento, identificação e sentimento de pertencimento3 a um espaço podem ser construídos? Uma vez que existe apropriação de um espaço, mas de múltiplos atores, com interesses e desejos distintos, como se constrói esse espaço de liberdade - em constante agenciamento e negociação? Quais os elementos necessários para criar uma arquitetura da liberdade? 1 Conceitos chave: kinesfera de Rudolf Laban e bolha proxêmica de Edward Hall. 2 Movimentos e fluxos, mas também afetos e sensações. 3 Sentimento de pertencimento também como construção psíquica e afetiva - estar à vontade, confortável para se expor e explorar novos modos de se relacionar.

INTRODUÇÃO CORPOS LIVRES 9

INTRODUÇÃO 8

O presente trabalho de conclusão de curso pode ser apresentado como um ensaio: “o ensaio não esgota totalmente o conhecimento de seu objeto nem o cria a partir do nada, mas o faz aparecer por um ângulo novo ou instigante”. Durante a minha trajetória de aprendizagem do campo e linguagem da arquitetura e do urbanismo, não me interessou criar novas coisas, mas sim descobrir novas relações entre as coisas que já existem. E neste trabalho não foi diferente: partir do espaço real, existente, seus elementos e fluxos, para imaginar relações distintas, possibilidades e intensidades que existem em potencial. O processo se desenrolou a partir de agenciamentos e esboços de formas livres de se relacionar com o corpo e a cidade, decodificando-as para extrair um novo território - no entanto, dentro de seus limites. “Se aqui tudo parece que ainda é construção mas já é ruína, como cantou Caetano citando Levi Strauss, o gênero do ensaio revela a dimensão vital dessa sentença. Nele, nenhuma construção se dá por perfeita, acabada. Há uma precariedade inerente, como a incompletude de ruínas. (...) O incompleto nos leva adiante. O ensaio paga o preço da imperfeição para manter o intelecto animado pela imaginação.” (DUARTE, 2016, s.p.) E é dentro deste contexto de limites, ambiguidades e indefinição que este trabalho se situa.


viadutos como templos urbanos Para estudar a relação dos corpos com o espaço, desde o início de 2016, dentro do projeto do Estúdio Vertical, o grupo escolheu como tema a idéia de viadutos como templos urbanos. A construção de São Paulo foi até então pautada por uma glorificação ao urbanismo rodoviarista: desde Prestes Maia (Plano de Avenidas, 1934-1945), Paulo Maluf (Ligação Leste-Oeste, 1968-71), até o projeto da Ponte Estaiada (Ponte Octavio Frias de

Oliveira, 2005). Através de todos estes momentos históricos, o tecido urbano e social da cidade foi marcado por cicatrizes profundas; tais infraestruturas recortaram e fragmentaram territórios, romperam relações físicas e sociais; decisões de poder que passaram por cima das pré-existências e criaram vazios intersticiais. Por serem espaços residuais, os baixios foram por anos esquecidos na lógica de crescimento e desenvolvimento da cidade, sendo ocupados, assim, por atores que buscavam tal invisibilidade. De acordo com a Teoria do Lixo, de Michel Thompson, “muitas vezes, é o descarte e o abandono de um objeto, no passado, que vão justificar especificamente sua tesaurização no presente”. A escolha desse tema de trabalho se deu principalmente por entender que os viadutos marcam a glorificação do modelo de urbanismo rodoviarista tão recorrente na história das cidades brasileiras. Portanto, a atribuição do caráter de templo a essas infraestruturas se dá por uma inversão de significado: transformar tabu em totem. No entanto, outra camada de análise pode se dar pelo seu inegável papel de referência e marco desse elemento na paisagem e no imaginário coletivo da cidade, além de sua própria configuração espacial - de seus baixios. Compreendendo o viaduto a partir de tais dimensões, é possível também justificar a atribuição de tal valor de maneira semelhante: tal espaço possui de fato um caráter monumental.

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No meu entender, uma arquitetura da liberdade seria então uma “situação efetiva de abertura de discussão” (NEGRI, 2005, p.3); um espaço de corpos disponíveis, de oscilação dos limites pessoais e de negociações constantes do espaço comum. Um território fluído, um lugar praticado em permanente transformação, feito e refeito a cada instante e cada relação. Busco discutir aqui uma idéia de arquitetura através daquilo que é sutil, das relações. Portanto, a construção da arquitetura que não é da matéria perene, daquilo que é definido, rígido, delimitado; mas das forças que qualificam o vazio como campo magnético, ativado por elementos, dispositivos, corpos, práticas e movimentos diversos, em tensão permanente. A presença e vivência do espaço, e as relações que tal experiência implica. De que forma compreender essa complexidade de fluxos e propor novos átomos, elementos que criem novos movimentos? Como reconhecer e construir espaço livre a partir do corpo e do afeto?


baixio libertas No segundo semestre de trabalho, o recorte escolhido para investigar as relações que definem o espaço foi o mesmo viaduto Júlio de Mesquita Filho, porém o baixio na altura da Rua Major DIogo, no Bixiga, centro de São Paulo. Por muitos anos, o espaço permaneceu esquecido por diversos grupos da sociedade (moradores do bairro, poder público, mercado imobiliário), no entanto, também foi imaginado e teve seu futuro projetado a partir de diversas perspectivas1. Inserido no contexto do bairro do Bixiga, o viaduto rompeu seu tecido urbano e social: bairro que foi habitado na sua origem pelo quilombo Saracura (que deixou vestígios na presença da escola de samba Vai-vai e da vivência do corpo na rua), recebeu um grande número de imigrantes italianos, hospeda muitos teatros e grupos culturais, e teve muitos de seus casarões transformados em cortiços2. Esse contexto de pulsação de vida cultural e de rua não se reflete na ocupação do baixio - culturalmente desvalorizado, caracterizado pela precariedade e “informalidade”. 1 Parque Grota por Paulo Mendes da Rocha em 1974, Anhangabaú da Feliz Cidade por Lina Bo Bardi em 1968, X Bienal de Arquitetura em 2013 por Vazio S.A. e Supersudaca, Terreyro Coreográfico que atua no espaço desde 2014... 2 Professores da EMEI Celso Leite, na rua Humaitá, a duas quadras do baixio, tem dados que comprovam o impacto das condições de vida dos alunos (a maioria habitante de cortiços na região) no desenvolvimento de seus corpos e atitudes: muitos, por viverem em espaços muito pequenos, passaram a apresentar sintomas de atrofia muscular; e por terem sempre que disputar por espaço e privacidade, desenvolvem um comportamento agressivo.

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O processo de trabalho do grupo fez uso da experimentação na criação de situ-ações no espaço do baixio do Viaduto Júlio de Mesquita Filho na altura da Avenida 9 de julho, em São Paulo, ressignificando imaginários do lugar a partir da narrativa do templo e da recomposição dos elementos materiais lá presentes (corpo, luz, som). Através do sutil (da vivência do espaço e da experimentação na criação de pequenas intervenções), o processo de exploração do tema levou a um projeto que buscava revelar o potencial já existente no lugar: o grupo percebeu que o templo já existia no baixio do viaduto, materializado nos programas existentes da floricultura e do centro de convivência, lindeiros à Avenida 9 de Julho. O que realizamos foi conectar tais usos em uma estrutura leve, contrastando com as estruturas perenes do viaduto, inserida no vão do baixio, propondo uma experiência de suspensão e conexão. Uma estrutura de tubos metálicos que constitui um micro ecossistema: além da passarela e de espaços de estar com redes, os tubos servem de suporte para energia elétrica e um sistema de irrigação, que com o tempo, cria uma massa verde suspensa no vazio criado pelo viaduto.


Em um determinado momento, o espaço, antes esquecido e invisível para muitos setores da sociedade, passou a ser enxergado e disputado pelo poder público e especulação imobiliária. Foi lançado um Edital pela Subprefeitura da Sé em dezembro de 2015 que previa o desenvolvimento de projetos de requalificação urbanística e paisagística para ocupação durante um período de 10 anos de uma área de 11,5 mil m2 embaixo do viaduto, através de parceria público-privada. As propostas avaliadas deveriam compreender a “remodelação, manutenção, zeladoria, limpeza e conservação do espaço, além do desenvolvimento de atividades de conveniência cotidiana, social, cultural ou educacionais.” Conveniência ou convivência? Atuando a partir de um protocolo muito recorrente na reativação e revalorização de áreas urbanas pelo poder público, que terceiriza ao capital a gestão desses espaços da cidade, privatizando-as, criando usos exclusivos e gentrificando a região, o edital significou, para mim, uma repetição na história: o ato de passar a tabula rasa, de ignorar os usos e

atores antes presentes no lugar. Mas além disso, um passo para abrir portas para a especulação imobiliária e deixar de garantir a função social da cidade e seus espaços. No meu ponto de vista, o que se coloca em questão não é a requalificação urbanística e paisagística, porém os processos pelos quais essa requalificação se dará. Porque delegar tal apropriação e gestão do espaço a uma empresa privada para sua exploração comercial e usufruto? Quais os desafios de transformar e gerir tal espaço de maneira participativa, que engaje os atores do entorno e aqueles lá presentes? Como atuar de maneira a respeitar as pré-existências mas também propor uma transformação, tornando o espaço mais democrático e inclusivo? Quais as estratégias projetuais possíveis para o agenciamento entre os diversos públicos e atores? Porque não reconhecer este espaço como um vazio positivo, indeterminado, habitado por uma multiplicidade de atores e práticas que o disputam? De que maneira criar um campo fértil que incite múltiplas apropriações de diversos corpos; um espaço heterogêneo, de convivência e constituição do comum (NEGRI, 2005)? Após nenhuma inscrição no edital e forte pressão da sociedade civil organizada, houve uma audiência pública chamada pela Subprefeitura da Sé em 19 de maio de 2016, momento em que o Terreyro Coreográfico, grupo que já atuava no espaço e o designou como Libertas, apresentou uma carta-

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Um intervalo - no tempo e no espaço, o baixio se configura como uma área de imprevisibilidade e indefinição, sem funções determinadas - afinal, nasce como resto, sem um propósito. Espaço não produtivo, que escapa do funcionamento e do controle da cidade-global, operando sob outras lógicas - e apropriado por atores que se favorecem dessas condições.


“Assim, propomos: Uma Audiência Pública Permanente e concreta, Projeto Piloto com sustentação jurídica, para que nós, sociedade civil organizada, composta por moradores e atuadores culturais do Bixiga, possamos descobrir, junto da população, dos moradores do bairro, inclusive dos moradores de rua, dos atuadores culturais e sociais, dos comerciantes que já estão ali instalados, as vocações de toda essa área de 11.500 m² prevista pelo edital. Levando em conta que cada trecho do viaduto produz espaços muito distintos e essas diferenças devem ser escutadas para que se possa realizar qualquer proposta ali. Não podemos esquecer que alguns trechos nunca tiveram essa oportunidade, nunca foram efetivamente públicos, pois se encontravam fechados ao acesso do público desde a construção do viaduto, seja porque funcionavam como estacionamento, seja por conta da cessão de uso de um dos terrenos à polícia militar. Isso será feito através de experimentações públicas concretas desses espaços, seja com feiras e festas populares que atuem junto à população, seja com cinema ao ar livre, práticas artísticas, sociais e culturais, palco de encontros e de debates públicos. Também com ações junto à subprefeitura que possibilitem uma maior permeabilidade desses espaços: retirada de grades, cercas e muros que atrapalhem ou impeçam a fruição pública desses espaços. Além dos cuidados básicos que a Prefeitura deve ter com qualquer espaço público: limpeza periódi-

ca, varredura, poda de árvores etc. Tudo o que for preciso para que todo esse trecho de 11.500 m² possa ser experimentado pelo Povo do Bixiga enquanto um espaço efetivamente público. Propomos também que, enquanto isso, possamos descobrir e criar, junto à administração pública, outros modelos de parceria para requalificação paisagística, urbana e ambiental, para além das Parcerias Público-Privadas, uma Parceria Público-Público, onde a administração pública atue junto dos atuadores do bairro, dando suporte e infraestrutura para que essa requalificação seja feita pelos próprios atuadores, com investimento do dinheiro público de impostos que empresas pagariam à Prefeitura, revertendo-o a ações socioculturais, previstas em lei. Ou seja, para que o setor privado deixe de ser o protagonista nos processos de construção da cidade, e que o Público responda por si, e seja ele o protagonista, seja ele que defina o futuro dos Espaços Públicos da Cidade.”

Diante disso, a questão se fez clara: investigar como o conceito de liberdade se manifesta no baixio (como atuam as relações e forças que habitam o espaço), de que forma instigar outras apropriações (tornando o espaço mais inclusivo e heterogêneo) e como criar um sistema flexível que possibilite essa multiplicidade de movimentos - uma arquitetura que se possa praticar a liberdade e ter consciência dos limites que a redefinem continuamente.

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resposta ao edital, propondo uma gestão pública do espaço do baixio:


Segundo Sartre, o indivíduo e o mundo existem em relação. Dessa forma, o espaço livre se constitui a partir do agenciamento constante da experiência daquilo que é comum. Este trabalho investiga formas de reconhecimento e apropriação livre do corpo e do espaço, a partir do conceito de pesquisa-ação. A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação da realidade a ser investigada estão envolvidos de modo cooperativo e participativo. (THIOLLENT, 1985, p.14)

No caso, o problema coletivo é a própria gestão e apropriação do espaço em questão: a experiência de constituição do comum no baixio do viaduto. Então, o que é a propriedade comum? A propriedade comum, do ponto de vista jurídico, é facílima de definir: é uma propriedade pública que, em lugar de ter patrões públicos ou donos públicos, é de sujeitos ativos naquele setor ou naquela realidade, é administrada por eles. (...) A propriedade comum não passa simplesmente pelo Estado, passa pelo exercício que as singularidades fazem desse espaço comum, pela maneira de e xercer esse espaço comum. (...) Agora se trata é

de pôr em movimento tudo a uma só vez. Portanto, para além da propriedade pública, a definição jurídica do comum é aquela que possibilita fazer atuar dentro do caráter público a construção de espaços comuns reais, que são estruturas comuns, e fazer atuar nesses espaços de vontade a decisão, o desejo e a capacidade de transformação das singularidades. (NEGRI, 2005, p. 6)

Os desejos individuais são múltiplos, assim como os agentes e objetivos. O conhecimento e ação produzidos foram em direção a experimentar abordagens de reconhecimento do espaço e das relações que o habitam e caracterizam, mas também métodos de agenciar tais singularidades. Através da relação cotidiana e da aproximação aos atores que usam e que poderiam usar o espaço - e assim, criação de afeto e construção de um diálogo e negociação, tornamos legitima nossa apropriação, redefinindo os limites e compartilhando o lugar. Dessa forma, reconhecemos no baixio esse espaço não produtivo, sem funções pré definidas, onde a noção de negociação é levada ao extremo, onde o efêmero tem papel fundamental. Diante da realidade da cidade-global, é possível demarcar aí um espaço do ócio, da livre apropriação, da inclusão e diversidade. Como entender essa outra lógica, que se manifesta em elementos e demarcações, mas também em fluxos, movimentos e desejos? Reconheci no baixio um território em diálogo constante entre diferentes

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experiência do comum


Foi a partir de tais questionamentos que o trabalho se orientou, propondo movimentos e agenciamentos do espaço em questão. Para explorar tais questões, o grupo se colocou no espaço de maneira sutil, porém presente: disponível para experienciar esses enfrentamentos, observando e se relacionando como mais um agente que negocia o espaço, alimentando um outro imaginário, reconhecendo e interpretando o espaço a partir da experiência. A presente pesquisa propõe uma arquitetura que se faz no embate do corpo no espaço, a partir de seus movimentos e afetos, de maneira tática (CERTEAU, 1994), realiza uma análise crítica da experiência vivida e considerações sobre a construção do comum e de uma arquitetura da liberdade, discorrendo sobre tais questões em três seções (que durante o processo do trabalho aconteceram simultaneamente).

seções O primeiro capítulo compreende o reconhecimento das pré-existências do espaço, que mais uma vez correm o risco de serem ignoradas pela tabula rasa. Não se propõe criar novos espaços, mas reconhecer, demarcar e ressignificar o espaço existente. Inverter a lógica; encarar o baixio como moldura, como suporte; um vazio magnetizado1. Para isso, se reconheceu a morfologia (infra-estruturas material e social) e o vazio positivo (práticas, fluxos e movimentos) que habitam o baixio do viaduto, e como os corpos se relacionam com tais elementos. Pré-existências que existem fisicamente no espaço mas também históricas e culturais, que influenciam os usos praticados hoje. O segundo capítulo é um mergulho na descrição da nossa experiência (ex=fora, peras=limite, perímetro) de existência no espaço: uma investigação que partiu de práticas de expressão corporal e exploração espacial realizadas a partir de três temas (som, movimento e matéria). As oficinas efêmeras, porém frequentes, de caráter experimental-artístico-poético, tem como objetivo o reconhecimento do espaço e apropriação do corpo; sensibilizar os participantes para como afetam o lugar e como se deixam afetar por ele, como se dá a relação entre dentro e fora do seu limite, traduzindo essas 1 Vazio magnetizado como espaço que não é vazio, mas constituído de átomos e movimentos que o definem, de ocasiões e instantes que se transformam constantemente.

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atores e desejos, aberto ao indeterminado e inesperado, sem regras prévias e protocolo de controle das relações que o habitam. Um lugar de equilíbrio dinâmico entre as polaridades, de sustentação da tensão criativa entre opostos e diferentes, que integra em movimento o que está separado. É possível manter esse charged field, espaço vivo, pulsante, porém vazio? Como dialogar com as forças existentes, mas também abrir espaço para que outros agentes se apropriem e outros usos aconteçam? Será possível criar um espaço de fato compartilhado, onde haja a experiência do comum? Qual o meu papel como arquiteta nesse processo?


O terceiro capítulo discorre sobre a coexistência entre diversos atores e práticas, múltiplas apropriações que transformam corpos e espaço simultaneamente. Se discute uma ação projetual baseada no permanente diálogo com o espaço (seus elementos e forças): ação tática, responder ao espaço e seu dinamismo, tensionar os limites estabelecidos. Investigo aqui os enfrentamentos e descobertas que surgem da presença no espaço e de dinâmicas de construção coletiva. Existir junto, criar relações e trocas entre pessoas diferentes, na tentativa de reclamar uma esfera pública; reconhecer uma arquitetura da liberdade e viver a experiência do comum. Nas considerações finais, resistência, problematizo as questões que motivaram o trabalho desde o início: é possível construir o comum? Qual o significado do espaço livre e comum no contexto da cidade-global? Um espaço de exercício da biopolítica, de resistência ao biopoder e à lógica vigente do capitalismo neoliberal. Um espaço de política, negociado permanentemente, em processo; um espaço de intersecções e hibridismos, não de limites e propriedades definidos. O que é necessário para que exista esfera pública e para que ela se manifeste em um lugar?

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percepções em ações propositivas. Foram propostos convites-provocações que são materializados de formas diferentes dependendo da apropriação de cada um, potencializando as possibilidades múltiplas de apropriação desse vazio.

pré-existências


Uma mega estrutura inerte, que sobrepõe a linha do horizonte da paisagem do Bixiga. O vazio que paira entre os planos horizontais de concreto armado - da terra e do céu - piso (cota da cidade) e teto (viaduto) que delimitam o espaço onde a inconstância é definitiva. Um lugar dinâmico, permanentemente ocupado por estruturas leves e reversíveis. Ora estacionamento, ora sala de dança, ora lugar de descanso pós almoço, ora deck para tomar sol, ora cozinha e sala de jantar… Um vazio magnetizado, que tensiona os limites do público e do privado e deixa a lógica da cidade neo-liberal em outro plano (assim como a fachada das casas no pano de fundo). Ao seu redor, o cotidiano do bairro do Bixiga torna evidente seu caráter: as portinhas dos cabeleireiros, os galpões e terrenos vazios mas cheios de ferro-velho, os teatros que abrem ocasionalmente e ativam o movimento da rua, os botecos com mesas de plástico na calçada, churrasco e samba na sexta a tarde, a padaria italiana que faz fila no final de semana, os cortiços e seus longos corredores laterais onde as crianças jogam futebol. Tudo isso acontecia fora - e dentro do baixio? Antes estacionamento de carros da Guarda Municipal, murado, o espaço agora abriga pessoas que lutam pelo direito de ter um teto, assim como carros que disputam um lugar para parar, aulas de

dança e performances artísticas, um acúmulo de elementos materiais de origens variadas. Tais usos coexistem, porém em espaços diferentes - alguns já demarcados com elementos materiais presentes no espaço, como a praça do fogo e o tabuleiro de xadrez humano. As atividades fazem uso de uma infra-estrutura improvisada e de uma materialidade doméstica, vernacular e muitas vezes efêmera, que contrasta com a materialidade perene dos planos horizontais do chão e da cobertura do viaduto, e que refletem um saber construtivo empírico: madeira leve, barraca, colchão, papelão. O que antes era fechado por um muro, agora é permeável - mas permeável significa que um irá permear? Os carros são parados em todo o perímetro do baixio e dentro da área próximos às ruas Major Diogo e Jaceguai (caminhões de transportadoras, carros da Vivo, carros de pessoas que trabalham nos arredores, carroças de catadores de resíduos). O limite concreto dos resquícios da mureta e dos canteiros que definem o perímetro do baixio (ora repletos de lixo, ora de verde) condiciona a fruição do corpo ao espaço da calçada - mas que, através dela, também se atravessa o espaço na altura das ruas Abolição e Major Diogo. Por aí, pais passam com seus filhos para levá-los pela manhã e buscá-los na hora do almoço na escola, pessoas que passam indo para o trabalho, moradores do bairro que voltam da feira na sexta, moradores em situação de rua que saem da sua casa no baixio para ir usar os serviços do centro de convivên-

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de fora


Há também limites sutis: durante o dia, a sombra do viaduto divide o claro do escuro, o conhecido do desconhecido, o fora do dentro - delimitação que se torna ainda mais clara durante a noite, com a falta de luz elétrica. Para além daí, há o próprio limite de pensar que esse espaço não tem valor, é inadequado para o uso, residual (como também nós arquitetos definimos). Uma sequência de fronteiras que devem ser atravessadas para poder usar o espaço. Viradas do avesso. Fronteiras estabelecidas culturalmente? Limitações imaginárias? O que é necessário para rompê-las? O espaço público físico e imaginário no Brasil ainda hoje apresenta traços de sua origem e heranças do período escravocrata: no traçado português, o espaço público nasce como resto, resíduo (largo, assim como o próprio baixio, resultado do recorte do traçado urbano ortogonal pelo viaduto). Durante o Brasil colônia, o espaço público era habitado por aqueles que não tinham mais onde estar - um lugar desvalorizado, diante de uma cidade segregada, na qual o privado e exclusivo são o que têm valor. Esses limites ainda povoam o imaginário coletivo de muitas pessoas na cidade

de São Paulo. Pensamos que estes fatos são certos, rígidos, imutáveis. Porém, quando se propõe a ir além, percebo que é uma questão de des(a)fiá-los: muitos limites (físicos ou imaginários) se revelam então dinâmicos. de dentro Após ir além do perímetro do baixio (da calçada e da cobertura), surpreende-se por um fato que atribui significância arquitetônica ao lugar1 e propicia uma experiência única de natureza perceptiva e sensorial; uma perspectiva linear construída a partir do espaço tridimensional, mas que confunde o olhar criando um quadro bidimensional a partir de seu ponto de fuga único e profundidade. Enquanto o viaduto visto de fora, na escala do bairro, recorta o horizonte da paisagem; da perspectiva de quem está sob ele, o horizonte é reconstruído: um ponto de fuga, lugar para o qual todas as linhas convergem. Ao revés do sistema utilizado durante o período do Renascimento na arte, aqui o espaço tridimensional constrói uma imagem-ilusão perspectivada com o desenho das vigas que sustentam o viaduto - porém, que só faz sentido em um determinado ângulo, diante de circunstâncias específicas (um retrato estático de uma posição específica do corpo no espaço). O ritmo de repetição das vigas (impos1 Por sua harmonia racional, equilíbrio geométrico, simetria e regularidade na distribuição dos volumes.

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cia na rua Santo Antônio... No entanto, este é o caminho estabelecido que permeia mas não entra de fato no espaço. Alguns (corajosos, abertos ou despreocupados), atravessam-no. Será questão de criar costume? De perder o medo? De abrir novos caminhos?


2 Conceito de heterotopia, tratado por Foucault em 1984 no texto Of Other Spaces: Utopias and Heterotopias. “I believe that between utopias and these quite other sites, these heterotopias, there might be a sort of mixed, joint experience, which would be the mirror. The mirror is, after all, a utopia, since it is a placeless place. In the mirror, I see myself there where I am not, in an unreal, virtual space that opens up behind the surface; I am over there, there where I am not, a sort of shadow that gives my own visibility to myself, that enables me to see myself there where I am absent: such is the utopia of the mirror. But it is also a heterotopia in so far as the mirror does exist in reality, where it exerts a sort of counteraction on the position that I occupy. From the standpoint of the mirror I discover my absence from the place where I am since I see myself over there. Starting from this gaze that is, as it were, directed toward me, from the ground of this virtual space that is on the other side of the glass, I come back toward myself; I begin again to direct my eyes toward myself and to reconstitute myself there where I am. The mirror functions as a heterotopia in this respect: it makes this place that I occupy at the moment when I look at myself in the glass at once absolutely real, connected with all the space that surrounds it, and absolutely unreal, since in order to be perceived it has to pass through this virtual point which is over there.”

Percebi que o que o define este intervalo é o contraste entre a materialidade perene, rígida e impositiva de sua forma, e as estruturas leves, manipuláveis, flexíveis e reversíveis que o ocupam, práticas de corpos que definem e redefinem constantemente seu caráter e imaginário. Tais práticas fazem uso de uma infra-estrutura improvisada: extensões que são puxadas de lugares desconhecidos para ligar a televisão, baldes que recolhem a água da goteira que escorre através das juntas de dilatação, os holofotes pendurados por um fio dos conduítes, o tecido pendurado na cobertura que é tensionado e ampara a estrutura de um barraco, a poeira preta no pilar que indica o lugar de acender o fogo para esquentar a comida, fios de telefone amarrados nos galhos da árvore que penduram as roupas para secar com o vento… As moradias se concentram próximas aos pilares: barracas de camping, tecidos ou estruturas feitas com madeira leve criam divisões no espaço e delimitam as áreas privadas (por vezes, meramente um colchão no chão). Há grande rotatividade de moradores, mas em alguns casos, existem moradores mais estabelecidos, que se situam próximos ao meio do viaduto, e possuem estruturas menos improvisadas. Tais elementos demarcam um território exclusivo e proibido para muitas pessoas, conformam um imaginário de aversão e distância de muitos habitantes do bairro que passam pelo espaço -

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itivo porém monumental) tem o peso do concreto que as sustenta; ordem que inibe a existência de outras ordens sob a sua, porém, também faz perceber possibilidades infinitas de manifestação. Apesar das diversas estruturas leves que habitam o baixio - de diferentes cores, tons, tamanhos, intenções, em sua cobertura há uma mesma ordem que abriga toda essa multiplicidade. Como demonstrar às pessoas essas formas livres de se apropriar, compor e existir no e com o espaço? Como instigar que as pessoas brinquem com esse ritmo, criando variações dessa repetição? Como criar novas ordens dentro da ordem existente2?


EXISTÊNCIA 31

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reafirmando uma noção de espaço público definida há anos na cidade e sociedade brasileira (lugar dos inúteis, desocupados). No entanto, há movimentos de corpos que, assim como linhas de fuga, ou linhas de desejo, escapam a essa macro narrativa e rearranjam as relações e códigos sociais do lugar corpos que perpassam essas ocupações, redefinindo os limites através do corpo, do afeto, da relação. Movimentos que fazem emergir a biopotência, como ”criação de linhas de fuga, de subversão, de invenção, de resistência” (CORSINI, 2007, s.p.).

existência


“Ao transitar, ao mover-nos, expressarmos, abrimos possibilidades, criamos passagens. Com outros corpos, potencializamos a ação e produzimos a vida e a alegria, produzimos subjetividade, território.” (ESPINOSA, 2009, s.p.) “A ação existencial-espacial do corpo de relacionar-se com outros corpos é, em si, a construção de um sistema espacial-existencial, de um espaço topológico efêmero, composto por estruturas articuladas e em articulação. O espaço arquitetural, pois, não é uma entidade pré-existente, mas uma conquista no instante mesmo da existência. (...) Descobrir na imanência do ato o sentido da existência.” (SPERLING, 2006, s.p.) “São essas experiências do espaço pelos habitantes, passantes ou errantes que reinventam esses espaços no seu cotidiano. Para os errantes- praticantes voluntários de errâncias - são sobretudo as vivências e ações que contam, as apropriações feitas a posteriori, com seus desvios e atalhos, e estas não precisam necessariamente ser vistas (como ocorre com a imagem ou cenário espetacular), mas sim experimentadas, com os outros sentidos corporais. Os praticantes da cidade, como os errantes, realmente experimentam os espaços quando os percorrem e, assim, lhe dão “corpo” pela simples ação de percorrê-los.” (JACQUES, 2008, s.p.)

A proposição que motivou as situ-ações realizadas no baixio foi a busca pelo sublime (ou como colocou Hélio Oiticica, o estado suprasensorial), a partir de práticas corporais coletivas nas quais se dá a livre expressão e manifestação individual do sujeito. The sublime experience is fundamentally transformative, about the relationship between disorder and order, the disruption of the stable coordinates of time and space. something rushes in and we are profoundly altered. (…) implications that go far beyond aesthetics. (MORELY, 2010, p.1)

A proposta era dar continuidade ao tema do Estúdio Vertical “viadutos como templos urbanos”, no entanto, a partir do uso, do programa: os rituais, a experiência do sublime. Abrir um espaço para exercitar o corpo como auto produção, auto poiesis, potência de vida dentro de um sistema que o controla. Exploramos o potencial criativo do corpo como diferença de transformação, a biopotência, através de práticas coletivas de expressão corporal e exploração espacial que incitaram possibilidades abertas de comportamento. E no contexto do baixio investigamos a prática estética-artística-poética como força ativadora do espaço público, entendendo a experiência corporal como método de apreensão da cidade (JACQUES, 2016) e estratégia projetual.

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“Somente em sendo capazes de habitar é que podemos construir. chegamos a construir à medida que habitamos.” (HEIDEGGER, 1993, p.10)


Buscou-se entender o corpo através da percepção e reconhecimento dos limites dos espaços pessoais e individuais, físicos e imaginários. Qual o espaço que meu corpo ocupa? Quais as distâncias que alcanço? Como percebo meus limites internos e minhas possibilidades de manifestação no mundo? Como alcançar o equilíbrio? É possível ir além dos limites percebidos, alcançar um comportamento e uma apropriação do espaço de fato livre1? É possível, através da vivência de experiências significativas, se perceber pertencente do espaço ao redor, e assim transformá-lo? O que é preciso para tornar um espaço estranho e desconhecido em lugar? Passamos a habitar o espaço cotidianamente, realizando práticas corporais com uma frequência semanal. As vivências buscavam propor exercícios para transformar os desejos motores (do pensamento) 1 “True freedom pressuposes belonging” (NORBERG-SCHULZ, 1980)

através do corpo. As possibilidades de expressão e manifestação do corpo no espaço foram estudadas através de 3 temas: som, movimento e matéria. Desde o início, as práticas foram atravessadas por dinâmicas do próprio espaço, criando ações em estímulo-resposta e borrando os limites de dentro e fora, da relação do que é corpo e do que é espaço. As práticas foram iniciadas a partir do som, trabalhando a presença, a sensibilidade para reconhecer os elementos que definem a paisagem sonora do lugar, e sua tradução em uma linguagem própria. Deslocar-se e deixar-se atravessar; perceber a oscilação do limite - do eu ao espaço, do dentro ao fora, do um ao todo. Uma primeira aproximação do lugar e do corpo. Quando alguém começa a aproximar-se de sua vibração original, põe-se a movimentar outras tantas freqüências comuns, que também se encontram neste ponto de culminância: tornam-se ondas iguais, que se encontram no espaço e se amplificam, potencializando a vibração de todo o conjunto em freqüências cada vez mais altas e fortes. Ou seja, é a trama: um acontecimento, uma ocorrência, ou uma transformação nunca se dão de maneira isolada, mas arrastam consigo todo o universo. Vemos que nossas ações e nossos pensamentos afetam e interagem com o todo, transformando-o. (DRIGO, s.d., s.p.)

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A pesquisa investigou a relação entre o determinado e o indeterminado, o esperado e o inesperado, a estrutura mínima proposta e seus desdobramentos: o instante presente, o espontâneo, a variação. Me coloquei como propositora de práticas de liberdade, as quais caberia a cada participante participar: brincar, explorar, se relacionar, exercitar um corpo descondicionado. A partir de uma ação existencial-espacial do corpo, sensibilizar os sentidos, perceber intensidades e relações com o espaço e demais elementos e forças que o habitam.


Enquanto a geometria é, a topologia se refere a. Geometria é local; a coisa em si própria. Já a topologia se refere ao mesmo objeto em relação a, ou como parte de ou inserido em. Topologia subentende relações; sejam essas locais ou entre o local e o global. A topologia tende a ser sistêmica; todas as partes tendem a afetar todas as partes. (...) Em virtude dessa essência topológica a configuração espacial – o modo de arranjo dos objetos no espaço – é elemento determinante do comportamento espacial das pessoas isto é, o desempenho espacial de edifícios e situações urbanas é naturalmente decorrente de características topológicas. (AGUIAR 2009, s.p.)

Nas práticas pautadas pela matéria, o objetivo foi criar elementos que tornassem visíveis forças que atuam no espaço. Além disso, criar dispositivos praticáveis, de ativação e experimentação, que tenham capacidades distintas ativadas a partir da interação dos usuários. Coisas que mobiliariam o entre, e ativariam o espaço a partir do habitar, conectando terra e céu: Gibson nos pede para imaginar um ambiente aberto, um “plano consistindo só na superfície da terra” (Gibson, 1979, p. 33). No caso-limite – ou seja, na ausência de qualquer objeto – um ambiente como esse seria percebido como um deserto perfeitamente plano, com um céu completamente limpo por cima e terra sólida por baixo, se estendendo em todas as direções até o grande círculo do horizonte. Que lugar desolado seria! Como as tábuas do chão da sala, a superfície da terra só nos permite ficar em pé e caminhar. Só podemos fazer mais que isso se o ambiente aberto, como o cômodo interno, estiver regularmente repleto de objetos. “Como os móveis num cômodo”, escreve Gibson (1979, p. 78), “a mobília da terra é o que a torna habitável”. (INGOLD, 2012, s.p.)

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Em sequência, vieram as práticas do movimento: perceber o baixio a partir da dimensão topológica da arquitetura. Uma sequência dos acontecimentos criada com o percurso que o corpo trilha no espaço: a partir da mudança de direção e da consequente mudança de suas condições de visibilidade e acessibilidade. Ao mover-se, o corpo move o espaço, recriando sua topografia e redefinindo seus limites; coreografia que responde a elementos de atração e repulsão que compõem um espectro com gradações de permeabilidade (integração ou segregação espacial). Tais percepções não se revelam na planta convencional, as quais procuro tornar visível a partir do registro das trajetórias dos corpos em movimento.


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Cada experiência foi sistematizada da seguinte maneira: Itinerário + Registro: cada mapa é um memorandum que prescreve ações acompanhadas de uma isualização sintética das sequências espaciais da experiência corporal da arquitetura. El dibujo articula prácticas espacializantes, como los planos de itinerarios urbanos, artes de acciones y relatos de pasos, que sirven a los japoneses de “agenda de direcciones” (CERTEAU, 1994, p.133) A arquitetura tem uma tradição estática ainda que o movimento seja sua essência. (...) Porque então o movimento dos corpos seria relegado a um papel secundário na composição arquitetônica em geral e na teoria da arquitetura em particular? O pouco caso com o movimento dos corpos na teoria da arquitetura se reflete numa quase generalizada incompreensão da dimensão experiencial, ou corpórea, da planta arquitetônica: ‘A separação filosófica entre corpo e mente resultou em generalizada ausência da experiência do corpo em quase todas as teorias do significado em arquitetura’ (AGUIAR, 2003, s.p.)

Fotolivro + Relato: diário visual e narrativo das situ-ações criadas e das percepções que surgiram a partir das mesmas (quais as necessidades para a ativação do espaço? quem participou? o que descobrimos sobre o lugar?).

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Architecture means to visualize the genius loci and the task of the architect is to create meaningful places, whereby he helps man to dwell. (...) his existence depends on belonging to places. (NORBERG-SCHULZ, 1980, p.130)

Buscamos explorar maneiras de criar experiências significativas, que produzam identificação e reconhecimento com o espaço e com a cidade e despertem um sentimento de pertencimento, que por sua vez se manifesta no cuidado com o lugar. Entendo que para reclamar a esfera pública (ou comum), não basta criar um espaço, mas também é preciso alimentar seu imaginário, seu caráter (NORBERG-SCHULZ, 1980) através de elementos que produzam novas relações e afetos. Para isso, além das práticas corporais, realizamos no baixio eventos buscando nos aproximar dos atores do espaço (existentes e potenciais), articulando o tecido social rompido com a construção do viaduto e despertando as pessoas para as potências do espaço. Através de situ-ações de caráter efêmero, buscamos engajar uma multiplicidade de atores para exercitar a construção de um espaço de coexistência e tolerância: os moradores do próprio baixio, as crianças de escolas dos arredores, moradores do bairro, grupos culturais que usam o espaço... Para se construir tal espaço heterogêneo e inclusivo percebi ser necessário fazer um “redesenho

das condições participativas no processo de formulação da vida pública” (RENA, 2015, p.168), baseado essencialmente nas relações cotidianas, no diálogo constante e coexistência no lugar em questão. Estar no espaço, conhecer as pessoas, inventar e sustentar certa intimidade (DUNKER, 2016, s.p.), negociar e agenciar os elementos e limites do espaço in situ são ferramentas de um urbanismo do sutil, no qual o cuidado com o espaço e com o outro são fundamentais. Assim, outras possibilidades de articulação do espaço e de agenciamento entre diferentes públicos se colocam como processos da arquitetura. Através de uma postura aberta, com o corpo disponível para perceber e se relacionar com o outro, torna-se a membrana de relação (entre) mais flexível e permeável, a manipulação dos limites que possibilita a criação de um campo empático e de intimidade. A frequência (repetição, ida constante) sustenta essa conexão, promovendo convivência e confiança, tecendo relações e tornando as negociações e agenciamentos mais flexíveis - ou pelo menos, mais sinceros e com maior possibilidade de diálogo - por haver afeto. Além disso, percebemos que é necessária uma outra abordagem, chegar no lugar aberto, sem roteiro ou expectativa, para uma delimitação momentânea de um espaço para o encontro e para o inesperado, para as relações. A partir de um convite em uma linguagem acessível e de uma estética do familiar,

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relações | afeto


The events were particularly successful in getting people to meet, overcome the stultifications of shyness, begin to listen to one another, and build and transmit excitement. (…) These events provided a space for a range of people from many different backgrounds to experience ‘being-in-common’ (GIBSON-GRAHAM, 2003, p.24)

No entanto, apesar de haver momentos de troca e construção de afeto, frequência e ritmo (compasso) que criam uma constância, percebemos no baixio o caráter de um equilíbrio dinâmico: forças que estão em tensão permanente, e que ao introduzir um elemento novo, a dinâmica muda por completo. No entanto, foi a partir das situ-ações que a discussão e apropriação do espaço foi instigada; tenho consciência de que as ações têm desdobramentos que não podem ser controlados, mas a circunstancialidade exige uma posição de constante atenção.

projeto como tática “A tática é movimento. Ela opera golpe por golpe, lance por lance. Aproveita as “ocasiões” e delas depende, sem base para estocar benefícios, aumentar a propriedade e prever saídas. O que ela ganha não se conserva. Este não lugar lhe permite sem dúvida mobilidade, mas numa docilidade aos azares do tempo, para captar no vôo as possibilidades oferecidas por um instante. (...) sem lugar próprio, sem visão globalizante, cega e perspicaz, como se fica no corpo a corpo, sem distância, comandada pelos acasos do tempo, a tática é determinada pela ausência de poder assim como a estratégia é organizada pelo postulado de um poder.” (CERTEAU, 1994, p.100) “Improvisar é seguir os modos do mundo à medida que eles se desenrolam, e não conectar, em retrospecto, uma série de pontos já percorridos.” (INGOLD, 2012, s.p.)

Habitando o espaço cotidianamente, foi possível perceber os fluxos, forças e desejos se manifestando - através de demarcações do território, elementos materiais que apontam limites e abrem novos intervalos. Dessa forma, percebemos a necessidade de um processo simultâneo, no qual nossa ação no território se dá de maneira tática, em resposta às dinâmicas pré-existências.

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com elementos que habitam um certo imaginário coletivo, com signos já assimilados, é possível construir momentaneamente espaços de troca e de afeto. Pensando nisso, realizamos no baixio eventos como um café da manhã, um samba de roda, jogamos xadrez humano…


No entanto, a maneira de se aproximar e criar esse novo espaço, e assim redefinir os limites, é uma questão chave; como dissolver esses limites estabelecidos para criar áreas mais livres, indefinidas; áreas de sombreamento, de intersecção, coexistência. Para isso, se mostrou fundamental ser flexível, se abrir para outras perspectivas daquilo que já existe, mesmo que em potencial (o porvir). Percebo que é somente tendo relação com esses enfrentamentos que as mudanças podem acontecer de uma maneira mais orgânica e benéfica para a constituição do comum.

Não se trata de uma recusa da arquitetura, mas é o fazer arquitetônico através de outras estratégias (no caso, táticas); metodologias e linguagens diversos dos mecanismos de participação convencionais e do ensino de projeto que impera nas academias contemporâneas. A criação de situ-ações se dá como uma ferramenta projetual que alimenta outros imaginários para o espaço, instiga sua apropriação e a retomada de seu caráter público envolvendo tentativas de mobilização, através de eventos temporários que recaracterizam o lugar. Instaurar aí um lugar de potência. O propósito de nos apropriar do espaço do Baixio realizando situ-ações de caráter efêmero era de redinamizar o espaço, criar outros movimentos que tornassem o lugar mais plural, menos homogêneo, ampliando seu espectro de possibilidades, de imaginação, e esgarçando os limites até então estabelecidos. Através de práticas corporais não convencionais, com uma frequência semanal, e de ações realizadas com os usuários do espaço, abrimos um espaço dentro do espaço e conquistamos certa legitimidade e confiabilidade para ocupá-lo (a partir das relações construídas). Quando começamos a realizar as oficinas no baixio nos deparamos com um espaço de certa maneira estabelecido e homogêneo - apesar de outros grupos terem se apropriado do espaço nos últimos anos e estarem cultivando essa pluralidade (como

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No começo da nossa relação com o espaço, habitado, não entrávamos muito - era um espaço bem definido, demarcado pelos elementos materiais e sua carga simbólica, atribuída por uma construção cultural (“baixio de viaduto é espaço de morador de rua”). No entanto, a partir do momento que começamos nós também a existir naquele espaço, e portanto, também disputá-lo, percebi o quanto daqueles limites e distâncias foram construídos social e culturalmente, e que se manteriam os mesmos caso nós não tivéssemos nos aproximado. O fato de ir além dos limites previamente estabelecidos e definidos (muitas vezes invisíveis, imaginários, porém sentidos, que condicionam os movimentos dos corpos nesse espaço) fez com que esses limites se redefinissem, com que essa paisagem se transformasse - nos deparamos com um espaço dinâmico, uma paisagem dançante.


Se debería convertir en una oportunidad tanto para la calidad de los resultados de investigación como para el enriquecimiento de la propia reflexión, abriendo la puerta a un escenario de disolución de la dicotomía sujeto-objeto, al modo en que recientemente viene intentando la teoría no representacional — con aportaciones concretas para el caso de la geografía (Thrift, 2007) y los estudios urbanos— y la investigación performativa. (BUITRAGO, 2010, s.p.)

Após 3 meses de vivência cotidiana do baixio, outros atores passaram também a disputar o espaço, reorganizando seus fluxos e elementos. De fato, este é um espaço imantado (Lygia Pape, 1968), espaço fluido que é ativado temporariamente de maneiras diferentes através dos atores e práticas ali realizadas e seu caráter magnético de atrair e diluir-se. Depois de um processo gradual de abertura e aumento da permeabilidade do espaço (com a retirada dos muros), o lugar, que antes era ocupado majoritariamente por moradores de rua, carros, e pelas nossas práticas, em outubro

passou a ser ocupado também por grupos de meninos e jovens que passaram a ir jogar futebol durante a semana a noite e aos finais de semana - e demarcaram seu espaço pintando uma quadra no chão e instalando duas traves de futebol. Sendo diretamente uma resposta a nossa ativação ou não, é fato que esta é a sequência de ações que está constituindo uma experiência do comum no baixio do Viaduto Júlio de Mesquita. Tal ocupação respondeu aos nossos anseios de diversificar os usos do espaço, no entanto, aconteceu através de uma forma agressiva com as pré-existências do lugar - definindo limites rígidos e impondo demarcações através do uso do poder. O espaço, que antes era de certa forma homogêneo, agora havia sido dinamizado - os movimentos se transformaram, juntamente com os códigos e limites. No entanto, as custas do que? Expulsando aqueles que lá viviam e ameaçando os demais - pelo bem do “coletivo”? Que coletivo é esse no qual não se exclui o outro? Como demonstrar a existência dos limites e a necessidade de tolerância, respeito e coexistência? Diante disso, se tornou clara a necessidade de atuar de forma a demonstrar os limites para tal ocupação, dinamizar os fluxos do espaço novamente na tentativa de negociar o espaço, buscar o equilíbrio - impedir sua privatização e fixação, definição. Através da nossa presença no espaço e da articulação com outros atores do bairro, reafirmamos a necessidade de coexistir no espaço. Em se-

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o Terreyro Coreográfico, que atua no espaço desde 2014), no momento em que nos aproximamos do espaço esses grupos não estavam mais usando-o com frequência. Assim, de certa forma, demos continuidade a esse movimento, dinamizando mais uma vez o lugar, seus movimentos e imaginários criando um novo espaço dentro do espaço a partir da presença dos nossos corpos. Esse processo de reconhecimento do lugar:


A necessidade do movimento constante coloca-se cada vez mais clara: uma dança entre forças, diversos pontos que se relacionam, atraem e repelem. Diante dessa realidade, me perguntava: como atuar de maneira reversível, flexível, que se apresente como um convite para que outros atores se aproximem dessa construção, reconheçam o valor do espaço e dele também usufruam (exerçam sua biopolítica, em comum, em relação às demais singularidades que o habitam)? Que elementos ou imaginários instigariam outras apropriações, outras relações? Como criar um espaço atrativo a multiplicidades? Como envolver outros atores e fazê-los perceber o potencial de uso desse espaço seu valor? Como agenciar todos esses desejos, uma vez que eles existam?

arquitetura da liberdade “Change is the only way to go. holding on will only take us back, out of the flow. we need to make a commitment to changing. to be change. the danger is being something, then i have to prove that. its a busy world in being something. being somebody sucks, it takes all the energy. sense of control of your own image. i prefer being everything and nothing, depends on the context. im constantly changing. Im free, Im liberated.” (ROTH, 2009, s.p.) “Objetos e pessoas se movem concomitantemente em um universo desordenado e fantasioso, num constante movimento proporcionado por uma rede de forças lúdicas com energia própria, que se renova pelo simples fato de existir. Por isso, seriam momentos de um cotidiano que se perpetuaria. Sem se perder de vista que o croqui representa algo efêmero, ele apresenta a intenção da arquiteta para o vão livre como um lugar de ocasiões.” (PERROTA-BOSCH, 2013, s.p.)

Conforme Argan, em História na Metodologia de Projeto (1992, p. 02), o ato de projetar é, em uma primeira camada, a análise crítica do existente. Reconhecer no baixio um espaço de convivência, público, comum, significa não projetar um novo edifício na cidade, mas reconhecer o que já existe e ressignificar. O ato de projetar como atribuir valor ao que já é: inverter, virar do avesso, transformar resíduo em potencial, tabu em totem - ação que

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quência, o grupo do Terreyro Coreográfico voltou a habitar o espaço, desenvolvendo uma sequência de atividades e colocando-se como mais uma força de disputa do espaço. Dessa maneira, percebemos que o espaço de participação e construção coletiva do baixio não funciona através de canais formais e institucionalizados, porém, em embates in situ, corpo a corpo, atuando sobre o lugar em tempo real, simultaneamente a outros atores e forças. A gestão do espaço se dá de maneira autônoma, em uma escala micro, próxima da vida cotidiana da cidade, escapando de lógicas de controle e determinação que operam através do biopoder. A garantia da permanência se dá através da frequência, do cultivar, do ritmo, da presença; do habitar.


Como Khôra, um local em contínuo movimento de des e re-programações, um local da constante interrogação, da liberdade criadora. (...) Derrida diz :”Khôra recebe, para lhes dar lugar, todas as determinações, mas a nenhuma delas possui como propriedade. Ela as possui, ela as tem, dado que as recebe, mas não as possui como propriedades, não possui nada como propriedade particular. Ela não é nada além da soma ou do processo daquilo que vem se inscrever sobre ela, a seu respeito, diretamente a seu respeito...” 1 Nexo Jornal podcast 41 (Direito à cidade: um conceito para se pensar o Brasil hoje - entrevista Guilherme Wisnik e Renato Cymbalista): sair do museu, romper com as molduras definidas e valor já atribuído. Apropriar para ressignificar, dar outros usos e fertilizar um espaço que era uma espécie de não lugar - lugar abandonado. (...) Fertilizá-lo do ponto de vista humano, pelo uso das pessoas. Conceito de apropriação em arte (vanguardas modernas do sec xx): que já existe e sampleia, pós produção Borriaud - ressignificar coisas que ja existem. (...) Atuação em cima do mundo existente, como potencial transformador. Atuar sobre o mundo de maneira a reconstruí-lo.

(pg25). Arquitetura enquanto suporte seria uma arquitetura isenta, ou “esmaecida”, em relação às suas pré-determinações, sensível ou inteligível. (...) Como “Khôra”, essa arquitetura seria um receptáculo, hospitaleiro, não como um condutor de ações, mas uma estrutura sempre aberta ao que chega, ao porvir. (GUATELLI, 2008, s.p.)

Dessa forma, entendo o imperativo da indeterminação de tal espaço: o controle mínimo de como os elementos irão se compor com relação aos desejos, forças e movimentos que irão os moldar. Me proponho a desenhar uma arquitetura flexível, que incite operações sobre ela, possibilite múltiplos desdobramentos, significações, modos de usar e se apropriar, em transformação por diferentes atores ao longo do tempo - um suporte potencializador de práticas e comportamentos livres e criativos. Admito, assim, a ambiguidade do espaço e da percepção, abertura, a possibilidade do contra-dizer. Uma arquitetura sem fim: que não tem uma utilidade pré-determinada e que nunca está acabada, sempre se dá em experiência. Uma arquitetura do porvir que coexiste com o agora, “um eterno momento de latência que precede algo que não se completa nem se encerra” (PERROTTA-BOSCH, 2013, s.p.). Linear time is a Western invention, [but] time is not linear, it is a marvelous entanglement where, at any time, points can be chosen and solutions invented without beginning or end. (BARDI, in DE OLIVEIRA, 2002)

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se assemelha à apropriação na arte1. Reconhecer, delimitar e ressignificar. Não exercer um posicionamento modernista e utópico ao partir da tabula rasa, do papel em branco, buscando o ideal e transcendental; mas sim buscar a imanência, perceber o potencial no que emerge, subverter as lógicas, criar inserções simples que recomponham os elementos já existentes, atribuam novos valores e recriem narrativas para o espaço. Investir no direito de inventar uma nova cidade a partir do real - e através desse gesto projetual, construir uma cidade onde o porvir, o acaso e a indeterminação possam existir (o vazio).


Sempre me intrigou o limite que oscila entre estrutura e movimento, rigidez e fluidez, determinado e indeterminado: qual o desenho e definição mínimos? Como projetar uma estrutura com baixa codificação, aberta, que tenha dinamismo, promova fluidez e diversas formas de se praticas? Busco então criar condições para que se dê um lugar praticado (CERTEAU, 1994), um espaço plural, com uma gramática múltipla o suficiente para falar com muitos. Desde o começo do trabalho falávamos em atuar no entre, de maneira a unir os planos horizontais que lá estão; ao longo do processo, foi se revelando a possibilidade de qualificar esse vazio, introduzir elementos que incitem outras práticas e deem suporte a elas. Dessa forma, proponho um projeto simples de uma infra-estrutura maleável programaticamente, que oferece apoio com os elementos necessários aos múltiplos usos possíveis:

dispositivos praticáveis ativadores do lugar. “É o imutável que cria condições para a transformação, é o permanente que liberta o temporário, como diz Bernard Leupen. E é a soma entre esse suporte que pode ser inventado pelo(a) arquiteto(a) e os diversos momentos de sua existência, distante das mãos de quem o concebeu, o que constitui a potência de uma arquitetura da liberdade” (MACIEL, 2015, s.p.). Sistemas que propõe um programa de atividades plural e permeável, compatível com a lógica de uso e de fruição do espaço (reconhecendo o papel agregador da Ágora e potencializando-o). Uma estrutura que, juntamente com as práticas realizadas ao longo do processo do trabalho, sugere um espaço libertário, democrático e inclusivo. Busco, portanto, reconhecer o vazio como estrutura em permanente possibilidade de mudança: “where there is nothing, everything is possible (…) the void has the meaning of a mutable stage of human life” (KOOLHAAS, 1985, s.p.). E propor uma estrutura programaticamente maleável “to encourage dynamic coexistence of activities and to generate through their interference, unprecedented events.” (Ibid, s.p.).

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Os conceitos de espaçamento (GUATELLI, 2008) e do diferimento latente definem a qualidade das obras de Lina Bo Bardi e estão diretamente relacionados a noção de arquiteturas-suporte (Khôra), coisas que existem na medida em que são ativadas, coexistem com as práticas que as caracterizam. “As coisas vazam, sempre transbordando das superfícies que se formam temporariamente em torno delas” (INGOLD, 2012, s.p.). Pensar uma arquitetura não de propriedades, mas de capacidades; como um acontecer.


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No texto Towards an architecture of enjoyment, Lefebvre defende que é preciso repensar a arquitetura superando sua lógica histórica de representação do poder, propondo que passe a operar como um suporte que estimule a vivência criativa no cotidiano. Pensar uma arquitetura do prazer se coloca no polo oposto da arquitetura do entretenimento e do consumo, em que tudo é mediado, programado e dirigido. Lefebvre diz que é preciso superar o meramente funcional, passando a pensar a arquitetura como infraestrutura cuja perfeição é sempre incompleta, o que ampliaria a margem à apropriação criativa dos espaços. (MACIEL, 2015, s.p.)

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“Creio que devamos pensar a resistência em um sentido positivo, ou seja, como uma ação criativa, uma idéia emancipadora, questionadora, potencializadora de diferenças. (...) uma diferença profunda, conceitual, capaz de alterar ou expandir de maneira muito significativa nossa compreensão sobre algo existente.” (GUATELLI, 2008, s.p.) “É esta participação, esta capacidade de assumir pelas próprias mãos as condições biopolíticas da própria existência, do próprio modo de trabalhar. (...) Esse comum, como já disse, está fundamentalmente articulado, no sentido mais pleno da palavra, com o movimento e a comunicação das singularidades. Não existe um comum que possa ser referido simplesmente a elementos orgânicos ou a elementos identitários. O comum é sempre construído por um reconhecimento do outro, por uma relação com o outro que se desenvolve nessa realidade.” (NEGRI, 2005, p.6)

Há alguns anos, espaços geridos de maneira compartilhada e autônoma vem construindo lugares de livre apropriação e negociação permanente; micropolíticas que resistem às lógicas do mercado e do Estado. Espaços muitas vezes negados e esquecidos pela sociedade, que são apropriados e ressignificados, transformados em centros sociais autogeridos; espaços de participação, de diversidade e do exercício de novas formas de relação. Espaços de redistribuição do surplus (mais-valia), onde o resíduo é transformado em potência lugares de inclusão e acesso ao bem comum. Essas manifestações apontam soluções e saídas para a crise de projeto (arquitetônico, político, social) que vivemos hoje. São práticas que incidem na dimensão micropolítica da existência coletiva e que não páram de proliferar. Elas nos oferecem condições favoráveis para problematizar e ressignificar a palavra resistência, que ainda pode nos servir para qualificar a força das ações de desmontagem do intolerável, já que por ora não dispomos de uma palavra que tenha mais sintonía com o tipo de ativismo que vem sendo praticado. (...) um combate se trava por meio da afirmação de uma micropolítica ativa, a ser investida em cada uma de nossas ações cotidianas, inclusive aquelas que implicam nossa relação com o Estado, que estejamos dentro ou fora dele. Não será exatamente isso o que está acontecendo com a proliferação desse novo tipo de ativismo? (ROLNIK, 2016, s.p.)

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“Acredita-se que tais práticas em escala micro, constituem, por si só, meios de resistência. São ações moleculares, que atuam nas frestas e interstícios do tecido urbano espetacularizado, mas que podem representar importantes pontos de partida para novos entendimentos do espaço enquanto corpo vivo a ser impresso e modificado pela ação humana de forma colaborativa e participativa, na constituição de ações micropolíticas que englobem o espaço urbano numa construção comum.” (RENA, BRUZZI, 2014, p.169)


No entanto, por ora trabalho com a hipótese de que é possível construir o comum em um espaço a partir de relações e afeto. Através de um diálogo cotidiano, é sustentada uma tensão constante dos limites: entender o espaço público como espaço de mediação e construção de intimidade. No entanto, o que motiva a se expor ao desconhecido, fora da zona de conforto, ao encontro com o diferente? É necessário recriar uma experiência espontânea de viver junto, de caminhar e sentir que os lugares são nossos, ora mais meus, ora mais seus, e que a gente não precisa temer tanto as áreas indeterminadas. Essa mistura que faz o convívio (...) Vivemos um déficit na capacidade de inventar e sustentar intimidade. O que está envolvido na in-

timidade? Uma coisa é ter um encontro íntimo. (...) mas é diferente de vamos encontrar amanhã de novo, e depois? Vamos criar uma forma de vida junto? Junto com experiências de convívio tolerante e realmente interessantes, inclusivos de verdade. (...) Formas de reconhecimento que derivam desse caráter efêmero - o que vai nos definir é o que a gente for criar aqui. Isso torna uma zona de constituição de coisas e definição de quem somos, absolutamente centrada em uma perspectiva de liberdade. (...) Espaço feito para nada acontecer. (...) Onde está isso (templo) hoje? Um espaço para começar a aprender o tamanho do seu eu: você fica pequeno. Uma experiência do sagrado, na qual espaço e tempo não são homogêneos. Um instante que torna possível a intimidade. (DUNKER, 2016, s.p.)

Construir o afeto como um projétil, uma imaginação de futuro que atravessa o espaço e o tempo; e articula pessoas em seu lançamento. Ao longo do processo, busquei explorar formas de criar apropriação, sentimento de pertencimento, cidadania ativa. O que atrai e o que repele diferentes pessoas a usarem e se apropriarem deste espaço? Como se juntam pessoas diferentes em um propósito comum (entendendo comum como uma multiplicidade de singularidades)? A necessidade de uma gramática de signos que possam ser decodificados, uma linguagem acessível, se mostra fundamental para agenciar atores de um espectro tão diverso.

RESISTÊNCIA 59

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Defender uma agenda política de proteção do comum, delimitação de tal arquitetura da liberdade, significa resistir às lógicas do capitalismo neo-liberal, à incessante categorização, segregação, exclusividade. Significa portanto proteger seu valor de uso e impedir que sejam engolidos pelos absurdos valores de troca da especulação imobiliária. Proteger espaços de micropolítica, em movimento e agenciamento constante, abertos para o indefinido, indeterminado, porvir. Como fortalecer a pauta dos espaços de resistência? Como ser escutado na gestão da cidade? Percebo a urgência de conectar os espaços na cidade onde é possível exercitar a liberdade através do contato com o outro - e reclamar, assim, a esfera pública.


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RESISTÊNCIA 60

Quem sabe este não seria o papel do projeto arquitetônico: criar cenários prováveis, articular desejos coletivos e colocá-los ao longo do eixo do tempo, traçar itinerários coletivos, linhas de fuga? Um dos principais desafios seria então a articulação desse tecido social, engajá-lo nas possibilidades de materialização de desejos biopotentes em uma arquitetura da liberdade.

in.definições


li.ber.da.de libertas. nível de total e legítima autonomia que representa o ideal maior de um cidadão, de um povo ou de um país. poder de agir livremente, dentro de uma sociedade organizada, de acordo com os limites impostos pela lei. faculdade que tem o indivíduo de decidir pelo que mais lhe convém. condição de uma comunidade de não estar sob o controle ou o jugo de um país estrangeiro. extinção de todo elemento opressor que seja ilegítimo. condição do indivíduo livre. autonomia para expressar-se conforme a vontade. condição de um ser que não vive em cativeiro. ausência de subordinação entre pessoas. condição de disponibilidade. forma de repartir o cabelo em duas metades; risca. no kantismo, a total autonomia, independente de limitações. Kant define a liberdade como a escolha de si próprio. no marxismo, a disposição das classes de satisfazer suas necessidades materiais e de organizar a sociedade, transformando-a em seu próprio benefício.

no empirismo, a capacidade que cada indivíduo tem de autodeterminação, de conciliar autonomia e livre-arbítrio com os diversos condicionamentos naturais. co.mum Se consideramos que o mundo está feito de singularidades que consistem em relações e que, portanto, existem na medida que estão em relações, aumentamos nossa capacidade de ação. Antes o ministro (Gilberto Gil) falava de amor, vamos chamá-lo (o comum) de amor então, mas não é um amor no sentido romântico, não é um amor em um sentido, para assim dizer, vinculado simplesmente ao erotismo ou a coisas similares. É o amor como força ontológica. Como dizia Spinoza, diziam os filósofos, como ultimamente até declarou a Teologia da Libertação, uma das grandes produções teóricas deste país, este amor constitui o ser porque é um ato de solidariedade. Mas isto não é identitário, é algo que existe na relação, o que é absolutamente fundamental porque nos permite nos colocarmos em uma situação de efetiva abertura da discussão. bai.xio área de depressão às margens de um rio, causada pela vazante. lugar raso no mar, rio ou outra extensão de água. situação difícil em que há ameaça ou risco; dificuldade, perigo.

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in.de.fi.ni.ção falta de definição. característica ou estado de algo que se revela indeterminado ou incerto; indeterminação. total liberdade de escolha


re.sis.tên.cia essa resistência poderia estar vinculada a uma idéia de re-existência [resistência, re-eksistere, re-existência], de uma outra existência possível a partir da resistência às tendências em curso, ou seja, a proliferação no mundo dos territórios a-territoriais, globais, excessivamente organizados, ordenados e higienizados, perfeitos e eficazes, prontos-para-uso e consumo. Tentativas de estriamentos imperfeitos, deformados, transgressores, mesmo que momentâneos, de um território hoje continuamente alisado [processos homogeneizantes e de uniformização] pelos movimentos de globalização parecem ser um caminho para a arquitetura. (GUATELL, 2008)

es.pa.ço intervalo entre limites. li.mi.te a boundary is not that at which something stops but, as the greek recognised, the boundary is that from which something begins its presencing. (HEIDEGGER, 1971) ex.pe.ri.ên.cia ex=fora, peras=limite, perímetro. a.pro.pri.a.ção a apropriação é da ordem do imprevisível, do não planejado. É uma espécie de efeito colateral positivo de algumas arquiteturas. Considerar a apropriação exige certa abdicação por parte do arquiteto quanto à determinação da forma final dos edifícios e, em última instância, exige pensá-los menos como objetos fechados e mais como fragmentos de cidade, cuja capacidade de transformação para acomodar o imprevisível e o imponderável construiria um sentido verdadeiro de urbanidade. Quanto menos for determinada a conformação de um edifício, maior será a abertura à apropriação. E, portanto, a arquitetura precisaria ser indeterminada funcionalmente e aberta simbolicamente. Pressupõe, ainda, considerar que a construção se faz no tempo, num processo diacrônico do qual o arquiteto e a concepção inicial são apenas uma parte da vida dos edifícios. (GUATELLI, 2008)

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va.zio o Ma, enquanto possibilidade, associa-se ao “vazio”, que, distinto de uma concepção ocidental cujo significado é o nada, é visto como algo do nível da potencialidade, que tudo pode conter, e, portanto, da possibilidade de geração do novo. É, por conseguinte, o vazio da disponibilidade de nascimento de algo novo. O Ma, semioticamente, pode ser considerado como um estágio pré-sígnico, pertencente à primeiridade peirciana, isto é, anterior à existência do objeto como fenômeno. Assim, no momento em que ele se manifesta no mundo, e, portanto, adentra o reino da segundidade peirciana, inúmeras espacialidades são construídas ao se agregarem outras semânticas, como a do entre-espaço. (OKANO, 2013)


to.po.lo.gia enquanto a geometria é, a topologia se refere a. Geometria é local; a coisa em si própria. Já a topologia se refere ao mesmo objeto em relação a, ou como parte de ou inserido em. Topologia subentende relações; sejam essas locais ou entre o local e o global. A topologia tende a ser sistêmica; todas as partes tendem a afetar todas as partes. (...) Em virtude dessa essência topológica a configuração espacial – o modo de arranjo dos objetos no espaço – é elemento determinante do comportamento espacial das pessoas isto é, o desempenho espacial de edifícios e situações urbanas é naturalmente decorrente de características topológicas. (AGUIAR, 2009)

IMPULSÃO 67

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coi.sa em seu célebre ensaio sobre A coisa, Heidegger (1971) buscou delinear justamente o que diferiria uma coisa de um objeto. O objeto coloca-se diante de nós como um fato consumado, oferecendo para nossa inspeção suas superfícies externas e congeladas. Ele é definido por sua própria contrastividade com relação à situação na qual ele se encontra. A coisa, por sua vez, é um “acontecer”, ou melhor, um lugar onde vários aconteceres se entrelaçam. (...) Nós participamos, colocou Heidegger enigmaticamente, na coisificação da coisa em um mundo que mundifica. (INGOLD, 2012)

impulsão


FOROLIVRO 69

IMPULSÃO 68

Agradeço aquelas e aqueles que, como espelho, me deslocaram e me colocaram em movimento: escola trajetória marina confiança babi energia francy síntese marcia disponibilidade ricardo vontade antonio pergunta maristella diversão bia comprometimento mateus risada francisco nós carol dúvida rodrigo objetividade naiara presença cau biopolítica ferreira prontidão patricia possibilidade juliana curiosidade gabriel participação julia escuta natalia tempo raffaela conexão helena parceria lina simplicidade daniel tempo clarissa convite babi torção valter especificidade maicon encontro neila amplitude fernando graça jorge verdade miguel achado gian vivência marcelo flexibilidade fernanda presença bruna reconhecimento sabrina originalidade antonio proximidade felipe ritmo tsuli balanceamento lucia caminho julia olhar natália posicionamento sofia encontro celso liberdade anamaria sinceridade fritura espontaneidade usba reflexão gilson apropriação flavia acaso guilherme conhecimento maru valor pedro registro mario ajuda vinicius descoberta adriana brecha marina norte marcelo segurança brendon paciência ana lua memória shundi abertura marisa humanidade marília dimensão gustavo significado waldo amor zenaide existência pedro incondicionalidade marcelo generosidade angela admiração helô praticidade tomaz inspiração boni suporte manoela idéia sidnei aceitação abdul cuidado marina conversas lotje potência vincent mistério

fotolivro


pré-existências #1 glicério #2 elevado costa e silva #3 júlio de mesquita

BIBLIOGRAFIA 71

FOTOLIVRO 70

BAIXIOS

LIMITES

#1 muros #2 carros #3 casas DEMARCAÇÕES

#1 xadrez #2 praça do fogo #3 pau de sebo

existência SOM

#1 s/rumo #2 soundpainting #3 paisagens sonoras MOVIMENTO

#1 (v)ir #2 espiral(ar) #3 estímulo-resposta MATÉRIA

#1 suspenso #2 reflexo #3 coletor

coexistência PRESENTE

#1 samba #2 cultivar o bixiga #3 futebol POTENCIAL

#1 crianças #2 território #3 lúdico

bibliografia


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impressão ALVORADA COPIADORA encadernação DANIEL DE CARVALHO e HELOISA OLIVEIRA são paulo dezembro de 2016


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